Reflexões sobre o tratamento penal do terrorismo

June 19, 2017 | Autor: Marcelo Crespo | Categoria: Terrorism, International Terrorism, Terrorismo de Estado, Terrorismo
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Reflexões  sobre  o  tratamento  penal  do  terrorismo     Assunto   cada   vez   mais   presente   em   nosso   cotidiano,   lamentavelmente   pelos   recentes   atentados   em   Paris,   os   discursos   penais   contra   o   terrorismo   influenciam  o  tratamento  politico  e  jurídico  criminal  deste  fenômeno.       Um   grande   problema   quanto   ao   tratamento   do   terrorismo   tem   início   na   sua   pouca   clareza   conceitual,   de   modo   a   deixar   obscuro   o   que   se   pretende   investigar  e  punir.       Não  há  uma  definição  consencual  de  terrorismo  no  âmbito  internacional,  sendo   possível   notar   que   distintas   ações   havidas   pelo   mundo   são   rotuladas   como   terroristas,  o  que  engloba  protestos  sociais  violentos  até  o  uso  de  armas  de  alto   potencial  destrutivo.       Evidentemente  o  terrorismo  é  conduta  grave  e  que  deve  analisado  sob  a  óptica   da  complexidade  que  o  permeia,  sem  que  haja  reducionismos  e  simplificações   generalistas  como  se  tem  visto  com  frequência  na  mídia.  Em  outras  palavras,  o   enfrentamento   do   terrorismo   passa   pelo   hercúleo   desafio   de   evitar   a   condenável  prática  sem  que  cedamos  ao  ovo  da  serpente  de  flexibilizar  direitos   e   garantias   fundamentais   próprios   do   Estado   Democrático   de   Direito.   Para   tanto,  evidentemente,  é  preciso  que  nos  desvencilhemos  da  perigosíssima  ideia   de  flexibilização  do  principio  da  legalidade,  da  desproporcionalidade  das  penas   e   dos   discursos   meramente   retributivos   como   a   vingança   ou   a   declaração   de   guerra.   Não   se   nega,   por   outro   lado,   que   sejam   questões   e   problemas   que   transcendem   o   aspecto   jurídico-­‐penal,   tangenciando   e   afetando   estudos   criminológicos  e  políticos.       Nesta  perspectiva,  é  forçoso  reconhecer  que  grandes  debates  sobre  o  terrorismo   são  realizados  em  instâncias  internacionais  em  organismos  como  o  Conselho  de   Segurança   da   Organização   das   Nações   Unidas.   E   tais   organismos,   por   melhor   intencionados   que   sejam,   não   tem   a   mesma   legitimidade   democrática   dos  

legislativos   nacionais   e,   igualmente,   não   têm   capacidade   de   análise   da   (im)pertinência   da   tipificação   de   determinadas   condutas   e   as   formas   de   combatê-­‐las   concretamente.   Ou   seja,   as   medidas   contra   o   terrorismo   nos   Estados   Unidos   não   são   as   mesmas   que   na   França,   na   Alemanha   ou   em   qualquer  outro  país.       A   adoção   automática   de   disposições   internacionais   sobre   terrorismo   sem   atenção   para   os   contextos   de   cada   ordenamento   jurídico   pode   gerar   contradições   jurídicas   e   situações   de   desproporcionalidade   e   de   violações   de   direitos  fundamentais.  Standards  internacionais  de  combate  ao  terrorismo  não   podem   e   não   devem   ignorar   garantias   de   cada   ordenamento   jurídico   e   dos   tratados  de  proteção  aos  direitos  humanos.     Então,   apesar   do   contexto   internacional   demandar   medidas   mais   duras   no   combate   a   ações   terroristas,   não   se   pode   permitir   a   utilização   da   simples   retórica   da   guerra   para   evitá-­‐lo   e   punir   seus   responsáveis,   bem   como   não   se   pode   admitir   que   seja   motivo   para   reprimir   protestos   sociais,   eliminando   garantias  processuais.       Estas   breves   reflexões   resumem   complexas   discussões   (políticas,   jurídicas,   sociológicas,  etc.)  e  se  prestam  a  auxiliar  a  que  reflitamos  sobre  os  caminhos  a   serem   tomados   contra   o   terrorismo,   fenômeno   que   desconhece   limites   territoriais  e  afeta  toda  a  humanidade.       Publicado   em:   http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/reflexoes-­‐sobre-­‐o-­‐ tratamento-­‐penal-­‐do-­‐terrorismo/    

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