Reflexões sobre televisão e a \"falta de cultura\" no Brasil

July 24, 2017 | Autor: Nara Magalhães | Categoria: Comunicação, Antropología, Televisão, Juventudes, Questões étnico-Raciais
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Reflexões sobre televisão e a “falta de cultura” no Brasil

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Nara Magalhães

Este artigo aborda o significado da televisão na sociedade contemporânea, a partir de uma pesquisa de etnografia de audiência realizada com pessoas pertencentes a camadas médias de uma cidade de médio porte do interior do Rio Grande do Sul, Brasil. As pessoas pesquisadas vêem a TV através de uma crítica social que supõe que outros grupos não possuem cultura para vê-la de modo crítico. As conexões entre as suposições dos pesquisados e um certo debate intelectual são importantes para tentar identificar as razões desta crítica se manter forte, mesmo num contexto de diversidade e pluralidade cultural. As perspectivas dos estudos de recepção e das pessoas pesquisadas são aproximadas neste artigo, numa reflexão que tenta apontar que existem alguns pressupostos compartilhados sobre a superioridade da cultura letrada, mesmo quando se considera o receptor como sujeito no processo de comunicação. Por fim, o artigo esboça algumas conseqüências do debate atual e hipóteses para novas pesquisas. PALAVRAS-CHAVE: Camadas médias. Televisão. Estudos de recepção. Cultura brasileira. Culturas.

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Este artigo aborda algumas das questões desenvolvidas em minha tese de doutorado: Televisão, uma vilã na sociedade contemporânea – um estudo sobre modos de ver (a) TV de pessoas pertencentes a camadas médias, PPGAS/UFSC, concluída em abril de 2004, sob orientação de Sonia Maluf. Também foi apresentado no Grupo de Trabalho da VI Reunião de Antropologia Del Mercosur: Antropología de lo visual, la comunicación y los medios en el contexto de la región, coordenado por Susana Sell e Cornélia Eckert, em novembro de 2005. Agradeço a ambas, bem como a Ana Luiza de Carvalho Rocha, pelos comentários e debates na ocasião.

Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

RESUMO

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1 Preâmbulo Este artigo tem por base uma pesquisa desenvolvida a respeito do ponto de vista de pessoas de camadas médias sobre televisão. Na primeira parte, exponho o modo como se realizou a pesquisa, e alguns dados que o trabalho de campo trouxe. Na segunda parte, relaciono os dados obtidos com a discussão ao longo de nossa história sobre cultura. Por fim, lanço algumas hipóteses e reflexões que apontam novas possibilidades de investigação. A pesquisa que realizei pode ser considerada uma tentativa de lançar um novo olhar sobre o significado da televisão brasileira, partindo de estudos sobre pontos de vista de pessoas de camadas médias. Os dados de campo foram colhidos em Ijuí, cidade do interior do Rio Grande do Sul. A análise desses dados, no entanto, não os toma de modo isolado, mas busca conexões com todo um pensamento sobre televisão e cultura. Quando falavam sobre televisão, as pessoas pesquisadas faziam uma análise da sociedade brasileira e expressavam claraEm Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

mente uma visão de que não há “saber popular”, ou não há “cultura popular”,

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há uma “falta” de cultura, especialmente no Brasil. Subjacente a uma crítica que exige democracia dos meios de comunicação de massa emergia uma crítica a uma “massa” de despossuídos, não só de bens materiais, mas também de crítica ou discernimento; e essa era uma formulação que emergia no interior de uma crítica bem fundamentada ao poder dos meios de comunicação de massa. Construí uma reflexão sobre esta crítica generalizada à televisão, buscando entender qual a visão de sociedade, de poder e relações sociais que ela trazia subjacente. A metodologia utilizada na referida pesquisa foi a etnografia de audiência (LEAL, 1993; LOPES, 1998), que estou considerando uma especificidade antropológica dentro da perspectiva ampla dos estudos de recepção2, pois diz 2

Seria impossível no âmbito deste trabalho fazer justiça a toda tradição teórica de estudos sobre televisão e especialmente sobre os estudos de recepção, campo que aborda as significações construídas pelos sujeitos que recebem a mensagem dos meios e a interpretam de variadas maneiras, de acordo com a cultura do grupo em que estão inseridos. Para citar apenas alguns que podem clarear a linha de interlocução adotada aqui, que perpassa várias áreas do conhecimento (antropologia, comunicação social, literatura, etc.): Miceli (1972), Kaplan (1983), Eagleton (1983), Silva (1985), Leal (1986), Ortiz (1989), Sousa (1995), Martín-Barbero (1997), Borelli (1996, 2000), entre outros.

respeito não só o momento de ver TV junto com as pessoas pesquisadas, em suas casas, mas também a colocação em perspectiva de sua crítica à TV, a partir de um ponto de vista relativista e de respeito às diferenças. Do início ao fim da pesquisa, tratava-se de, sob um olhar antropológico de estranhamento, ver o que havia de diferente nesta crítica e porque ela se mantinha tão forte. Não se tratava de qualificar esta crítica negativa à TV como “inadequada”, pelo contrário. Exercitando o relativismo, queria entender a lógica que ela continha sobre nossa sociedade. Considerar o debate sobre cultura no interior do campo antropológico, colocando também em perspectiva as diferentes abordagens sobre cultura na ótica instrumental ou plural, foi conseqüência dessa postura analítica, devido à busca das dinâmicas culturais em que estão envolvidos os pesquisados, e também à noção de circularidade da cultura3, fundamental para permitir o enfoque proposto. Portanto, etnografia de audiência se refere tanto a assistir corre toda construção do texto.

2 Os dados trazidos pelo campo Alguns traços identitários do ijuiense (que só foram perceptíveis através de vários tipos de convívio pessoal e profissional que extrapolam o momento da coleta de dados) merecem destaque, para situar o contexto no qual estava chegando a mensagem televisiva: o pioneirismo é um valor central na cultura local, e combina uma história de descendentes de imigrantes com o cultivo de tradições gaúchas, conferindo traços peculiares. Há um orgulho em ser ijuiense, um forte sentimento de pertença, que é reforçado por ingredientes que vão se modificando ao longo do tempo – por exemplo, através da construção de uma tradição recente, ainda em elaboração, sobre a diversidade étnica e cultu-

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Conforme densa discussão realizada por Bakhtin (1987) e Ginsburg (1987).

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TV junto com as pessoas pesquisadas, como a uma postura analítica que per-

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ral que estaria presente desde a origem do município – aliada a incertezas sempre reformuladas de maior ou menor pertencimento a uma nação brasileira. Este orgulho em ser diferente e pioneiro vai se refletir no modo como as pessoas recebem e interpretam a mensagem televisiva e a cultura brasileira. O contexto de realização da pesquisa mostrou a grande presença da televisão no cotidiano dos pesquisados, convivendo com uma negação de ver TV – o que me levou a considerar esta negação como parte de seu estilo ou de seu modo de ver TV. Os dados de campo são riquíssimos e trazem algumas novidades: mostram a entrada gradativa da TV nas casas, mesmo de quem não pretendia ser “cooptado” por ela; a oposição que os pesquisados constroem entre trabalho, lazer e televisão, considerando o momento de ver TV como um momento de não fazer nada, de não atividade, ilegítimo socialmente; seus relatos sobre o modo de ver TV, que revelam a atenção flutuante4, mostrando que a TV fica Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

ligada enquanto se faz outras coisas, e que estar em casa pode ser sinônimo de

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ligar a televisão, mesmo que não se dê atenção exclusiva a ela; as críticas à televisão revelavam detalhes sobre toda programação televisiva e a especialização oriunda da grande experiência de vê-la. A análise das categorias utilizadas (ver, olhar, assistir, ouvir...), mostra que é exatamente a grande experiência de ver TV que contribui para a formulação de uma crítica especializada5; outros dados revelam que não existe interpretação exclusivamente individual sobre o que se vê na TV, pois mesmo quando ela é vista individualmente, existe uma prática coletiva de avaliar – ver e criticar a TV,

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Conceito empregado por alguns pesquisadores, contrastando com a atenção dispensada a um filme no cinema, por exemplo. É o caso do estudo realizado por Dorothy Hobson (1980). Neste artigo, a autora distingue a situação contextual de recepção do cinema e da televisão, devendo ser esta analisada em relação à vida cotidiana, e uma novela, ela acredita, terá tantas interpretações quantos forem seus espectadores (HOBSON, 1980, p. 110). 5 Agradeço a Sonia Maluf a sugestão de considerar as pessoas pesquisadas como especialistas em televisão.

em outros momentos diferentes daquele de assisti-la; a televisão também pode servir como metáfora6 para falar de relações pessoais, tanto com quem não se tem muito contato, quanto com pessoas próximas: atentei para um certo olhar de gênero sobre a TV, perceptível através do modo das mulheres e dos homens verem e criticarem a TV, que revelou uma certa simetria no contexto da pesquisa, e certas disputas em torno do que se considera adequado nas relações. Além disso, no momento de ver TV, os pesquisados constroem uma imagem de si – uma imagem de valorização da cultura letrada, do domínio de diferentes línguas e o gosto pelas viagens; e constroem imagens do outro – que não tem condições de entender e criticar a mensagem televisiva, não tem poder e fica à mercê do poder televisivo. A elite também aparece em vários momentos na crítica das pessoas pesquisadas: governar com base em interesses pessoais, corrupção, excessiva maleabilidade, pouca disciplina, nenhum respeito às leis ou nenhuma coerênna TV e na crítica a ela. Parece que o horário do noticiário é o horário da expressão das elites e o horário das novelas é expressão de uma vulgaridade cultural. Comprimidos entre esses dois contextos culturais, as pessoas se rebelam e lançam suas críticas: à elite, sem identificar-se com ela e sem considerarem-se responsáveis pela elaboração de políticas sociais; e aos grupos populares, pelo “rebaixamento” da cultura, com sua preferência ruidosa e nada erudita. Talvez por considerarem que a elite seria a principal responsável pela reprodução do sistema social (considerado imutável ou quase) os pesquisados preferem concentrar suas críticas a um suposto gosto popular e uma “falta de cultura” dos grupos populares, esta sim vista como passível de mudança, numa noção muito próxima à de “civilizar”.

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A inspiração para perceber o significado da televisão como metáfora do social veio também de leituras como a de Victor Turner (1974).

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cia, são comportamentos considerados próprios das elites e expressos também

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3 As concepções de fundo: cultura e saber letrado Para respeitar a posição das pessoas pesquisadas, e tentar entender sua lógica, relacionei sua crítica à televisão com as abordagens dos estudos de recepção e com as análises intelectuais sobre cultura brasileira e identidade nacional em períodos significativos de nossa história. Busquei conexões explicativas que permitissem considerar as concepções dos entrevistados não como peculiares a um grupo social, mas no que apresentavam em comum com outros grupos, inclusive a visão sobre o sistema social. Minha intenção era colocar em diálogo os dados trazidos pelo campo e as teorias. Esse posicionamento levou-me a repensar diversas abordagens adotadas por estudiosos da comunicação de massas, as mudanças de perspectivas que levaram à emergência dos estudos de recepção nos anos 1980, e os dilemas e limites que enfrentam estes estudos, que acabam sendo reinterpretados e não conseguem Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

evitar a reposição, num outro nível de análise, dos mesmo pressupostos que

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desejam problematizar. Tentei então relacionar a fala dos pesquisados, suas críticas à TV, à sociedade e à cultura brasileiras, com as abordagens intelectuais sobre identidade nacional e cultural brasileira.7 Que Brasil é este, visto através da crítica à televisão? Que brasis surgem através de algumas análises intelectuais e quais as semelhanças e diferenças entre estas duas abordagens - dos pesquisados e dos intelectuais. A retomada da noção de circularidade na análise cultural foi central para permitir esta visualização de modo a estudar as relações entre o saber erudito e o saber popular numa perspectiva em que ambos são considerados válidos e relacionados. As concepções expressas pelas pessoas pesquisadas, que supõem uma “fal-

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Alguns questionamentos sobre identidade nacional e política já me interessaram em pesquisa anterior (MAGALHÃES, 1998). Nesta, percorro alguns debates intelectuais buscando as concepções subjacentes de cultura.

ta de cultura” da população brasileira para entender a mensagem televisiva, é surpreendentemente familiar em relação a toda uma trajetória histórica do debate sobre cultura no Brasil, se tomarmos como referência alguns marcos fundamentais.8 Idéias supondo essa “falta” podem ser encontradas em grupos diversos, desde a época do Brasil colônia, até o século XX, especialmente nos anos 1960, quando são expressas tanto por intelectuais alinhados com o governo militar, empenhados em pensar um projeto de cultura para o Brasil, como pelos seus mais ferrenhos opositores. O que me parece haver em comum nesse período de nossa vida social (permeado de noções como conscientização e alienação) não é tanto a definição de cultura – que varia – mas a postura do intelectual, o seu lugar social. O intelectual emerge como figura social confiável neste período e seu papel parece ligado a este significado até hoje: nas críticas à televisão, supõe-se que o acesso ao saber letrado proporciona a melhor perspecsuposição de que o saber letrado é o melhor para embasar uma crítica aos meios. Sobre as concepções de cultura, há um amplo leque de debates, que abarca desde concepções instrumentais do ponto de vista político e econômico, até concepções mais amplas e abstratas. Mas há um intervalo no debate: a discussão nos anos 1980 vai se fazer em reação à concepção de “cultura alienada” das décadas anteriores, mas no meu entender, ela vai se descolar dos rumos que vinha tomando. No debate intelectual, não se fará mais uma discussão que relacione cultura e nacional, ou dominantes dominados, em termos de classes sociais, alienação ou conscientização; cultura no debate intelectual

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Refiro-me aos debates que em geral tomam como marcos da discussão cultural os escritos de Nina Rodrigues e outros precursores das Ciências Sociais no século XIX, a Semana de Arte Moderna de 1922, os escritos de Gilberto Freyre em 1930, os debates sobre nacionalismo a partir da década de 1950; bem como os debates dos intelectuais do ISEB, CPC da UNE e também do CEBRAP que se prolongou dos anos 60 aos anos 1970 e permaneceu como referência nos anos 1980. Ver análise detalhada das concepções expressas em cada um desses período no capítulo 6 da tese citada. (MAGALHÃES, 2004)

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tiva de análise. Em comum, portanto, permanece dos anos 1980 até hoje a

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será considerada plural. (SAHLINS, 1997a 1997b; GEERTZ, 1999). Além disso, a discussão sobre identidade nacional não se fará predominantemente no mundo acadêmico, como os autores que trabalhavam com a temática visualizavam, ela se tornará pública. É também nesse período que as observações dos antropólogos que discutem a problemática da identidade nacional incluem cada vez mais referências à indústria cultural, à influência dos meios de comunicação de massa, e à necessidade de estudos que os contemplem. (OLIVEN, 1986, p.72; QUEIROZ, 1980, p.68) Significativamente, é nos anos 1980 que surgem os estudos de recepção da mensagem (da literatura, dos meios de comunicação de massa, das obras artísticas, etc.),9 os quais, no entanto, não conseguem adentrar o mar de idéias sobre autenticidade nacional, cultura alienada, civilização, que circulam por toda nossa vida social: estão no cinema e nos debates sobre ele, nos livros, nas escolas e nas ruas, nas praças e botequins. Os estudos de recepção permaneEm Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

cem como que ilhados, por serem considerados fora do campo das relações de

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poder (mesmo que as levem em conta) e por serem considerados estudos não suficientemente críticos e até elogiosos dos meios de comunicação de massa. A discussão sobre cultura em termos instrumentais, como meio de ação, permaneceu sendo a tônica dos estudos e debates (científicos e coloquiais) sobre os meios de comunicação de massa. Uma parte dos cientistas sociais continuou a aplicar essa concepção de cultura no debate sobre os meios,10 enquanto outra parte dedicou-se a estudar cultura de modo mais amplo, distanciando-se desse campo de estudos (ou considerando-o menor, ou tratan9

Refiro-me às abordagens de Ortiz (1988, 1989); Oliven (1986); Leal (1986, 1993); Borelli (1996) e Ramos (1995); Jacks (1987; 1998), entre outros. Sobre uma retrospectiva do quadro em que surgiram os estudos de recepção, ver Magalhães (2004). 10 Refiro-me aqueles cientistas sociais que, munidos de um conceito de cultura mais instrumental, posteriormente apoiaram-se nos frankfurtianos – especialmente em Adorno (1975) e Adorno e Horkheimer (1975) – e resolveram seus dilemas quanto à cultura e relações de poder, passando (ou retomando), no entanto, uma divisão entre “alta” e “ baixa cultura”. Neste trabalho, estou tentando dialogar com o campo crítico aos frankfurtianos (que não podem, por sua vez, ser tomados em bloco, mas esta já é outra discussão).

do-a como “discussão de mercado”, na ótica da indústria cultural se reproduzindo, e sobre a qual parece não haver muito a fazer além de denunciar). Mas o campo de discussões sobre os meios de comunicação de massas pareceu permanecer dividido: por um lado, as discussões sobre cultura levando em consideração as relações de poder e supondo que os estudos de recepção não o faziam; por outro lado, as análises sobre cultura em geral, de modo mais amplo e abstrato do que a presença da indústria cultural, ignorando-a ou colocando-a dentro dessa concepção de cultura mais abstrata. Ou seja: a divisão era entre os que estudavam a indústria cultural em termos de dominação e os que tentavam demonstrar que essa dominação não se fazia de modo tão avassalador, mas não conseguia se posicionar claramente na crítica aos meios; e por outro lado estudiosos da cultura que ignoravam (ou desejavam ignorar) a influência dos meios na discussão sobre o cultural. Uma exceção às análises aqui apontadas sobre o tratamento da cultura e antropologia visual. Neste campo, a relação entre texto escrito e imagem já vem sendo problematizada há tempo,11 num sentido de questionar a suposta superioridade do texto escrito, e a exclusiva racionalidade na construção do mesmo. A imagem não é considerada ilustrando o texto escrito, mas um texto visual, ambos considerados parte de processos sociais de construção e interpretações. Esta perspectiva está contemplada no trabalho de pesquisa realizada, pois construo um capítulo visual de descrição da cultura ijuiense, considerando-o um outro texto, um outro modo de construir uma narrativa sobre os dados.12 Como a intenção aqui é colocar em perspectiva análises da cultura e do saber letrado no que apresentam em comum com os dados de campo, explica-

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Ver, por exemplo, as abordagens de Marc Piault (1995), Etienne Samain (1995),Carvalho da Rocha (1995), Godolphim (1995), Eckert ; Monte-Mór (1999), Eckert e Rocha (2000), entre outros. 12 Refiro-me a dois capítulos de fotos sobre a cidade, sobre o lugar da TV nas casas e sobre modos de ver TV das pessoas pesquisadas, que são parte da tese, além de um vídeo etnográfico, chamado Não Te Vejo, TV (MAGALHÃES, 2004).

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do saber letrado no debate intelectual pode ser aquele desenvolvido no campo da

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se o motivo de não tê-los colocado nessa abordagem. Mas acredito que o debate trazido pela pesquisa realizada para a antropologia visual estaria relacionado com a possibilidade das reinterpretações das produções visuais, que podem estar sujeitas também a processos de gerações de estereótipos distantes dos objetivos dos produtores.13 Na continuidade, aponto algumas hipóteses que incluem esta questão das reinterpretações.

4 Reflexões e hipóteses para futuras pesquisas Estou propondo com este trabalho, uma rediscussão da teoria da recepção de uma perspectiva antropológica, isto é, que seja reafirmada a perspectiva da diversidade e da dinâmica cultural (de interpretações, reinterpretações), pois isto não significa abandonar as relações de poder.14 Não precisamos, para contemplar as relações de poder, abandonar a perspectiva das releituras. Não seria este o “centro do debate”. O centro do debate seriam os pressupostos a Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

respeito do significado do poder (visto como de cima para baixo, com agência

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sempre do mais poderoso para o menos poderoso), as reificações realizadas sobre a imagem, a mensagem e os meios de comunicação em geral, além da necessidade de rediscutir que conceito de cultura está embasando esta discussão.15 Quando a cultura é considerada plural, construção de práticas e simbolizações que estão expressas no cotidiano de relações sociais complexas, então os estudos com grupos populares mostram um dinamismo e uma criatividade dos sujeitos envolvidos. Quando a cultura é considerada numa

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Essa questão é discutida por Jay Ruby (1995). A autora aponta que também os filmes etnográficos serão reinterpretados pelos receptores (no caso de sua pesquisa, estudantes vendo filmes nas escolas). Seu estudo nos leva a pensar que também filmes com um conteúdo “antropologicamente correto” poderão ser reapropriados para a construção de estereótipos. 14 Uma confirmação recente da possibilidade de diferentes interpretações construídas pelos receptores abrirem brechas nos jogos de poder da televisão, foi o sentimento anti-EUA expresso após o evento 11 de setembro.Ver a respeito Magalhães (2003). 15 Como já está sendo proposto por alguns estudiosos do campo como Mauro Wilton Sousa (1995).

perspectiva instrumental, na ótica de produto da indústria cultural, o processo de comunicação ganha uma dimensão mais estanque e sem agência humana, e os sujeitos de grupos populares são vistos como sem poder e sem cultura, diante de um poder tão avassalador. O que estou tentando demonstrar neste trabalho (tentativa que certamente deixa lacunas) é que ambas perspectivas sobre a cultura estão presentes, muitas vezes de modo concomitante, em várias análises sobre o processo de comunicação na sociedade contemporânea. Suponho que há uma inversão simbólica no debate sobre o poder dos meios de comunicação de massa, e mais especificamente sobre o poder da televisão, desde os anos 1960 até hoje. Esta inversão simbólica aparece quando os grupos populares são responsabilizados pelo “atraso” da cultura brasileira (não reconhecendo diversidade, peculiaridade, ou criatividade nela, e supondo uma definição de cultura como “alta cultura” e “baixa cultura”) e é realizada uma extensão dessa crítica à nossa vida social e política, com proposletrada”, a qual permanece com uma forte noção de vanguarda16). Esta inversão simbólica é realizada quando, a partir de uma suposição de inexistência (ilegitimidade ou inautenticidade) de uma “cultura popular”, segue-se um corolário de que não há “solução” para o Brasil, enquanto sua população for “atrasada”; portanto estende-se a suposição de inautenticidade cultural a toda identidade brasileira. (Note-se que não estou aqui, por minha vez, supondo que exista uma “cultura popular” autêntica ou inautêntica, ou uma cultura de elite idem;17 o que estou tentando demonstrar é que os termos e valores subjacentes ao debate são estes). Este imaginário aparece quando elaboramos nossas críticas aos meios de comunicação de massa, mas sobretudo à televisão, e pretendemos lutar por

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Mesmo com todas as críticas à noção de vanguarda propostas nos debates dos anos 1980. Para uma discussão a esse respeito, ver Matta (1994), Vianna (1988 e 1990) e também capítulos 1 e 5 de Magalhães (2004).

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tas de “civilizar” a cultura brasileira (suponho que sob a liderança da “cultura

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sua democratização. Uma luta justa, pois no Brasil os meios de comunicação, desde o seu início, foram sempre muito tutelados pelo Estado e pela iniciativa privada, que se utilizaram deles para seus projetos políticos e econômicos, quase sempre ocultando informações. No entanto, este contexto mudou, e agora o que impera nos meios de comunicação de massa é uma relativa diversidade e fragmentação, além da segmentação de públicos, e um propósito sempre presente de obter lucros. As empresas de comunicação hoje não são “fiéis” a nenhum governo e/ou estado (mas parecem bastante fiéis ainda a uma estrutura social capitalista), nem conseguem esconder por muito tempo seus vínculos com este ou aquele grupo no poder. O mundo das comunicações se complexificou: podemos perceber que muitas das críticas à televisão, no entanto, se dão nas mesmas bases que nas décadas anteriores. Suponho que há um conteúdo de “esquerda”, de contestação política na crítica à televisão hoje, sem corresponder necessariamente a Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

uma posição política e a uma prática de esquerda.

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A “crítica à televisão” aqui analisada refere-se ora à falta de cultura da população para entendê-la, ora ao ocultamento de informações, à aliança nem sempre revelada ou identificável com grupos do poder, ou ainda ao estímulo excessivo ao consumo. É uma crítica cultural (certos grupos não possuem cultura, os problemas da sociedade brasileira devem-se à falta de cultura e ao perigo que a TV representa neste contexto), uma crítica política (há muito ocultamento de informações, candidatos favorecidos, a população não percebe que a TV manipula) e uma crítica social (crítica ao consumo excessivo, que poderia ser uma crítica à sociedade de consumo, mas localiza-se na televisão). Na crítica cultural, surge uma inversão simbólica: acusa-se a população de não ter cultura ou desqualifica-se a cultura popular. Na crítica política emerge uma concepção de que a TV ainda é um aparelho ideológico do Estado (ALTHUSSER, 1980) — mas nesse caso também o seriam as escolas e as universidades e todas as instituições capitalistas e teríamos de reconhecer mais

eficácia ainda naquelas onde a interação social é mais direta, envolvendo “confiança”,18 sentimento de que os meios em geral, e a televisão em especial, não desfrutam. Na crítica social há uma combinação das críticas anteriores, e ela parece dirigir-se ao capitalismo, pois a intenção de ampliar vendas e elevar o consumo como forma de obter sempre mais lucro é a razão de ser de todas empresas capitalistas. A crítica à televisão, nesses termos, não está servindo para caminharmos rumo à democratização dos meios: ela está deslocada no tempo e no espaço. Quando a crítica é cultural, a desvalorização da cultura popular e da identidade brasileira está imbricada; quando a crítica é política, não apresenta saída; quando a crítica é social, poderia se dirigir a toda sociedade capitalista, mas se concentra só na televisão. Como é uma crítica que (segundo uma das hipóteses explicativas que arrisco) parece se colocar no “campo da esquerda”, eu poderia dizer que ela é muro de Berlim, após a União Soviética retornar a ser Rússia, não encontra um objetivo, não propõe uma alternativa. Que outra sociedade essa crítica propõe? Sem a utopia que dava sentido à critica da sociedade, a crítica à televisão cai no vazio. Todos a repetem e ninguém lhe dá ouvidos. Todos olham TV. Olham e julgam que, se não disserem que olham, ou se disserem que não olham, estarão mais livres para criticá-la. Quando a crítica flui livremente, revela uma prática constante e especializada de ver TV. Como no tempo das navegações, as idéias de crítica à TV viajaram dos anos 1960 até hoje quase com a mesma bagagem. Nosso imaginário está prenhe de concepções que circularam dentro e fora do Brasil nesse período. Quando digo “nosso imaginário”, estou generalizando um pouco, mas creio que a construção

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Agradeço a Dejalma Cremonese e Amir Limana pelo debate sobre o conceito de “capital social”, o qual tem como um dos ingredientes fundamentais a “confiança” para poder se acumular. (PUTNAM, 1993 e 1996).

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uma crítica à sociedade capitalista, mas uma crítica que, após a queda do

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deste trabalho – que partiu de estudos de etnografia de audiência da televisão com algumas pessoas de camadas médias, e resgatou uma discussão sobre cultura brasileira de modo a demonstrar certas conexões entre idéias e práticas em torno da televisão, da cultura, das relações sociais, compartilhadas por intelectuais e pelas pessoas pesquisadas – demonstrou que é um imaginário que não está restrito a um grupo de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. As concepções acerca da televisão explicitadas pelos pesquisados também estão entre estudantes universitários, entre jornalistas, entre professores do ensino médio e fundamental, entre cineastas e artistas, entre militantes de diversos partidos políticos, entre religiosos de vários matizes, no campo e na cidade, nas metrópoles e no interior, estão também nas letras de música e nos filmes. Não encontrei, nesses vários anos de pesquisa, alguém que não fizesse uma crítica à televisão ou que não a assistisse nunca. Sinto-me autorizada a generalizar pelo menos o tipo de crítica à televisão. Talvez minhas tentativas Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

de explicação dos significados dessa crítica é que não possam ser tão generali-

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zadas, pois estão marcadas pela escolha tanto de um certo recorte teórico como empírico, mas espero que sirvam pelo menos para elaborarmos novas hipóteses no campo dos estudos de comunicação de massa, e para refletirmos sobre a possibilidade de elaboração de uma outra crítica à televisão hoje. Uma das hipóteses que arrisco é que precisamos abandonar o termo mídia. Venho propositadamente falando em meios de comunicação de massas e televisão, procurei não utilizar o termo “mídia”. É que percebi na pesquisa,19 que quando nos referimos à mídia em geral, a comunicação de massas fica avassaladora, não há um sujeito concreto que lhe corresponda. Parece um grande fantasma, distante de nós, sem a agência humana. Poderia dizer que parece nosso Franknstein moderno, mas mesmo este tem o reconhecimento

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Especialmente a partir dos Seminários de Teoria Antropológica II, do PPGAS/UFSC, coordenado pelos professores Oscar Calavia Saez e Raphael Bastos, a quem agradeço, bem como a todos os colegas com quem pude debater o tema.

de ter sido criação humana, ainda que com resultados inesperados. Assim sem sujeito, o termo “mídia” revela a reificação que fazemos a respeito dos meios de comunicação de massa hoje. Se desejarmos lutar por democracia dos meios, precisamos de um sujeito a interpelar. Se exigimos ética e transparência nas informações e posições defendidas, podemos nos dirigir ao jornalista, ao publicitário, ao cineasta, ao escritor da telenovela, enfim, a um produtor concreto, podemos criticar seu texto, seu filme, sua novela, discordar dele politicamente, exigir que revele fontes, etc. Mas se criticamos a mídia em geral, a quem vamos nos dirigir? Até agora, a maioria dos estudiosos dos fenômenos da comunicação estiveram preocupados com o controle dos meios sobre a sociedade ou como a sociedade pode controlá-los. Não se tomou ainda o fenômeno do ponto de vista da diversidade, da variabilidade e da complexidade, para além da perspectiva do controle. Para mim, esta complexidade é da mesma ordem da exsos tentando controlar o espaço urbano, esquadrinhá-lo, definir traçados, da mesma forma que os poderosos grupos econômicos que controlam as empresas de comunicação. Vivemos numa época classificada por alguns autores como a “Era da Comunicação”, um período em que não só a comunicação é considerada por muitos como um poder à parte, além do político e econômico, mas também um período em que a informação e o conhecimento são extremamente valorizados; um período em que, além disso, o volume de informações que circula é impossível de ser apreendido na totalidade. Num período como este, as pretensões de democratização dos meios de comunicação de massa, tanto da propriedade dos mesmos, como a elaboração das mensagens, ou suas múltiplas interpretações, são tratados ainda dentro dos ideais iluministas de libertação. Não há o reconhecimento – que, acredito, se faz necessário – de que o desenvolvimento das comunicações de massa atingiu um nível em que o con-

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plosão urbana: as megalópoles também possuem grupos econômicos podero-

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trole total, seja da produção da mensagem, seja do receptor, seja do processo, é impossível. Um caminho interessante de análise do papel da televisão na sociedade contemporânea poderia ser aquele semelhante ao adotado pelos cientistas sociais que se debruçaram sobre os estudos da complexidade da metrópole moderno-contemporânea. Autores como Simmel (1979), Baudelaire e outros, ressaltaram a fragmentação como uma característica da vida na metrópole, e a impossibilidade de apreender a totalidade da vida urbana, tanto para o homem mergulhado em seu cotidiano, como para o analista que procura entender essa complexidade. Simmel propôs, para entender a fragmentação na vida metropolitana, a percepção da atitude blasé do indivíduo que vive na metrópole: na impossibilidade de se relacionar com a totalidade, ele seleciona informações, relações, e vive dentro desses “recortes”. (SIMMEL, 1979). Benjamin (1975) referiu-se ao flaneur de Baudelaire, como aquele que flui e frui no Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 109-129, jan./jun. 2006.

espaço urbano. Certeau (1994) propôs o estudo dos traçados urbanos feitos

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pelas pessoas que neles transitam com intenções diferentes de seus planejadores, como uma das possibilidades de se entender ou reconstituir trajetórias nesse espaço complexo. Todos esses autores já ressaltaram a fragmentação metropolitana, a impossibilidade de apreender a totalidade desse universo, tanto para o homem mergulhado em seu cotidiano como para o analista. Está faltando uma teoria que aplique a mesma lógica e tenha a mesma postura diante da complexidade do mundo da comunicação. As hipóteses aqui levantadas pretendem contribuir para esta futura elaboração, tarefa que certamente deverá envolver não só estudos transdisciplinares, mas também uma profunda reflexão no campo da teoria do conhecimento, sobre os pressupostos epistemológicos contidos tanto na construção das mensagens e imagens, e em sua recepção, em contextos culturais específicos, quanto em sua análise. Há um alvo na sociedade atual, que garante a quem lhe dirige dardos,

estar contra o sistema e fazer parte de uma comunidade de sentido: esse alvo é a televisão. A comunidade de sentido na qual se ingressa quando se emite certo tipo de crítica à televisão parece definir um novo tipo de pertencimento, mais fluido, e ao mesmo tempo representa uma garantia de pelo menos algum acordo em torno da análise dos problemas sociais contemporâneos. E aqui finalmente vislumbro um grande sentido positivo, que articula a análise proposta sobre a crítica à TV: talvez não seja em torno da TV que as pessoas se reúnem hoje, e sim um certo modo de ver a TV é que parece servir de união, e pode estar servindo para alimentar um outro imaginário: a busca da possibilidade de ainda construir algum consenso na sociedade contemporânea.

Reflexions on television and “lack of culture” in Brazil This article approaches the meaning of television in contemporary society, based on an ethnographic audience research carried out with people belonging to middle class families in a medium-sized city, in the countryside of Rio Grande do Sul, Brazil. The people who were questioned in that research see TV from a socially critical point of view, which supposes that other groups do not have culture enough in order to watch it in a critical way. The connections among the suppositions of the participants, as well as a certain intellectual debate, are important in order to try to identify the reasons for this critical outlook to remain so strong, even in a context of cultural diversity and cultural plurality. Both perspectives, taken from the studies of reception and the people researched are brought together in this article, seeking to point out that there are some shared assumptions about the superiority of the literate culture, even when one considers the receiver as the subject in the communication process. Eventually, the article outlines some consequences of the current debate and hypotheses for new researches. KEYWORDS: Middle class families. Television. Studies of reception. Brazilian culture. Culture.

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ABSTRACT

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Reflexiones sobre la Televisión y la “falta de cultura” en Brasil RESUMEN Este artículo aborda el significado de la televisión en la sociedad contemporánea, a partir de una pesquisa de etnografía de audiencia realizada con personas pertenecientes a camadas medias de una ciudad de medio porte de interior del Rio Grande do Sul, Brasil. Las personas pesquisadas veen la televisión a través de una crítica social que supone que otros grupos no posuan cultura para verla de modo crítico. Las conexiones entre las suposiciones de los pesquisados y un cierto debate intectual son importantes para intentar identificar las razones de esta crítica se mantener fuerte, mismo en un contexto de diversidad y pluralidad cultural. Las perspectivas de los estudios de recepción y de las personas pesquisadas son aproximadas en este artículo, en una reflexión que intenta apuntar que existen algunos presupuestos compartidos sobre la superioridad de la cultura letrada, mismo cuando se considera el receptor como sujeto en el proceso de comunicación. Por fin, el artículo esboza algunas consecuencias del debate actual e hipótesis para nuevas pesquisas.

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PALABRAS-CLAVE: Camadas medias. televisión. Estudios de recepción. Cultura brasileña. Culturas.

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Nara Magalhães Pesquisadora pós-doutoranda associada ao Núcleo de Antropologia e Cidadania (NACI) do PPGAS/UFRGS E-mail:[email protected]

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