Relato sobre a Tradução de um Ranking de Lutadores de MMA

September 24, 2017 | Autor: Mateus Viana | Categoria: Translation, Sports, Tradução, MMA
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RELATO SOBRE A TRADUÇÃO DE UM RANKING DE LUTADORES DE MMA – MIXED MARTIAL ARTS Mateus Gomes Viana – [email protected]

RESUMO Este trabalho relata a prática de uma tradução de um ranking esportivo, de atletas de MMA – Mixed Martial Arts, esporte de luta antes conhecido como vale tudo. Utilizaram-se as metodologias do protocolo verbal e do relato retrospectivo da tradução, ou seja, a verbalização dos pensamentos do tradutor; e a descrição do processo realizado até a redação final do texto traduzido. O objetivo geral do artigo é descrever as fases do processo tradutório, as estratégias utilizadas e as impressões do tradutor em relação à tradução de um texto esportivo do inglês para o português. O trabalho relata, ainda, as facilidades e dificuldades encontradas no processo, além das ferramentas utilizadas para a redação final do texto traduzido.

Palavras-chave: Protocolo verbal. Retrospectiva de tradução. Mixed Martial Arts (MMA).

ABSTRACT This paper describes the practice of translating a sport ranking, of MMA athletes Mixed Martial Arts, combat sport formerly known as “vale tudo”. The methodologies of the verbal protocol and the retrospective translation were used, i.e, the verbalization of the thoughts of the translator; and the description of the process undertaken by the final version of the translated text. The overall objective of the paper is to describe the phases of the translation process, the strategies used and the impressions of the translator regarding the translation of a sport text from English to Portuguese. The paper also reports the facilities and difficulties encountered in the process and the tools used for writing the final version of the translated text.

Keywords: Verbal protocol. Retrospective translation. Mixed Martial Arts (MMA).

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta a tradução de um texto sobre o Mixed Martial Arts, esporte de lutas que “mistura” várias artes marciais, como luta livre, judô, Muay Thai, jiu-jitsu, entre outras. No Brasil, o esporte, anteriormente conhecido como vale tudo, hoje é referido por sua sigla em inglês – MMA – sendo que a tradução literal de artes marciais mistas não é comumente usada. Assim, fala-se MMA ou vale tudo. Porém, o objetivo principal do artigo é refletir sobre o processo de tradução, de modo que o trabalho do tradutor passe da intuição para a conscientização. Para isso, fez-se uso de estratégias de tradução, ou seja, de técnicas, formas eficientes e apropriadas para resolver problemas durante a atividade de traduzir. Assim, foram utilizadas estratégias como a análise macrotextual do texto de partida, de modo a entender seu gênero, estilo e vocabulário. Também se fez uso da análise microtextual, levando em conta as palavras e expressões do texto a ser traduzido e a pesquisa pelos termos adequados para a tradução, com o uso de dicionários convencionais e virtuais. Durante o processo de tradução – composto pelas fases de orientação, redação e revisão - surgiram dúvidas, tanto em relação ao significado de alguns vocábulos, como, principalmente, tocante à escolha da melhor palavra para um determinado contexto. A resolução dessas dúvidas passou por estratégias como a pesquisa, o conhecimento prévio do tradutor sobre o assunto e a consciência de que o texto deve ser compreensível para os leitores da língua alvo. Houve uma preferência, pois, da tradução comunicativa (pelo sentido, focada na língua alvo) em detrimento da tradução semântica (literal, com foco na língua de origem). Essa escolha deveu-se a três fatores principais: a finalidade do texto – tornar compreensível para leitores de português um ranking elaborado no idioma inglês – a natureza dos leitores, púbico brasileiro; e o tipo de texto, um típico texto do jornalismo esportivo. Entendeu-se que a tradução, pois, requereu uma tradução comunicativa, o que se torna evidente na tradução de termos técnicos e de metáforas não de forma literal, mas com a utilização das expressões equivalentes na língua alvo. Levando-se em conta o relato de estratégias de tradução de Lopes (2011, p.72), utilizou-se nesta pesquisa basicamente o protocolo verbal e o relato retrospectivo do processo de tradução. Há a presença, ainda, das estratégias sugeridas por Pagano (2000) e por Arrojo (2007). Entretanto, a maior parte das soluções aos problemas

advindos do processo tradutório foi resolvida por este tradutor, devido a sua familiaridade com o gênero e o assunto do texto de partida.

2. METODOLOGIA Em primeiro lugar, na fase de orientação, o tradutor leu ininterruptamente o texto de partida, no site Sherdog.com, um dos mais respeitados do ramo do MMA. Os rankings são bastante utilizados em esportes de luta, não só para efeito de comparação entre os lutadores ou para debates entre pessoas que seguem o esporte e a imprensa especializada, mas também para os organizadores dos eventos “casarem” as lutas. Assim, um adversário bem ranqueado está mais próximo de uma disputa de título do que um atleta em pior posição na lista, apesar de outros fatores, especialmente o potencial de venda da luta, influírem na definição dos combates. Destarte, optou-se pela tradução de um ranking pound-for-pound, ou seja, entre todas as categorias de peso. O próprio nome da lista apresenta um exemplo de como a tradução priorizou os leitores da língua alvo: a tradução literal – libra por libra – não faz sentido no Brasil, já que neste país se usa como unidade de peso o quilograma, e não a libra. Assim, o ranking é comumente conhecido pelos brasileiros como “peso por peso”. A escolha do texto deveu-se ao conhecimento e interesse do presente autor no assunto, bem como de sua fonte, já que o site contém matérias bem fundamentadas e informativas, além de um ranking altamente respeitado entre os especialistas do esporte. Desse modo, procedeu-se à tradução propriamente dita – fase de redação – com revisões parciais durante o processo, além de uma revisão final ao término do trabalho – fase de revisão. As ferramentas utilizadas foram principalmente o uso de dicionários e, em menor escala, de tradutor online. Porém, os principais subsídios foram internos, ou seja, os conhecimentos prévios do tradutor sobre a língua e o tema do texto de partida. Como se trata de um relato, utilizou-se o protocolo verbal, no qual o tradutor verbaliza seus pensamentos durante a tradução. Isso foi feito por meio da inserção de comentários no editor de textos Word, os quais permitem a leitura simultânea dos comentários e dos excertos a que se referem no texto.

Por fim, foi apresentado um relatório sobre o processo, na forma de um questionário, semelhante ao exposto por Lopes (2011, os 77-79). Assim, pôde-se tomar consciência do processo, tanto pela verbalização das impressões durante a atividade, como por uma análise retrospectiva, expressa no questionário em anexo.

3. RELATOS DO TRADUZIR 3.1 Início A primeira etapa – orientação – foi a leitura do texto, que se mostrou eficaz, devido aos conhecimentos de língua estrangeira do tradutor e, principalmente, a sua familiaridade com o esporte a que o ranking se refere. Todos os lutadores listados eram de conhecimento do autor, o que facilitou bastante a compreensão do texto e, por conseguinte, a tradução.

3.2 Facilidades Encontradas A maioria dos termos do texto de origem não apresentaram dificuldades para a tradução. De fato, foi uma surpresa perceber que foi mais fácil traduzir diretamente, sem a utilização do Google tradutor. As expressões mais usadas, os termos técnicos relativos à luta e o próprio estilo do site eram de conhecimento prévio do tradutor, decorrente de seu contato com o esporte por mais de dez anos. Assim, não foi preciso buscar subsídios externos, como pesquisas sobre o vocabulário específico do MMA ou a leitura de textos sobre o tema em português.

3.3 Dificuldades Encontradas Algumas expressões em particular causaram dúvidas. Também se buscou explicitar expressões conhecidas pelos aficionados pelo esporte, mas não pelo público geral. Entretanto, as maiores dificuldades ocorreram quanto à escolha sobre o melhor termo a ser utilizado em determinado período.

3.4 Revisão

A revisão foi sendo feita conforme se traduzia. O aspecto do texto, dividido em tópicos, possibilitou esse mecanismo. Durante essas revisões parciais, foram sendo feitos pequenos ajustes, para tornar a leitura mais natural e agradável para os usuários do português. Ademais, uma revisão geral foi feita ao final do processo; no entanto, esta praticamente não alterou o texto, devido às modificações anteriormente feitas.

3.5 Expectativas do Tradutor O tradutor esperava um trabalho árduo pela sua pouca experiência, mas interessante pelo seu domínio no assunto. Houve uma grata surpresa: a quase inexistente utilização do tradutor online. De fato, as dúvidas foram resolvidas com a utilização de dicionários convencionais e virtuais. O resultado final foi satisfatório e transmite mais confiança para as futuras traduções. Além disso, a verbalização das dúvidas, dos problemas e soluções foi importante para a conscientização do processo de traduzir. Dessa forma, as estratégias utilizadas podem ser utilizadas de forma mais eficaz em futuros trabalhos.

4. OS TEXTOS DE PARTIDA E TRADUZIDO Apresentam-se, nesta seção, os textos de partida e o texto traduzido, respectivamente. Em seguida, alguns dos comentários realizados pela técnica do protocolo verbal.

4.1 O texto de partida SHERDOG.COM’S POUND-FOR-POUND TOP 5 Georges St. Pierre made sure there would be no shakeup in the rankings this time out. In the main event of UFC 158, GSP showed why he is Sherdog.com’s No. 2 pound-for-pound fighter by defending his UFC welterweight title in a shutout of former Strikeforce ace Nick Diaz. Before a wild hometown crowd in Montreal, the 31-year-old executed a near-flawless game plan, shutting down Diaz’s high-level boxing with takedowns and stifling the Californian’s jiu-jitsu attack from top control to secure 50-45 scores across the board.

St.

Pierre

is

far

from

finished,

however.

Unlike

middleweight

counterpart Anderson Silva, the French Canadian still has plenty of challengers rising up in the ranks. Next up will likely be power-punching wrestler Johny Hendricks, who took a unanimous nod over recent GSP opponent Carlos Condit in the UFC 158 comain event. Speaking of Silva, though, the top-ranked pound-for-pounder finally has a date for his return. For the first time in nearly two years, “The Spider” will defend his UFC middleweight belt in a bout that is not a rematch when he goes up against unbeaten prospect Chris Weidman at July’s UFC 162. 1. Anderson Silva (33-4) There is not much left, if anything at all, for Silva to accomplish at middleweight. He’s the most dominant champion the division has ever seen and has mopped the floor with virtually every challenger sent his way. When a fighter is this good, it’s hard to find worthy opponents, but the UFC seems to think it has one in Chris Weidman, who will attempt to dethrone the 37-year-old Brazilian come July 6 at UFC 162. How do the middleweights match up? While Weidman is an accomplished wrestler and unbeaten in MMA, he has fewer fights (nine) than Silva has consecutive title defenses (10).

2. Georges St. Pierre (24-2) St. Pierre kept his chokehold on the 170-pound class by dominating Nick Diaz in a fiveround rout at UFC 158, adding the brash Californian to a list of victims which includes Carlos Condit, Jake Shields, Jon Fitch, B.J. Penn and Matt Hughes. Still only four months removed from an 18-month hiatus due to ACL reconstruction, GSP said after the bout that he’s looking to take a break. Whenever he returns, St. Pierre will have to deal with another tough challenger in Johny Hendricks.

3. Jon Jones (17-1) The light heavyweight king has answered all challenges during a dominant title reign, most recently taking out Vitor Belfort at UFC 152 in September. Once his coaching stint opposite Chael Sonnen on “The Ultimate Fighter 17” runs its course on FX, “Bones” will defend his strap against the outspoken wrestler in the UFC 159 main event on April 27. If Jones vanquishes Sonnen, as expected, it figures to be an interesting

second half of 2013 for the Jackson’s Mixed Martial Arts member, with a wide array of potential opponents looming, including lucrative cross-divisional bouts against the likes of Daniel Cormier or Anderson Silva.

4. Jose Aldo (22-1) In his first title defense since January 2012, Aldo held off hard-charging former lightweight champion Frankie Edgar in the UFC 156 headliner. Shortly thereafter, 155pound contender Anthony Pettis informed UFC President Dana White that he would like to drop a weight class to face the Brazilian champion. After initially balking at the match, Aldo and his team have agreed to square off with Pettis at UFC 163 on Aug. 3. The deal comes with an added incentive: if he is victorious, Aldo will receive an immediate title shot at 155 pounds.

5. Benson Henderson (18-2) After claiming and defending the UFC lightweight title in a pair of hotly contested wins over Frankie Edgar, Henderson left little doubt in his latest defense. Before an audience of millions on network TV, Henderson grounded, pounded and ultimately took a unanimous decision over top contender Nate Diaz. Henderson’s recent run at 155 pounds has given him one of the strongest records in all of MMA, but there is no time for “Smooth” to rest on his laurels. Next up: a long-anticipated showdown against Strikeforce lightweight champion Gilbert Melendez in the UFC on Fox 7 headliner.

4.2 O texto traduzido

OS CINCO MELHORES LUTADORES PESO POR PESO DO SITE SHERDOG.COM Georges St. Pierre deixou claro que não haveria mudanças nos rankings desta vez. No evento principal do UFC 158, GSP mostrou porque ele é o segundo melhor lutador peso por peso do Sherdog.com, defendendo seu título dos meio-médios do UFC contra o ex-astro do Strikeforce Nick Diaz. Ante um enlouquecido público em sua cidade natal de Montreal, o atleta de 31 anos executou uma estratégia quase sem falhas, anulando o boxe de alto nível de Diaz com quedas e neutralizando os ataques de jiu-

jítsu do californiano controlando-o no chão, até assegurar 50 a 45 na pontuação dos juízes. Contudo, St. Pierre está longe de encerrar seus trabalhos na categoria. Diferentemente do também campeão Anderson Silva (peso médio), o franco-canadense ainda tem muitos desafiantes subindo nos rankings. O próximo provavelmente será o wrestler com poder de nocaute Johny Hendricks, que venceu por decisão unânime o recente oponente de GSP, Carlos Condit, no evento co-principal do UFC 158. Falando em Anderson Silva, aliás, o número um no ranking peso por peso finalmente tem uma data para seu retorno. Pela primeira vez em quase dois anos, “The Spiper” vai defender seu cinturão dos pesos médios do UFC em uma disputa que não é uma revanche, quando ele for enfrentar o invicto e promissor Chris Weidman no UFC 162, em julho. 1. Anderson Silva (33-4)1 Há muito pouco, ou nada, para Silva conquistar nos pesos médios. Ele é o campeão mais dominante que já passou pela divisão e praticamente limpou a categoria. Quando um lutador é assim tão bom, é difícil de achar oponentes adequados, mas o UFC parece pensar que um deles é Chris Weidman, que vai tentar destronar o brasileiro de 37 anos no UFC 162 no dia 6 de julho. Como o jogo dos pesos médios se casa? Enquanto Weidman é um wrestler bem sucedido e invicto no MMA, ele tem menos lutas (nove) que as defesas de título consecutivas de Silva.

2. Georges St. Pierre (24-2) St. Pierre manteve seu cinturão na categoria de 77kg ao dominar Nick Diaz em uma disputa de 5 rounds no UFC 158, adicionando o aguerrido californiano à lista de vítimas que inclui Carlos Condit, Jake Shields, Jon Fitch, B.J. Penn e Matt Hughes. Apenas quatro meses depois de um hiato de 18 meses por uma reconstrução do ligamento anterior cruzado do joelho, GSP falou depois do combate que está querendo descansar por um tempo. Quando retornar, St. Pierre terá de lidar com outro duro desafiante, Johny Hendricks.

3. Jon Jones (17-1) 1

Os números entre parênteses referem-se, respectivamente, à quantidade de vitórias e de derrotas do lutador, ou seja, no caso de Silva, ele possui 33 vitórias e 4 derrotas em sua carreira.

O rei dos meio-pesados teve uma resposta para todos os desafios durante seu dominante reinado com o título, derrotando recentemente Vitor Belfort no UFC 152 em setembro. Após seu período de técnico no “The Ultimate Fighter 17”, em curso no canal de TV FX, contra o oponente Chael Sonnen, o campeão “Bones” vai defender seu cinturão contra o polêmico wrestler no evento principal do UFC 159, dia 27 de abril. Se Jones derrotar Sonnen, como esperado, parece que haverá uma segunda metade de 2013 interessante para o membro da academia Jackson’s Mixed Martial Arts, com amplas possibilidades de oponentes no horizonte, incluindo lucrativas disputas interdivisões contra Daniel Cormier ou Anderson Silva, por exemplo.

4. Jose Aldo (22-1) Na sua primeira defesa de título desde janeiro de 2012, Aldo superou o esforçado excampeão dos pesos leves Frankie Edgar na luta principal do UFC 156. Pouco depois, o desafiante dos leves Anthony Pettis informou Dana White, presidente do UFC, que queria descer de categoria para enfrentar o campeão brasileiro. Após recusar inicialmente a luta, Aldo e seu time concordam em competir com Pettis no UFC 163 em 3 de agosto. O acordo vem com um incentivo adicional: se vencer, Aldo vai receber uma imediata disputa de título nos pesos leves.

5. Benson Henderson (18-2) Depois de tomar e defender o título dos pesos leves do UFC em um par de vitórias altamente contestadas contra Frankie Edgar, Henderson deixou pouca dúvida em sua última defesa de título. Ante um público de milhões de telespectadores, Henderson derrubou, bateu e finalmente ganhou por decisão unânime do desafiante de alto nível Nate Diaz. A recente trajetória de Henderson nos pesos leves deu a ele um dos cartéis mais fortes de todo o MMA, mas não há tempo para o “Smooth” (apelido do campeão) descansar em suas láureas. Próximo desafio: uma esperada batalha contra o campeão dos leves do Strikeforce Gilbert Melendez, na luta principal do UFC on Fox 7.

4.3 Comentários sobre o processo de tradução Nas revisões, houve trocas de expressões como “contra Nick Diaz”, em vez de “sobre Nick Diaz” ou “controlando-o no chão” em vez de “ficando por cima dele”. Neste último caso, devido a uma melhor sonoridade e para evitar a ambiguidade do

pronome dele. Utilizando o pronome oblíquo, fica claro que GSP é o sujeito e Diaz é o objeto direto de controlar. Além disso, entendi necessário explicitar no chão, porque o “top control” é um controle na luta de solo, não na luta em pé. Outras observações importantes: a tradução de “game plan”, por exemplo, não pode ser literal. No ramo das lutas, não se diz plano de jogo, mas estratégia de luta. Opções foram feitas no sentido de manter a palavra na língua inglesa, a exemplo do termo wrestler, pois é assim que atletas, imprensa e aficionados referem-se aos lutadores de luta agarrada (luta livre ou greco-romana). Já para algumas expressões típicas, como ‘power punching”, foi escolhida a tradução “poder de nocaute”. Inicialmente, a tradução tinha sido pela qualificação "de mão pesada", até porque o termo punch (soco), como peso da mão, é bastante utilizado no meio das artes marciais, como "esse lutador tem punch". Porém, em revisão, optouse pela primeira expressão, porque a outra deixaria o texto muito informal. Um aspecto interessante do processo foi a expressão “mop the floor”. Por desconhecer o verbo “to mop”, o auxílio do dicionário mostrou o sentido de enxugar. A tradução literal seria enxugar ou esfregar o chão, mas não faria sentido para a cultura brasileira. Usou-se, então, limpar a categoria, o que, aliás, está no mesmo campo semântico de enxugar o chão, no sentido de limpeza. “Limpar a categoria” é vencer virtualmente todos os adversários possíveis. O texto diz que Anderson enxugou o chão com qualquer desafiante em seu caminho. Limpar a categoria significa exatamente isso. Situação parecida ocorreu com a expressão “match up”. Trata-se de um termo muito utilizado em lutas, no sentido de combinar os estilos dos lutadores. No Brasil, fala-se em “casar o jogo”. Se utilizasse “como os pesos médios se casam”, certamente o sentido seria diferente, pois eles vão lutar e não contrair núpcias! Assim, são seus estilos (o jogo deles) que vão combinar, dar certo, casar-se. Houve também a explicitação de alguns termos. No texto de partida fala-se simplesmente em ACL e FX. Contudo, o leitor não acostumado com o assunto poderia não entender esses termos, assim, preferiu-se explicar que o primeiro refere-se ao ligamento anterior cruzado do joelho; e o segundo a um canal de televisão fechada. Aliás, a explicitação é uma característica típica dos textos traduzidos. Outros casos de explicitação: Jackson’s Mixed Martial Arts é uma academia de MMA, cujo treinador principal chama-se Greg Jackson. Já “Bones” é o apelido de Jon Jones, e “Smooth”, o de Ben Herderson. Achou-se por bem explicitar tais detalhes, pois

o leitor não frequente de textos sobre o esporte provavelmente não saberia dessas informações. Por outro lado, a tradução de “outspoken” gerou dúvidas. Franco não se encaixaria bem no período. Existe a expressão “sem papas nas línguas”, que caracteriza bem o lutador Chael Sonnen, mas seria muito informal para o texto. Falador, a primeira escolha, pareceu simples e inadequado para o contexto. Optou-se, então, por polêmico, já que, por ser falador, por dar declarações controversas, Sonnen é um personagem bastante polêmico. Houve a verbalização de mais pensamentos – 41 no total – porém estes foram os mais notáveis. Durante as revisões parciais e a revisão final, realizaram-se algumas correções pontuais, resultantes de erros de digitação, ou a troca da ordem de termos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência de traduzir de forma consciente e reflexiva mostrou-se válida e tornou a prática mais interessante. Neste trabalho, o tradutor voltou sua atenção para uma tradução comunicativa, focada na língua alvo, por entender que a tradução literal deixaria muitas expressões incompreensíveis para leitores de português. Portanto, o objetivo de descrever o processo tradutório foi alcançado. A utilização do protocolo verbal, por meio de comentários ao longo da prática tradutória; e da análise retrospectiva proporcionada pelo questionário em anexo, permitiram ao tradutor uma percepção melhor de seu trabalho. Após essa experiência, certamente as futuras traduções ocorrerão de forma mais consciente e eficaz. Percebeu-se, por fim, que traduzir é uma atividade que requer preparo e contínuo aperfeiçoamento, de maneira que as estratégias utilizadas são importantes e vão se tornar cada vez mais efetivas à medida que cresce a experiência do tradutor.

5. REFERÊNCIAS ARROJO, Rosemary. Oficina de Tradução: A Teoria na Prática. 5ª Ed. São Paulo: Ática, 2007. ALVES, Fábio & MAGALHÂES, Célia & PAGANO, Adriana. Traduzir com autonomia: Estratégias para o tradutor em formação. 4ª Ed. São Paulo: Contexto, 2011.

LOPES, Carolina Bezerra de Andrade. Relato de Estratégias de Tradução com Base em Protocolo Verbal e Entrevista Retrospectiva. Conex. Ci. e Tecnol., Fortaleza, Ceará, v.5, n.3, p. 71-79. nov.2011. OXFORD, University Press. Dicionário Oxford Escolar: para estudantes brasileiros de inglês. 2ª Ed. Oxford, New York: Oxford University Press, 2007. OXFORD, University Press. Oxford Advanced Learner’s Dictionary. 8ª Ed. Oxford, New York: Oxford University Press, 2010. CAMBRIDGE. Cambridge Dictionary Online: English dictionary & thesaurus, disponível em: http://dictionary.cambridge.org/, acessado em 14 de maio de 2013.

6. ANEXO QUESTIONÁRIO SOBRE O PROCESSO DE TRADUÇÃO 1. Preparação 1.1 Pesquisa antes da leitura? Sim. A própria escolha do texto baseou-se no meu interesse no esporte. Já o acompanho há mais de dez anos e frequentemente acesso o site Sherdog.com, cujo ranking é um dos mais respeitados da imprensa que cobre o esporte. 1.2 Pesquisa durante a leitura? Pesquisa de textos paralelos? Sim. A pesquisa baseou-se mais no processo tradutório e na busca por melhores formas de traduzir. Em relação ao assunto, já tinha conhecimento prévio suficiente para entender tudo a que o texto de partida se referia. Sim. Li outros rankings de MMA, como o do site MMAJunkie.com e do site Combate. Apesar de diferentes, a ordem dos lutadores é praticamente a mesma. 1.3 Pesquisa sobre gêneros literários? Não. O gênero do texto de partida é o jornalístico, cuja principal função é informar. Li bastantes textos, mas não fiz uma pesquisa específica sobre o tema gêneros literários. 2. Pesquisas e consultas Principalmente dicionários, inclusive onlines, além do conhecimento da língua. A ferramenta do Google Tradutor foi usada raramente. 3. Ferramentas Tradução direta, ou seja, leitura do texto de partida e escrita do traduzido. Quando encontrava uma palavra ou expressão que causava dúvidas, buscava solucioná-las em dicionários convencionais e onlines. 4. Sobre as dificuldades As principais dificuldades foram encontradas em algumas palavras específicas. Na revisão, muitas vezes ficava em dúvida sobre que palavras usar, ainda que sinônimas, em determinados contextos. 5. Sobre as Facilidades

O conhecimento prévio do assunto facilitou bastante a tradução. Já tinha ciência dos atletas citados, dos termos comumente utilizados no esporte, além de ter familiaridade com a linguagem do site, o qual acesso frequentemente. 6. Sobre a revisão A revisão foi feita várias vezes durante a tradução e, ao final, uma revisão geral. 7. Sobre as expectativas e opinião acerca da tradução Por gostar do assunto e conhecer o site, tinha boas expectativas sobre a tradução. Surpreendi-me por utilizar tão pouco o Google tradutor. Antes, pensava que seria mais rápido utilizar a ferramenta e, depois, corrigir. No entanto, comecei a traduzir de forma direta e, conforme ia avançando na leitura, percebi que o processo estava evoluindo bem. A leitura da bibliografia de apoio foi importante para conhecer as estratégias de tradução e tomar consciência do processo, ou seja, a atividade não foi apenas mecânica, mas teve um adequado embasamento teórico e metodológico.

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