Relatório de pesquisa sobre a fotografia “Antigos carregadores de Docas”

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL IFCH – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA MUSEU JÚLIO DE CASTILHOS Naiara Müssnich Rotta Gomes de Assunção

Relatório de pesquisa sobre a fotografia “Antigos carregadores de Docas”

Relatório de cumprimento de Estágio de Obrigatório de Bacharelado, necessário para obtenção de grau em História – Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Realizado no Museu Julio de Castilhos entre março e junho de 2014, com orientação da pesquisadora Jane Mattos e da professora Carla Brandalise.

Porto Alegre 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL IFCH – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA MUSEU JÚLIO DE CASTILHOS Naiara Müssnich Rotta Gomes de Assunção

Relatório de pesquisa sobre a fotografia “Antigos carregadores de Docas”

Relatório de cumprimento de Estágio de Obrigatório de Bacharelado, necessário para obtenção de grau em História – Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Realizado no Museu Julio de Castilhos entre março e junho de 2014, com orientação da pesquisadora Jane Mattos e da professora Carla Brandalise.

Porto Alegre 2014

Índice

Relatório do Estágio........................................................................................................................ 4 Trajetória de Pesquisa .................................................................................................................... 6 Pessoas com quem falei................................................................................................................. 7 Instituições visitadas...................................................................................................................... 8 Museu Histórico de Porto Alegre Joaquim José Felizardo .......................................... 8 Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul................................................ 15 Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho................................................ 16 Museu de Comunicação Hipólito José da Costa........................................................ 16 Referências à fotografia em publicações ...................................................................................... 17 Questões para serem desenvolvidas por futuros pesquisadores..................................................... 18 Resultado da Pesquisa .................................................................................................................. 19 Bibliografia Geral ......................................................................................................................... 27

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Relatório do Estágio O Estágio Obrigatório de Bacharelado, necessário para obtenção de grau em História – Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi realizado no Museu Julio de Castilhos entre março e junho de 2014, com orientação da pesquisadora Jane Rocha de Mattos. Tal instituição foi a primeira de cunho museológico do Estado, tendo sido fundada 30 de janeiro de 1903 pelo então Presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros. Na época foi denominado “Museu do Estado” e sua nomenclatura mudou para “Museu Julio de Castilhos” apenas em 1907, em homenagem ao ex-presidente do Rio Grande do Sul, falecido em 19031. O acervo do museu, atualmente, “é composto de mais de 11 mil peças que são divididas em 29 coleções dentre elas: iconografia (pinturas, gravuras, fotos), indumentária (roupas, acessórios, modas de épocas), armaria (armas), etnologia (objetos relacionados à cultura indígena), escravista (objetos utilizados no período da escravidão), documentos, máquinas, utensílios domésticos, objetos de uso pessoal, missões, dentre outros.”2 Meu trabalho consistiu na pesquisa histórica relacionada a uma fotografia do acervo iconográfico intitulada “Antigos carregadores de Doca”. A imagem consta no Sistema Donato (catálogo eletrônico do museu) com o seguinte registro: Tombo 1747 / Nº de inventário 230 / Controle IC3.

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MUSEU JULHO DE CASTILHOS (Porto Alegre). Histórico. Disponível em: . Acesso em: 04 jun. 2014. 2 MUSEU JULHO DE CASTILHOS (Porto Alegre). Acervo. Disponível em: . Acesso em: 04 jun. 2014. 3 Para mais detalhes sobre o registro, consultar “Trajetória de Pesquisa”.

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Escolheu-se essa foto por ser uma imagem conhecida, muito utilizada de diversas formas em publicações, blogs e exposições. No entanto, pouco se sabe sobre esta fotografia tanto em relação a sua origem física nos acervos de museus de Porto Alegre quanto em relação a sua produção. As únicas informações constantes no catálogo do museu eram em relação ao suporte físico da foto e sua autoria pelo Atelier Ferrari, conhecido estúdio fotográfico porto alegrense no século XIX. A busca por tais informações possibilitou meu contato direto com o ofício do historiador, me levando a diferentes instituições museológicas e arquivísticas de nossa cidade, manuseando diferentes tipos de documentos. Pesquisei o acervo da Fototeca Sioma Breitman do Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo através do sistema Donato; consultei jornais do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa; examinei documentação do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul e no Arquivo Histórico Moysés Vellinho. Contatei diversos pesquisadores que me auxiliaram em meu percurso indicando rumos e bibliografia a respeito da fotografia em Porto Alegre no século XIX. Contei ainda com a excelente orientação de Jane Mattos, responsável pela pesquisa histórica do MJJ, auxiliando-me com as referências bibliográficas e passando-me contatos. Apesar de não ter trabalhado com o tema que pretendo continuar pesquisando em minha carreira acadêmica o conhecimento que adquiri ao longo do estágio certamente me acompanhará. O tema pesquisado despertou-me grande interesse e considero ter sido essencial o aprendizado sobre a história de Porto Alegre. Posso concluir que o Estágio foi de extremo aproveitamento, dando-me a oportunidade de conhecer as expectativas, dificuldades, êxitos e desapontamentos da pesquisa histórica; possibilitando-me o manuseio de diversos tipos de documentação; ensinando-me a utilizar os diferentes meios de pesquisa em diferentes instituições; colocando-me em contato com vários pesquisadores. Enfim, creio ter o estágio cumprido sua função de introduzir o aluno do curso de História com o ambiente e objetos com que irá trabalhar, deixando um grande aprendizado como legado. Para mais detalhes sobre os percursos da pesquisa e seu resultado, ver as sessões adiante.

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Trajetória de Pesquisa Registro no Museu Júlio de Castilhos:

Título: Antigos carregadores de Doca Forma de aquisição: doação Data: ?? / Doador: ?? Data de catalogação: 08/03/05 Dimensões: 73cm x 52,5cm Material: Fotografia com reforço de papelão Autoria: Atelier Ferrari Localização física: Reserva técnica / RT2 – Armário 41 – Repartição 5 Tombo 1747 / Nº de inventário: 230

Registro no Museu Joaquim José Felizardo (Museu de Porto Alegre):

Negros Libertos, 4º quartel do século XIX. Final do século XIX. Papel, 12,8 x 8,7 cm. Sem assinatura / procedência desconhecida Ferrari, Irmãos – S88F

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Pessoas com quem falei: 

Zita Possamai (Professora UFRGS / email: [email protected]) – Passou-me os

contatos de Alice Dubina Truz e a referência de seu artigo “Porto Alegre pitoresca e bucólica: narrativas fotográficas urbanas dos Irmãos Ferrari “ em livro organizado por Alexandre Santos e Ana Albani de Carvalho. 

Alice Dubina Trusz (Pesquisadora / e-mail: [email protected]) – Indicou-me a tese de

doutorado de Alexandre Ricardo dos Santos “A fotografia e as representações do corpo contido: Porto Alegre (1890-1920)”, e sugeriu a procura das fotos expostas por Ferrari na Exposição Agropecuária e Industrial do Rio Grande do Sul de 1901. 

Moacyr Flores (Ex-diretor do MJJF / e-mail: [email protected]) – Passou-me a

informação de que “Essa foto [Negros Libertos] veio com outras da antiga Divisão de Cultura Municipal, que era dirigida por Walter Spalding. Depois que ele morreu, o acervo da Divisão de Cultura deu origem ao Museu de Porto Alegre. Recebi o lote de foto sem identificação.” 

Pedro Vargas (Técnico SMC / e-mail: [email protected]) – Confirmou os

dados apresentados por Moacyr Flores sobre a procedência da foto. Sugeriu-me entrar em contato com o prof. Alexandre Ricardo dos Santos e Carolina Etcheverry (ambos do Instituto de artes da UFRGS), Charles Monteiro e a Zita Possamai. 

Beto

Costa

Leite

(Coordenador

Museu

Hipólito

José

da

costa

/

e-mail:

[email protected]) – Sugeriu-me entrar em contato com Miguel Duarte e Denise Stuval. 

Alexandre dos Santos (Professor UFRGS / e-mail: [email protected]) – Passou-me

indicações bibliográficas sobre a interpretação da fotografia (Pierre Bordieu e Annateresa Fabris) 

Miguel Duarte (IHGRS / e-mail: [email protected]) – Informou-me da possibilidade de

exemplares de fotos da “Galeria Grotesca”, produzida por Virgílio Calegari estarem no acervo particular de Ivan Cabeda. Falecido a pouco, estas fotos estão sendo inventariadas, portanto, não estão disponíveis para consulta. Telefone da residência de Ivan Cabeda: (51) 3331-0857. Passoume

o

endereço

deste

blog:

http://blogdogriot.blogspot.com.br/2013/03/o-olhar-do-

estranho_12.html e acredita ter visto as fotos do negro de chapéu e o da boca aberta no tal acervo de Ivan Cabeda (fotos também presentes na fototeca Sioma Breitman). 

Débora Majewski (Museu da UFRGS / e-mail: [email protected]) – Informou-

me que a fotografia participou da exposição “De escravo a liberto: um difícil caminho”, realizada em 1988 no museu da UFRGS, organizada por Sandra Pesavento (para mais detalhes sobre essa exposição, ver artigo de Zita Possamai “Uma mirada para o visual” disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/PDF21/DOSSIE_05_Zita_Rosane_Possamai.pdf). Segundo ela, “A 7

foto ampliada foi apresentada na exposição e na elaboração do cartaz de divulgação. Ela pertence ao acervo do Júlio de Castilhos sob o nº 1747/230i – descrição: Escravos das Docas de Frutas (retrato), empréstimo feito em 17/11/1988. A foto original encontra-se na fototeca do Museu Joaquim Felizardo.” Instituições visitadas: Museu Histórico de Porto Alegre Joaquim José Felizardo (Busca no Sistema Donato): Características do acervo da fototeca Sioma Breitman:  Busca por “negros”: 32 resultados  Busca por “negro”: 40 resultados  Busca por “negra”: 5 resultados Total de 62 fotos de autoria do Atelier Ferrari, das quais:  2 são de negros em estúdio  4 são da Exposição Estadual de 1901  4 são painéis de formatura e assemelhados  10 são retratos de pessoas comuns e personalidades em estúdio (Henrique Estácio Ficher, Landell de Moura, Cel. Frederico Linck, Sen. Pinheiro Machado [essa única em ambiente externo], Idalina Mariante, “senhor”, “senhora”, “criança”, “mulher”, “menina”)  42 são de vistas urbanas Fotografias que recolhi para comparação: 

455 F – Lunara. Roscas de Polvilho – Negros Libertos, 1º quartel do século XX. Década de 1900.

8



586 F – CALEGARI, Virgílio. Negros (retrato) – crianças no estúdio. Final do século XIX ou Início do século XX.



587 F – FERRARI, Irmãos. Negros Libertos, 4º quartel (final) do séc XIX ou 1º Quartel (final) do século XX.

9



590 F – CALEGARI, Virgílio. Personalidade – negro – retrato – Bernardim BetoBeto.



593 F – CALEGARI, Virgílio. Negro (retrato) – Homem não identificado.

10



594 F – CALEGARI, Virgílio. Negro (retrato) – Homem, velho.



595 F – CALEGARI, Virgílio. Negra (retrato) – Mãe Rita.

11



596 F – CALEGARI, Virgílio. Negra (retrato) – mulher com turbante.



597 F – Lunara. Deixa disso, nhô João – Negros libertos, 1º quartel do século XX. Década de 1900. Doação de Eneida Serrano.

12



598 F – Autor Desconhecido. João Penna de Oliveira – Negro – 1º quartel do século XX, década de 1920.



4775 F – Lunara. “Deixa disso, nhô João” – Negros libertos, 1º quartel do século XX. Década de 1900. Doação de Eneida Serrano.

13



4776 F – Lunara. “Deixa disso, nhô João” – Negros libertos, 1º quartel do século XX. Década de 1900. Doação de Eneida Serrano.



3004 F – CALEGARI, Virgílio (atribuído). Exposição de Fotografias Ferrari – Álbum da Exposição de 1901, 1901 P&B. Sem assinatura. Doação.

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Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS):  

Pesquisa no acervo particular de Walter Spalding (Correspondências – 1969) – sem material de interesse encontrado. Consulta ao Álbum Comemorativo do Bicentenário “Porto Alegre – Biografia de uma Cidade”, editado pela prefeitura de Porto Alegre. Registro das seguintes páginas:

15

Arquivo histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho:  

Consulta do recenseamento realizado em Porto Alegre em 1912: identificação de algumas fotos do álbum do bicentenário. Consulta de documentação da antiga SMEC (Secretaria Municipal de Eduacação e Cultura): apresenta alguns documentos sobre a criação do Museu de Porto Alegre e realização de exposições, porém nada é referido sobre a procedência de seu acervo.

Museu da Comunicação Hipólito José da Costa: Jornais consultados:    

Correio do Povo (07/07/1974) – Matéria de Antonio Holfeldt com depoimento de Nilo Ruschel Correio do Povo (14/03/1979) – Nota sobre inauguração do Museu de Porto Alegre Folha da Manhã (11/05/1979) – Nota sobre exposição de fotografias de Calegari Zero Hora (17/10/1986) – Matéria sobre museus de PoA

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Referências à fotografia em publicações: 

Capa do livro “A emergência dos subalternos” de Sandra Pesavento.



Livro “cultura afro-brasileira”, organizado por Moacyr Flores (1980). Foto aparece apenas

com a referência “negros libertos”, sem estar associada a nenhum artigo. 

Álbum "Negro em Preto e Branco" de Irene Santos (2005). Aparece na sessão “Liberdade

sem Asas” com a legenda “estivadores do século 19” (pg. 35). 

Artigo “Linhas paralelas: os negros e os jornais nas fotografias do século XIX" de Beatriz

Marocco (2011). Análise arbitrária e pouco fundamentada da foto. 

Artigo de Arilson Gomes e Roberta Gomes no livro organizado por Jane Mattos "Museus e

africanidades" (2013): utiliza a foto como um exemplo da representação do negro como alteridade, porém sem grandes aprofundamentos ou análises. (Versão da foto é a que consta no MJC). 

Publicação chamada "História Ilustrada do Rio Grande do Sul" (1998). Aparece na página

187 com a legenda “negros libertos. Sem nenhuma outra referência (nem ao museu felizardo como nos outros casos). 

Wikipédia: aparece no artigo “História do Rio Grande do Sul” com a legenda “Um dos

primeiros

grupos

de

negros

libertos

em

Porto

Alegre,

c.

1884.”.

Disponível

em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Rio_Grande_do_Sul A descrição da imagem (quando se clica nela) é a seguinte: Negros recém libertos em Porto Alegre, 1884; Data: 1884; Fote: Scan de História Ilustrada do RS. Porto Alegre: Globo 1998; Autor: Jacintho Ferrari (?-1935). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Negros-libertos-1884.jpg 

Blog “Griot Digital” em artigo intitulado “O olhar do estranho”. Faz uma análise de

fotografias de negros e suas utilizações no fim do século XIX e ínicio do XX, sem preocupar-se muito

com

referências

bibliográficas

e

documentais.

Disponível

em:

http://blogdogriot.blogspot.com.br/2013/03/o-olhar-do-estranho_12.html 

Exposição “De escravo a liberto: um difícil caminho”, realizada em 1988 no museu da

UFRGS, organizada por Sandra Pesavento (para mais detalhes sobre essa exposição, ver artigo de Zita

Possamai

“Uma

mirada

para

o

visual”

disponível

em:

http://www.revistafenix.pro.br/PDF21/DOSSIE_05_Zita_Rosane_Possamai.pdf).

17

Questões para serem desenvolvidas por futuros pesquisadores: 1. Sobre a procedência da foto:  Como e quando essa fotografia foi agregada ao conjunto do Setor de Divulgação Histórica da SMEC (fundo que, posteriormente, comporia o acervo do Museu de Porto Alegre)?  Por que há uma reprodução no Museu Julio de Castilhos, quando e porque foi doada ao museu e como foi utilizada até então (exposições e publicações)?  Por que no acervo do Museu Julio de Castilhos há uma mudança na nomenclatura das fotos para “Antigos Carregadores de Docas”? A pessoa que catalogou-a com esse nome teria mais informações a respeito dessa foto? Existiria alguma pesquisa em relação a isso? 2. Sobre o conteúdo da foto:  Qual a intenção da fotografia? Teriam os protagonistas contratado o serviço do fotografo para que ele os retratasse como a burguesia porto-alegrense se retratava num sentido de alcançar seu status social ou teria sido iniciativa do fotografo que cooptou esses personagens para um retrato num intuito de vendê-lo para seu público-alvo como uma demonstração artística de algo “exótico” ou “grotesco”?  Qual o significado da composição da fotografia: posição dos personagens, cenário, vestimenta (seria vestimenta própria ou emprestada pelo estúdio?).

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Resultado da Pesquisa Este trabalho é resultado do Estágio Obrigatório de Bacharelado, necessário para obtenção de grau em História – Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O estágio foi realizado no Museu Julio de Castilhos entre março e junho de 2014, com orientação da pesquisadora Jane Mattos. Meu trabalho consistiu na pesquisa histórica relacionada a uma fotografia do acervo intitulada “Antigos carregadores de Doca”. Escolheu-se essa foto por ser uma imagem conhecida, muito utilizada de diversas formas em publicações, blogs, exposições (ver lista em “Trajetória de Pesquisa”). No entanto, pouco se sabe sobre esta fotografia tanto em relação a sua origem física nos acervos de museus de Porto Alegre quanto em relação a sua produção.

Ferrari/Museu J.J. Felizardo-Fototeca Sioma Breitman

Sabe-se, a partir das informações constantes no Sistema Donato do MJJ, que ela foi adquirida a partir de uma doação. Sua catalogação no sistema ocorreu em oito de março de 2005, fazendo menção apenas a sua autoria (Irmãos Ferrari), a suas dimensões, material e localização física4. Não há referências ao doador nem à data.

4

Ver o registro completo em”Trajetória de Pesquisa”.

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Sabe-se, porém, que a imagem do acervo do MJC, é uma reprodução. A original encontra-se no Museu Joaquim José Felizardo, compondo o acervo da fototeca Sioma Breitman. Nos registros do MJJF5, a fotografia consta com o título “Negros Libertos”, sua produção datada do 4º quartel do século XIX e autoria dos Irmãos Ferrari. Não há qualquer referência a doador, data de doação ou catalogação.

Segundo o Professor Moacyr Flores, diretor do Museu Joaquim Felizardo desde sua fundação em 1979 até X6, muitas fotos deste acervo, incluindo a “Negros Libertos” foram encaminhadas à instituição em um lote sem identificação, proveniente da antiga Divisão de Cultura Municipal. O Setor de Divulgação Histórica da Divisão de Cultura Municipal (vinculada à então Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SMEC) foi instituído em 1968 com a transferência de documentos considerados históricos (como livros, objetos, fotografias, mapas e quadros) provenientes do Arquivo Municipal.7 A reunião de fotografias deste acervo, segundo reportagem do Correio do Povo de sete de julho de 19748, tem suas origens em 1940. Em tal matéria, Nilo Ruschel relata que nesta época trabalhava como secretário do então prefeito Loureiro da Silva e, através dele, conseguiu a autorização da compra “das três mais antigas e maiores coleções de fotografias de Porto Alegre, pertencentes a Barbeitos, Callegari e Ferrari através do então Departamento de Turismo e Divulgação”9. Deosino Varella, filho do escritor Alfredo Varella, auxiliou na composição do material. Seu trabalho é descrito por Ruschel: “embora não fosse fotografo profissional, pôs-se a campo. (...) Cada dia, ele voltava com novas fotografias, que nunca descobri de onde desencavou.”. Afirma-se ainda que houve apoio da população, contribuindo para a coleção provavelmente através de doações. Os trechos citados deixam clara a falta de preocupação em catalogar o material coletado registrando informações sobre sua procedência, data de produção e doação ou quaisquer outros dados. As fotografias reunidas a partir daí deram origem ao álbum comemorativo do bicentenário de Porto Alegre. Apesar de não estar claro na matéria, presume-se que tal álbum seja o “Porto Alegre, Biografia de Uma Cidade”, disponível para consulta no Museu Júlio de Castilhos (MJJ), Arquivo Histórico de Porto Alegre (AHPA) e no Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS). Tal álbum é dividido em várias seções contendo dados geográficos, estatísticos e 5

Ver o registro completo em “Trajetória de Pesquisa”. Não consegui precisar essa informação, pois não há nenhum histórico institucional bem organizado com esses dados no Museu Joaquim José Felizardo e não obtive respostas em relação a datas através das trocas de e-mail com o professor Moacyr Flores. 7 PREFEITURA Municipal de Porto Alegre. Guia do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho. Porto Alegre: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, 2009. P. 15. 8 HOHLFELDT, Antonio. Nasce um Museu no Velho Solar. Correio do Povo. Porto Alegre, p. 21-21. 07 jul. 1974. – Consulta no Museu Hipólito José da Costa 9 Ibiden.. 6

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demográficos da cidade, apresentando características arquitetônicas com várias fotografias e gravuras de seus prédios. Destaco a seção “Passado” que discorre sobre a origem de Porto Alegre, havendo aí várias fotos de “vistas urbanas” que estão no acervo do Museu Joaquim Felizardo atribuídas aos Irmãos Ferrari e a Virgílio Calegari. Tal sessão é subdividida em vários itens, entre eles “Origem da Sociedade” em que entra a questão da “escravatura em Pôrto Alegre”. O álbum apresenta aí atas de sessões da Câmara Municipal de Porto Alegre significativas para a abolição da escravidão na cidade, conjuntamente a fotos de escravos e escravos libertos.10 Apesar da falta de qualquer tipo de referência de autoria, data de produção ou localização das fotografias, pude identificar que algumas delas estão no acervo da fototeca Sioma Breitman (todas as da página 137 do álbum são atribuídas a Virgilio Calegari e a foto a direita da página 136 a Lunara no Sistema Donato). Apesar disso a foto “Negros Libertos” atribuída aos Irmãos Ferrari não consta na publicação.

Pg. 137 do álbum “Porto Alegre, Biografia de Uma Cidade”

Chega-se à conclusão que, em 1979, a fotografia “Negros Libertos” já compunha o acervo do Setor de Divulgação Histórica da Divisão Municipal de cultura, porém não provinha do conjunto que compôs o álbum do Bicentenário de Porto Alegre (ou não foi utilizada em sua publicação). Tal 10

PREFEITURA Municipal. Porto Alegre – Biografia de uma Cidade. Edição comemorativa do Bicentenário da Cidade, 1940. Pp 131-137.

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imagem, portanto, chegou aos arquivos das instituições publicas de Porto Alegre em algum momento entre as décadas de 1940 e 1970. A data precisa, o doador e o motivo da doação permanecem em questão. Da mesma forma, permanecem as indagações referentes à presença da reprodução desta foto no acervo do Museu Julio de Castilhos. A mudança de nomenclatura de “Negros Libertos” para “Antigos carregadores de Doca” nos deixa a dúvida se a pessoa que a registrou com esse nome teria mais informações sobre a imagem. Fica o trabalho para os próximos pesquisadores de descobrir se há alguma pesquisa que embase tal mudança, a época e as condições em que essa fotografia foi doada ao museu e seus posteriores usos nessa instituição. Sendo essas as conclusões (ou inconclusões) sobre a proveniência física da fotografia, resta saber sobre o contexto e as condições de sua produção. Os registros apontam que ela tenha sido tirada no final do século XIX e sua referência a “negros libertos” faz acreditar que tenha sido após o ano de 1888, quando foi abolida a escravidão no Brasil. Essa época viu a emergência de alguns grandes fotógrafos em Porto Alegre, dentre eles, os Irmãos Ferrari, que assinam nossa foto. O atelier de fotografia dos Ferrari foi aberto, inicialmente, na atual rua Riachuelo por Rafael Ferrari, italiano que chegou a Porto Alegre na década de 1870. Aposentou-se em 1885, porém seus filhos Carlos e Jacintho deram continuidade aos trabalhos, inaugurado um novo estúdio na atual Rua Duque de Caxias e, finalmente, transferindo-o à Rua dos Andradas em 1896.11 Em seu estúdio, os Ferrari produziam e expunham retratos de figuras ilustres e representantes da elite porto-alegrense, porém ficaram conhecidos principalmente por conta de suas coleções de “vistas urbanas”, composto e vendendo imagens das paisagens de Porto Alegre. Do total das 62 imagens atribuídas aos Ferrari na fototeca Sioma Breitman do museu de Porto Alegre, 42 são das referidas vistas urbanas e apenas 10 são retratos12. Neste panorama, a fotografia “Negros Libertos” destaca-se das demais. A referida fototeca conta apenas com outra foto semelhante, protagonizada por negros, de autoria dos Irmãos Ferrari e cujas informações nos registros são exatamente as mesmas (levando o título “Negros Libertos” e datação da última metade do século XIX:

11

POSSAMAI, Zita. Porto Alegre pitoresca e bucólica: narrativas fotográficas urbanas dos Irmãos Ferrari. In: SANTOS, Alexandre; CARVALHO, Ana Albani de. Imagens: arte e cultura. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012, p.259-273. 12 Dos 10 retratos, cinco são identificados: Henrique Estácio Ficher, Landell de Moura, Cel. Frederico Linck, Sen. Pinheiro Machado [essa única em ambiente externo] e Idalina Mariante. Os outros cinco trazem referência apenas a “senhor”, “senhora”, “criança”, “mulher” e “menina”.

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Ferrari/Museu J.J. Felizardo-Fototeca Sioma Breitman

Ambas as fotografias são compostas por um grupo posando para a foto enquanto os demais retratos do acervo são todos individuais. Pontua-se também o fato de provavelmente serem exescravos, não constituindo, portanto, o público freqüentador dos estúdios fotográficos à época. A fotografia era uma arte emergente no século XIX, tendo produzido um grande entusiasmo na sociedade da Belle Époque. Segundo Alexandre dos Santos, “O inicio do regime republicano no Rio Grande do Sul, o estado mais positivista do país, viera acompanhado do aburguesamento dos costumes, o qual encontrou expressão privilegiada no signo fotográfico.”13 Os equipamentos utilizados eram pesados e caros, os estúdios fotográficos ambientes luxuosos em que se expunham as fotografias das personalidades que os frequentavam. Dessa forma, deixar-se fotografar era uma forma de ver e ser visto pela elite porto alegrense, sendo um fator de status social. Os negros, porém, não eram completamente alheios a essa situação. Muitos deles contratavam o serviço de fotógrafos no intuito de se verem retratados como as classes altas. É o que mostra Marcelo Eduardo Leite em seu artigo “A representação do negro na fotografia brasileira: um estudo das cartes de visite”. Segundo ele Dentre os personagens que usam da fotografia para se fazer ver, a população negra, é um grupo muito importante. É o período no qual os negros se distanciam da escravidão, e se fazer repensar como 13

SANTOS, Alexandre Ricardo dos. O gabinete do Dr. Calegari: considerações sobre um bem-sucedido fabricante de imagens. In: ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson (Org.). Ensaios Fotográficos. Porto Alegre: Unidade Editorial Porto Alegre, 1998. p. 23-35.

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homem livre é determinante. Nesse sentido, é comum a sua utilização para a manifestação de status dentro de padrões e valores tradicionais da sociedade burguesa.14

Esses negros vestiam-se e posavam como a alta sociedade fazia, às vezes tomando emprestadas roupas do estúdio, como é possível ver na imagem abaixo:

Imagem extraída do artigo: LEITE, Marcelo Eduardo. A representação do negro na fotografia brasileira: um estudo das cartes de viste. In: Anais do XI CONGRESSO LUSO AFRO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 2011, Salvador

A situação que observamos na foto “Negros Libertos”, porém, é diferente. Eles usam roupas comuns, estando inclusive descalços, algo que, até então, marcava a condição de escravo. A pose não é séria e imponente como a dos retratos das cartes de visite e sim passa uma certa sensação da desconforto por parte de alguns membros da foto. Ela é em grupo, não individual ou de um casal como eram próprios dos retratos. Dessas informações pode-se presumir que retrato não foi uma demanda dos fotografados e sim, talvez, uma iniciativa do fotografo. Há referencias de séries fotográficas de “tipos sociais” ou, como aponta Sandra Koustkous, de “typos de pretos”15. Segundo a autora, eram comuns, no século XIX, fotos tiradas em estúdios para serem vendidas como souvenires, principalmente a viajantes europeus, como uma lembrança do “exótico”, servindo ao mesmo tempo como um entretenimento e para sustentar um sentimento superioridade em relação ao “outro”. Colocando negros a posar em roupas típicas africanas, em

14

LEITE, Marcelo Eduardo. A representação do negro na fotografia brasileira: um estudo das cartes de viste. In: Anais do XI CONGRESSO LUSO AFRO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 2011, Salvador. 15 KOTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. No estúdio do fotógrafo: Representação e auto-representação de negros livres, forros e escravos no Brasil na segunda metade do século XIX. 2006. 382 f. Tese (Doutorado) - Curso de Multimeios, Unicamp, Campinas, 2006.

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alguma encenação de profissões comuns ou até de ritos, tais fotografias eram então elaboradas e consumidas por uma elite desejosa de auto-afirmação. Alexandre dos Santos, citando Athos Damasceno em seu artigo, menciona uma série de fotografias produzida por Virgílio Calegari, denominada “Galeria Grotesca”. Este fotógrafo, contemporâneo dos Ferrari e com grande visibilidade na Porto Alegre da época, teria composto um “curioso e ilustrativo conjunto de fotografias de tipos populares”16, sendo ela uma resposta à publicação do Álbum de Vistas, produzido pelos Ferrari. Segundo Miguel Duarte (que passou-me tais informações através de conversas por e-mail) algumas dessas fotos da “Galeria Grotesca” comporiam o acervo particular de Ivan Cabeda. Devido ao recente falecimento de seu proprietário, tais fotos estão impedidas de acesso por estarem sendo inventariadas. Porém, o mesmo Miguel identificou algumas das fotos no blog “Griot Digital”, no artigo “O olhar do estranho”17 como pertencentes ao acervo de Ivan. Seriam elas as fotos do homem de chapéu e do homem gargalhando. Ambas as fotos fazem parte da coleção da fototeca Sioma Breitman:

Calegari/Museu J.J. Felizardo-Fototeca Sioma Breitman

A partir disso, presume-se que Porto Alegre não estava alheia ao costume de produzir tais souvenires retratando “typos de pretos”. Uma possibilidade é que a foto “Negros Libertos” encaixese nessa categoria. Possibilidade essa que não se sabe se um dia poderá ser comprovada, tarefa que deixo para os próximos pesquisadores. 16

DAMASCENO apud SANTOS, Alexandre Ricardo dos. O gabinete do Dr. Calegari: considerações sobre um bemsucedido fabricante de imagens. In: ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson (Org.). Ensaios Fotográficos. Porto Alegre: Unidade Editorial Porto Alegre, 1998. P 31. 17 SANTOS, Irene. O olhar do estranho. 2013. Disponível em: . Acesso em: 04 jun. 2014.

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A conclusão geral que tiro desta pesquisa é a dificuldade de encontrar evidências em meio aos arquivos institucionais em Porto Alegre. Percebe-se que é recente a preocupação com a constituição de uma memória histórica de Arquivos, Museus e Instituições Públicas em nossa cidade. Da mesma forma, nota-se não era costume preocupar-se com a catalogação de documentos, objetos e demais aquisições por entidades arquivísticas e museológicas tornando custoso o trabalho do historiador e, ao mesmo tempo, instigante, fazendo-o percorrer territórios pouco explorados.

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