Religião e mobilidade social: disposições e práticas

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Religião e mobilidade social: disposições e práticas

Luis Quaresma

Introdução É um conhecimento consciente a importância que a teoria das classes sociais e estratificação tem na sociologia dos dias de hoje. Não que já antes não tivesse tal importância e que esta não lhe fosse reconhecida, contudo, com o devir histórico da sociedade também a sociologia se transformou. Não que tivesse alterado o seu cariz essencial, mas actualizou-se e muniu-se de métodos e ferramentas de interpretação da sociedade de que não dispunha outrora. Neste sentido a teoria das classes e da estratificação1 não foi excepção, e não obstante o interesse, a relevância, e mesmo a actualidade das teorias dos clássicos sobre o assunto, foram sendo construídas sobre estas, ora por concordância e necessidade de as completar ora na tentativa de as refutar, pelo menos em parte, novas teorias. Estas foram-se adaptando a uma nova realidade e tentando interpretar uma sociedade em constante mudança. Assim, e sem arrogar esgotar todas as teorias relevantes, procurar-se-á dar uma visão panorâmica da evolução da teoria das classes.

Definição e contexto Quando um sociólogo fala em estratificação social está a referir-se às desigualdades que existem entre indivíduos ou grupos nas sociedades humanas (Giddens, 2004). Neste sentido pode dizer-se que “os indivíduos e grupos gozam de um acesso diferente (desigual) às recompensas, de acordo com a sua posição no esquema de estratificação” (Giddens, 2004). Podemos então dizer que a estratificação social é um género de “sistema de desigualdades estruturadas entre diversos agrupamentos de pessoas” (Giddens, 2004). Ora assim pode dizer-se que as classes são esses agrupamentos de larga escala de pessoas que partilham uma condição semelhante no que diz respeito ao acesso a recursos (principalmente económicos). Sendo que esta condição tem forte influência no estilo de vida dos indivíduos.

1

Por economia no discurso, de agora em diante, referir-me-ei a esta como teoria das classes.

2

O sistema de classes não é o único sistema de estratificação das sociedades e, além deste existem outros três sistemas básicos: 

O sistema esclavagista



O sistema de castas



E o estatal

Cada um com seus pressupostos e contextos próprios. Uma das diferenças entre o sistema de classes e os outros tipos de estratificação é que, ao contrário do que acontece principalmente neste, a estratificação não ocorre só em termos de pobreza ou propriedade, mas pode ocorrer também com base em atributos como o género, a idade, a filiação religiosa ou a patente militar (Giddens, 2004). Outra das diferenças é que no sistema de classes existe uma maior fluidez entre as classes, ou seja as fronteiras entre as classes não são rígidas e permitem que os indivíduos passem de uma classe para outra. Este fenómeno é chamado de mobilidade social. Isto resulta em que a posição de classe de um indivíduo nunca seja totalmente determinada à nascença, mas o indivíduo pode alterá-la. Isto é uma característica das sociedades modernas em que o indivíduo tem maior controle sobre o seu destino. O facto de a posição de classe de um indivíduo não ser herdada nem determinada por lei ou pelo costume é possibilitador desta fluidez. O sistema de castas indiano é um bom exemplo desta diferença. Qualquer indivíduo nascido numa determinada casta pertence a essa casta ao longo de toda a sua vida. Isto acontece por a definição do sistema de castas ser determinado segundo um pressuposto religioso rígido que não prevê a mobilidade entre castas.

Algumas teorias importantes: Karl Marx Karl Marx foi um dos mais fervorosos teóricos das classes, muito por causa da componente ideológica que frequentemente motivava as suas análises. 3

Ainda assim, e mesmo parecendo um paradoxo, Marx não desenvolveu uma análise sistemática das classes nem uma definição de classe. O manuscrito em que o autor trabalhava na altura da sua morte termina quando este se colocou a questão: “O que constitui uma classe?”. A definição de classe em Marx teve, portanto, que ser construída com base nas ideias deste expressas nos seus escritos anteriores, e, apesar do discurso deste sobre o tema em questão não ser sempre consistente, as linhas gerais da sua perspectiva são bastante claras, e Marx é sem dúvida um dos maiores e mais importantes teóricos das classes sociais. Marx considerava como uma classe, um grupo de pessoas com uma posição comum face à posse dos meios de produção. Pode dizer-se que esta é uma definição simplista de classe em Marx, pois este considerava a relação estreita desta condição comum com uma consciência de classe e uma ideologia comum. Para Marx a consciência de classe era indispensável na constituição desta. Para Marx existiam basicamente duas classes distintas e antagónicas: o proletariado e a burguesia, e a relação entre ambas era de exploração do proletariado por parte da burguesia, o que segundo Marx resultava na pauperização dos primeiros. Com base nesta relação Marx desenvolveu uma extensa teoria social e económica que mantém hoje em dia uma actualidade impressionante em alguns aspectos. Marx identificou ainda a existência dos profissionais liberais, as chamadas classes médias, mas afirmou que estes, dada a sua fraca expressão, tenderiam a ingressar ora numa ou noutra das classes principais. Esta é uma das falhas mais apontadas à teoria de Marx, pois na actualidade as classes médias foram as que mais aumentaram em número e mesmo em percentagem são estrato social com maior expressão nas sociedades ocidentais.

Max Weber

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Em parte por ter sido baseada na análise de Marx, a teoria de Max Weber sobre a estratificação assentava no pressuposto de que a sociedade se caracterizava pelo conflito pelo poder e pelos recursos. Weber pegou então na teoria de Marx e desenvolveu-a noutras direcções, desenvolvendo assim uma visão mais complexa e multidimensional da sociedade. Weber defende que a estratificação não se resume à hierarquização das classes, mas que tem em conta também outros dois aspectos, o status e o partido. O autor concordou com Marx quanto à ideia de que as classes se baseiam em condições económicas objectivas, mas foi mais adiante defendendo que estas não se resumem à posse dos meios de produção, mas também devem ser considerados os saberes e as credenciais ou qualificações que influenciam o tipo de trabalho que as pessoas podem obter. Em suma Weber considera que as classes se definem pela posição do indivíduo face ao mercado, ou seja pela sua empregabilidade e pelo tipo de trabalho que este pode desenvolver e as recompensas que pode obter deste e que se traduzem numa melhor condição de vida quanto melhor é a posição do indivíduo face ao mercado. Ou seja quanto mais poder tem o indivíduo de negociar as suas condições de trabalho Um segundo aspecto considerado por Weber como necessário à análise da estratificação é o status. Este consiste na honra ou prestígio social atribuídos aos indivíduos. Nas sociedades tradicionais este prestígio era atribuído com base no conhecimento pessoal do outro. Contudo nas sociedades modernas, e devido à complexidade destas, tornou-se impossível conferir status sempre desta forma, pelo que o prestígio social atribuído passou a ter como referência os estilos de vida das pessoas. O outro aspecto que Weber considera são os partidos. Um partido é um grupo de pessoas que une esforços, ou tendo em vista a alteração de uma condição partilhada e que motivou essa união de esforços, ou procurando melhorar a sua posição face a determinadas condições sociais e económicas. Sobretudo, segundo defendem a maioria dos sociólogos (Giddens, 2004), a perspectiva de Weber é mais sofisticada e flexível que a de Marx pois enquanto 5

este defende que o status deriva da posição de classe, o primeiro apresenta uma teoria de estratificação baseada em múltiplas dimensões. A sua teoria assenta mais na acção de que na estrutura e na posição face ao mercado mais de que na posição de posse dos meios de produção.

Orik Olin Wright Este sociólogo norte-americano pode ser considerado um neo-marxista. Na sua teoria das classes e estratificação este procura fazer uma articulação entre os dois autores anteriores. Neste sentido Eric Olin Wright conjuga a ideia de posse dos meios de produção com aquilo que na teoria de Weber poderíamos chamar de posição face ao mercado. Wright identifica três dimensões de controlo sobre os recursos económicos na produção capitalista moderna: 

Controlo sobre os investimentos ou capital monetário



Controlo sobre os meio físicos de produção (terras ou fábricas e escritórios)



Controlo sobre a força de trabalho (Giddens, 2004)

Para Olin Wright é importante também a posse dos meios de produção e este coloca Burguesia e Proletariado nos extremos da estrutura de classes por si identificada, sendo que estes correspondem às classes de origem de Marx. Olin Wright vê as classes médias como uma conjugação de pertenças de vários tipos de recursos. Por exemplo Um gestor de uma fábrica tem controlo sobre os meio de produção da mesma, ou pelo menos de parte desta, e até sobre a força humana de trabalho, contudo este, da mesma forma que os trabalhadores manuais empenhados no processo de produção, tem

que

vender a sua força de trabalho a dono da fábrica. Isto, segundo Olin Wright, coloca-o numa localização contraditória de classe. O sistema de estratificação definido por Olin Wright é complexo e além da posse dos meios de produção e dos tipos de controlo já referidos, este considera importantes vários tipos de recursos. São eles: recursos económicos,

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qualificacionais e organizacionais. A posse ou não destes recursos define a posição dos indivíduos na estrutura de classes.

Pierre Bourdieu O sociólogo francês é, possivelmente, o autor que apresenta uma teoria das classes mais complexa. De influência comportamentalista, a teoria de classes de Bourdieu está integrada na tentativa de articulação que este faz entre estrutura e acção. É sobremaneira difícil explicar a teoria das classes de Bourdieu sem recorrer ao conceito de habitus. É de igual forma difícil resumir uma teoria como a de Bourdieu sobre a articulação entre estrutura e acção em poucas linhas, de qualquer forma proponho-me a fazê-lo pois impõe-se um conhecimento mínimo da mesma para uma percepção da sua teoria das classes. Bourdieu defende que a relação entre estrutura, ou condições de vida, e acção, ou práticas não é imediata. E é o habitus que media esta relação. O habitus é uma matriz de disposições para agir de determinado modo em vez de outro. Digamos que este é a origem inconsciente das nossas práticas. Ora este habitus forma-se através da incorporação das experiências de vida das pessoas. Se tivermos em conta que estas experiências de vidas das pessoas são constrangidas pela posição de classe destas, temos que o habitus é o meio de expressão da posição de classe de cada um. Mas Bourdieu ainda vai mais longe e concebe uma fórmula que expressa a formação de práticas dos indivíduos: H x K + C = P Nesta equação entra também o conceito de Capitais (K) e de campos de acção (C). Os capitais são os recursos de que os indivíduos são possuidores e que servem como critério de estratificação dos indivíduos em em classes. Embora igualmente importantes no contexto da articulação estrutura e acção, o conceito de campo não é tão importante para a questão das classes.

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Do mesmo modo que Weber, Bourdieu também constrói a sua análise da estratificação e das classes com base em múltiplos factores, os capitais. São estes: 

Económico – Que compreende riqueza, propriedade e propriedade dos meios de produção.



Cultural – Conhecimentos, cultura.



Social – Rede de relações sociais de um indivíduo.



Simbólico – Prestígio.

A posse destes capitais forma a classe social objectivada enquanto o habitus é a forma da classe social incorporada. O autor identifica três classes sociais distintas cada qual com um habitus de classe característico: 

Classe trabalhadora, cujo habitus de classe é a necessidade.



A pequena burguesia, cujo habitus é a pretensão e a boa vontade cultural.



A burguesia, cujo habitus se define principalmente pela distinção.

Problemática: A mobilidade social e a religião Desde o início da sociologia que esta se interessa pela religião e, que obras categoricamente bem conseguidas deram resposta a inquietações da época, mas que hoje continuam a merecer a nossa atenção, não só pela pertinência metodológica mas também pela importância teórica sobre assuntos da actualidade. Neste trabalho proponho-me a analisar, ainda que de forma não aprofundada, pois a dimensão do assunto não permite que assim seja, a relação da religião com a mobilidade social. Max Weber dá o mote para uma análise da religião como causa de uma certa mobilidade social (Weber, 1996). A ascenção do movimento capitalista trouxe imensos benefícios as certas fracções da população europeia. Uma dinâmica 8

de acumulo de capital permitiu que algumas fracções religiosas do protestantismo ganhassem não só uma posição económica elevada como também um estatuto elevado. Weber atribui o aparecimento do capitalismo a essa forma racional de obtenção do maior lucro possível que tem origem, por sua vez, numa ética religiosa que encara o sucesso profissional como sinal de uma eleição de Deus para a salvação da alma, e que opta por um modo de vida ascético e frugal. Independentemente das (interessantíssimas) especificações da teoria de Weber, tomamos como pertinente para a nossa temática a forma como uma certa religião pode influenciar aspectos da vida secular que por sua vez são indicadores da posição social dos indivíduos num certo sistema de estratificação. Através desta motivação «espiritual» as seitas protestantes, de confissão, sobretudo Calvinista, conseguiram um acumulo de capital que, funcionando numa espécie de efeito Mateus, permitiu que estes conseguissem uma posição económica de destaque. Isto mesmo é dito por Weber em “ A ética protestante e o espírito do capitalismo”, quando fala acerca das estatísticas profissionais e das discussões que estas provocam quanto ao tema da posse de capital e posições de liderança nas empresas modernas: “...o facto de os dirigentes das empresas e os detentores de capitais, bem como as camadas superiores da mão-de-obra qualificada e, mais ainda, o pessoal técnico e comercial altamente especializado das empresas modernas, serem predominantemente protestantes.” Assim vemos a influência da religião na mobilidade ascendente que foi experimentada pelos protestantes no decurso daquilo que Weber chama de capitalismo. Fica então a ideia da força da motivadora da ideologia religiosa: “Nestes casos, a relação de causalidade reside indubitavelmente no facto de as peculiaridades espirituais inculcadas, nomeadamente pela inculcação baseada na atmosfera religiosa da comunidade de origem e da casa paterna, terem determinado a escolha da profissão e a subsequente carreira profissional.” Contudo esta mobilidade, com base numa acção motivada por uma ideologia religiosa tem lugar num sistema de estratificação que não tem a religião como 9

critério de formação de estratos sociais. Um exemplo do contrário será o sistema de castas indiano em que a posição de um indivíduo é determinada à nascença por uma lei religiosa a qual não contempla a passagem de um estrato para o outro. Já tendo em conta outro tipo de capitais constituintes da posição de classe (Bourdieu, 2010) podemos ver a integração providenciada pelas instituições religiosas como fonte de capital social, que de alguma forma podemos perceber na obra de Emile Durkheim sobre o suicídio, e cultural, pois, embora em tempos históricos menos recentes no que diz respeito à Europa, era sobretudo o clero quem sabia e ensinava o povo a ler. Isto é ainda hoje visível quando, mandatadas por uma vocação divina, as missões cristãs levam até África a palavra de Deus e conjuntamente com esta a leitura e uma série de instrumentos culturais. Quanto ao capital social Helena Vilaça diz: “Melhor concretizando, os indivíduos mais religiosos dispõem de níveis de capital social mais elevado do que os menos religiosos, e as culturas mais religiosas possuem um capital mais elevado do que as menos religiosas.” Ainda o capital simbólico é influenciado pela religião. Numa sociedade cada vez mais laica mas de raízes vincadamente católicas como é Portugal, o ser um bom cristão tem perdido força na atribuição de prestígio aos indivíduos, mas não deixa de ser um bom exemplo de como a conformidade com um padrão religioso numa sociedade religiosa como era Portugal, principalmente na idade média, é uma fonte de prestígio considerável.

A religião como variável dependente. Conclusão Mas outras relações são também importantes e interessa ver também a religião como variável dependente de factores determinantes de classe. A fim de traçar o perfil sociodemográfico dos portugueses, Manuel Villaverde Cabral relacionou o nível de práticas religiosas dos portugueses com alguns indicadores sociodemográficos. Daremos aqui atenção àqueles que se 10

mostram interessantes também como indicadores dos tipos de capital identificados por Bourdieu e àqueles que reflectem a classe subjectiva e o lugar de classe nos moldes definido pelo autor (Cabral, 2001)2. Recorrendo aos dados recolhido pelo International Social Survey Program (ISSP) de 1998, o autor apresenta os seguintes resultados:

Quadro 1 – Prática religiosa segundo o nível de escolaridade. Níveis de escolaridade

Prática religiosa**4 Total*3

1 nula 2 rara

3

4

irregular

regular

média

Nenhum + primário

62,6

11,4

38

15,7

34,9

2,7

Secundário

28,9

20,4

50,1

15,6

13,8

2,2

Superior

8,5

37,3

34,4

13,4

4,6

2,1

Começando pelo nível de escolaridade vemos que no geral, é o nível primário (onde se incluem também os indivíduos sem escolaridade) que apresenta uma maior percentagem de práticas religiosas regulares e por outro lado é quem menos indicou uma ausência de práticas religiosas. Sempre no extremo oposto estão os indivíduos com escolaridade de nível superior. Já os detentores de ensino secundário cracterizam-se principalmente por uma prática religiosa rara com esta a representar 50,1% das opções destes.

2

Todos os dados estatísticos trabalhados na análise que se segue foram retirados da fonte referida

3

*Percentagem em coluna

4

**Percentagem em linha 11

Quadro 2 – Prática religiosa segundo o «capital cultural» Prática religiosa**

Capital cultural

total*

1/10 livros

34,1

13,2

37,4

15,5

33,9

2,7

20/50 livros

41,5

13,2

43,2

17,8

25,7

2,6

100/200 livros

19,3

19,9

44,4

12,8

22,9

2,4

5,2

37,2

35

11

16,8

2,1

Mais de 500 livros

1 nula 2 rara 3 irregular

4 regular média

Quadro 3 – Prática religiosa segundo o nível de rendimento familiar Rendimento familiar

total*

Prática religiosa** 1 nula 2 rara 3 irregular

4 regular média

Baixo

18,3

8,8

34,9

15,6

40,8

2,9

Médio

53,2

14,2

41,6

17,6

26,7

2,6

Alto

20,8

19,1

45,6

12,2

23,2

2,4

7,7

32,6

38,8

11,6

17

2,1

Muito alto

Quanto ao capital cultural e ao nível de rendimento este apresentam tendências semelhantes. Vemos que quanto maiores este dois indicadores, maior a tendência para uma ausência de práticas religiosas, e quanto menores (o capital cultural e o nível de rendimento), maior a tendência para uma prática regular. Embora esta relação não seja absolutamente linear, resume bem a tendência geral da relação destes dois indicadores com o nível de práticas religiosas.

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Quadro 4 – Práticas religiosas segundo o lugar de classe Prática religiosa** Lugar de classe

total*

1

2

3

4

nula

rara

irregular

regular

8,4

31,1

47,6

6,8

14,4

2,1

9,9

33,9

40,4

13,7

12,1

2

6,3

21,1

52,5

11

15,5

2,1

29,8

16,8

46,7

18,3

18,3

2,3

9,4

4,3

43,7

25

27,1

2,8

36,2

17,4

41,6

12,3

28,7

2,5

Burguesia Nova burguesia assalariada Pequena burguesia tradicional Salariato não manual Trab manuais independentes Salariato manual

média

Já quanto ao lugar de classe podemos dizer que existe uma tendência quase linear para que a prática religiosa diminua quanto mais elevada é a posição de classe das pessoas. São as classes mais altas (Burguesia e Nova burguesia assalariada) que indicam ter taxas mais elevadas de ausência de práticas religiosas e também são elas as classes cuja prática religiosa regular apresenta menor percentagem. No extremo oposto estão os Trabalhadores manuais independentes e o Salariato manual. Quanto à ausência de práticas o salariato manual mostra aqui uma percentagem perto do valor mediano. A análise apresentada demonstra que existe uma associação negativa entre os capitais cultural, económico e o próprio lugar de classe, com as práticas religiosas, que por sua vez são usadas como indicador de uma dimensão religiosa mais abrangente. Este trabalho não tem como objectivo uma análise exaustiva destes dados, pelo que estes são utilizados somente na medida em que possam ilustrar algumas tendências. E uma vez que vimos que as práticas religiosas variam consoante os níveis de capitais localizadores do lugar de classe, será de alguma forma pertinente

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colocar a questão: Será que a religião tem influência na mobilidade social dos individuos? A resposta a esta interrogação carece certamente de um estudo mais aprofundado, ainda assim penso que Max Weber demontrou, de alguma forma que em condições específicas isso é possível. Ainda assim parece-me que ficam identificadas pistas de trabalho sólidas e de elevado interesse sociológico com a questão levantada.

Nota metodológica Devido a ter sido feito recurso a dados previamente existentes não existe lugar a uma descriminação dos métodos de recolha e tratamento dos dados além daqueles que são fornecidos pelos autores dos trabalhos de onde os dados foram recolhidos.

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Bibliografia 

Bourdieu, Pierre (2010) A distinção : uma crítica social da faculdade do juízo. Lisboa: Ed. 70



Cabral, M. Villaverde (2001) Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada. In M. V. Cabral, J. M. Pais & J. Vala (orgs) Atitudes sociais do portgueses: Religião e bioética. Lisboa: ICS/ISSP



Giddens, Anthony (2004) Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian



Vilaça, Helena (2008) Imigração etnicidade e religião. Lisboa: ACIDI, I.P.



Weber, Max (1996) A ética protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa: Presença

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