Resenha - A construção discursiva dos discursos intolerantes

August 22, 2017 | Autor: Aline Lima | Categoria: Languages and Linguistics
Share Embed


Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
CURSO DE LETRAS

Disciplina: Tópicos em Análise de Texto: dialogismo e escrita
Docente responsável: Rosângela Rodrigues Borges
Atividade: Produção de Resenha Crítica - Texto "A construção discursiva dos discursos intolerantes", de Diana Luz Pessoa de Barros.

Aline Juliana de Souza Lima
A proposta de Barros é mostrar como se constrói os discursos intolerantes e preconceituosos a partir de quatro procedimentos, sendo eles: a organização da narrativa (sanção); a constituição dos percursos passionais; a elaboração dos temas e das figuras semânticas do discurso, e a formação da organização geral do discurso. No entanto, os discursos intolerantes não se constituem como gênero textual ou discursivo, pois participam de várias esferas de ação, como por exemplo, nas esferas de atividades, de gêneros, e de tipos diferentes.
Segundo a autora, a intolerância é sempre justificada, a partir do momento em que se considera que um sujeito quebrou um contrato social, por exemplo, "branqueamento da sociedade, de pureza da língua, de heterossexualidade" (BARROS), sendo assim considerados como maus cidadãos, surgindo em primeiro lugar o preconceito seguido de uma sanção, ou seja, "pretos ignorantes, maus usuários da língua, etc." (BARROS) perdem seus direitos, pagando muitas vezes com a própria vida.
Os discursos intolerantes são movidos por paixões, caracterizadas pela "intensidade ou extensidade", tornando-se paixões que duram, como a amargura; paixões pontuais e mais intensas, como o deslumbramento; paixões excessivas, como o ódio ou o desespero; ou insuficientes, como a indiferença" (BARROS), sendo avaliadas socialmente. Dessa forma, os sujeitos intolerantes são sempre sujeitos apaixonados.
As paixões malevolentes (ódio, raiva, etc.) e as benevolentes (amor aos iguais, à pátria, à religião, etc.) se contrapõem em um mesmo sujeito, pois ao mesmo tempo em que diz que ama à sua pátria, isso já serve de justificativa para odiar quem não faz parte dela (xenofobia). A partir de então, o sujeito preconceituoso parte para a ação contra o outro.
Seguindo a mesma linha, as paixões do medo pelo outro surgem nas situações de desigualdades sociais e em momentos de crise, gerando assim o medo das privações ocasionadas por esse outro, ocorrendo a disputa por valores. Dessa forma, o medo do outro se torna uma justificativa para ações intolerantes.
Tomando como objeto de análise as ações intolerantes com base no preconceito e no medo do que o outro pode nos causar, gostaria de lembrar o caso da dona de casa, morta espancada por seus vizinhos no Guarujá, litoral de São Paulo no início de 2014, a partir de um boato em uma rede social, que divulgou um retrato falado de uma mulher parecida com ela, suspeita de sequestrar crianças para rituais de magia negra. A dona de casa, Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, mãe de dois filhos, sofria de transtorno bipolar, porém fazia tratamento, e segundo seu marido, não era agressiva. Na volta para casa, Fabiane foi cercada por seus vizinhos, amarrada e espancada sem que houvesse tempo de reagir ou se defender das acusações. Ela morreu cinco dias depois com traumatismo craniano. O delegado do caso afirma que não havia nenhuma prova contra Fabiane, sendo ela inocente, (G1.globo.com).
O medo gerado nos vizinhos decorrente de um boato na internet juntamente com o preconceito já existente pela doença de Fabiane ocasionou o ódio e a revolta (paixões malevolentes) que levou à ação intolerante do espancamento, justificada pela preocupação, pelo amor às crianças, pelo cuidado com os filhos (paixões benevolentes). Desse modo, a população se sentiu no direito de aplicar a sanção à Fabiane, sem ao menos lhe dar o direito de um julgamento, de uma defesa. Os vizinhos levados pela paixão do medo, do ódio e do desejo de vingança acabaram por fazer "justiça com as próprias mãos", ou no caso, "injustiça com as próprias mãos".
Dessa forma, concordando com Barros, acredito que "as sanções apaixonadas da intolerância devem ser diferenciadas das sanções desapaixonadas da justiça", para que as condenações não sejam motivadas por vingança, evitando assim resultados desastrosos como o que tivemos nesse caso.
Os discursos intolerantes estão em todos os lugares, nós mesmos muitas vezes soltamos algumas frases como "nesse bairro só tem tranqueira", ou que mulher nunca ouviu no trânsito "ah tinha que ser mulher mesmo!" (essa eu já ouvi muito), ou comentários homofóbicos do tipo "nossa como esse cara é afetado! Dá até raiva", ou referentes à classe social "filha de faxineira, foi pobre a vida inteira agora fica ai se achando" (essa também já tive a infelicidade de ouvir) ou até mesmo referentes a deficientes, como por exemplo, "ai ó, só porque é cadeirante fica se fazendo de coitadinho", eu já ouvi muitas vezes de não natural que isso se tornou. Porém, não podemos aceitar isso com tanta naturalidade assim, nós como estudantes e futuros professores, sendo pessoas conscientes e capazes de reconhecer esses discursos intolerantes, sabendo das consequências que esse tipo de ação leva, temos a obrigação de combatê-lo, mesmo que seja apenas em nossa sala de aula, no nosso ambiente de trabalho, junto com os colegas, com os familiares. Não só corrigir o outro como também nos policiarmos, pois o exemplo deve partir primeiro de nós, pois de nada vale todo o conhecimento aprendido nas aulas de Linguística e Análise do discurso se não aplicamos isso em nosso dia a dia.

Referências bibliográficas

BARROS, Diana Luz Pessoa de. A construção discursiva dos discursos intolerantes. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.
Notícia disponível em: HTTP://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-espancada-apos-boato-em-rede-social-morre-em-guaruja-sp.html


Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.