Resenha Crítica do artigo Análise Linguística: como desatar esse nó?

August 28, 2017 | Autor: Herman Schmitz | Categoria: Lingüística, Ensino, Educação, Resenha critica
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Resenha Crítica JESUS, Luci Elaine de. Análise Linguística: como desatar esse nó?. Disponível em , acesso em 05 de fevereiro 2015.

Resenha crítica do artigo intitulado Análise Linguística: como desatar esse nó?, escrito por Luci Elaine de Jesus e apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional, para conclusão das suas atividades do seu segundo período do PDE em 2008. O artigo apresenta uma série de reflexões e exemplos práticos sobre a produção didático-pedagógica nas escolas, partindo das novas teorias que defendem o ensino da língua voltado para a compreensão, interpretação e produção de texto, reunidas sob o termo de análise linguística, em oposição ao ensino tradicional voltado para a identificação das classes gramaticais através de exercícios repetitivos e quase sempre distantes da língua falada e escrita atualmente. Reúne diversos exemplos retirados dos livros didáticos mais recentes e inclusive das gramáticas tradicionais, e apoia a criação de uma nova gramática chamada de gramática reflexiva. A autora inicia com uma ampla exposição do livro de Carlos Eduardo Falcão Uchoa, Ensino da gramática: caminhos e descaminhos, onde critica vivamente a forma como se ensina a matéria de gramática nas salas de aula brasileiras. Segundo o autor citado, o domínio de uma língua se obtém quando o aluno consegue expressar toda uma gama de conhecimentos, tanto na verbalização como na escrita e não ser apenas uma espécie de rotulador gramatical, especialista em saber localizar os pronomes, os advérbios, os verbos, mas não atinar com o sentido da frase, ou saber construir intuitivamente uma outra frase nas mesmas categorias gramaticais. A solução proposta é mudar a ênfase nas rotulações classificatórias e abordar a língua diretamente através de textos que reproduzem a linguagem escrita ou a falada, a que é verdadeiramente escrita e falada, como as receitas de cozinha, os recortes de jornais e revistas, os textos dos outros alunos, tanto os bons quanto os ruins..., e que por essas leituras e releituras, o conteúdo específico estabelecido seria executado e da mesma forma, apenas caberia ao professor selecionar os textos adequados a cada objetivo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

2 A seguir há um aprofundamento da questão do ensino da gramática da língua portuguesa. Desta vez teremos um resumo no que concerne ao assunto, tomado por base no livro de Irandé Antunes, Muito Além da gramática, que reflete a questão político-social envolvida, já que o ensino no Brasil sempre foi direcionado às classes mais abastadas e letradas. No referente à gramática, que é o tema deste artigo, Irandé enumera com o mesmo rigor, uma série de parâmetros equivocados em nosso ensino, especialmente em relação ao resultado: se ele atinge uma competência comunicativa interacional no aluno ou é somente um ensino baseado em quantificar o aluno com notas em base na sua capacidade de decorar as regras, e as exceções? Com isso chegamos à outra questão levantada pela autora, que é a de criar uma nova gramatica, que seja funcional, relevante, contextualizada, que gere interesse, que liberte e solte a palavra, que preveja mais que uma norma e que seja uma ferramenta do uso cotidiano da língua. Dessa forma, as aulas de gramática girariam em torno das habilidades de falar, ouvir, ler e escrever textos e torna-los cada vez mais coesos e compreensíveis aos outros leitores. Ao tratar da coesão e da coerência como parâmetros de compreensão do conteúdo, a autora se baseia (sem as referências) nos resultados dos artigos do linguista francês Michel Charolles das chamadas metarregras de coerência para a construção dos elementos frásicos, que são: a repetição, a progressão, a não contradição e as relações entre as sequências de frases. Portanto, a construção dos novos livros didáticos e desta nova gramática utilizariam esses fundamentos em sua composição. A autora defende, neste cenário a análise linguística como uma alternativa de abordagem do ensino da gramática. O termo análise linguística foi cunhado pelo linguista e professor universitário João Wanderley Geraldi, no seu artigo Unidades Básicas do Ensino de Português em 1984, e que vem servindo de referência aos novos teóricos e professores sobre essa nova maneira de ensinar a gramática do português, tanto no fundamental quanto no ensino médio. O artigo segue, apresentando uma tabela com as maiores diferenças entre o ensino de gramática e a nova proposta da análise linguística. Finalmente, chegamos ao ponto central deste trabalho, por onde a autora propõe uma grande quantidade de práticas específicas dentro desse universo que é a análise linguística. Alguns exemplos são retirados dos livros didáticos mais recentes, com o intuito de servirem de base a esta nova metodologia. Expõe

3 também os rudimentos do que seria uma gramática reflexiva segundo o linguista e professor universitário Luiz Carlos Travaglia, e os seus problemas na aplicabilidade em sala de aula. Para terminar, a autora cita diversos autores que contribuem com a crítica das diferenças entre a gramatica formal e a gramática funcional, e resume a questão do futuro do uso da análise linguística como uma ação que dependerá mais do professor estar capacitado e com embasamento teórico, do que com livros didáticos ou receitas muito óbvias. Infelizmente, cabem aqui algumas críticas ao conjunto do artigo. Tenho que ser honesto, e dizer que ela deixou muito a desejar com a sua metodologia. Além disso, há erros de digitação, coisa inadmissível em uma obra destinada à leitura pública; falta a referência bibliográfica dos artigos de Michel Charolles, visto que foram copiadas todas as suas definições de metarregras, e, além disso, o nome do linguista está escrito incorretamente como Charoles. Quanto à divisão dos tópicos, foram rescritas pequenas notas biográficas na parte referente ao uso da fábula, mas foram utilizadas no sumário como se fossem capítulos completos, levando a uma falsa ideia da complexidade do trabalho, sendo inclusive, completamente desnecessárias, pois o público alvo da publicação conhece o que é fábula e quem foi Esopo, bastando escrever em uma linha a importância de o professor conhecer e apresentar a biografia de La Fontaine, de Monteiro Lobato, Esopo ou de Henriqueta Lisboa. O artigo trás diversas citações pertinentes, (com exceção das citações utilizadas nas considerações finais, parte onde se evita este tipo de coisa, e foi onde a autora mais coloriu com referências e citações), mas não trás uma opinião realmente posicional da autora em relação ao tema abordado. Seus argumentos são incompletos e as justaposições das citações são confusas, por não resumirem e nem deixar claro o que se deve pensar disso. Quanto ao seu tour de force que são os seus exercícios de aplicação das teorias, acredito que seriam mais bem entendidos se viessem mais bem resumidos no corpo do artigo, e acompanhados por um anexo bem mais detalhado nos seus procedimentos. Como a própria autora colocou de várias maneiras, é um tema para ser pesquisado, e este artigo serve perfeitamente para uma noção introdutória ao assunto, especialmente para os professores que estão ativamente em salas e procuram novas atividades para desenvolver com resultados reais e aparentes. Trás uma boa reflexão sobre a diferença do que se quer propor como substituto para o aprendizado da gramática no sentido convencional, e como ainda não é uma

4 metodologia adotada por todos e menos ainda capacitada por todos, visto que exige muito do professor em pesquisa pessoal, em testes, em troca de ideia com outros professores, pode ser que os exercícios propostos pela professora Luci de Jesus possam contribuir para a adoção desse sistema cada vez mais pelos nossos professores. Luci Elaine de Jesus participou do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) em 2008.

Por Herman Schmitz, Escritor de Ficção Científica e discente do curso de Letras na Universidade Norte do Paraná (Unopar).

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