Resenha crítica do livro: O Manifesto Comunista

October 17, 2017 | Autor: T. de Jesus | Categoria: Historiography, Marxist theory, Comunismo, Capitalismo, Historia Moderna, Século XIX
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Resenha crítica do livro O Manifesto Comunista Tiago Souza de Jesus1 [email protected]

O livro que aqui será analisado foi publicado pela primeira vez em 1848, provavelmente, no final de fevereiro ou inicio de março, devido à deflagração da revolução de fevereiro de 1848. A liga dos Comunistas havia direcionado a Marx a dissertação deste manifesto. O ano de 1848 foi de intensas revoltas espalhadas por toda a Europa. Segundo HOBSBAWM (1971), citado por COGGIOLA (2005, p.10), as revoluções iniciadas com "um levante camponês na Galileia em 1846; a eleição de um papa 'liberal' no mesmo ano; uma guerra civil entre radicais e católicos na Suíça no final de 1847, ganha pelos radicais; uma das constantes insurreições autonomistas sicilianas em Palermo no inicio de 1848". A revolução tomou conta de toda a Europa, sem aviso prévio, mas que todos já a esperavam. Foi neste contexto que Marx escrevia O Manifesto do partido comunista que teve suas origens, segundo Oswaldo Coggiola na introdução da Edição do Manifesto comunista de 2005, no livro intitulado Princípios do Comunismo, que contém uma gama de ações a serem tomadas e que foi escrito em forma de perguntas e respostas. Os Princípios foram redigidos por Engels a pedido da Liga dos Justos. O Manifesto do partido comunista tem como principal característica, apresentar as bases principais para a revolução que era prevista pelos autores. Deste modo, Marx inicia sua obra versando sobre a situação do proletariado tendo seus princípios no desenvolvimento do capitalismo que já estava saindo do controle da burguesia que, segundo Marx foi, e ainda é, a classe responsável pela gênese e evolução deste sistema econômico, Marx expõe os antagonismos de classe e que estes terão um fim apenas com o desaparecimento do capitalismo. Afirmando que sempre houve antagonismos de classe em todos os séculos até ali passados e que só se revestiam por nomes diferentes, o autor vê a criação de duas grandes classes: a burguesia e o proletariado, e que estas 1

Graduando em História pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo. Bolsista na CAPES e na UNIFESP. Membro do GPA – Grupo de Estudos sobre a Antiguidade Clássica e suas Conexões Afro-asiáticas

convivem em um confronto diário e direto. Era preciso, pois, pôr fim a classe burguesa, para que o comunismo que tem como intenções acabar com a propriedade privada, se tornasse a ordem vigente por meio da classe trabalhadora que seria a composição deste partido. Antes de navegarmos nos meandros deste famoso manifesto é relevante salientar algumas de suas características que fogem ao escopo dos principais escritos marxistas. O Manifesto, como se subentende em seu próprio título, visa manifestar algo, ou seja, sua forma é mais simples e concisa e visa atingir o proletariado em geral. Deste modo, a erudição e termos que exigem grande reflexão por parte do leitor, características da obra de Marx, não são postos em cena. Os autores partem do princípio de que a história humana é a história da luta de classes. Segundo eles, a sociedade se divide em duas grandes categorias, a burguesia, os opressores que são proprietários dos meios de produção que empregam o trabalho assalariado, e o proletariado que são os oprimidos assalariados que por não obterem meios de produção próprios são obrigados a vender sua força de trabalho e seu tempo diário para poder sobreviver. Estas duas grandes classes vivem em confronto direto. Todas as relações sociais giram em torno das relações de produção e que esta alterada, todas as outras relações existentes também serão alteradas. Distinguindo-as de todas as épocas já existentes, pois a burguesia perverteu todas as relações, subverteu todos os valores e dissolveu "todas as relações antigas cristalizadas."(MARX; ENGELS, pag. 43) A época burguesa "caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe". Através dos novos interesses que surgem com as novas especiarias que permeiam o mercado, passa a surgir uma forma de relação, as relações de interdependência por meio das especiarias locais de cada nação. Marx nos mostra que a abertura dos novos mercados, (América, África, Índias e China) caíram como uma luva para a burguesia até então emergente, contribuindo para a supressão dos modos de produção feudais. Essas corporações fechadas já não atendiam mais as necessidades, sendo substituídas pela manufatura, que mais tarde seria também substituída pela "grande indústria moderna". À medida que a grande indústria moderna crescia, a burguesia que é proveniente dos pequenos burgos, também crescia deixando num segundo plano todas as classes provindas da Idade Média. Todavia, Marx nos mostra que a "burguesia moderna é produto de um longo processo de desenvolvimento,

de uma série de transformações no modo de produção e de circulação,” (MARX; ENGELS, p.41) mostrando o papel eminente da burguesia que é completamente revolucionário, Marx salienta todas as mudanças que esta nova classe impôs e que sem pudor destruiu todos os tipos de relações até então existentes, devastando os modos de relações feudais e patriarcais, jogando os pertencentes ao segundo plano, iniciando “a impiedosa destruição de tudo e todos os que a moderna economia não pode utilizar — quer em relação ao mundo pré-moderno, quer em relação a si mesma e ao próprio mundo moderno” (MARSHALL, p.147) e que agora são inferiores, em um poço frio e escuro onde os sobreviventes têm de conviver com as duras exigências do "pagamento à vista", submetidos às "águas geladas do cálculo egoísta", transformou todos os profissionais em meros assalariados. "A epidemia da superprodução" agora se vira contra seu criador, que já não pode mais controlá-la. Contudo, a burguesia criou também a classe de proletários que tem de viver com a condição de ter que produzir para que o capital possa multiplicar. Com a modernização das máquinas e a distribuição de ofícios os operários passam a ser o "apêndice" da máquina, perdendo todo o seu valor. No entanto, seus deveres passam a ser o mais simples possível necessitando cada vez menos de força física e mais trabalho manual. Assim, o trabalho dos homens, das mulheres e das crianças não se difere mais, pois todos agora podem exercer o mesmo ofício. De uma forma brilhante, Marx nos mostra os motivos que levam a burguesia a ser incapaz de seguir como classe dominante. Segundo ele, as intenções para com as classes mais baixas é sugá-las e nutrir-se, como se de uma vaca tirasse leite até sua morte, sem possibilidades de prosseguir em sua própria classe, os assalariados tendem a ser sobrepujados pela sua própria classe. Marx caracteriza o comunismo, no desenvolver de sua obra afirmando que este se difere de todos os outros partidos políticos existentes e têm como intenções abolir a religião e a moral, fazendo com que este movimento se torne diferente de todos os outros já existentes e que sua intenção como partida é a união de todos os proletários, uma intenção comum a todos, diferentemente das pretensões dos outros partidos, que tem como objetivo ascender ao poder para privilegiar apenas sua classe. O comunismo tenta ir, além disto, pois este partido é a união de todos

os outros.

Os comunistas são acusados de crimes como o da abolição da nacionalidade e da pátria. Marx afirma que este partido não tem pátria e não tem nacionalidade, é um partido

comum a todo o proletariado e que estes também são desprovidos de nacionalidade, pois no inicio do manifesto afirmado, com a abertura de novos mercados, o desenvolvimento do capitalismo fez com que interesse em especiarias por parte de uma nação de climas mais diversos e longínquos, fez com que uma nação detentora de especiarias assim pudesse se sobrepor sobre outras que agora são dependentes. A abolição da propriedade burguesa é outra intenção do partido comunista, pois Marx afirma que: "O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa" (MARX; ENGELS, p. 52) e que o uso da propriedade para exploração de outros homens não poderá mais existir, tendo em vista que a propriedade é um bem comum a todos, pois sendo esta resultada "dos esforços combinados de todos os membros da sociedade” (MARX; ENGELS, p. 52) que geram o capital que mantém a propriedade, devem ser um bem coletivo e não privado. A fim de finalizar sua obra, Marx expõe os outros tipos de correntes que tem como intenções defender seus interesses que vão de encontro com a burguesia em ascensão, este é o socialismo reacionário, revestido em interesses próprios e extremamente conservador. As aristocracias da França e da Inglaterra se lançam contra a então vigente sociedade burguesa. Para que voltasse ao centro de tudo, esse tipo de poder que Marx chama de socialismo feudal precisaria do apoio da maioria que seria o proletariado, portanto, se lançam contra o poder vigente em defesa dos proletários, recobrindo seus brasões e seus verdadeiros interesses. Dialogando diretamente com a burguesia, os aristocratas afirmam que seu modo de exploração se difere do modo de exploração burguês, mas esquecem de que a burguesia é o fruto da organização social feudal, logo, a evolução do seu modo de exploração. São, na verdade, conservadores que tem como interesse voltar ao poder. A igreja desenvolve o socialismo cristão, que não passa de um socialismo que defende os aristocratas. O socialismo pequeno-burguês, na análise de Marx, tem como objetivo voltar ao antigo modo de produção, de relações e de propriedade que foram destruídos pelo modo de produção burguês, ou estreitar as formas de relações atuais da mesma forma que o era anteriormente. Marx caracteriza este socialismo como utópico, pois vê que não há mais de forma alguma possibilidades de voltar ao antigo modo de produção feudal uma

vez em que se encontra o capitalismo no estágio em que está. Através da literatura francesa e alemã, que tanto foi usada para criticar o liberalismo vigente, surge um socialismo peculiar, o alemão, o "socialismo verdadeiro", como exprime Marx. Este socialismo serviu de "espantalho para amedrontar a burguesia ameaçadoramente ascendente" (MARX; ENGELS, p. 63). No entanto, os propósitos do pequeno burguês era destruir seus dois inimigos: o desenvolvimento do capital e o proletariado revolucionário, para fazer surgir um socialismo superior. Finalizando com uma imagem contrária a de seus princípios. O socialismo burguês é caracterizado por Marx como uma classe que tem interesses semelhantes ao da burguesia. Querem o fim do proletariado e querem viver em condições de vida moderna sem correr os riscos que esta acarreta. Portanto, o socialismo burguês quer um mundo mais cômodo, mas fácil de viver, sem ter que conviver com antagonismos, mas sempre prevalecendo seus interesses próprios. Marx mostra que os interesses do comunismo se diferem de todos esses, pois a intenção de acabar com os antagonismos de classe não há em nenhum outro movimento. As verdadeiras intenções dos comunistas são: "a supressão do contraste entre a cidade e o campo, a abolição da família, do lucro privado e do trabalho assalariado, a proclamação da harmonia social, e a transformação do Estado numa simples administração da produção." (MARX; ENGELS, p. 67). E para finalizar, reafirmando tudo o que já havia dito, Marx expõe as intenções e posições do Partido comunista com os outros partidos do mundo, afirmando que há ligação com outros partidos revolucionários, como o socialdemocrata da França, na Suíça que é um partido que ora é socialista democrático, ora é burguês e radical, e por fim, na Alemanha, onde eles se aliam aos burgueses quando estes lutam "contra a monarquia absoluta, a propriedade rural feudal e a pequena burguesia" (MARX; ENGELS, p.69). Mas apenas com este fim, sem jamais se esquecer dos antagonismos existentes entre burgueses e proletários, para que na hora certa, os elementos políticos e sociais criados pela burguesia sirvam de armas para o proletário que nada temerá ao iniciar a revolução comunista. Por fim, os autores terminam o manifesto com a célebre frase destinada a aqueles que são parte do partido comunista, toda a camada de proletários do mundo

todo: Proletários de todos os países, uni-vos! Bibliografia Básica: Marx, Karl; Engels, Friedrich. Manifesto comunista. Tradução: Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 2005. 254 p. Berman, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 360 p.

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