Resenha O que faz brasil, Brasil?

September 25, 2017 | Autor: Pedro Poeta | Categoria: Social Psychology
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Pedro Henrique Campina
FACULDADE PITÁGORAS POÇOS DE CALDAS-MG- 2014.

DAMATTA, Roberto. O Que Faz o brasil Brasil?.Rio de Janeiro,RJ:editora Rocco,1984.

Serão abordadas no presente trabalho, as características do Brasil e do brasileiro; uma linha do tempo que vai da cultura à religião. O autor, antropólogo Roberto DaMatta, foi professor do Museu Nacional da UFRJ e chefe do Departamento de Antropologia na mesma. É autor de diversos livros, entre eles, Carnavais, Malandros e Heróis (1979); A casa e rua, universo do carnaval (1984); Relativizando (1981); Explorações: Ensaios de antropologia interpretativa (1986) e Conta de mentiroso (1993).
Segundo ele é preciso fazer uma diferenciação das palavras "brasil" e "Brasil", onde a primeira faz referência a uma árvore nativa e a segunda, de um povo, uma cultura, um país. A obra se divide em oito capítulos, onde são retratados de forma simplista, os processos de socialização, história, economia e identidade. No primeiro capítulo, a começar com a distinção sobre a palavra Brasil, com letras minúsculas e maiúsculas, o que já visto anteriormente, brasil remetendo a uma árvore, e Brasil a um povo. Aborda também a Identidade Social como formadora de um "eu brasileiro" através de um dualismo, uma parte igualitária a todos os Estados, e aquela que nos diferencia dos demais. "A identidade se constrói duplamente. Por meio dos dados quantitativos, onde somos sempre uma coletividade que deixa a desejar; e por meio de dados sensíveis e qualitativos, onde nos podemos ver a nós mesmos como algo que vale a pena." (DAMATTA, p. 16). No segundo capítulo, DaMatta faz uma comparação da conduta em casa, na rua e no trabalho, onde, em casa há proteção, – exclusividade no espaço de residência – não apenas físico, mas moral. Na rua, expostos ao perigo, há um grupo de indivíduos que separadamente lutam por seus objetivos sem se importar um com o outro. "Na rua não há, teoricamente, nem amor, nem consideração, nem respeito, nem amizade." (DAMATTA, p. 25). Por fim, no trabalho há concorrência, ou seja, uma forma de lidar com o estranho que foi identificado na rua como "povo", e agora será rotulado como "colega"; isso não quer dizer uma mediação, pois tanto em casa como na rua, os padrões morais e de classificação são difundidos de uma forma que no trabalho é impossível devido à diferença de cargos. O terceiro capítulo, a mistura das raças foi vista como um problema para alguns autores, e para outros uma evolução das raças, onde o mulato, por ser a mistura das raças branca e negra, datava uma superioridade. Mas não aconteceu isso em momento nenhum na história tal valorização do mulatismo. Faz ainda uma comparação entre Brasil e E.U.A, datando que no nosso país há uma a intermediação do mulato, e nos E.U.A não, aqui prevalece o triângulo racial, lá o bi racial. Floretan Fernandes cita que na realidade, acabamos por desenvolver o preconceito de ter preconceito (DAMATTA, 1984). Ainda, DaMatta afirma que:
"[...] quando acreditamos que o Brasil foi feito de negros, brancos e índios, estamos aceitando sem muita crítica a ideia de que esses contingentes humanos se encontraram de modo espontâneo, numa espécie de carnaval social e biológico. Mas nada disso é verdade. O fato contundente de nossa história é que somos um país feito por portugueses brancos e aristocráticos, uma sociedade hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro rígido de valores discriminatórios. Os portugueses já tinham uma legislação discriminatória contra judeus, mouros e negros, muito antes de terem chegado ao Brasil; e quando aqui chegaram apenas ampliaram essas formas de preconceito."
(DAMATTA,1984 p.38).
No quarto capítulo, temos uma definição de comida e de alimento, onde o autor relata "comida" aquilo inerente à satisfação do prazer e não algo de importância para sobrevivência, e alimento como algo de importância para sobrevivência. "Em outras palavras, o alimento é como uma grande moldura; mas a comida é o quadro, aquilo que foi valorizado e escolhido dentre os alimentos; aquilo que deve ser visto e saboreado com os olhos de depois com os olhos". (DAMATTA, p.46). Notamos ainda no capítulo, a metáfora da comida relacionada à sexualidade, onde a mulher é dada como comida e o homem como o comedor; tudo isso atrelado aos papeis de hierarquia, vistos não só no Brasil, mas em quase todos os países do ocidente. Quinto capítulo é um respaldo sobre o carnaval, que tem por objetivo um esquecimento da pobreza, trabalho, preocupações.
"Numa palavra, trata-se de um momento onde se pode deixar de viver a vida como fardo e castigo. É, no fundo, a oportunidade de fazer tudo ao contrário: viver e ter uma experiência do mundo como excesso — mas agora como excesso de prazer, de riqueza (ou de "luxo", como se fala no Rio de Janeiro), de alegria e de riso; de prazer sensual que fica — finalmente — ao alcance de todos." (DAMATTA ,1984, p.61).
Para o sexto capítulo é apresentado as "festas da ordem", comparando o carnaval às mesmas, visto que o carnaval representa liberdade, as festas da ordem requerem disciplina e controle. Diferente do carnaval, que há inversão de papeis sociais ou até religiosos. As festas da ordem não comportam tais comportamentos, pois as mesmas celebram, por exemplo, uma relação de Estado e povo, religiosidade sobre determinado tipo de fé, particularidades, etc. O penúltimo capítulo refere-se a uma consciência e a um senso moral do brasileiro diante das leis e diretrizes, comparado com países da Europa que seguem a risca as leis impostas por seus governos, o brasileiro sempre busca uma forma de não ser prejudicado, seja por brechas na lei, seja por negligência, a que o autor vem chamar de malandragem, ou jeitinho; claro que não se deve ter isso como uma generalização de fatos. O último capítulo desta obra é mostrado como a religião serve não só como base para premissas pessoais, mas como fator de sociabilidade também. DaMatta (1984) explica que a religião, possibilita um entendimento sobre as diferenças do mundo, desse modo, a religião explica o sofrimento como superação e ainda responde perguntas jamais resolvidas pela ciência. No mais ela dá ao brasileiro um conforto, uma esperança de vida melhor, além da lacuna que Deus preenche em todos os homens. Em suas considerações finais, o autor faz uma nota sobre a situação do Brasil, deixando claro que é preciso dar uma importância nos assuntos sociais tão como é dado no carnaval. A obra escrita em 1984 é capaz de traduzir mesmo nos dias atuais o que concerne o relacionamento do brasileiro com o Brasil e com ele mesmo. "Seria preciso carnavalizar um pouco mais a sociedade como um todo, introduzindo os valores dessa festa relacional em outras esferas de nossa vida social" (DAMATTA,p.103). A mudança que ele almeja para o país no final do livro, ainda não foi nem de longe alcançada, mas o país caminha.
É notável a transformação que o autor faz no seu co-autor- o eu leitor – ao terminar de ler a obra se impressiona não só com a simplicidade de como é transmitida as informações, mas como também é óbvio tudo aquilo que é dito, e que só passa a ser enxergado depois que Roberto DaMatta remove a venda dos olhos do leitor. Recomendo a obra não só a alunos da Academia, mas ao brasileiro em geral que precisa de um entendimento do que é nossa casa, para depois pensar num despertar sobre ela.

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