Resenha: O REGIONALISMO ONTEM E HOJE – UMA LEITURA DE VIDAS SECAS E GALILEIA , por Geivison dos Anjos

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O REGIONALISMO ONTEM E HOJE – UMA LEITURA DE VIDAS SECAS E GALILEIA – Uma Resenha Por Nicolas Vladimir Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, meu colega, Geivison dos Anjos, escolhe duas obras primorosas da literatura nacional- o breve, mas poderoso, Vidas Secas, de Graciliano Ramos e uma obra mais recente do autor Ronaldo Correia de Fontes, Galiléia, apresentada ao público em 2008 e muito aclamada pela crítica, para realizar um recorte sobre o regionalismo e a visão do Nordeste no durante os anos 30 do século passado e para a virada deste século. Geivison começa seu tratado fazendo um apanhado da chamada ‘’geração de 30’’- autores que buscaram humanizar a visão das mazelas do Nordeste, criando um contraponto literário ao cientificismo que buscava demonstrar o Nordeste como uma região destinada pela própria natureza ao apodrecimento moral e racial, e faz uma breve resenha sobre Vidas Secas, destacando a falha de Fabiano compreender intimamente tanto sua mulher como seus filhos como uma das razões que o mantinham numa situação de submissão social. Geivison busca mostrar que esse regionalismo também tinha os seus limites: buscava mostrar, usando um termo de Euclides da Cunha, um Nordeste ‘’atávico’’, autêntico, mais natural do que os espaços urbanos ao qual servia como contraponto: quase como se o Nordeste não pudesse ser algo por si mesmo, ter uma identidade própria, mas sim ser uma contra-identidade temática em relação as cidades costeiras e ao Sul: esses autores humanizaram e criaram empatia com um Nordeste enxergado pelos próprios intelectuais nordestinos sob uma visão cruelmente social-darwininsta e lombrosiana, mas, que para Geivison e os pensadores que ele cita como base, também teriam limitado. o discurso sobre nossa região numa espécie de Estética da Fome. Geivison enxerga na obra de Ronaldo Correia uma possibilidade de superação deste limite: aqui, o Nordeste não é apenas uma zona hipossuficiente, um purgatório de sofrimento, parafraseando Antônio Prata, ‘’muito bem diagramado’’, mas também um lugar que se perde dentro da própria modernidade, vista nos romances anteriores quer seja como possibilidade de salvação ou como instrumento de exploração. Nessa obra, também se mostra a degradação e desagregação social ocorrida no Nordeste devido as mudanças sociais: plantações e rotas de drogas, prostituição infantil, criminalidade juvenil, desmantelamento dos pequenos negócios rurais.

Mas, de acordo com Geivison, o tema principal não seria a miséria social e econômica que ainda grassa o Nordeste, mas sim a própria perda de referencial trazida pelas inovações sócio-tecnológicas: as relações antigas morrem junto com as antigas formas de produção e de prestígio, e as novas relações, sendo baseados no atropelo de novas normas de vida sobre uma base que está sendo destruída, não causam atração nos personagens: eles não tem empatia com um mundo que consideram estar morto, e tampouco conseguem tê-la com os piores processos de implementação de uma civilização moderna, por eles já viverem em locais de civilização consolidada, aonde que aquilo que a civilização tem a oferecer de bom não é novidade, e aquilo visto como ruim é marginalizado em espaços específicos. No Ronaldo Correia interpretado por Geivison, o sofrimento específico do nordestino diante das mazelas de sua região se torna um sofrimento universal: dentro do seu espaço engolido pela modernidade e pela noosfera virtual, além da miséria socioeconômica o indivíduo sofre uma miséria espiritual ainda mais profunda do que aquela descrita por Graciliano em Angústia ou por Amando Fontes em Os Corumbas: o esvaziamento contínuo e doloroso de quaisquer referências de tempo, espaço e pertencimento, na qual o indivíduo é arrastado sem qualquer chance de protestar de uma civilização que faliu para uma que não se sabe se vai dar certo. A descrição primorosa e contundente dessa miséria por Ronaldo Correia, uma preocupação comum dos grandes autores de nosso tempo, mantém a tradição dos grandes autores dos anos 30, e aproxima a nossa Literatura do grande debate do século XXI: se a Contemporaneidade, mesmo que plausível e possível, é de fato inevitável e necessária. Prudentemente, Geivison não completa essa indagação de forma explícita, cuja resposta demandaria um trabalho de escopo mais amplo do que um Trabalho de Conclusão de Curso: mas abre a deixa para um debate mais amplo sobre a realização estética dos problemas nacionais, seja no discurso artístico ou no discurso e prática política.

Referências SILVA, Geivison dos Anjos. O REGIONALISMO ONTEM E HOJE: UMA LEITURA DE VIDAS SECAS E GALILEIA. Geivison Silva dos Anjos, 2016. Orientador: Dr. Carlos Augusto Magalhães, Trabalho de Conclusão de Curso, UNEB, DCH, Salvador, 2016.

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