RESUMO DAS IDEIAS DE FOUCAULT SOBRE “LIBERDADE E VERDADE” NA GRÉCIA ANTIGA (MORAL FILOSÓFICA, SÉC. V-IV A.E.C.)
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RESUMO DAS IDEIAS DE FOUCAULT SOBRE “LIBERDADE E VERDADE” NA GRÉCIA ANTIGA (MORAL FILOSÓFICA, SÉC. V-IV A.E.C.) História da Sexualidade 2, 1998, p. 73-86 Jonatas Ferreira – Mestrando, Letras Clássicas, UFRJ LIBERDADE p. 73 – Sofrosine, o conceito de moderação Mas aquele que se deixa dominar pelos prazeres do corpo e que, em seguida, torna-se incapaz de praticar o bem, tu o consideras um homem livre? (XENOPHON, Memorables, IV, 5, 2-3.). Sophrosune: estado que se tende a alcançar pelo exercício do domínio e pelo comedimento (moderado1, prudente) na prática dos prazeres é caracterizada como uma liberdade. “é para ser livre e poder permanecê-lo”.
p.74 – ser livre, é controlar seus próprios desejos a liberdade dos indivíduos, entendida como o domínio que eles são capazes de exercer sobre si mesmos é indispensável a todo o Estado. é a virtude individual, no entanto, que é necessário preferir, já que a virtude de todo o corpo social segue logicamente a virtude de cada cidadão". (ARISTOTE, Politique, VII, 14, 1 332 a.). “Ser livre em relação aos prazeres é não estar a seu serviço, é não ser seu escravo”.
p.75 – um servo deve ter por senhor um “homem superior” para viver na moderação Então, a pior das servidões é aquela dos intemperantes2 (Id., Memorables, IV, 5, 2-1 I.). aquele que, por status, encontra-se situado sob a autoridade dos outros. o único meio é colocá-lo sob a autoridade e o poder desse homem superior: (PLATON, Republique, IX, 590 c.). A temperança entendida como um dos aspectos de soberania sobre si é, não menos do que a justiça, a coragem ou a prudência, uma virtude qualificadora daquele que tem a exercer domínio sobre os outros. rei de si mesmo (Ibid., IX, 550 c.).
p. 76 – comportamento do “homem superior” Face a figura do tirano desenha-se a imagem positiva do chefe que é capaz de exercer um estrito poder sobre si na autoridade que exerce sobre os outros; seu domínio de si modera o seu domínio sobre outrem. Ex. de Tiranos: Pesistrátides de Atenas; Periandro de Ambrácia (ARISTOTE, Politique, V, 10.). Ex. “homem superior”: Ciro (XENOPHON, Cyropedie, VIII, 1, 30-34.); Nicocles (ISOCRATE, Nicocles, 37-39.). Nicocles: “como pretender obter a obediência dos outros se não pudesse assegurar a submissão de seus próprios desejos?”; comandar em si próprio os prazeres e os desejos (PLATON, Gorgias, 491 d.). 1 2
moderação determinada pelas exigências das circunstâncias, dos deveres, dos usos; continência. que ou aquele que tem maus costumes; depravado, devasso, libertino; que ou aquele que peca por excessos.
p. 77 – a sofrosine como virilidade do macho, virtude do homem, controle da mulher o homem, o chefe, o senhor capaz de controlar seu próprio apetite no momento em que seu poder sobre outrem lhe fornece a possibilidade de usá-lo à vontade. moral de homens feita para os homens, a elaboração de si como sujeito moral consiste em instaurar de si para consigo uma estrutura de virilidade; a relação consigo torna-se isomorfa à relação de dominação, de hierarquia e de autoridade que, na condição de homem, e de homem livre, pretende-se estabelecer com os subordinados; Desenvolvimento das Virilidades: ética, social, sexual; é necessário ser viril consigo como se é masculino no papel social. A temperança é, no sentido pleno, uma virtude de homem; Mulheres: é seu status de dependência em relação à família e ao marido, e sua função procriadora possibilitando a permanência do nome, a transmissão dos bens e a sobrevivência da cidade, que lhes impõem a temperança.
p.78 – intemperança e passividade, “feminidade3” virilidade virtuosa da mulher - força de espírito própria e dependência em relação ao marido: "Quero ainda te citar outros traços de sua força de espírito (megalophron) e mostrar-te com que prontidão ela me obedecia após ouvir meus conselhos” - Isomaco diz a Sócrates (XÉNOPHON, Economique, X, 1.). a temperança e a coragem são no homem virtude plena e completa "de comando"; quanto à temperança ou à coragem da mulher, são virtudes "de subordinação", o que significa que elas encontram no homem, ao mesmo tempo, seu modelo perfeito e acabado e o seu princípio de funcionamento. (ARISTOTE, Politique, 1, 13, 1 260 a). intemperança implica uma passividade que a aparenta à feminidade. Ser intemperante, com efeito, é encontrar-se num estado de não-resistência. o homem de prazeres e de desejos, o homem do não-domínio (akrasia) ou da intemperança (akolasia) é um homem que se poderia dizer feminino e, em relação a ele próprio, ainda mais essencialmente do que em relação aos outros.
p.79 – o viril e o efeminado para os gregos, é a oposição entre atividade e passividade que é essencial e marca tanto o domínio dos comportamentos sexuais como o das atitudes morais; A linha de demarcação entre um homem viril e um homem efeminado não coincide com a nossa oposição entre hétero e homossexualidade; ela também não se reduz à oposição entre homossexualidade ativa e passiva. Ela marca a diferença de atitude em relação aos prazeres; e os signos tradicionais dessa feminidade; [...] aquele que se deixa levar pelos prazeres que o atraem; [...] passivo em relação aos prazeres.
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frivolidade, futilidade feminina.
p.80 – o “lógos” é a chave para combater a desmedida Forma estrutural
Questão filosófica;
Não se pode constituir-se como sujeito moral no uso dos prazeres sem constituir-se ao mesmo tempo como sujeito de conhecimento.
"o desejo do prazer é insaciável e tudo o excita no ser desprovido de razão"; (XENOPHON, Memorables, III, 9, 4.).
(PLATON, Republique, I V, 431 e - 432 b.).
(ARISTOTE, Ethique a Nicomaque, III, 12, 1 119 b).
p.81 – formas do lógos Forma instrumental
o momento certo: “o que se deve, como se deve e quando se deve” (ARISTOTE, Ethique a Nicomaque, III, 12, 1 119 b).
(PLATON, Lois, I, 636 d-e.).
o homem da dialética - apto a comandar e a discutir, capaz de ser melhor [...] de escolher as boas e de abster-se das más". (XENOPHON, Memorables, IV, 5, II.).
Forma do reconhecimento ontológico4 de si por si (Sócrates, Platão)
Fedro: toda uma dramaturgia da alma lutando consigo mesma e contra a violência de seus desejos.
VERDADE p.82 – O lógos, a alma e a temperança Alma: ela se contém, que toma a si de sofrear5 o desejo físico e procura liberar-se de tudo o que poderia entorpecê-la e impedi-la de reencontrar a verdade que ela viu (PLATON, Phedre, 254 b.). A relação com a verdade é uma condição estrutural instrumental e ontológica da instauração do indivíduo como sujeito temperante e levando uma vida de temperança; Pelo logos, pela razão e pela relação com o verdadeiro que a governa, uma tal vida inscreve-se na manutenção ou reprodução de uma ordem ontológica; e, por outro lado, recebe o brilho de uma beleza manifesta aos olhos daqueles que podem contemplá-la ou guardá-la na memória.
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a investigação teórica do ser; em sua dimensão ampla e fundamental manter a calma, o equilíbrio (próprio ou de outrem); conter(-se), reprimir(-se), refrear(-se)
p.83 O amor que é segundo a razão (ho orthos eros) é um amor sábio e regrado, da ordem e da beleza? – Certamente. (PLATON, Republique, III, 402 d - 403 b.).
p.84 – o comportamento correto O indivíduo se realiza como sujeito moral na plástica de uma conduta medida com exatidão, bem visível de todos e digna de uma longa memória. (XENOPHON, Cyropedie, VIII, I, 33.). O modo de ser ao qual se acedia6 por meio desse domínio de si caracterizava-se como uma liberdade ativa, indissociável de uma relação estrutural, instrumental e ontológica com a verdade.
p.85 – estilizar (os atos sociais do indivíduo), temperança no sexo a reflexão moral da Antiguidade a propósito dos prazeres não se orienta para uma codificação dos atos, nem para uma hermenêutica7 do sujeito, mas para uma estilização da atitude e uma estética da existência. A temperança sexual é um exercício da liberdade que toma forma no domínio de si; e esse domínio se manifesta na maneira pela qual o sujeito se mantém e se contém no exercício de sua atividade viril, na maneira pela qual ele se relaciona consigo mesmo na relação que tem com os outros. Valor moral que é também um valor estético, e valor de verdade, [...]; Poderá dar à sua própria conduta a forma que assegura o renome e merece a memória.
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gr. akédía,as 'negligência, indiferença, mágoa', pelo lat. acedìa,ae 'id.'. teoria, ciência voltada à interpretação.
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