Revista Cine Vertigo: Uma experiência em design editorial impresso e digital

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Descrição do Produto

Revista Cine Vertigo: Uma experiência em design editorial impresso e digital Laís Akemi Margadona | Graduanda em Design, Universidade Estadual Paulista (UNESP); [email protected]

Profa. Dra. Cassia Leticia Carrara Domiciano | Orientadora, Universidade Estadual Paulista (UNESP); [email protected]

Resumo: Cine Vertigo é uma revista experimental voltada ao cinema cult, isto é, o cinema popular e independente, detentor de numerosos fãs. O protótipo da primeira edição foi desenvolvido como trabalho final da disciplina semestral Projeto III, da graduação em Design – Habilitação em Design Gráfico, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). A proposta foi desenvolver um produto editorial completo, indo do projeto editorial até as especificações gráficas necessárias a um produto publicado periodicamente. O produto possui uma solução impressa, bem como uma versão digital, que não se ateve à transposição de um meio a outro, mas procurou respeitar e aproveitar-se das potencialidades da mídia eletrônica. Palavras-chave: Design Gráfico, Design Editorial, Revista impressa, Revista Digital, Cinema Cult.

Abstract: Cine Vertigo is an experimental magazine targeted to cult cinema, i.e., the popular and independent cinema which keeps numerous and devoted fans. The prototype of the first edition was delivered as a final work for the discipline Project III, from the curricular grade of Design, graduation course from Universidade Estadual Paulista (UNESP), Brazil. Our proposal was to develop a complete editorial product from the preliminary editorial project to the graphic specifications of a magazine published periodically. Cine Vertigo has a printed solution, as well as a digital version, which is not stuck on the transposition from one media to another – it tried to respect and take advantage of the potential of electronic technology. Keywords: Graphic Design, Editorial Design, Printed Magazine, Digital Magazine, Cult Cinema.

I. Proposta Editoral e Projeto Gráfico Cine Vertigo – Cinema Cult para Todos é uma revista experimental cuja proposta editorial é a de abordar e divulgar o cinema cult, gênero caracterizado por, segundo VIDIGAL (2008, p.20), foco na densidade psicológica e nas relações entre os personagens, fotografia bem trabalhada e um roteiro preferencialmente moderno, ou de vanguarda. Essa vertente do cinema engloba principalmente produções independentes e/ou de baixo orçamento. Muitas delas se tornaram clássicos da cultura popular e detentoras de uma legião de fãs fervorosos em todo o mundo. BISKIND (2009), nos oferece uma ampla lista de obras as quais se encaixam nessa descrição, tais como as produções norteamericanas Sem Destino (1969), Taxi Driver (1976) e O Poderoso Chefão (1972). O título da revista, Cine Vertigo, é uma homenagem e referência ao consagrado filme Um Corpo que Cai (1958), dirigido por Alfred Hitchcock, de título original Vertigo. Já a tagline da revista, “Cinema Cult para Todos”, explicita a intenção de trazer essa produção intelectualizada de uma maneira acessível ao público, coesa e informativa. Logo, o projeto editorial deve privilegiar uma linguagem desprendida, sem, porém, deixar carecer de detalhes a um cinéfilo mais avançado. A

produção textual da primeira edição foi desenvolvida experimentalmente pela própria orientanda com contribuições de outros dois graduandos do curso de Design, bem como de um graduado em Produção Audiovisual, pela Universidade Paulista (UNIP). O projeto gráfico buscou inspiração no design gráfico retrô, o qual pode ser entendido como “um aspecto do pós-modernismo, devido ao seu interesse pelas retomadas históricas, embora ele parafraseie antes o design moderno das décadas entre guerras” (MEGGS; PURVIS, p.616). Baseamo-nos, também, na declaração de RAIMES e LAKSHMI (2007, p.6), a qual afirma que “o passado é uma fonte de inspiração em nossa busca constante pela originalidade”. O resgaste de estilos é evidenciado na escolha da tipografia principal, a fonte American Captain, inspirada no design americano modernista; nas escolhas de grid, que visam a clareza, objetividade e funcionalismo, como visto na produção da alemã Bauhaus; e no estilo de tratamento de imagem, o qual busca trazer a sensação tátil das fotografias antigas – estética e resgate analógico também comum aos produtos imagéticos do popular aplicativo contemporâneo Instagram. A marca da revista, bem como alguns infográficos da edição, buscam valorizar o design gráfico pósmoderno. O diálogo com o passado é também efetuado na redação da revista, visto que boa parte da produção cinematográfica cult pertence às décadas de 1960 e 1970. É importante salientar que esse amálgama conceitual e de estéticas é forte característica do design gráfico na contemporaneidade, marcado por “misturas, convergências e multiplicidades (...), sobretudo nos processos e produtos das culturas, comunicações, artes e design” (MOURA [org.], 2014). A Cine Vertigo, desta forma, acaba por caracterizar-se temporalmente e visualmente como um produto gráfico contemporâneo. O protótipo impresso do primeiro exemplar da revista foi desenvolvido como trabalho final da disciplina semestral Projeto III, da graduação em Design – Habilitação em Design Gráfico, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no segundo semestre de 2013. A orientanda executou integralmente os projetos gráfico e editorial, além da redação de alguns artigos. II. Processo Criativo – Editorial A Cine Vertigo é uma revista de consumo segmentada por público, o qual seria constituído por entusiastas do cinema alternativo, especialmente na faixa etária de 18 a 30 anos. Universitários e graduados são especialmente focados no conteúdo jornalístico, pois aspectos teóricos e históricos do cinema podem estar embutidos em certas matérias. A edição impressa poderia ser distribuída trimestralmente, apoiada por uma versão digital, atualizada semanalmente e que divulgaria a edição impressa. A Cine Vertigo apresentaria seções fixas, como Resenhas e Making of, além de matérias avulsas abordando aspectos diversos do cinema cult. Em uma análise de similares, notamos que não há um nicho forte de periódicos voltados especificamente para o cinema; encontramos revistas de temáticas culturais variadas, incluindo música, literatura e cinema, como a Rolling Stone e a extinta Bravo!. III. Processo Criativo – Projeto Gráfico A marca Cine Vertigo foi desenvolvida sobre o conceito da espiral presente na abertura do filme Um Corpo que Cai, associada à vertigem e à entrada na psique da personagem:

Figura 1. Espiral presente na abertura de Um Corpo que Cai, de 1958 (fonte: extraído do filme)

A marca apresenta-se em duas variações, quadrada e horizontal. A primeira, projetada para se assemelhar a um carimbo, deve ser aplicada na maioria dos usos; a segunda versão acessória, horizontal, deve ser utilizada em casos em que a marca quadrada não é conveniente:

Figura 2. Variações da marca Cine Vertigo (fonte: a autora)

A identidade visual da marca Cine Vertigo tem a possibilidade de aplicação em outros diversos materiais gráficos, tais como cartão de visitas e papéis timbrados da equipe editorial, brindes e pôsters anexados à revista, além de produtos para divulgação, como folders e flyers. A marca também pode gerar derivados, como selos e apoios gráficos. Na figura 3, a versão da marca para uso em capas, contendo o número da edição, e o selo “Cine Vertigo Aprova”, para uso na seção de resenhas:

Figura 3. Selos Cine Vertigo para capa e Cine Vertigo Aprova (fonte: a autora)

Um aspecto fundamental em projetos de revistas é o projeto tipográfico, devido à importância da informação verbal e sua relação com o leitor e a leitura da informação. Como a revista possui também uma versão digital, o cuidado na escolha das tipografias deve ser redobrado, pois nem toda tipografia funciona em suporte impresso e digital ao mesmo tempo, sendo este funcionamento multimeio um dos objetivos do projeto tipográfico. As famílias tipográficas empregadas e seus usos podem ser vistas na figura 4:

Figura 4. Projeto tipográfico da Cine Vertigo impressa e digital (fonte: a autora)

Na figura 5, a paleta de cores designada para as edições. A “cor oficial” foi projetada para conferir unidade às edições e deve ser trabalhada durante todo o projeto gráfico da revista e alterada conforme trocam-se as edições.

Figura 5. Conceito da paleta de cores (fonte: a autora)

Os marcadores de seção, também chamados como “chapéus”, devem acompanhar somente a primeira página da matéria e devem ser sangrados na parte superior, conforme figura 6.

Figura 6. Conceito do marcador de seções – chapéu (fonte: a autora)

Por fim, o tratamento de imagem é outro aspecto indispensável à unidade visual do projeto gráfico da revista. Conforme já dito anteriormente, a edição deve se assemelhar aos filtros do

aplicativo Instagram, que retomam e ressignificam a fotografia analógica. Imagens pertencentes a recortes de filmes não devem ser submetidas a esse tratamento, pois necessitam conservar as características visuais da fotografia original da obra.

Figura 7. Imagem antes e depois do tratamento de imagem (fonte: a autora)

Utilizou-se grids de duas a quatro colunas, separadas por 4 mm, sendo possível flexibilizá-los para conferir um bom ritmo à revista como um todo, desde que haja respeito à legibilidade da página. Na figura 8, um exemplo de grid assimétrico utilizado na construção da seção Making of.

Figura 8. Exemplo de grid utilizado na seção Making Of

A capa deste protótipo da primeira edição da revista faz referência ao que foi abordado na seção Making Of: os bastidores do filme O Poderoso Chefão (1972), um clássico de orçamento curto e produção conturbada, mas que, segundo BISKIND (2009, p.145), “quebrou todos os recordes”. A cor oficial da primeira edição tinge a chamada principal e o fundo das chamadas secundárias.

Figuras 9 e 10. Protótipo da primeira edição impressa, onde a capa pode ser observada (fonte: a autora)

IV. A Revista Cine Vertigo Na imagem a seguir (figura 11), o espelho da revista impressa, incluindo miolo e capa:

Figura 11. Espelho da revista impressa, da capa à contracapa (fonte: a autora)

A revista foi projetada para medir, fechada, 230 x 255 mm. Idealmente seriam 64 páginas de miolo; porém executamos apenas 32 no protótipo impresso devido ao tempo disponível para execução do trabalho. A primeira edição teve o miolo impresso em couché brilhante 120g/cm³ e capa em couché fosco 300g/cm³, em impressão digital executada em gráfica rápida, mas sua produção em larga escala seria totalmente viável em processo offset. A seguir, imagens ilustram mais detalhadamente algumas seções da revista. A figura 13 demonstra o índice infográfico da edição, de modo a tornar essa seção, obrigatória em um material editorial, mais lúdica e atrativa:

Figura 13. Seção Panorama, índice da edição (fonte: a autora)

A figura 14 demonstra um exemplo do layout padrão para a seção de resenhas, a qual contém oito páginas no total. O selo “Cine Vertigo Aprova” é sobreposto aos filmes cujas notas foram mais altas, simulando um carimbo:

Figura 14. Duas páginas da Seção Resenhas – Especial Diretores (fonte: a autora)

Um infográfico contendo uma linha cronológica do cinema, de sua invenção aos tempos contemporâneos, é o conteúdo da seção História:

Figura 15. Seção História, contendo infográfico com a linha do tempo do cinema (fonte: a autora)

Finalmente, a figura 16 ilustra o principal infográfico da primeira edição da Cine Vertigo. Tratase de um teste para o leitor identificar a qual filme pertence o personagem, contar as questões acertadas e conferir ao final sua classificação. A montagem com a sobreposição dos personagens visou conferir dinamicidade e uma quebra no ritmo de diagramação da Cine Vertigo. Os personagens foram numerados a fim de auxiliar a leitura, e foram acompanhados de um pequeno quadrado em branco para o leitor preencher à caneta suas respostas:

Figura 16. Seção Testes, contendo o principal infográfico da revista (fonte: a autora)

Quanto à revista digital, a proposta procurou utilizar-se de todo potencial das plataformas atuais mais acessíveis, ainda que tenha sido criada apenas como layout, não chegando à funcionalidade plena no âmbito da disciplina onde foi desenvolvida. A linguagem utilizada foi próxima a um site ou blog. A página de “Home” apresentaria a edição atual e o menu principal, as principais seções da revista. As edições anteriores estariam, porém, sempre acessíveis, sendo essa uma das grandes funcionalidades das publicações on-line. A disponibilidade de vídeos, trailers, animações, vinhetas, áudios e links são outro trunfo desta plataforma.

Figura 17. Layout da versão digital da revista Cine Vertigo (fonte: a autora)

Pela dificuldade em se programar, via CSS e HTML, um layout dotado de diversas colunas, a diagramação web baseou-se num grid de coluna única:

Figura 18. Grid da versão digital da revista Cine Vertigo (fonte: a autora)

Busca-se respeitar o projeto tipográfico e de tratamento de imagens da revista impressa, como pode ser visto no editorial do protótipo da primeira edição (figura 19):

Figura 19. Visão do editorial da primeira revista Cine Vertigo, versão web (fonte: a autora)

Infográficos e boxes devem ser elaborados para chamar a atenção do leitor da versão digital. Para isso, as imagens devem ser elaboradas em formato .png ou .jpeg, devido à dificuldade de diagramá-las diretamente em código. A seguir, um exemplo de box com imagens (figura 20):

Figura 20. Box contendo imagens, pertencente à versão web (fonte: a autora)

Por fim, uma possível imagem promocional da edição impressa, para veiculação na versão web, ilustrada pela figura 21:

Figura 21. Imagem para divulgação da revista impressa na versão digital (fonte: a autora)

V. Resultados de Avaliação A experiência de se desenvolver uma publicação periódica completa é ímpar na formação do designer gráfico. A problemática a ser levantada é complexa, o breafing é extenso e as soluções geradas devem atender não apenas a um único exemplar produzido, mas a possíveis futuras edições. O exercício projetual prospectivo é fundamental. Quando esta proposta se estende da consagrada mídia impressa - que possui fórmulas e metodologias de criação bem consolidadas – à publicação digital, o desafio torna-se ainda maior, pois os paradigmas projetuais tradicionais precisam muitas vezes serem repensados e novas propostas metodológicas e soluções, experimentadas. O presente projeto foi apresentado em sala de aula e avaliado em conjunto por outros leitores potenciais presentes. A recepção foi muito positiva. Com um maior aprofundamento mercadológico, a Vertigo poderia muito bem evoluir para um projeto real, uma vez que as publicações na área são mínimas, e esta apresenta um recorte editorial único.

VI. Referências Bibliográficas ALI, Fátima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009 BISKIND, P. Como a geração sexo-drogas-e-rock’n’roll salvou Hollywood. Tradução: Ana Maria Bahiana. Rio de Janeiro, Intrínseca, 2009. MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do design gráfico. 4 ed. norte americana. Tradução: Cid Knipel. São Paulo, Cosac Naify, 2009. LESLIE, Jeremy. Novo design de revistas. Barcelona: Gustavo Gili, 2003 SAMARA, Timothy. Elementos do design editorial. Porto Alegre: Editora Bookman, 2011

MOURA, M. (Org). Design Brasileiro Contemporâneo: Reflexões. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014. RAIMES, J; LAKSHMI, B. Design retrô: 100 anos de design gráfico. Tradução: Claudio Carina. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007. UM CORPO QUE CAI. Direção: Alfred Hitchcock. Paramound Pictures, 1958, 1 DVD (128 min.), NTSC, cor. Título original: Vertigo. VIDIGAL; M. L. C. Cult Versus Trash: Quentin Tarantino em análise. Belo Horizonte, 2008. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo) – Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2008. [Orientador: Prof. Dr. Juarez Guimarães Dias]

VII. Agradecimentos Aos colaboradores Bruno Gabriel Dinelli Neto, Fernando Lablanca de George e Henrique Ferreira Maia, pela preciosa contribuição textual; e a Sergio Massahiro Komori, assistente de apoio acadêmico do Laboratório de Produção Gráfica (FAAC/UNESP), pelo auxílio na impressão do miolo da revista.

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