Revista O Tripeiro (1908-\'1974\')

May 31, 2017 | Autor: F. Araújo | Categoria: Portuguese History, Historiography
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O Dicionári o de Historiadores Portugueses, acessível nos sítios electrónicos da Biblioteca Nacional de Portugal e do Centro de História da Universidade de Lisboa, corresponde a uma necessidade há muito sentida nas ciências humanas em Portugal. Visa alargar o conhecimento sobre os historiadores que escreveram sobre o passado nacional, as suas perspectivas do conhecimento histórico, teorias e correntes historiográficas, instituições científicas, jornais e revistas a que estiveram ligados. Pretende ser uma obra de consulta, disponibilizando informação útil aos investigadores e interessados pela história da história, dar a conhecer o pensamento dos historiadores que se destacaram até ao início do decénio de 1970 (alguns deles esquecidos) e tr açar sínteses sobre a historiografia produzida em campos específicos do saber. O período escolhido tem em conta o papel decisivo que, a par da Universidade, a Academia Real das Ciências alcançou na dinamização dos estudos históricos e na afirmação de um conceito de história-ciência. 1974 constitui uma baliza marcante a partir da qual se acentuará a renovação em múltiplas direcções de uma historiografia que vinha dos anos 40, o alargamento significativo do campo de estudos e maior abertura ao ext erior da comunidade de historiadores.

APOIOS:

Considera-se historiografia num sentido amplo, envolvendo múltiplos conceitos de história e concepções da sua escrita, ultrapassando fronteiras não raro artificiais com outras ciências humanas: filosofia, geografia, antropologia, economia, linguística, estudos jurídicos, estudos literários, pedagogia. Ao longo dos dois séculos em causa (1779-1974) encontramos perfis muito diversos de historiadores, do erudito académico atento à autenticidade do documento ao autodidacta que cultiva larga variedade de géneros, passando pelo historiador profissional, formado já em instituições especializadas, sem esquecer ainda o contributo dos ensaístas. O Dicionário representará este tão diverso leque de autores, de formações e percursos intelectuais bem diferenciados, num país em que a profissionalização dos estudos históricos foi tardia, quando comparada com outras nações europeias (grandes historiadores portugueses do século XX foram autodidactas). Procurar-se-á estabelecer nexos contextuais com os problemas dos tempos em que viveram, o ambiente cultural e as polémicas em que se envolveram, a relação com o pensamento histórico internacional e a posteridade das suas obras. Incluir-se-á também uma selecção de historiadores de outras nacionalidades que estudaram a história de Portugal: alguns contribuiram decisivamente para a renovar e alargar o seu conhecimento no mundo. A história da história e a reflexão teórica sobre a disciplina foram-se desenvolvendo ao longo dos dois últimos séculos pela voz de alguns dos mais destacados historiadores e intérpretes da sociedade portuguesa e do seu devir, dos homens ligados à Academia das Ciências de Lisboa - entre eles Alexandre Herculano - aos nossos dias. Ser á possível escrever história de qualidade sem reflectir sobre um ofício que t ant o contribuiu para alargar a compreensão da experiência nacional, aprofundar a consciência que cada um de nós tem de si próprio e da comunidade em que lhe f oi dado viver? Parece evidente que não: o que aqui se convoca é uma irredutível pluralidade de pontos de vista, teorias e interpretações sobre o passado da sociedad e portuguesa, necessário ponto de partida para inventariações de problemas e construção de novos percursos de investigação e conhecimento. Com um conjunto muito variado de colaboradores, o dicionário pretende inscr ever-se nesta linhagem. Tem vindo a ser produzido e progressivamente dado a conhecer on-line em língua portuguesa e em língua inglesa. Será regularmente acr escentado com novas entradas, podendo beneficiar com sugestões críticas dos seus leitores. Posteriormente resultará na publicação de um livro. De momento já se encontram acessíveis cerca de 150 entradas nominais e temáticas. Sérgio Campos Mat os Maio de 2016. Um esclarecimento..., Fev. 2013, Sérgio Campos Matos (Pdf)

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The Dictionary of Portuguese Historians, available online at the websites of the National Library of Portugal (BNP) and the History Centre at the University of Lisbon, meets a long-standing need within the social sciences in Portugal. It aims to broaden awareness of Portuguese historians and their perspectives on historical knowledge, of theories and currents within historiography, of historical and scientific associations and the journals and publications linked to them. It aims to be a reference work, making available information that will be of use to researchers and to those interested in the history of history, explaining the thinking of historians (some of them now forgotten) who wer e active up to the 1970s, and tracing general trends in historiography, as produced in different fields of knowledge. The period chosen takes into account the role that the Royal Academy of Sciences (founded 1779) played, alongside the University of Coimbra, in promoting the study of history, and establishing a conception of history as a science. In its turn, the year 1974 — with the restoration of democracy in Portugal — marks another milestone, after which a historiographical approach born in the 1940s was reinvigorated in many different ways, with a significant widening of the field of studies, and a greater openness to the broader international community of historians.

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The Dictionary considers historiography in a broad sense, taking in varying concepts of history and ways of writing it, thereby crossing frontiers — more often than not artificial — with other social sciences: philosophy, geography, anthropology, economics, linguistics, law studies, literary studies and pedagogy. Over the two centuries under consideration we find many different kinds of historian, from the erudite academic, careful to establish the authenticity of documents, to the autodidact, who takes on a whole variety of approaches, not forgetting the professional historian, trained in specialized institutions, and the contribution of the essayist. The Dictionary will reflect this very wide range of authors, of backgrounds, and of very different intellectual careers, in a country in which the professionalization of historical studies came late, compared to other European nations such as Germany or France — many of the great historians of the first half of the twentieth century still being autodidacts. It will establish contextual connections with the problems of the times in which they lived, the cultural environment and the polemics in which they were engaged, the relationship with historical thinking internationally, as well as the afterlife of their works. It will also include a selection of historians of other nationalities who studied the history of Portugal, some of whom contributed decisively to renewing and broadening knowledge of this subject around the world. The history of history and theoretical considerations of the discipline have been developed over the last two centuries through the writings of some of the most distinguished historians and interpreters of Portuguese society and its outlook, from those, such as Alexandre Herculano, linked to the Royal Academy of Sciences (or the Lisbon Academy of Sciences, as it became known after the fall of the monarchy, in 1910) up to our times. Is it possible, even, to write high-quality history without reflecting on a craft that has contributed so much to broadening our understanding of the national experience, to deepening the awareness that each of us has of ourselves, and of the community in which we find ourselves living? The answer is clearly no: what is assembled here is an irreducible plurality of points of view, theories and interpretations of the past in Portuguese society, the essential point of departure for taking stock of problems and constructing new pathways of investigation and knowledge. Drawing on a very varied team of contributors, the Dictionary aims to take its place in this lineage. It has been under production since 2011, and will be progressively available online, in both Portuguese and English. New entries will be regularly added, enabling the Dictionary to benefit from suggestions and criticisms made by its readers. This will lead eventually to the production of a book. At the time of writing there are already some 150 entries available on the website of the National Library, of both a biographical and a thematic natur e.

O Tripeiro, Porto, 1908 – (1974)

Um periódico como O Tripeiro destaca-se pelas suas muitas singularidades no mercado editorial português entre as publicações consagradas à História. Mesmo não se podendo classificar integralmente como título de domínio historiográfico, aliás concebido e coexistindo à margem dos meios académicos institucionais, a sua missão original foi sendo acolhida e preservada pelos historiadores, curiosos e o público em geral assegurando o feito raro de comemorar o centenário da sua marca. Entre a sua fundação em 1908 até 1974, longevidade com naturais interregnos e mudanças de diretores que procuraram manter uma mesma matriz identitária, contabilizam-se 6 séries, de 36 anos, 508 números e mais de 11 mil páginas, que o certificam como um dos melhores exemplos de uma divulgação atrativa e transversa l da historiografia portuguesa entre a fixação da memória coletiva e a erudição científica. Desde o primeiro número idealizado como «repositório de notícias portucalenses antigas e modernas» perpetuador da vida cultural, patrimonial, social e da história da cidade do Porto, tal reduto ainda que preferencial nunca se transformou em enclausuramento, quer na transfiguração de jornal em revista, quer por uma certa compleição enciclopédica, constituindo-se como um legado imprescindível e de alto valor enquanto uma das mais completas fontes históricas sobre a Invicta e as suas gentes. Além de conceder espaço a entradas relativas dos concelhos limítrofes até à amplitude da própria região norte, soube também fomentar uma feliz convergência de artigos jornalísticos e académicos sobre o passado, o presente e até reflexões para o futuro em temáticas diversificadas da História, Arqueologia, Etnografia, História da Arte e Sociologia. Alfredo Ferreira de Faria (1867-1930) foi o impulsionador do periódico com tais características patenteadas logo na 1.ª série, recobrando o título a outra efémera publicação local, proprietário e diretor do novo O Tripeiro: repositorio de noticias portucalenses, jornal trimestral cujo ano I (1908-1909) compreende 36 fascículos e prontamente alcançou uma comercialização nacional. O próprio fundador era o principal subscritor da maioria dos artigos, por vezes simples transcrições de notícias na imprensa e de livros de historiadores ou literatos coevos e perecidos, contando-se como redatores mais assíduos: Alberto Bessa, J. Gomes de Macedo, Pedro Victorino, Alberto Pimentel ou Silva Leal. Ao nível gráfico acompanhando o gosto da época, com destaque para as ilustrações e litografias de relevantes artistas, ficava matizado na capa o

brasão da cidade e três divisas: «Pelo Porto» (Club Fenianos), «Honra e Fama» (Club Girondinos) e «Recordar-se, consolar-se» (A. Herculano). O editorial preambular revelava os seus objetivos, âmbito e público-alvo numa diretriz que iria nortear os números vindouros: «evocação do passado, expositor do presente e um estímulo para as gerações vindouras», englobando os factos do passado e atuais dos acontecimentos históricos, do património material e imaterial da cidade, das aspirações, polémicas, cenas emotivas e dos tipos populares dos seus cidadãos naturais ou perfilhados, almejando-se a premissa de uma eventual coleção monográfica sobre o Porto. Não se olvidava também o desejo de que tais apontamentos importantes e fidedignos pudessem servir como material documental para o desenvolvimento de trabalhos historiográficos e até de monografias da cidade do Porto, fruindo do acesso privilegiado aos arquivos das vereações do Porto e de Vila Nova de Gaia. Nesta linha os sumários apresentam um leque de escritos multifacetados: lendas e tradições, biografias das personalidades distintas, monumentos, imprensa, instituições, espetáculos teatrais e tauromáquicos, momentos marcantes da vida citadina, etc.; alguns elencados ao longo dos números em secções próprias como: “Portuenses d’hontem e d’hoje”, “Tipos populares do Porto”, “O Porto descrito por estrangeiros” ou “O que dizem de nós”. Porventura, a mais original destas terá sido a de “Correspondência entre leitores”, convidando os mesmos a colocar perguntas ou esclarecimentos sobre factos e vivências, oportunamente respondidas pelos colaboradores ou outros leitores. A adoção de tal programa universalista e indiferenciado de índole cultural e científica, conquanto votado fundamentalmente à essência histórica, visava alcançar um público indistinto de género e intelectos através de uma linguagem acessível e coloquial, sem floreados eruditos e com recurso à gravura como um complemento inteligível da leitura. De resto, definindo à partida esse público-alvo como o cidadão portuense ou seus admiradores num periódico «mais portuense do que todos os outros, desinteressadamente patriótico», a inflexão pelas notas e documentos das áreas circundantes como as de Gaia, Matosinhos ou Maia, extravasavam o mero plano portuense em favor de uma crescente abrangência regional e nacional. No confronto de um programa tão vasto torna-se inexequível sintetizar, entre tantas linhas temáticas abordadas, as principais tendências e debates historiográficos ou problemáticas e conceitos históricos mais utilizados, tende ncialmente associados a estudos de episódios e personalidades da cidade e da região norte em geral, facto que se manterá ao longo das seis séries analisadas no respeito dos seus sucessores por esta conceção primordial. Em inteira continuidade com esta caracterização concorrem os outros 36 fascículos do ano II (19091910), na qual foram incluídas novas secções como: “Efemérides”, “Notas ao Tripeiro” ou “Escavações históricas portuenses”, acrescendo-se como novos colaboradores, alguns sob pseudónimos há muito omissos, como: Pedro A. Dias, Sampaio Bruno, Rocha Peixoto ou Adolfo Loureiro; nomes diretamente articulados com o forte dinamismo cultural e artístico da cidade do Porto na transição para o século XX, inclusive do próprio movimento republicano. O Tripeiro enquadrava-se perfeitamente neste contexto, com o

seu diretor a partilhar a visão do conhecimento da História como fator de identidade e afirmação individual e coletiva, tão mais importante num momento de instabilidade política, aceitando pela heterogeneidade de cooperações uma mescla de correntes historiográficas entre a liberal, positivista ou historicista. Se é certo que o confronto desse involuntário diálogo historiográfico permitiu subjugar algumas dessas limitações metodológicas, também inovou ao possibilitar o cruzamento de visões e conceções da História enquanto ciência. A transição para a 1.ª República verificou-se durante o ano III (1910-1913) e a defesa do novo regime mereceu destaque nas suas páginas, intervindo em discussões sobre os símbolos nacionais e o elogio às figuras e movimentos que o precederam, só que as vicissitudes na sua tiragem começaram a fazer-se sentir e a exigir mudanças em concordância com as transformações político-sociais. Da edição trimensal passou-se à mensal em 1912, momento a partir do qual a direção passa a ser partilhada com o irmão Guilherme Ferreira de Faria, terminando os acostumados 36 fascículos sem qualquer justificação passado um ano. Nova tentativa da sua restauração veio a verificar-se no primeiro semestre de 1919, por obstinação do fundador aos apelos dos antigos colaboradores e leitores, com uma 2.ª série de 12 fascículos sem alterações aos conteúdos gráficos e editoriais e de tiragem quinzenal, acentuando o desejo da redação de salvaguardar e difundir toda a documentação relativos à história da cidade e da região norte, que passara a beneficiar com o ensino da História na 1.ª Faculdade de Letras do Porto (1919-1931). Plausivelmente, o crescimento da inflação económica no pós-guerra, que determinara já a redução de páginas para contenção de custos, poderá ter sido uma das razões para este aparecimento fugaz, no qual participaram autores estreantes como: J. A. Pires de Lima, Carlos de Passos ou António Arroio. O derradeiro ensaio de Alfredo Ferreira de Faria de reaver a publicação em idênticos moldes para uma 3.ª série (1926-1927), após anúncio num número único de finais de 1925, resultou em dois novos anos com 48 novos números visados pela comissão de censura e uma reformulação gráfica da capa, que passa a apresentar gravuras com pequenas legendas sobre monumentos, personalidades, heráldica ou litografias. Na reformulação de algumas secções emergem novidades como: “Jornaes da minha terra”, “Coisas do Passado” ou “História Bairrista”, parecendo ganhar preponderância certas temáticas relacionadas com instituições, imprensa e personalidades ilustres do Porto e arredores. Um maior cuidado e rigor histórico revelava-se pelas entradas inéditas dos colaboradores de sempre e individualidades reputadas como historiadores ou intelectuais: A. de Magalhães Basto, Júlio Dantas, Ruy de Serpa Pinto, Eduardo de Noronha, Armando de Matos, João Chagas, Raul Brandão, A. Pires de Lima, F. Macedo Lopes, Hernâni Monteiro, Alberto Meira, Kol de Alvare nga ou Cláudio Basto. Diversos motivos económicos e pessoais do seu diretor justificaram a suspensão perante o desagrado de um grupo de amigos e redatores, os quais foram reverenciados num número extraordinário em junho de 1928, que ingloriamente intentaram uma campanha de recolha de fundos para assegurar a sua edição e lhe dedicaram um número “in memoriam”, em outubro de 1930. Este mesmo núcleo garantindo o

registo legal de O Tripeiro com a constituição de empresa homónima foi responsável pelo lançamento da 4.ª série (1930-1931) do ainda então jornal mensal com 12 novos números e tiragem inferior a uma centena de exemplares, sob direção de Emanuel Ribeiro. No editorial inaugural subscrevem os mesmos princípios basilares de 1908 e a manutenção das principais secções de estudo e de notícias do mensário, prometendo uma maior amplitude no seu programa à cidade e sua área de influência, com uma maior orientação para os capítulos da História, Arqueologia, Urbanismo, Etnografia, Filologia e as Artes na sua globalidade. Daí a maior consistência das entradas nas secções como: “Arquivo nobiliárquico portuense”, “Museu Municipal do Porto”, “Iconografia histórica portuense” ou “Da música portuense”, entre outras, onde assinam esporadicamente: Luís de Pina, Julieta Ferrão, Delfim Santos, Armando Leça, etc. Todavia, o «arquivo das tradições mais gloriosas da mais laboriosa cidade portuguesa» cingiu-se a um singular ano de venda face à sua pouca rentabilidade financeira e receção moderada entre o público generalista em concorrência com outros títulos de maior pendor científico-historiográfico. Um longo hiato mediou até novo restabelecimento de O Tripeiro em 1945, no rescaldo de um fértil contexto cultural e educacional na cidade do Porto, iniciado cerca de uma década antes, com o incremento de uma política municipal que teve como epicentro o Gabinete de História da Cidade e Magalhães Basto como chefe dos Serviços Culturais da vereação. Será a este que o industrial António Sardinha, após compra dos ativos da empresa O Tripeiro, dirige o convite para assumir a direção do periódico, naquele que se pode considerar o seu período áureo pela sua longevidade, pertinência e visibilidade, adaptando as suas especificidades ao mercado editorial num tom coloquial e de leitura aprazível pela metamorfose em O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e do seu progresso sob o adágio «Do Pôrto – Pelo Pôrto». Ao todo esta 5.ª série (1945-1960) compreende quinze anos com tiragem mensal de 12 números cada, sob um novo layout gráfico da capa e do corpo do texto numa linha mais vanguardista, profusamente ilustrado com diferentes tipos de imagem e organização de índices anuais em diferentes indicadores. O primeiro dos editoriais valida de forma perentória as diretrizes e o programa geral do fundador, afinal enquanto repositório de notícias portucalenses perdurava como publicação única em Portugal, como se uma herança espiritual moldada aos novos requisitos literários e iconográficos do público-leitor. As analogias com 1908 fundem-se igualmente nos princípios capitais de maior destaque para os estudos históricos, colaboradores de idoneidade científica reconhecida, o âmbito histórico-geográfico no Porto e a sua região ou a interligação entre passado, presente e futuro ao comungar que: «a História, memória dos povos, tem um valor prático; ela deve ser considerada, além do mais, como fonte de energias, como imperativo do futuro». Ao longo desses anos e com a comemoração do seu cinquentenário em 1958, a revista O Tripeiro continuou a publicitar artigos e documentos históricos de acervos públicos e particulares de maior credibilidade histórica do que nas séries precedentes, intercalado os estudos historiográficos sérios com

notas de divulgação cultural e recreativa. Dependente quase em exclusivo das suas receitas de venda numa incumbência bairrista e patriótica desvirtuada de interesses políticos e profissionais, nem por isso deixou de compactuar com os propósitos da política ideológica e nacionalista do Estado Novo, valorizando a propaganda da História e da Etnografia na afirmação da identidade e valores portugueses. Secções como: “Figuras portuenses”, “Achegas arqueológicas e iconográficas”, “Da Arte e dos artistas”, “O que deseja saber acerca do Porto?” ou “Comunicações aos leitores” mantém-se na senda das suas anteriores; a par dos artigos de fundo reservados às primeiras páginas numa imensidão de temas e objetos de estudo com tónica comum portuense ou nortenha: questões e notas do património material, figuras literárias, personalidades categorizadas, instituições públicas e privadas, evolução topográfica e toponímica, eventos citadinos, imprensa, impressões de visitantes estrangeiros, etc. Se em alguns destes se procuram desconstruir velhos mitos historiográficos e propor novas hipóteses e teorias de análise a partir de documentos inéditos e bibliografia recente, algo ainda na ótica das tendências positivista e historicista centrada preferencialmente em episódios que iam dos tempos medievais aos oitocentistas, não se esquece o protagonismo dado às grandes comemorações municipais e nacionais promovidas pelo poder central. Os contactos e prestígio da direção em exercício, liderada por Magalhães Basto e António Cruz, foram determinantes para estas orientações e a abertura da revista a novos intercâmbios científicos: o Centro de Estudos Humanísticos, anexo à U.Porto no qual ambos eram preletores, com académicos das quatro Universidades portuguesas e até permutas com a Universidade de S. Paulo. Entre o rol dos colaboradores mais ativos desta série encontram-se esses membros diretivos e nomes como: Horário Marçal, L. Nunes da Ponte, Flávio Gonçalves, J. A. Pinto Ferreira, M. Cruz Malpique, Hernâni Cidade, Jorge de Sena, Alfredo Ataíde, Mendes Corrêa, Maria Barjona de Freitas, etc. e uma pequena presença de autores estrangeiros: António Castilo de Lucas, Arnold Hawkins ou Lorenzo di Poppa. O agravamento do estado de saúde de Magalhães Basto e o défice financeiro acumulado anualmente instigaram a nova suspensão de O Tripeiro pelo seu proprietário, mas invejável pela sua peculiaridade redatorial e projeção no panorama intelectual portuense, um novo grupo de redatores obteve o aval para relançar a 6.ª série (1961-1974) de O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e das suas tradições e sob o lema «Pelo Porto – repositório de notícias portucalenses», sendo que estas nuances distintivas aludem ao refortalecimento do seu pendor histórico e enciclopédico-arquivístico, quiçá perante o anúncio eminente da restauração da Faculdade de Letras na cidade e o ganho de uma historiografia em moldes académico-científicos. Com Eugénio Andrea da Cunha e Freitas como seu quarto diretor manteve-se em publicação os 12 números mensais em treze anos dentro das linhas editoriais já familiares na qual o trabalho de investigação e divulgação da história portuense e a feição literária-cultural persistem como os grandes objetivos, almejando uma maior identificação com as indagações históricas dos leitores, espelhado em novas secções: "Tripeiros de Ontem", "Ainda se lembra?...", "Aconteceu há 50

anos...", "O Porto há 100 anos" ou “Tripeiro Camiliano”, etc. Por outro lado, diversifica-se o aspeto recreativo com poesias e o documental com a publicação de fontes primárias como atos notariais ou as memórias paroquiais de 1758 do termo do Porto, sucedendo-se números especiais como o de homenagem a Magalhães Basto, a António Nobre, a inauguração da Ponte da Arrábida ou o IV centenário d’”Os Lusíadas”. Quanto aos colaboradores dos mais categorizados nas Letras, Ciência e Artes repetem-se muitos deles, desde a equipa redatorial aos mais assíduos como: B. Xavier Coutinho, F. Cyrne de Castro, Guilherme Felgueiras, Damião Peres, José Régio, Cândido dos Santos, Elaine Sanceu e Robert C. Smith. O último número da série foi inteiramente dirigido por António Sardinha que tomou a resolução unilateral de embargar o título pelas razões económicas de sempre, aquiescendo na saída de dois números especiais que encerraram esta 6.ª série: o do VI centenário da Aliança Luso-Britânica e o centenário da Igreja do Bonfim; reaparecendo desde 1981 um sétima série ainda hoje detida e publicada pela Associação Comercial do Porto. No seu conjunto a vitalidade e sucesso de o periódico O Tripeiro explicam-se pela reunião de diferentes cambiantes: o arquivo de um corpus documental valioso, a representação do universo portuense e nortenho, a heterogeneidade de valências intelectuais e epistemológicas dos seus colaboradores, a linguagem despretensiosa e apelativa aos diferentes segmentos sociais, a riqueza temática e iconográfica dos assuntos analisados ou o fecundo diálogo de experiências e conhecimentos estabelecido entre redatores, autores e leitores. Dentro das suas muitas idiossincrasias não é fácil identificar as grandes linhas historiográficas num periódico que não as estimulava necessariamente e que em centenas de números os principais temas e problemas tratados eram quase sempre percecionados num contexto de história local e regional: a fundação da nacionalidade, ascensão da burguesia mercantil, expansão marítima, domínio filipino, movimento liberal ou fomento industrial oitocentista, etc.; dando total liberdade a cada autor nas suas exposições, linhas de investigação e conclusões sem suscitar necessariamente grandes debates ou análises contundentes. Tão pouco estabeleceu-se qualquer vínculo cooperativo formal com nenhuma das duas Faculdades de Letras do Porto que detinham as suas próprias revistas para as ciências históricas, exceto na assinatura pontual de alguns artigos por professores e alunos, embora no seu interregno através do Centro de Estudos Humanísticos aparente terem existido mais sinergias através dos seminários de investigação do seu curso de “Estudos Portuenses”. Título notável e ímpar pela sua missão editorial e iniciativa privada, a sua relevância justifica-se nas palavras de uma circular de 1928: «O Tripeiro é a Bíblia dos Portuenses, é o fio condutor da era presente aos tempos mais remotos, revelando ensinamentos sempre proveitosos».

Bibliografia activa: O Tripeiro: repositorio de noticias portucalenses: 1.ª série, ano I, n.º 1-36 (19081909); ano II, n.º 37-62 (1909-1910); ano III, n.º 73-108 (1910-1913). 2.ª série, ano I, n.º 1-12 (1919). 3.ª

série, n.º único (1925); ano I, n.º 1-24 (1926) ano II, n.º 25-48 (1927), n.º especial 49 (1928) e 50 (1930). 4.ª série, n.º 1-12 (1930-1931). O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e do seu progresso: 5.ª série, anos I-XV, n.º 1-12 (1945-1960). O Tripeiro: revista mensal de divulgação e cultura, ao serviço da cidade e das suas tradições: 6.ª série, anos I-XIII, n.º 1-12 (1961-1972); n.º especial ano XIII (1973) e XIV (1974).

Bibliografia passiva: Carmo Ferreira, M., Índice Geral de O Tripeiro: Junho de 1908-Dezembro de 2006. Porto, Campo das Letras, 2007. Real, Manuel Luís; Braga, Helena Gil; Botelho, Nuno; Vaz, Paulo, Aconteceu há 100 anos: O Tripeiro (catálogo da exposição). Porto, Câmara Municipal do Porto, 2008.

Francisco Miguel Araújo

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