Rio ou, há 450 anos, São Sebastião

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JOÃO MAIO PINTO

EDIÇÃO PORTO DOM 1 MAR 2015 O terrível assassinato do principal opositor de Putin p28/29 e Opinião

PRÉMIOS 2014 JORNAL EUROPEU DO ANO JORNAL MAIS BEM DESENHADO ESPANHA&PORTUGAL

REPORTAGEM NO HAITI

PORT-AU-PRINCE, A CAPITAL MUNDIAL DO RAPTO

TEXTO: LUÍS PEDRO NUNES FOTOS: ALFREDO CUNHA

‘O nosso papel é tornar mais incertos os resultados eleitorais’ Em entrevista, Rui Tavares, dirigente do Livre/Tempo de Avançar, é contra o bloco central e por uma alternativa com o PS p 14 a 16

RIO FAZ 450 ANOS A CIDADE VISTA POR QUATRO ESCRITORES E UM HISTORIADOR

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Destaque, 4 a 11

Costa bate com a porta ao bloco central: “Ou nós ou eles” Em resposta ao primeiro-ministro, que admitiu um Governo alargado ao PS, o líder socialista respondeu com a necessidade de uma alternativa. Mas nada disse sobre a dívida que Passos acumulou durante cinco anos à Segurança Social Portugal, 17 ISNN:0872-1556

Ano XXV | n.º 9086 | 1,65€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Simone Duarte, Pedro Sousa Carvalho, Áurea Sampaio | Directora de Arte: Sónia Matos

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ANIVERSÁRIO DO RIO DE JANEIRO

Rio ou, há 450 anos, São Sebastião Raras são as cidades que têm claro o processo da sua fundação. O Rio tem. Para a maioria das cidades, é óbvia a razão da sua designação. Para o Rio, não. A conjugação dessas duas premissas faz do Rio um paradoxo que a sua realidade confirma a cada passo Walter Rossa “[...] escolhi um sítio que parecia mais conveniente para edificar nele a cidade de são sebastião, o qual sítio era de um grande mato espesso, cheio de muitas árvores grossas, em que se levou assaz de trabalho em as cortar e alimpar o dito sítio e edificar uma cidade grande cercada de trasto de vinte palmos de largo e outros tantos de altura, toda cercada de muro por cima com muitos baluartes e fortes cheio d’artilharia. E fiz a Igreja dos padres de Jesu [...], e a sé de três naves também telhada e bem consertada, fiz a casa da câmara sobradada, telhada e grande, a cadeia, as casas dos armazéns e para a fazenda de sua alteza sobradadas e telhadas e com varandas, dei ordem e favor ajuda com que fizessem outras muitas casas telhadas e sobradadas.” in Instrumento dos Serviços Prestados por Mem de Sá, 1570, Cartório dos Jesuítas, Torre do Tombo.

P

or carta de 1 de Junho de 1553 ao rei D. João III, o primeiro governador do Brasil, Tomé de Souza, maravilhado com a baía da Guanabara na visita que ali fizera meio ano antes, mandou-lhe “o debuxo dela” e sintetizou o que viu da forma seguinte: “Tudo e[ra] graça o que se dela pode dizer, senão que pinte quem quiser como deseje um Rio, isso tem este de Janeiro.”

Já em 1531, Pero Lopes de Souza, relator da armada de Martim Afonso de Souza, escrevera: “este Rio é mui grande, tem dentro oito ilhas e assim muitos abrigos”. Ambos os excertos dão-nos conta não só das excepcionais qualidades do local, como do facto de durante as primeiras décadas de visitas os portugueses terem tomado a baía como a foz de um rio, cunhando-lhe assim um topónimo que acabou designando o povoado cuja fundação ocorreu há precisamente 450 anos. Ninguém sabe ao certo quem instalou esse equívoco (Américo Vespúcio, Gaspar Coelho, Cristóvão Pires, Fernão de Magalhães?), e com ele a invocação do mês em que é natural que tal tenha ocorrido.

“Água penetrante” A poente de cabo Frio, no único trecho da costa brasileira que corre paralelo ao Equador e a meia centena de quilómetros a norte do Trópico de Capricórnio, o recorte e a envolvente da baía da Guanabara (“água penetrante” em tupi) são únicos: 140 quilómetros de perímetro, 30 de profundidade e 26 de largura máximos contrastam com o pouco mais de quilómetro e meio da boca balizada pelos morros de Santa Cruz a este e do Pão de Açúcar e de São João (outrora Cara de Cão) a oeste. O entorno é de serras e morros com vertentes abruptas recortando terrenos planos e férteis, bem como lagoas que, tal como a baía, foram ricas em peixe. Além do deslumbramento pro-

vocado por esse quadro natural profusamente florestado, que em finais de quinhentos o padre Fernão Cardim descreveu como parecendo “que quem a pintou foi o supremo pintor e arquitecto do mundo, Deus Nosso Senhor”, a baía apresentavase pois como um local ideal para instalação humana com fácil defesa, pelo que é óbvia a recomendação de Tomé de Souza na já referida carta ao rei: “V. A. deve mandar fazer ali uma povoação honrada e boa.” Assim aconteceria e Guanabara e Rio, que afinal e respectivamente são baía e cidade, continuam a fazer jus ao maravilhamento de Pero Lopes e Tomé de Souza, que a descreveram antes de qualquer instalação europeia. A área era fartamente habitada por população nativa, os tamoios, que além de um considerável grau de organização tinham grande propensão, preparação e prontidão para combater. Desde muito cedo era também frequentada por franceses que com eles pactuaram e comerciavam, pondo em causa a exclusividade de que os portugueses, baseados no Tratado de Tordesilhas, se arrogavam detentores. O combate à presença francesa nas costas brasileiras desenvolveu-se nas mais diversas frentes, incluindo a diplomática, o que não evitou que por eles fosse gizado e posto em execução o projeto colonial designado “França Antártica”, precisamente destinado à Guanabara e liderado por Nicolas Durand de Villegagnon. Este, em 1555, instalou um forte com uma colónia (Forte

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JOÃO MAIO PINTO

Foi a segunda cidade real fundada no Brasil, 16 anos depois da fundação de Salvador da Bahia de Todos-osSantos. A integração no topónimo do nome do jovem rei sob a forma do seu santo patrono veio adensar a referência ao mês de Janeiro Coligny), uma verdadeira testa de ponte francesa na ilha que hoje conserva o seu nome e que quase está fundida com o aterro entretanto feito para o Aeroporto Santos Dumond. Era um avanço intolerável que os portugueses apenas lograram contrariar cinco anos volvidos sob o comando do terceiro governador do Brasil, Mem de Sá. Sem capacidade imediata para ocupar o local e perante a forte oposição dos tamoios industriados pelos franceses, os portugueses limitaram-se a destruir o forte e os franceses dispersaram-se pela região, pelo que a ameaça não cessou. Ajudaram os tempos difíceis que então se viviam em França.

Cidade de São Sebastião Era óbvio que a neutralização do projecto francês passava pela fixação de uma instalação portuguesa, uma cidade. Depois de muitos o pedirem, incluindo os jesuítas, em 1563 D. Catarina, rainha e regente na menoridade de D. Sebastião, deu ordens nesse sentido a Estácio de Sá, sobrinho do governador, dotando-o de uma pequena armada que seria aumentada já no Brasil. Ao fim de dois anos de preparativos, hesitações e dificuldades, a armada por ele chefiada e integrando um grupo de duas centenas de efectivos (que incluiu temiminós e tamoios inimigos dos da Guanabara) entrou naquela baía e, no dia seguinte, 1 de Março de 1565, fundaram a cidade de São Sebastião no Rio de Janeiro. Foi a segunda cidade real fun-

dada no Brasil, 16 anos depois da fundação de Salvador da Bahia de Todos-os-Santos. A integração no topónimo do nome do jovem rei sob a forma do seu santo patrono veio adensar a referência ao mês de Janeiro, pois D. Sebastião nascera a 20 de Janeiro, precisamente no dia em que o calendário católico celebra aquele guerreiro-mártir. A decisão terá sido tomada em Lisboa, pois a imagem do santo de madeira policromada que pertenceu à paroquial primitiva, depois à catedral e que hoje está na igreja capuchinha da Tijuca, foi levada na armada fundacional de Estácio de Sá, provavelmente posta ao cuidado do ainda noviço jesuíta e primeiro cronista da cidade, José de Anchieta, o “apóstolo do Brasil”. Junto dela estão também o padrão de fundação da cidade e a lápide funerária de Estácio de Sá. Materialmente, aquela instalação primitiva da cidade de São Sebastião era pequena, provisória e de cariz assumidamente militar, num local exíguo escolhido a preceito junto à entrada da baía, abrigado pelos morros do Pão de Açúcar e da Urca, junto a São João. Se pela reacção concertada dos tamoios e franceses a preocupação defensiva era permanente, a verdade é que desde logo entrou em funcionamento o sistema político-administrativo de um novo município colonial (à imagem dos da metrópole), incluindo instituições, cargos e dação de chãos e sesmarias de um território que paulatinamente se foi reconhecendo. O processo foi volunc

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ANIVERSÁRIO DO RIO DE JANEIRO Já houve quem defendesse, sem provar, que tal mudança ocorreu no dia 1 de Março, o que não só é simbólico, como não erra por muito tariamente apoiado por portugueses instalados noutros pontos do Brasil, designadamente da capitania de São Vicente, que disso foram sendo recompensados. Porém, o sucesso da fundação da cidade e do domínio português da Guanabara continuava a depender da anulação da presença dos franceses e, assim, do apoio em estratégia e armamento que prestavam aos numerosos e aguerridos tamoios. Desta vez, a Coroa demorou menos tempo a reagir, enviando uma armada que foi reforçada na sede do governo (Salvador da Bahia), incluindo a participação de gente de outras capitanias e a chefia do próprio governador, Mem de Sá. Dois dias depois de chegada à Guanabara, uma vez mais a 20 de Janeiro (o dia de São Sebastião de 1567), a força portuguesa atacou com sucesso a principal posição forte dos tamoios e franceses, situada no que é hoje o Morro da Glória, e dias depois conquistou-se a outra posição na actual ilha do Governador, bem maior e mais no interior da baía e onde hoje está o Aeroporto Tom Jobim (ou do Galeão). Estácio de Sá ficou gravemente ferido nos combates, acabando por morrer cerca de um mês depois. Nesta campanha, os franceses presentes ou foram mortos ou feitos prisioneiros, o que descomprimiu consideravelmente a ameaça que constituíam aos interesses portugueses, mas sem a qual, como se viu, não teria havido qualquer pressa para fundar a cidade e dominar a região. Contudo, o combate prosseguiria, pois em toda a região do cabo Frio a presença francesa continuava forte, tal como o entendimento comercial e militar com os tamoios, o que, aliás, levaria ao seu extermínio (por morte e dispersão) numa acção

cruel levada a cabo em 1575. É extraordinário constatar em documentação coeva como logo no dia 11 de Março seguinte decorreu uma cerimónia de juramento “nas casas do Tesouro d’El-Rei” no Morro do Castelo, ou seja, no local para onde a cidade se mudara com carácter definitivo. Já houve quem defendesse, sem provar, que tal mudança ocorreu no dia 1 de Março, o que não só é simbólico, como não erra por muito. A verdade é que o treslado ocorreu entre a derrota dos franceses em finais de Janeiro e o início de Março. Estamos necessariamente a falar de instalações e equipamentos muito simples, e de instituições cujo acervo seria mínimo e por isso fácil de mudar da, desde então, cidade velha para a nova e definitiva instalação urbana. O excerto do Instrumento dos Serviços Prestados por Mem de Sá que serve de epígrafe a este texto relata bem o ímpeto (re)fundacional com que o governador do Brasil presidiu à construção da cidade de São Sebastião sobre o Morro do Castelo. A par das características defensivas naturais (elevação, flancos em escarpa, rodeado de pântano e lagoa, situação penetrante na baía com boa vista para a barra), área suficiente para acolher as instituições do poder civil e religioso, além de algum casario, e uma boa exposição às brisas e ao sol (virado a norte no hemisfério sul), o local tinha no flanco norte, frente a um bom varadouro, uma várzea que permitiria ensanchar a cidade e, para o interior, aceder a terrenos férteis para o seu sustento agrícola. Bem próxima estava a foz do pequeno rio da Carioca, onde desde o início os portugueses iam fazer aguada, o que por certo cedo terá criado uma propensão para a eleição da zona como local ideal para a implantação definitiva da cidade.

Desceu e espraiou-se A semente urbanística lançada no Morro do Castelo ou Outeiro de São Sebastião, como então era designado, germinou conforme o previsível. A Igreja de São Sebastião, a câmara, a cadeia, o colégio dos jesuítas e mais algumas poucas dependências civis e casas particulares cedo lotaram o espaço disponível no exíguo morro muralhado em forma de tridente. Por isso, a cidade, que cedo prosperou, desceu e espraiou-se ordenadamente pela várzea drenada e nivelada para

A fundação da cidade do Rio de Janeiro Baía de Guanabara

BRASIL Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

20 km

A cidade de São Sebastião no Rio de Janeiro foi a segunda cidade real portuguesa fundada no Brasil, 16 anos depois da fundação de Salvador da Bahia de Todos-os-Santos. A baía de Guanabara, com os seus 140 quilómetros de perímetro, 30 de profundidade e 26 de largura máximas, era um local ideal para instalação humana com fácil defesa. 1. Primeira implantação da cidade a 1 de Março de 1565 2. Morro de Santa Cruz

3

Baía de Guanabara

3. Posição forte dos franceses e dos tamoios tomada em 20 de Janeiro de 1567 pelos portugueses (Morro da Glória)

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1

4. Forte Coligny, a colónia francesa fundada em 1555 (Ilha de Villegagnon) 1 km

6. Conjunto franciscano iniciado em 1608 (Morro de Santo António)

8 7

Baía de Guanabara

10

5. Implantação definitiva da cidade portuguesa em Março de 1567 (Morro do Castelo)

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7. Forte da Conceição e antigo paço episcopal (séc. XVII), o último erguido a partir da Ermida da Conceição (Morro da Conceição) 8. Conjunto beneditino iniciado em 1590 (Outeiro de São Bento)

5 6

9. Avenida Rio Branco aberta em 1904 10. Avenida Presidente Vargas inaugurada em 1944 4

500 m

Fonte: PÚBLICO

Nota: Os números 5, 6, 7 e 8 assinalam morros que balizavam a cidade durante o período colonial

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o efeito. Uma “baixa” que chegou a estar circunscrita num rectângulo balizado, além do Morro do Castelo, pelos morros interiores de Santo António (ocupado pelo conjunto franciscano a partir de 1608) e da Conceição (ocupado sucessivamente pela ermida, convento, paço episcopal e forte), e o ribeirinho Outeiro de São Bento (coroado pelo complexo beneditino a partir de 1590). Esse perímetro é hoje o coração do centro, área que apesar de esventrada por sucessivas operações, como as aberturas das avenidas Barão do Rio Branco em 1904 (nortesul) e Presidente Vargas em 1944 (este-oeste), não apagou o arruado e o essencial da toponímia coloniais. Nessa estrutura urbana, do edificado colonial restam igrejas e conventos, bem como o Paço Imperial, espaços públicos e alguns monumentos. Seguindo o que simbolicamente se apresenta como um destino marcado, o morro e o conjunto de espaços, sistema defensivo e equipamentos ali construídos entre 1565 e 1570 sob a tutela de Mem de Sá, que consubstanciaram a instalação definitiva da cidade real de São Sebastião da Guanabara ou do Rio de Janeiro, desapareceram num processo encetado na década de 1920, com o qual se adicionou à Baixa carioca a zona baixa que foi a base do próprio morro, e outra do aterro em que foi processado permitindo a implantação do aeroporto. Destino confirmado pela “substituição natural” do topónimo São Sebastião, talvez induzida pelo misterioso e mítico desaparecimento do jovem rei em nome e com o nome do qual se fundou a cidade que hoje é, (misteriosa e) maravilhosamente, o Rio de Janeiro. Arquitecto, Universidade de Coimbra

De Barcelos para o Rio de Janeiro DR

Inês Nadais O gigantesco Galo de Barcelos de Joana Vasconcelos iluminará o Rio de Janeiro. A festa começou ontem à noite

S

erá difícil começar, para não dizer impossível, quando se trata de uma efeméride como o Rio de Janeiro: aos 450 anos, já é tanto a metrópole dos operários electrocutados em seu nome (uma das últimas vítimas: Stanley Silva, 35 anos, operário, morreu no estaleiro do Museu do Amanhã com que a prefeitura pretendia celebrar mais o futuro do que o passado do Brasil) como das escandalosas favelas que só recentemente começaram a figurar nas telenovelas da Globo. Transversal, o programa de comemorações posto em marcha pelo Comité Rio450, liderado pelo diplomata Marcelo Calero, quis celebrar todas as vidas da vida da cidade, e a festa começou ontem à noite com um megaconcerto gratuito na Quinta da Boa Vista: Caetano, Gil, Martinho da Vila, Ana Carolina e Marcelo D2, entre muitos outros, cantaram o Rio de Janeiro das escolas de samba e da bossa-nova, do hip-hop e da MPB, antes do som e da fúria de um gigantesco fogo-deartifício. É muito, é pouco, é o que é: até ao final de ano, largas dezenas de acontecimentos marcarão mensalmente o aniversário do Rio de Janeiro, do desporto aos seminários, da música aos festivais, das grandes exposições

O Pop Galo da artista plástica tem sete metros de altura e chega à Praia do Leme no dia 10 de Junho como aquela que o Instituto Moreira Salles organizará em Dezembro em torno do acervo de Millôr Fernandes, um dos seus mais infatigáveis cronistas, à edição especial da Bienal do Livro, do 30.º aniversário do Rock In Rio, enorme manifestação de rua, aos pequenos actos de teatro e performance que ocuparão várias casas da cidade, do Leblon a Santa Cruz, das favelas aos condomínios da classe A. Fundado por Estácio de Sá a 1 de Março de 1565, o Rio de Janeiro já foi a maior cidade portuguesa do mundo. Justamente por isso, o Comité Rio450 quis integrar Portugal

nas comemorações, razão que trouxe Marcelo Calero a Lisboa para três dias de contactos institucionais no final do ano passado. Com os seus sete metros de altura, o Pop Galo de Joana Vasconcelos, que simbolicamente chegará à Praia do Leme no próximo 10 de Junho, será a manifestação mais visível do “engajamento” português na grande festa carioca. A peça de fibra de vidro, que entrará esta semana em produção numa unidade de Torres Vedras, será depois revestida com azulejos Viúva Lamego especialmente desenhados pela artista e electrificada com LED: uma luz no escuro da noite do

Rio, pelo menos até ao final do ano. “Todo o material do Pop Galo é português e foi concebido de propósito para esta peça. Quando estiver pronta, será transportada por via aérea ou marítima até ao lugar onde ficará instalada, não sabemos ainda até quando. O destino do Pop Galo dependerá muito da receptividade da cidade e dos habitantes, e da sua capacidade para criar um discurso com a envolvente”, diz Joana Vasconcelos ao PÚBLICO. Mas ela, que estará lá para o receber quando o Pop Galo desembarcar do outro lado do Atlântico, gostaria que ficasse ali para sempre. PUBLICIDADE

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ANIVERSÁRIO DO RIO DE JANEIRO

Esta é uma cronologia do Rio de Janeiro colonial feita a partir do livro Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial de Nestor Goulart Reis Filho

1695 São Sebastião do Rio de Janeiro Gravura que ilustra o livro de François Froger Relation d’un voyage... As igrejas e os conventos são mostrados com grandes proporções. São Bento aparece com duas torres, como a velha Sé. O Colégio dos Jesuítas é detalhado com minúcias. Aparecem uns trechos de muros no Morro do Castelo e uma parte do perfil das fortificações ali instaladas. Em alguns pontos, junto à praia, estão indicadas as gruas para desembarque de mercadorias

1579 O Verdadeiro Retrato do Rio de Janeiro e do Cabo Frio Jacques de Van de Claye Esta é a primeira representação conhecida do Rio de Janeiro. O detalhe mostra-nos a cidade instalada sobre o Morro do Castelo, com as suas igrejas e a fortaleza. A igreja central seria a dos jesuítas. À sua esquerda, vem a fortaleza, tendo a seu lado a forca e, ao fundo, a Igreja de São Sebastião. No primeiro plano, um pequeno forte, ao pé do Morro do Castelo

1855 Vista do Morro do Castelo Vitor Meirelles É um dos vários estudos realizados por Meirelles que restam do seu projeto Panorama do Rio de Janeiro. Aqui o Morro do Castelo é visto de poente, provavelmente num posto de observação localizado no Morro de Santo António, também ele entretanto desmontado. É um ponto de vista inusitado, em que se vê a relação entre o morro fundacional da cidade com o seu desenvolvimento pela várzea, o chão que hoje constitui o centro

1755 Perspectiva da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro A perspectiva mostra, a partir da esquerda, a área conhecida como Ponta do Calabouço, tendo à sua direita o hospital e a Igreja da Misericórdia. Segue-se o Morro do Castelo, no qual se vê o Colégio dos Jesuítas, tendo à frente o seu monta-cargas (guindaste), algumas casas e o Forte do Castelo. Ao fundo, a Igreja de Santa Teresa (8). Na mesma direcção, junto à praia, o Palácio dos Governadores (11), tendo ao fundo o convento e a Igreja do Carmo (12). À sua direita, e mais ao fundo (16 e 17), o convento e a Igreja de Santo António, com a capela da Ordem Terceira. A seguir, vemos a igreja e o mosteiro de São Bento (27) e, à sua frente, mais afastado, o Forte da Conceição (26) e o Palácio do Bispo (25). Os morros ao fundo não correspondem à topografia real, mas os edifícios são correctamente representados, dando-nos uma imagem muito exacta da cidade

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1750 Carta Topográfica da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro André Vaz Figueira Durante o governo de Gomes Freire de Andrade (1733-1763) foi realizado um levantamento, que resultou na planta elaborada pelo capitão André Vaz Figueira, que nos mostra a cidade com sua área construída muito ampliada, ultrapassando, pela parte dos fundos, os limites dos muros que haviam sido construídos segundo os planos do brigadeiro João Massé

1711 Planta representando a baía, as fortalezas e o dispositivo do ataque ao Rio de Janeiro De La Grange A cidade é vista à esquerda, acima do quadro da legenda. Entre a massa verde do Morro do Castelo, onde a cidade foi fundada, uns poucos quarteirões edificados. A seguir, a Fortaleza do Castelo e a Igreja de São Sebastião. Mais acima, os quarteirões da cidade junto à praia, com forma geométrica mais regular, tendo aos fundos as áreas alagadas e, no outro extremo da praia, o Morro de São Bento

1714 Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro João Massé O desenho mostra-nos a primeira planta da cidade do Rio de Janeiro já com padrões de representação correspondentes às técnicas actuais. O casario amplo avança após a praia, em direção a Santo António. A cidade aparece murada pela parte dos fundos, entre os morros do Castelo e da Conceição, nos limites da área urbana. Pelo lado da praia, são indicadas algumas linhas de fortificação. No alto dos morros, as duas grandes fortalezas do Castelo e de Conceição parecem constituir a base da defesa da cidade, juntamente com os fortes da Ilha das Cobras e de Santiago, no limite leste da cidade. A Casa do Governador não ficava no local em que depois foi construído o novo palácio pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim. Nessa época, o local ainda era ocupado pela Casa da Moeda, indicada com a letra H, e pelos armazéns reais, indicados com a letra G. A Casa do Governador ficava pouco adiante, indicada com a letra L, junto à praia

1760 Perspectiva da Cidade do Rio de Janneiro Miguel Angelo Blasco O desenho mostra a cidade em perspectiva, a partir do mar, tendo à sua direita a Igreja de São Bento e à esquerda a entrada da baía. Vemos a Ilha das Cobras e, sobre o Morro do Castelo, a igreja dos jesuítas. O trabalho mostra em detalhes as edificações mais simples, como os sobrados e armazéns junto ao porto, com as suas urupemas (esteiras de sombreamento) sobre as janelas e balcões de madeira, bem como o plano inclinado do Mosteiro de São Bento, as instalações portuárias com seus montacargas accionados por escravos, um estaleiro e, ao centro, o Palácio dos Governadores

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