Royalties sobre a produção marítima de hidrocarbonetos: ausência de periculum in mora

July 18, 2017 | Autor: Ricardo Perlingeiro | Categoria: Direito Processual Civil, Royalty, Petroleo, Medidas cautelares, Direito do Petróleo e Gás
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Agravo de Instrumento - Turma Espec. III - Administrativo e Cível Nº CNJ : 0101997-43.2014.4.02.0000 (2014.00.00.101997-3) RELATOR : ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES AGRAVANTE : MUNICIPIO DE CARAUBAS ADVOGADO : WILSON RAMALHO CAVALCANTI NETO E OUTROS ANP - AGENCIA NACIONAL DE PETROLEO, GAS NATURAL E AGRAVADO : BIOCOMBUSTIVEIS PROCURADOR : PROCURADOR FEDERAL ORIGEM : 06ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01174682520144025101)       VOTO-­VISTA   A G R A V O   D E   I N S T R U M E N T O .   M U N I C Í P I O   D E   C A R A Ú B A S . PAGAMENTO  DE  ROYALTIES.  PEDIDO  DE  ANTECIPAÇÃO  DE  TUTELA.  PERICULUM  IN  MORA  NÃO  CONFIGURADO.  POSSIBILIDADE  DE  DANO INVERSO. 1.  Agravo  de  instrumento  contra  a  decisão  denegatória  de  tutela  antecipada, objetivando  o  agravante  receber  o  pagamento  mensal  de  royalties,  na  forma  do art.  27,  §  4º,  da  Lei  nº  2.004/53,  à  razão  de  0,5%  (meio  por  cento),  sobre  a produção  marítima  de  hidrocarbonetos. 2.  É  considerada  irreparável  a  lesão  a  direito  se  a  compensação  pecuniária,  não for  capaz  de  restabelecer  plenamente  a  situação  a  quo.  A  iminência  do  risco  de dano  irreparável  é  caracterizada  em  função  do  tempo  -­  regular,  mas  insuficiente  -­ para  a  conclusão  do  processo  principal  ou  para  a  execução  da  decisão correspondente,  buscando-­se,  em  última  análise,  proteger  o  efeito  prático  da sentença  na  eventualidade  de  uma  possível  procedência  do  pleito  judicial. 3.  Os  recursos  pleiteados  pelo  agravante  jamais  integraram  o  orçamento municipal,  razão  pela  qual  o  indeferimento  da  tutela  antecipatória  não  teria  o condão  de  comprometer  o  custeio  do  funcionalismo  municipal  nem  de  impedir  a prestação  dos  serviços  públicos  de  primeira  ordem  (saúde,  educação,  segurança, etc.),  e  tampouco  de  paralisar  ações  governamentais  estabelecidas  em  prol  da população. 4.  Presente  a  possibilidade  de  um  dano  inverso  na  medida  em  que  o  acatamento da  pretensão  liminar  repercutiria  na  distribuição  dos  royalties  entre  os  municípios beneficiários,  reduzindo  o  repasse  da  verba,  fato  que  poderia,  em  tese,  dificultar ou  até  mesmo  impossibilitar  o  cumprimento  de  compromissos  assumidos  por esses  entes. 5.  Agravo  de  Instrumento  não  provido.       O  EXMO.  SR.  DESEMBARGADOR  FEDERAL  RICARDO  PERLINGEIRO:    

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Não  obstante,  no  caso  concreto,  não  vislumbro  prejuízo  relevantes  ao  alegado  direito  da parte  Impetrante  que  justifique  o  sacrifício  do  contraditório,  nem  identifico,  com  a postergação  da  análise  da  medida  liminar,  prejuízo  à  efetivação  do  processo.

  O  município,  ora  agravante,  interpôs  o  presente  recurso,  aduzindo  que  se  encontra  em  estado  de emergência,  conforme  reconhecido  pelo  Decreto  Estadual  nº  24.209/2014,  editado  pelo  Estado  do  Rio Grande  do  Norte,  razão  pela  qual  o  retardo  da  prestação  jurisdicional  acarretaria  dano  irreparável  e  de difícil  reparação.   Acrescenta  que  a  notória  queda  do  FPM  (Fundo  de  Participação  dos  Municípios)  agrava  a  situação dos  municípios,  evidenciado  o  periculum  in  mora.   Alega,  ainda,  que  deveria  ser  enquadrado  no  rol  dos  beneficiários  da  participação  financeira correspondente  a  0,5%  (meio  por  cento)  da  produção  marítima,  por  ostentar  instalações  terrestres  de embarque  e  desembarque  de  óleo  bruto  e  gás  natural  e,  ao  mesmo  tempo,  integrar  a  zona  de  produção marítima.   Em  seu  voto,  o  MM.  Relator  deu  parcial  provimento  ao  recurso  para,  em  sede  de  antecipação  dos efeitos  da  tutela,  determinar  o  depósito  judicial  do  valor  dos  royalties  oriundos  da  plataforma  continental, no  percentual  de  0,5%  (meio  por  cento),  conforme  determinado  pelo  artigo  §  4º,  do  artigo  27,  da  Lei  nº 2.004/53,  com  redação  dada  pelo  artigo  7º,  da  Lei  7.990/89.   O  magistrado  entendeu  que  não  poderia  a  ANP  (Agência  Nacional  de  Petróleo,  Gás  Natural  e Biocombustíveis)  interpretar  restritivamente  as  Leis  nº  7.990/89  e  9.478/97,  bem  como  o  Decreto  nº  01/91, posto  que  as  normas  não  fariam  restrições  quanto  à  origem  dos  hidrocarbonetos  transportados  nas instalações  de  embarque  e  desembarque  terrestres  ou  marítimas,  se  originários  da  lavra  em  mar  ou  em terra,  como  critério  de  distribuição  dos  royalties.   Em  relação  à  presença  do  periculum  in  mora,  consignou  o  julgador  que  a  existência  de  diversas interpretações  judiciais  sobre  o  tema  evidenciaria  o  risco  de  difícil  reparação  do  dano  para  qualquer  das partes  -­  seja  para  a  efetivação  do  direito  do  agravante,  em  caso  de  eventual  procedência  de  seu  pedido,  seja para  a  agravada,  em  caso  de  ressarcimento  dos  valores  eventualmente  antecipados.   Vieram  os  autos  para  vista.   É  o  breve  relatório.   O  fumus  boni  iuris  compreende  uma  probabilidade  -­  inerente  a  toda  cognição  sumária  -­  quanto  à procedência  das  alegações  fáticas  e  jurídicas  do  demandante,  não  apenas  no  que  diz  respeito  ao  direito material  em  si,  mas  também  ao  próprio  periculum  in  mora  e  à  prevalência  do  interesse  do  demandante sobre  o  interesse  público.   Sobre  o  periculum  in  mora,  é  considerada  irreparável  a  lesão  a  direito  se  a  compensação  pecuniária, por  si  só,  não  for  capaz  de  restabelecer  plenamente  a  situação  a  quo.  A  iminência  do  risco  de  dano irreparável  é  caracterizada  em  função  do  tempo  -­  regular,  mas  insuficiente  -­  para  a  conclusão  do  processo principal  ou  para  a  execução  da  decisão  correspondente,  buscando-­se,  em  última  análise,  proteger  o  efeito prático  da  sentença  na  eventualidade  de  uma  procedência  do  pleito  judicial.   No  caso  vertente,  sustentou  o  agravante,  em  síntese,  que  o  risco  de  dano  irreparável  ou  de  difícil

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Trata-­se  de  agravo  de  instrumento  interposto  em  face  de  decisão  que  indeferiu  o  pedido  de  tutela antecipada  formulado  pelo  município  de  Caraúbas,  nos  autos  da  Ação  Ordinária  0117468-­ 25.2014.4.02.5101,  objetivando  receber  o  pagamento  mensal  de  royalties,  na  forma  do  art.  27,  §  4º,  da  Lei nº  2.004/53,  à  razão  de  0,5%  (meio  por  cento),  sobre  a  produção  marítima  de  hidrocarbonetos.   O  juiz  a  quo  indeferiu  o  pedido  de  concessão  de  liminar  inaudita  altera  pars,  sob  o  seguinte fundamento:  

Note-­se,  outrossim,  que  a  alteração  do  atual  sistema  de  distribuição  de  royalties  oriundos de  plataforma  continental  poderia  implicar  em  periculum  in  mora  reverso,  tendo  em  vista que  haveria  redução  de  aporte  a  diversos  municípios  que  já  percebem  a  pretendida parcela  de  royalties,  o  que,  eventualmente,  resultaria  em  comprometimento  de  programas governamentais  daqueles  municípios.

  Conclui-­se,  portanto,  que  não  merece  reparo  a  decisão  recorrida,  a  uma  porque  não  se  encontra caracterizado,  no  caso  concreto,  o  alegado  periculum  in  mora,  e  a  duas  porque  a  concessão  da  medida liminar  poderia,  em  tese,  acarretar  um  dano  inverso.   Ante  o  exposto,  pedindo  vênia  ao  MM.  Relator,  NEGO  PROVIMENTO  AO  AGRAVO.   É  como  voto.       RICARDO  PERLINGEIRO   Desembargador  Federal  

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reparação  se  evidencia  em  razão  da  redução  da  arrecadação  das  receitas  municipais,  motivada  pela  queda do  FPM.  Prosseguiu  aduzindo  que  “inversamente  à  queda  de  receitas  constitucionais  e  tributárias,  os Municípios  amargaram  um  aumento  súbito  no  piso  salarial  para  o  magistério  e  o  aumento  do  salário mínimo,  além  da  inflação  em  níveis  considerados  altos”,  fatos  que  consolidariam  a  urgência  do  pedido.  Por fim,  ressalvou  a  caótica  situação  pela  qual  passariam  os  municípios  do  interior  do  Rio  Grande  do  Norte, em  razão  da  forte  estiagem,  que  impôs  situação  emergencial  de  seca,  exigindo  ações  sociais  imediatas  por parte  dos  entes  municipais,  em  apoio  à  população  afetada.   Em  que  pese  a  relevância  de  tais  argumentos,  impende  destacar  que  os  recursos  pleiteados  pelo agravante  jamais  integraram  o  orçamento  municipal,  razão  pela  qual  o  indeferimento  da  tutela antecipatória  não  tem  o  condão  de  comprometer  o  custeio  do  funcionalismo  municipal  nem  de  impedir  a prestação  dos  serviços  públicos  de  primeira  ordem  (saúde,  educação,  segurança,  etc.),  e  tampouco  de paralisar  ações  governamentais  estabelecidas  em  prol  da  população.   Nesse  ponto,  vale  destacar  que  o  próprio  relator,  em  seu  voto,  consignou  que  não  obstante  a alegação  da  agravante  de  que  se  encontra  em  decretada  situação  de  emergência,  “o  que  se  observa  dos documentos  que  instruem  o  presente  agravo,  é  que  o  Decreto  2.382/92,  de  março  de  2014  (publicado  em 25/03/2014  -­  fl.  50),  possuía  validade  de  180  dias,  contados  de  sua  publicação,  a  qual  se  expirou  em 25/09/2014.  Além  disso,  não  restou  comprovada  nos  autos  a  afirmação  de  que  houve  queda  do  FPM.”   Ademais,  é  preciso  estar  atento  ao  denominado  “periculum  in  mora  ao  inverso”.  No  caso  em questão,  a  concessão  da  tutela,  certamente,  repercutiria  na  distribuição  dos  royalties  entre  os  municípios beneficiários,  reduzindo  o  repasse  da  verba,  fato  que  poderia,  em  tese,  dificultar  ou  até  mesmo impossibilitar  o  cumprimento  de  compromissos  já  assumidos  por  esses  entes.   Embora  haja  o  agravante  sustentado,  à  fl.  127,  que  a  sua  entrada  no  rol  de  beneficiários  não  traria qualquer  prejuízo  para  os  demais  estados  da  federação,  não  trouxe  aos  autos  elementos  informativos capazes  de  demonstrar  tal  alegação.  Não  há  indicação  acerca  do  valor  que  seria  reduzido  da  cota  dos demais  municípios  atualmente  contemplados  com  os  royalties,  nem  existe  identificação  a  respeito  do montante  (em  moeda  corrente)  pretendido  na  ação  originária  ou  onde  seriam  esses  recursos especificamente  aplicados.   Desse  modo,  em  cognição  sumária,  é  possível  sustentar  a  presença  de  um  dano  inverso,  na  medida em  que  a  concessão  de  um  provimento  emergencial  poderia  se  tornar  uma  fonte  de  dano  injusto  aos  demais municípios  contemplados  com  a  distribuição  dos  royalties.   Em  relação  à  questão,  vele  transcrever  o  seguinte  trecho  do  voto:  

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