São Bernardo: Estado Novo, Rebaixamento e Emancipação

July 11, 2017 | Autor: C. Sampaio Burgos... | Categoria: Historia, História do Brasil, Historia Regional, II Guerra Mundial
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UNIVERSIDADE DO GRANDE ABC Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias

São Bernardo: Estado Novo, Rebaixamento e Emancipação.

TCC apresentado para avaliação da disciplina Pesquisa Científica II do Curso de História Licenciatura Plena da Universidade do Grande ABC.

Santo André 2007

UNIVERSIDADE DO GRANDE ABC Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias

São Bernardo: Estado Novo, Rebaixamento e Emancipação.

TCC apresentado para avaliação da disciplina Pesquisa Científica II do Curso de História Licenciatura Plena a Professora Angelica Höffler.

Santo André 2007

Dedicatória

Dedico esse trabalho aos meus pais que como já disse anteriormente me deram à estrutura necessária para que isso acontecesse. Dedico também aos amigos novos que conheci na faculdade, desde aqueles que tiveram que nos abandonar pelo caminho por dificuldades, há também os que conheci pela mesma caminhada e os que chegaram ao objetivo final. Aos professores também fica a gratidão, assim como aqueles que contribuíram no período de estágio. Dedico a todos, porém os especiais ficarão guardados na memória, o tempo há de lembrar deles.

Agradecimentos

Agradeço a todos que contribuíram com esse TCC. Desde as contribuições diretas até as indiretas, incluindo principalmente as dificuldades ao longo desses 3 anos de curso. Dificuldades não ligadas especificamente ao TCC, mas ao cotidiano em si. Dificuldades que só ajudaram na construção deste TCC, que por momentos serviu de válvula de escape. Sendo assim, os agradecimentos eu faço a todos que conheço, a vida e as relações dela, são bem mais complexas que um simples trabalho acadêmico. Mas existem os agradecimentos em especial. Com certeza começando pelos meus pais que deram a estrutura necessária para que eu chegasse onde cheguei. Depois aos colegas de sala, aos colegas de curso, principalmente ressaltando aqueles que deixaram de ser colega e passaram a amigo, assim como professores. Agradecer mesmo, eu devo a aqueles que me aturaram nesses três anos de faculdade, sendo dela ou não. Para os que não aturaram, uma saudação!

1 Resumo

Este Trabalho, São Bernardo: Estado Novo, Rebaixamento e Emancipação, busca focar os processos de rebaixamento e emancipação de São Bernardo do Campo. Porém não idealizado nos grandes emancipadores, saudando-os, e sim fazendo uma relação com o Estado Novo, levando em conta as particularidades da cidade e apresentando aspectos nacionais e internacionais que influenciaram nesses processos, como a censura à imprensa através do DIP e a Segunda Guerra Mundial. Sendo essa guerra capaz de influenciar muitos países, dentre eles o Brasil que vivia uma ditadura que mandava e desmandava nos país, porém sempre influenciada por interesses econômicos dos seus parceiros comerciais que se sobrepunham aos interesses gerais da nação. São Bernardo deixou de ser sede da cidade quando sua economia não se equivalia a de Santo André, e se emancipou quando empresários se organizaram e colocaram na figura de Wallace Simonsen a missão de tornar São Bernardo cidade novamente.

Palavras Chaves: Estado Novo; Rebaixamento e Emancipação de São Bernardo; II Guerra Mundial

Sumário

Introdução .....................................................................................................................................1 Antecedentes Históricos de São Bernardo ...................................................................................2 1-) Estado Novo ............................................................................................................................4 1.1-) Panorama .............................................................................................................................4 1.1.2-) A entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial ........................................................................6 1.2-) D.I.P – Departamento de Imprensa e Propaganda ..............................................................8 1.3-) Sindicatos ...........................................................................................................................10 2-) Rebaixamento e Cultura de Massas......................................................................................12 2.1-) Rebaixamento.....................................................................................................................12 2.2-) Rivalidades .........................................................................................................................13 2.3-) Uma reflexão sobre “batateiros e ceboleiros” ....................................................................14 3-) O Estado Novo em São Bernardo .........................................................................................16 3.1-) As primeiras mudanças ......................................................................................................16 3.2-) Começa a II Guerra Mundial ..............................................................................................18 3.3-) Comunistas no ABC ...........................................................................................................21 4-) A Emancipação .....................................................................................................................24 4.1-) 1943....................................................................................................................................24 4.2-) 1944....................................................................................................................................32 4.3-) Fim do Estado Novo e da II Guerra Mundial ......................................................................39 Considerações Finais .................................................................................................................42 Anexos ........................................................................................................................................46 Referências Bibliográficas ..........................................................................................................48

1 Introdução

São Bernardo: Estado Novo, Rebaixamento e Emancipação vêm mostrar os processos pelos quais São Bernardo passou até se tornar cidade efetivamente como conhecemos hoje. O trabalho busca desenvolver um tema pouco abordado dentro da historiografia regional devido à dificuldade de informações no período do Estado Novo, e principalmente contrastando com a historiografia oficial da cidade que trata o tema superficialmente. Como fonte de pesquisa além de livros que abordavam contextos gerais ou memórias, utilizei jornais de época. Boa parte da pesquisa foi realizada no Acervo Público de São Bernardo do Campo e no Arquivo Público do Estado de São Paulo. O trabalho aborda no primeiro capítulo temas gerais do Estado Novo para situar a pesquisa em um contexto nacional. Já o segundo capítulo mostra o processo de rebaixamento pelo qual passou a cidade e algumas características da população. O terceiro capítulo aborda a cidade de Santo André no contexto do Estado Novo, com suas influências, assim como as da II Guerra Mundial. O quarto capítulo começa a fazer um desfecho para o fim da guerra, do Estado Novo e a conquista da emancipação por parte de São Bernardo. Ao final as considerações e um anexo com alguns discursos de Wallace Simonsen.

2 Antecedentes Históricos

João Ramalho estabeleceu nas proximidades do Planalto Piratininga, entre 1500 e 1510, um povoado denominado Borda do Campo. Em 1532 foi fundada a capitania de São Vicente e Martin Afonso logo reconhecendo a importância geográfica oficializou o povoado de Santo André da Borda do Campo. Em 25 de janeiro de 1554, o padre Manoel da Nóbrega rezou a missa no Páteo do Colégio, o que deu origem a fundação da cidade de São Paulo. Com medo dos ataques indígenas a Câmara Municipal de Santo André da Borda do Campo e sua população foram transferidos para junto do Páteo do Colégio. Por um longo tempo Santo André ficou abandonada, sendo somente em 1735 construída pelos mercadores que ali passavam, uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem, onde faziam suas paradas e orações. Em 1812, o Marquês de Alegrete elevou a localidade à categoria de freguesia, dandolhe o nome de São Bernardo, em referência a uma fazenda ali existente que pertencia aos monges Beneditinos. São Bernardo nasceu nas imediações do local da antiga vila de Santo André da Borda do Campo. Com a passagem da São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí), a localidade tomou impulso sendo procurada por novos moradores. Quando se desmembrou de São Paulo e se tornou município em 1889, São Bernardo englobava em seus limites toda a região do atual ABC Paulista.

Antecedentes da Emancipação

A sede do Município se localizava inicialmente na Rua Marechal Deodoro, num antigo casarão que se encontrava onde atualmente está a Praça Lauro Gomes, depois se mudou para onde hoje funciona a Câmara de Cultura. São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires, eram nestes primeiros tempos, bairros ou distritos pertencentes ao Município de São Bernardo, assim como Santo André na época chamado Bairro da Estação. A sede da administração ficando na Vila de São Bernardo se justificava pela economia, mais desenvolvida em relação aos demais bairros ou distritos que integravam o município. Dados estatísticos datados de 1909 indicam que a Vila contribuía com a maior parcela da arrecadação municipal, com 28% do seu total, seguidos por Santo André com 20%, Ribeirão Pires com 17% e Paranapiacaba com 11%.

1

A partir de 1911, o Distrito de Santo André se favoreceu com uma lei que concedia benefícios fiscais. Com a chegada de novas empresas a preferência era dada a locais Distrito

1 Livro de Escrituração dos Impostos Municipais em 1909. Citado em Série Documentos Históricos No. 10 A Indústria. Divisão de Imprensa – Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.

3 próximos a ferrovia, para poderem escoar melhor a produção. Sendo assim o andreense começou a se desenvolver em um ritmo mais acelerado que o da Sede. Contando com indústrias de grande porte como a Rhodia e a Pirelli nos anos 30, logo o distrito se tornou mais visível que a Vila de São Bernardo. Números de 1938

2

mostram que Santo André contava com 72 estabelecimentos

industriais enquanto São Bernardo possuía 37. A superioridade econômica em relação à Vila era cada vez mais fácil de ser evidenciada, ficando cada vez mais os andreenses motivados a transferirem a sede para o Distrito. De maneira ilegal, os prefeitos já despachavam em Santo André, mesmo que oficialmente a sede do município não tivesse sido transferida. Cada prefeito buscava concentrar sua atuação nos locais aos quais era mais vinculado politicamente. Era difícil estabelecer prioridades sem desagradar a nenhum grupo político do município, uma vez que eram organizados, além de possuir distritos economicamente fortes

2 Jornal “O São Bernardo” de 28/03/1938

4 1 Estado Novo

1.1 Panorama

O golpe dado por Vargas em 10 de novembro de 1937, o chamado Estado Novo, serviu para manter o poder centrado no próprio Vargas, ampliando suas forças políticas. Esse golpe começou a ser traçado desde 1935, com a Lei de Segurança que fechou sindicatos, o partido comunista, e perseguiu presos políticos, dentre eles Luís Carlos Prestes. Essa lei foi criada após a intentona comunista e ganhou espaço com a descoberta do Plano Cohen

3.

Vargas afirmava que somente ele representava interesses nacionais, e não os regionalismos partidários dos candidatos às eleições presidenciais. Esse golpe teve apoio das Forças Armadas, uma vez que o plano de desenvolvimento das indústrias levaria o Brasil a ter um parque industrial, que por conseqüência levaria a uma maior segurança nacional, um reequipamento dessas forças, além de uma independência econômica. Com o golpe em 1937, os integralistas também foram perseguidos, censurados, presos, exilados e repreendidos junto dos comunistas, uma vez que somente esses 2 partidos tinham capacidade de mobilização nacional. Finalmente, o golpe de 1937 foi possível porque a classe média, aquele grupo social pequeno mas importante que manteria o equilíbrio em qualquer sistema de eleições livres, limitadas aos eleitores alfabetizados, estava confusa e dividida. Alguns eleitores da classe média permaneciam leais ao seu tradicional constitucionalismo liberal e depositavam suas esperanças em Armando de Sales Oliveira, na campanha de 1937. Outros, perderam esperanças no seu liberalismo e voltaram-se para o radicalismo, quer de direita, quer de esquerda. Ao fazer isso, com efeito, eles admitiam que as formulas liberais não se aplicavam mais ao Brasil e portanto estavam preparados, mesmo inconscientemente, a aceitar com poucos protestos o tipo especial de autoritarismo que Vargas impôs subitamente em novembro de 1937. (SKIDMORE, 1982 p. 51). Com o golpe o Congresso Nacional foi fechado, centralizando o poder nas mãos de Getúlio, uma vez que o legislativo representava em maioria a aristocracia: Esta falta de mediações organizatórias entre Vargas e o país, salvo a das Forças Armadas, explica a eficácia daquela representação personalista do novo regime. A ausência de mobilização política ampla que lhe servisse de base, permite que a instauração do Estado Novo apareça como um golpe de elites político-militares contra elites político-econômicas. A primeira vista, realmente, ele significa a derrota de um Legislativo, composto em boa parte por representantes das oligarquias rurais, velhas e novas, por grupos ligados a finanças e por profissionais liberais; enquanto representantes individuais, eram assim, temporariamente eliminados da vida política. (Sola, 1982 p.258) 3 O plano Cohen foi tramado pelos integralistas com o objetivo de eliminar os comunistas. Nele constava um suposto plano para dominarem o Brasil, e foi com esse documento falsificado que o PC foi fechado seguindo-se as perseguições.

5 O Estado agora deixa de ser fiscalizador e passa a regulamentador, chocando-se com os interesses liberais. Interesses atingidos diretamente pelas leis trabalhistas, que regulamentavam esses industriais e as condições de trabalho. Porém essas leis trabalhistas serviram para manter a ordem, uma vez que além da repressão, dificilmente algum trabalhador reclamaria do primeiro presidente a conceder direitos a eles, como a fixação de um salário mínimo e a criação do instituto de previdência, por exemplo. E com esse argumento ganhou apoio de muitos industriais, que deixaram de ter problemas com greves e sindicatos. Surge então o trabalhismo que foi implementado no Brasil a princípio pelos industriais 4

paulistas, a principal figura era de Roberto Simonsen, irmão de Wallace Simonsen . Esse trabalhismo foi a organização racional do trabalho, organização cientifica, que se deu através do Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT). O IDORT incentivava a criação de escolas profissionalizantes nas fábricas. Tinha por objetivo formar profissionais que 5

dialogassem desde o “chão de fábrica” até com os engenheiros e técnicos . Esse trabalho industrial era conduzido por determinados princípios racionais: Trabalhador bem formado, era melhor preparado para o ofício, e mal formado para política, pois ocupava seu tempo com estudos apenas técnicos. Porém houve vezes em que esses estudos se voltaram contra o Vargas, uma vez que o plano liberal começava a ser implementado e em nada o agradava. (...) Daí os cursos especializados, teóricos e práticos, as escolas técnicas como as do SESC e SENAI – que são realmente obras másculas que caberia ao Estado superintender, mas que foram organizadas, por contradição, pelos dirigentes da indústria e do comércio. Isso, sim, devia ser a idéia, o pensamento, a obra culminante do governo trabalhista de Getúlio Vargas e no entanto se tornou idéia e obra de uma burguesia esclarecida, adiantada, progressista, compreensiva, verdadeiramente nacionalista, que criou não só aqueles organismo, mas ainda Vilas Operárias, Cooperativas de Gêneros de Consumo, Creches, Colônias de Férias, Casas de Recreio e Estudo e outras mais que, se não são uma solução, são contudo meios de ir melhorando a amenizando a vida dos trabalhadores e tornando-lhes a existência menos árdua, menos preocupada com os problemas domésticos e culturais. (Dias, 1977, p.213-214)

Esse ensino profissionalizante acabou contribuindo para despolitizar as fábricas, uma vez que esses operários começam a se dividir em classes e acabaram perdendo suas características.

4 Banqueiro e empresário, um dos responsáveis pela emancipação de São Bernardo 5 José de Souza Martins, IX Congresso de História do Grande ABC.

6 A ideologia trabalhista tinha por objetivo aproximar a classe trabalhadora do presidente Getúlio Vargas, fazendo dele uma figura carismática através do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Essa figura passou a ser construída dentro do Ministério do Trabalho a partir de 1942. Essa política estadonovista aumentou o poder do governo federal, uma vez que até 1930 os estados eram mais livres para negociarem seus interesses, com o Estado Novo esse poder concentrou-se ainda mais no âmbito federal: Estados como São Paulo, por exemplo, estavam habituados a negociar diretamente empréstimos estrangeiros, a serem utilizados para melhoramentos tais como ferrovias e portos, ou para financiamento do programa de proteção do café. (SKIDMORE, 1982 p. 55) A abolição dos impostos interestaduais, por exemplo, tendo em vista a integração do mercado interno e a padronização do sistema tributário eliminou as liberdades dos Estados na manipulação de fontes de recursos financeiros, prática esta advinda de longa tradição da República oligárquica. Nesse período Vargas encontrou pouca oposição ao seu governo, tendo a situação alterada apenas com a entrada do Brasil na guerra: Os liberais e os elementos da oligarquia oposicionista ou ficam em silencio, observando os acontecimentos, ou agem em aliança com o integralismo (...) a oposição representada por liberais e oligarquia oposicionista, no inicio é mais representativa pelo esforço no estrangeiro do que por ações internas. Cabe aos comunistas papel mais significativo na oposição ao Estado Novo (...) Em 1940 e 1941 (...) subsiste a idéia de um longo e duradouro reinado getulista, Mas fatores externos começam a interferir na política brasileira, forçando condições que ajudam a reverter a tendência dominante, isto é, a da paz interna. (CARONE, 1991 p.310) Em 1940 surge a Comissão do Plano Siderúrgico Nacional, com o objetivo de construir no Brasil uma indústria siderúrgica que levasse o Brasil ao seu desenvolvimento. E em 1941 criasse a CSN (Comissão Siderúrgica Nacional) que obteve financiamento junto dos Estados Unidos para a sua construção.

1.1.2 A entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial

Medida que o governo Roosevelt foi deixando de lado a neutralidade diante da guerra, passou a ter como objetivo conseguir a ruptura das relações comerciais de todos os países americanos com os países do “eixo”, e por conseqüência disso o Brasil foi se afastando cada vez mais da Alemanha. Este alinhamento aos aliados deu-se efetivamente quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do eixo, em conseqüência ao ataque a navios brasileiros. Assim devido a pressões internas, dos estudantes que viam nisso uma oportunidade para criticar o

7 governo e a ditadura, e também de outros setores internos, mas principalmente pela pressão estadunidense, o Brasil declarou estado de guerra contra Alemanha, Itália e Japão. Vargas usou a ocasião do esforço de guerra para elaborar uma política de industrialização, objetivo para o qual se encaminhava desde 1937... (SKIDMORE, 1982, p. 68) Porém o que ocorreu no Brasil foi uma modernização conservadora (SOLA, sd.) termo vindo da ambigüidade em que o processo de industrialização estava inserido. Ao ponto que essa industrialização de moldes liberais possibilitava uma maior independência econômica; essa mesma industrialização chocava-se com o liberalismo, uma vez que foi um projeto antidemocrático, que concentrava o poder no Estado. Mesmo sendo antiliberal essa modernização se deu com a 2ª Guerra Mundial, uma vez que os países desenvolvidos que participavam da guerra transformaram suas indústrias em indústrias

bélicas. Sendo assim, as indústrias brasileiras precisaram se desenvolver para

atender o mercado interno. Assim, essa modernização atendeu aos industriais, que por sua vez precisavam do capital da agricultura; então se deu uma modernização conservadora que não conseguiu romper com a antiga política; de exportação de matérias-primas e exploração da mão-de-obra rural. A intervenção do governo federal na economia brasileira, se bem que já estivesse explicada em termos de nacionalismo econômico e defesa militar, foi grandemente acelerada pela Segunda Guerra Mundial. A entrada formal do Brasil na guerra, em 1942, deu oportunidade a um esforço de mobilização econômica em escala total, sob direção de João Alberto, o antigo tenente e interventor em São Paulo. A necessidade óbvia de matérias primas e bens manufaturados, vitais para o esforço de guerra, deu nova importância ao programa do governo Vargas, de empresas financiadas pelo Estado. (SKIDMORE, 1982, p. 67) Como os grandes países desenvolvidos que importavam matéria-prima e exportavam bens manufaturados estavam em guerra, a economia global se alterava. No caso brasileiro, o café, grande produto exportado, caía em quantidade e se desvalorizava, ou seja, menos dinheiro para o país. Além disso, as indústrias desses países agora produziam armas e afins ao invés dos bens manufaturados. Conseqüência: o Brasil precisou diversificar sua produção agrícola, por necessidades de subsistência. O Estado criou institutos para proteção do café, do algodão e outros mais. No caso industrial foi necessário o desenvolvimento de indústrias que descem conta do mercado interno. Essas novas indústrias passaram a consumir matéria-prima interna, gerando um protecionismo conjuntural. O Estado Novo acabou com as taxas de impostos interestaduais, confirmando traços nacionalistas da constituição de 1937. O crescimento da responsabilidade estatal no setor econômico não resultou de exigência popular, nem de pressão trazida a tona pelo setor empresarial; foi, antes, a reação da elite política. O único grupo importante que amparou maciçamente a industrialização foi constituído pelos militares superiores, que

8 desejam urgentemente uma indústria siderúrgica. (SKIDMORE, 1982, p. 70) Efetivamente a participação brasileira se deu no apoio aos Estados Unidos e a todos os países americanos. Em troca desse apoio e de espaços nas bases militares do nordeste, os norte-americanos financiaram a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, e ajudaram as nossas Forças Armadas a se reestruturarem. Se por um lado esse apoio dos Estados Unidos favoreceu o desenvolvimento das nossas indústrias, por outro lado a ditadura do Estado Novo começava a romper. Como um governo que lutava contra as ditaduras nazi-fascistas iria governar através de outra ditadura? Pressões começaram de todos os lados, desde os estudantes até os industriais e a velha oligarquia. Mas enquanto a guerra continuasse, Vargas se perpetuaria no poder, uma troca de governo não seria interessante aos Estados Unidos. O DIP passou a influenciar os brasileiros com os costumes norte-americanos, esse atrelamento começava a ser evidente, e tão logo, a democracia deles, junto do seu liberalismo econômico, pressionariam a queda de Vargas e o fim do Estado Novo. 1.2-) D.I.P – Departamento de Imprensa e Propaganda

A responsabilidade pela construção de um novo imaginário foi imputada sobretudo ao Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criado em dezembro de 1939 por decreto presidencial nº 1915 e que se tornou responsável pela oficialização da censura aos órgãos de comunicação, alem de difundir a ideologia do Estado Novo junto às camadas mais populares da sociedade. Mais do que isto, coube ao DIP indicar os diretores dos meios de comunicação, geralmente convocados entre os oficiais das Forças Armadas e do Ministério da Justiça. Era de responsabilidade do DIP: a propaganda, radiofusão, cinema e teatro, o turismo e a imprensa. Centralizava a propaganda interna e externa, censurava-as. Existiam os DEIP’S, órgãos estaduais filiados ao DIP. Essa estrutura que permitia ao governo controlar as informações e censurar a vida cultural e política do país. Entre os anos de 1940 e 1941, Vargas estabeleceu uma rede midiática sob seu direto 7

controle; o DIP fundou o jornal A Manhã , voltado às camadas urbanas e a revista Cultura 8

Política, esta endereçada a um público mais elitizado . A comunicação tornara-se parte vital da sustentação da ideologia getulista, que censurava outros jornais mais, além dos próprios meios. 7 “XADREZ PARA MULHERES VADIAS - A Campanha moralizadora da delegacia de costumes tem dado bons resultados. A campanha determinada pelo Sr. Acácio Nogueira, secretário de segurança Pública, que, há meses vem sendo posta em prática pelo Sr. Hernani Ferreira Braga, delegado de fiscalização de Costumes, está produzindo dia a dia melhores resultados. Vêm sendo detidas as mulheres vadias, que, perambulando pelas ruas da cidade, ou estacionando as portas dos botequins, promovem cenas escandalosas. Os exploradores de crendice popular, como os macumbeiros, os curandeiros e as cartomantes, que não raro, se enriquecem a custa da ignorância de gente humilde,, vêm passando por severa vigilância, sendo presos e processados quando pilhados em falta.” Reportagem retirada do jornal ‘A Noite’, do dia 02 de novembro de 1942 demonstra como o DIP praticava a censura: criminalizando as pessoas que não se enquadravam dentro da ordem e da ética imposta a sociedade. 8 A comunicação social visava atingir também as classes dominantes. Era preciso neutralizar a oposição da oligarquia agro-exportadora e das classes médias aliadas, que não viam com bons olhos a centralização e o autoritarismo estadonovistas e, principalmente, a ingerência estatal na vida econômica do país. (Goulart, 1990, p.18).

9 A uniformização das notícias por parte da imprensa escrita era garantida pela Agência Nacional, que através do DIP distribuía gratuitamente as matérias. A rádio Nacional também foi um importante veiculo de comunicação com as massas, buscou difundir seu uso nas escolas e nos estabelecimentos agrícolas e industriais, de modo a promover a cooperação entre a União, os estados, os municípios e particulares. O programa oficial "Hora do Brasil" era transmitido para todo o território nacional.

Logo após sua

incorporação pelo governo federal, a emissora acompanhou a guinada de Vargas em prol dos aliados, passando a partir de então a divulgar em seus programas a ideologia norte-americana. Outro forte elemento que caracterizou a “norte-americanização” da emissora deu-se em 1941, com o radiojornal Repórter Esso. Financiado pela Standard Oil Company of Brazil, a Esso, pertencente a família Rockefeller, o noticiário era produzido pela agencia de publicidade McCann-Erickson, responsável pela conta da petrolífera, em associação com a United Press International (UPI). Com a anuência nunca explicitada do governo brasileiro, o Repórter Esso, apresentado desde 1944 pelo gaúcho Heron Domingues, formatava as noticias em conformidade com os interesses yankees, censurando tudo que não fosse de interesse dos Estados Unidos, o que incluía qualquer noticia que fosse contrária aos objetivos econômicos da empresa patrocinadora do programa de noticias. (Bruno Filho, 2005 p.43-45) O DIP conseguia muito bem censurar interesses políticos internos que divergissem com os do governo federal, porém quando se tratava de assuntos externos nem sempre era possível manter o controle, principalmente quando eram de interesse norte-americano. A autonomia da McCann-Erickson e da UPI em produzir o repórter ESSO era tal que, durante a campanha de nacionalização do petróleo, Getúlio Vargas não teve poder suficiente para censurar o radiojornal, que simplesmente não divulgava qualquer informação sobre o assunto, obviamente defendendo os interesses da empresa que o patrocinava. (Ferrareto, 2001, b:7) Em julho de 1942 eclode uma crise política interna no governo envolvendo os principais nomes dele, devido às disputas de correntes simpáticas à Alemanha ou Estados Unidos. O Brasil cada vez mais se atrelava economicamente aos Estados Unidos. A crise teve seu estopim com uma passeata anti-nazista promovida pela UNE (União Nacional dos Estudantes). Em agosto o Brasil declara guerra ao ‘eixo’, com isso Lourival Fontes deixa o comando do DIP, que passa a ser exercido pelo major Coelho dos Reis, indicado pelo general Dutra. As publicações do DIP ganham nova cara, passa a se difundir uma cultura militar que visava garantir a “Defesa Nacional”. (Gomes, 1999) No dia 10 de novembro o jornal “A Noite” fala do brilhantismo das comemorações no Rio de Janeiro, em referência aos 5 anos do golpe do Estado Novo. A Praça da Sé em São Paulo também se encheu de multidões que aguardaram pelos festejos. Nesse mesmo dia iniciou-se uma campanha de venda de um bônus interno, que tratava de obrigações de guerra,

10 nada mais era do que um empréstimo feito ao governo. As pessoas comprovam esse bônus e resgatariam o valor somente após a guerra. Além disso, tratam na mesma edição do recuo de Hitler em Stalingrado, e tão logo começam a temer os soviéticos e propagandear contra os comunistas. O DIP tinha por função fazer permanecer a paz social, conciliando a política aos interesses gerais da sociedade, e a política social trabalhista era quem dava grande popularidade ao governo, propagandeada pelo DIP. A reforma Campos de 1931 (decreto n 19.890) incorporava a história do Brasil a história da civilização, com intenção de estabelecer uma estreita articulação entre o estudo do passado brasileiro e do americano. A Reforma Capanema de 1942 (Decreto n 4244) consagrou a autonomia da história e da Geografia do Brasil, justificando sua orientação pelo profundo ‘sentido patriótico’ que devia presidir todo o ensino secundário no país. (Gomes, 1999, p.159) Em 1940 foi criado o Museu Imperial em Petropólis no Rio de Janeiro e pipocaram pelo país sedes do Instituto Histórico e Geográfico. Buscava-se com isso inserir no cotidiano dos brasileiros o sentimento do nacionalismo, através do conhecimento e valorização da própria história. História essa contada pelo DIP: O DIP exercia um duplo controle: um controle autoritário proibitivo, da censura propriamente dita. E tinha o controle através da corrupção. O caso da isenção para a importação do papel da imprensa. Você importava o papel da Finlândia, do Canadá, mas tudo sob o controle do DIP. E tinha o derrame de dinheiro, que era tentador. Por exemplo, o DIP criou uma série de livros pequenos, tudo sobre o Getúlio: "Vargas e o Teatro", "Vargas e o Cinema", "Vargas e a Literatura". Pagavam um dinheirão, em termos de época. Um pobre intelectual que ganhava, vamos dizer, Cr$ 1.500,00 com a edição de um romance, eles botavam dez mil cruzeiros no bolso dele para escrever quarenta páginas sobre a coisa. Isso era um negócio terrível. Poucos resistiram. (Joel Silveira, Folha de São Paulo, 09/jan/1979) O DIP era então a maior ferramenta de sustentação do governo Vargas. Esse que sabia muito bem se utilizar da comunicação como massa de manobra. A grande repressão se dava no intelecto das pessoas, e força só legitimava essa repressão.

1.3-) Sindicatos

A partir da constituição de 1937 as greves tornam-se proibidas. Intervenções ideológicas foram feitas nesses sindicatos. Em 1939, Decreto-Lei nº 1402, aparece o enquadramento sindical, que tinha a função de aprovar ou não a criação de sindicatos. Este órgão era vinculado ao ministério do Trabalho. Nesse mesmo ano criou-se o imposto sindical, que oficializava os sindicatos, porém com o controle do Governo, onde os sindicatos tinham uma dependência política em relação ao Estado.

11 Essa estrutura corporativa completou-se e foi reforçada pela instituição do imposto sindical: o desconto compulsório da soma equivalente a um dia de trabalho, por ano, de todos os empregados; essas verbas, canalizadas pelo Ministério do Trabalho, eram através dele, distribuídas entre os sindicatos, já nessa altura renovados: dotados de aparelho burocrático e com pessoal remunerado, reuniam, por lei, as funções de cooperativas de crédito e consumo, assistência judiciária e hospitalar. Fonte de financiamentos e de benefícios reais, o imposto sindical se convertia, também, em fonte de dependência política, daquelas associações e de seus integrantes, em relação ao Estado. (Sola, 1982, p.272)

A medida possibilitou a constituição e a manutenção de sindicatos de "fachada", que passavam a não depender mais da contribuição voluntária dos associados. O governo se utilizou de muitos desses sindicatos e de seus dirigentes, os chamados pelego

9

, para

fortalecer sua base sindical. Foi dada uma feição ainda mais centralizada à estrutura sindical, uma vez que se eliminaram as centrais que reuniam diferentes categorias profissionais por município ou região em favor de uma organização de caráter vertical, em que os sindicatos de cada categoria convergiam para as federações estaduais e confederações nacionais. O Estado Novo liquidaria de vez com a autonomia sindical em 1939, proibindo a existência das associações não integradas ao sistema oficial, cujas normas mais importantes consistiam no reconhecimento de apenas um sindicato por cada profissão, que poderia ser distrital, municipal, estadual e interestadual; só excepcionalmente, e com autorização expressa do Ministério do Trabalho, se admitiriam associações nacionais. (Sola,1982, p.272)

Criada então uma relação de paternalismo entre os trabalhadores e o Governo Vargas, através desses sindicatos. Organizações de proletariados eram agora controladas e disciplinadas. Com a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Aliados, o governo do Estado Novo começou a sofrer importantes remanejamentos internos.

Procurou-se elaborar uma

estratégia para preparar o fim da ditadura, mantendo porém a força e o prestígio do presidente da República. A partir daquele momento, a política social de Vargas ganhou maior intensidade e visibilidade. Em 1945 foi criado o MUT (Movimento Unificador dos Trabalhadores), que teve como objetivos romper com a estrutura sindical vertical, retomar a luta da classe operária, liberdade sindical, fim do DIP enfim do Tribunal de Segurança Nacional.

9 A fundação dos sindicatos oficiais, a criação do imposto sindical e a política populista de Getúlio Vargas estimularam o surgimento dos pelegos. A palavra pelego, que originalmente significa a manta que se coloca entre o cavalo e a sela de montar, passou a ser utilizada para classificar os dirigentes sindicais que ficavam amortecendo os choques entre patrões e o cavalo que, no caso, era a própria classe trabalhadora. (OLIVA, 1987 p. 50).

12 2-) Rebaixamento e Cultura de Massas

2.1-) Rebaixamento

No ano de 1938 permanecia a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, não ocorriam eleições diretas para os cargos de presidente, governador e prefeito municipal. Os poderes legislativos estavam suspensos. Neste ano, durante o mandato de Décio Leite, políticos de Santo André conseguiram, através de uma articulação com o interventor Adhemar de Barros, transferir oficialmente para lá a sede da prefeitura. Adhemar de Barros, em 30 de novembro de 1938, assinou o decreto nº 9775 que rebaixou São Bernardo à categoria de Distrito e elevou Santo André a categoria de Município, assim sendo, o nome da cidade também se alterou deixando de ser São Bernardo passando a Santo André. Esse fato se deu devido a interesses políticos, ligados aos econômicos, uma vez que a região possuía as maiores indústrias da região, além de aumentar consideravelmente sua densidade demográfica em relação a São Bernardo. A grande maioria [da arrecadação era] centrada nos Distritos de Santo André e São Caetano, ao longo do rio Tamanduateí e estrada de ferro. Isso explica a pressão andreense e o rebaixamento de São Bernardo. São Bernardo que só na década seguinte ganharia a Via Anchieta (cuja primeira pista seria inaugurada em 1947) e o progresso dela decorrente. (ACISBEC, 1994 Ademir Médici p.6)

A contribuição da estrada de ferro São Paulo Railway , que ligava a capital ao porto de Santos, no período áureo do ciclo cafeeiro, adicionado a outro fator importante, a construção da represa Billings, que produzindo energia elétrica permitiu a instalação de industrias na região, foram portanto, pontos cruciais para o desenvolvimento de Santo André. Próximo às paradas dos trens foram construídas residências e instaladas algumas casas comerciais, dando origem a inúmeros núcleos populacionais. A parada denominada de São Bernardo desenvolvia-se como centro da região, conhecida como Bairro da Estação, mais tarde, Distrito de Santo André. Por sugestão apresentada a Câmara em 1929, pelo vereador andreense Dr. Francisco Perrone, a Companhia da Estrada de Ferro substituiu o nome da estação ferroviária de “São Bernardo” para o de “Santo André”, acentuando-se mais ainda o predomínio daquele distrito (...) Os andreenses, satisfeitos, haviam conseguido plenamente seu objetivo, pleiteado através de anos. São Bernardo, colhido de surpresa por essa penada, impossibilitado de agir, só ficou aguardando o dia em que lhe fosse feita justiça, com o retorno a sua condição de sede. (PESSOTTI, 1981, p.105) Foi a pressão dos industriais andreenses que fez com que a sede e o nome do município mudassem, porém em nenhum momento no início do Estado Novo se pensou em

13 separação dos municípios. Essa separação só deu mais adiante. Somente a partir de 1943, novamente com a elite econômica, dessa vez de São Bernardo, fazendo pressão e que começaram as idéias emancipacionistas. Em 1939, o Município de Santo André foi composto dos seguintes Distritos: Santo André, subdividido em 2 zonas: 1ª, Santo André e 2ª São Caetano, e dos Distritos de Mauá, Paranapiacaba, Ribeirão Pires, e São Bernardo, e pertencia ao termo de São Paulo da Comarca de São Paulo.

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2.2-) Rivalidades

A rivalidade no Município de São Bernardo não refletia apenas quem era mais importante política e economicamente: a sede (São Bernardo Vila) ou o distrito (de Santo André). Grandes rixas eram encontradas nas partidas de futebol entre os times dos bairros. O time da Vila era chamado de Esporte (Clube São Bernardo), enquanto que o 1º de Maio representava o distrito andreense, além de outros times dos demais bairros. Esse confronto era conhecido por batateiros X ceboleiros. Isso tudo porque ambos tentavam de alguma maneira menosprezar o adversário; São Bernardo tinha na plantação de batatas boa fonte de renda e sustento, enquanto que em Santo André isso se dava com as cebolas. Mas os almofadinhas da Vila, eram também chamados de batateiros pelos moradores de Santo André, antiga estação ferroviária de São Bernardo. Sua localidade progrediu muito. Consideravam-se mais citadinos. Viam na antiga Vila um núcleo de colônias agrícolas, achando-nos... todos batateiros. Os nossos revidaram, apelidando-os de ceboleiros. Surgiu, assim, uma rivalidade que se chocava especialmente entre times de futebol das duas localidades, cujas pelejas se realizavam num clima de entusiasmo e, as vezes, de violência também, o que contribuía para valorizar mais as disputas esportivas, “animadas” aqui com cebolas e lá com batatas. (PESSOTTI, 1981, p.71)

No dia 1º de maio de 1935 foi fundado o Palestra de São Bernardo, referenciando a grande quantidade de colonos italianos que viviam na região. Logo o time passou a ser o grande rival do São Bernardo, porém quando um dos dois times jogava contra o time do 1º de Maio, que representava os andreenses, as duas torcidas se uniam. A princípio a discriminação acontecia em relação às pessoas que viviam no centro da Vila (os almofadinhas) em relação aos colonos (os batateiros). Aos poucos, esses colonos foram encaminhando os filhos para os empregos nas fábricas de móveis, tecidos e outras atividades, abandonando quase que por completo a agricultura. Mas, como designativo de habitante rural e mesmo num sentido pejorativo, veladamente, continuavam a ser chamados de batateiros. (PESSOTTI, 1981, p.70) 10 Retirado de: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/saopaulo/santoandre.pdf

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Tinha-se no futebol um espelho dos costumes da cidade. Era um dos programas preferidos aos domingos, e passava-se a semana toda discutindo o acontecido ou o que estaria por acontecer. Além disso, essa rivalidade de dentro dos campos de futebol se transportava para o cotidiano das pessoas a partir do momento em que houve o rebaixamento de São Bernardo a distrito, a zombaria por parte dos andreenses ganhava mais força, e passava a não depender apenas do futebol. 2.3-) Uma reflexão sobre “batateiros e ceboleiros”

No carnaval, as rivalidades do futebol também se demonstravam nas quadras e nos bailes, cheios de colorido, cantos e músicas e com seus blocos uniformizados desfilavam pela Marechal (Pessotti, 1981 p.81-82). Entravam nas festas da outra agremiação fazendo farra, e depois voltavam à rua, desfilando alegria para toda multidão. Na fase em que Palestra e Esporte estiveram em grande evidência, era comum ao anoitecer de domingo, a torcida deste último voltar de uma vitória conquistada em outra cidade, eufórica e cantando em coro: “A nossa turma é boa, é boa, é boa; e é de São Bernardo, ardo, ardo, ardo..!” (PESSOTTI, 1981, p.85-86)

Assim como em outros assuntos, qualquer tipo de vinculação à imprensa era subordinada a interesses políticos. O jornal “O São Bernardo” defende não de maneira explicita o time do 1º de Maio (que representa o bairro da Estação, Distrito de Santo André e sede da cidade no momento) na derrota para o Corintians F.C. também da cidade de Santo André no dia 07 de abril de 1940. No dia 14 de abril o Esporte (Clube São Bernardo) sagrou-se campeão municipal do torneio relâmpago ao bater o rival Palestra por 3 x 1. O jornal cita apenas que foi uma partida fraca e que deu a lógica no jogo. Evidenciando bem mais o amistoso que estará por acontecer no final de semana seguinte entre o 1º de Maio e o São Paulo F.C. da capital. No dia 27 de abril em referência ao amistoso, fala da grandiosidade do evento, do lucro que obtiveram e, no final da nota, citam o placar de 8 x 0 a favor do São Paulo. Além disso o jornal no dia 23 de junho de 1940 critica a atitude dos times do município que pagam para anunciarem seus resultados no jornal “A Gazeta” da capital e nenhum apoio financeiro dão ao jornal que dedica páginas inteiras sobre futebol. Mas o fator complicador não é nem o fato de apoiarem determinado time, e sim o fato de dedicarem grande parte do jornal a essa discussão. A política do “pão e circo” que vinha desde os tempos do império romano, onde os imperadores mantinham a ordem social com as lutas de gladiadores no Coliseu. A repressão estadonovista fazia com que o jornal publicasse apenas assuntos de interesse do Governo, porém havia a necessidade de satisfazerem os anseios do povo. Futebol e carnaval, combinação perfeita que dura até os dias de hoje. Como

15 “O São Bernardo” era o principal jornal da época, cabia a ele essa manipulação e camuflagem dos fatos. Pouco se discutia sobre política, poucos espaços existiam para essa discussão, além de outros que tratassem de assuntos conflitantes com os dos órgãos governamentais. Os jornais eram usados como meio de controle das massas. Em São Bernardo, a elite usava o jornal para se promover, um status apenas. O caráter comercial do jornal também era menor, se tinham anúncios e não propagandas. Sem aparelhos de televisão, que hoje retém as famílias nos lares, o futebol de dia e o cinema a noite, eram o divertimento comum do povo aos domingos (...) A noite, a mocidade tinha presença certa no vai-e-vem domingueiro, que compreendia o trecho entre a Praça da Matriz e o bar do Ramiro, atual Banco Noroeste, tomando inclusive todo o leito da rua, uma vez que o trafego de São Paulo a Santos já havia sido desviado pela Via Anchieta, com os raros veículos locais passando devagar, para não atropelar o povo, que era “dono da rua” (...) Aquela movimentação toda gravitava em frente ao Cine São Bernardo, único cinema daquela época, situado bem no centro. A platéia devia ter capacidade para mais de mil espectadores (...) Esse era o tempinho de vida pacata, nos anos 40. Mas já haviam iniciado há alguns anos as obras da Via Anchieta, fazendo parte da nossa comunidade muita gente de fora, ligada a sua construção, cuja inauguração deu-se por volta de 1942. Foi quando a “Vila” sentiu tanto alívio que, nos primeiros tempos, em pleno meio dia, dava até para sentar (por instantes) – no meio da Marechal. (PESSOTTI, 1981, p.102-103) A população vivia mansamente, sem se preocupar e discutir interesses políticos, que na verdade eram seus interesses. Mas essa falta de preocupação não era alienada, era forçada. Parecia impossível qualquer tipo de organização subversiva que atacasse a ordem naquele momento, e o “bem estar” proporcionado pelo governo e suas leis trabalhistas só dificultavam mais qualquer organização.

16 3-) O Estado Novo em São Bernardo

3.1-) As primeiras mudanças

Desde 1936 não se realizavam eleições para governador, eram escolhidos interventores nomeados por Vargas; eram os interventores que nomeavam os prefeitos. Antes mesmo do golpe do Estado Novo, o governo Vargas já tinha como meta erradicar os comunistas do Brasil. Em São Bernardo não haveria de ser diferente, no dia 03 de outubro de 1937 o jornal “O São Bernardo” publicou a seguinte matéria dando início às perseguições: A colaboração que precisa ser repelida: colaborar com o comunismo, ou aceitar, sob qualquer forma, a colaboração de comunistas, é pactuar com o inimigo maior do Brasil, na obra satânica de destruição dos valores morais da civilização brasileira. Contra essa condenável colaboração adverte a Pastoral do Episcopado: ‘Não é possível colaborar com quem, desconhecendo e menosprezando a eminente dignidade da pessoa humana, torna irrealizável, pela raiz, toda e qualquer reforma das condições sociais que represente para o homem integral verdadeiro progresso’. E a propósito na Encyclica ‘Divini Redemptori’, Pio XI diz fulminantemente: ‘O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum, a colaboração com ele da parte de quem quer que deseje salvar a civilização Christã.’ (O São Bernardo 03/10/1937) Obviamente quem defendia tais interesses era a elite local, que temia perder seu poder, além de suas propriedades, e se apoiava nos valores conservadores da Igreja Católica. Em 10 de novembro de 1937 Getúlio Vargas dá o golpe do Estado Novo, não tendo nos dias subseqüentes o jornal governista “O São Bernardo” feito nenhuma menção a tal fato, demonstrando total atrelamento ao governo que estaria por vir. O inimigo declarado eram os comunistas e, em 05 de dezembro do mesmo ano, o jornal continua sua perseguição aos comunistas, dessa vez evidenciando ‘A Campanha anti-religiosa na Rússia’, chamando as manifestações de bárbaras, condenando a propaganda do governo russo, ateu, e a supressão aos cultos e as perseguições aos sacerdotes, afirmando que o comunismo teria manchado de maneira definitiva aquela década. O nacionalismo de Vargas era evidenciado nos meios de comunicação de todo o Brasil, a ditadura imposta começava a demonstrar a que veio. Essa ditadura do Estado Novo impôs que os interventores não acumulassem cargos remunerados junto a funções públicas. Em São Bernardo isso gerou desconforto, uma vez que o prefeito Felício Laurito, também era médico: da caixa de aposentadoria (previdência) das Ferrovias São Paulo Railway e da Pirelli, essa por sua vez que gozava de favores dos governos, federal e municipal, como isenção de impostos. Ou seja, o prefeito exercia três cargos remunerados, e um deles que ainda levantava suspeitas devido aos favores que a prefeitura concedia a Pirelli. Obviamente a elite local ficou estremecida, ainda mais

17 que correntes políticas do município estão em atividade junto ao Sr. Interventor, para a escolha de um prefeito para São Bernardo, um elemento de projeção social que consiga estabelecer a paz e a tranqüilidade para o município. (O São Bernardo. 19/dez/1937) Por mais contraditório que pareça, o Estado Novo, serviu para derrubar o prefeito (governista) de São Bernardo, Felício Laurito. Nem mesmo o jornal ‘O São Bernardo’ que o apoiava resistiu, e na edição de 24 de dezembro de 1937 publicou a seguinte nota de um leitor: Prefeito Laurito, desde que é prefeito, nunca praticou um ato humanitário para com os funcionários da Prefeitura, mormente para aqueles que não caíam nas graças de S.s. e ex-políticos, que ainda hoje mandam um pedaço naquela repartição. Perseguição, cortes nos vencimentos de funcionários que não pactuassem com as arbitrariedades praticadas pelos mandões da nefasta política, extinta em 10 de novembro, porém ainda rastejante em nosso município.

No dia 1º de maio de 1938, Getúlio Vargas nomeia Interventor Federal e Executor do Estado de Emergência de São Paulo Adhemar Pereira de Barros, ex-deputado pelo PRP (extinto com a nova constituição). No mesmo dia, o jornal ‘O São Bernardo’ coloca em sua capa uma mensagem de apoio ao novo interventor, chamando-o de “um grande amigo da imprensa em geral”. Saúdam-no junto do presidente Getúlio Vargas. No dia 08 de maio circula o último jornal do ano, que teve seus serviços interrompidos até outubro de 1939. Nesse período São Bernardo foi rebaixado a Distrito, cedendo lugar a Santo André. A elite de São Bernardo, os donos de fábricas de móveis e de tecelagens, comerciantes, proprietários e profissionais liberais, nunca aceitaram a condição de Distrito, e sempre almejaram a emancipação, porém a repressão estadonovista acabava por calar as vozes. “Temiam o poder do prefeito e do interventor” (Médici, 1997, p.82) Entretanto com a criação do DIP, os jornais agora mais reprimidos, deixaram de fazer oposição e perderam sua natural agressividade, sufocando qualquer espécie de manifestação pela emancipação. Diversos jornais foram fechados e novos impedidos de circularem: Para poderem sobreviver, os jornais adotaram as regras do Estado Novo, pois, no caso contrário, não eram autorizados a circularem. O São Bernardo, depois de quase um ano de interrupção da sua publicação, voltou a circular em 1.º de outubro de 1939, mas de acordo com as normas do DIP. Em seu editorial expõe a sua nova conduta política: “Órgão independente, defensor dos interesses do Município e arauto da nova ordem política, consubstanciada na Constituição de novembro de 1937, outorgada ao País pelo corajoso patriotismo do eminente chefe da Nação, Dr. Getúlio Vargas, aplicada e defendida em nosso Estado pelo ilustre paulista Adhemar Pereira de Barros”. Na primeira página, publica os clichês do presidente Vargas, Adhemar e do prefeito interventor Armando Ferreira Rosa e afirma que: “Obedece à lei com

18 prazer e patriotismo, propugnando pra que todos façam o mesmo, com idênticos sentimentos”. (Petrolli, 2004, p.6)

A Via Anchieta foi um dos fatores que começou a mudar os rumos de são Bernardo. Mesmo reprimidos os empresários da região vislumbraram novos lucros. Em 22 de abril de 1939, Adhemar de Barros fez o lançamento da Pedra Fundamental da Rodovia que liga São Paulo à Santos, a Via Anchieta. As obras se iniciaram em 10 de julho do mesmo ano e somente em 1941 aprovou-se o projeto para concretagem dela. Em 1940 inaugurou-se o primeiro trecho da Via Anhangüera que ligava São Paulo à Jundiaí, mas que fazia parte do projeto Santos-São Paulo-Jundiaí. O jornal “O São Bernardo” do dia 22 de outubro de 1939 reconhece o crescimento econômico dos distritos da cidade. O município de Santo André apresenta aspectos singulares que o diferenciam dos demais municípios paulistas. Via de regra os municípios do nosso estado possuem um traço comum que os equiparam dentro do plano administrativo: são centros essencialmente agrícolas. Um ou outro, dentre esses municípios abre exceção pela sua apreciável produção industrial (...) Santo André o caso é diametralmente oposto: a sua produção industrial é sobretudo relevante, enquanto que a produção agrícola é diminuta, mesmo quase imperceptível (...) examinado porém, isoladamente, santo André apresenta ainda uma curiosa particularidade. É um município formado por diversas cidades, a que tanto valem os seus distritos. Esses distritos são suficientemente próximos para serem grupados numa só administração, mas são suficientemente diferenciados para receberem um mesmo tratamento. São além disso desequilibrados em sua força tributária. Daí as dificuldades que a administração municipal tem de vencer para realizar uma eqüitativa distribuição das forças orçamentárias. De acordo com o orçamento que vimos examinado, concorrem para a receita geral dos seguintes distritos: Sede, com cerca de 3.200 contos; São Bernardo, com 233 contos; Ribeirão Pires, com 147 contos; Mauá, com 58 contos e Paranapiacaba, com 22 contos. Desejamos, desde logo, confessas que não compreendemos muito bem os motivos que levaram as autoridades competentes a dividirem o município por essa forma. São Caetano, pelo que nos parece, é, senão o principal, pelo menos um dos mais importantes agrupamentos urbanos do município e, no entretanto, ele não mereceu destaque no orçamento (...) A construção da Via Anchieta se deu devido ao aumento do comércio no Porto de Santos, principalmente com a exportação do café, e pelo saturamento da linha férrea, a São Paulo Railway, que não conseguia mais escoar toda a produção do Estado. Santo André, São Bernardo e São Caetano se desenvolviam não só por suas indústrias, mas também por estarem situados na principal rota que liga o interior do Estado ao Porto de Santos.

3.2-) Começa a II Guerra Mundial Um balanço do ano de 1939, feito em 7 de janeiro pelo semanário “O São Bernardo” falava porque os brasileiros deveriam admirar Getúlio Vargas: “Avulta a obra do Estado Novo no

19 terreno da assistência social, causa de que se tinha apenas uma noção muito vaga nos tempos do ‘sobismo’ político”. Até o momento divulgavam uma idéia de harmonia nacional sob a regência do maestro Vargas; as questões sociais, de qual Getúlio espertamente sabia tratar, calava o povo. As questões trabalhistas eram tidas como prioridade, afinal de contas, em grande parte dos operariados do mundo havia um sentimento comunista. Em contrapartida Getúlio se aproxima do regime fascista de Mussolini em alguns pontos: MUSSOLINI – (...) Num belo volume de 250 páginas, fartamente ilustrado com fotografias, o autor, que é um admirador da personalidade dominadora do “Duce” e entusiasta da sua obra de renovação espiritual, política e material da Itália, acompanha lhe a vida desde o nascimento obscuro em Predappio até as culminâncias do poder (...) Depois da guerra, a Itália mergulha num triste período da anarquia. Mussolini, com sua visão clara, com um conhecimento profundo do seu povo, compreendeu que a sua hora havia soado. (O São Bernardo 14/jan/1940) A divulgação desse trabalho no Brasil e em São Bernardo (Santo André) tinha por objetivo domesticar a consciência do povo. O jornal era lido na maior parte pelas camadas mais abonadas, porém as discussões na cidade se passavam em grande parte pelas idéias desse jornal, eram diálogos em igrejas, bares, campos de futebol ... O município passava por problemas com os “grileiros” de Paranapiacaba, mas a grande questão era que a elite não se contentava com a decisão do judiciário que concedeu as terras aos “grileiros” por usucapião. Outro tema que chamava a atenção estava voltado sobre o ex-prefeito Décio Leite que teria excedido o orçamento previsto com gastos nas publicações no jornal “O Imparcial”. O Estado Novo continuava a reproduzir-se por seus meios: “O que constitui a nacionalidade é propriamente a língua nacional. A morte de uma nação começa sempre e pelo apodrecimento de sua língua.” – Olavo Bilac, reproduzida na edição de 24 de março de 1940, mostra a preocupação com o nacionalismo através da língua. “A boa linguagem como fundamento da reconstrução nacional.” No dia 03 de julho de 1940 o jornal “O São Bernardo” foi registrado no Conselho Nacional de Imprensa, vinculado ao DIP, agora se tornando mais censurado do que nunca. Nos fins de outubro o prefeito Armando Ferreira da Rosa pediu exoneração do cargo, e o jornal da cidade pouco tratou do caso, fazendo uma simples citação no dia 27 de outubro: A Nova Administração: O exmo. sr. Dr. Interventor Federal, atendendo ao pedido de exoneração apresentado pelo ilustre Dr. Armando Ferreira da Rosa, nomeou para o substituir ao Dr. José de Carvalho Sobrinho, provecto engenheiro residente da Estrada Sorocabana.

20 Propaga-se pela região que Santo André é um exemplo para o Brasil, que é uma miniatura perfeita do governo Vargas no âmbito municipal. A troca de prefeito, assim como posteriormente de interventor pouco, ou quase nada, foi tratada nos jornais da época em Santo André. Simplesmente elogiavam aqueles quem saíram e, desejavam sorte aos novos. Um problema que a cidade teve, e que se tinha necessidade de ser tratado pelos jornais e pelo prefeito publicamente, era a questão da ampliação do sistema de Água e Esgoto. O jornal “O São Bernardo” do dia 06 de julho de 1941 publicou entrevista do prefeito José de Carvalho Sobrinho sobre o serviço de Água e Esgoto, falando da necessidade de se ampliar o sistema que já não comportava mais o ritmo de desenvolvimento da cidade. Na edição de 17 de agosto o Jornal entrevistou engenheiros da prefeitura sobre as obras para o serviço de Água e Esgoto. Afirmaram eles que as obras andavam em “franca atividade.” Nesse caso, as autoridades tentaram esclarecer os fatos evitando que a população ganhasse motivos para uma revolta. Os Estados Unidos, agora em guerra, discursavam para o mundo que sua entrada foi a procura da paz. Pressionados pelos norte-americanos, o Brasil se posiciona na guerra. O governo federal chama um ato, intitulado de Movimento Cívico Nacional, para fazer com que todos os municípios do Brasil tomem ciência do rompimento com os países do “eixo”: A Voz do Brasil: Com a agressão do Japão e a declaração de guerra do “Eixo” aos Estados Unidos da América do Norte autorizava prever, o Brasil, por ato de seu governo, rompeu relações diplomáticas e comerciais com Japão, a Alemanha e a Itália. (O São Bernardo 01/fev/1942) Em Santo André, principalmente no Distrito de São Bernardo, onde grande parte da população descendia de italianos, a situação inicialmente ficava desagradável, porém com o tempo, logo a perseguição ficou aos declarados fascistas ou aos denunciados

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. Diversas

instituições tiveram de se adaptar, mudar seus nomes para se protegerem. O Banco Ítalo Brasileiro comunica a praça que em virtude da Reforma de seus estatutos aprovada pela Assembléia geral extraordinária de seus acionistas, realizada em 28 do mês findo, passou a denominar-se: Banco Nacional da Cidade de São Paulo S.A.(O São Bernardo 31/mar/1942) Em abril, noticiava-se a instalação de uma filial da Companhia Siderúrgica Nacional em Santo André, tratando da importância de se explorar os minérios brasileiros e não mais importálos. 11 Concessão feita aos italianos radicados no Paiz: (...) O superintendente da segurança política e Social, major Olinto de França Almeida e Sá, quando do rompimento das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com os países do “eixo”, depois de severo exame da situação, entre outras providências relacionadas com a segurança e a tranqüilidade públicas, resolveu determinar a exigência de salvo-condutos para os cidadãos italianos, alemães e japoneses que desejassem viajar (...) da presente concessão, porém, ficam excluídos todos os italianos declaradamente fascistas, ou fichados na ordem Política e os que se tem mostrado ou venham a mostrar-se, de qualquer modo simpáticos a política dos países do “eixo” e, consequentemente, hostis a nossa pátria. (O São Bernardo 05/jul/1942)

21 Novamente a exploração do nacionalismo como ferramenta para o desenvolvimento industrial. Na edição de 14 de junho de 1942 o jornal “O São Bernardo” fala sobre as novas instalações do Departamento Estadual de Imprensa, dirigido agora pelo professor Candido Mota Filho. (...) nós da imprensa não podemos resistir a tentação de gravar a estas modestas colunas a oração transcendente e memorável do ilustre confrade a quem o Exmo. Sr. Interventor Federal confiou a direção daquele importantíssimo Departamento. No dia 19 de julho de 1942 foi exibido na sala Carlos Gomes o filme “E o Vento Levou” citado no jornal “O São Bernardo” como “A maior realização do cinema contemporâneo.” Era necessário o entretenimento para manutenção da ordem, assim não se manifestariam a favor da democracia que o Brasil agora apoiava. No dia 06 de setembro de 1942 o Corintians e o Piratininga, clubes da cidade, realizaram um jogo para angariar fundos para as famílias das vítimas dos navios mercantes brasileiros naufragados pelos submarinos do “Eixo”. Esse afundamento foi a última gota para a entrada do Brasil na guerra. Em São Bernardo o fato não foi noticiado pelas mídias impressas. (...) A guerra profunda, a guerra que se combate nos dias de hoje não será solução para predomínio de castas, de raças, de classes ela vai ao encontro do homem para forçá-lo a refletir no seu destino, no seu verdadeiro destino (...) falavam pela boca de um nacionalismo que era somente pretexto para nos separar de amigos seculares como os norte-americanos. Procuraram descobrir opressão, imperialismo onde havia desejo de cooperar, vontade de vencer o perigo iminente (...) texto de José Lins do Rego, publicado inicialmente em Nova Iorque e reproduzido em vários jornais do Brasil no mesmo dia. (O São Bernardo 06/set/1942) A partir dessa publicação, é possível perceber o atrelamento do Brasil diante dos Estados Unidos, que deixava de ser somente militar e passava a ser principalmente ideológico. Porém, esse atrelamento ideológico permitiu que a elite são bernardense começasse a pensar em uma emancipação. Primeiro que a guerra era o grande foco discutido, e segundo, que começava a se questionar a ditadura do Estado Novo, que demonstrava semelhanças ao fascismo e se opunha ao liberalismo democrático dos norte-americanos, que no momento era o principal aliado econômico (político-ideológico-militar) do Brasil.

3.3-) Comunistas no ABC

A abertura política começou a se dar com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, porém os comunistas nunca desistiram de derrubar a ditadura getulista. Com a pressão dos Estados Unidos, o Brasil se posicionou, contra o fascismo e o nazismo. Os comunistas soviéticos também combatiam os Alemães.

22 A situação por aqui se embaraçou: Uma ditadura que apoiava governos democráticos, que por sua vez combatiam as ditaduras nazi-fascistas. Sendo os comunistas também combatentes dessas ditaduras. Tempos depois, eclodiu a segunda guerra mundial, cujas causas estariam ligadas a injustiças impostas após o armistício da guerra mundial anterior. A Alemanha então, a grande potencia militar do mundo, encetou uma investida de reivindicação de direitos que lhe foram negados. Esgotados todos os recursos diplomáticos, iniciou a ação bélica, com a conseqüente invasão e anexação de nações vizinhas, cujas marchas se desenvolviam rapidamente, em forma de um rolo compressor, obrigando outras potências envolvidas e seriamente ameaçadas a se unirem para barrar-lhe o impetuoso avanço. Entretanto, a esdrúxula aliança de países, de regimes diametralmente contrários entre si, implicou em futuros problemas internacionais de difícil solução, embora os objetivos imediatos fossem duramente alcançados, com o malogro da causa alemã, cuja capital, Berlim, ficara parcialmente destruída e retalhada. (PESSOTTI, 1981, p.128) Aqui no ABC o Partido Comunista a partir de 1940 voltava a se instalar nas fábricas através dos sindicatos, mesmo eles sendo repreendidos: “(...) os comunistas costumavam ficar na Avenida Industrial durante a madrugada para distribuírem panfletos. Os panfletos entravam na fábrica e os operários discutiam alguns apoiavam”. (Philadelpho Braz, Prefeitura Municipal de Santo André, 2000 p. 38) Toda organização precisava ser bem subversiva nesse primeiro momento, mas aos poucos as possibilidades de organização se mostravam possíveis: 12

Quanto a militância política eu notei que na Fichet , no ano de 1940 já existia uma comissão de fábrica para discutir com o patrão as reivindicações dos trabalhadores (...) Eu notava a presença de muitos imigrantes portugueses, eslovacos, alemães, poloneses que trabalhavam na fábrica e já possuíam o micróbio político dos anarquistas. (Philadelpho Braz, PMSA 2000, p. 37) Logo a pressão sobre Vargas aumentaria, mesmo simpatizando com o governo fascista, era necessária para o Brasil uma política econômica que sustentasse o desenvolvimento das nossas indústrias. Essa política cada vez mais se atrelava à norteamericana. A democracia norte-americana, ou o modo de vida americano, pesaria sobre o nosso governo. O liberalismo dependia de governos abertos ao mercado externo, e isso só seria possível se o país deixasse de ter o poder centralizado no Estado Nacional. A luta no Brasil se iniciou com os sindicatos, na defesa do proletariado:

12 Fichet: Multinacional belga-francês-alemã no ramo da metalurgia instalada em Santo André em 1922.

23 Somente em 1942, se reativaram as lutas sindicais. Como a legislação proibia articulações intercategoriais e a repressão era muito intensa, os sindicalistas promoveram a criação de uma Cooperativa de Consumo para os trabalhadores sindicalizados do ABC, envolvendo metalúrgicos, químicos, borracheiros, trabalhadores da construção civil e mobiliário. Esta iniciativa tinha como objetivo burlar a legislação e a repressão e permitir a criação de um pólo de atração e articulação do movimento sindical na região. Estimulando ampla campanha de sindicalização. (OLIVA, 1987, p. 64) O governo já não tinha a mesma força repressiva, sindicatos começaram a se organizar, como o dos Metalúrgicos no ABC. Segue relato de Armando Mazzo, militante do Partido Comunista que viria a ser o primeiro prefeito comunista eleito pelo voto direto em 1947: O ano de 1943 foi um ano de luta política. Já começou no 1º. de maio quando nós participamos da concentração do Pacaembu, onde Getúlio anunciou a decretação da CLT e enfrentou uma porção de cartazes que os trabalhadores portavam reivindicando liberdade sindical, aumento de salários, eleição direta para presidente da República, anistia aos presos políticos, especialmente a Luís Carlos Prestes, que era um homem que estava na crista. Em 1944, centrou-se ainda mais a luta pela anistia, contra o nazi-facismo e em 1945, quando veio a anistia aos sindicatos, particularmente o dos metalúrgicos de Santo André levantaram a bandeira pela convocação de uma Assembléia Constituinte e pelo reconhecimento dos partidos políticos, inclusive o PC. (ARMANDO MAZZO apud OLIVA, 1987, p. 70)

A CLT tão proclamada como grande marco do governo Vargas não veio por bondade e sim por muita pressão dos trabalhadores brasileiros. Obvio que Vargas via nessas leis trabalhistas uma maneira de controlar a massa, mas precisou ceder para se manter no poder ao menos até o final da guerra, onde a vitória foi do liberalismo norte-americano e do socialismo soviético: Se hoje todo mundo goza desses benefícios não imagina quanto isso nos custou (...) estas lutas do Partido Comunista passaram necessariamente e historicamente por Santo André que é riquíssima nesse campo. (Philadelpho Braz, Prefeitura Municipal de Santo André, 2000, p. 39) As pressões externas aliadas das lutas internas dos trabalhadores foram decisivas para o futuro do país, assim como decisivas para São Bernardo, que criou um grupo de empresários que lutasse pela emancipação.

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4-) A Emancipação 4.1-) 1943 Somente no ano de 1943 começaram a surgir perspectivas de mudanças. No município de Santo André muito se debatia sobre a questão do tratamento da água e esgoto da cidade, além da questão do racionamento de itens básicos, como açúcar e sal, que muito polemizava as discussões. No dia 24 de março, o município recebeu a visita do Interventor Federal Fernando Costa. Quem os recebeu foi o prefeito José de Carvalho Sobrinho, junto de uma comitiva. A visita começou pela Laminação Nacional de Metais, que ficava em Utinga e tinha a época 2600 funcionários. Tinham lá uma seção da aeronáutica paulista que funcionava 24 horas por dia. O jornal “O São Bernardo” do dia 28 publicou o discurso do Interventor Federal Fernando Costa: Felicito-o calorosamente pelo seu gênio empreendedor e pelo devotamento que o senhor põe neste organismo indispensável hoje a defesa nacional. O senhor é um moço que é um exemplo a juventude brasileira (...) Uma referência ao diretor presidente da Laminação Nacional. Seguiram depois para a estação de tratamento de água e esgoto: a primeira estação foi do rio “Guarará”, fazendo uma visita “minuciosa”. Seguiram depois para os reservatórios de “Vila Assunção”, “Gonzaga” e “Monte Alegre”, e uma parada nas obras da estação elevatória da “Vila Dora”. Ao final do discurso o jornal opinou: Podemos adiantar aos nossos leitores que dessa honrosa visita, muitos serão os resultados que advirão para o rápido e completo acabamento das obras de águas e esgotos do Município. Parabéns e para frente Sr. Prefeito. Na mesma edição publicaram outra matéria sobre o tema: O Sr. Dr. Plínio de Queiroz, ilustre engenheiro paulista e uma das autoridades em assuntos de Águas do Estado, entrevistado pelo brilhante matutino “O Diário de São Paulo”, em data de 24 corrente, deu sua valiosa opinião sobre os serviços de Águas do nosso Município (...) há cidades que tem sorte e outras que não tem sorte. Entre as que não tinham sorte estava indiscutivelmente S. Bernardo, hoje Santo André, pois não é explicável como um município situado ao lado da capital, com cerca de 90.000 habitantes, com mais de 300 fábricas, com arrecadação anual de mais de 6.220.000 cruzeiros para os cofres municipais, 16.000.000 de cruzeiros para os estaduais e 22.000.000 de cruzeiros para os federais, permanecesse sem os indispensáveis serviços de saneamento existentes, que em varias outras cidades menos importantes e até em lugarejos pobres e afastados possuíam já (...) O problema em questão vinha-se debatendo em vários períodos desde 1912 (...) mas como disse acima São Bernardo não tinha sorte (...) vinham logo os interesses de grupos, as lutas da politicalha local, as questiúnculas administrativas e nada se podia fazer. Nessa entrevista fica claro o problema pelo qual passa a cidade. Percebe-se no discurso a manipulação feita pelo DIP, que coloca a questão como sendo de “sorte” ou “azar” da cidade, ressaltando os erros do passado, que na verdade são presentes e omitidos.

25 No dia 02 de abril foi publicado no “Diário Oficial do Estado” o Decreto Estadual nº 13.295, de 31 de março de 1943, que instituiu a criação de uma Comissão de revisão Judiciária e Administrativa do Estado de São Paulo. Essa comissão teve a obrigação de rever as divisas municipais e distritais de todos os municípios, bem como o quadro geral da divisão territorial, das comarcas e termos e respectivas zonas de paz, para o período de 1944 a 1948. Por essa ocasião, no seio da comissão, cogitou-se da constituição da Comarca de Santo André, passando a divisa pelo córrego que passa pela General Motors, ficando assim o Município desfalcado do grande exdistrito de São Caetano, que deveria integrar-se ao município da capital. Felizmente, graças aos trabalhos desenvolvidos pelo poder municipal, essa desintegração não se efetivou, muito embora essa providencia fosse com prejuízo da creação da Comarca (...) De acordo com o artigo 3º do mencionado decreto 13.295, essa Comissão deverá concluir os seus trabalhos, até o dia 1º de outubro do corrente ano. (O São Bernardo 11/abr/1943) Os interesses que levavam a discussão da criação de uma Comarca

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e a perda de

um Distrito como São Caetano, eram somente sobre o ponto de vista das elites locais. Por um lado a criação de uma Comarca tornaria Santo André emancipado judicialmente da capital, porém a perda de um distrito como São Caetano acarretaria em grandes prejuízos para a arrecadação tributária municipal. O jornal “O São Bernardo” do dia 14 de março publicou os seguintes números referentes ao ano de 1942: Arrecadação de Cr$: 21.11.461,90 para o governo federal. Destes, a representatividade do município ficou distribuída assim: Santo André contribuindo com Cr$: 9.698.529,30; São Caetano Cr$: 9.827.760,30; São Bernardo Cr$: 1.590.172,30; ou seja, a maior arrecadação de tributos se deu no distrito de São Caetano. Arrecadou-se para o Estado Cr$: 15.969.627,40 e para o próprio Município Cr$: 6.244.425,20; além de Cr$: 6.881.000,00 para o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (I.A.P.I). Segue abaixo um quadro com a população do Município retirado também da mesma edição de “O São Bernardo”, referente a 1942:

População Santo André São Caetano São Bernardo Ribeirão Pires Mauá Paranapiacaba

Perímetro Urbano 31.530 27.568 6.292 2.385 1.700 666 70.141

Perímetro suburbano 3.943

Perímetro Rural

Total Geral

2.733

1.639

3.720 3.101 1.860 992 12.406

38.206 27.568 11.561 5.468 4.522 3.293 90.726

962 1.635 8.179

13 Comarca: termo jurídico que designa uma divisão territorial específica, que indica os limites territoriais da competência de um determinado Juiz ou Juízo de primeira instância. Assim, pode haver comarcas que coincidam com os limites de um município, ou que os ultrapasse, englobando vários pequenos municípios. Nesse segundo caso, teremos um deles que será a sede da comarca, enquanto que os outros serão distritos deste, somente para fins de organização judiciária (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Comarca)

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Esses dados mostram a situação econômica da cidade. São Caetano desponta como maior arrecadador, sendo sua população inteiramente urbana. Santo André porém com uma população maior, mas que arrecada menos. São Bernardo nesse momento nem se discutia. No dia 20 de abril a Comissão visitou o município de Santo André, inclusive as obras da Estação de Tratamento de Águas e Esgotos, tendo o prefeito Carvalho Sobrinho no discurso afirmado Santo André ser uma cidade progressista

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e que suas ações eram para engrandecer

o Estado de São Paulo e o Brasil. O jornal “O São Bernardo” apesar de o nome lembrar o ex-distrito sede da cidade, na verdade representa os interesses, no momento, da elite andreense que estava no poder, e no dia 2 de maio publicou o seguinte artigo: Teremos o Município tripartido? (...) este laborioso povoado reúne no seu perímetro geográfico outras verdadeiras cidades de viço e pujança manufatureira de São Caetano, São Bernardo, Ribeirão Pires (...) sua riqueza, seu progresso, sua posição industrial, tudo decorre dessa unidade que não comporta as utópicas e tantasiosas miragens dos desmembramentos, que a próxima revisão (...) sucita, como capricho de maquinações políticas inconfessáveis, ao espírito dos que sempre se aventuram agitar a tranqüilidade deste, outrora, disputado celeiro eleitoral (...) crearam-se os Municípios de são Bernardo, de Ribeirão Pires, anexar São Caetano a São Paulo significa crear três municípios fracos, sem vitalidade econômica e sem expressão política. A quem interessava essa divisão? E a quem não interessava? Essa divisão interessava a grupos políticos pequenos, como os empresários de São Bernardo que perderam poder com o rebaixamento. Porém para os atuais grupos no poder em nada interessava essa divisão. Logo a arrecadação tributária de Santo André diminuiria no cenário estadual e nacional, assim as pretensões políticas junto a esses governos também perderiam em visibilidade. Esperançosos, um grupo de “batateiros” se reuniu em 3 de maio, no Bar Expresso, para elaborar um plano de ação: Corria o ano de 1943. Nossa Vila de São Bernardo, com umas dezenas de fábricas de móveis, algumas tecelagens de seda, várias oficinas e pequeno comércio, já começava a sentir indícios de futuro progresso, com a recém inaugurada Via Anchieta (...) Começaram então a se reunir Armando Setti, Francisco Miéle, Pery Rochetti, João Corazza, Joãozinho de Lima, Nerino Colli, Bortolo Basso, Dr. Plínio Ghirardelo, Dr. Gabriel Nicolau, além de outros que foram aderindo, inclusive o padre Jerônimo Angeli, nosso vigário na época (...) (PESSOTTI, 1981, p.105) Tomaram neste dia três decisões: uma delas seria levar ao conhecimento do prefeito José de Carvalho Sobrinho a intenção do grupo de batalhar para elevar São Bernardo a município, separando-se de Santo André. Além disso também resolveram convocar, no 14 O termo progressista nesse caso é usado no sentido da industrialização da cidade, e não sobre as suas políticas, que obviamente dentro de uma ditadura não têm nada de progressistas.

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momento certo, uma grande reunião com comerciantes, profissionais liberais, empresários e políticos ligados a São Bernardo, para tornar oficial o movimento. A outra deliberação foi a de procurar apoio de Wallace Simonsen, grande banqueiro e empresário vinculado ao café, dono de propriedades em São Bernardo, e que ocasionalmente passava os fins de semana na cidade em sua chácara, localizada no hoje bairro de Nova Petrópolis. A idéia de procurá-lo surgiu da necessidade do grupo em ter ao seu lado um nome de peso, com capacidade de articulação política em nível nacional e em condições de exercer forte influência nas autoridades responsáveis pelo projeto de reforma municipal. Simonsen, que tinha transito com parte considerável da elite econômica e política do país, claramente preenchia todos esses requisitos. No dia 17 de maio foi constituída a Sociedade Amigos de São Bernardo, e no dia 6 de junho foi oficializada, tendo como presidente Wallace Simonsen, contando com a participação de políticos, empresários, comerciantes e outras pessoas mais com influencia na elite local. Em assembléia realizada ontem, as 19h a rua Marechal Deodoro, 210, sobrado, em São Bernardo, com o comparecimento de grande número de industriais, comerciantes, capitalistas, empregados do comércio e pessoas gradas da sociedade local, foi fundada a Sociedade dos Amigos de São Bernardo. A posse do presidente eleito, Dr. Wallace Simonsen, dar-se-á em sessão solene, amanhã, as 21h, na sede da Sociedade beneficente de São Bernardo, à rua Marechal Deodoro, 205. (O Estado de São Paulo, 11/jun/1943 apud Médici, 1997, p.84)

Os andreenses agiram de maneira rápida ao movimento, durante o mês de maio o jornal “O São Bernardo”, ligado ao prefeito José de Carvalho Sobrinho e a outros políticos de Santo André, publicou editoriais e matérias criticando fortemente as reivindicações emancipacionistas. Acusava o movimento de enfraquecer e desagregar o município, nada além de expressões de um regionalismo esporádico. A grande vontade dos andreenses era ver a cidade transformada em comarca, aumentando sua importância administrativa. No dia 23 de maio o jornal “O São Bernardo” publicou os seguintes números em relação a arrecadação municipal do ano de 1941: “Santos: Cr$: 22.000.000,00; Campinas: Cr$: 9.300.000,00; Santo André: Cr$: 5.600.000,00; Obviamente o intuito era mostrar a “grandeza” da cidade para o Estado de São Paulo. Em junho, no dia 20 especificamente, começa uma série de editoriais com o mesmo título: Comarca, eis a solução... (...) tributários da Comarca da capital, separados, os Municípios continuarão no gozo de uma utópica autonomia. Comarca, portanto, eis uma solução simpática, feliz e intelectual para contentar a quantos nestas paragens, amigos, confiam e cooperam na administração do nobre interventor paulista (...) Precisamos consolidar a vida deste município. O nosso desejo, no entanto, é útil, proveitoso e indispensável a verdadeira autonomia de todos os distritos.

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Simultaneamente aos ataques ao movimento, também se tornava alvo do jornal à origem italiana da maioria dos líderes são bernardenses: como o Brasil declarou guerra a Itália devido a II Guerra Mundial, aqueles entre os emancipacionistas que possuíam origem italiana ou filhos de italianos passaram a ser chamados de traidores do Brasil. A briga entre os distritos, Sede e São Bernardo, continuava, porém os problemas da cidade não haviam sido sanados, a questão do tratamento da água e do racionamento, por exemplo. No dia 11 de junho o jornal “O São Bernardo” publica a seguinte nota: Graças aos esforços e a dedicação do nosso Prefeito Dr. Carvalho Sobrinho, Santo André, será o primeiro município paulista beneficiado com o serviço de rqacionamento (...) queremos também frisar neste artigo que racionamento não é como muitos o julgam – falta de genero – é apenas uma preocupação para que não venham faltar generos da primeira necessidade, o que acarretaria ao povo em geral um verdadeiro desastre. O prefeito utiliza-se dos artifícios do Estado Novo, a manipulação do povo através da imprensa, para notificar as pessoas que o município foi o primeiro a ter o “benefício” de ser racionado. Porém esse racionamento se tornara necessário devido à escassez de produtos em razão da II Guerra Mundial. Necessário uma vez que se a prefeitura não controlasse, logo o preço desses produtos subiria e, somente aqueles com maior poder aquisitivo poderiam adquiri-los. Acontece que esse Brasil se mostrava contraditório, uma vez que era um dos maiores produtores de bens agrícolas do mundo, e como deixava faltar esses bens ao próprio povo? Fácil, com a Europa em guerra o consumo desses bens por parte dos europeus só poderia se dar através de importações, e para nossos latifundiários e governistas a moeda européia tinha mais valor comercial. Racionava-se pão, açúcar e carne, sendo somente o pão dependente da farinha argentina (que não estava em guerra), sendo os outros produzidos no Brasil mesmo. Até mesmo o leite estava sendo adulterado segundo artigo do jornal “O São Bernardo” do dia 25 de julho. Em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, continuavam as obras para construção da primeira grande usina siderúrgica brasileira; que para Santo André muito seria importante devido às inúmeras indústrias que possuía e que consumiam aço e ferro. A II Guerra continuava, o Brasil na guerra convivendo ainda sob a ditadura de Vargas. Santo André permanecia com seus mesmos problemas específicos. No dia 22 de agosto o jornal “O São Bernardo” publica: O Brasil na Guerra 22 de agosto de 1942 Foi em 22 de agosto de 1942, precisamente, um ano hoje, que o Brasil, entrou em guerra contra as nações totalitárias, para revidar os duros golpes, que o “eixo” desferiu, frio e traiçoeiramente. Entrou para salvaguardar a honra nacional, para defender o patrimônio sagrado da Terra de santa Cruz! (...) nossas tropas expedicionárias estão prontas a irem enfrentar o inimigo onde quer que ele se encontre. Prontos

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para a desforra, das nossas primeiras vitimas que o mundo viu, lívido de indignação, o crime cometidos pelos nossos inimigos. Em Santo André seguia a discussão pela emancipação, e no dia 19 de setembro o jornal “O São Bernardo” solta a seguinte nota: A idéia separatista que pretende fazer, do nosso, vários municípios, parece um tanto amortecida no entusiasmo dos que soltaram rojões antes do tempo (...) aqui neste burgo nada se faz sem intrigas políticas (...) acreditamos que muita gente tenha encarado a idéia de criação de novos municípios na área de Santo André com uma louvável intenção. Mas, como de boas intenções está forrado o inferno, os interesses privados, os interesses políticos, os de família são verdadeiros demônios a entornar o caldo. A discussão se dava entre as elites locais, os andreenses brigando pela criação da Comarca, que lhes daria respaldo jurídico, e pela manutenção do território; já os são bernardenses querendo a emancipação do distrito. O atrito se dava pelo poder político, que por sua vez era mantido pela economia industrial da cidade. Em nenhum momento a discussão colocava-se ao povo, na verdade, no máximo, discutiam as intenções de uma elite ou outra, que sempre se dava por fatores econômicos, a arrecadação de impostos. (...) o prefeito Carvalho Sobrinho, que, embora não tendo nascido nessa região, terá usado de todos os recursos para impedir a separação que iria desmembrar a localidade de São Bernardo, com razoável fonte de arrecadação de impostos e com mais de 400 quilômetros quadrados, ou seja, mais da metade do território do município (...) (PESSOTTI, 1981, p.106) Santo André pairava, ora em discussões regionais, como a emancipação dos distritos, o racionamento e a Estação de tratamento de Águas e Esgotos, ora em discussões nacionais como a criação de novos estados, ora em discussões da II Guerra. O Brasil apoiou os aliados, logo seus veículos de comunicação também o fariam, na edição de 3 de outubro o jornal “O São Bernardo” publicou: Mussolini é um homem morto politicamente (...) odiado pelos italianos, desprezado pelos alemães. (...) A vitória das Nações Unidas poderá tardar, mas a derrocada militar do Japão é hoje um fato que não mais admite discussões. Além desse artigo, publicou outro falando sobre o lançamento aqui no Brasil da biografia de Stalin, o mesmo criticado anos atrás, porém que agora lutava ao lado das “democracias” contra a Alemanha. Em 9 de outubro foi inaugurado o serviço de Águas do rio “Guarará”, que levava água encanada ao centro de Santo André. Aproveitou-se a data para inauguração porque o prefeito Carvalho Sobrinho completava três anos no governo, assim foi realizada uma enorme festa. No dia 21 saiu o Decreto-lei nº 5901, que tratava das normas nacionais para revisão qüinqüenal da Divisão Administrativa e Judiciária do país. Esse decreto criou no Estado de São Paulo 14 comarcas, 36 municípios e 83 distritos de paz. A elite andreense acreditava garantir uma dessas comarcas, assim como os

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emancipacionistas de São Bernardo aguardavam serem um dos novos municípios. Porém o decreto não citava nomes, apenas a quantidade. A perseguição aos imigrantes do “eixo” continuava: Os súditos do ‘eixo’, alemães, italianos e japoneses, deverão registrar, imediatamente, na Delegacia de Policia de seu distrito residencial, os instrumentos de ótica e fotografia em seu poder. (O São Bernardo, 31/out/1943). Assim como os problemas do racionamento: O problema da carne, do leite, da manteiga e outros produtos derivados da pecuária está na ordem do dia (...) o problema dos transportes influi poderosamente, ocupando mesmo o primeiro plano (...) no que diz respeito particularmente a São Paulo, que durante largo período se preocupou com a monocultura, o problema da pecuária tem o mesmo aspecto geral: precisa ser encarado em relação ao sistema de transportes, isto é, tendo em vista a localização das zonas de criação, engorda e industrialização. Carvalho Sobrinho para o jornal A Noite (RJ). (O São Bernardo, 07/nov/1943) O prefeito então justificava o racionamento pela falta de infra-estrutura, e não por falta desses itens. As conseqüências da 2ª grande guerra mundial se fizeram sentir por muito tempo, com a falta de produtos alimentícios, cujo racionamento era organizado pela Prefeitura, que tinha dificuldade de controlar com precisão as minguadas quotas que os negociantes recebiam (...) Faltava gasolina, trigo, pão, carne, açúcar, sal, desaparecendo por completo o minguado óleo nos poucos empórios da Vila. (PESSOTTI, 1981, p.108) No dia 21 de novembro foi publicada uma emenda ao Decreto-lei nº 5901, criando o terceiro subdistrito de Santo André, Utinga. Estudos feitos pela Diretoria da fazenda de Santo André apontavam que no caso de São Bernardo e Ribeirão Pires tornarem-se novos municípios seriam deficitários. Suas despesas estariam maiores que a arrecadação. Óbvio que esses dados são questionáveis, uma vez que foi um órgão da própria prefeitura que os coletou, e logo, a prefeitura não concordava com essa emancipação. Pouco antes do natal, em 22 de dezembro, a visita de Getúlio Vargas a São Paulo, para inauguração de parte da Via Anchieta, trouxe forte alento aos emancipacionistas, porém a construção da Via Anchieta nem para todos foi boa: O D.E.R. – Departamento de Estradas de Rodagem – iniciou os trabalhos. Os engenheiros informaram que a nova rodovia, que depois denominou-se Via Anchieta, seria moderníssima (...) A antiga Vila onde todos se conheciam, passou aos poucos a receber gente estranha, de todas as classes e procedências. Escritórios, instalados em vários pontos, sediavam a direção das obras a cargo de engenheiros e funcionários de várias categorias, que foram se integrando no ambiente local, na sociedade, nos clubes, revelando-se alguns bons jogadores de futebol (...) Antes, entre os moradores, havia respeito mútuo a propriedade alheia, mas, com o início das obras, cercas iam

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abaixo, plantações e pomares eram invadidos, matas devastadas em grandes clareiras e entrecortadas de trilhos onde mãos estranhas lenhavam e exploravam tranquilamente. Acabou-se aí o bom tempo de colher, pelas matas e antigos quintais, jabuticabas, goiabas, araçás e outras frutas silvestres (...) Foi uma triste transformação. Foram destruídos os pomares, os campos e os bosques. Ficou soterrado pelo rolo compressor do progresso o nosso lugarejo, cuja vida de sossego e tranqüilidade agora, passados tantos anos, lembramos com tanta saudade (...) Seguiram-se vários anos nesse intenso trabalho. Finalmente, em 1942, foi inaugurada a primeira pista e, posteriormente, concluída a Via Anchieta, desviando o trafego do centro do nosso povoado. (PESSOTTI, 1981, p.91-92) Wallace Simonsen, provando do seu prestígio, trouxe Vargas para o centro de São Bernardo, proferindo um discurso de recepção que foi publicado dias depois em vários jornais paulistanos. Nele, defendeu explicitamente a emancipação: “(...) V. Sa. Compreenderá, pelos motivos que acabamos de expor, que vinha em nossos corações o desejo de ver esta cidade retornar ao quadro municipal da nação”. (Folha da Manhã, 24/dez/1943). Alguns dos presentes no evento contam que Vargas teria dito na ocasião que assumia o compromisso de colocar a cabeça no lugar de onde ela foi extirpada. (Médici, 1997, p.88). Obviamente que o discurso da prefeitura se opunha a essas idéias, tendo o jornal “O São Bernardo” no dia 25 de dezembro publicado o seguinte artigo: Examinando, detidamente, o que se fabrica e o que se realiza na Laminação Nacional de Metais, conversando com os seus diretores e técnicos, defrontando os seus milhares de operários, sua Excelência terá, certamente compreendido que a necessidade de se consolidar e se fortalecer a autonomia e a unidade deste município, não é apenas uma reivindicação histórica, senão um dever administrativo, que se impõe pelo próprio imperativo de sua vitalidade (...) Foi milagrosa, para nós, a visita do grande Presidente. Milagrosa, porque sua excelência, que vai decidir dos nossos destinos, como município, viu objetiva e subjetivamente, os que querem subdividi-lo e os que querem unificá-lo (...) Santo André será município autônomo e, talvez, grande Comarca, reagregadora de interesses e congraçadora de espíritos. No mesmo dia ressaltaram a chegada da FEB na Europa, mais uma vez o Estado Novo se utilizando da imprensa para fazer valer suas idéias nacionalistas e de irmandade aos aliados. Desperta grande interesse na Grã-Bretanha a chegada da Missão Militar Brasileira à Argel (...) considerando a importância do papel que desempenhará a Força Expedicionária Brasileira nas lutas da Europa ocupada, círculos oficiais expressaram a crença de que os contingentes militares do Brasil serão um notável acréscimo para os exércitos aliados que marcharão pelo leste, sul e oeste sobre a ‘fortaleza’ européia, segundo as decisões da Conferencia de Teheran.

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4.2-) 1944

Prossegue o racionamento, o já racionado açúcar é racionado novamente caindo o seu consumo pela metade, agora sendo de 500g por pessoa ao mês. No dia 4 de fevereiro aportaram em Santos 2 navios da esquadra norte-americana que patrulhavam o oceano. Vieram a São Caetano a convite da General Motors, eram chamados de “Marujos da Liberdade”. No dia 13 de fevereiro o jornal “O São Bernardo” divulga o seguinte balanço: Em 1943 Santo André teve sua receita orçada em Cr$ 6.100.000,00 que a muitos pareceu exagerada. Pois, a despeito disso, a arrecadação elevou-se a Cr$ 7.851.308,30, verificando-se, em conseqüência, um superávit de Cr$ 1.751.308,30 superior a receita orçada de muitos dos mais importantes municípios paulistas O assunto da possível anexação de Santo André pela capital tinha destaque em outros jornais, inclusive da capital: Como vocês vêm, os santoandreénses estão no bruto tipiti da indecisão, comprimidos entre a cruz e a caldeirinha. De um lado querem ver-se livres da prefeitura local que, como dizem ‘conquanto a renda municipal seja alta, as ruas estão sem calçamento, as estradas cheias de lama’. Do outro lado, ele têm medo da anexação, porque, como falaram e repetiu o jornal, ‘será que vão cuidar do desenvolvimento do lugar? Porque até agora se ouvem muitas promessas, mas obras mesmo é coisa que não aparece. (João Batepapo, Folha da Manhã, 25/fev/1944) No artigo de João Batepapo é possível notar que ele cita problemas da cidade que fazem com que a população fique balançada entre a manutenção do município, ou sua anexação a capital. Porém, antes de qualquer manifestação do povo, a prefeitura se manifesta através do jornal “O São Bernardo” no dia 12 de março: Não são poucos os que reclamam contra o fato da prefeitura ainda não ter calçado grande parte da área central da cidade. Até certo ponto, as reclamações parecem justas. Muitos porém examinam os problemas municipais sem conhecê-los na sua entrosagem e interdependência. No município o problema capital é o do abastecimento de água e esgotos. Não obstante o primeiro empréstimo feito, o seu ‘quantum’ não correspondeu ao valor da obra projetada, e, em conseqüência, a Prefeitura já teve de desviar de sua renda ordinária, para prosseguir naqueles trabalhos e fazer frente a juros e amortizações daquela operação; nada menos de Cr$ 11.000.000,00 (...) O problema do calçamento exige um plano de maiores proporções e deve ser conjugado com o das galerias para escoamento das águas pluviais. A anexação de Santo André e outros municípios da capital têm o interesse apenas de aumentar a população, e, em no máximo 3 anos passar a capital Federal, o Rio de Janeiro:

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(...) Fora daí, não vemos razão para a absorção de Santo André ou qualquer dos municípios vizinhos. Mais ricos ou mais pobres, vão eles vivendo com seus próprios recursos, que se aplicam em proveito deles mesmos. Anexados a capital, passarão a ser expoliados em beneficio da metrópole, que os sugará para construir suas avenidas e realizar obras suntuárias. (Folha da Manhã, 07/mar/1944) Porém a discussão começa a esvaziar-se devido a algumas definições. O “Diário Oficial do Estado”, em sua edição de 21 de março, publicou o parecer nº 353, de 1944 do Conselho Administrativo, a propósito da Divisão Administrativa e Judiciária do Estado, para o qüinqüênio de 1944-1948. Referente a Santo André: A emenda nº 2 diz respeito ao município de santo André, cuja extinção, prevista no projeto, este Conselho não aprovou, mantendo o ‘status quo’. Há, em torno desta emenda, duas opiniões divergentes. A Comissão revisora opinou, agora, pela conservação do município de Santo André, compreendendo o distrito sede, com suas duas zonas, e o de Mauá; e pela criação dos municípios de São Bernardo, composto de um único distrito, e de Ribeirão Pires, integrado pelo distrito da sede e pelo de Paranapiacaba. E, por seu termo, o Conselho Nacional de Geografia manifestou-se favorável a criação do Município de São Bernardo, compreendendo tão só, o distrito da sede, mas contrário a criação de Ribeirão Pires, que assim, deverá ser mantido como distrito de Santo André, juntamente com Paranapiacaba (...) Santo André e São Bernardo, pois ambos próximos da capital, representam importantes núcleos de população urbana, com capacidade de produção e trabalho bastantes para acelerar suas fontes de riqueza e seus serviços públicos, não havendo, por isso, razão de serem absorvidos pelos municípios visinhos na atual emergência. (O São Bernardo, 26/mar/1944) O descontentamento dos andreenses foi tamanho que até mesmo o nome do jornal foi alterado, logo na primeira edição, em 23 de abril, do “Borda do Campo” já vieram as justificativas, contidas de um ressentimento pela perda do distrito de São Bernardo. Em janeiro de 1939, pela Divisão territorial que se processou, o então Município de São Bernardo passou a denominar-se de Santo André, e desde aí deveria o periódico adotar novo cabeçalho, de vez que, desde essa época, a Vila de São Bernardo passou a constituir um distrito do grande e importante município, em cuja cidade – sede de Santo André – o jornal se edita (...) “Borda do Campo” foi o título lembrado para o jornal, em homenagem ao nome do primeiro núcleo creado pelos nossos antepassados em 1549, em terras de Piratininga, povoado esse que em 8 de abrl de 1553, teve o predicamento de “Vila de Santo André da Borda do Campo”. Na maioria das cidades essa nova divisão Administrativa e Judiciária dos Estados começou a valer em 1º de maio. Em São Paulo porém, devido ao prolongamento dos estudos e a falta de um parecer do presidente, a data alterou-se para 1º de janeiro de 1945.

34 O jornal “Borda do Campo” contra-atacava, colocando em todas as suas edições matérias que faziam um resgate histórico desde os tempos de João Ramalho até dias próximos. Em 21 de maio, segue os ataques: Uma das coisas que contrasta com o progresso e com o engrandecimento da cidade de Santo André, é a capelinha (...) Qual a causa dessa situação de vexame para os habitantes do Município, tendo como matriz do Padroeiro, uma capela que qualquer fazenda do interior do Estado tem melhor? A razão é simples. Falta nessa matriz um vigário brasileiro que tenha amor a sua terra e trabalhe para esse fim. Como a Igreja representa poder e status, não seria em Santo André diferente. Porém a discussão não se limitava ao tamanho apenas da capela, e sim ao fato do pároco ser um italiano. Temos dois problemas: Primeiro que o Brasil esta em guerra com os países do “eixo”, segundo e que causa mais constrangimento aos andreenses é o fato de São Bernardo estar conseguindo sua emancipação pelas mãos de muitos italianos, um deles inclusive, o próprio pároco Jerônimo Angeli. Em 4 de junho o jornal “Borda do Campo” publicou a seguinte matéria falando sobre a revisão do Decreto-lei nº 5901 de 21 de outubro de 1943, revisado em 2 de junho de 1944: Artigo 2º - É fixado o dia 1º de janeiro de 1945 para entrar em vigor o quadro territorial dos Estados, que ainda não o tenham aprovado até a data desta lei. Parágrafo Único – Nos estados a que alude este artigo, fica prorrogado até o dia 1º de janeiro de 1945 o quadro territorial aprovado para vigorar até 1º de janeiro de 1944, devendo o novo quadro territorial vigorar obrigatoriamente durante quatro anos apenas. A idéia da emancipação de São Bernardo parecia ser certa, porém o município de Santo André continuava com seus problemas, que na verdade assolavam boa parte dos brasileiros. No dia 18 de junho o jornal “Borda do Campo” publica uma matéria citando uma tabela de preços: Os nossos colegas do “Diário da Noite” tiveram a feliz idéia de publicar em confronto, uma tabela de preços de artigos da primeira necessidade em 1939 e 1944. São dados seguros e incontestáveis os que ali se alinham. E demonstrar, a evidência que o custo de vida, quer dos comestíveis, quer nos vestuários, nesse pequeno lapso de tempo, subiu em progressão que vai de 100 a 500 por cento! A coisa se representa de tal sorte absurda, que dificilmente se encontrará, em as muitas que se alegam, razão capaz de explicar esta monstruosidade economico-social. Como entender, na verdade, que na Inglaterra ou Estados Unidos, países que suportam o peso real e asfixiante de uma guerra dura e exaustiva, o custo de vida não haja, nestes últimos anos, subido sequer 20 por cento, e no Brasil, onde só chegaram reflexos da guerra, essa perturbação atinja a calamidade de 200 até 500 por cento!.. Como dissemos, muitos fatores se alegam para esta anomalia que esta levando o povo ao paroxismo da indignação.

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Percebe-se no discurso do jornal, embasado em dados de outro jornal da capital, que a repressão imposta pelo DIP já não é a mesma. O governo é criticado abertamente, isso sem levar em consideração a veracidade dos dados, mas colocando uma grande dúvida: Como um país que não está envolvido diretamente na guerra tem sua economia influenciada por ela, tendo uma inflação altíssima, ainda mais se comparada a de países envolvidos na guerra e que tem suas economias ligadas a brasileira? Vargas começava a perder seu controle, boa parte vindo da censura a imprensa, pouco era questionado seu governo até então, porém com a proximidade da vitória dos aliados (que representavam as “democracias”) na II Guerra e a aproximação econômica e política cada vez maior com os Estados Unidos (Economia Liberal), a governabilidade ditatorial de Vargas se tornava questionável. O mesmo Vargas assinou um decreto autorizando a Light & Power

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a fornecer 200

milhões de litros de água por dia para as indústrias de Santo André. Essa medida possibilitou um maior desenvolvimento das indústrias locais, que consumiam muita água, o que acabava acarretando em falta de água para população. Por isso o decreto. Enquanto isso a II Guerra continuava e as Forças Expedicionárias Brasileiras pra lá se dirigiam: Desembarcaram no dia 16 de julho em Nápoles, Itália, as tropas brasileiras que combateram na II Guerra e que vão lutar ao lado de seus aliados em defesa da liberdade e da paz do mundo (...) A justiça divina, porém em seus altos desígnios, houve por bem de aparar esse golpe dos despóticos tiranos, proporcionando ao Brasil de dar uma demonstração ao mundo de sua organização, se seu poder militar e sobretudo aparecer como nação soberana que sabe honrar os seus compromissos internacionais e de paz americana fiel aos laços de amizade continental. (Borda do Campo, 18/jul/1944) Percebe-se nesse artigo, que mesmo perdendo a capacidade de reprimir as opiniões, o Estado Novo continuava a se utilizar da imprensa para incutir o sentimento nacional de solidariedade aos pracinhas. Na verdade Vargas se utilizava da II Guerra para tirar de foco a contrariedade de seu governo, e assim se sustentar no poder. Já a chegada das tropas brasileiras muito repercutiu no Brasil: Discurso de Churchil em 02 de agosto: Do mesmo modo, nesse teatro da guerra mediterrânea, recentemente tivemos a satisfação de saudar os nossos camaradas de armas, muito bem equipados, da Força Expedicionária do Brasil,e há muitas legiões mais que virão desse grande país, que a longo tempo vem prestando valiosos serviços de guerra a causa aliada tanto no ar quanto no mar. (Borda do Campo, 06/ago/1944) 15 A The São Paulo Light & Power foi criada em Toronto em 1899 e autorizada pelo presidente Campos Salles pelo decreto nº 3.349 a funcionar no Brasil também em 1899. Ganharam a concessão para o serviço de bondes e fornecimento de energia elétrica para cidade de São Paulo . A Companhia cresceu junto com o desenvolvimento industrial da cidade. Foram eles os responsáveis pela construção das represas Billings e Guarapiranga.

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O DIP se utilizava de pequenos discursos esporádicos para fazer um grande sensacionalismo, além de que não se sabe se quer se foram verdadeiras as palavras. Políticos como o prefeito Carvalho Sobrinho também se aproveitavam dessas propagandas: Telegrama de Carvalho Sobrinho ao Ministro da Guerra General Gaspar Dutra. A noticia de que o Corpo Expedicionário do Exército Brasileiro acaba de pisar terras continente europeu teve, no Município de Santo André, a mais patriótica repercussão. Como prefeito deste parque industrial, que trabalha ininterruptamente pelo desdobramento crescente do nosso esforço de guerra, quero ser dos primeiros a levar Vossa Excelência o testemunho das minhas respeitosas congratulações. (Borda do Campo, 06/ago/1944) Por sua vez, em Santo André, a prefeitura publica decreto no qual desapropria amigável ou judicialmente as residências nas ruas fronteiriças a Avenida Portugal, com o intuito de urbanizar o centro. Para urbanizar o centro havia dinheiro, porém para o calçamento das ruas, nenhuma solução. º

A resolução n 4 de 31 de julho de 1944 da Subcomissão de abastecimento do Município de Santo André publica tabela fixando preços para os artigos de primeira necessidade. Essa resolução só vem comprovar que a inflação realmente andava alta. Carvalho Sobrinho temendo o avanço de Wallace Simonsen rumo a emancipação de São Bernardo publica decreto no dia 12 de agosto o nomeando Subprefeito do Distrito de São Bernardo, sendo sua posse realizada no dia 15 do mesmo mês com a presença de representantes de todos os Distritos. Tentando conter a euforia dos são bernardenses o jornal “Borda do Campo” do dia 13 publica artigo afirmando que o povo de São Bernardo recebeu “carinhosamente” a notícia e que se faziam felizes e contentes, e que até festejaram. A tentativa era clara, evitar a emancipação, fazendo de Simonsen alguém da prefeitura, tentando assim a desmobilização dos emancipacionistas. No dia 14 de agosto foi inaugurada uma nova fábrica de projeteis de artilharia, que ficou a serviço das Forças Armadas do Brasil. Em uma última tentativa desesperada, o jornal “Borda do campo” no dia 5 de novembro publicou: Os nosso leitores devem estar lembrados de que anos atraz, até principio de 1934, a estação ferroviária da cidade de Santo André se chamava – “Estação de São Bernardo” – (...) Com um pequeno trabalho das pessoas de boa vontade, de então, auxiliadas pelo poder Público, fácil foi conseguir-se da estrada de ferro São Paulo Railway substituir o nome da estação ferroviária local de “São Bernardo” pelo de “Santo André” (...) O jornal então faz campanha para alterar o nome da estação de “Alto da Serra” para “Paranapiacaba” na tentativa de desvincular da memória o nome da estação ao ex-município de São Bernardo.

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No dia 8 de novembro Simonsen reúne todos os diretores da Sociedade Amigos de São Bernardo: Aos oito dias do mês de novembro de 1944, as 21 horas, com presença de todos os diretores da Sociedade Amigos de São Bernardo, realizou-se uma reunião extraordinária, convocada pelo Presidente Wallace Simonsen. Abrindo a sessão, o sr. Presidente comunicou a casa, que era com prazer que levava ao conhecimento dos senhores diretores que, durante a tarde, deste mesmo dia, estivera no Palácio dos Campos Elíseos e que fôra felicitado pelo sr. Dr. Fernando Costa, D.D. Interventor Federal no Estado de São Paulo pela creação do Município de São Bernardo do Campo e que, com um cordial abraço cumprimentava o futuro prefeito de São Bernardo, pedindo-lhe que os tornassem extensivos aos demais Diretores desta Sociedade (...) O sr. Wallace Simonsen, continuando declarou que o sr. Dr. Carvalho Sobrinho, num gesto fidalgo, lhe dissera, que fazia questão de tomar a iniciativa dos festejos por ocasião de sua posse no caso de Prefeito de São Bernardo. (Ata de reunião do dia 08 de novembro de 1944 da Sociedade Amigos de São Bernardo, publicada na Folha de São Bernardo do dia 02 de dezembro de 1978) Porém somente no dia 10 de novembro divulgou-se a noticia da emancipação. O aguardado Decreto Estadual nº 14.334, assinado por Fernando Costa, veio em 30 de novembro. A partir do primeiro dia de 1945 passaria a existir oficialmente o município de São Bernardo do Campo, separando-se de Santo André (o apêndice “do Campo” surgiu devido a necessidade de se diferenciar de um município homônimo já existente, localizado no Maranhão). No dia 11 de novembro festas aconteceram por todo Distrito de São Bernardo, promovidas pela Associação Amigos de São Bernardo, Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, o Sindicato das Indústrias de Marcenaria e a Associação Beneficente de São Bernardo. Começaram logo pelas 6 horas da manhã com a Corporação musical “Carlos Gomes” e na seqüência grande queima de fogos. Às 10 horas seguiu uma missa aos arredores da igreja Matriz, com grande participação popular. A festa não parou e às 14 horas uma grande passeata tomou as principais ruas, onde seguiram-se diversos discursos e ao final foram distribuídos lanches e sucos. A noite aconteceu uma solenidade na sede da Associação Amigos de São Bernardo e depois um baile na quadra do Esporte Clube São Bernardo. O jornal “Borda do Campo” do dia 12 de novembro nada noticiou sobre o fato, ou por falta de opinião, ou talvez porque a edição já estivesse fechada. Porém sua posição se deu na edição do dia 19 do mesmo mês: O Snr. Wallace Cockrane Simonsen, digno Subprefeito de São Bernardo e elemento preponderante nos trabalhos desenvolvidos em prol da elevação do Município, foi e mui merecidamente, alvo da mais expressiva demonstração de apreço e estima por parte de toda a população grandemente entusiasmada e grata pelo importante acontecimento.

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No dia 22 de novembro foi realizada uma festa em homenagem a Wallace Simonsen nas dependências da Sociedade Beneficente de São Bernardo, contando com artistas de diversas emissoras de televisão da capital, além de pessoas de São Bernardo e Santo André. Já não podendo fazer mais nada em relação a emancipação de São Bernardo, a prefeitura de Santo André começa a se preocupar com sua industrialização. Preocupa-se com a falta de técnicos especializados para o desenvolvimento dessas indústrias nacionais. Cogitou-se a possibilidade de importar mão-de-obra especializada, ou treinar brasileiros no exterior. Sendo assim, atendendo a essa situação, o Presidente Getúlio Vargas, empenhado em estimular o surto industrial brasileiro, criou bases amplas para o desenvolvimento do ensino profissional no país. A célula mater dessa organização é o SENAI, que recolhe contribuição de todas as indústrias nacionais e emprega na difusão do ensino profissional (...) O aumento de verbas anunciado pelo Sr. Dr. Roberto Simonsen indica que as esperanças do governo começam a realizar-se. (03/dez/1944 Borda do Campo)

Nota-se que o Presidente da Federação das Indústrias é irmão de Wallace Simonsen, e como dito anteriormente dono da Cerâmica São Caetano, ou seja, Santo André e seu principal Distrito, São Caetano, assim como o novo município de São Bernardo, se faziam bem representados nas políticas industriais. A situação local se encaminhava, o jornal Borda do Campo do dia 10 de dezembro pública seguinte matéria ainda sobre a emancipação: São Bernardo do Campo º No dia 1 de janeiro de 1945, instala-se solenemente o município de São Bernardo do Campo, compreendendo o antigo território do Distrito de São Bernardo (...) o município de Santo André sofre um desmembramento de 440 quilômetros 2 quadrados de sua área territorial, que era de 817 Km em toda sua extensão. Dos 440 Km2 de São Bernardo, 160,5 quilômetros estão cobertos de água e que constituem os grandes lagos da Light & Power, denominados reservatórios do Rio Grande e Jurubatuba (...) O nosso jornal primou por combater esse desmembramento que vinha enfraquecer a importância geral do nosso município de Santo André. Mas, agora, ante os fatos consumados, só nos resta manter sincera e cordialmente a política de boa vizinhança e augerar aos laboriosos e dignos habitantes toda a sorte de prosperidade para o engrandecimento de São Paulo e maior glória do Brasil. Apesar de ainda não aceitarem a emancipação, a vida dos andreenses continuava, e logo as discussões e protestos voltaram-se para os abusivos aumentos cometidos pela São Paulo Railway, que no presente ano havia aumentado por 4 vezes o valor da tarifa de embarque. Seguiram-se também reclamações pela falta do calçamento das ruas, que em período chuvoso piorava.

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No dia 5 de dezembro por decreto estadual de Fernando Costa, Wallace Simonsen era nomeado oficialmente prefeito de São Bernardo do Campo. º

No dia 1 de janeiro de 1945, às 15 horas em sessão solene no salão nobre da prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo, Wallace Simonsen assumia a prefeitura do mais novo município da região. A partir de agora São Bernardo governava-se por si só, com sua própria arrecadação e sua lei Orçamentária. Sendo assim, tornara-se emancipado de Santo André, agora formando duas classes políticas, duas classes industriais e, principalmente, duas classes econômicas. Obviamente os problemas internos e estruturais das cidades não haviam acabado. Com o fim da II Guerra Mundial se aproximando e a eventual queda de Vargas, os sindicatos voltaram a se organizar e reivindicar seus interesses, assim como os partidos, organizações e associações. O decreto-lei 7474/45 de 18 de abril anistiou presos políticos a partir de 16 de julho de 1934 até a data do mesmo facilitando essas organizações.

4.3 Fim do Estado Novo e da II Guerra Mundial O Estado Novo de Vargas começa o seu declínio ditatorial com a entrada do Brasil na guerra. A partir de 1942 o regime autoritário já começa uma transição para um regime mais aberto; inicia-se uma campanha popularizando a imagem de Vargas, que ganha notoriedade em 1943 com a implementação da CLT e aumento do salário mínimo. Em 42 ainda, os aliados obtiveram vitórias nas frentes de batalha, porém somente em 1941 a guerra ganhou status de Mundial, com a entrada dos Estados Unidos, após o ataque japonês a Pearl Harbor no Pacífico. Assim, os norte-americanos obrigaram os japoneses a recuar e, no norte da África, as tropas inglesas venceram as alemãs. Na União Soviética, os alemães foram derrotados na Batalha de Stalingrado. Foi nesse mesmo ano, que o Brasil declarou guerra ao “eixo”, depois do afundamento de navios nacionais por submarinos alemães. Foi no ano de 1943 que a pressão interna sobre o regime ditatorial aumentou, a UNE (União Nacional dos Estudantes) realizou passeatas contra o nazi-fascismo; diversas outras lideranças começaram a contestar o governo. Em Minas Gerais se lançou um manifesto conhecido como Manifesto dos Mineiros

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. Mesmo reprimindo o manifesto, Vargas prometeu

eleições presidenciais para depois do fim da guerra, em um “ambiente de paz e ordem”. Os aliados desembarcaram na Sicília e o rei Vitor Emanuel III destituiu Mussolini do cargo de primeiro ministro, que se refugiou no norte da Itália, onde depois foi assassinado em 1945. A Itália se rendeu as forças aliadas e passou a combater os nazistas no seu território que permanecia ocupado. Aqui no Brasil cada vez mais a pressão aumentava, e em 1944 alguns setores oposicionistas começaram a se articular pela candidatura a presidente do General Eduardo Gomes. 16 O Manifesto dos Mineiros foi uma carta aberta publicada em 1943 pela elite liberal (advogados e juristas) do estado de Minas Gerais em defesa da reinstituição da democracia e do fim do Estado Novo. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_dos_Mineiros)

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No dia 22 de janeiro de 1945 aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo o I Congresso Nacional de Escritores. A reunião foi uma manifestação de oposição ao governo Vargas, contribuindo para aprofundar a crise do regime, que ganhou respaldo em janeiro de 1945 com o apoio do escritor José Américo de Almeida

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.

Enquanto isso na Normandia, em 6 de junho aconteceu a grande invasão aliada, conhecida como “dia D”. No lado ocidental os aliados (Estados Unidos e Inglaterra) fizeram os alemães recuarem, enquanto do lado oriental a União Soviética avançava no seu território. A França deixou de ocupada pelos nazistas. A Alemanha entrava em decadência, suas fábricas já não conseguiam produzir armamento suficiente, os recursos se esgotavam. Além de incessantes ataques aéreos por parte dos aliados. Em 2 de maio de 1945, os aliados chegaram a Berlim. Dias antes Hitler se suicidava. No dia 8, a Alemanha assinara sua rendição, o conflito chegava ao fim na Europa. Porém permanecia no Pacífico, o Japão assinou sua rendição apenas em 15 de agosto, com a explosão das bombas atômicas que arrasaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A II Guerra acabou com saldo aproximado de 40 milhões de mortes, cidades destruídas, principalmente as européias e duas novas potências no cenário mundial: Estados Unidos e União Soviética. No Brasil, em maio, Vargas decretou o código eleitoral: Em 2 de dezembro seriam realizadas as eleições para presidente e parlamento, e em maio de 1946 eleições para governador e assembléias legislativas dos Estados. Porém as novas regras permitiam a Vargas se candidatar. Surgiram então três partidos: UDN (União Democrática Nacional) representando as elites, principalmente as industriais e a classe média. PSD (Partido Social Democrata), que era beneficiado pela máquina política do Estado Novo, e defendia a política varguista. PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) formado a partir da base sindical de Vargas. A UDN apoiava Eduardo Gomes, enquanto que o PSD lançou Eurico Dutra. O PTB não lançou candidato. A grande dúvida era se Vargas concorreria às eleições. O debate se deu entre udenistas e comunistas. Com a anistia o PCB (Partido Comunista Brasileiro) voltava a ser regularizado. Os udenistas queriam primeiro as eleições para depois uma Assembléia Nacional Constituinte. Os comunistas divergiam: Assembléia Constituinte na visão deles era mais importante que as eleições, pois os próximos governos já seriam eleitos dentro da nova legislação, o que confrontava os udenistas que não admitiam que Vargas comandasse essa Assembléia. Udenistas lançaram campanha para uma rápida eleição. Os comunistas se aproximaram dos petebistas lançando o movimento “queremista”, que tinha como principais palavras de ordem: “Queremos Getúlio” e “Constituinte com Getúlio”. 17 José Américo de Almeida nasceu em Areia (PB), em 1887, pertencente a uma família com influência na política da região. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife em 1908 (...) Apoiou Vargas nas eleições de 1930 e fez parte do seu governo. Ministro do Tribunal de Contas da União concedeu entrevista ao jornalista Carlos Lacerda, publicada no Correio da Manhã, criticando o governo federal. Essa entrevista rompeu com a censura até então vigente no país, alcançando grande repercussão. Em seguida, dedicou-se à articulação da candidatura presidencial do brigadeiro Eduardo Gomes, lançada por opositores do Estado Novo reunidos na União Democrática Nacional (UDN), fazendo parte, inclusive, da comissão diretora do novo partido. (http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/biografias/ev_bio_joseamericoalmeida.htm)

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Santo André se dividia, se de um lado havia grandes industriais, empresários e banqueiros como a família Simonsen, do outro havia uma grande massa de operários, em boa parte comunistas. Ambos os lados eram contraditórios, os industriais que pediam a saída de Vargas, sendo ele um dos responsáveis pela política nacional de industrialização, que possibilitou o crescimento desses empresários e que tanto descontentou as oligarquias, principalmente a cafeeira. Já os comunistas queriam o fim da ditadura, porém apoiavam Vargas para a realização de uma Assembléia Constituinte, temiam a conquista do poder pelos capitalistas, além de que, muitos trabalhadores viam em Vargas a prorrogação e a conquista de novos direitos trabalhistas. Getúlio antecipou as eleições para os governos estaduais para 2 de dezembro. As oposições se articularam com medo de Vargas sair fortalecido das eleições. Em 25 de outubro Vargas nomeou seu irmão como chefe da Policia do Distrito Federal. Foi a gota d’água. O medo das oposições que se articularam principalmente com os altos escalões das Forças Armadas, fez com que, no dia 29 de novembro o Alto Comando do Exército depusesse o presidente Vargas, assumindo em seu lugar José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Eleitoral. Rio, 29 (Da nossa Sucursal) – O sr. Getúlio Vargas acaba de renunciar. Assumirá o Governo o Ministro José Linhares, Presidente do Superior Tribunal Eleitoral. Nos Estados assumirão as funções atualmente exercidas pelos interventores federais, os presidentes dos Tribunais Regionais eleitorais. (Folha da Manhã, 30/out/1945) Acabara-se assim o Estado Novo, porém a política e seqüelas ainda permaneceram influenciando o cotidiano dos brasileiros por longo período, assim como as contradições do seu governo.

42 Considerações Finais O Estado Novo de Vargas procurou se impor enquanto nação, e cada região do Brasil buscou ao máximo ser progressista. Esse progressista no sentido da industrialização, que começara a avançar no Brasil a partir da crise de 29. Em contrapartida a essa depressão, outro setor se desenvolvera rapidamente nos anos 30: aquele que produzia para o mercado interno, sobretudo o industrial. A desvalorização de nossa moeda – um dos instrumentos de defesa da renda no setor cafeeiro – encarecendo os produtos importados, estimulara a produção interna de bens manufaturados, reforçada pelo crescimento do mercado consumidor urbano. (Sola, 1982, p. 262) O Estado de São Paulo era chamado de “o maior centro industrial” da América do Sul, e Santo André, a época o que compreendemos hoje por Grande ABCDMRR, como o maior centro industrial do Estado de São Paulo. Em muitos jornais e livros, principalmente os de memórias, encontra-se que a cidade de São Bernardo nunca havia se “acomodado”, ou “engolido” o rebaixamento tão facilmente, que desde o começo os são bernardenses ou batateiros já se articulavam. Dois destaques: O primeiro sobre a questão da articulação, que só foi possível ser iniciada após a entrada do Brasil na II Guerra, quando a repressão interna diminuiu. Insatisfação, principalmente da elite local, até houve desde o início, porém articulação somente em meados de 1943, que na seqüência acabou com a fundação da Sociedade Amigos de São Bernardo. O segundo destaque fica nas colocações onde afirmam que a cidade não se acomodara; o termo cidade é usado erroneamente, no lugar deveria ser colocado que as elites de São Bernardo não se conformavam com esse rebaixamento; em nenhum momento a discussão foi colocada a sociedade. Fácil de constatar é só verificar as pessoas que fundaram a Sociedade Amigos de São Bernardo: Armando Setti (ex-prefeito), Pery Ronchetti (Empresário do ramo têxtil), João Coraza (Empresário Moveleiro), Francisco Miele (Empresário Moveleiro), Gabriel Nicolau (Médico), Plínio Ghirardello (Dentista) e Nerino Colli (Operário). Contribuíram o pároco Jerônimo Angeli e nada menos que Wallace Simonsen, dono do Banco Noroeste, além de empresário em vários ramos. Mesmo tendo um operário, ele não falava pela classe, muito menos abria o debate no chão das fábricas. Outro fator importante para qualquer emancipação de qualquer povoado é a realização de um plebiscito, o que não aconteceu em nenhum momento, nem no rebaixamento, nem na emancipação. Esses fatores só demonstraram que todas as mudanças ocorridas se deram por pressão das elites, ou seja, fatores econômicos se sobrepuseram aos políticos, onde o capital sempre falou mais alto. A mudança da sede de São Bernardo para Santo André, assim como a troca de nome dos municípios se deu no período em que o Estado Novo precisava se afirmar; essa afirmação

43 vinha através da ditadura de Vargas que impunha suas vontades. Porém era uma ditadura que se sustentava em um plano de desenvolvimento industrial do país. Nesse aspecto São Bernardo não tinha como competir economicamente com Santo André, a estrada de ferro Santos-Jundiaí , proporcionou um desenvolvimento mais acelerado de Santo André em relação a São Bernardo. Como política não se faz sem dinheiro, logo a sede e o nome do município foram alterados. A situação realmente só começou a se modificar com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial. O fato de o Brasil lutar ao lado das “democracias” (aliados) contra o autoritarismo (eixo) colocava em xeque a governabilidade de Getúlio enquanto ditador, que apresentava características que lembravam o fascismo. A

repressão

diminui,

e

tornara-se

possível

a

reunião

dos

empresários

emancipacionistas. Em nenhum momento deixou-se de haver encontros subversivos que questionassem o governo. Santo André tinha muitos anarquistas e comunistas entre o operariado, porém que lutavam por causas mais nobres a sociedade do que egoísmos políticos em disputa pelo poder. Em 1943 Wallace Simonsen abriu uma agencia do Banco Noroeste na rua Marechal Deodoro, em São Bernardo; ele costumava passar finais de semana e férias na sua chácara, no bairro hoje de Nova Petrópolis. O grande produto negociado pelo seu Banco era o café, que passava pela estrada de ferro para chegar ao Porto de Santos, porém com a construção da Via Anchieta, logo esse café passaria por São Bernardo. Simonsen possuía muito prestígio entre os políticos a nível nacional, seu irmão era Roberto Simonsen, dono da Cerâmica São Caetano e um dos fundadores da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Foi esse prestígio (econômico) que fez com que durante a visita de Vargas à Santo André ele passasse por São Bernardo para inauguração do primeiro trecho da Via Anchieta; além disso Simonsen o levou para sua chácara, oferecendo toda “hospitalidade do povo” de São Bernardo. Além também, conseguiu o apoio do embaixador do Brasil nos Estados Unidos Macedo Soares e do senador Marcondes Filho. Carvalho Sobrinho logo viu que resistir ao prestígio de Simonsen seria difícil e lhe ofereceu o cargo de subprefeito de São Bernardo. Mesmo os jornais locais, principalmente “O São Bernardo” que defendia sempre os interesses da prefeitura e depois mudara de nome para “Borda do Campo”, em nenhum momento fizeram críticas a Wallace Simonsen, criticava-se o “movimento emancipacionista” e também os italianos, grande parte desses emancipacionistas, porém em nenhum instante as críticas se dirigiam a Simonsen. Ademir Médici em matéria para o jornal do Comércio e Indústria de São Bernardo de agosto de 1994, que comemorava os 50 anos da Associação Comercial e Industrial de são Bernardo fez a seguinte colocação: A reunião histórica de fundação da Associação Comercial e industrial foi dirigida por Wallace Simonsen, presidente da

44 Associação Amigos de São Bernardo. Simonsen defendeu a união das classes conservadoras de São Bernardo. Destacou o movimento vivido pelo país, de formação das suas entidades de classe. Outra decisão tomada naquele 27 de setembro de 1944: a Associação Comercial e Industrial funcionaria na sede da Sociedade Amigos de São Bernardo, enquanto não tivesse a sua própria. Eram considerados seus fundadores os 111 empresários que assinaram a ata de criação da entidade, incluindo-se várias pessoas jurídicas. Simonsen propõe “união das classes conservadoras” e “eram considerados seus fundadores os 11 empresários que assinaram a ata de criação da entidade”. Qual o momento em que os anseios da cidade foram colocados em questão? Leiam-se anseios da cidade como anseios do povo, que sofria com a falta de água encanada, racionamento de alimentos, calçamento das ruas que eram inexistentes e outros mais. Essa Associação Comercial era formada em boa parte por aqueles que se chamavam emancipacionistas. Na mesma matéria Médici comenta: A principal função da entidade [Associação Comercial e Industrial de São Bernardo] era prestar serviços as indústrias locais, em especial as 130 fábricas de móveis. Toda a parte trabalhista das fábricas era realizada pela associação: pagamento e registro dos empregados, recolhimento do IAPI, elaboração das relações de dois terços e de menores quitações. Uma associação que, logicamente, cuidava dos interesses da sua classe, sendo o grande interesse a emancipação de São Bernardo, onde a governariam entre eles, com os próprios tributos recolhidos de suas empresas. Da mesma matéria de Ademir Médici, um depoimento de Attílio Zoboli, que vivia em São Bernardo a época: Sobre o rebaixamento da cidade em 1938: Era tudo feito nos gabinetes. Quando o povo tomou conhecimento já estava tudo consolidado. Não havia nem como se manifestar, até porque vivia-se um momento de ditadura. Também não tínhamos lideranças políticas adequadas. Se tivéssemos, o povo seria levantado para protestar. Naquele momento ninguém liderou qualquer movimento (...) Sobre a participação popular [na emancipação] no início tudo foi feito com certo sigilo. Depois houve adesão total. Todos torciam para que Simonsen vencesse. Ele passou a ser venerado. Com a emancipação decidida, o povo foi as ruas. A festa no campo do Esporte foi memorável. A participação que ele se refere está na hora da festa e culto a Wallace Simonsen, afinal de contas quem não gostava de festas? A construção deste trabalho se deu na verificação da historiografia oficial da cidade de São Bernardo do Campo, que coloca o rebaixamento da cidade a distrito como uma desonra

45 aos são bernardenses, enquanto que a emancipação como sendo a grande glória desse povo batateiro. O trabalho procurou demonstrar que São Bernardo estava inserido dentro de um contexto nacional, e que o Brasil por sua vez, em um contexto internacional, e que mesmo com os egoísmos das elites locais, muito da trajetória dessas cidades esteve ligado a esses contextos. Além de ressaltar que não houve participação popular em nenhum dos fatos, o que faz com que a nossa história não seja enraizada na memória cotidiana do povo.

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