\"São... Coisas do género!\" - Representações sociais de género dos jovens portugueses

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Licenciatura em Sociologia Trabalho Académico NÃO Publicado, com avaliação de 15 valores

Laboratório de Relatório de Projecto em Sociologia 2013/14 Relatório de Projecto Final

“SÃO… COISAS DO GÉNERO!” Representações Sociais de Género dos Jovens Portugueses

Diogo Santos • 54915 Filipa Pereira • 54931 SC1

Docente: Joaquim Nave

16 de Junho de 2014

Agradecimentos

Agradecimento aos professores Madalena Ramos e Joaquim Nave pela disponibilidade, atenção e prontidão no esclarecimento de dúvidas que surgiram na realização do projecto.

Um especial agradecimento à Joana Caranguejeiro, aluna do 2º Ano de Sociologia no ISCTE-IUL, pelo contributo fundamental na recolha dos dados e na realização de análises em SPSS. .

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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 3 Capítulo 1 – Apresentação da pesquisa ............................................................................ 4 Resumo do Projecto ...................................................................................................... 4 Problemática e Hipóteses.......................................................................................... 4 Modelo de análise ..................................................................................................... 5 Metodologia .............................................................................................................. 6 Dimensões de análise – Resumo da problemática específica ....................................... 7 Conjugalidade ........................................................................................................... 7 Trabalho .................................................................................................................... 9 Capítulo 2 – Apresentação e análise dos resultados ....................................................... 10 Dimensões de análise ................................................................................................. 11 Conjugalidade ......................................................................................................... 11 Trabalho .................................................................................................................. 23 Conclusão ....................................................................................................................... 29 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 32 Anexos ............................................................................................................................ 38

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Introdução

Este relatório surge no seguimento do relatório do semestre passado, de modo a ir ao encontro dos objectivos inerentes à cadeira, o presente trabalho terá por objectivo compreender qual as representações sociais de género dos jovens face a duas dimensões específicas: a conjugalidade e o trabalho. As questões de género tendem a ser particularmente controversas e por isso serão abordadas sensivelmente de modo a que se perceba qual o posicionamento do indivíduo neste âmbito. Portanto, sucintamente, se este prima a igualdade entre géneros ou se pelo contrário, demonstra um posicionamento que tem subjacente a desigualdade entre géneros. Desta forma, e na continuação do projecto anteriormente delineado propomos primeiramente uma breve passagem pela problemática e hipóteses de trabalho definidas no relatório anterior, importa também resumir as metodologias utilizadas como forma de relembrar o processo pelo qual o grupo decidiu enveredar para a obtenção dos dados. Posteriormente é fundamental resumir cada uma das problemáticas inerentes as duas dimensões deste projecto, com o intuito de afirmar os principais argumentos antes referidos, que servirão de base teórica as questões anteriormente formuladas. Por fim no capítulo final pretende-se apresentar os dados recolhidos, inicialmente com uma descrição geral e em seguida através de uma divisão por dimensões, à semelhança do relatório anterior, seguir as propostas de interpretação destes resultados para a conjugalidade por Filipa Pereira e do Trabalho por Diogo Santos.

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Capítulo 1 – Apresentação da pesquisa Resumo do Projecto Problemática e Hipóteses Foi desenvolvida uma extensa pesquisa de enquadramento no início deste projecto, incluindo diversas teorias e diferentes autores, demonstrando o estado da arte em relação a este tema. Contudo finalizámos com algumas que serviram de base à pesquisa, sintetizamos agora algumas delas com o intuito de relembrar. Como Diana Maciel (2010) apresenta, sociologicamente o conceito de género aparece associado à sociologia da condição feminina (Maciel, 2010:7). Todo o desenvolvimento que daí adveio manteve-se na área temática do trabalho, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, por exemplo (como se vai poder verificar no desenvolvimento desta dimensão no capítulo seguinte) e das relações, entre elas na conjugalidade (também à frente desenvolvida). Desta forma e para entender a inclusão do conceito de jovem é necessário recorrer ao contributo de Maria de Lourdes Santos que assume jovem como “condição” e como «categoria sociológica, que não se apresenta homogénea, antes acusa as diferenças de posição, que no jogo das relações sociais, os jovens ocupam através dos respectivos vínculos familiares» (Santos, 1975:635). Na mesma linha de raciocínio, Lucia Demartis afirma que «todas as sociedades distinguem os seus membros de acordo com o sexo: [e] relativamente a este esperam-se comportamentos diferentes e o pressuposto de papéis diversos» (Demartis, 2006:128). Posto isto, e para finalizar, é necessário clarificar quais são as nossas duas questões de partida que sustentam a nossa pesquisa: a) A família, os grupos de pertença e os media na formação das representações de género dos jovens na conjugalidade. b) A família, os grupos de pertença e os media na formação das representações de género dos jovens no trabalho.

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Modelo de análise No seguimento da questão de partida, exposta anteriormente, é importante salientar de que forma esta foi desdobrada, desta derivam outros dois pontos que formam as nossas principais dimensões, a conjugalidade e o trabalho. Seguidamente está apresentado o modelo segundo o qual este projecto foi estruturado.

AS REPRESENTAÇÕES DE GÉNERO ENTRE OS JOVENS PORTUGUESES

RELAÇÕES SOCIAIS

JOVENS

MEDIA

FAMÍLIA

GRUPOS DE PERTENÇA

HABITUS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÉNERO

CONJUGALIDADE

TRABALHO

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Metodologia O objectivo desta investigação, consistia na realização de um levantamento de informações, entre os jovens Portugueses, com o intuito de se verificar quais as representações que estes possuem acerca das questões de género. A fim de darmos conta da realidade pretendida, delineou-se uma estratégia metodológica que pretende privilegiar uma pesquisa de carácter quantitativo e que redunda na elaboração de um inquérito por questionário, o qual já foi aplicado e analisados os dados recolhidos. Consideramos ser esta a estratégia que melhor se adequa às nossas intenções devido ao facto de nos possibilitar a produção de informação estatística mediante os recursos disponíveis, e também, por nos permitir recorrer a um universo relativamente alargado. Não havendo possibilidade de alcançar a representatividade da amostra, esta pesquisa tem um carácter eminentemente exploratório, em que o intuito é explorar as representações dos jovens relativamente às questões de género, como já foi referido. Portanto, apenas nos permitirá uma aproximação à realidade em questão. Ainda assim, foram feitos os possíveis para que obtivesse uma amostra aceitável, foi conseguido porém como veremos no segundo capítulo a pesquisa ficou condicionada por algumas particularidades estatísticas que irão sem explicadas. Resta acrescentar que, a população – alvo (população à qual se pretende generalizar os resultados) neste estudo, incidiu na população jovem, mais precisamente, em indivíduos com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos de idade1. Já no que concerne ao local, optou-se por não se delimitar a população a uma área restrita, ou local de residência, visto não existir qualquer vantagem informativa nessa restrição. Desta forma após um pré-teste inicial, com o objectivo de afinar algumas questões e perceber a reacção dos inquiridos, decidiu-se aplicar os inquéritos por questionário pela via online. Recorreu-se ao recurso informático da Google gratuito, o que permitiu de forma mais facilitada a concepção da estrutura como a sua divulgação2.

1

A idade inicialmente considerada contemplava um intervalo diferente do que depois foi realmente aplicado. 2 Inquérito aplicado online , bem como um elemento de publicitário, encontram-se em anexo, página T.

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Dimensões de análise – Resumo da problemática específica Conjugalidade «Frente a esse mundo de objectos, pessoas, acontecimentos ou ideias, não somos apenas automatismos, nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse mundo com os outros […] Eis porque as representações são sociais e tão importantes na vida cotidiana…Elas circundam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens» (Grassi, 2006: 252).

O presente subcapítulo terá como principal dimensão a conjugalidade, onde se pretenderá desconstruir a seguinte pergunta de partida: A família, os grupos de pertença e os media na formação das representações de género dos jovens portugueses na conjugalidade. Por outras palavras a conjugalidade estará no cerne da construção deste capítulo, na pretensão de se verificar se a família, os grupos de pertença e os media terão um papel decisivo na formação das representações sociais dos jovens. É procurado perceber se as representações apresentam um caracter igualitário entre géneros, ou seja, se reflectem uma mentalidade que visa garantir os mesmos direitos, deveres e práticas entre géneros. Ou se pelo contrário, exibem um carácter discriminatório, indo ao encontro da diferenciação entre géneros e a na atribuição de papeis igualmente distintos. Face a enunciação do objectivo inerente a esta dimensão, convirá relembrar algumas das principais ideias que a estruturaram. Assim sendo, nesta primeira fase será feita uma breve menção às entidades socializadoras em análise: a família, os grupos de pertença e os media, que no seu conjunto nos darão as directrizes essenciais para uma melhor analise das representações de género dos jovens. Na linha de raciocínio de Simmel, os processos de socialização constituem-se através de interacções ligadas às práticas sociais no núcleo familiar - onde se estabelece e desenlaça uma socialização primária - e através da socialização em grupos secundários e de referência à qual fazem parte os grupos de pares e os media. Seguindo esta ideia, a família por ser o primeiro grupo de indivíduos á qual se estabelece uma relação, assume grande importância no desenvolvimento da identidade do individuo e na constituição do seu self, instituindo valores e orientações do agir. Será

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assim segundo esta assunção que será analisado o conceito de família. Considerando as palavras de José Machado Pais: «Não são apenas [os] processos externos aos indivíduos que determinam as suas trajectórias sociais, mas também processos internos respeitantes não apenas aos indivíduos como ainda às próprias famílias» (Pais, 1991:962). Deste modo, será sob pretexto destas palavras que ao analisar a família, e a sua contribuição, na formação das representações de género dos jovens no plano da conjugalidade, que se dará principal relevância aos papéis familiares na colaboração das tarefas domésticas e nas decisões na vida pessoal dos jovens; bem como a outros valores transmitidos através da educação, através do suporte dos seguintes indicadores: escolha do cônjuge e liberdade de saídas. Ainda se revelará fulcral neste ponto perceber qual a posição dos jovens acerca dos papéis sexuais, segundo indicador: iniciativa sexual e a sua posição acerca da preferência do sexo do filho, ou seja, pretende-se colocar o inquirido no papel de pai/mãe e pedir-lhe que expresse a sua preferência pelo sexo do filho, desobscurecendo a sua posição quanto às questões de género. Relativamente aos grupos de pertença sabe-se que também estes tem grande importância na vida dos jovens, principalmente nas idades que aqui são representadas, e por isso é objectivo, entender se existe uma preferência nas amizades, ou seja, se existe uma maior socialização com indivíduos do mesmo sexo do individuo, ou se pelo contrário, há uma predilecção pelo estabelecimento de laços com indivíduos do sexo oposto. Por último, tomando em consideração as palavras de Merton, as novas tecnologias por serem espaços privilegiados pelos jovens na construção das suas identidades e culturas, uma vez que exercem uma poderosa rede de influência, contrastando e complementando em certos pontos a socialização primária (Cardoso, et al, 2008:2), não deverão ser de todo desprezados. E serão assim avaliados através dos indicadores: superioridade da inteligência masculina/ feminina na publicidade e pela noção de corpo-objecto.

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Trabalho Feito o resumo relativo ao projecto, e conhecidos os argumentos que delimitam a dimensão anterior, importa agora salientar quais foram os principais argumentos que na problemática específica da dimensão trabalho foram referidos. Para além dos três principais conceitos que pretendemos verificar enquanto formadores de representações: Família, Habitus e Media, consideraram-se outros que, não estando directamente associados, são aqueles que mais directamente respondem às questões e que indirectamente nos levam aos principais: Papéis profissionais e familiares, trabalho e reprodução. Como foi referido no anterior relatório «o estatuto do trabalho em si próprio, é uma questão central para as nossas sociedades ocidentais, chame-se-lhes industriais ou pós-industriais, porque o trabalho constitui uma das suas dimensões essenciais» (Méda, 1999: 11). O primeiro argumento prende-se com o peso do trabalho não-pago, que segundo Giddens «este trabalho é tão importante para a economia como o trabalho pago» (Giddens, 1989:507). É importante perceber de que forma o trabalho não pago tem maior peso entre Homens e Mulheres e saber se essa divisão é apreendida pelos jovens, formando representações dos papéis familiares e profissionais, mantendo ou não «a desigualdade entre homens e mulheres resiste no espaço doméstico» (Wall, Aboim e Cunha, 2010: 56) onde se encontra uma afecção do feminino ao doméstico e o homem associado a tarefas que, tradicionalmente, lhes são atribuídas. Outro argumento prende-se com a orientação das profissões associadas ao estereótipo de cada um dos sexos, como vimos, e tentar perceber se realmente há ou não uma reprodução do mesmo no contexto do Habitus. Posições profissionais e também a progressão na carreira, dando a deixa para o terceiro argumento associado a este estudo na dimensão trabalho. A capacidade de liderança, nos dois sexos, na visão transmitida pelos Media percepcionada pelos inquiridos. O “modelo ganha-pão masculino” como Sofia Aboim chamou foi marcante na propaganda política do Estado-novo, agora Lopes concluiu que as imagens transmitidas pelos Media dão sinais da reprodução social do poder masculino (2007:1), importa perceber se também neste estudo tal facto é referido pelos inquiridos.

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Capítulo 2 – Apresentação e análise dos resultados

De uma forma geral e introdutória importa referir que no total, a recolha de dados através do inquérito por questionários noa meses de Março e Abril de 2014, obteve 382 respostas válidas, não tendo sido necessária a intervenção dos elementos do grupo para resolver situações de respostas não aceitáveis. No global a recolha decorreu calmamente e o grupo fez todos os esforços para obter o máximo de respostas possíveis, mesmo com a dificuldade que é só por si, como se verificou, atingir este grupo etário. Foi possível recolher repostas de todas as idades passíveis de participar no estudo, abrangendo o escalão etário por completo. Em termos da distribuição por sexo foi onde as maiores dificuldades estatísticas se fizeram sentir. No total o grupo obteve, das 382 respostas um total de 330 respostas de inquiridos do sexo feminino e 52 respostas de inquiridos de sexo masculino3. Por esta razão, o grupo teve o cuidado de realizar as análises respectivas com uma separação por sexo, isto de forma a poder comparar os dados mais facilmente, contudo não pode ser deixado de referir que todas as conclusões que se seguem, tanto numa dimensão como na outra, foram sujeitas a esta divisão, pelo que é importante salientar a fragilidade criada por esta enorme diferença entre os dados, principalmente em análises que incluam a diferenciação por respostas dos inquiridos com base no seu sexo. Salvo esquecimento involuntário de referência à situação, é de ficar registado que em todas as conclusões tiradas nos pontos seguintes esta contrariedade está presente, pelo que desta forma se pretende chamar a atenção do leitor para esta questão que influencia a interpretação das análises. Por fim é importante salientar que, dada a natureza dicotómica das variáveis em tratamento, a maioria das análises é uma apresentação de frequências ou cruzamentos em tabelas de dupla entrada, não tendo sido possível a execução de métodos estatísticos mais avançados que fundamentassem as afirmações teóricas que daí pudessem decorrer.

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Ver a distribuição em pontos percentuais no Gráfico 1, página C anexos.

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Dimensões de análise Conjugalidade Por: Filipa Pereira Nesta fase do projecto pretender-se-á dar lugar à análise das variáveis referidas numa fase anterior, a fim de esclarecer qual a contribuição da família, dos grupos de pertença na formação das representações dos jovens acerca do género da conjugalidade. Importa desde já referir que dadas as características das variáveis em análise e da amostragem, revelou-se bastante complicado a aplicação de métodos de análise multivariada aos dados resultantes do Inquérito «São… coisas de género». Justifica-se assim, o investimento num maior tratamento descritivo, limitando em certa medida a nossa capacidade de obter uma análise mais aprofundada em certas questões. A família na formação das representações de género dos jovens na conjugalidade Segundo Maria de Lurdes Santos, ser jovem não é pertencer a «um conjunto definido de uma condição, um estado, que por si mesmo, [se caracteriza e determina] sociologicamente por um conjunto de indivíduos de um mesmo grupo de idade» (Santos, 1975:635), poderá sim, considerar-se por «condição de jovem», uma categoria sociológica, que de forma contrária às noções senso- comunais é heterogénea, acusando diferenças de posição «que no jogo das relações sociais, os jovens [conseguem ocupar] através dos vínculos familiares» (Santos, 1975:635). Portanto o conceito de jovens não poderá estar desvinculado do conceito de família, uma vez que grande daquilo que o representa como indivíduo se deve a esta relação, condicionando a família em, em última instância os padrões de comportamento e as práticas dos jovens. Com base nestas afirmações, convirá ressalvar que de seguida serão analisados os indicadores que poderão contribuir para a melhor compreensão do papel da família na formação das representações de género dos jovens, nesta dimensão específica. A fim de compreender quais os papéis ocupados no seio da família foi perguntado aos jovens qual dos pais possuía um papel mais activo nas decisões em relação às actividades diárias e portanto um papel mais influente na sua vida. Após o cruzamento desta variável com a variável «com quem vives», foi possível apurar que no caso dos indivíduos do sexo feminino, que habitam com ambos os progenitores (ou

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substitutos), as decisões são preponderantemente tomadas em conjunto. Já no que diz respeito ao sexo masculino, quando o individuo vive com ambos os progenitores, normalmente as decisões são tomadas em conjunto (40,9%) ou de uma forma alternada, decidindo numas circunstâncias um dos progenitores, e noutras circunstâncias, o outro (40,9%).4 O que se poderá concluir que, mediante os resultados da maioria, que não existem discrepâncias no que concerne às decisões diárias, tendo ambos os progenitores uma grande valência na vida dos indivíduos, exceptuando casos particulares, em que quer raparigas, quer rapazes, habitam apenas com um dos pais (ou substitutos), e por isso, nesses casos, as decisões que tomam mais peso, são as do progenitor (ou substituto) com quem vive. De um modo complementar à questão anterior, procurou-se saber, qual dos progenitores exercia as funções de autoridade e disciplina na educação dos inquiridos, ao que foi possível constatar que, no caso das raparigas que vivem com ambos os progenitores, quem assume maioritariamente o papel autoritário são ambos os pais, realçando-se que, ainda assim, na mesma situação (viverem com ambos), as mães possuem um papel mais importante ao nível da autoridade (34%) do que os pais. Será ainda importante ressalvar, que em casos específicos em que as raparigas vivem apenas com o progenitor, o papel materno possui alguma importância. Já numa situação contrária - ou seja, no caso da rapariga viver com o pai - tal não se verifica. A respeito do sexo masculino, quando o individuo vive com os pais, é também bastante evidente que o papel autoritário está presente ambos os progenitores (ou substitutos), possuindo a categoria «decidem os dois em conjunto» uma percentagem na ordem dos 50%. Ou seja, quase que metade dos inquiridos admite que as funções de autoridade são exercidas por ambos. No entanto, à semelhança do que acontecia no caso das raparigas, também o papel da mãe está mais associado à figura autoritária.5 Fazendo alusão à investigação levada a cabo por Heloísa Perista, estes dados poderão ser justificados da seguinte forma: como as mulheres possuem uma menor

Ver anexos tabela 3 – Cruzamento entre a informação relativa a com quem vive o inquirido e quem toma as decisões no dia-a-dia. 5 Ver anexos: Tabela 4 – Cruzamento entre a informação relativa a com quem o individuo vive e quem assume autoridade 4

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carga horária relativa á actividade laboral, ou seja como possuem uma menor duração semanal ao nível do trabalho pago, possuem mais tempo para se dedicarem ao trabalho doméstico e aos cuidados familiares (Perista, 2002:448) podendo assim reflectir-se na questão da autoridade, uma fez que esta possui um papel mais presente na sua educação. «A família constitui um lugar social e simbólico onde a diferença de género é assumida como base e simultaneamente construída como tal, a partir da qual se estabelece a divisão de trabalho, dos espaços, das competências, dos valores e destinos pessoas e familiares […] o reconhecimento na família, da dualidade de género torna-se princípio organizativo da sociedade global e estrutura simbólica que organiza as organizações humanas» (Gomes, 200:43).

Na perspectiva de muitos autores, as diferenças de género na sociedade ainda são bastante evidentes reflectindo-se em várias esferas da vida inclusive no enredo conjugal, onde se verificam determinações sociais que tendem a sobrecarregar as mulheres. Segundo um estudo conduzido por Perista, as tarefas domésticas constituem um domínio largamente feminizado, sendo as mulheres de forma regular, que asseguram a preparação de refeições, a limpeza regular da casa e o cuidado e tratamento da roupa. Acrescenta ainda, mediante os dados do seu estudo que, as tarefas em que os homens são participantes, são aquelas que despendem de menor tempo no quotidiano, como é o caso de construções ou reparações. (Perista, 2002:454) Outro aspecto igualmente interessante e também mencionado na sua investigação é o facto de, apesar de ser a mulher a executar a grande maioria das tarefas, quem beneficia nunca é a própria e sim os restantes membros do agregado familiar. De modo a explorar melhor estas questões, pediu-se aos inquiridos respondessem à seguinte questão: «A quem é que recorres quando precisas de ajuda?». Fazendo referência aos resultados obtidos, no caso do sexo feminino, pôde-se constatar que, quando é necessário o auxílio em tarefas como preparação de refeições, tarefas domésticas e nos trabalhos escolares, a mãe tem um papel mais activo. Já quando é necessário auxílio nos trabalhos de bricolage, é mais frequente a intervenção do pai. No caso do sexo masculino, os dados reproduzem-se, indicando para a existência de ideias

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estereotipadas sob qual a função que um e outro progenitor (ou seu substituto) deverá ocupar.6 De um modo complementar à pergunta anterior e no objectivo de perceber qual dos progenitores assumia a responsabilidade no desempenho de determinadas tarefas no quotidiano, foi pedido que dentro de um conjunto de afazeres se selecciona-se aqueles que melhor se identificariam com cada um dos progenitores (ou seus substitutos). Desta forma, mediante a leitura descritiva dos dados, poder-se-á afirmar que para ambos os sexos as actividades: «confecção de refeições», «limpeza da casa» e «tratar da roupa» se encontram a cargo da mãe, enquanto que as deslocações e os trabalhos de bricolage, se encontram fortemente ligados a uma responsabilidade masculina. No entanto é relevante salientar, que no caso particular do sexo masculino, não há registo de respostas que indiquem que o pai efectue as tarefas de tratar da roupa e de fazer a limpeza da casa, mostrando-se estas, inteiramente ao cargo feminino.7 Tabela 1 - Média das respostas dos inquiridos em relação à adequação da divisão por tarefas do dia-a-dia; Correlação ETA correspondente No teu entender a divisão de tarefas que acima referiste parece-te adequada? (Média) Feminino

Masculino

Pai (ou

Mãe (ou

Ambos

substituto)

substituto)

Limpeza da casa

3,67

2,82

3,25

Confecção de

3,52

2,77

2,93

Tratar da roupa

Eta

Pai (ou

Mãe (ou

Ambos

Eta

substituto)

substituto)

0,248

0

2,66

3,14

0,249

3,2

0,252

3

2,63

3,15

0,27

2,87

3,06

0,078

2,94

2,23

3,25

0,385

3,38

2,86

3,53

0,25

0

2,78

2,23

0,019

Deslocações

2,9

2,8

3,06

0,124

2,92

2,08

3,21

0,497

Gestão monetária

2,75

2,87

3,03

0,134

2,92

2,14

3,08

0,46

refeições Trabalhos de bricolage

Fonte: Dados recolhidos pelos autores, através do inquérito “São… coisas de género” realizado entre Março e Abril de 2014.

No sentido de compreender quais as representações dos jovens acerca da divisão de tarefas desempenhadas pelos pais no dia-a-dia, perguntou-se se achavam essa Ver anexos: Gráfico 2 e 3 – Distribuição de frequências, de a quem corre o inquirido quando necessita de ajuda 7 Ver anexos: Gráfico 3 e 4 – Distribuição de frequências de «a quem recorre o inquirido quando necessita de ajuda». 6

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situação adequada, ao que se pôde verificar que, para ambos os sexos, os indivíduos assumem como preferencial uma divisão igualitária das tarefas. O que também se poderá depreender com os resultados expressos, é que as tarefas que anteriormente foram indicadas como maioritariamente executadas pela mãe - como é o caso da limpeza da casa, confecção das refeições e o tratar da roupa - quando cruzadas com esta nova variável, permitem compreender que os indivíduos não possuem uma representação estereotipada das divisões domésticas, uma vez que, através da análise das medias é possível verificar que as tarefas indicadas como desempenhadas pelo sexo feminino, são julgadas mais adequadas quando executadas pelo homem. Tendo em conta o papel da família na educação dos jovens, foram criados os seguintes indicadores: Escolha do cônjuge e liberdade de saídas, com o intuito de verificar se as respostas conduzem a uma educação diferenciada tendo em conta o sexo dos inquiridos. É também intuito, compreender melhor relação autonomia-dependência entre pais e filhos. Gráfico 1 - Distribuição de frequências "casavas-te com alguém que os teus pais desaprovassem completamente" (por sexo %) 100,0% 90,0% 80,0% 70,0%

60,3%

60,0% 50,0% 40,0%

50,0% 44,2% 34,8%

Feminino Masculino

30,0% 20,0% 10,0%

4,8%

5,8%

0,0% Sim

Não

Não sei

Fonte: Dados recolhidos pelos autores, através do inquérito “São… coisas de género” realizado entre Março e Abril de 2014.

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Relativamente à questão: «Casavas com alguém que os teus pais desaprovassem completamente?». Tal como se pode observar no graficamente, tanto raparigas como rapazes, demonstram uma grande indecisão, respondendo, na sua maioria «não sei» a esta questão, apesar de ainda assim, a população feminina se destacar, com cerca de 60% de respostas nessa categoria. Pela leitura do gráfico é também possível notar que muitos dos inquiridos afirmaram a sua vontade de total autonomia relativamente à escolha do futuro e mulher, obtendo-se uma percentagem igualmente expressiva. Destacando-se mais uma vez, os indivíduos do sexo feminino com certa de 44,2% de respostas afirmativas. No que concerne à liberdade de saídas sem acompanhamento, pôde-se apurar que no caso do sexo feminino, a resposta mais recorrente é «sim, mas com reservas» alcançando os 56,7% das respostas totais. Já no caso dos rapazes, resposta é mais precisa, existindo uma maior percentagem de respostas afirmativas a esta questão. 8 De modo a verificar se estava presente um efeito reprodutor das respostas, foi perguntado ao inquirido se deixaria o seu filho ou filha sair. Requerendo desta forma que estes se colocassem no papel de progenitores. No caso particular das raparigas, poder-se-á afirmar que houve uma reprodução das respostas dadas pelos seus pais, concentrando-se uma maior percentagem na categoria «sim, mas com reservas». É ainda importante ressalvar que, as respostas retratam diferentes situações caso se tenha filhas ou filhos, obtendo-se um maior número de respostas negativas (5,4%) caso se tenha filhas do que quando em comparação com a situação de ter filhos rapazes. No que diz respeito às respostas obtidas pelos indivíduos do sexo masculino, também se pode identificar algumas diferenças conforme o filho fosse rapariga ou rapaz. Notando-se que a liberdade para sair é mais elevada caso os indivíduos tenham um filho, alcançando uma percentagem de 36,5%.

8

Ver anexos – Gráfico 7: Distribuição de frequências da variável «os teus pais deixam-te sair sozinho/a?»

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Gráfico 2 - Distribuição de frequências da opinião em relação à vida sexual na adolescência (por sexo %) 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0%

44,2% 24,8%

20,0%

Feminino 30,9%

25,8%

Masculino

26,9% 18,5% 17,3%

11,5%

10,0% 0,0% Concordo

Discordo

Concordo com reservas

Não sei

Fonte: Dados recolhidos pelos autores, através do inquérito “São… coisas de género” realizado entre Março e Abril de 2014.

Numa tentativa de perceber qual representação dos indivíduos acerca da sexualidade e dos papéis sexuais, foi perguntado se a iniciação da vida sexual na adolescência contribuiria positivamente para que os jovens conseguissem melhor eleger o seu futuro companheiro ou companheira. Face a esta questão, obteve-se as seguintes respostas: no caso dos indivíduos do sexo masculino, na sua maioria, concordaram com a afirmação (44,2%), já no caso das raparigas, predominantemente, responderam que concordavam, mas com algumas reservas (30,9%), o que leva a querer, que apesar de não muito acentuadas as diferenças, as raparigas tendem a possuir uma posição mais conservadora em relação a este tópico. No seguimento da questão anterior, os inquiridos foram confrontados com a seguinte pergunta: «Na tua opinião a quem cabe tomar iniciativa sexual?». O que se pôde evidenciar, foi que, tanto raparigas como rapazes, na sua grande maioria, responderam que ambos os sexos deveriam tomar iniciativa sexual. No entanto, ainda assim, quando feita uma comparação entre aqueles que responderam «homem» ou «mulher», constata-se que no caso dos indivíduos do sexo feminino, existe um maior número de respostas na categoria «Mulher» o que indicia que as raparigas, tentem a considerar, em termos gerais, que a mulher deverá tomar iniciativa sexual. No caso dos rapazes, apesar de também assumirem, na sua maioria, que ambos os sexos deverão

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tomar iniciativa sexual, é possível ainda verificar que, quando feita uma comparação entre homens e mulheres, os rapazes tendem a considerar que os homens é que deverão tomar iniciativa sexual (28,8%).9 Na seguinte pergunta, de uma forma indirecta, pretendeu-se captar os elementos ideológicos associados ao problema da igualdade e desigualdade entre os sexos. Para se melhor compreender se existiam discrepâncias na escolha do sexo do filho, colocando os inquiridos na possibilidade dessa situação, foi feita a seguinte pergunta: «No caso de vires a ter só um filho, o que preferias?» Mediante uma análise descritiva, foi permitido constatar que relativamente ao sexo masculino, a grande maioria das respostas revelam que os rapazes preferiam ter um filho (51,9%), ainda que a categoria «sem preferência» demonstre uma percentagem expressiva (40,4%). No que toca às raparigas, a maioria admite que não teria preferência pelo sexo do filho (45,8%). Porém é de salientar que, tal como se verifica no caso dos rapazes, as raparigas, demonstram possuir uma maior preferência por filhos do mesmo sexo (33,9%). Uma possível justificação para esta preferência poderá residir na presunção de que ter um filho do mesmo sexo, poderá ser sinónimo de uma maior facilidade na educação. De acordo com Maria de Lourdes Lima dos Santos, as preocupações e dificuldades da possibilidade de um filho não ter o mesmo sexo que o progenitor, surgem ligadas à educação moral e sexual. Coloca-se também a questão da identificação, uma vez que se assume que é mais fácil de compreender os mesmos tipos de problemas e orientar o filho de acordo com os conhecimentos adquiridos, mediante as suas próprias experiências passadas. (Santos, 1975:672) A autora defende ainda que, em sociedades patriarcais como é o caso de Portugal, um homem preferir um rapaz em detrimento de uma rapariga é bastante comum, visto que, ter um rapaz é uma garantia do prolongamento do nome da família. Já no caso das mulheres, a preferência por uma rapariga, surge sobre pretexto do «amparo». Assim sendo, não deixam de estar subjacentes questões directamente ligadas aos estereótipos de género. (Santos, 1975:672)

Ver anexos: Gráfico 12 – Distribuição de frequências da variável «na tua opinião a quem cabe tomar a iniciativa sexual». 9

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Os grupos de pertença na formação das representações de género dos jovens portugueses No ponto de vista de Jorge Vala a pertença a um grupo exige a criação de uma categorização social sobre a qual são criadas interpretações face ao grupo, e à sua pertença, a nível categórico. Esse processo dará origem a uma noção de identidade e de partilha entre os elementos do grupo (Vala, 1997:10), que se assumirá sobre a forma se «actividades de comunicação através das quais são aprendidas ou criadas normas, símbolos, crenças e valores» (Vala, 1997:10). Nesta ideia, a socialização estabelecida nos grupos de pertença, apresentará de forma idêntica à família, um papel preponderante na interpretação dos mais variados aspectos sociais. De modo a entender se existia uma diferença nas amizades conforme o sexo, ou seja, se existiam preferências na socialização entre rapazes e raparigas, foi colocada a seguinte pergunta: «No teu dia-a-dia convives mais com indivíduos do mesmo sexo? Indivíduos do sexo oposto? ou indivíduos de ambos os sexos?». Fazendo referência aos dados apresentados, pôde-se evidenciar que, no que diz respeito aos indivíduos do sexo feminino, mais de metade das pessoas inquiridas (73%) admitiu conviver com ambos os sexos, porém, os resultados revelam também que as raparigas tendem a conviver mais com as raparigas, ou seja com indivíduos do mesmo sexo. De forma semelhante, a maioria dos rapazes também assume, que não existem preferências nas amizades, convivendo desta forma com ambos os sexos (65,4%), mas tal como se verificou no caso das raparigas, também eles admitem uma preferência no estabelecimento de amizades com indivíduos do mesmo sexo (19,2%) quando em comparação com a percentagem que se obteve no caso de desenlace de amizades com indivíduos do sexo oposto (15,4%). Em suma, o que se poderá extrair com estes dados é que, de modo geral não existe uma diferenciação de sexo relativamente às amizades, ainda assim, a percentagem de indivíduos que estabelece apenas relações com o mesmo sexo, é maior do que o volume de respostas dos indivíduos que aferem nutrir amizades somente com o sexo oposto.

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Desde modo será possível aferir que o sexo do individuo à qual se estabelecem relações de amizade, não produz nenhum efeito nem afectação, sendo privilegiado o contacto com ambos os sexos. Os media na formação das representações de género dos jovens na conjugalidade «A publicidade e os media são instrumentos que determinam uma boa parte das relações sociais e ajudam a estabelecer uma socialização de género e estatutos que em muitos casos reflectem as verdadeiras diferenças nas relações entre os dois sexos» (Correa, Guzmán e Aguaded, 200,

114 in Veríssimo, 2008: 136) O poder que a publicidade exerce sobre o indivíduo e sobre as socializações de género tem vindo a ser levantado por alguns autores, muitos deles defendendo que, as mensagens transmitidas pelos media apresentaram diferentes contornos para homens e para mulheres. Segundo Sara Bem, poder-se-ão encontrar três crenças relativas a homens e mulheres, na cultura ocidental, que se cingem às seguintes asseverações: «homens e mulheres têm naturezas psicológicas e sexuais distintas»; «os homens são inerentemente superiores ou dominantes», e por último que «quer a natureza, quer a superioridade masculina são naturais» (Nogueira & Saavedra, 2007:12). Aludindo a um dos estudos levado a cabo por esta autora, acerca dos estereótipos de género, foi possível constatar que os indivíduos tendem a associar certas características como tipicamente femininas, e outras, de forma contrária, como tipicamente masculinas. Deste modo, segundo este preceito, nos resultados da sua investigação foi bastante óbvia a caracterização do sexo feminino com base num conjunto variado de palavras que remetiam para a prevalência da posição em papéis claramente submissos, ligados às relações familiares e à consequente expressão de uma maior carga afectiva e emocional. Já no caso dos homens, as características conduzem a uma diferente apreciação: este é idealizado como dominante e relacional e por isso protagonista de actividades que lhe confiram essa posição. (Arnault, 2011:6) No caso específico, da característica «inteligência», tentou-se compor o nosso inquérito a fim de perceber qual a opinião dos indivíduos acerca da posição de cada sexo na publicidade, e qual a mensagem por ela mediada. Existirá uma superioridade da inteligência masculina/feminina?

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Analisando descritivamente os dados registados, poder-se-á observar que os indivíduos tendem a assumir, que a publicidade não possui um carácter distintivo entre homens e mulher no que concerne à inteligência, sendo a categoria «ambos» a que um maior número de respostas reuniu. 10 Ainda relativamente ao tópico da publicidade, nos dias de hoje assiste ao culto da aparência, às admirações dos corpos e à busca da sua perfeição. Deste modo, corpo humano adopta cada vez mais um papel central, integrando numa panóplia diversificada de anúncios, sendo utilizado como linguagem estratégica dos publicitários comunicarem com as grandes audiências e cativarem as suas atenções. Na óptica de Tseëlon, a mulher e o seu corpo é «como um espectáculo visual como um objecto do olhar» (Mota-Ribeiro, 2005:33). Reforçando esta questão, Jorge Veríssimo afirma que o autor Jorge Veríssimo afirma que, o corpo feminino tem vindo a ser muito utilizado como recurso na publicidade por duas principais razões: pelo seu poder de influenciar a compra «criando uma dimensão aspiracional de identificação» (Veríssimo, 2008:282) e pelo seu poder de sedução, através de um objecto de desejo, em especial em situações em que é utilizada apenas como elemento de decoração (Capus e Ancelin, 2006 in Veríssimo, 2008:282). De acordo com Sabrina Cruz, a adopção deste tipo de representações do corpo feminino na publicidade, age como forma de «violência simbólica» devido ao facto de reforçar a sua imagem de “objecto”. Acrescenta ainda que, ao se atribuir um foco particular ao corpo feminino, é transmitida uma mensagem de submissão que promulga as desigualdades de género e a sua fixação do tempo. Mediante esta vertente teórica, e tentando perceber foi qual a opinião dos jovens acerca deste tópico, foi administrada a seguinte pergunta: «Em geral, qual dos sexos achas que esta mais exposto corporalmente na publicidade?» à qual se cruzou com a variável «Sedução» na Publicidade, à qual se obteve os seguintes resultados:

10

Tabela 7 – Imagem que a publicidade transmite do homem e da mulher em relação à inteligência.

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Tabela 2 - Cruzamento entre a imagem que a publicidade transmite (Sedução) e a opinião dos inquiridos sobre quem mais se expõe corporalmente

Em geral, qual dos sexos achas que está mais exposto corporalmente na publicidade? Feminino

Igual

Masculino

Ambos

56,2%

34,7%

9,1%

imagem do homem e

Homem (na

43,1%

41,2%

15,7%

da mulher, assinala

publicidade)

o que a

Mulher (na

71,9%

20,5%

7,6%

PUBLICIDADE te

publicidade) 63,1%

27,7%

9,2%

Considerando a

transmite. [Sedução] Total

Fonte: Dados recolhidos pelos autores, através do inquérito “São… coisas de género” realizado entre Março e Abril de 2014.1 O que se pôde averiguar através da analise da tabela, foi que dos afirmam que a mulher é um elemento de sedução na publicidade, cerca de 71,9% acha que o seu corpo está mais corporalmente exposto. Ou seja, na opinião dos inquiridos o corpo veiculado pela publicidade surge sobre a forma de um corpo feminino, à qual se poderá estar ligado à atribuição de uma maior sedução na mesma esfera. Portanto, apesar da tendência para a atenuação social dos estereótipos de diferença sexual e de podermos ser surpreendidos pela aclamação da beleza masculina, este conceito sedução e a exposição corporal esta mais intimamente ligado à mulher e não ao homem. Considerando as palavras de Jorge veríssimo: «quando a personagem principal é o homem, os valores dominantes do discurso [ na publicidade ] incidem por um lado, sobre o seu sucesso social e profissional e, por outro, evidenciam aspectos relacionados com a virilidade ou com a noção de poder, se é a mulher que se destaca, a mensagem incide na perfeição das formas anatómicas, ou na sublimação da sua sensualidade (…)» (Veríssimo, 2005:1703)

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Trabalho Por: Diogo Santos Quero primeiramente salvaguardar que nesta dimensão as conclusões a que os dados permitiram chegar não são de todo significativas e que com isso também a articulação teórica se tornou mais complicada. Em tom de nota pessoal quero também referir a dificuldade em fazer a transposição entre indicadores e variáveis e conceitos11, também como erro dos procedimentos adoptados no relatório anterior e que condicionaram em muito esta segunda parte. Tal facto deverá ser evidente, no entanto os três argumentos explanados e que serviram de base à problemática específica foram utilizados e correspondem as três principais questões, as quais mesmo com os condicionamentos acima explanados foram respondidas, como de resto irei tentar fazer de seguida. Com base na divisão de tarefas identificadas pelos inquiridos nas diferentes situações identificadas verifica-se que há uma predominância nas tarefas que são assumidas pelo elemento do sexo feminino, nomeadamente no que toca a tarefas ligadas à casa.12 Assim como estas autoras referem há um predomínio de mulheres em funções menos qualificadas13, e ainda a sobrecarga com o trabalho não pago, desenvolvido em casa nas tarefas domésticas (Torres e Vieira da Silva, 1998 in Maciel, 2010), o que aqui se pode confirmar. Tabela 3 – Média das respostas, por sexo, em relação à opinião sobre divisão de tarefas14. Sexo Média D.P. 0,845 Feminino 2,94 0,871 Masculino 2,79 2,92 0,849 Total Fonte: Dados recolhidos pelos autores, através do inquérito “São… coisas de género” realizado entre Março e Abril de 2014.

É possível observar nesta tabela, com a média das respostas, e tendo em conta a escala em questão15, que as diferenças entre os sexos não são consideráveis, no entanto

11

Ver Tabela 2, página A anexos. Ver Gráfico 2, página D anexos. 13 Não foi possível testar neste inquérito. 14 Tal como já foi referido, e devido aos constrangimentos da amostra: n feminino = 330; n masculino = 52 12

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o que aqui se salienta é sim o reconhecimento, por parte dos inquiridos, de uma evidente desadequação da divisão de tarefas que sobrecarrega a mulher. Neste sentido, a representação dos papéis familiares está em discussão, mas não só, porque podemos facilmente fazer esta passagem entre a análise estatística e as conclusões teóricas inerentes, no entanto para além dos papéis familiares, aqui com a distribuição das tarefas temos também papéis profissionais até porque ao «trabalho doméstico […] que não tem sido reconhecido como tal» (Beck, Giddens e Lash, 2000:7). Corroborando esta afirmação, podemos indicar as tarefas que tiveram maior percentagem associadas à Mãe e ao Pai. Verificou-se que no caso do Pai aquelas com maior expressividade, tanto para os inquiridos do sexo feminino como masculino, foram os trabalhos de bricolage e as deslocações, já para a mãe foram a limpeza da casa e a confecção de refeições. Este foi um dos principais pontos que fiz questão de salientar na minha problemática, na associação entre papéis familiares e profissionais, apresentando o trabalho não-pago como um bem que, nesta linha era, e é como se verifica, fonte de diferenciação de género. Também os jovens inquiridos demonstram essa situação, no entanto demonstram também, como vimos, o seu descontentamento. Quando falamos na família enquanto formadora de representações de género no trabalho já vimos que directamente nos comportamentos dos pais, os inquiridos apercebem-se desta divisão, considerando-a desproporcional. No que toca ao seu caso em concreto na escolha de uma profissão as conclusões são também reveladoras de alguma resiliência à formação destas representações. Verificou-se com esta análise que, de uma forma geral, tanto inquiridos do sexo feminino como do sexo masculino indicam a própria inclinação ou preferência na escolha da profissão como o factor que mais influência essa escolha (com percentagens a rondar os 72% em ambos os sexos16). Aqui a família representa ainda uma percentagem de respostas neste estudo, no entanto não têm grande expressividade, assim como as restantes opções de resposta, 15 16

Escala da questão em análise: 1 – Nada adequada; 4 – Muito adequada Ver Gráfico 17, página N anexos.

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principalmente quando comparada com a preferência própria. É impossível nesta investigação aferir, se apesar desta indicação, o constrangimento familiar, imposto muitas vezes por “tradicionalismos”17, está ou não presente e se tem efeitos por outras vias, ainda assim é de salientar que, mesmo com pequena diferença, os conselhos da família se apresentam aqui como mais relevantes para os inquiridos do sexo masculino. A variável “com quem vives” foi criada no nosso estudo como forma de controlo, a intensão passou por acautelar situações de diferenciação que poderiam ocorrer. Feito um cruzamento18 entre a questão que tratámos até agora e esta mesma concluiu-se principalmente que a situação económica da família ganhava ênfase na escolha da profissão daqueles que vivem com ambos (pai e mãe). É certo que a maioria dos inquiridos se situa nesta resposta, como vimos, fazendo com que todos os valores sejam elevados quando cruzados, porém esta foi uma constatação que saltou à vista, principalmente depois da análise anterior, de carácter isolado. Passando para a análise do habitus na formação de representações de género é necessário referir o cruzamento entre duas variáveis, se o inquirido escolheria outra profissão se fosse de outro sexo e se este pensa que o sexo interfere na escolha da profissão. Neste cruzamento19 podemos afirmar convictamente que o estereótipo associado ao género se encontra presente e se confirma. No caso do sexo feminino aponta para que não escolheria a mesma profissão se fosse do sexo oposto e que no mesmo sentido quem deu essa resposta, quando confrontado com a pergunta se ser de um sexo ou de outro interfere na escolha da profissão, estes disseram que sim (65,9%). No caso do sexo masculino o maior número de respostas apresenta-se no “não sei” quando confrontados com a questão se escolheria a mesma profissão, no entanto estes 76,5% afirma que o sexo interfere na escolha. É certo que, e tal como Bourdieu afirmou o conceito de representação não é dissociável de habitus, este é «uma representação […] uma construção» (Bourdieu, 2010:269). Aqui confirma-se a construção da representação estereotipada dos papéis profissionais de género, os inquiridos tanto do sexo feminino, como do sexo masculino demonstram claramente que seguem a tendência – primeiro demonstrando a ideia senso

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Conceito referido por Anália Torres (Torres, 2004:2) Ver Tabela 9, página N anexos. 19 Ver Tabela 10, página O anexos. 18

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comunal, e segundo mostrando a sua opinião. Quando cruzadas estas duas questões as tendências são convergentes, como vimos. Ainda nesta linha de ideias é importante afirmar que, e tendo em conta outro cruzamento20, independentemente do seu posicionamento face à interferência do sexo na escolha da profissão, os inquiridos consideram que em Portugal as condições de progressão na carreira dependem da profissão. Em termos descritivos não se verificaram diferenças consideráveis entre os inquiridos do sexo feminino e masculino, ambos mantiveram a mesma tendência de resposta, manifestando maior número de respostas no “Sim” seguido do “Não sei” e por fim “Não”21. Isto significa que o estereótipo de género inerente não se altera em função do sexo, pelo que os jovens inquiridos apresentam igualmente a mesma tendência22. Relativamente ao estereótipo associado às profissões que os inquiridos identificaram podemos verificar que as principais diferenças, entre os inquiridos do sexo feminino e masculino, se prendem com as profissões “Psicóloga/o” que as inquiridas consideram esta profissão como maioritariamente ligada ao sexo feminino e os homens a ambos os sexos. Por outro lado também a profissão “Modelo” despertou dicotomias, as inquiridas consideraram-na como uma profissão ligada a ambos os sexos enquanto quem os homens a associaram ao sexo feminino, maioritariamente. Estas considerações fazem relembrar um argumento utilizado na problemática deste estudo, o facto de as mulheres apresentam uma orientação para profissões ligadas ao estereótipo de feminino, enquanto os homens podem exercer funções em qualquer profissão, chegando mesmo a obter melhores salários, naquelas que estereotipicamente se associam ao feminino (Amâncio, 2002 in Maciel, 201). Como se pode observar com estes resultados23 os inquiridos identificam o estereótipo das profissões de género associadas aos exemplos propostos. Mesmo assim as diferenças que acima foram referidas demonstram claramente que este argumento é consistente. Mesmo no exemplo de profissão indicando “o/a” as inquiridas consideraram as psicologia como uma profissão maioritariamente feminina, no entanto

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Ver Tabela 11, página O anexos. Ver Gráfico 18, página P anexos. 22 Chamada de atenção mais uma vez para a disparidade nos n associados a cada sexo. 23 Gráfico 19 e 20, página P e Q, respectivamente anexos. 21

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os homens consideram-na como representativa de ambos. Isto significa que os homens vêem esta profissão também como exequível por estes, mesmo sendo um campo que estereotipadamente, como vemos nas respostas das inquiridas, se associe às mulheres. O mesmo se passa com o exemplo da profissão “Modelo”, mas de forma inversa como foi explicado. Aqui as mulheres assumem que os homens também pertencem ao meio, enquanto que os homens a associam apenas às mulheres, facto que também podemos complementar com a percepção da sedução24 mais associada pelos inquiridos do sexo masculino ao sexo feminino, mas associada pelas inquiridas a ambos25. Foram seleccionadas para esta questão profissões em número igual no que toca a cada um dos estereótipos, tanto para a mulher e para o homem, como para ambos. O que se conclui é que, exceptuando os casos anteriores, todas elas corresponderam, indicando que na sua conspecção os inquiridos assumem a existência de profissões de género. Na análise da capacidade feminina e masculina assumir cargos de liderança, nomeadamente na imagem que os Media transmitem, considerando que estes são um importante elemento, como Lopes concluiu, de «reprodução social do poder masculino» (2007:1), verificámos que o trabalho, para os inquiridos tanto de um sexo como do outro é fundamentalmente representada pelo “Homem” na publicidade, ao contrário da “Mulher” que obteve respostas pouco significativas26. É importante ainda neste contexto identificar, para além de trabalho, outros conceitos, desde logo o conceito de liderança. Tanto para os inquiridos do sexo feminino como masculino aquilo que se verifica é uma maior associação da liderança ao Homem, porém esta é superior para os inquiridos rapazes (cerca de +10%). A relação, como foi referida na problemática entre as mulheres emotivas e os homens ideias (pensamento, inteligência e discussão de ideias), também se confirmou neste estudo. Na mesma pesquisa Lopes, este encontrou um reflexo da estrutura social, pelo que, «os homens apareciam habilitados para discutir ideias e as mulheres para falar de emoções» (2007:2). Quando analisadas as respostas relativas à Sensibilidade e à Gentiliza, estereótipo feminino, a publicidade, na óptica dos inquiridos afirmam 24

Ver Gráfico 15 e 16, página L anexos. Estas percentagens não se mostraram significativamente diferentes dos rapazes, no sentido em que estas associam também maioritariamente a sedução na publicidade ao homem, mas é visível a maior dispersão dos valores, uma vez que há mais inquiridos a responder “Ambos” e “Mulher” do que se verifica nos inquiridos do sexo masculino. 26 Ver Gráfico 22, página R anexos. 25

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esmagadoramente que estas qualidades são transmitidas no papel das mulheres. No caso de duas das qualidades associadas ao estereótipo masculino Agressividade e actividades desportivas os resultados são também demonstrativos desta esmagadora afirmação de reprodução de papéis de género. Para finalizar é importante salientar, também no seguimento do argumento anterior, o facto de as actividades desportivas estarem ligadas ao sexo masculino, no entender dos inquiridos27, evidencia que «os homens dominam a esfera pública do poder e as mulheres continuam circunscritas ao domínio privado» (2007:4). Desta forma e pegando na questão de partida que orientou esta pesquisa, não podemos responder tacitamente ao que aí foi interrogado. Com as conclusões acima apresentadas e cruzando necessariamente com os argumentos utilizados na problemática, conclui-se que só faz sentido se separarmos as questões em 3 individuais, associadas a cada um dos conceitos principais e que estruturavam a pergunta de partida como uma só. Verificou-se que a Família na formação de representações de género no trabalho passa essencialmente pelos papéis que os pais desempenham em casa e que os inquiridos demonstram essa noção, o que no entanto não representa uma total concordância como apurámos. No plano do Habitus também muito ligado à família a principal conclusão que se pode tirar é que a operacionalização poderia ter ido mais longe e permitir conclusões mais fortes, no entanto o que se estrai destes resultados é uma evidente e vincada separação de papéis profissionais que não parecem estar ligadas ao Habitus em sim, mas talvez a uma mera percepção dos inquiridos. Por fim relativamente aos Media resta acrescentar que a imagem transmitida era a de reprodução do poder masculino, e também agora se verifica o mesmo nas imagens que os inquiridos afirmam esta transmitir associadas ao Homem e à mulher.

27

No total da amostra.

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Conclusão Como complemento das análises já realizadas e referidas em ambas as dimensões individuais, o grupo considerou pertinente efectuar uma Análise de Correspondências Múltiplas (ACM). No gráfico da dispersão de casos pelos quartis28, podemos observar que o maior número de indivíduos se encontram nos quadrantes 2 e 4 com a maioria dos casos, ou seja, no primeiro e terceiro perfil identificados, como iremos explanar de seguida. Realizada a ACM em questão29, são projectados os perfis existentes decorrentes da análise. Assim, como é possível observar foram identificados três perfis neste gráfico. O primeiro perfil encontra-se no primeiro e segundo quadrante30 onde são incluídos os inquiridos em que é o pai que toma as decisões em relação às actividades do dia-a-dia, em que os inquiridos saem sozinhos, mas também com algumas reservas e que deixariam os seus filhos e filhas sair sozinhos (também com algumas reservas. Por outro lado, encontram-se no segundo perfil31, os indivíduos que se caracterizam por não sair sem acompanhamento familiar, e que também não deixariam sair a sua filha, mas o filho sim (porém com algumas reservas) é ainda de salientar o facto de neste perfil quem toma as decisões em relação as actividades do dia-a-dia são os pais em conjunto ou a mãe. Por último, o terceiro perfil no quarto quadrante, são incluídos os indivíduos que deixariam sair o seu filho e a sua filha, e que saem sem acompanhamento familiar, neste caso particular que quem toma as decisões em relação às actividades diárias é principalmente a mãe, no entanto é de salientar que estão muito próximas outras características como quem decide em relação as actividades diárias são os dois em conjunto ou decidem umas vezes a mãe e outras vezes o pai.

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Ver Gráfico 23, página R anexos. Nesta análise foram incluídas as Variáveis: Como é que os teus pais costumam tomar decisões em relação às actividades do dia-a-dia; Os teus pais deixam-te sair sozinho/a; E o teu filho? Deixarías sair sozinho?; E tu? Deixarías a tua filha sair sozinha?. 30 Identificado a verde no Gráfico 24. 31 Em comparação com os outros dois perfis identificados, este é aquele que mais se distancia da origem e das restantes respostas. Identificado a azul no Gráfico 24. 29

29

Com esta análise podemos identificar claramente, e como tem vindo a ser explanado, a influência da família na reprodução de comportamento, neste caso face à educação, não tendo grande significância quem toma as decisões em casa. No entanto não podemos afirmar com convicção que criação de representações de género advenha da família, até porque, como se verificou em ambas as dimensões, os inquiridos assumiam a divisão dos papéis familiares, mas na sua opinião não concordavam e também não se diferenciavam, na sua grande maioria, face ao sexo. Esta conclusão vai tanto no sentido da conjugalidade como do trabalho como vimos. Em notas finais, fazendo uma análise sucinta das duas esferas - conjugal e do trabalho, foi possível verificar que: As tarefas domésticas estão altamente feminizadas, ocupando-se as mulheres da preparação das refeições, da limpeza regular da casa e de outras actividades como é o caso do tratamento da roupa. Assumindo os homens tarefas mais pontuais como é o caso de trabalhos de bricolage. Segundo os dados foi possível perceber que, apesar de não concordarem totalmente a divisão das tarefas no contexto conjugal, a nível prático, interiorizaram a divisão destes papéis familiares. Pedindo auxílio aos seus progenitores, nas tarefas que mais frequentemente eram desempenhadas por cada um. Relativamente à liberdade de saídas, verifica-se um efeito reprodutor nas respostas que foram dadas pelos pais. Correndo o risco de fazer inferência, poder-se-á admitir que, mediante a educação no contexto familiar, os jovens adquirem diferentes noções acerca da forma como um rapaz e uma rapariga deverá agir. Tal manifesta-se na liberdade de saídas, possuindo as raparigas uma maior restrição e liberdade. De uma forma oculta, e em reforço ao que foi dito anteriormente, através da variável «escolha do sexo do 1º filho», depreendeu-se que estão presentes diferentes idealizações daquilo que é ter pai/mãe de um filho ou filha. Estando deste modo subjacente a assunção de papéis diferenciados conforme o sexo do indivíduo. Ao nível dos grupos de pertença, não se revelaram grandes conclusões. Para efeitos futuros, esta questão deverá ser mais aprofundada, explorando-se no questionário, indicadores que possam apontar para a posição dos grupos secundário na estruturação dos valores que integram a sua personalidade.

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No que diz respeito ao papel dos media na formação de representações de género, é mediante os dados possível afirmar que, os inquiridos associam a mulher a uma maior exposição corporal e uma maior sensualidade. Deste modo pelo processo de socialização com os media, são veiculados diferentes significados tanto para homens como para mulheres. Estas informações são absorvidas de forma inconsciente e fazem com que se assuma o corpo central na definição de traços de personalidade que discriminam o sexo feminino. Considerando as palavras de Mary Wollstonecraft: « (…) woman are, literally speaking, slaves to their bodies, and glory in their subjection, … women are everywhere in this deplorable state… taught from their infancy that beauty is woman´s scepter, the mind shapes itself to the body, and roaming round its guilt cage, only seeks to adorn the prison.» (Wollstonecraft in Mota-Ribeiro, 2005: 19)

Por outro lado resta referir que no caso do trabalho como foi analisado, dos três principais conceitos em estudo a Família foi aquele que se provou ser, em consonância com a conjugalidade, que mais facilmente encontrou sustentação teórica no sentido em que foram corroborados argumentos inicialmente compostos, no entanto no que toca à confirmação de formação de representações é necessário tem cuidado porque os dados não são concretos. No que toca ao Habitus foi evidente a dificuldade de operacionalização, contudo algumas das teorias foram também confirmadas, desde logo através das conclusões a que a progressão na carreira em cruzamento com a própria perspectiva proporcionaram, mas também no papel que entre Família e construção do Habitus foi possível observar influenciava mais rapazes do que raparigas. Em relação aos media e como na conjugalidade conclui-se que a imagem é realmente diferente entre os sexos, no entanto a percepção dos inquiridos não difere demasiado, pondo em evidência, mais uma vez o a imagem masculinizada que a publicidade transmite no que respeita à liderança e capacidade para assumir cargos importantes, mas também nas discussão de ideias, enquanto que no caso da mulher se mantém a imagem da sensibilidade e da das emoções, mas também no corpo como a dimensão da conjugalidade demonstrou.

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Anexos

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