Sexo, Sexismo e Sexualidade: Discursos binários de gênero e a formação de professores.

July 24, 2017 | Autor: Alberto Montalvão | Categoria: Sexuality, Género, Formação De Professores, Ciencias Naturales
Share Embed


Descrição do Produto

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

Sexo, Sexismo e Sexualidade: Discursos binários de gênero e a formação de professores. Alberto Lopo Montalvão Neto1; Fernanda Mizuguchi Leite2 Resumo: Discursos advindos das Ciências, principalmente as ditas Biológicas, são carregados de preceitos heteronormativos, voltados à imposição de uma matriz hierárquica binária, atribuindo significações baseadas no sexo biológico, em uma exclusão determinista que ofusca reflexões mais profundas de sexualidade e gênero. Relações machistas existentes em contextos histórico-sociais, situados no reconhecimento de cientistas, discursos excludentes das subjetividades nos processos de ensino-aprendizagem ou mesmo a existência de outros tipos de transposições didáticas, como livros didáticos, reafirmando tais binarismos, são alguns dos pontos cruciais para a manutenção da dominação hegemônica de normas e normalidades de gênero. O professor, portanto, se torna um dos atores que poderá produzir e perpetuar essa naturalização de uma normatividade sexual. Com o objetivo de compreender como tais aspectos estão ligados à formação dos professores, este trabalho visa realizar um estudo de caso acerca das concepções de pós-graduandos, futuros formadores de professores, do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, da Universidade Federal de Santa Catarina. A escolha dos sujeitos de pesquisa se deve ao fato da formação inicial da maioria dos participantes decorrer no campo das Ciências Naturais, partindo do pressuposto que as concepções de sexualidade estão intimamente ligadas às concepções biológicas. A pesquisa foi realizada através de questionários. Resultados preliminares apontam que as concepções de sexualidade e gênero não estão consolidadas, necessitando de maiores reflexões sobre o assunto por parte desses futuros profissionais. Utilizou-se como referencial teórico os conceitos de Judith Buttler, discutindo gênero como uma construção sócio-histórica e correlacionando reflexões que buscam apontar como a epistemologia científica é ancorada em preceitos machistas, bem como foram realizadas outras discussões que concernem à educação. Palavras-chave: Heteronormatividade, Formação de Professores, Ciências Naturais.

1Mestrando em Educação Científica e Tecnológica – Universidade Federal de Santa Catarina. 2Graduanda em Ciências Biológicas – Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba. [email protected]

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

1. Introdução Nos últimos anos, discussões sobre sexualidade surgiram fortemente em várias esferas sociais, ocupando lugar nas mídias, em espaços formais e não formais de ensino, em discussões políticas, dentre outros ambientes. A conquista de direitos a pluralidade de identidades de gênero frente às concepções impostas por preceitos sociais heteronormativos se intensificaram principalmente após os anos 1960, pois nesse período iniciou-se um processo de aprofundamento das mudanças sexuais em relação ao comportamento e a sexualidade, sendo que tal mudança decorreu principalmente pela participação do movimento feminista e, posteriormente, do movimento gay e lésbico (BORTOLINI, 2008). O movimento gay se caracteriza por uma multiplicidade de identificações de gênero, que não se restringe a uma identidade única, incluindo, dentre outras expressões de sexualidade, classificações como travestis, transexuais e bissexuais, não existindo restrições nem mesmo dentro de cada uma dessas identidades, pois há uma pluralidade interna subjetiva a cada indivíduo. Nesse sentido, na atualidade, ocorre um duelo entre o novo e o conservador, onde direitos são requisitados de forma gritante diante da necessidade de reconhecimento de tal pluralidade, em uma sociedade onde repressões, advindas de diversas formas de preconceito, ocorrem em vários momentos e lugares das esferas sociopolíticas (BORTOLINI, 2008). Nessas esferas padrões binários predominam perante a diversidade, margeando essa dualidade binária não somente em questões sexuais, como em outras vertentes sociais (BENTO, 2011). Dentre os componentes das esferas sociais, podemos ressaltar a ciência, a qual é uma das vertentes de nosso interesse de pesquisa. A ciência, com seus discursos voltados principalmente ao aspecto biológico de sexualidade, reproduz performatividades de gênero. Desde que nascemos somos condicionados a uma das polaridades binárias: atribuem-nos nomes, roupas, objetos, denominações e adjetivações masculinas ou femininas em um determinismo heteronormativo (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007). Fazer ciência é fazer política, e por isso à ciência e seu reconhecimento não são fatores individuais, mas de um coletivo, havendo fatores sociais, culturais e políticos permeando relações (BENTO, 2011). Nesse contexto, a ciência não é neutra e seu discurso não é

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

transparente, assim como a linguagem não é (ORLANDI, 2001), sendo a própria prática linguística ligada à produção de subjetividade (FREIRE COSTA, 1992). Historicamente, discursos carregados de preconceitos são trazidos em legados científicos, onde desde posicionamentos eugênicos, até atribuição do considerado “diferente” a preceitos patológicos, foram legitimados como verdades. Assim, a sexualidade foi e é tratada, direta ou indiretamente, como doença, considerando, por exemplo, um travesti ou transexual não como um ser com identidade própria de gênero, mas com um transtorno de tal. A psicanálise é uma das principais responsáveis pela normatividade sexual de uma matriz binária. A “instituição” casamento e os seus frutos exigidos, ligados à reprodução, estão atrelados a um estruturalismo heterossexual que sustenta bases de uma sociedade na qual há claras abjeções aos ditos comportamentos homossexuais. A subjetividade, preterida pela constituição do simbólico e pela castração, advindas desde as teorias freudianas de Édipo, trazem consigo uma rejeição a outras culturas, que não aquela relativa à heterossexualidade. Dentre essas exclusões, está à negação de desejos e identificações, que para Judith Buttler, é resultante de uma reiteração da norma sexual, reforçada pela psicanálise (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007). Nesse sentido, a homossexualidade é tratada como desvio em função da manutenção da norma heterossexual. Para Buttler, “gênero é uma norma, ou seja, uma construção social histórica e contingente” (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007, p. 129). Em outras palavras, “gênero é uma forma de regulação social” que ocorre através de dispositivos específicos de regulação, que podem ser legais, institucionais, militares, educacionais, sociais, psicológicos e psiquiátricos (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007, p. 132). Tal teoria de Buttler está atrelada aos conceitos de Michel Foucault, que abordando diversas questões sobre a constituição da sociedade trás a concepção de que o poder não é algo homogêneo, pois funciona semelhante a uma rede de dispositivos e mecanismos que constituem e controlam os indivíduos (GREGOLIN, 2004). Nessa perspectiva, “o poder não atua oprimindo ou dominando as subjetividades, mas opera de forma imediata na sua construção” (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007, p. 132). Isso significa que o sujeito é condicionado a discursos reguladores que influenciam seu gênero e são responsáveis pela sua própria produção.

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

Basicamente, a ideia de Foucault centra-se que, historicamente, foram desenvolvidas sociedades disciplinares em que o poder exercido sobre os corpos obedece a técnicas e mecanismos que organizam o sistema de poder e submissão (GREGOLIN, 2004). Já para Buttler, os corpos não se conformam diretamente com as regras que os regulam, nunca vão aderir completamente às normas que são impostas as suas materializações (BUTTLER, 1999 apud PEREIRA, 2006). Assim, apesar das proximidades, as diferenças entre as ideias de Buttler com as concepções foucaultianas sobre sexualidade se explicitam na forma como ambos veem as regulações de poder sobre o gênero. Diante disso, a questão das regulações de gênero para Butler “não são apenas mais um exemplo das formas de regulamentação de um poder mais extenso, mas constituem uma modalidade de regulação específica que tem efeitos constitutivos sobre a subjetividade” (ARÁN e PEIXOTO JÚNIOR, 2007, p. 133). Isso significa que uma matriz estabelece ao mesmo tempo uma hierarquia masculina e feminina, ambas heterossexuais e em uma forma compulsória, onde o gênero não é nem expressão interna e nem uma construção social, mas o resultado de repetições constitutivas que são reiterativas e que impõe sua essência. (GREGOLIN, 2004). Dadas as relações de poder que estabelecem e estruturam as concepções de sexualidade e gênero em vários âmbitos sociais, é de nosso interesse analisar uma dessas esferas que se configura como um dos mecanismos reguladores: a educação. Associadamente à educação está à ciência, visto que esta é parte integrante, não somente de currículos de educação básica, como também presente em outras esferas. Tendo uma relação proximal acentuada, vamos analisar essas duas esferas, adentrando principalmente na formação de educadores, pósgraduandos, potencialmente futuros formadores de professores. Nosso intuito é analisar como estes interagem, conhecem e abordam tais questões de gênero e sexualidade. Para isso, primeiro vamos definir alguns conceitos abordados na pesquisa de forma a delineá-los. 2.

“Desenhando” alguns conceitos

Como apontado, nossa pesquisa centrou-se no conhecimento de alguns termos e conceitos, buscando entender a compreensão de pós-graduandos relacionados à área de educação. Não consideramos que todo profissional da educação tenha de ter domínio sobre terminologias

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

referentes a estudos de sexualidade e gênero, nem mesmo sejam adeptos extremos à militância. Nosso intuito é perceber o quanto historicamente preceitos binários, sexistas e mesmo preconceituosos podem estar enraizados nas diversas esferas sociais que constituem os aparelhos reguladores do poder, como Foucault os chamaria. Para tal traremos agora alguns conceitos e concepções de gêneros/sexualidades abordados e suas subjetividades. O que entender, por exemplo, por homossexualismo? Este termo tem o mesmo significado que homossexualidade? Quais os preceitos político-ideológicos por trás dessas terminologias? Conforme aponta Freire Costa (1992), ao utilizarmos o termo homossexualismo estamos ligados

a

uma

construção

histórico-ideológico-político-econômico-libdinal

burguesa,

pertencente ao século XIX. Nessa sociedade, houve uma clara divisão binária entre heterossexuais e homossexuais, atrelada principalmente à noção do que é normal e do que é patológico, onde aquilo que não é considerado dentro dos padrões heteronormativos sociais é visto como um desvio de personalidade. Assim, o termo homossexualismo é carregado de ideologias históricas que se remetem a doença, ao anormal, e por isso é tão criticado e colocado

como

pejorativo

e

negativo,

sendo

preferida

a

outra

terminologia

(homossexualidade) para designar aqueles que gostam do mesmo sexo. Os considerados por Jayme (2001) como transcender, reconstroem gêneros, pois para o autor essa categoria não possui uma estrutura binária e essencialista, ou seja, não há uma única forma de reconhecer a(s) subjetividade(s) dos indivíduos, existindo diversificadas construções da sexualidade. O engendrado conceito tradicional de transexual, relativo à visão distorcida de abjeção aos órgãos sexuais (Bento, 2011), exclui tais possibilidades de pluralidade. Não necessariamente, alguém que se identifique com o gênero oposto deseja mudar de sexo e tem abjeção ao seu órgão sexual. Muito pelo contrário, há toda uma pluralidade de desejos e subjetividades que vão além do que o biológico e as imposições colocadas frente aos genitais, em uma definição heteronormativa, prescrevem. Em movimentos de reconhecimento da legitimidade de direitos, que se opõe à hegemônica matriz binária de submissão, cabe delinear também algumas diferenciações, limites e extensões de conceitos atrelados ao feminino e ao masculino. Comecemos pela definição de

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

machismo. Para Vilella (2005), seria uma atitude não só de homens, como também mulheres, em relação a outros homens e/ou mulheres. Já o conceito de masculinidade se atrela as características atribuídas ao homem, que apesar de se vincular um determinismo binário de gênero, nem sempre se coloca como uma forma de dominação e poder sobre o feminino. Diante do poderio do padrão heteronormativo e da dominância do “macho”, a militância contra essa hierarquização e rejeição social às subjetividades é um ponto chave para o reconhecimento de identidades de gênero. Porém, até mesmo dentro de tais lutas há uma absorção histórica de valores e preceitos normativos. A luta feminista não deveria ser encarada em vieses extremos, como ocorre em alguns casos, assim como o feminino não é uma luta política exclusiva de mulheres, pois há outras identidades de gênero que se reconhecem como tal (BENTO, 2011). Não é a reprodução da opressão ao seu opressor, no caso, o homem, que trará condições igualitárias de direitos, mas sim a luta pelo desejo de mudanças que reconheçam os sujeitos como iguais (BANDEIRA, 2009). Apesar das claras e notáveis conquistas nos últimos anos em questões relativas a trabalho, política e direitos sociais, o feminismo pode funcionar como um instrumento de normalização e de controle político caso se reduza apenas a mulheres e para mulheres, por isso é plausível que a resistência feminista tenha direcionamentos que não produzam duelos sexistas com o homem, mas de complementaridade. A luta feminista contra a violência explicita demonstração de poder e submissão às quais muitas mulheres passaram e ainda passam, sendo um claro manifesto de igualdade, e não de sexismo. Apesar dessas lutas, há grande resistência a mudanças por parte da sociedade, que tenta preservar modelos culturais e assimetrias de poder, pois como abordamos ao citar o pensamento de Focault e Buttler, há uma forte regulação nas formas de poder, que visa reiterar aquilo que está estabelecido e normalizado. 3. Desenvolvimento da pesquisa e análise dos resultados A pesquisa foi realizada com estudantes de pós-graduação do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - campus Florianópolis, e decorreu através de questionários (Anexo A), onde o principal intuito era verificar qual a compreensão desses sujeitos de pesquisa quanto a

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

preceitos e conceitos de sexualidade. Partindo do fato de que, a maior parte dos pósgraduandos teve sua formação inicial em cursos voltados às áreas de ciências da natureza (física, química e biologia) e matemática, pressupomos que possuem embasamentos atrelados as nossas discussões iniciais, onde apontamos que a ciência reproduz performatividades de gênero, ligando sexualidade a aspectos meramente biológicos. Este grupo não foi escolhido apenas por possuir uma formação enraizada em questões científicas, como também por acreditarmos que seja importante seu estudo, dada a natureza heterogênea que o permeia. Além disso, consideramos importante tal abordagem devido aos sujeitos de pesquisa cursar pós-graduação na área de educação, sendo alguns já atuantes no ensino como professores de ensino superior ou mesmo de ciências (ou de sua área específica) na educação básica. Partimos da premissa de que, muitos desses mestrandos e doutorandos podem tornar-se futuros formadores de professores. Sendo assim, é fundamental que estes sujeitos pensem e reflitam sobre amplos aspectos sociais, dentre eles, a sexualidade. Afinal, se em sua própria prática como docente já se faz necessária uma grande contingência de reflexões, ao se tratar da formação de outros professores, tal necessidade se intensifica ainda mais, pois, como formar professores críticos se os próprios formadores de professores não o forem? Abaixo segue as divisões dos sujeitos de pesquisa que responderam aos nossos questionários: Tabela 1: Número de mestrandos e doutorandos pesquisados do PPGECT Mestrandos 10

Doutorandos 5

TOTAL 15

Tabela 2: Demonstrativo quantitativo das áreas de origem dos pós-graduandos pesquisados Biologia 5

Física 4

Química 2

Matemática Engenharia 2 1

Geografia 1

TOTAL 15

Conforme mostra a tabela, o número de pesquisados não é grande. Isso ocorre porque, além do fato de que em programas de pós-graduação comumente o número de alunos não é alto, ainda há o viés de que muitos não quiserem responder as questões propostas. De qualquer forma, partindo do pressuposto de que esses 15 pós-graduandos entrevistados têm

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

um amplo potencial para formar, futuramente, muitos outros sujeitos (professores e/ou alunos) ao longo de sua carreira docente, isso não torna menos abrangente nossa análise. Traremos agora algumas das falas dos sujeitos de pesquisa frente às questões colocadas, construídas diante da necessidade de uma análise mais minuciosa de nossos resultados. a) Desconhecimento das concepções abordadas...

Primeiramente acreditamos ser importante mostrar o quanto é difícil o sujeito de pesquisa responder as questões colocadas, dado, muitas vezes, sua falta de familiaridade com os conceitos. Esse pode ser o principal fator para a dificuldade em encontrar pessoas que se disponibilizassem a participar da pesquisa. Em nossa busca, muitos afirmaram que não conheciam sobre o assunto e até tinham receio de responder, pois acreditavam que poderiam “atrapalhar” a pesquisa. Também era perceptível certo receio de que, como pós-graduandos em educação, mostrassem que não tinham domínio desse assunto. Abaixo seguem algumas respostas dos questionários que nos mostram tal problemática: “O Homossexualismo seria o estudo da Homossexualidade” (Doutorand@ - Engenharia) “...ambos os termos se referem a mesma caracterização” (Mestrand@ - Biologia) “Não consigo diferenciar” (fala corriqueira) “A diferença está no uso que se faz destes termos” (Mestrand@ - Matemática)

Analisando essas primeiras falas podemos ver alguns claros desconhecimentos das questões de sexualidades e gênero. Na primeira frase, toda a concepção histórica, de uma palavra carregada e enraizada a preconceitos, que como já dissemos, remete-se a doença, é atribuída como o “estudo da sexualidade”. Em sufixos de origem grega, a palavra “estudo” é colocada como logus e designada como a derivação –logia (por exemplo: Biologia – estudo da vida), o que não é o caso em questão. Pensando que essa atribuição proveio de um meio acadêmico, cria-se a expectativa de que a resposta tenha discernimento mínimo entre alguns significados, mesmo sem conhecer o contexto histórico, como é o caso do sufixo –ismo na palavra homossexualismo. Já segunda fala reduz a significação dos termos a uma mesma

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

caracterização, o que demonstra a falta de conhecimento ou uma generalização dos termos, enquanto que na terceira e quarta fala fica claro a dificuldade em distinguir esses conceitos. Apesar da importância de que soubessem mais sobre sexualidade e gênero, dado suas origens profissionais e sociais, os indivíduos em questão, de certa forma, se “isentam” de culpa, pois vivem em uma sociedade em que os poderes regulam a normalidade e os padrões que atendem a ela, conforme trouxemos com Foucault e Buttler. b) Sexualidade como escolha... Em outra análise gostaríamos de ressaltar: Afinal, sexualidade é uma escolha ou nossa identidade de gênero está atrelada a uma subjetividade da qual não temos controle? Seria a sexualidade algo natural, no sentido biológico? Ou seja, nascemos gays ou heterossexuais, assim como nascemos homens e mulheres (se referindo aos órgãos reprodutivos)? Nesse sentido, fazemos ou temos gênero? “Acho que tem muito mais a ver com o gosto e vontade da pessoa, independente do meio em que ela está inserido, por isso é um fator mais psicológico e subjetivo.” (Mestrand@ - Física) “A origem da sexualidade está na escolha, nas atitudes, personalidade de cada um.” (Mestrand@ - matemática) “Ser gay não é doença. É uma escolha.” (Mestrand@ - Química)

As três frases anteriores são respostas dos sujeitos pesquisados que remetem a questão: “O que é ser gay?”. Como podemos observar, para eles, ser gay é algo relacionada à “vontade da pessoa” ou simplesmente a uma “escolha”, sendo atribuído, muitas vezes, à “personalidade” ou ao “psicológico da pessoa”. Tomando por base tais declarações, tudo indica que há uma crença de que fazemos gênero, havendo uma negação da subjetividade dos indivíduos. Conforme Bento (2011) aponta, acredita-se em uma plasticidade quanto à mudança de performance de acordo com as esferas sociais e isso seria a própria essência do gênero. Assim, ao dizer que a homossexualidade está ligada ao psicológico, sabemos que esta concepção estaria ligada ao contexto histórico do indivíduo e, se assim fosse, à primeira frase já se mostraria contraditória por negar o meio que se insere.

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

Apesar de não ser nossa pretensão tal enfoque, podemos ainda nos referir a Análise do Discurso (AD), pois este referencial teórico nos diz que o sujeito não é dono completamente do seu dizer, já que tudo que é dito foi dito em algum lugar e por alguém. Assim, tais discursos, que estão sendo analisados nesse trabalho, estão relacionados e materializados na própria história, pautados sobre ideologias reproduzidas em determinadas condições de produção, ou seja, estes discursos e os sentidos produzidos sofrem influências do meio social em que o indivíduo está imerso. Quanto à questão da sexualidade como uma “escolha”, trago de novo Foucault e a questão da normatização e regulação desses padrões na sociedade. Se “ser gay” é uma escolha (e digo gay genericamente, me referindo também as outras expressões de sexualidade e gênero), já que somos influenciados desde bebê com a heterossexualidade, recebendo desde discursos, até objetos que condicionavam a essa performance de gênero, então houve um desvio de personalidade? Gays são anormais e, como a psicanálise os trata, são desviados comportamentalmente? Não é nossa intenção culpar pensamentos enraizados em conceitos heteronormatizados, que possuem embutidos preceitos psicanalíticos de anormalidade quanto aos padrões homossexuais. Apenas queremos colocar com essa reflexão que sexualidade não é simplesmente uma opção ou escolha e que, ao fugir de uma construção social normativa, o que se quer é reconhecimento de identidades e o direito as tê-las. Apesar de tais problemas, é importante ressaltar que não há um desconhecimento de questões de gênero e sexualidade por parte de todos os indivíduos analisados, apesar da maioria dos sujeitos de pesquisa apontar certo desconhecimento de muitos termos. “Homossexualismo passa a ideia de que a escolha sexual é uma doença” (Mestrand@ - Física)

Também observamos algumas confusões, onde a compreensão do conceito é parcial e em alguns discursos há alguns conceitos que nos remetem a questões de preconceitos. “Homossexualismo é uma corrente de pensamento relacionado à concordância na conduta aos adeptos da homossexualidade” (Doutorand@ - Física) “Homossexualismo se refere à mesma coisa, porém de forma pejorativa, como se isso fosse uma doença, e não uma opção sexual” (Mestrand@ Química)

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

Notemos que a primeira fala coloca o homossexualismo como uma “conduta” em que há uma concordância, relativa aos seus “adeptos”. Isso coloca a homossexualidade na concepção de desvio de personalidade, em discursos que a marginalizam a uma categorização de doença, anormal. Já na segunda resposta é possível notar que, apesar de reconhecer que o termo está ligado à doença, o sujeito de pesquisa não consegue realizar uma separação clara entre homossexualismo e homossexualidade. c) “Travestilidades”...

Conforme colocamos com as ideias de Bento (2011) há uma crença de que os ditos “transcender” (conceito de Jayme, 2001) tem abjeção, sentimento de nojo e/ou ódio pelo seu órgão genital. Na frase colocada pelo sujeito de pesquisa os transexuais mudam de sexo por “opção”. Essa visão desconsidera toda uma subjetividade própria do indivíduo. Será que é possível “optar” por ser homem ou mulher? A identificação do sujeito tem necessariamente de estar atrelada aos moldes que o padrão heteronormativo coloca sobre os órgãos sexuais? Vejamos algumas falas respondidas nos questionários dessa pesquisa. “Transexual é o indivíduo que por opção resolveu mudar de sexo” (Doutorand@ – Física) “Transexual é o termo que se refere a uma pessoa que deseja ter∕ser o sexo oposto, ou seja, uma mulher quer ser um homem, ou vice- versa” (Mestrand@ - Biologia)

De forma geral, vemos que a diferença entre o homem e a mulher ainda é atrelado ao histórico Complexo de Édipo, do qual discutimos trazendo a visão de Arán e Peixoto Júnior (2007), onde a castração é o limite que distingue o masculino do feminino. Em outras palavras, seria a ausência ou presença de pênis que define o homem e a mulher, visão esta reducionista e que exclui toda a subjetividade do indivíduo em prol de uma “biologização” sexual por meio de seus genitais. O que não se compreende é que a invenção dos corpos pressupõe uma invenção contínua (Pereira, 2006), ou seja, o travesti, indo contra as performatividades impostas socialmente, é uma das expressões de gêneros que mais quebram com a normatividade hegemônica sobre os corpos, transcendendo regulações colocadas sobre ele. Uma fala de um dos sujeitos de pesquisa que vai, de certa forma ao encontro disso é:

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

“Travesti se refere a pessoas que objetivam transicionar para um gênero diferente, ou seja, geralmente homens objetivam a construção do feminino” (Mestrand@ - Biologia)

Conforme abordado por Silva (2013), as relações estabelecidas e consolidadas nos imaginários sociais e culturais colocam que a relação macho-homem e fêmea-mulher devem encontrar correspondência direta com a relação pênis-vagina, sendo qualquer desordem um pânico para o “sistema”. Todavia, se pensarmos no corpo transexual, percebe-se uma relação dimórfica comparado ao masculino e feminino (isomórfico), pois enquanto homem e mulher operam em uma base binária heterossexual, o transexual atende, tanto ao feminino quanto ao masculino (SILVA, 2013). Feminismos, feminilidades... Machismos, masculinidades... Sobre o que envolve as relações de identificação e opressão dentro da matriz binária de gênero vemos alguns movimentos diferenciados nas formas de lidar com tais questões por parte dos sujeitos pesquisados. A primeira indicação é que, para a grande maioria dos sujeitos, a noção de feminilidade e masculinidade é clara, não havendo grandes dificuldades em definilas, já que fazem parte de sua cultura, onde são identificados como homem ou como mulher mediante aos seus aspectos biológicos e comportamentos, relativos ao que é considerado normal. Algumas concepções semelhantes à frase abaixo foram encontradas: “ F e m inis m o são movimento s e açõe s que tem como objetivos direitos iguais. Machis m o consiste num conjunto de atitudes e ideias que colo ca o sexo masculino em um patamar elevad o na socied ad e com relaçã o ao sexo feminino ” (Mestrand@ - Biologia)

Logo abaixo, vê-se que a fala de um dos sujeitos de pesquisa trás a concepção de que os movimentos de cunho feminista possuem o viés de inverter as posições de subversões entre homem e mulher, ou seja, a mulher exige superioridade nesse movimento. Como discutimos pelos argumentos de Bento (2011) e Bandeira (2009), não é essa inversão de opressão que garantirá direitos iguais, pelo contrário, posições radicalistas de feministas podem, ao invés de integrar o movimento, danificá-lo, passando a impressão de que a mulher quer impor-se como aquela que dita às normas e não a que exige igualdade entre os sexos. Por isso acreditamos

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

que o conceito de feminismo, como busca de igualdade de direitos, seja o predominante, e é interessante que o próprio o trate como tal em suas lutas. “Feminismo é um movimento que busca colocar a mulher em posição superior na sociedade” (Mestrand@ Biologia)

As imposições de um sexo sobre o outro intensificam ainda mais essas desigualdades às quais feministas clamam que se extintas. Tais desigualdades sexistas podem ser encaradas como formas de preconceito e/ou imposições de gênero, como mostram as frases abaixo dos sujeitos de pesquisa. Nessas frases, fica claro que alguns entendem o viés separatista sexista, apesar de que nem todos participantes da pesquisa fizeram tal distinção. “O sexismo é uma forma de preconceito ao considerar o homem superior à mulher ou a mulher superior ao homem” (Mestrand@ - Matemática) “Sexismo = definir a pessoa pelo sexo que ela tem” (Mestrand@ - Física)

Conforme apontado por Silva (2013) há muito tempo as discussões em torno de categorias de gênero binárias (homem x mulher; macho x fêmea) tem se mostrado limitada e há uma série de meios que tentam manter tais divisões sexistas centrados na figura do homem heterossexual. Acreditamos, portanto, que os reais ideais das lutas pelos direitos de igualdade sexual precisam estar pautados por essas motivações, tentando quebrar a hegemonia do masculino, porém, nas raízes de tal hegemonia está o próprio binarismo, que acaba por descaracterizar as múltiplas relações de gênero. Assim, para negar a predominância heteronormativa masculina é necessário ir contra o próprio binarismo da qual ela se constitui. d) Ciência, educação e sexualidade...

Fazer ciência é fazer política (Bento, 2011) e a ciência se relaciona às questões sociais, direta ou indiretamente. O que observamos ao longo da história da ciência é uma cultura predominantemente machista, onde a mulher teve seu lugar reconhecido apenas muito recentemente (FRENCH, 2009). Nessa visão positivista, onde a ciência se preocupa mais com suas verdades absolutas em torno de desvendar o mundo em que vivemos, por vezes, perde-se a preocupação com o social. Mas como desatrelar a ciência da sociedade se um interfere

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

diretamente sobre o outro, sendo a ciência uma construção social que influencia nos interesses e bases da própria sociedade? Um dos sujeitos de pesquisa mostra o quanto a ciência é considerada a parte das problemáticas sociais. Ao ler esta colocação fica nítido que, o cientista, muitas vezes, ainda é visto e se coloca na posição de ser iluminado, provido de uma inteligência ímpar (French, 2009) e isento de responsabilidades sociais. Mas isso não é verdade. Cabe aos cientistas e aos educadores que pensam no ensino de Ciências refletirem sobre aspectos sociais, buscando construir concepções críticas, em um processo de educação transformadora (FREIRE, 1987). “As ciências naturais se preocupam por questões relacionadas ao comportamento da natureza no sentido mais amplo e específico da realidade exterior e não articulam a sexualidade e gênero, pois são objetos de estudo das ciências humanas” (Doutorand@ - Física)

É papel do educador, do cientista e de atores de outras esferas refletirem sobre questões sociais. Cabe lembrar, já que fizemos alusão à teoria freireana, que o oprimido, muitas vezes, não se dá conta da opressão e nem de seus opressores, que estão nas mais variadas maquinarias de controle social (ciência, política, mídia, religião, dentre outras) e, por vezes, o mesmo oprimido se torna o opressor. É o que vemos, por exemplo, quando se busca uma transferência de normatividades do mundo heterossexual ao homossexual. Ora, se um indivíduo, com uma identidade de gênero diferente das dominantes, quer e luta por ser aceito diante de padrões heteronormativos, como compreender que este agregue e preze valores masculinizados em sua cultura/vida? Continuamente, outra de nossas questões foi pautada nos questionamentos: Qual a origem da sexualidade? Quais são as vertentes que a influenciam? Psicológica? Genética? Social? Todas estas? Atualmente esta discussão está em vários âmbitos, principalmente na mídia. Notícias sobre a tentativa de se identificar genes homossexuais, atribuindo à sexualidade não só ao biológico externo, mas à própria constituição hereditária dos indivíduos, são comuns e há quem coloque como fato, apesar de não haver provas categóricas sobre tal. Não obstante já trouxemos à questão da psicanálise, que secularmente colocou às identificações de gênero em patamares de desvio, anormalidade, patologia ou mesmo

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

atribuindo a traumas de infância tais comportamentos, que não atendem aos preceitos heteronormativos. E quanto ao campo social? De acordo com Silva, 2013 as categorias homem e mulher só são possíveis de serem interpretadas dentro de contextos ideológicos, econômicos e políticos pertencentes às estruturas binárias, isso porque se constroem mediante este quadro de heteronormatividade, principalmente em concepções heterossexuais masculinas. Para o autor, mesmo aqueles que contestam e buscam estudar as múltiplas expressões de gênero, parte-se da negação dessa matriz estabelecida, colocando outras expressões de sexualidade como o oposto a essa relação binária homem/mulher. Assim, a defesa por uma matriz não binária começa pela própria negação desta, ou seja, o ser gay, lésbica ou travesti é caracterizado pelo não ser homem heterossexual, que é posto como o centro do ser/existir. Concordamos com o autor na questão de que, para além de um binarismo sexista, seria interessante pensar na idéia de corpo, noção que é complexa, dado que muito a ele é associado tais dicotomias e caracterizações biológicas. Desse modo, o corpo preserva ainda binariamente representado (Silva, 2013), por elementos reiterativos dos iguais (heterossexuais) e dos negados (demais diversidades sexuais), onde há uma exclusão, uma abjeção, dos corpos que não correspondem ao biológico e ao social a que pertencem, expressando tal sistema fechado sobre eles na própria constituição da língua, através de discursos, que é o meio pelo qual nos posicionamos. Nesse sentido a pergunta é: nascemos homem ou mulher? Nascemos um corpo! A visão comum é que este corpo ou é assujeitado, com impressões discursivas e linguísticas que construirão a identidade sexual e de gênero, ou afasta-se dos padrões a ele definido. O fato é que este corpo nasce dentro de um padrão binário, mantido por uma tradição cultural, mas, apesar das significações e simbolismo atribuídos aos sujeitos sobre seu corpo, as reais significações acontecem no seu interior, ligadas aos desejos, sentimentos e subjetividades, pois não são as exteriorizações simbólicas que determinam tais aspectos, sendo a sexualidade muito mais do que um vestir ou parecer algo ou seguir algum padrão. Em tese, como fala Silva (2013) o corpo homossexual nada tem de diferente do heterossexual. O que mudam são suas subjetividades, próprias, que não podem ser atribuídas

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

deterministicamente ao psicológico, a genética ou ao social, e que estão embasadas no binarismo do aceito e da negação (heterossexual e homossexual). Assim, expressões de sexualidade não podem ser negativas de um modelo hegemônico, não sendo um desvio comportamental, nem uma fuga a uma não identificação com o socialmente aceito e muito menos algo pré-estabelecido ao biológico. “Homossexualidade não é uma opção sexual, é algo que se manifesta no indivíduo, se impõe a ele... Afinal, se fosse questão de escolha, seria muito mais fácil optar pelo comportamento aceito socialmente: a heterossexualidade” (Mestrand@ - Matemática)

Por fim, como vemos na resposta acima, há uma ideia de sexualidade como algo inato, algo de caráter biológico. Conforme discutimos, essa biologização presente na resposta é atribuída a uma negação do padrão heterossexual masculino, colocando a homossexualidade em oposição ao padrão hegemônico. De qualquer forma, o que queremos explicitar com todas as reflexões é que o corpo é assujeitado a definições pré-estabelecidas, que ou seguem o hegemônico ou vão contra este, e estes contrapontos precisam ser superados. 4. Considerações Finais Diante de nossas análises ficou clara a dificuldade de compreensão real sobre gênero e sexualidade, mesmo em uma esfera onde tais temas poderiam ser potencialmente mais explorados, já que nossos sujeitos de pesquisa se encontram em meio a um âmbito acadêmico, na área de educação e, portanto, poderiam ter maiores reflexões sobre o assunto, pois grande parte de nossos estudos estão pautados em temáticas sociais. Os enfoques, discursos e reflexões acadêmicas, portanto, não abrangem toda uma gama social (e porque não dizer cultural, já que há uma cultura ímpar, subjetiva, pertencente ao mundo gay) que contemple tais assuntos de forma ampla e sabemos que isso não é algo simples de se resolver. Dado o caráter recente dos movimentos de sexualidade e gênero (como o feminismo e os plurais movimentos gays), a dificuldade de quebrar com discursos hegemônicos de uma matriz binária de gênero instaurada socialmente de forma histórica e os mecanismos de poder que reiteram tais discursos (a exemplo, dentre outros, a mídia, que apesar de recentemente tentar socializar temáticas gays, ainda reproduz estereótipos muito fortes), ainda há muito

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

para se fazer de forma que se mude a(s) realidade(s) e se inclua a temática, adequadamente e de forma crítica, não só no âmbito educacional e científico, mas em todas as esferas sociais. É papel dos professores refletirem sobre esses temas, mesmo que sua formação inicial não tenha os preparado para tal. Complementarmente a isso, tal relevância da inclusão desses temas na formação inicial de professores será realmente viabilizada mediante reflexões críticas de seus formadores sobre tais questões. Por isso, concluímos que é fundamental que os profissionais pesquisados, pós-graduandos com potencial de serem futuros formadores de professores, reflitam e conheçam tais questões, pois só assim faremos uma educação verdadeiramente democrática e inclusiva, que respeite a todas as subjetividades humanas. Referências Bibliográficas

ARÁN, M.; PEIXOTO JÚNIOR, C. A. Subversões do desejo: sobre gênero e subjetividade em Judith Butler. Cadernos pagú. Revista semestral do núcleo de estudos de gênero. Universidade Estadual de Campinas, n. 28. Campinas, p. 129-147, 2007. BANDEIRA, L. Três décadas de resistência feminista contra o sexismo e a violência feminina no Brasil: 1976 a 2006. Sociedade e Estado, Brasília, v. 24, n. 2, p. 401-438, maio/ago, 2009. BENTO, B. Política da diferença: feminismos e transexualidades. Coleção Cult, Stonewall 40 + o que no Brasil?, EDUFBA, Salvador, 2011. BORTOLINI, A. (Coord.). Diversidade Sexual na Escola. Rio de Janeiro: Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ, 2008. FRENCH, S. Ciência: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2009. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREIRE COSTA, J. A Inocência e o Vício: Estudos Sobre o Homoerotismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2ª ed., 195p, 1992. GREGOLIN, M. R. Foucault e Pêcheux: na análise do discurso – diálogos & duelos. São Carlos: ClaraLuz, 2004. JAYME, J. G. Travestis, transformistas, drag-queens, transexuais: personagens e mascaras no cotidiano de Belo Horizonte e Lisboa. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Tese de Doutorado. 2001.[Orientadora: Profa. Suely Kofes)

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2001. VILELLA, W. Gênero, saúde dos homens e masculinidades. Ciência e Saúde Coletiva, 10 (1):18-34, 2005. PEREIRA, P. P. G. A teoria queer e a Reinvenção do corpo. Cadernos pagu (27), julhodezembro de 2006: pp.469-477. SILVA, A. P. D. Implicações do uso da categoria “corpo” nos estudos de gênero, gays, lésbicos e queers. In: Anais do XIII Congresso Internacional da ABRALIC Internacionalização do Regional, Campina Grande, p. 1-18, 2013.

ANEXO A: Questionário aplicado aos pós-graduandos 1) Em sua opinião, qual a diferença entre os termos abaixo? a) Homossexualidade x Homossexualismo b) Transexual x Travesti c) Feminilidade x Feminismo d) Machismo x Masculinidade e) Sexismo x Sexualidade 2) Você já teve alguma experiência docente conflitante em relação às questões de sexualidade? (brigas em sala de aula, ofensas de alunos a algum colega homossexual, dúvidas ou preconceitos, etc.) Como você trabalhou/lidou com essa questão?

3) Em sua opinião, a sexualidade tem origem: a) Principalmente Genética b) Principalmente Psicológica c) Principalmente Ambiental/Social d) Todos os fatores anteriores contribuem e) Não aceito nenhuma explicação. Justifique brevemente sua resposta.

ANAIS DO SIMPÓSIO DE ESTUDOS DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL Departamento de Ciências Humanas e Educação UFSCar-campus Sorocaba Sorocaba/SP 2014

4) Em sua opinião, na ciência (física, química, biologia e matemática), como se articulam às questões sobre sexualidade e gênero?

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.