Significado, conceptualização e experiência: sobre a natureza do significado linguístico

June 14, 2017 | Autor: A. Soares da Silva | Categoria: Portuguese, Semantics, Theories of Meaning, Meaning, Cognitive Linguistics
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In: Revista Portuguesa de Humanidades 10, Faculdade de Filosofia da UCP. 2006

Significado, conceptualização e experiência: sobre a natureza do significado linguístico

AUGUSTO SOARES DA SILVA Universidade Católica Portuguesa – Braga [email protected]

Abstract It is sometimes argued that the ideational theory of meaning, which finds in Cognitive Semantics its most elaborated current expression, cannot fully answer the issue of the nature of meaning as it ignores the pragmatic point as a fundamental element in linguistic meaning. This paper tries to argue that a conceptualist conception of meaning implies its socio-interactional conception. Meanings exist in our minds and, precisely because of that, are viewed as categories of encyclopedic knowledge grounded on human experience and built over social interaction. Problems or misunderstandings result from partial understanding of conceptualization and cognition. Following the view of Cognitive Semantics and taking the descriptive results of our studies about polysemous categories as reference, we will first highlight evidence showing that meaning is conceptualization, in the broad sense of any kind of mental experience. Next, we will argue that if meaning is conceptualization, then it is closely related to human experience. But experientialism of meaning and cognition not only encompasses an individual, neurophysiological dimension, but also an intersubjective, interactional dimension. Finally, we will consider some methodological (empirical methodology) and epistemological (social cognition) implications in order to describe and explain linguistic meaning. Keywords: cognition, Cognitive Semantics, conceptualization, embodiment, experience, gestalt psychology, intersubjectivity, meaning, perception, polysemy, social cognition, usage-based model.

1.

O que é o significado?

Parece ser óbvio o que o significado é: tanto na concepção popular como para certas teorias semânticas, o significado de uma palavra é a ideia ou o conceito que ela exprime. Todavia, saber o que é o significado é uma questão com uma longa tradição em filosofia da linguagem e, em menor extensão, na linguística (não só porque a história desta é mais curta, mas também porque os linguistas estão geralmente mais interessados na descrição do significado do que na questão da natureza do significado). E diferentes têm sido as respostas a esta questão, as quais estão na origem de diferentes teorias do significado quer filosóficas quer linguísticas. No seu livro sobre filosofia da linguagem, publicado no terceiro quartel do séc. XX, Alston (1964: 10-49) classifica

1

essas respostas e teorias numa tipologia quadripartida, ainda hoje útil para dar conta de grande parte, pelo menos, das diversas posições de filósofos e linguistas sobre a questão: (i) teoria referencial, ou significado como referente; (ii) teoria ideacional, ou significado como ideia; (iii) teoria behaviorista, ou significado como função do comportamento dos participantes num acto de comunicação; e (iv) teoria do significado como função do uso de determinada palavra ou outra expressão na língua, mais especificamente, como regra para o uso – que o próprio Alston desenvolve e a que Lima (2006) prefere designar por teoria convencional (tomando convenção naquele sentido de regra). Fazendo uma breve aplicação desta tipologia às teorias semânticas linguísticas e filosóficas mais conhecidas (para mais informação, ver Albertazzi 2000 e Silva 1999, 2006b), temos as seguintes correspondências: do lado da semântica linguística (com pouco mais de um século, depois que foi institucionalizada pelo filólogo francês Michel Bréal no seu Essai de Sémantique de 1897), a semântica estrutural, a semântica generativa e a semântica formal assumem a teoria referencial do significado (mais explicitamente, a semântica formal e a semântica generativa, já que a semântica estrutural, apoiada na ideia de Saussure de valor linguístico, defende um modelo diferencial do significado, como resultado de oposições entre unidades do sistema), ao passo que a semântica histórica pré-estruturalista e a semântica cognitiva adoptam explicitamente a teoria ideacional do significado e partilham também, juntamente com abordagens funcionalistas e orientações da pragmática linguística, a teoria do significado como uso; do lado da semântica filosófica (de menor idade, mas com uma tradição bem mais longa), a semântica formal ou lógica, desenvolvida dentro da filosofia analítica e apoiada na tese de Frege da ‘objectividade do significado’, elabora a teoria referencial do significado, ao passo que a semântica intensional, de menor expressão e mais ligada à filosofia fenomenológica, assume a teoria ideacional do significado.1 Existe, pois, uma oposição maior entre teorias referenciais e teorias conceptuais do significado; dito de outro modo, entre a concepção do significado como algo directamente conectado com elementos do mundo (e, por isso mesmo, objectivamente analisável em termos de condições-de-verdade através de uma lógica formal) e uma concepção do significado como uma entidade mental e inevitavelmente conectado com 1

A semântica behaviorista, hoje sem expressão, foi popular na psicologia americana da primeira metade do século passado e aí transposta para a linguística por Bloomfield (ver Lyons 1977, para uma síntese).

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a experiência humana. Esta divergência reflecte, aliás, a maior divergência da linguística contemporânea entre a perspectiva formalista (da linguística generativa e da linguística estrutural) e a perspectiva funcionalista (da linguística funcional e da linguística cognitiva), a que correspondem, respectivamente, movimentos autonomistas e descontextualizadores (com expressão mais elaborada na Gramática Generativa) e movimentos recontextualizadores (com expressão mais elaborada na Linguística Cognitiva) da linguagem e do significado enquanto expressão do indivíduo, da sociedade e da cultura (Geeraerts 2003, Silva 2005b). E num plano mais amplo, dentro da filosofia da linguagem e da mente e das ciências cognitivas em geral, reflecte as duas concepções divergentes da cognição, conhecidas como objectivismo e experiencialismo (Lakoff & Johnson 1980, 1999; Varela, Thompson & Rosch 1991; Edelman 1992; Damásio 1995, 2000; Gibbs 2005). A perspectiva referencial do significado tem a sua expressão mais elaborada na Semântica Formal, tanto linguística como filosófica, de autores como Montague (Dowty 1979), Carnap (1942) ou Pustejovsky (1995) – ver Chierchia & MacConnell (1990), para uma visão de conjunto. E a perspectiva conceptual do significado tem a sua expressão mais elaborada na Semântica Cognitiva, desenvolvida a partir dos anos 80 no quadro da Linguística Cognitiva de Langacker (1987, 1991, 1999), Lakoff (1987) e Talmy (2000) e que, mais recentemente, se tem afirmado como teoria semântica alternativa – ver Silva (1997, 2004a), para uma breve introdução. As duas maiores teorias do significado estão, pois, em oposição diametral: de um lado, uma semântica formalista, autonomista, objectivista e descontextualizante; do outro lado, uma semântica conceptualista, psicológica, fenomenológica, experiencialista e plenamente (re) contextualizante. É a perspectiva da Semântica Cognitiva que vamos assumir, e com ela dizer que o significado é conteúdo mental, fenómeno mental, numa palavra, conceptualização: citando as palavras de Langacker e Talmy, “Meaning is a mental phenomenon that must eventually be described with reference to cognitive processing” (Langacker 1987: 97); “Semantics simply pertains to conceptual content as it is organized in language” (Talmy 2000, Vol. I: 4). Todavia, argumenta-se que, ao identificar o significado com a conceptualização, a Semântica Cognitiva (ou qualquer outra teoria semântica que assuma a mesma posição ideacional) não só contribui para a assunção do óbvio e a consequente falta de reflexão sobre a questão da natureza do significado, a que as teorias ideacionais parecem conduzir, como não consegue alcançar uma explicação 3

satisfatória do significado, porque a focalização na conceptualização desvia a atenção pela vertente interactiva ou intersubjectiva da construção do significado. Por exemplo, Lima (2006), continuando a posição de Lima (1989), aponta dois problemas sérios à Semântica Cognitiva: um é o problema da comparação de conteúdos mentais individuais ou, por outras palavras, o perigo do solipsismo; o outro é o reducionismo da comunicação a uma “troca de ideias”, quando há unidades linguísticas que não exprimem conceito nenhum. Mas ainda que as ideias subjacentes a estes argumentos sejam perfeitamente correctas e ainda que algumas orientações da Semântica Cognitiva se prestem a (ou mereçam mesmo) estas críticas, o facto é que os argumentos de Lima ou outros argumentos similares se orientam por uma compreensão algo equivocada daquilo que a conceptualização é ou implica. É o que pretendemos desenvolver neste estudo: argumentar que uma concepção conceptualista do significado implica uma concepção sócio-interaccional do mesmo e argumentar, portanto, a favor da inevitável correlação entre significado, conceptualização e experiência individual e intersubjectiva, mostrando como a Semântica Cognitiva potencia esta visão integrada do significado linguístico. Antes porém, e em jeito de resposta sintética antecipada à questão crucial da natureza do significado, avançamos com as seguintes especificações predicativas do que o significado linguístico é, decorrentes da sua ontologia conceptualista, e que constituem os princípios fundacionais da Linguística Cognitiva (para uma análise mais desenvolvida e sobretudo descritivamente fundamentada em estudos de caso, ver Silva 2006b):2 •

o significado é perspectivista: não reflecte objectivamente o mundo, mas modela-o, constrói-o de determinada maneira ou perspectiva e, assim, de muitas perspectivas diferentes;



o significado é enciclopédico: intimamente associado ao conhecimento do mundo e, por isso mesmo, não autónomo nem separado de outras capacidades cognitivas;



o significado é flexível: dinâmico e adaptável às mudanças inevitáveis do nosso mundo e das nossas circunstâncias;

2

Três das secções que se seguem retomam e desenvolvem uma parte do capítulo 12 de Silva (2006b).

4



o significado é baseado na experiência e no uso: na nossa experiência individual corpórea ou biológica e na nossa experiência colectiva, social e cultural e, sempre, na experiência do uso actual da língua.

2.

Significado e conceptualização

Dificilmente o significado de uma palavra pode ser adequadamente descrito em termos de condições-de-verdade ou correspondências directas entre elementos linguísticos e entidades ou situações do mundo. O significado deve ser entendido como conceptualização, no sentido amplo de qualquer tipo de ‘experiência mental’, estabelecida ou nova, abstracta ou sensório-motora e emotiva, incluindo a apreensão do contexto físico, social e linguístico (Langacker 1988: 6, 2000b). Por outras palavras, o significado linguístico deve ser visto como produto da actividade mental (processamento cognitivo, actividade neurológica) de mentes humanas fisicamente corporizadas e sócio-culturalmente situadas. Afinal, os significados não podem estar noutro lugar senão nas nossas cabeças! Uma das evidências empíricas do papel fundamental da conceptualização e, ao mesmo tempo, do fracasso da concepção vericondicional do significado é a existência de expressões com as mesmas condições-de-verdade mas conceptual e semanticamente diferentes. Por exemplo, manter as coisas como estão e deixar as coisas como estão são verdadeiras nas mesmas condições – as coisas continuam a existir como existiam antes –, mas diferem em dois aspectos essenciais: manter envolve aplicação de ‘força’ (física ou abstracta), ao passo que deixar é não exercer essa força; o resultado da ‘oposição de forças’ para o objecto é contrário ao da sua tendência, com manter, mas é o mesmo do da sua tendência, com deixar (Silva 2004c). Entender o significado como conceptualização não o torna misterioso nem o coloca para além do estudo científico. Naturalmente que não se poderá esperar uma descrição rigorosamente formalizada, justamente por causa da flexibilidade do significado. E entender o significado assim também não o torna caótico nem absolutamente relativista: a conceptualização faz-se através de determinados mecanismos e organiza-se em determinadas estruturas semânticas e os mecanismos de conceptualização são comuns à espécie humana. O perigo do solipsismo (Lima 2006) necessariamente não se dá, pois as mentes individuais são, até certo ponto, comensuráveis e mutuamente acessíveis, já 5

que os indivíduos têm a mesma estrutura biológica e interagem num universo basicamente igual para todos. É, aliás, através desta interacção e acomodação mútua que surgem, se mantêm e continuamente se ajustam padrões convencionais de actividade a que chamamos ‘linguagem’ (Langacker 1997). Se o significado é conceptualização, então o significado de uma expressão inclui, não apenas o ‘conteúdo’ conceptual que ela representa (as propriedades inerentes da entidade ou situação designada), mas também o ‘modo’ como esse conteúdo é construído – o que em Semântica Cognitiva se designa por “construal” e que pode ser traduzido por perspectivação conceptual. O que efectivamente se passa é que podemos conceber e representar uma mesma situação da realidade de perspectivas alternativas. Reveja-se o caso referido de deixar vs. manter as coisas como estão. Ou a linha A intersecta a linha B vs. a linha B intersecta a linha A: ambas as frases são verdadeiras nas mesmas condições, mas diferem quanto ao elemento que é conceptualizado como participante primariamente focal ou figura do evento. Ainda outro exemplo: copo meio cheio vs. copo meio vazio podem descrever exactamente a mesma situação da realidade, mas diferem conceptualmente, já que meio cheio perfila o conteúdo do copo, ao passo que meio vazio perfila a porção por encher. Além disso, as próprias expressões linguísticas, tanto lexicais como gramaticais, impõem uma perspectivação conceptual particular no ‘conteúdo’ conceptual que representam, pelo que a escolha de uma entre outras possíveis de modo algum é arbitrária. É esta capacidade de o ser humano, através de determinadas operações de perspectivação conceptual, impor uma estrutura no conteúdo conceptual e poder conceber e representar uma mesma situação da realidade de modos alternativos, uma componente crucial do significado de qualquer expressão linguística. É nisto que o significado é, por natureza, perspectivista. É esta capacidade cognitiva a razão maior para adoptar uma perspectiva conceptualista do significado. As operações de perspectivação conceptual (“construal”) têm sido consistentemente estudadas em Semântica Cognitiva. Destacam-se três abordagens complementares e que, em alguns pontos, são variações dos mesmos fenómenos: Langacker (1987, 1990b, 1991, 1999) sobre o que designa como imagética convencional (“imagery”), Talmy (1983, 1988a, b, 2000) sobre sistemas imagéticos (“imaging systems”) e Lakoff e associados (Lakoff & Johnson 1980, 1999; Lakoff 1987; Johnson, 1987; Lakoff & Turner 1989) nos seus estudos sobre a linguagem figurada, particularmente metáforas e metonímias conceptuais. As duas primeiras, de Langacker e de Talmy, são as mais 6

representativas da perspectivação conceptual como função central da linguagem e da natureza perspectivista do significado. Langacker é o que mais explora a capacidade de conceber e representar determinada situação de modos alternativos, a que dá o nome de “imagery” – um dos pilares da sua Gramática Cognitiva e provavelmente um dos constructos mais geniais da linguística dos últimos tempos (Silva 2001). Langacker identifica várias dimensões da imagética

convencional,

nomeadamente

esquematicidade

(vs.

especificidade),

escaneamento (“scanning”) sequencial vs. sumário, plano de fundo (“background”), perspectiva – que inclui o ponto de vista ou posição estratégica, o arranjo de visão (“viewing arrangement”, Langacker 2001b) e objectividade/subjectividade (determinada entidade ou situação é construída como objecto ou sujeito de per/concepção: cf. Langacker 1990a) – e ainda a proeminência – compreendendo os alinhamentos assimétricos perfil/base ou figura/fundo e trajector/marco (“trajector”, “landmark”) (ver síntese em Langacker 1990b: 5-12 e Silva 1995). Por exemplo, a distinção entre as expressões temporais antes e depois reside nestes últimos constructos. Ambas remetem para o domínio do tempo e perfilam a relação entre dois eventos, em que um precede o outro. O que as distingue tem a ver com que evento é tomado como marco temporal para situar o evento que está a ser localizado (o trajector): antes toma o evento posterior como marco e o evento anterior como trajector, ao passo que depois faz o alinhamento inverso. Langacker (1987: cap. 3.3) classifica toda esta variação de estruturação conceptual de uma situação como ajustamentos focais de (i) selecção de determinados aspectos em detrimento de outros, (ii) perspectiva a partir da qual a situação é vista e (iii) abstracção ou grau de esquematicidade/especificidade com que conceptualizamos a situação. Além de outros trabalhos dedicados também à perspectiva e à esquematização, Talmy explorou dois sistemas imagéticos fundamentais. Um é a distribuição da atenção: compreende diversos mecanismos, como centro ou foco de atenção, objectivo de atenção, janelas de atenção (“windowing”), e estratégias, tais como segmentação em figura/fundo, distância conceptual, atribuição de relações causais. Os ajustamentos focais de que fala Langacker não deixam de ser manifestações de distribuição da atenção. O outro sistema cognitivo teorizado por Talmy (1988a) é o que o próprio denominou como dinâmica de forças. Na sua forma mais básica, este sistema envolve uma oposição entre uma entidade que exerce força, a entidade focal ou Agonista, e outra 7

que exerce uma contra-força, o Antagonista. Talmy elabora um sistema de padrões de dinâmica de forças na base de quatro dimensões: (i) tendência intrínseca de força do Agonista para o movimento vs. para o repouso; (ii) mudança no tempo vs. nãomudança, ou oposição de forças mutável (início/cessação da influência) vs. estável (continuação/não-ocorrência da influência); (iii) influência (‘causar’) vs. não-influência (‘deixar’); e (iv) entidade mais forte: Antagonista vs. Agonista. Este sistema, com origem na força física mas metaforicamente projectado em muitos domínios abstractos, permite explicar importantes sistemas conceptuais, como os conceitos causativos em toda a sua diversidade – Talmy (1988a) apresenta, aliás, a teoria da dinâmica de forças como uma generalização do conceito linguístico tradicional de ‘causativo’ –, desde a causação prototípica dos tipos ‘fazer’ e ‘deixar’ (Talmy 1988a, Silva 1999, 2004b) à auxiliação e à con/indução (Mendes 2005) e ao que Shibatani & Pardeshi (2002) designam como “sociative causation” (acção conjunta, assistência, supervisão); os conceitos modais, os conceitos emotivos (Kövecses 2000) e, num plano mais geral, a própria estruturação conceptual dos eventos. No nosso estudo sobre a semântica do verbo deixar (Silva 1999, 2006b: cap. 7), procuramos mostrar como as noções de dinâmica de forças desempenham um papel essencial na causação, na polissemia e no desenvolvimento semântico deste verbo. Finalmente, um outro tipo de operações de perspectivação conceptual compreende a metáfora e a metonímia conceptuais (Lakoff & Johnson 1980, 1999), com as quais fundamentalmente se ‘faz’ o pensamento e a linguagem figurados. Metáfora e metonímia são importantíssimos mecanismos de conceptualização e de geração de sentidos (ver Silva 2003, 2006b: cap. 5). Igualmente mecanismo de projecção conceptual, próximo da metáfora, é o processo de mesclagem ou integração conceptual (“blending”) de formação de novas conceptualizações por integração de elementos de diferentes espaços mentais (Fauconnier & Turner 2002). Referência ainda aos esquemas imagéticos (“image schemas”) ou padrões nãoproposicionais e dinâmicos dos nossos movimentos no espaço, da nossa manipulação dos objectos e de interacções perceptivas, explorados inicialmente por Johnson (1987) e Lakoff (1987, 1990) e recentemente revalorizados na obra organizada por Hampe (2005). Exemplos de esquemas imagéticos: contentor, força, centro-periferia, partetodo, caminho, origem-percurso-meta, elo (ver Johnson 1987). Têm uma estrutura interna e podem ser metaforicamente elaborados para a compreensão de conceitos abstractos. Por exemplo, o esquema do contentor ou recipiente emerge da compreensão 8

dos nossos próprios corpos como contentores físicos tridimensionais e expande-se para interpretar metaforicamente grande parte da nossa experiência quotidiana. É com base neste esquema que conceptualizamos emoções e estados mentais: o corpo ou partes dele são recipientes de emoções e sentimentos, de ideias, etc. Outros exemplos, mais complexos. O verbo deixar exibe um vasto e diversificado conjunto de sentidos, distribuídos por dois grupos: o de ‘abandonar’ e o de ‘não intervir’. Como procurámos mostrar em Silva (1999, 2006b: cap. 7), a coerência semântica interna desta categoria polissémica reside numa inversão de esquemas imagéticos de movimento (físico ou abstracto) de afastamento ou não-aproximação: no grupo de ‘abandonar’ é o sujeito o participante dinâmico (que realiza o movimento), ao passo que no grupo de ‘não intervir’ o participante dinâmico é o objecto. A polissemia do marcador discursivo pronto deixa compreender-se em termos dos esquemas imagéticos retrospectivo e prospectivo (Silva 2006b: cap. 10). Como as próprias designações encontradas por Langacker, Talmy e Lakoff/Johnson revelam, estas operações invariavelmente imagéticas não são exclusivas da capacidade para a linguagem, antes se encontram noutras capacidades cognitivas, mormente e sobretudo a percepção visual. Langacker e Talmy mostram que estas operações linguísticas têm muito a ver com a psicologia da percepção visual: tal como um observador, também o conceptualizador/locutor divide uma situação em partes que constituem o plano de fundo e partes que constituem o primeiro plano, distingue um objecto como figura proeminente que se destaca do fundo, assume uma posição estratégica a partir da qual consegue uma determinada perspectiva e realiza operações cognitivas tais como focalizar determinada região, salientar ou secundarizar certos elementos, examinar as unidades relevantes de uma situação. Croft & Wood (2000), retomado em Croft (2004), propõem uma reclassificação das operações linguísticas de perspectivação conceptual (“construal”), procurando mostrar que elas constituem manifestações de quatro processos cognitivos gerais, que têm sido estudados em psicologia e fenomenologia: atenção (saliência), juízo (como conceito filosófico equivalente ao conceito psicológico de comparação), situação ou localização, no sentido de Heidegger de estar-no-mundo (perspectiva), e constituição (“gestalt”) da experiência. As representações cognitivas linguísticas e não linguísticas são, portanto, construídas da mesma forma e utilizam as mesmas capacidades de conceptualização. Tudo isto evidencia que a percepção visual e a actividade sensório-motora têm um papel crucial na conceptualização e na linguagem. Consequentemente, os significados 9

fundamentam-se, em larga medida, na percepção, na conceptualização geométrica ou espacialização. Daqui se conclui também que estamos perante processos de conceptualização que são universais: como assinala Lakoff (1987: 311), as pessoas partilham a mesma capacidade geral de conceptualização, não obstante as diferenças que possa haver entre os seus sistemas conceptuais. A especificidade semântica de uma língua residirá na combinação de uma espécie particular de conceptualização, corporizada numa categoria lexical ou construção gramatical particular, com uma classe particular de experiências humanas que essa categoria/construção codifica (Croft & Wood 2000: 77). Qualquer língua possui muitas perspectivas alternativas de codificar a mesma experiência (Lakoff 1987: 306) e diferentes línguas codificam a mesma experiência de diferentes perspectivas. Mas há restrições, preferências interlinguísticas e, mais do que isso – e evitando cair nas malhas da versão forte do relativismo linguístico –, os efeitos das operações de conceptualização linguisticamente impostas poderão ser bastante superficiais (Langacker 1998). Em suma, é por tudo isto que a mente é necessária (Langacker 2000b), que a linguagem é significado e o significado é conceptualização, que a semântica tem que ser conceptualista e que, seguindo o slogan de Langacker (1999), a gramática é conceptualização. Esta tese fundamental inviabiliza as pretensões da tradicional distinção de níveis de análise, designadamente o nível psicológico dos conceitos e o nível linguístico dos significados, também conhecida como teoria dos “dois níveis”, através da qual vários semanticistas, como Bierwisch (1983), Kirsner (1993) e, mais exemplarmente, Ruhl (1989), artificialmente conseguiram defender a autonomia do significado e minimizar ou mesmo negar a polissemia. Recentemente, Rakova (2003) reconstrói esta distinção para defender uma perspectiva não polissémica dos conceitos e afirmar que “a theory of concepts does not have to be at the same time a theory of meaning” (Rakova 2003: 142), mas acaba por cair numa concepção idealista dos próprios conceitos, equivalente à posição assumida por Wierzbicka (1996) com o postulado dos primitivos semânticos.

3.

Significado e experiência

10

Se o significado é conceptualização, então inevitavelmente tem tudo que ver com a experiência humana. Contrariamente a uma ideia relativamente generalizada, a focalização na conceptualização não implica uma perspectiva descontextualizada da cognição e da linguagem. Bem pelo contrário, como consistentemente argumenta Langacker (1997). Conceptualizamos e verbalizamos através de mentes corporizadas (“embodied”) e em constante interacção como o mundo e com os outros. Não existe cognição fora do contexto, mas sempre cognição em contexto, bem como não existe linguagem humana independentemente da interacção e do contexto sócio-cultural. Esta perspectiva plenamente (re)contextualizada da cognição e da linguagem está paradigmaticamente expressa no que Lakoff e Johnson (Lakoff 1987, Johnson 1987, Lakoff & Johnson 1999, Johnson & Lakoff 2002) caracterizam como experiencialismo ou realismo corporizado (“embodied realism”) e apresentam como a posição filosófica e epistemológica do movimento da linguística cognitiva:

Thought is embodied, that is, the structures used to put together our conceptual systems grow out of bodily experience and make sense in terms of it; moreover, the core of our conceptual systems is directly grounded in perception, body movement, and experience of a physical and social character […] meaningful thought and reason essentially concern the nature of the organism doing the thinking – including the nature of its body, its interaction in its environment, its social character, and so on (Lakoff 1987: xiv, xvi).

Esta filosofia experiencialista, em ruptura com o objectivismo de outras grandes correntes linguísticas (estruturalista e generativista) e teorias do pensamento, é igualmente assumida por outras ciências cognitivas (Varela, Thompson & Rosch 1991; Edelman 1992; Damásio 1995, 2000; Gibbs 2005). Todavia, e como veremos na secção seguinte, o experiencialismo ou, melhor, a sua interpretação mais conhecida tem sido objecto de algumas (merecidas) críticas. No que à compreensão do significado linguístico mais especificamente diz respeito, esta filosofia experiencialista está expressa na assunção de uma semântica enciclopédica (Haiman 1980, Langacker 1987: 154-166). Quer dizer: uma expressão só é significativa na medida em que evocar um conjunto de conhecimentos – os chamados domínios cognitivos (Langacker 1987), modelos cognitivos idealizados (Lakoff 1987), espaços mentais (Fauconnier 1985) ou enquadramentos (Fillmore 1977). Qualquer tipo de conceptualização pode funcionar como domínio de experiência e qualquer faceta do nosso conhecimento de uma entidade ou situação pode, em princípio, ser evocada como 11

parte do significado da expressão que a designa. Estes domínios de experiência envolvem o conhecimento geral do mundo e o conhecimento contextual e, nesta última vertente, a apreensão completa do contexto imediato, incluindo as dimensões discursivas e pragmáticas. Estes domínios consistem, em larga medida, em conhecimentos culturais, sejam construções culturais sejam entidades cuja apreensão é de algum modo culturalmente influenciada (Langacker 1997, 2001a). O significado linguístico não pode pois ser dissociado do conhecimento do mundo, da experiência humana, donde a sua natureza inevitavelmente enciclopédica. Não se pode postular a existência de um nível estrutural ou sistémico de significação linguística distinto do nível em que o conhecimento do mundo está associado às formas linguísticas. O mesmo é dizer: perde sentido a famosa dicotomia entre conhecimento linguístico e conhecimento enciclopédico3 e, num plano mais geral, caiem por terra as teses maiores da linguística estruturalista e generativista, designadamente a autonomia do significado e da linguagem e a modularidade da mente. Efectivamente, o significado que construímos na e através da língua não é um módulo separado e independente da mente; pelo contrário, reflecte a nossa experiência global de seres humanos e envolve conhecimento do mundo integrado noutras das nossas capacidades cognitivas. Em termos descritivos, os significados não podem ser reduzidos a conjuntos de componentes imanentes, discretas e determinadas, estáticas e invariantes – ideal perseguido pela bem conhecida análise componencial –, nem a listas dos famosos primitivos

semânticos.

Prolongando

a

analogia,

os

significados

linguísticos

assemelham-se bem mais às entradas de uma enciclopédia do que às entradas de um dicionário. E a nível das unidades superiores à palavra, os significados das expressões complexas não se deixam computar em termos de somatório dos significados das suas partes (os itens lexicais), ao contrário do que defende a doutrina clássica da composicionalidade (total) da Semântica Formal e da Gramática Generativa. 3 Peeters (2000) relança o velho debate sobre a distinção entre “conhecimento linguístico” e “conhecimento enciclopédico” (ou léxico vs. enciclopédia, semântica vs. pragmática), actualmente mantida por autores de formação estruturalista, generativa ou outra, como Wierzbicka ou Jackendoff, mas rejeitada (como distinção rígida) pela Linguística Cognitiva no seu conjunto. Peeters assume a posição dos que defendem esta distinção. Convém notar que a defesa da natureza enciclopédica do significado linguístico, que aqui fazemos no quadro da Linguística Cognitiva, não implica a rejeição linear da distinção, mas o reconhecimento de que as fronteiras entre os dois pólos têm que ser difusas. Certamente que há conhecimento enciclopédico que é independente do conhecimento linguístico, mas o inverso já não é verdadeiro: por exemplo, para se saber mudar um pneu é irrelevante o conhecimento linguístico, mas para se descrever como mudar um pneu (por exemplo, instruir alguém a mudar um pneu) ambos os conhecimentos (enciclopédico e linguístico) são necessários.

12

Evidentemente que há princípios de composição semântica, mas o significado de uma frase ou outra expressão complexa exibe uma composicionalidade apenas parcial, justamente porque uma parte substancial desse significado emerge do contexto. Os significados são assim categorias de experiência humana, categorias de conhecimento enciclopédico. Colocam-se aqui duas questões: que experiência é esta e como é que esta experiência está organizada? A experiência de que o significado linguístico se constitui é, não só a experiência individual, biológica e corpórea (de tipo sensório-motor), mas também a experiência colectiva, social e cultural, incluindo a experiência histórica. Como nota mais crítica à interpretação marcadamente neurológica do experiencialismo feita por Lakoff & Johnson (1999), é necessário nele inserir ou, pelo menos, tornar mais evidente esta segunda componente da experiência humana Mais especificamente, e seguindo as propostas linguísticas de Violi (1997) no seu estudo precisamente sobre significado e experiência e as propostas semióticas de Brandt (1998, 2000, 2004) sobre a arquitectura transversal dos domínios semânticos, há três formas principais de experiência: (i) a experiência perceptiva, orientada para o mundo físico; (ii) a experiência social, relativa ao mundo cultural e intersubjectivo; e (iii) a experiência psíquica (psicológico-emotiva) do mundo individual e interno. O facto crucial é que estes três tipos de experiência se interpenetram de tal maneira que a experiência não é nunca de um só tipo e dificilmente se pode imaginar uma experiência perceptiva que não seja ao mesmo tempo cultural ou uma experiência psíquica desligada da intersubjectividade – basta pensar na natureza eminentemente social e cultural das emoções e sentimentos. E o facto semântico crucial é a natureza multidimensional do significado linguístico, integrando dimensões perceptivas, funcionais, interaccionais, subjectivas e axiológicas. Naturalmente que determinada forma de experiência poderá ser predominante, o que está na base da diferenciação de tipos de conceitos. Além disso, as próprias classes linguísticas impõem a sua própria forma de experiência: a experiência perceptiva no substantivo, a experiência social no verbo e a experiência psíquica no adjectivo e no advérbio (ver Brandt 1995). Um outro aspecto tem a ver com o papel fundamental da experiência perceptiva na cognição e na linguagem, que esperamos ter ficado demonstrado na secção anterior. Como exemplos, o verbo deixar é um complexo de experiências – física, de movimento de afastamento e não-aproximação, psicológica, social e moral, de relações interpessoais, de permissão, de normas, etc. – e a dinâmica prototípica do significado 13

causativo de deixar não é a da interacção física (como sugere Talmy 1988a), mas a da interacção psico-social (Silva 1999, 2006b: cap. 7). O diminutivo combina experiências perceptivas, afectivas, axiológicas, sociais, interaccionais (Silva 2006b: cap. 8). Quanto à questão da organização, importa esclarecer, em primeiro lugar, que o significado de uma palavra ou outra expressão não é simplesmente a totalidade do conhecimento

enciclopédico

associado.



graus

de

centralidade

e

de

convencionalidade nesse conhecimento, isto é, alguns aspectos são mais salientes (prototípicos) e estão mais convencionalizados do que outros. Por outro lado, diferentes contextos actualizarão diferentes parcelas desse conhecimento. Em segundo lugar, e teoricamente mais importante, o conhecimento advém, não só da experiência que vamos realizando, mas também de sistemas conceptuais preexistentes, que funcionam como modelos interpretativos dessas experiências (Geeraerts 1997). É assim que protótipos, estereótipos, modelos culturais e modelos cognitivos, isto é, conceptualizações já existentes e salientes são factores igualmente determinantes do conhecimento e do próprio desenvolvimento cognitivo.

4.

Significado e intersubjectividade

Pensamento e linguagem existem em mentes individuais, mas constroem-se na interacção social. A conceptualização é, pois, necessariamente interactiva: os nossos conceitos, as nossas ‘realidades’ são produto de mentes individuais em interacção entre si e com os nossos contextos físicos, sócio-culturais, políticos, morais, etc. A linguagem desempenha uma função não só semiológica, permitindo que as conceptualizações sejam simbolizadas por meio de sons e gestos, como também interactiva, envolvendo comunicação, manipulação, expressividade, comunhão social. Afinal, o conhecimento da linguagem emerge do uso da linguagem e, portanto, da interacção social ou discurso. Por isso, e retomando a crítica de Lima (2006) à Semântica Cognitiva de que a comunicação linguística não se reduz a uma “troca de ideias”, reconheça-se que a focalização na conceptualização não é incompatível com o reconhecimento da sua vertente contextual e interaccional. Os mal-entendidos da Semântica Cognitiva decorrem de uma interpretação parcial do princípio do experiencialismo e da corporização (“embodiment”). Efectivamente, a interpretação de Lakoff & Johnson (1999), com a qual mais se identificou a Linguística 14

Cognitiva no seu conjunto, é parcial: a tese da corporização do pensamento e da linguagem ou a filosofia na carne foca a vertente individual e universal da cognição humana (o corpo é um universal da experiência humana), o seu lado físico e neurofisiológico, recentemente explorado por Lakoff (2003) na sua Teoria Neural da Linguagem.4 Ora, tendo a experiência humana uma dimensão também colectiva e interactiva, social, cultural e histórica e, portanto, variacional, impõe-se não reduzir a filosofia experiencialista e o princípio da corporização a operações neurais meramente individuais. É justamente isto que tem sido reclamado no seio da própria Linguística Cognitiva por autores como Sinha & Jensen de López (2000), Zlatev (2003), Harder (2003), Bernárdez (2004, 2005), entre outros: a natureza socialmente interactiva da linguagem e o seu ambiente cultural devem ser reconhecidos como elementos igualmente fundacionais da perspectiva cognitiva. O problema está então na própria concepção da cognição humana e na separação entre o individual e o colectivo, o interno e o externo, o pensamento e a acção, a cognição e a actividade – pensamento individual e acção colectiva, será esta a equação adequada? Poderemos conceber a cognição sem a interacção? Poderemos continuar a assumir, como é habitual na cultura ocidental (e não só), que o pensamento individual interno tem algum tipo de preeminência sobre a actividade supraindividual externa ou sobre o pensamento dirigido para a (inter)acção? Vários filósofos, psicólogos, neurocientistas e linguistas respondem que não. Lembremos a inseparabilidade da cognição e da emoção, demonstrada nos estudos de Damásio (1995, 2000). Efectivamente, tem havido, nos últimos vinte ou mais anos, um alargamento significativo do âmbito da cognição: desde uma perspectiva puramente interna com a primeira geração das ciências cognitivas, à actual perspectiva corporizada (Varela, Thompson & Rosch 1991; Edelman 1992; Damásio 1995, 2000; Lakoff & Johnson 1999; Gibbs 2005) aberta ao exterior, e, mais recentemente (mas já presente em propostas bem mais antigas, como a da escola soviética de psicologia dos anos 20 e 30, de Vygotski, Luria e Leont’ev – cf. Bernárdez 2004), à inclusão da situação, interacção e cultura na cognição e, assim, ao entendimento da cognição como cognição situada, cognição distribuída ou, mais expressivamente, cognição social (Zlatev 1997, 1999; Tomasello 1999; Bernárdez 2004, 2005; Ziemke, Zlatev & Frank, no prelo; Dirven, 4

Para algumas discussões críticas, ver o terceiro fascículo do volume 13 da revista Cognitive Linguistics, de 2002, particularmente a crítica de Rakova (2002), continuada em Rakova (2003), e as respostas de Johnson & Lakoff (2002); ver também Sinha & Jensen de López (2000), Martins (2003), Silva (2004d) e Haser (2005) e, de outros pontos de vista, Hirose (2002), Riegler (2002) e Semin & Smith (2002).

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Frank, Zinken & Zlatev, no prelo). Bernárdez (2005) fala da inevitabilidade de conceber a cognição e a linguagem em termos de actividade socialmente corporizada. A grande questão, ainda em aberto, é saber como é que especificamente interagem os dois tipos de factores da cognição e da linguagem – os factores individuais, neurofisiológicos e universais, de um lado, e os factores interindividuais, sócio-culturais e variacionais, do outro. Questão, afinal, antiga e recorrente das relações entre linguagem, cultura e cognição. Algumas articulações têm sido feitas. Langacker (1994) advoga uma perspectiva dinâmica e um entendimento da natureza cíclica do desenvolvimento cognitivo, balanceado entre capacidades psicológicas inatas (como a organização figura/fundo, a reificação conceptual, a categorização, a esquematização, a capacidade de ponto de referência) e estruturas mentais estabelecidas a partir da experiência prévia, umas préculturais (as que emergem bastante cedo) e outras marcadamente culturais. Assim se compaginam e se interligam, na cognição e na linguagem, factores universais, directamente ligados ao facto de os indivíduos terem a mesma estrutura biológica e interagirem num mundo basicamente igual para todos, e factores culturalmente específicos. Shore (1996) desenvolve uma teoria etnográfica da mente e uma teoria cognitiva da cultura ou, simplesmente, uma teoria da cultura-na-mente e mostra que os modelos culturais são uma parte integrante do processamento mental e são inevitavelmente condicionados por este. Zlatev (1997, 1999) combina a perspectiva biológica do significado com a tese da corporização situada e propõe o conceito de mimese (uso intencional do corpo para fins representacionais) para a articulação entre o significado público e convencional e o significado privado e subjectivo. Tomasello (1999, 2003) investiga as origens culturais da cognição humana e desenvolve um modelo da aquisição da linguagem baseado no uso. Bernárdez (2004) explora as noções de cognição colectiva e cognição-para-a-acção e sugere que a maior parte da cognição humana depende da acção humana (pensar e fazer estão intimamente ligados, ao contrário do que a cultura ocidental faz acreditar). Bernárdez (2005) sumaria importantes pontos da concepção sócio-cognitiva da linguagem: as línguas existem somente na forma de actividade social; a actividade linguística é essencialmente colectiva, social por natureza; consequentemente, a linguagem é um fenómeno inerentemente histórico e, como tal, fenómenos que hoje são examinados a nível individual (como a metáfora e a metonímia) são o resultado de uma cristalização social, histórica; a actividade linguística (o uso linguístico) determina 16

formas e estruturas linguísticas, umas preferidas e outras não; através de um processo de integração cognitiva, as formas produzidas e preferidas pela actividade linguística são gradualmente fixadas na mente do indivíduo, a ponto de a sua conexão original com a actividade se perder e, desse modo, se tornarem parte da cognição individual – é assim que a actividade linguística social influencia os próprios processos cognitivos. Tudo isto mostra que os significados não são objectos mentais depositados nessa caixa (ainda) misteriosa do cérebro/mente, mas processos ou actos – actos de significação, no sentido de Bruner (1990) – subjectivamente construídos para fazerem sentido em universos do discurso intersubjectivamente partilhados (Sinha 1999). Por isso mesmo, a ‘linguagem do pensamento’ ou o mentalês, de que fala Fodor (1975), dificilmente poderá existir.5 Não há, pois, nenhuma incompatibilidade entre uma perspectiva conceptualista do significado e uma perspectiva pragmático-discursiva do mesmo. A prova maior é que todas as unidades linguísticas se constituem, por abstracção e convencionalização, a partir de eventos de uso, isto é, instâncias actuais do uso da linguagem (os comummente designados enunciados). Consequentemente, faz parte da base conceptual do significado de uma unidade linguística qualquer aspecto recorrente do contexto interaccional e discursivo.6 Sendo verdade que o significado se constrói na interacção, não é menos verdade, porém, que o seu lugar próprio é a conceptualização individual, sem a qual a própria interacção linguística não poderia ocorrer. Parafraseando Langacker (1997: 248), se as mentes são modeladas por interacções, é igualmente verdade que estas dependem das mentes daqueles que apreendem e estão envolvidos nessas interacções. Quer isto dizer que estudar as interacções linguísticas sem estudar as suas bases cognitivas dificilmente poderá conduzir a uma compreensão adequada do significado.

5 Fodor (1975) postula entidades mentais para representar a informação linguística, mas concebe-as como constituindo uma linguagem com estruturas sintácticas governadas por um conjunto recursivo de regras. É assim que, relativamente à semântica deste “mentalês”, Fodor assume a posição ‘objectivista’ da Semântica Formal, ao entendê-la como uma questão de referências no mundo externo e de condições-de-verdade. Para uma comparação das posições filosóficas acerca da natureza da mente de Fodor, Frege e da Linguística Cognitiva, ver Miguens (2004). Cabe acrescentar que Fodor é defensor de uma filosofia objectivista e de uma concepção computacional do cérebro: como refere Edelman (1992: 228), a aceitação deste ponto de vista “é um dos equívocos mais surpreendentes na história da ciência”. 6 Sobre o comprometimento da Semântica Cognitiva com o discurso e para a articulação entre conceptualização e estruturas linguísticas, de um lado, e discurso, do outro, ver Langacker (2001a) e Silva (2004e).

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Resta ainda a questão, apontada por Lima (2006) como problema da Semântica Cognitiva, da existência de unidades linguísticas que não exprimem nenhum conceito. Há aqui dois aspectos a considerar. Primeiro, o reconhecimento da distinção entre dois tipos de significado das palavras: o significado denotacional (conceptual, referencial) e o significado não-denotacional, compreendendo este último o significado emotivo (de termos pejorativos, por exemplo), o significado estilístico e mais estritamente sociolinguístico (de termos populares ou eruditos, regionais ou sociais) e o significado discursivo (único de expressões como as interjeições e os marcadores discursivos; presente em termos como senhor e senhora usados em formas de tratamento). Estes aspectos sociais do significado constituem uma forma específica de significado, a que podemos chamar significado social, e o facto de eles não contribuírem para as propriedades verocondicionais e referenciais das frases em que ocorrem não implica que não possam caber numa teoria ideacional do significado. Segundo, o reconhecimento do papel da conceptualização da realidade social na constituição dos factos sociolinguísticos, bem expresso em linhas de investigação em Linguística Cognitiva, como a teoria dos modelos cognitivos culturais e da variação cultural (por ex., Palmer 1996, Lakoff 1996, Kövecses 2000, 2005, Levinson 2003, Dirven, Frank & Pütz 2003) e, particularmente, a emergente sociolinguística cognitiva (Geeraerts, Grondelaers & Speelman 1999; Silva 2005a, 2006a, Silva & Duarte 2005; Kristiansen & Dirven 2006).7

5.

Conclusões metodológicas e epistemológicas

Procurámos argumentar, com a Semântica Cognitiva, que o significado linguístico é essencialmente conceptualização e que uma concepção conceptualista do significado implica uma concepção sócio-interaccional do mesmo, na medida em que significado, conceptualização, experiência e intersubjectividade estão intimamente ligados. Os 7

Desenvolvemos um projecto de sociolexicologia cognitiva centrado nas questões da convergência ou divergência entre o Português Europeu e o Português Brasileiro, nos últimos 50 anos, e na estratificação actual de cada uma destas variedades nacionais. O objecto de estudo são sinónimos denotacionais dos campos lexicais do futebol e da moda/vestuário, como avançado, atacante, dianteiro, forward, ponta-delança ou casaco e blazer, porque são os sinónimos denotacionais os que mais diferenças sociolinguísticas (regionais, sociais, estilísticas, pragmático-discursivas, históricas) mostram e, assim, melhor revelam as relações entre variedades linguísticas diferentes (Silva 2005a, 2006a, Silva & Duarte 2005). A próxima fase da investigação incidirá em palavras funcionais (preposições, por exemplo) e na relação entre variáveis lexicais e variáveis não-lexicais (sintácticas e morfológicas).

18

significados existem nas nossas mentes e, justamente por isso, são categorias de conhecimento enciclopédico que se fundamentam na experiência humana e se constroem na interacção social. Os problemas que se apontam a uma teoria ideacional do significado linguística e, em particular, à Semântica Cognitiva, como sua expressão actual mais elaborada, decorrem de uma compreensão parcial da conceptualização e da cognição. Tendemos a ver o pensamento como fenómeno individual e a acção como necessariamente interindividual; e tendemos a assumir que o pensamento individual interno é preeminente sobre a actividade supraindividual externa ou sobre o pensamento dirigido para a (inter)acção. No plano científico, interpretações do experiencialismo como a de Lakoff & Johnson (1999, Lakoff 2003) têm contribuído para privilegiar a vertente individual, neurofisiológica da cognição, em detrimento da sua vertente intersubjectiva e interaccional. Mas são já vários e decisivos os contributos para entender a cognição como cognição social e a linguagem como fenómeno sóciocognitivo. Entender o significado como conceptualização e reconhecer a importância dos aspectos sociais da cognição e da linguagem implicam uma metodologia empírica de observação do uso dos dados, e o modo mais natural de os encontrar é em corpora textuais representativos; o que naturalmente implica a utilização e o desenvolvimento dos instrumentos da linguística de corpus e de métodos quantitativos de análise. Esta mesma implicação metodológica decorre da assunção de um modelo baseado no uso, sendo justamente assim que a Linguística Cognitiva se apresenta (Langacker 1988, 2000a). Inversamente, um modelo baseado no uso conduz inevitavelmente ao estudo da variação linguística e dos aspectos sociais da linguagem (Geeraerts 2005), pela simples razão de que a variação é a consequência imediata e inevitável do uso. O desafio é uma maior sofisticação técnica em quantificação e estatística na análise do corpus. Particularmente importante é o desenvolvimento e a aplicação de métodos de análise multivariacional da confluência de factores conceptuais, discursivos e variacionais dos fenómenos linguísticos.8 8

Estas implicações não têm sido plena e devidamente assumidas pela Linguística Cognitiva no seu conjunto. É conhecida, aliás, uma certa divergência dentro da Linguística Cognitiva entre o ramo europeu, mais adepto da metodologia empírica de corpus, e o ramo americano, mais inclinado para a metodologia introspectiva, qual herança da Gramática Generativa. Para uma visão de conjunto e actualizada da importância dos corpora em Linguística Cognitiva, ver Tummers, Heylen & Geeraerts (2005) e o volume organizado por Gries & Stefanowitsch (2006). Para uma introdução aos métodos empíricos em Linguística Cognitiva (corpus, dados psico-experimentais e dados neurofisiológicos), ver González-Márquez et al., no prelo. Para a utilização de métodos de corpus quantitativos e multivariacionais no estudo da variação do Português, ver Silva (2005a, 2006a, Silva & Duarte 2005).

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Outra implicação metodológica tem a ver com a análise das palavras e outras unidades linguísticas de significado múltiplo, isto é, polissémicas. Se os sentidos e as categorias polissémicas são instáveis e flexíveis, então temos que puxar o significado tanto ‘para cima’, para o nível dos conteúdos esquemáticos, reveladores de coerência semântica interna, como ‘para baixo’, para o nível dos usos específicos, psicologicamente mais reais. Em Silva (2006b), procuramos mostrar como a descrição e explicação das categorias polissémicas exige a combinação destas trajectórias inversas, e como são artificiais quer a ideia do significado unitário quer a ideia da polissemia infinita. Concluímos com algumas implicações epistemológicas. Primeiro, o significado e toda linguagem estão intrinsecamente relacionados com outras capacidades cognitivas, como a percepção, as experiências corporais e mentais, a atenção, a memória, a emoção, a categorização, o pensamento abstracto, o raciocínio, a inferenciação, etc.; pelo que percepção, linguagem e acção estão intrinsecamente inter-relacionadas como especificações funcionais da cognição. Segundo, o significado é conceptualização, no sentido amplo de qualquer experiência mental. Consequentemente, o significado linguístico é flexível (adaptável às mudanças inevitáveis do mundo), perspectivista (não espelha, mas constrói o mundo), enciclopédico (intimamente associado ao conhecimento do mundo) e baseado na experiência e no uso (experiência individual e colectiva e, sempre, experiência do uso actual da língua). Terceiro, o significado linguístico não é estático mas dinâmico, não é dado mas construído, não é platónico mas corporizado, encarnado nas necessidades, nos interesses e nas experiências dos indivíduos e das culturas. Impõe-se substituir a concepção (popular e científica) reificada do significado por uma concepção processual da significação como processo de criação de sentido (Geeraerts 2003). Quarto, o experiencialismo ou realismo corporizado, assumido por várias ciências cognitivas, deve ser reinterpretado numa articulação entre factores individuais, neurofisiológicos e universais, de um lado, e factores interindividuais, sócio-culturais e variacionais, do outro – evitando, assim, cair no perigo do solipsismo epistemológico ou do que Sinha (1999) designa como “solipsismo neural”. As mentes são não só corporizadas como também sociais, pelo que a cognição deve ser entendida como cognição social. Finalmente, a semântica tem que ser conceptualista, fenomenológica, experiencialista, sócio-cultural, enciclopédica e plenamente (re)contextualizante.

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