SIM 101: Do Ideal e do Real (III) Vicente Cecim

July 15, 2017 | Autor: Vicente Franz Cecim | Categoria: Filosofia Del Lenguaje, Filosofía, Antropología filosófica, Filosofia
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BELÉM, DOMINGO, 14 DE JUNHO DE 2015

OLIBERAL

MAGAZINE  11

sim

Do Ideal e do Real (III)

VICENTE CECIM

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Schopenhauer: Esboço de uma história da doutrina do ideal e do real (Descartes/Plotino/Kant/Malebranche/Espinosa/Leibniz)

Tudo o que o mundo encerra ou pode encerrar está nesta dependência perante o sujeito, e apenas existe para o sujeito. O mundo é portanto representação.

E

SCHOPENHAUER

sta Sim encerra o acompanhamento, iniciado nos dois domingos anteriores, do percurso de uma pergunta - O que são o Ideal & o Real? Longa interrogação sem previsão de fim, que o Homem vem fazendo à Vida desde que é sobre a Terra - inicialmente indagando aos Céus através da Religião, depois a si próprio através da Filosofia e, agora, cada vez mais buscando objetivamente um face a face com o Visível, através da Física Quântica, que, oh, quando mais tateia o Tangível, mais o sente se dissolver em suas mãos como a areia de uma praia inalcançável. No destino do físico do século XXI se cumpre a antiga palavra pronunciada no século XVIII pelo poeta William Blake: colher o infinito no grão de areia na finita palma da mão. E assim vamos, por entre espreitas e

dúvidas que se renovam a cada geração, sem indícios seguros de havermos dado alguns passos em direção à Resposta. Mas - e se a resposta for tão evidente quanto àquela já implicada na dissimulada pergunta pela cor do cavalo branco de Napoleão? E apenas não a achamos porque passamos por ela tão fatigados dessa longa busca - e, quem sabe, até já esquecidos do motivo que obscureceu no Tempo desde que nos fizemos a Pergunta pela primeira vez? Agora, também imersos no mundo virtual, em que isso poderia nos ajudar a saber o que são o Ideal & o Real? Rastreemos ainda uma vez, nesta Sim, com Arthur Schopenhauer, autor fulgurante de O Mundo como Vontade e Representação/Die Welt als Wille und Vorstellung, as buscas por respostas dos filósofos do passado.

Transmutação Foram as profundas ideias de Malebranche que originaram o sistema de harmonia praestabilita/harmonia preestabelecida de Leibniz, e a grande fama e alta reputação deste em seus dias provam o fato de que, no mundo, o absurdo vence com a maior facilidade. Apesar de não poder me vangloriar de possuir uma noção clara das mônadas de Leibniz - que são,

ao mesmo tempo, pontos matemáticos, átomos materiais e almas - me parece indiscutível que tal suposição, uma vez estabelecida, seria de grande utilidade em nos poupar de hipóteses adicionais para explicar a conexão entre o ideal e o real e dar fim à questão por meio do fato de que ambos já são totalmente identificados nas mônadas. Todavia, empregá-las com

esse propósito não agradou o famoso filósofo matemático, polímata e político que, para esse fim, formulou a harmonia preestabelecida. Isso nos fornece dois mundos completamente distintos, incapazes de interagir entre si (o de Malebranche e o de Leibniz) cada qual uma duplicata completamente supérflua do outro. Não obstante, agora estes devem existir para

além de qualquer dúvida - e correr um paralelamente ao outro, dançando a compasso com os menores detalhes. (...) Talvez a harmonia praestabilita se torne mais compreensível através da comparação com um palco. Aqui, em geral, o influxus physicus/influência física, termo usado por Descartes, só existe aparentemente, visto que causa e efeito estão conectados apenas por meio da harmonia preestabelecida do diretor, por exemplo, quando um atira e o outro cai a tempo. Em sua Teodicéia, Leibniz apresentou a questão, de modo grosseiro e sucinto, em sua monstruosa absurdidade. Ainda assim, todo o seu dogma não tem sequer o mérito da originalidade, visto que Espinosa já havia apresentado a harmonia praestabilita com bastante clareza na (...) sua Ética (...), após haver expressado de sua própria maneira na quinta proposição da segunda parte - a doutrina muito próxima de Malebranche, de que vemos tudo em Deus. Portanto, foi Malebranche o verdadeiro criador de toda essa linha de pensamento, que tanto Espinosa como Leibniz utilizaram e modificaram, cada qual de sua maneira. Leibniz poderia muito bem ter dispensado a coisa toda, pois já havia desistido do fato que constituía o problema - isto é, que o mundo nos é dado imediatamente apenas em nossa representação - para substituí-lo pelo dogma de um mundo corpóreo e de um mundo espiritual entre os quais nenhuma ponte é possível.

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