SIM 106 Poetica das Cinzas

Share Embed


Descrição do Produto

BELÉM, DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2015

OLIBERAL

MAGAZINE  11

sim

VICENTE CECIM

[email protected]

Poética das Cinzas

prenunciadora de outras que os homens ainda farão através das Estrelas – se em nós os nossos terríveis & no fundo comoventes Desvios não nos soterrarem sob o nosso próprio Pó

E quando deus construiu um corpo para cada um deles, os acomodou nas órbitas traçadas para o curso do diferente: sete órbitas para sete corpos. Quanto aos outros cursos orbitais (...) não foram descobertos pelos homens. PLATÃO/TIMEU, III AC

A

pós nove anos e meio atravessando o Sistema Solar, a sonda New Horizons, da Nasa, chegou a Plutão às 11 horas e 49 minutos do dia 16 de julho de 2015 levando as cinzas do descobridor do planeta mais distante da Terra: Clyde W. Tombaugh, o primeiro ver Plutão no Céu que nos protege em 1930. Depois de percorrer cerca de 5 bilhões de quilômetros, em sua viagem iniciada em 2006, Clyde finalmente chega aonde seus Olhos chegaram primeiro. É a segunda Viagem Mágica de Clyde, que nasceu em 2016 e iniciou a primeira - sua jornada da Carne às Cinzas - em 1997. Persistente, ele aguardou 85 anos, desde que viu Plutão antes de todos nós. Consta que os cientistas são gente fria - mas não estes que realizaram o que deve ter sido o mais íntimo sonho de Clyde W. Tombaugh: um dia viajar até Plutão, na fronteira do hiperespaço. Estes são autores de um original & bela - Poética Espacial das Cinzas, que faz de Clyde o primeiro homem a alterar a célebre condenação bíblica: - Tu és pó e ao pó retornaras. É como se Clyde houvesse se dito: - Sim. Mas não ao pó da Terra como

todos os homens que vieram e passaram antes de mim - ao pó de Plutão. Plutão seria para ele o que foi a curva do rio para o cacique Seatle, de quem o último desejo foi descrito no livro Enterrem meu coração na curva do rio. E para a nossa poética, pouco importa se Plutão for puro hidrogênio. Imaginemos juntos a alegria de Clyde ao descobrir Plutão, com seus olhos ampliados macluhanamente – MacLuhan: Os meios de comunicações como extensões do homem – através de um telescópio, buscando o que não sabia existir. Diferente foi o que deve ter sentido Asaph Hall ao descobrir, em 1877, as luas de Marte. A história da sua descoberta também é espantosa, conto: Depois de ler As Viagens de Gulliver, escritas no século XVIII pelo irlandês Jonathan Swift, onde ele descreve, minuciosamente, até as órbitas dessas luas que a Antronomia ainda desconhecia, Asaph começou a observar o planeta segundo as coordenadas que lera, projetando ao seu redor as órbitas que Swift aparentemente apenas imaginara. E em duas noite seguidas de um mês de Agosto, então: eis: as luas vistas por Swift se mostram a ele. As-

sustado com a vidência de Swift, com os misteriosos desígnios possíveis ao saber humano, deu a elas os nomes Fobos & Deimos – Medo & Temor, oriundos da mitologia grega. O que Clyde agora realiza – oh um homem, mesmo reduzido a suas cinzas, ainda é capaz de realizar tal proeza? - é mais revolucionário, meta-fisicamente, do que a caminhada de Aldrin e Armstrong sobre a Lua - e a alegria do astronauta desobedecendo as prudentes & rígidas determinações dos outros cientistas que, na Nasa, como se diz – não brincam em serviço – para não tirar os pés do chão. E na primeira transmissão espacial, vimos pela televisão, na Lua, nos anos 60 – em todo o planeta - suas pegadas sendo impressas, e lá permanecem no silêncio lunar, onde nem sinal de São Jorge e do Dragão, imagens que só vemos nas miragens dos nossos olhos – um adulto regressado à Infância correndo, voando, mais leve que o ar – Aldrin sendo o primeiro homem a experimentar a liberdade e a Alegria das Aves. E isso já foi bem mais do que Gagarin realizou bordo do Sputnik, antes, indo além da atmosfera da Terra e quando lhe perguntaram: - Como ela é

Clyde W. Tombaugh, 1906

a 1997.

vista daí? – respondendo, a um mundo ainda sangrando pelas vítimas da Segunda Guerra Mundial e de Hiroshima e Nagazaki: - É azul. Clyde W. Tombaugh, vivo em suas cinzas, se eleva até Plutão ainda mais leve que todos eles. E nos faz lembrar o lendário Ícaro, que no Tempo Mítico do sem-tempo, quando naves espaciais só voassem em sonhos proféticos & enigmáticos dos homens - colou com cera penas de pássaros nas costas e bateu asas em direção ao Sol. Desafiando a Lei da Gravidade que nos pren-

de à Terra, tantos séculos depois enunciada por Newton, e desafiando o calor solar – que foi mais forte que seu ardente desejo de voar, e derreteu a cera, descolou as asas e o tombou nas profundezas do oceano. Quisesse o Imaginário Humano antecipar o cumprimento, no Homem, da promessa de asas que a Vida já cumpriu nas aves - e ainda aguarda sua realização nas omoplatas humanas.

– oh Bombas Atômicas ainda armadas sobre a Terra, apontando, da mente má de alguns homens, para o coração de todos os homens – ah Fomes que ceifam na Infância aqueles que morrem mal nascidos nas Somálias do mundo – ah Guerras em que as Armas são dispararam pelas ambições dos Negócios e do Poder Político – ah lágrimas daqueles que atravessarão a Vida sem jamais sorrir – ai, em homenagem a ti, então, Clyde, meu Irmão Humano, eis um poema que abre seus pulmões para tua visibilidade em nossa Memória, no Livro Invisível de Andara, e canta às Tuas Cinzas nas Profundas Alturas invisíveis

Asa de murmúrios para onde te voltes não estás diz Asa de murmúrios para não esquecer que és alguém onde não há ninguém Vicente Franz Cecim

Em homenagem às Cinzas Mágicas de Clyde W. Tombaugh e sua viagem poética espacial,

Esquiz

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.