SIM 110 Blanchot: Uma voz vinda de outro lugar

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SIM 110 VICENTE CECIM e-mail

Uma voz vinda de outro lugar

Lábio interdito, anuncia, Entmüdigte Lippe, melde, que alguma coisa ainda acontece sempre dass etwas geschieht, noch immer, não longe de ti. unweit Von dir PAUL CELAN

Cada livro lançado por Maurice Blanchot – que nunca frequentou a companhia judicial dos críticos literários e é o mais generoso aliado dos escritores – foi sempre um Clarão iluminando os caminhos amplos dos autores cujas mãos se movem para doar o Belo e o Verdadeiro aos seus leitores – e ignorou as vielas mal iluminadas através das quais se arrastam os escritores de aluguel,

aviadavilmente, para os salários que lhes pagam os editores que atuam no negócio escuso do tráfico de literatura com ética não acima da dos traficantes de escravas brancas, drogas e influências políticas. Temos, assim, as falsas luzes em degradantes tons de cinza artificialmente lançadas pelo ouro de tolo dos mais vendidos sobre o as vielas literárias dos escritores fogos-fátuos que brilham em vida e morrem profundamente da Memória do Mundo depois, como se jamais houvessem existido – e os obscuros escritores que podem passar a vida ignorados – Kafka, Pessoa, Bruno Schulz – até serem iluminados por Blanchot, que lucidamente reflete em seu espelho lúcido os fulgores desses autores, até então velados pela ignorância pública. Uma voz vinda de outro lugar/Une voix venue d’ailleur é o mais recente e relampejante Blanchot nas livrarias. Além de um elogio de admiração comovido a Michel Foucault, nele Blanchot reflete - e reflete sobre - as luzes de alguns dos raros que alem de escreverem poemas foram poetas: Louis-René des Forêts, René Char e Paul Celan. Aqueles que já conhecem – além de suas obras de ficção, entre as quais Thomas, o Obscuro/Thomas l'Obscur e Aminabad – os outros livros de Blanchot também sobre a Literatura, a Linguagem, a Imaginação e a Vida, sabem bem porque sobre este, agora lançado, eu nada devo a acrescentar nem ir além da celebração do acontecimento. Que palavras endossadoras ou questionadoras se poderiam acrescentar às de alguém que já diz tudo, e que escreve: - Como a palavra sagrada, o que está escrito vem não se sabe se onde, é sem autor, sem origem e, por isso, remete a algo mais original. Aos que ainda não os conhecem, sugiro que se dirijam diretamente às páginas de alguns deles: O livro por vir/Le livre à venir, O espaço literário/ L’espace littéraire e Diálogo infinito/ L’entretien infini. E a ti, Blanchot, por tua companhia ao longo dos meus anos de escritor, apenas ousarei que minha Sombra te ofereça nesta Sim estas foscas luzes. Grato.

Para a Vida que dorme Vicente Franz Cecim Se o Adormecido leva um Gesto aos lábios

não Falar

para não nascer do Seu Ouvido em Rumor O não dito, lentamente não Ouvir para não nascer no meu ouvido em Ramagens A não dita, lentamente não para não assustar as Ramagens do Rumor indo e vindo entre nós

Asa adormecendo então virá a que nasce para ocultar a Penumbra de um segredo

E nada sabes dela,

e nem de ti saberás

Centro Escuro de Estrelas, a Omoplata das Virtudes foi partida

Silêncio de Lábios Belos

que não te dirão O Nome

Quanta Presença no que foi lançado para residir

na Fenda

Quantidades imensuráveis Face de Puras Asas, quanto te ergues e tudo sobe para o Céu, que recua mais para o Fundo Este trabalho é luminoso quando passas, flagrado em crimes contra a terra, em Sonhos

Dia da semente invisível e Negra cintila entre o sido e o não será Sombra e Paisagem, O visto em sonhos E estava ausente Aquele que rasgou os véus para mostrar aos homens estava ausente estava ausente o que mostrou que nada havia atrás do Véu só a Criança Murmurante leve oO

Se um dia um homem Onde ninguém mais viu, não esperes

sob a Lua Branca Já tens a resposta – não há Resposta Agora, longe, tens as costas voltadas mas não curvadas para os Crepúsculos e os pés profundamente enterrados em Tua Memória Poderias ir embora Mas não vás Preferes esperar que todo o Alento se extinga, e não vás E quanto a Terceira chegar vais recebê-la Face a Face com O Impassível

Silêncio dos Lábios pássaro obscuro

Nada

no ar

e tu te perguntas Mas como pode Nada em alguma coisa estar

Silêncio nos lábios

E de tudo que nas nuvens vês passar

Para a Vida que dorme É preciso não ter medo de não ter medo, as Coisas adormecidas são mais Belas

sob as pontes desertas os Oceanos dormem e a Semente do Desgosto não leva à outra margem

Agora, para onde ir? Já não suspeita do seu rosto nos espelhos a Criança que viu em sonhos seus cabelos brancos

Todos os olhos fechados celebram o limo das Auroras

EPORQUENÃO?

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