Simulação EmpresariaL – um projecto em desenvolvimento em Moçambique

August 6, 2017 | Autor: A. Batel Anjo | Categoria: Simulation, Contabilidade, Modelagem e Simulação Empresarial
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SIMULAÇÃO EMPRESARIAL – UM PROJECTO EM DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE Ismael Nhêze Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de Moçambique Moçambique

António Batel Anjo e Richard Pires Projecto Matemática Ensino/Universidade de Aveiro Portugal João Sousa e Domingos Cravo Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro Universidade de Aveiro Portugal

RESUMO Com os primeiros alunos de terceiro ano surgiu, também, a primeira edição da Simulação Empresarial no Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de Moçambique (ISCAM).

Assim, este foi um semestre de iniciação/experimentação para o ISCAM. As empresas actuaram e transaccionaram no mercado e comunicaram entre si através das plataformas que foram disponibilizadas. De um modo geral, penso que o objectivo principal (o de aproximar ainda mais a unidade curricular à realidade, através da existência de transacções internacionais) foi atingido.

No entanto, por ter sido a primeira vez que um projecto desta envergadura foi levado a cabo, existem algumas lacunas que necessitam de ser colmatadas para que o sucesso das próximas edições da SE seja ainda maior.

Palavras chave: Contabilidade, Simulação, Simulação Empresarial.

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INTRODUÇÃO São frequentes as criticas quer ao sistema de ensino superior em geral, sobretudo pelo seu imobilismo e desfasamento em relação ao mundo empresarial, quer aos professores porque não ensinam o que deviam, quer aos estudantes que não se empenham o suficiente.

Por isso as escolas não podem alhear-se dos debates cada vez mais frequentes em torno da falta de qualidade do ensino superior, em particular sobre as qualificações e competências que deve proporcionar e sobre o elevado insucesso escolar, cujas culpas não poderão recair só sobre os estudantes.

E não podem também ficar indiferentes ao elevado número de jovens licenciados que, após concluírem os seus cursos, continuam no desemprego ao não se ajustarem profissionalmente, parecendo por vezes existir um divórcio completo entre o ensino e a sociedade.

Esta é uma realidade inquestionável, pelo que qualquer processo formativo deverá incluir nos seus objectivos a criação e o desenvolvimento de competências, sejam de carácter puramente cientifico ou técnico, sejam de carácter pessoal ou social.

No plano do ensino superior é crucial ter em conta a questão das competências, qualificações ou capacidades dos alunos no momento em que entram no mundo do trabalho, munidos de um diploma.

São essas competências que irão determinar o processo, quase sempre traumático, da transição da “carreira escolar” para a “carreira profissional”. Quanto mais as competências adquiridas ou desenvolvidas, sobretudo na parte final da “carreira escolar”, a que corresponde o ensino superior, estiverem próximas das expectativas e das necessidades efectivas das empresas e dos

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empregadores, mais facilitada estará a inserção do diplomado, melhor a imagem publica da escola que o formou e maior a satisfação do empregador. Identificado o ponto crucial do projecto – reforço de competências dos futuros diplomados, é essencial definir os objectivos a atingir, no contexto do ensino em sala e no âmbito curricular do curso de Contabilidade a ser ministrado. Os objectivos definidos foram-no dentro de três grandes linhas pedagógicas, que parecem corresponder à questão de fundo, o reforço das competências dos diplomados no momento de abandonar a escola: 

Complementar

e

integrar

os

conhecimentos

curriculares

anteriores; 

Proporcionar a aplicação de conhecimentos numa perspectiva profissional



Aproximar os futuros diplomados ao contexto empresarial e dos negócios.

Igualmente se perspectiva no desenrolar do processo de ensino-aprendizagem a concretização de outros objectivos, direccionados uns para a vertente profissionalizante e outras para as áreas das competências pessoais, ainda que aparentemente fora do contexto da área contabilística, mas fundamentais para a integração laboral, como por exemplo:  Capacidade de trabalhar em grupo interactivo;  Adaptação ao trabalho em ambiente de pressão;  Reacção eficaz às mudanças na envolvente;  Capacidade de expressão escrita e oral.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES

As empresas actualmente não tem muito tempo para despender com a integração profissional dos seus colaboradores, e esperam que as escolas do ensino superior forneçam aquilo que em linguagem económica se chama “um produto acabado e pronto a usar”, que seja detentor das características requeridas no processo de admissão: conhecimento, competência e atitude.

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Isto significa que os Curricula dos estabelecimentos de ensino superior devem quebrar as barreiras e as divisões que tradicionalmente os caracteriza, criando espaços e encontrando mecanismos que permitam: 

Homogeneizar e integrar o conhecimento de diferentes áreas científicas;



Dar um cunho profissional à aprendizagem;



Criar uma perspectiva multidisciplinar;



Desenvolver competências e atitudes.

São essas algumas das principais debilidades notadas na formação dos diplomados em Contabilidade, independentemente da excelente preparação nas diversas áreas curriculares do curso, mas aquelas constituem um real handicap na inserção dos diplomados no mercado do trabalho. Essa falha manifesta-se normalmente por uma menor autoconfiança dos diplomados em si próprios e no seu conhecimento. Questiona-se o sentido simples do seu conhecimento, e exige-se mais, mediante a confirmação e contrastação do seu conhecimento no ambiente profissional.

Nota-se igualmente nos jovens diplomados em Contabilidade, insuficiências nas chamadas competências básicas não profissionais, que resultam nomeadamente das suas dificuldades em:  Trabalhar em grupo;  Trabalhar sob tensão;  Expressar-se oralmente de forma adequada perante terceiros;  Escrever relatórios e memorandos de forma correcta e clara;  Tomar a iniciativa na liderança de um processo ou de uma operação;  Encontrar soluções em contextos inovadores;  Deter uma visão global da organização e dos negócios.

Encontrar um meio de suprir as debilidades evidenciadas pelos jovens diplomados na sequência do seu processo de formação e atrás descritas, é o

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desafio que se coloca ao projecto que iremos promover e que de seguida procuraremos sintetizar.

Acções a desenvolver

O modelo pedagógico que pretendemos implementar, como forma de responder ás insuficiências detectadas no processo de formação dos jovens licenciados em Contabilidade, designa-se por Simulação Empresarial, recebeu fortes influências das metodologias PBL (Project ou Problem Based Learning) e utiliza a simulação da actividade empresarial como forma de aproximação da realidade profissional, sem contudo aplicar a competitividade associada aos jogos de gestão. Por outro lado, a Simulação Empresarial vai muito mais além do que as metodologias usadas em casos estruturados de limitada amplitude, alarga o trabalho a desenvolver numa base de intensa interactividade e permite aos participantes um alto grau de liberdade de actuação.

As bases do modelo pedagógico que estrutura a Simulação Empresarial é um amplo, complexo e virtual mercado, no qual um conjunto de empresas – criadas e geridas por grupos de dois alunos – se integram com uma ampla capacidade negocial, tornando as empresas virtuais que gerem na mais importante e dinâmica força de desenvolvimento das actividades económicas e profissionais.

O inicio da actividade das empresas virtuais envolvidas no processo de Simulação Empresarial ocorre com a atribuição de um conjunto de negócios iniciais, promovidos pelos professores envolvidos, dando assim origem a um efeito dominó que promove o relacionamento empresarial entre todas as empresas virtuais envolvidas. Previamente, e antes de se iniciar o processo de negociação no mercado virtual, todos os alunos/gestores das empresas virtuais envolvidas no universo económico da Simulação Empresarial, devem procurar desenvolver

e

apresentar

um

relatório

onde

descrevem

todos

os

enquadramentos – legais, financeiros, organizacionais e contabilísticos – que as empresas virtuais que gerem são obrigadas a apresentar, cumprir ou implementar no desenvolvimento da actividade em que estão inseridas. 5

Dado que só aqueles que negoceiam podem apresentar trabalho feito, está lançada a interactividade e criadas as condições para que cada grupo seja permanentemente confrontado com uma realidade muito próxima do mundo real, com situações totalmente diversas de empresa virtual participante para empresa virtual participante.

Assim, e pela primeira vez, os estudantes podem sentir em primeira-mão o progresso dos negócios efectuados e as situações típicas da sua actividade profissional. Esta situação permite aos intervenientes, sentir: 

De uma forma prática, o uso real e efectivo de muito do conhecimento adquirido ao longo do curso;



De uma forma prática, a existência de falhas no seu conhecimento em determinadas áreas e praticas científicas.

Em termos operacionais o modelo de Simulação Empresarial estrutura-se com base

num

conjunto

exclusivamente

por

de

infraestruturas

professores

com

operacionais a

colaboração

virtuais, de

geridas

monitores,

nomeadamente:  A central de Serviços Públicos, que tem disponível todas as formalidades e competências dos serviços públicos como as Finanças, o Registo e Notariado, a Segurança Social, etc. 

A Central Comercial, com departamentos de compra e de venda, bem como de fornecimento de serviços básicos, que visa suprir todas as necessidades do mercado que não puderem ser satisfeitas pelas empresas virtuais.

 A Central Financeira, que tem disponível todos os instrumentos financeiros usuais, necessários ao desenvolvimento do processo negocial, nomeadamente Banco, Companhia de Seguros e Empresa de Leasing. A regulação do sistema de informação financeira, é efectuada através da instalação de uma ferramenta de software designada por Multibanco, que simula uma ATM e permite ás empresas virtuais a realização de todas as operações financeiras, e disponível no PC de cada empresa virtual. 6

METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

O projecto em Simulação Empresarial não assenta na sua formulação nas metodologias pedagógicas tradicionais, encontra-se estruturado com recurso a conceitos apreendidos nos modelos “Project based model” e “Problem based model”, que influenciaram um modelo de Simulação Empresarial desenvolvido no ISCA – Universidade de Aveiro, cujos traços vitais de funcionamento assentam na criação de um mundo de negócios virtual que tenha as mesmas exigências legais, comerciais e administrativas do mercado real, e que esse mesmo mercado seja interactuante, o que leva a que o objectivo seja atingido de forma não estruturada.

Relevância para o desenvolvimento nacional

A implementação do projecto de Simulação Empresarial irá proporcionar a formação de quadros na área da contabilidade, dotados das competências que o mercado empregador identificou como essenciais ao desenvolvimento das tarefas que lhes pretendem atribuir.

Estádio actual do conhecimento sobre a área do projecto

A Simulação Empresarial é uma disciplina curricular da Licenciatura de Contabilidade do Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro, em leccionação há dez anos, e é reconhecida pela CTOC (organismo português que congrega os técnicos oficiais de contas portugueses) como uma ferramenta fundamental na formação dos futuros técnicos.

No ano lectivo de 2006/2007 estiveram envolvidos no processo 616 estudantes, que constituíram 308 empresas virtuais. O universo de escolas de ensino superior que participam em rede no projecto são sete escolas dispersas

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por todo o Portugal às quais acresce o ISCA-UA igualmente como escola participante, mas igualmente detentora de responsabilidades dinamizadoras e de controlo de funcionamento do modelo.

RESULTADOS ESPERADOS

As exigências das entidades empregadoras sobre as competências dos trabalhadores que pretendem admitir, criam ás escolas de Contabilidade crescentes dificuldades e exigências na colocação dos seus diplomados no mercado de trabalho. São de todos conhecidas as drásticas limitações dos estágios em ambiente profissional, seja pelas tarefas menores desenvolvidas pelos estagiários, seja pelo deficiente acompanhamento ao longo do seu desenvolvimento.

O projecto que pretendemos implementar procura responder ás limitações anteriormente expressas, e sintetiza-se numa afirmação que clarifica uma clara intenção:

“Se as escolas não conseguem colocar os estudantes no mundo real, é necessário transportar o mundo real para dentro das escolas”

Concretizado esse objectivo será possível moldar os diplomados ás exigências dos empregadores, sem o embaraço do erro que resulta da falta de experiência profissional.

Agradecimentos Os autores agradecem a todos os colegas que permitiram levar a cabo este projecto, nomeadamente e especialmente ao Prof. Fernando Silva, à Profª. Elba, ao Dr. João Paulo Marques, …

Às nossas mães que nos fizeram gordos e lustrosos e ainda a dois gatos e três cães que vivem em permanente conflito.

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