Síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade

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Artigo Original

Síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade Metabolic syndrome in obese and overweight adolescents Marilisa Stenghel F. Souza1, Renata Barco Leme2, Ruth Rocha Franco3, Ceres Concílio Romaldini4, Rosana Tumas5, Ary Lopes Cardoso6, Durval Damiani7

Resumo

Abstract

Objetivo: Estudar a prevalência da síndrome metabólica em adolescentes acompanhados em ambulatório de obesidade. Métodos: Foram avaliados 84 adolescentes com idades entre dez e 19 anos, divididos em dois grupos, de acordo com o escore Z do índice de massa corpórea (Z IMC), sendo um o grupo de adolescentes com sobrepeso (GSP) e o outro, o grupo de adolescentes obesos (GOB). GSP: Z IMC≥1 e 130mg/dL; lipoproteína de alta densidade 2,5; elevação da pressão arterial acima do percentil 90 ajustada para gênero, estatura e idade. Resultados: A prevalência da síndrome metabólica esteve significantimente elevada nos adolescentes obesos (GOB: 40% versus GSP: 4%, p=0,0008). O grupo GOB mostrou maiores valores referentes a insulinismo (54% versus 19%, p=0,003), HOMA (66% versus 38%, p=0,01) e trigliceridemia (21% versus 4%; p=0,04). Conclusões: É importante que o pediatra fique atento aos sinais de síndrome metabólica em adolescentes obesos. A detecção precoce pode ser feita por meio de simples parâmetros e permite a adoção de medidas preventivas para o desenvolvimento da doença cardiovascular em adolescentes.

Objective: Evaluate the prevalence of metabolic syndrome in adolescents followed in an outpatient obesity clinic. Methods: 84 adolescents (ten to 19 years old) were divided in two groups, one composed by overweight adolescents (OWG) and the other, by obese adolescents (OBG), according to Z scores of the body mass index (Z BMI). OWG: Z BMI≥1 and 130mg/dL; high-density lipoprotein cholesterol 100mg/dL or homeostatic model assessment index (HOMA) >2.5 and blood pressure above the 90th percentile, adjusted for age, gender and length. Results: The prevalence of metabolic syndrome was significantly elevated in obese adolescents (OBG: 40% versus OWG: 4%, p=0.0008). The major differences between groups were observed regarding the presence in OBG adolescents of hyperinsulinism (54% versus 19%, p=0.003), HOMA (66% versus 38%, p=0.01) and hypertriglyceridemia (21% versus 4%, p=0.04). Conclusions: It is important to be aware of the early signs of metabolic syndrome in obese adolescents, which can be screened by simple techniques. As the syndrome correlates to chronic illnesses, early detection and adequate prevention by pediatricians is mandatory.

Palavras-chave: síndrome X; adolescente; obesidade; doenças cardiovasculares; resistência à insulina; hipertensão.

Key-words: X syndrome; adolescent; obesity; cardiovascular diseases; insulin resistance; hypertension.

Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e médica assistente da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP) 2 Doutora em Nutrição Humana Aplicada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e mestre em Biodinâmica do Movimento pela Escola de Educação Física e Esportes da USP 3 Médica pediatra e complementanda da Unidade de Endocrinologia do Instituto da Criança do HCFMUSP 4 Doutora em Medicina pela FMUSP e médica assistente da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do HCFMUSP 5 Mestre em Medicina pela FMUSP e médica assistente da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do HCFMUSP 6 Doutor em Medicina pelo Departamento de Pediatria da FMUSP e respon-

sável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do HCFMUSP 7 Professor livre-docente em Pediatria pela FMUSP e responsável pela Unidade de Endocrinologia do Instituto da Criança do HCFMUSP

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Endereço para correspondência: Marilisa Stenghel F. Souza Instituto da Criança do HCFMUSP Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 647 – Cerqueira César CEP 05403-900 – São Paulo/SP E-mail: [email protected] Recebido em: 5/3/2007 Aprovado em: 4/7/2007

Rev Paul Pediatr 2007;25(3):214-20.

Marilisa Stenghel F. Souza et al

Introdução A síndrome metabólica, também conhecida como síndrome X ou síndrome da resistência à insulina, é caracterizada pela coexistência de alterações fenotípicas, como obesidade e hiperinsulinemia, dislipidemia e hipertensão. O termo síndrome metabólica foi sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pois não foi comprovado que a resistência à insulina poderia ser o fator causal comum. O diagnóstico de síndrome metabólica permite identificar pacientes com maior risco de doença cardiovascular de maneira mais direta e precoce em relação aos fatores de risco clássicos(1-4). Em 2001, o National Cholesterol Education Program (NCEP)(5) estabeleceu cinco parâmetros para o diagnóstico da síndrome metabólica em adultos: circunferência abdominal (>90cm nos homens e >91cm nas mulheres); trigliceridemia em jejum >130mg/dL; níveis séricos da fração de alta densidade do colesterol (HDL) 19uU/mL) aumentam o risco de doença cardiovascular(10). No ensaio clínico San Antonio, após sete anos de seguimento, também se notou que a maioria dos pacientes com resistência insulínica elevada e desordens metabólicas múltiplas (HDL baixo, triglicérides elevados e hipertensão arterial sistêmica) evoluiu para diabetes melito tipo 2(11). A síndrome metabólica ainda não está bem definida em crianças e adolescentes, pois falta um consenso internacional. Entretanto, os distúrbios metabólicos associados à obesidade também são descritos nessa faixa etária. O aumento da prevalência da obesidade, verificado nos países após a industrialização, vem acompanhado do aumento da prevalência de diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial e alterações lipídicas em diferentes graus(12). Além disso, há alterações na resistência à insulina, na espessura da parede das artérias e do ventrículo esquerdo, assim como estrias na parede arterial desde a infância até a adolescência, confirmando a importância do estudo da síndrome metabólica nessa faixa etária(13). Pesquisas recentes demonstram que a síndrome atinge taxas de 6 até 28% em crianças e adolescentes(14). Portanto, é possível que esse problema tenha importância significativa, ainda que pouco evidente nos adolescentes. Dada a escala do problema e as limitações no tratamento atual, torna-se urgente identificar grupos de risco na população de crianças e adolescentes obesos. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de síndrome metabólica em adolescentes com excesso de peso.

Métodos Foram estudados 84 adolescentes com idades entre dez e 19 anos, que foram encaminhados ao ambulatório das Unidades de Endocrinologia e de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2005. Os pacientes foram selecionados de acordo com o índice de massa corpórea (IMC), expresso em kg/m2, maior que o percentil 85 da curva do National Center for Health Statistics (NCHS)(15)

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Síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade

para a idade e o gênero. Excluíram-se adolescentes com síndromes genéticas, causas secundárias de obesidade, diabetes conhecido ou aqueles em uso de medicamentos que modificassem a pressão sangüínea, a glicemia ou o metabolismo lipídico. Os pacientes foram então divididos em dois grupos (obeso=GOB e sobrepeso=GSP) de acordo com o escore Z do índice de massa corpórea (Z IMC), o qual permite a seleção entre diferentes graus de excesso de peso. No GOB, foram incluídos 58 adolescentes (32M/26F) com Z IMC≥2 e no GSP, 26 (13M/13F) com Z IMC≥1 e percentil 90 >130 2,5

Z IMC – escore Z do índice de massa corpórea; PAS e PAD – pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente, de acordo com gênero, estatura e idade(16); HDL – lipoproteína de alta densidade; HOMA – homeostatic model assessment index.

As amostras de sangue venoso foram obtidas após jejum de 12 horas, com dieta anterior normal, pela manhã, sendo também solicitadas avaliações da glicose, insulina e lipídeos plasmáticos: triglicérides (TG), colesterol total, lipoproteínas de alta, baixa e de muito baixa densidade (HDL, LDL, VLDL), avaliadas no Laboratório Central do HCFMUSP. A glicemia e os lipídeos foram analisados pelo método enzimático colorimétrico automatizado e pelo método cinético automatizado, respectivamente. A insulina foi estimada por método imunofluorométrico Auto-Delfia. As anormalidades dos lipídeos em jejum foram definidas de acordo com o NCEP, respeitando-se a idade (17). Para as alterações na homeostase da glicose, consideraram-se valores ≥100mg/dL, de acordo com recentes resoluções da American Diabetes Association (ADA)(6,7). O grau de resistência à insulina foi avaliado pelo homeostatic model assessment index (HOMA, com valores que variam de 0-15 e, quando elevados, indicam maior grau de resistência à insulina)(18): HOMA=insulinemia (U/L)xglicemia (mmol/L) 2,5 Os critérios citados acima para o diagnóstico da síndrome metabólica foram modificados a partir daqueles do National Cholesterol Education Program’s Adult Panel e da World Health Organization (WHO) para adultos(11). O diagnóstico de síndrome metabólica foi considerado quando três ou mais dos critérios a seguir estivessem alterados: escore Z para o IMC; pressão arterial; alterações lipídicas e da homeostase da glicemia. As variáveis selecionadas e os respectivos pontos de corte estão descritos na Tabela 1. Quanto à análise estatística, as diferenças entre grupos foram avaliadas pelo teste t e, para a associação entre variáveis, foi aplicado o teste do qui-quadrado ou Fischer, quando necessário. A regressão linear foi utilizada com o

Tabela 2 – Características clínicas e antropométricas dos pacientes dos grupos obesidade (GOB) e sobrepeso (GSP)

Idade (anos) Peso (kg) Estatura (m) Gênero (M/F) IMC (kg/m2) Z IMC CC (cm)* PAS (mmHg) PAD (mmHg)

GOB (n=58) Média±dp Amplitude 13,3 ± 2,1 10,0-18,0 90,8 ± 20,2 53,0-134,8 1,6 ± 0,1 1,4-1,9 32/26 34,4 ± 6,2 24,5-48,7 2,4 ± 0,6 2,0-6,3 99 ± 14 75-148 112 ± 12 90-140 71 ± 10 50-90

GSP (n=26) Média±dp Amplitude 13,0 ± 2,5 10,0 - 19,0 67,6 ± 12,5 38,8 - 92,8 1,6 ± 0,1 1,4 - 1,8 13/13 26,1 ± 3,0 20,1 - 32,0 1,6 ± 0,2 1,2 - 1,9 84 ± 7 67 - 98 108 ± 9 90 - 130 69 ± 8 60 - 84

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