Sobre corrupção, corruptos e corruptores

June 16, 2017 | Autor: Waldisio Araujo | Categoria: Ética, Discurso Politico, Corrupção
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SOBRE CORRUPÇÃO, CORRUPTOS E CORRUPTORES por Waldísio Araújo Creio que o que está cada vez mais claro e que no fundo já sabíamos desde sempre é que o Estado, em seus três poderes, é uma estrutura cheia de buracos em que todos de uma forma ou de outra podem meter a mão, ainda que uns talvez tenham mais acesso ou menos escrúpulos que outros ao fazêlo. Em outras palavras, o mal é estrutural mesmo e essa ladainha e troca de acusações entre partidos não toca no pontoLegislação Corrupta" (1896), por Elihu Vedder. Imagem chave: é preciso fechar os Wikipedia. buracos, ao menos fazer disso um progresso constante de tapamento, dificultando que corruptos e corruptores os encontre e utilize. Um bom começo seria uma profunda reforma administrativa, política e judiciária que fundamentasse algumas cláusulas pétreas na Constituição, suficientes para que algum partido não tivesse fácil condição de burlar os níveis de proteção. No entanto, se olharem em volta verão que ninguém está seriamente interessado nessas reformas e o nível continua na baixaria das acusações de lado a lado. Tá na cara que corrupção sempre houve no Estado brasileiro e em todos os partidos, e esperar investigações para acreditarmos nisso é tolice, pois também o judiciário e mecanismos de controle e divulgação de delitos sempre estiveram e estão sob suspeita também. O imaginário do povo é que tende a só ver corrupção no Executivo, mas ela está por todo lado, e no próprio Executivo está por todo lado, já que inclui cargos concursados, não nomeados pelos governantes e até opositores destes. Vejam as empresas que aparecem na maioria das delações: elas doaram muitos milhões para as campanhas tanto de Dilma, quanto de Aécio e de Marina. É ingênuo demais acreditar que o retorno desse "investimento" só aconteceria se o PT fosse eleito (como foi) e não o PSDB ou o PSD. O que essas grandes empresas querem mesmo é o acesso fácil e sigiloso aos buracos do Estado, e pagam muito alto por tal acesso, que será usado independentemente do partido ou governo que for eleito. E há ainda a cegueira popular e midiática que insiste em enxergar só o que convém ao invés de (nessas horas é bom) generalizar a sujeira a todas as esferas, da União à menor Prefeitura, ao Executivo como ao Legislativo e ao próprio Judiciário, à própria Policia Federal assim como às mínimas polícias militares. Com provas ou sem provas, eu acuso: estão todos, sem exceção, sob suspeita até prova em contrário (se é que é possível provar o contrário). Outra coisa é que essa lambança não é coisa especifica do nosso tempo. A Oderbrecht, por exemplo, era ponta de lança dos governos militares em países do Oriente Médio e da África durante a

ditadura militar, e continuou assim nos governos democráticos que se seguiram, até hoje, vencendo licitações de nível nacional e internacional por todo esse tempo. A OAS era apelidada, também durante os governos militares de "Obras Assistidas pelo Sogro", porque diziam que o seu diretor era genro de ACM, mantido no governo da Bahia pelos militares e vencedora de praticamente toda licitação estadual do Governo baiano; e continuou assim nos governos militares e nos seguintes. Achar que essas empresas eram boazinhas e honestas antes e só nos governos do PT tiveram acesso aos buracos do Estado é uma puta de uma ingenuidade. É burrice achar que se fossem extintos todos os partidos da coligação governante atual a corrupção acabaria ou seria reduzida a níveis insignificantes; isso seria negar que o buraco é grande e está espalhado por toda a estrutura. Finalmente, o problema, como dá para perceber, não é só o Estado. Responsabilizar os funcionários do Governo é algo necessário, mas é incrível como ninguém está interessado em exigir mais responsabilidades das empresas nacionais. Prendem até executivos delas, mas a empresa em si está acima do bem e do mal, acima da lei, aparentemente incapaz de cometer crimes, protegida pela ficção de objetividade chamada "razão social" ou "pessoa jurídica", como se suas estruturas de poder e normas internas viciadas não facilitassem ou dificultassem, segundo os casos, operações fraudulentas. Bom, é assim que eu vejo o abismo que estamos ainda a cavar. Esse buraco imenso existe pra todo lado e não vejo ninguém preocupado em tapá-lo. Fazem protestos intensos culpando ou inocentando governantes e partidos, mas quando alguém propõe reforma política mais séria ou restrições ao financiamento de campanha a população não dá um pio, e a mídia muito menos e os políticos respiram aliviados. Mas todo mundo está manipulado de ambos os lados, e isso dificulta que cheguemos ao ponto ideal: que um dia corrupção seja caso de polícia antes que bandeirinha política, ou seja, que a política venha a ser campo de debate de opiniões mais do que guerra de patrulhas ideológicas que disfarçam interesses escusos de todos os lados, e que imaginar que corrupção é em si coisa de um partido e não de outros é tão bobo quanto desconverter-se do Catolicismo só porque existem padres pedófilos.

Por Waldísio Araújo www.waldisio.com

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