Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”.

June 16, 2017 | Autor: Michel Kobelinski | Categoria: Cultural History, Littérature Française
Share Embed


Descrição do Produto

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero



Universidade Estadual do Paraná Reitor Antonio Carlos Aleixo



Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitor Frank Antonio Mezzomo Diretoria de Pesquisa Cristina Satiê de Oliveira Pátaro Diretoria de Pós-Graduação Carlos Alexandre Molena Fernandes

Editora Fecilcam Ceres América Ribas Hubner Marcos Schebeleski Marcos Clair Bovo Fabio Rodrigues da Costa Patrícia Grotti Schebeleski Conselho Editorial da Coleção Adriana Beloti Aurélio Bona Júnior Rafael Metri Simone Cit Coordenação da Coleção Frank Antonio Mezzomo Cristina Satiê de Oliveira Pátaro

Ficha de identificação da obra elaborada pela Biblioteca Unespar/Câmpus de Campo Mourão

199

2

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Apresentação da Coleção Diversidades do Conhecimento Diversidades do Conhecimento propõe a publicação de coletâneas nas diversas áreas do conhecimento, trazendo resultados de pesquisas e ensaios teóricos com vistas a divulgar à comunidade científica, a profissionais e estudantes os conhecimentos produzidos por pesquisadores e grupos de pesquisa. A proposta da coleção é dar visibilidade e incentivar a divulgação de investigações desenvolvidas em rede, junto a diferentes Programas de Pós-Graduação e centros de pesquisa nacionais e internacionais, e que contem com a participação efetiva de pesquisadores vinculados à Universidade Estadual do Paraná – Unespar. A Coleção foi idealizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação – PRPPG da Unespar como parte da política de apoio à pesquisa na instituição, tendo em vista que um dos desafios da nossa Universidade, credenciada em dezembro de 2013, é a verticalização da pesquisa e a criação e fortalecimento de Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu. Com este objetivo, a PRPPG destinou recursos, mediante edital de Apoio à publicação de Coletâneas, a fim de selecionar propostas de publicação oriundas dos Programas de Pós-Graduação em funcionamento e dos Grupos de Trabalho que têm atuado para a criação de novos cursos de Mestrado na Unespar. Para esta primeira edição da Coleção Diversidades do Conhecimento, foram selecionadas quatro coletâneas, vinculadas às áreas de Educação, Geografia, História e Interdisciplinar, intituladas respectivamente: 4

Entre Fatos e Interpretações: a criação do Curso de Mestrado em História da UFPR, em 1972

“Educação, políticas e representações docentes”; “Geografia, espaço e sociedade: uma análise plural”; “Ensaios de história: ensino, historiografia e gênero”; “Sociedade e Desenvolvimento: diálogos interdisciplinares”. De modo geral, as coletâneas são resultado de investigações realizadas pelos pesquisadores no âmbito de seus grupos de pesquisa, algumas delas em colaboração com pesquisadores de outras instituições e apoiadas com recursos de agências de fomento. Finalmente, pretendemos que a iniciativa – em sintonia com os desafios apresentados pelo Plano Nacional de Educação e pelo Plano Nacional de Pós-Graduação – venha contribuir institucionalmente para o incentivo da pesquisa qualificada na nossa Universidade. Ademais, esperamos que as coletâneas publicadas possam instrumentalizar outros debates na/da comunidade acadêmica, além de inserir o conhecimento produzido pela Unespar no cenário científico. Junho de 2015. Frank Antonio Mezzomo Cristina Satiê de Oliveira Pátaro

5

Sumário Apresentação ............................................................................................ 08 Tarcísio Vanderlinde

Primeira Parte História, Historiografia e Ensino Capítulo 1 Entre Fatos e Interpretações: a criação do Curso de Mestrado em História da UFPR, em 1972 .................................................................... 17 Bruno Flávio Lontra Fagundes Capítulo 2 La Historia Reciente en el Uruguay: es “otra” historia. Debates sobre la enseñanza de la história reciente (2004-2008) .......................................... 42 Federico Alvez Cavanna, Jonathan de Oliveira Molar e Gabriel Quirici Capítulo 3 A História da Historiografia Brasileira do Final do Século XX: uma discussão bibliográfica .......................................................................... 56 Ricardo Marques de Mello Capítulo 4 Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia” .................................. 79 Michel Kobelinski

Segunda Parte História, Identidade e Gênero Capítulo 5 Apontamentos para uma História das Mulheres no Espaço Público: entre heranças e desafios ........................................................................... 109 Isabela Candeloro Campoi Capítulo 6 Identidade Militante como Modo de Vida na Experiência do Exílio: cultura política e resistência ........................................................................ 128 Luciana Regina Pomari e Angelo Priori Capítulo 7 Mulheres, Crime e Violência: sob o olhar da prisão e da imprensa (Paraná, décadas 1970-1990) .................................................................... 152 Claudia Priori Capítulo 8 Mulheres e Propagandas: representações de ontem e de hoje ................. 174 Cristina Satiê de Oliveira Pátaro, Frank Antônio Mezzomo e Ivânia Skura

Sobre os Autores ........................................................................................ 196

Capítulo 4

Sobre o pensar e o sentir na obra “Paulo e Virgínia” Michel Kobelinski

Introdução As personagens do romance “Paulo e Virgínia” (1787), de Bernardin de Saint-Pierre, manifestam o sentimento amoroso, vivem em lugar remoto, a Ilha de França (atual ilhas Maurício) que, aparentemente, supre as necessidades e os anseios humanos1. Porém, a eternização dos sentimentos e a evocação da natureza paradisíaca, que suscitam o desejo de semelhante enlace, dissipam-se em conteúdo e sentido. Em geral, da obra anunciava-se tão somente o lugar e o desfecho trágico, que pressupõe a extenuação da vida de uma das personagens e a solidão da outra (Figura 1). O périplo do autor ao redor do mundo, incluindo as Antilhas e Oceano Índico, a modéstia das personagens e as motivações para a manifestação de suas ideias foram esmaecidas pela natureza de seu apelo.

1

A região passou por diversos domínios e distintos movimentos migratórios: português (1505), holandês (1638), daí o nome da ilha principal; francês (século XVIII), inglês (1814), tornando-se independente em1968 e, filiando-se à Commonwealth of Nations, em 1992.

79

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Figura 1: Desespero de Paulo diante da partida de Virginia

Fonte: Moreau & Girardet [177?]. Gallica-Bibliothèque Nationale de France

Bernardin de Saint-Pierre tornou-se o escritor canônico do Século das Luzes mais negligenciado pelos estudiosos. Esse abismo crítico também se deve ao fato de sua obra-prima ser ambígua e de difícil classificação. Enquanto “Paulo e Virginia” teve leitores em diferentes países do mundo e influenciou a literatura ocidental e a indústria de souvenirs, que 80

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

produziu artigos decorativos, lenços, porcelanas, claraboias, tapeçarias, cartões postais, bijuterias, leques, entre outros objetos, os contos “A choupana indiana” (1790) e “O café de Surate” (1790), por exemplo, passaram despercebidos. Esta obra, traduzida em mais de duzentos idiomas, tornou-se um ícone do movimento romântico, inseriu-se no processo revolucionário e na afirmação da classe burguesa. Ela só foi superada, em número de edições, por “Telêmaco”, de Fénelon, ficando à frente de “Cândido, ou o Otimismo”, de Voltaire, e de “Júlia ou a nova Heloísa”, de Rousseau. É intrigante a dialética estabelecida entre Bernardin de Saint Pierre e seus leitores, uma vez que sua escrita provocava sentimentos. Mais perturbador do que isso foi a constituição de uma crítica às suas obras nos séculos XIX e XX. Esse caso incômodo na literatura francesa desencadeou esforços plurais com o objetivo de desvendar a persona literário-poética de Bernardin e sua inserção político-filosófica em diferentes contextos históricos e culturais. A historicidade em torno de Bernardin de SaintPierre e sua obra despontou em fins do século XIX e início do século seguinte. Em geral, os estudos dedicavam-se aos aspectos biográficos e literários, reconhecendo sua importância literária, tais como Arvède Barine (1891), Jean Charles Lescure (1892) e, Fernand Maury (1892). Em 1903, Pierre de Vaissière tratou da fase obscura da vida daquele autor a partir da correspondência pessoal, localizada na Bibliothèque Municipale du Havre. Pouco tempo depois, Maurice Anatole Souriau (1905) valorizou a figura de Bernardin de Saint-Pierre ao inseri-lo no contexto histórico e literário. Depois de um longo hiato produtivo, que vai do início do século XX até a década de 1970, salvo raras exceções, as abordagens que se seguiram ampliaram as possibilidades de pesquisa, seja com estudos sobre suas obras em si ou sobre aqueles que mantiveram contato com o autor2. Esses estudos também se ocuparam dos romances de contestação produzidos nas Ilhas Mascarenhas, que defendia uma identidade ofendida pela literatura francesa e a contestação dos resultados da Revolução 2

Referimo-nos aos trabalhos de Simon (2011), Robinson (2012) e Davies (2012).

81

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Francesa3. São exemplos desse tipo de literatura obras como “Les Noces de la Vanille” (1962), de Loys Masson, e “Le Chercher d’Or” (1985), de Jean-Marie Gustave Le Clézio (RACAULT; MEURE, GIGAN, 2011, p. 9. Porém, desde Thomi Pitot, em “Réfutation du Voyage à l’Ille de France de Bernardin de Saint-Pierre” (1886), criticava-se a colonização, a desigualdade, a depravação e a escravidão, representados por Bernardin, embora aceitasse parcialmente a Revolução Francesa. Na mesma direção seguiram os trabalhos de Thérèse Humber (“À l’Autre Bout de Moi”, publicado em 1960), de Marcel Cabon (“Brasse-au-Vent”, de 1989, e “Namaste”, de 1965). Nesta última obra, Paulo e Virginia estão presentes nos papéis de Ram e Oumaoudi, trama em que se destaca a nostalgia, a vida idílica e a reencarnação pela ótica indiana. Por outro lado, os esforços da Editora Garnier e da Fundação Voltaire, assim como o interesse de pesquisadores, permitiram o surgimento de análises pormenorizadas, tais como história e biografia, história e natureza, imaginário indiano, romance e literatura de viagem, saberes científicos, estéticos e filosóficos. Eixos reflexivos como escravidão, política, sistema de governo, religião e mestiçagem tornaram-se campos promissores de investigação. O coroamento dessa nova fase de pesquisas foi marcada por diversos eventos que discutiram a vida e a obra de Bernardin de Saint-Pierre, tais como o “Colloque du Collège de France” (Edouard Guiton, 1988), com publicação na “Revue d’Histoire Littéraire de la France” (1989), o “Colloque de Rouen et du Havre”, 2006, e o

3

E se Paris representava o centro do enciclopedismo europeu e tinha como missão sistematizar, transmitir conhecimento e compreender o mundo não europeu, por outro lado, as obras bernadinas foram recebidas, adaptadas e refutadas em diferentes partes do mundo. Tanto o discurso quanto o contradiscurso ao enciclopedismo das Luzes apareciam nos ambientes de influência francesa e nas Américas inglesa, francesa, portuguesa e espanhola (LÜSEBRINK, 2010; PRATT, 1991). Assim, Thomas Paine e Thomas Jefferson contestavam a degeneração dos homens e da natureza na América pelo viés da revolução americana; Richard Bulkeley e Isaac Deschamps contrapunham-se à deportação dos acadianos pelos britânicos na Nova França. As redes de transferência de discurso hegemônico e contradiscurso periférico tiveram maior complexidade no mundo hispânico, resultando no anticolonialismo e na revolução haitiana. A gênese dessas mudanças também decorreu da criatividade e da crítica de jesuítas exilados depois de 1767, tais como Francisco Javier Clavijero, Juan Nuixm y Perpiña, Jhoann Heinrich Baegert, Juan Arteta e Bernardo Ibañez de Echevarri, pois “contribuíram de maneira decisiva à constituição de um novo discurso historiográfico, antropológico e etnográfico sobre a América do Sul, na Itália, na França, nos países de língua e cultura germânica, na Inglaterra e na América Latina” (LÜSEBRINK, 2010, p. 164).

82

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

“Colloque International de la Réunion”, realizado em 20094. As obras de Bernardin de Saint-Pierre surgiram no Brasil com a institucionalização da Imprensa Régia e de medidas de disseminação das letras e artes no governo D. João VI, a partir de 1808. “Paulo e Virgínia” e “Choupana Índia” foram anunciadas entre as primeiras obras impressas na Gazeta do Rio de Janeiro, em 1811 (SOUZA, 2005, p. 3032). A maioria dos trabalhos que surgiriam posteriormente se restringiu à intertextualidade. Em “Inocência” (1872), de Alfredo d’Escragnolle Taunay, faz-se alusão a “Paulo e Virgínia”. Santos (2001) partiu desse mesmo título para criticar a crise do ensino universitário de Letras no Brasil e a tendência de valorização da literatura de massa (personificada por Paulo Coelho) pelas editoras, livrarias e mídia. Mesmo assim, contudo, pelo menos dois trabalhos destoam dessas perspectivas: Sidney Barbosa (2005a, 2005b) estudou a representação da natureza no romance francês do século XIX pelo viés da teoria sócio-crítica, destacando o valor literário, temático e formal da obra “Paulo e Virginia”; e Bispo (2009), que apresentou um panorama tênue da vida e da obra de Bernardin de Saint-Pierre sob o prisma dos Estudos Culturais, ressaltando a articulação entre a cultura e natureza. Apesar desses estudos, pouco se aprofundou sobre o pensar e o sentir em Bernardin de Saint-Pierre. Essa lacuna na escrita da história nos encaminhou para uma história dos sentimentos em suas relações com a racionalidade5. Neste texto apresentamos algumas reflexões acerca da perspectiva filosófico-religiosa e a articulação entre os sentimentos de pudor, felicidade e solidão, presentes na obra “Paulo e Virgínia”.

4

Em 2014, as Universidades de Rouen e de Havre realizaram, entre os dias 15 e 16 de maio, o Colloque du Bicentenaire Bernardin de Saint-Pierre. Cf.: .

5

As ideias aqui apresentadas fazem parte do projeto de pós-doutoramento intitulado “O Pensar e o Sentir nas Obras “Paul et Virginie”, “La Chaumière Indienne” e “Voeux d’un Solitaire”, de Bernardin de Saint-Pierre (1787-1790).

83

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Da vida errática à consagração no mundo das Letras Aclamado como um dos precursores do Romantismo, Bernardin de Saint-Pierre parecia criar e, ao mesmo tempo, inscrever-se em novas maneiras de se expressar e se comportar (Figura 2). Sua época foi marcada por novas ideias, novos valores e novas sensibilidades, as quais tomaram de assalto a França e as nações europeias. Dessas novas maneiras de ser emanaram os ideais que simbolizaram tanto os direitos humanos quanto a simplicidade, a felicidade e a liberdade (HUNT, 2009, p. 58; SCHAMA, 1989, p. 137). Figura 2: Bernardin de Saint-Pierre

Fonte: Reprodução de gravura de Ribault baseada em Lafitte, 1805 (Barine, 1891)

Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814), natural de “Le Havre de Grâace”, Alta Normandia, tinha essa capacidade intuitiva de sentimento intenso, sensibilidade expressa na extraordinária capacidade de imaginar. Tudo começou com uma vida modesta, embora seu pai, Nicolas, acreditasse ter descendência nobre. Desde a infância, impregnara-lhe essa ideia de pertencimento e empoderamento, pois acreditava que seus ancestrais descendiam de Eustache de Saint-Pierre, prefeito de Calais (HOLLINS, 1933, p. 15-16; KALAI, 2011, p. 36). Os ensinamentos de sua mãe, Catherine Godebout e a formação jesuítica no colégio de Caen aguçaram sua mente para o real e para o ilusório. A leitura da “Vida dos Santos” e de “Robinson Crusoé” o impressionou profundamente, a ponto de imaginar a exploração de lugares distantes 84

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

e exóticos, e como os ermitões, a exemplo de Paulo de Tebas e do martírio de missionários da Nova França, desejar semelhante aventura. Da mesma maneira, as aventuras de Ulisses, de Homero, fortaleceram a fantasmagoria das explorações Robinsonianas e a ideia de que Deus auxiliava aqueles que o invocavam (BARINE, 1891, p. 11; MAURY, 1892, p. 6). Aos doze anos teve sua primeira aventura marítima na Martinica em um navio de seu tio. Sentiu-se só e com saudades de “casa” (mal du pays). Mais tarde ele demonstrou que, em face da opressão e da injustiça, a melhor solução era um lugar remoto, isolado por florestas ou mesmo pelas águas. Ao terminar seus estudos nos colégios jesuítas de Caen e Rouen, criticou a rígida disciplina e a vida coletiva, embora desejasse para si os princípios de liberdade que a atividade missionária propiciava aos padres da Companhia. Graças à sua formação e ao seu desempenho em Matemática, Bernardin se qualificou para a École de Ponts et Chaussées, tornandose engenheiro militar aos 22 anos de idade. Por ter temperamento difícil, acabou rebaixado ao posto de engenheiro supranumerário no ano seguinte (1760). Iniciava-se ali uma vida errante e sem contornos bem definidos. Em 1762, transitou entre a Holanda, Rússia, Polônia, Áustria, Alemanha e Malta, em busca de uma ocupação. Não obstante, entraram em cena as relações personalistas típicas do Antigo Regime. Através delas, tornou-se tenente do Corpo de Engenheiros sob o comando de Bourquet, que o levou à Finlândia para trabalhar na instalação de um sistema de defesa (1763). Não durou muito a se desligar e se dirigir à Polônia. Lá, apaixonou-se pela princesa Marie Mesnik. Apesar de sua insistência, não foi correspondido (FLEURY, 1844, p. 203). Arrasado, dirigiu-se à Viena, onde se ofereceu como embaixador da França; como foi recusado, retornou à Varsóvia (1765). Em seguida vagueou pelas cidades alemãs de Dresden e Berlin para, finalmente, retornar à França. Com a morte de seu pai, perdeu sua parte na herança em favor de sua irmã. Por esse motivo, instalou-se com dificuldades em Paris no ano de 1766. Sob o substrato das influências políticas se tornou capitão e engenheiro nos domínios ultramarinos, no oceano Índico (1767). Ele parece não 85

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

ter aprendido com as situações anteriores. Por se desentender com o chefe da missão, deixou Madagascar para explorar “Ilha de França e a Ilha Bourbon” (Reunião). Era a experiência que faltava para organizar criativamente suas ideias, uma vez que passou a se inteirar, cada vez mais, de conhecimentos científicos e literários. É por esse motivo que, ao observar os aspectos naturais, a sociedade créole e a administração francesa, formulou uma crítica consistente que serviu de suporte à elaboração de suas obras (MONTOCCHIO, 2011, p. 5). Retornou a Paris (1771) e, novamente desempregado, dedicou-se à literatura, passando a frequentar salões literários e filosóficos, como o salão de Mademoiselle Julie de Lespinasse. Por intermédio de d’Alembert adentrou a Société des Gens de Lettres e aproximou-se de Jean-Jacques Rousseau. Nosso protagonista ficou conhecido com a obra “Viagem à Ilha de França”, publicada em 1773, a qual só obteve sucesso nos círculos contrários ao escravagismo. A partir de 1781, suas obras foram bem recebidas no meio literário: “Acádia” (1781), poema em prosa, considerado uma enciclopédia jurídica inacabada, foi seguido de “Estudos da Natureza”, produzido entre 1783 e 1784. A publicação em separado de “Paulo e Virgínia” teve pleno sucesso (1787). Na esteira dessas obras, seguiram-se “A Choupana Indiana” e “Desejos de um Solitário” (1790). Pode-se dizer que o sucesso de “Estudos da Natureza” garantiu-lhe a administração do Jardin des Plantes de Paris (1791) e o Gabinete de História Natural. Ele ocupava o prestigioso lugar do naturalista, matemático e escritor Georges-Louis Leclerc de Buffon. Porém, restringiu-se ao campo administrativo, uma vez que sofria forte concorrência política e científica: “foi obrigado a se limitar à administração, e aqui ele ainda é um homem das circunstâncias” (MAURY, 1892, p. 184). Bernardin de Saint-Pierre passou a viver em função do mecenato, embora tenha construído uma imagem negativa da sociedade do Ancién Regime. Depois, ele fez parte da revolução que alternou posições políticas, virou do avesso o mundo cultural, destruiu academias, dispersou salões, aboliu privilégios e pensões. A política revolucionária colocou em lados opostos aqueles que queriam manter seus privilégios e aqueles que 86

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

desejavam aboli-los. A literatura revolucionária, por sua vez, criticava a perversão de nobres, o despotismo de monarcas, a licenciosidade da corte e de clérigos. A obra bernardina foi vista pelos censores com admiração e ceticismo, mas sem ser hostil. Apenas o periódico “Le Journal de Lyon ou Moniteur du Département de Rhône et Loire” foi contra Bernardin, acusando-o de estar a serviço do Marquês de La Fayette e dos realistas (JAFFRÉ-COOK, 2009, p. 15). Em qualquer situação, a natureza ambígua de suas obras desnorteou os leitores, quem quer que fossem. Ao casar-se com Félicit Didot (1792), exigiu como dote de seu pai, um importante editor, uma cerimônia reservada e uma moradia na ilha de Essonnes (Figura 3). Segundo Gournier (1905, p. 17), seus motivos eram estranhos, isolar-se do mundo e ter um lugar para terminar seus dias. Teve dois filhos, Virginie (1794) e Paul (1798). Mais de um ano depois da morte de Félicit (1799), casou-se com Désirée de Pelleporc e, ao contrário do casamento anterior, foi feliz; teve seu terceiro filho, morto com apenas dois anos, em 1804 (BARINE, 1922, p. 164-65). Figura 3: Casa de Bernardin de Saint-Pierre em Corbeil-Essonnes

Fonte: Desenho de Auguste Jacques Régnier, 1800. Gallica-Bibliothèque Nationale de France 87

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Entretanto, as relações sociais e políticas não lhe foram inteiramente favoráveis, apesar de seu círculo de amizades. Ele foi nomeado professor de Moral Republicana na École Normale Supérieure (1794), tornouse membro do Institut de France (1795), elegeu-se como membro do Institut de France (1795), ingressou na Académie Française (1803), cadeira 27, tornando-se seu presidente pouco tempo depois (1807). Não adiantou cair nas graças de Napoleão Bonaparte, que o agraciou com recursos e alojamento no Louvre, pois seus pares do Institut de France barraram seu acesso ao Senado (1812); derrotado, retirou-se para sua ilha em Essonne. Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre foi mais do que um precursor. Suas obras promoveram uma mudança na consciência e no coração dos revolucionários. Ao lado dos filósofos modernos, pensou no que tornava as pessoas felizes e como a ideia de liberdade significava um retorno à natureza. O que estava em jogo era a ideia de liberdade que passava a se manifestar através de jornais, revistas, panfletos literários, poemas e brochuras. Aliás, o problema da liberdade foi colocada por Rousseau como reencontro, uma vez que a civilização se distanciara do estado de natureza e, em contrapartida, a perda da liberdade natural decorreu de sua transformação em desigualdade política. Definida como transparência e obstáculo, essa relação “já não se estabelece diretamente de consciência a consciência: ela agora passa por coisas” (STAROBINSKI, 1991, p. 35). E se Rousseau promoveu uma mudança significativa em relação à natureza, na medida em que a ideia de montanhas lagos e florestas escapavam de sua insignificância geográfica para se transformar na nova face das nações (SCHAMA, 1989, p. 137), em Bernardin de Saint-Pierre, o romance “Paulo e Virgínia” toma essa mesma direção, além de se tornar uma estratégia comunicativa que preconizava a necessidade de corrigir as imperfeições sociais através da libertação interior dos homens. Nesse caso, a literatura era a ferramenta ideal para seus propósitos e para a manifestação de suas inclinações filosóficas e religiosas, para sua crítica às estruturas sociais e políticas de seu tempo. Mais do que tudo, sua indignação diante do mundo levou em conta o “homem primitivo, o exotismo e as classes populares” (CARPEAUX, 2011, p. 1200; HOBSBAWM, 1989, p. 345). 88

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

Sobre o pensar e o sentir em “Paulo e Virgínia” A produção literária de Bernardin de Saint-Pierre tinha um propósito maior, a educação sentimental e a consolidação de uma identidade social e histórica. Em “Paulo e Virgínia” emulam-se personagens, ambientes e acontecimentos fictícios e reais. A menção a Bourdonnais é ambígua. Revela o apreço às obras de engenharia (fortificações, fábricas, hospitais, jardins, pontes, etc.), bem como o desprezo por representar a Companhia Francesa das Índias Orientais e o escravismo (Figura 4)6. Ele, a tia rica, o padre e a comunidade, pelos seus desvios de caráter, são os responsáveis pela morte de Virgínia: “assim corremos à nossa privação, iludidos pela própria prudência dos que nos governam. Seria melhor, sem dúvida, não acreditar neles, tão pouco confiar na opinião e nas esperanças de um mundo enganador” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 222). O mesmo se deu em relação às informações sobre o navio Saint-Géran (1744), cuja tragédia, provocada pela inexperiência de seus oficiais, serviu de inspiração para ambientar e dramatizar “Paulo e Virgínia”: “Bernardin de Saint-Pierre usa livremente o naufrágio do Saint-Géran, contradizendo-se em fatos importantes. [...] Era um expectador apaixonado pelas cenas dramáticas de sua arte” (LÉMONTEY, 1823, p. 14). Esses indícios são significativos, a ponto de as contribuições de Jean de la Fontaine e Voltaire o conduzirem a uma ideia de história alicerçada no real e no ficcional (VOLTAIRE, 2007, p. 3). Em “Paulo e Virgínia”, critica-se a validade e a utilidade da história nacional e ultramarina, porque ela se preocupava somente com batalhas, datas, intrigas, com a sociedade de corte: “nesta ilha, situada na rota das Índias, que europeu poderia se interessar pela sorte de alguns indivíduos desconhecidos? [...] Os homens desejam conhecer só a história dos nobres e dos reis, a qual não serve a ninguém” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 4). Desse modo, ela deveria suprimir os testemunhos e valorizar a memória comum, vívida e natural, pois o tempo “destrói rapidamente os 6

Bertrand François Mahé, conde de la Bourdonnais (1699-1753), Governador Geral das Ilhas de France e Bourbon (1733-1735), “fundou fábricas de algodão e índigo, fez cultivos de arroz e trigo para alimentar os europeus, e naturalizou, nas ilhas orientais, a mandioca trazida do Brasil para alimentar os escravos”. (GUÉRIN, 1851, p. 210).

89

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

monumentos dos impérios” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 13). Defende-se ainda uma história cuja temporalidade abarque os sentimentos e valorize os sujeitos: “a natureza destrói a cada dia a ambição dos reis e, multiplica, na floresta, a beneficência” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 154). Figura 4: Paulo e Virginia perguntam a um senhor o nome de seu escravo

Fonte: Moreau & Girardet [177?]. Gallica-Bibliothèque Nationale de France

De forma obtusa e pela via híbrida, “Paulo e Virgínia” se aproxima das obras de Rousseau (“La Nouvelle Heloíse”), de Laclos (“Les Liaisons Dangereuses”) e de Diderot (“Jacques, le Fataliste et son Maître”). E, de fato, Bernardin de Saint-Pierre se inspirou nos contos de Jean de la Fontaine (1621-1695), fabulista que se valia da moral, da didática e da sátira como estratégia para transformar a escrita em instrumento de luta

90

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

pela liberdade7. Aliás, a literatura já era, desde longa data, instrumento de reflexão e de combate. Em Bernardin, “a inclusão de fábulas é uma estratégia surpreendente para seus propósitos científicos”, embora ele, da mesma maneira que Rousseau, não acreditasse que aquelas servissem à educação das crianças, pois elas ainda não tinham capacidade para compreender coisas complexas (LUCK, 2013, p. 68). Em resumo, a obra “Paulo e Virgínia” comporta diversos usos. Não há só lições de geografia, história, higienismo, climatologia, etnologia e de civilização, mas uma “autêntica comunidade de interesses e de sentimentos” (BRAY, 1989, p. 860). Como podemos constatar, nosso autor transitou criativamente entre as perspectivas iluminista, romântica e missionária. E, por acaso, não seriam essas amarrações a embaçar a interpretação? Delas não teríamos ambiguidades a desentranhar? As influências filosóficas de Platão, Rousseau e, sobretudo, as de Raynal, podem ser localizadas. Em “Estudos da Natureza”, por exemplo, temas como política, sociedade, governo, aleitamento materno, ingenuidade e causas finais não receberam tratamento semelhante?8 Entendemos que as obras de Bernardin de Saint-Pierre, tais como “A Choupana Indiana”, “Paulo e Virgínia” e “Desejos de um Solitário” representam uma forma de contrapartida e complemento. Embora a conclusão de nossa tese se apresente em outro texto, convém sintetizar o romance e o conto para que o leitor compreenda melhor nosso raciocínio. Em “Paulo e Virgínia”, Bernardin de Saint-Pierre projeta em lugar remoto e idealizado, um sonho de felicidade e o sentimento de sublime pela natureza tropical, vivenciados pelas famílias de La Tour e de Marguerite, que se refugia da decadência e da degeneração social metropolitana. Os laços fraternais da infância entre as personagens principais deram lugar ao enlace amoroso na vida adulta. A fim de evitar o envolvimento emocional, Virgínia é impelida a buscar um futuro 7

Jean de la Fontaine apoiou o ministro deposto Nicolas Fouquet contra Jean-Baptiste Colbert e, ao mesmo tempo, enfatizava que a soberania do jovem monarca Luis XIV não estava acima da arte e da liberdade do artista.

8

Sobre os aspectos literários, científicos e filosóficos, ver Chinard (1913).

91

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

melhor e herdar fortuna de sua tia em Paris. Enquanto isso, Paulo, que sentia falta de Virgínia, explorava o mundo através da literatura e experimentava, simultaneamente, a paixão e a solidão. Depois de alguns anos, a protagonista recusa-se a um casamento arranjado e à sua fortuna; deserdada, retorna. Em sua chegada à Ilha de França e, sob o receio de insulares, o navio Saint-Géran naufraga devido a uma tempestade (Figura 5). Virgínia, por pudor, não retira suas vestes para nadar e salvarse. Paulo, desesperado e sem ação, sucumbe à dor do afogamento e da perda de Virgínia, entregando-se à tristeza e à solidão. Figura 5: Naufrágio do Navio Saint-Géran e morte de Virginia

Fonte: Moreau & Girardet [177?]. Gallica-Bibliothèque Nacionale de France

No Conto “A Choupana Indiana”, a crítica se dirige às instituições científicas e religiosas e a tragédia das personagens é substituída pelo final feliz e pelo isolamento social. A retratação do exótico e do mito 92

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

da humanidade renovada em meio à natureza se inicia com um sábio da “Real Sociedade de Londres”, que busca, na Índia, respostas para obter a verdade e a felicidade. Às margens do rio Ganges, estabeleceu contato com os brâmanes, cujas respostas foram consideradas vazias e sem sentido. Em seguida, deparou-se com um pária, que vivia na floresta, distante da civilização. As questões lançadas pelo sábio e respondidas por aquele homem, que tinha uma vida feliz e harmoniosa, junto à sua mulher, filho, cão e gato, dizem respeito a um ideal filosófico: a verdade deve ser buscada com um coração simples, a verdade acha-se na natureza e ela não deve ser dita senão aos homens de bem, além de que, a felicidade consiste em estar com uma boa mulher. Em nosso ponto de vista, não se trata apenas de uma estratégia de valorização de si com a disseminação de obras a públicos distintos, mas de algo mais amplo, que envolve um projeto de educação dos sentimentos de escopo universalista. Runte (1980) sugere que as interpretações procuraram harmonizar o que não era possível: narrativa e ideologia. Não há como negar que os destinos das personagens, tanto no conto quanto no romance, sejam opostos. As interpretações consideram um mundo utópico e críticas múltiplas às sociedades retratadas, isto é, aos europeus, mauricianos e indianos. A ruína, a solidão, o efêmero e a incompatibilidade com o meio natural são substituídos pelo amor e pela felicidade em meio à natureza, onde a defesa da existência presume perenidade. E se as referidas obras tratam de um paraíso perdido, preenchido ou complementado pelo paraíso descoberto ou reencontrado, o dualismo do ser em Platão explica parcialmente os sentimentos de amor, pudor e felicidade. Certamente, “quando vistos em justaposição, a ação contraditória dos enredos de ‘Paulo e Virgínia’ e ‘Choupana Indiana’ elucidam a filosofia de Bernardin” (RUNTE, 1980, p. 78). O estudo comparativo de Runte discute três interpretações sobre o final trágico de “Paulo e Virgínia”: a corrupção de Virgínia pela civilização, pois ela foi vítima de pudor ao não tentar se salvar do naufrágio do navio Saint-Géran, tirando suas vestes; a incorruptibilidade de Virginia, atestada pela sua resistência à sua tia em tentar casá-la, sendo sua virtuosidade recompensada com o paraíso sobrenatural, e o 93

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

conflito espiritual e a paixão de Virginia. Para a autora, Virginia não devia se sentir culpada porque não poderia ser excluída de um paraíso inexistente; Virgínia morreu porque não resolveu o conflito entre o amor espiritual e o amor físico, uma vez que Bernardin entendia que o pudor é uma virtude natural. Por fim, conclui-se que o sentimento amoroso é impossível ao ser solitário. Podemos ir mais longe, pois em “Paulo e Virgínia” os sentimentos de pudor, felicidade e solidão não só vinculam-se a estados de consciência, a princípios religiosos, filosóficos e históricos, mas também destoam parcialmente do sentido original de seus respectivos termos. Note-se que, no século XVIII, o termo pudeur tinha os sentidos de vergonha, honestidade, modéstia; castidade, decência, vergonha, virtude louvável na qual se evita falar coisas repreensíveis; os termos solitute e seul/ seulement significavam, respectivamente, solidão, desacompanhado, sozinho, distante do mundo e, bonheur, felicidade, estado do coração, satisfação com o tipo de vida que se leva, ou com coisas que propiciam satisfação9. Após a cena trágica de Virgínia, durante o naufrágio do Navio Saint-Géran, Bernardin de Saint-Pierre (1819, p. 224; 229) defende a ideia de que a morte é uma realidade inevitável aos homens e às nações, é um bem que alivia o sofrimento e as diferenças sociais, sendo a virtude recompensada no paraíso. Assim, o pudor e a felicidade eram estados emotivos que desencadeavam ações que propiciavam satisfação à custa de sacrifício próprio. A ação heróica de Virgínia inscreve-se na perspectiva diacrônica. Isso é assim porque o sentimento de pudor, principalmente aquele relacionado à nudez e, mesmo a reação à nudez representada na pintura, no teatro e na literatura, oscilaram, ao longo da história, entre a “permissividade e o 9

O sentimento de solidão refere-se ao estado emocional de sujeitos que, pelo isolamento ou pela falta de comunicação, desejam estar do lado de outras pessoas e interagir. Veja-se que o termo “solitude” também designa um estado de privacidade, que pode, ou não, corresponder a sofrimento, como, por exemplo, o isolamento ascético. Felicidade, por sua vez, é o estado de plenitude, beatitude, satisfação, contentamento, bem-estar e paz interior (MICROROBERT, 1989, p. 134 e 1197). Para Bologne (1990, p. 8), pudor é o “sentimento de vergonha, incômodo que se tem ao fazer, ao enfrentar ou ao ser testemunha permanente para esse sentimento”. Ver também Dictionnaire de l’Académie française (1694-1762-1798, 1835), Dictionnaire de la Langue Française (Littré), bem como o banco de dados do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) e Atilf (Analyse et Traitement Informatique de la Langue Française).

94

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

recato excessivos” (BOLOGNE, 1990, p. 8). Com isso, a tese sociopsíquica de Norbert Elias (1973, p. 275, et. seq.), que se refere ao estudo da economia afetiva, pode ser parcialmente questionada. A emotividade dos indivíduos, modelada pelas tradições e pelas instituições, pressupõe o pudor como um sentimento que envolve alto grau civilizacional, já que a nudez em balneários era autorreprimida. Longe dessa expectativa e a partir de volumosa documentação historiográfica e etnográfica, Duerr (2002) contestou a interpretação eliasiana. A iconografia medieval não representava a realidade, mas um tipo de moralização. As cenas eróticas em que homens e mulheres banhavam-se nus e conjuntamente, sem qualquer tipo de vergonha, não eram públicas, mas “banhos de bordel”, os quais foram confundidos com os banhos decentes. Duerr também destaca a ausência de contextualização e equívocos analíticos, como, por exemplo, em relação à nudez de senhores diante de seus criados (marquesa de Châtelet – século XVIII) ou o banho nu coletivo entre os japoneses (século XIX). Em Bernardin de Saint-Pierre, o pudor é uma construção social e cultural, no entanto se conclui que esse sentimento não seguia um padrão evolutivo. Figura 6: Paulo e Virginia se protegem da chuva. Virginia corre para sua casa com a cabeça coberta com a parte detrás de sua saia para se abrigar de uma chuva torrencial, abraçada a Paulo

Fonte: Ilustração de J. M. Moreau gravada por Girardet. Gallica-Bibliothèque Nacionale de France

De qualquer maneira, Virgínia manteve sua dignidade, do começo ao fim de sua vida. E se, em certa oportunidade, Virgínia levantara a parte de trás da saia para proteger a 95

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

si e a Paulo de uma chuva torrencial (Figura 6), Bernardin procurava ressaltar que a bondade natural nas crianças se desenvolve, dia a dia, e que os deveres naturais estão ligados à vida coletiva e à fraternidade (SAINT-PIERRE, 1819, p. 21, 31 e 17, respectivamente). A expressão literária não pode ser estudada sem referir-se ao contexto histórico, à história dos gestos e das lágrimas. Sem dúvida, a expressão de grandiloquência é notória no romance “Paulo e Virgínia”. O pranto feminino significava a salvação da humanidade e a revelação de um futuro promissor, na medida em que aliviava a tristeza e amenizava a infelicidade (VICENT-BUFFAULT, 1988, p. 75). Na época de Bernardin, o pudor do sentimento, domínio do homem, era distinto do pudor corporal ou sexual, domínio da mulher. Assim, o choro masculino era visto como enfermidade, fraqueza e não uma virtude, pois estava relacionado ao nojo e à vergonha de mostrar a dor pelas lágrimas (BOLOGNE, 1990). Bernardin, no entanto, contraria esse comportamento. A tristeza e a solidão fizeram com que Paulo sentisse, “pela sua própria experiência, toda a carência de recursos, e se pôs a chorar”; Domingos e o cão Fiel representam a fidelidade e a felicidade, respectivamente: “à chegada Domingos, este bom negro, choraram, sem poder lhe dizer palavra alguma”; Fiel “estava a seus pés, ladrando, uivando, gemendo e acariciando-os” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 43-44). O sofrimento ou a “felicidade negativa” está presente em vários trechos de “Paulo e Virgínia”; refere-se ao reconhecimento de si no mundo, ao amor, à caridade, à virtude e à aceitação da redenção humana pelo mistério divino, isto é, a “resignação à vontade de Deus” (SAINTPIERRE, 1819, p. 81). Segundo Vicent-Bruffault, durante a Restauração surgiu uma corrente neocatólica que contestou a herança das Luzes e da revolução pela via do sofrimento redentor. Dava-se novo sentido ao dualismo corpo e alma, no qual o choro espiritualizado, apoiado no romantismo, reintroduzia a vontade divina, a verdade íntima e a existência através do sofrimento. A queda da monarquia explicava-se pela culpa e pelo pecado original, e que o saber humano, limitado às coisas externas, era indiferente aos sentimentos dos semelhantes. Bernardin de SaintPierre se antecipou em relação ao sofrimento redentor, tanto em “Paulo 96

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

e Virgínia” quanto em “A Choupana Indiana”. Não se trata, portanto, apenas de uma forma de providencialismo remediado (ALNATSHEH, 2013, p. 40), mas de algo que se refere a uma crítica interna à esfera política da Igreja. Na ótica cristã, um sentimento contraproducente não significa que ele seja visto como negativo. É, pelo menos, desejável. Delon (1989, p. 801) destaca essa particularidade da felicidade em Bernardin de SaintPierre, simplesmente porque ele se recusava a aceitar o mundo social e sua hipocrisia. Isso é significativo, pois se presume que a obra “Paulo e Virgínia” não é apenas um projeto alternativo à obra de rousseauniana. As relações de amizade e de colaboração entre Bernardin e Rousseau foram profundas e a influência recíproca. Tinham o mesmo interesse pela filosofia, educação, natureza, livros, instrução religiosa e, além de terem comportamentos semelhantes, comungavam da ideia de que a pedagogia da emulação corrompia a alma das crianças (LUCK, 2013, p. 108; TERMOLE, 2012, p. 9)10. Em “Paulo e Virgínia”, Bernardin de Saint-Pierre, da mesma forma que Rousseau, em “Emílio”, enfatiza os problemas da civilização. Daí a necessidade de estimular os indivíduos através das potencialidades naturais, protegendo-os dos males do mundo através de uma pedagogia que lhes desenvolva os sentidos, o discernimento e os encaminhe à liberdade. Nesse modelo era possível retornar ao meio natural, vinculado, acima de tudo, à pureza e à criação divina. Mesmo assim, contudo, sinais de ressentimento entre ambos foram percebidos por Luck (2013). Bernardin teria se indignado com Rousseau, pois na obra “Confessions” suas conversas filosóficas não tiveram espaço. Não parece ter sido só isso, porém. Podem-se aventar tensões mais profundas, não apenas pelo fato de se apresentar, na referida obra, o escândalo da fraternidade sexual entre Rousseau, Carrio e Grimm (DARTON, 1997, p. 10), mas também divergências religiosas entre calvinistas e jesuítas, além de críticas à ambição econômica da Igreja e de parte do clero. 10 No Dictionnaire Critique de la Langue Francaise (1787), de Jean-François Féraud, o termo émulation refere-se à concorrência, cujo sinônimo era rivalité, que denota conflito. O primeiro estimula o ser e o outro irrita-o. Desse modo, tanto Bernardin quanto Rousseau criticavam o aspecto negativo da concorrência, isto é, o comportamento ciumento e vaidoso na formação de valores humanos desde a infância.

97

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Era comum, entre literatos e missionários, como, por exemplo, Voltaire e Jean-Pierre-François-Xavier de Charlevoix, reagir à queda de prestígio da Companhia de Jesus e sua supressão na Europa pelo papa Clemente XIX, em 1773 (KOBELINSKI, 2012, p. 18-19). Bernardin de Saint-Pierre entendia que a manipulação da religião a degenerara, seja pela corrupção, seja pelos interesses pessoais. E, de fato, as contradições na doutrina religiosa estão impregnadas em “Paulo e Virgínia”. Contrariamente aos ritos tradicionais da Igreja e as datas santas, sua “teologia consistia em sentimentos, como o da natureza e a sua moral em ação, como a do Evangelho”, todos os dias e tudo ao derredor era “um templo divino”, onde se vislumbrava uma inteligência infinita e poderosa (SAINT-PIERRE, 1819, p. 68). Por outro lado, Margarida (analfabeta), e seu filho Paulo (ilegítimo), não se inseriam nas mesmas práticas religiosas que seus vizinhos por não terem a mesma condição social. Marcante mesmo é a crítica à ganância do missionário que persuadiu Virgínia a buscar herança na França: “acredito, como princípio certo de felicidade, que é preferível as vantagens da natureza a todos aqueles da fortuna, e que não devemos procurar fora o que está dentro de nós” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 108-109). Nos textos de Rousseau e de Bernardin de Saint-Pierre, neles o pudor foi retratado de maneira diversa. Para Rossard (1970), o estudo do pudor como uma chave do romantismo é, ao mesmo tempo, excitante e consistente, especialmente em Bernardin de Saint-Pierre. Sem dúvida, a análise é complexa, pois essa definição de pudor, oriunda dos conceitos de Max Scheler, não é clara, envolve o pudor corporal e um pudor psíquico. Ademais, a demonstração da morte de Virgínia é um mistério poético vinculado ao imaginário social e à realidade, cujo desfecho artificial contrasta com a narrativa naturalista. O mérito do autor consiste em articular temas delicados do século XVIII: o pudor, a preservação da vida e o modelo educativo. Assim, o enigma da heroína derrotada coloca-se com a negação do instinto de sobrevivência, contra o desejo de felicidade e contra a solidariedade entre os homens. Do nosso ponto de vista, não é só o problema da linearidade desse sentimento através do tempo, mas também a contraposição entre personagens históricos 98

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

e ficcionais, ainda mais quando os dilemas afetivos e as experiências pessoais são projetados na literatura e relacionados aos princípios religiosos de seu autor. Os sentidos atribuídos a esses sentimentos nos fazem refletir sobre suas nuances, isto é, em como eles podiam servir, segundo Bernardin, à educação dos sentimentos, o que esperar das relações humanas e desenvolver-se espiritualmente. Desse modo, a felicidade pura é efêmera, independe de valores materiais, só pode ser plena em termos metafísicos. Em Bernardin, a “virtude e o amor gozam destes prazeres amargos” e a caridade é a melhor forma de sentir-se feliz, mesmo diante dos infortúnios (SAINT-PIERRE, 1819, p. 221). Em Bernardin de Saint-Pierre há a projeção dos sentimentos sobre a natureza levando em conta os princípios da causalidade aristotélica. Segundo Duflo, a percepção da natureza sob a ótica finalista de Bernardin de Saint-Pierre considerou dois modos (antagônicos) de leitura: a decomposição e a sintética, que serviam para mostrar as conexões entre os elementos da paisagem. Bernardin (1819, p. 148) associou percepção e racionalidade: “Deus deu a cada um de nós órgãos perfeitamente apropriados aos elementos do globo, onde vivemos, pés para o chão, pulmões para o ar, olhos para a luz, sem que possamos inverter o uso destes sentidos”. E foi além ao enfatizar que os órgãos sensoriais prescindem da associação entre os sentimentos de solidão e felicidade, especialmente porque com eles recuperava-se a harmonia entre o corpo e a alma: “a solidão é tão necessária à felicidade no próprio mundo que me parece impossível usufruir um prazer duradouro, [...] se não criarmos uma solidão interior, de onde nossa opinião sai raramente e onde a dos outros nunca entra” (SAINT-PIERRE, 1819, p. 147). Assim, buscava-se este sentimento ou “estado menos infeliz da vida” em lugares distantes (Índia), embora com a presença feminina, a fim de afastar-se da “desgraça social”. Em suma, o fechar-se em si mesmo é contrabalançado com a expansão externa ou espiritual. A harmonia da natureza, caracterizada por oposições, revelava a presença divina e permitia contemplar a beleza e ter prazer. E, de fato, nesse alfabeto sensível, a perfeição da natureza se dá por leis consonantes, progressivas, contrastantes e harmoniosas. No dizer 99

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

de Simon (1967, p. 143), “a gênese da paisagem se realiza, não mais do que a transfiguração, a transposição de uma paisagem espiritual sobre a paisagem material”. Logo, a harmonia das coisas (da mistura de cores surgem outras), o ordenamento das formas (a linha, o triângulo, o círculo, a elipse e a parábola) e sua combinação (a cor vermelha e o círculo são perfeitos e, portanto, são as formas harmoniosas mais bonitas; os movimentos de rotação, perpendicular, circular, horizontal e vertical criam todas as formas visíveis; os sons e os sabores são exemplos de combinações) preenchem a vida do homem, dando-lhe sentido. A metafísica cristã de Bernardin de Saint-Pierre estabeleceu uma relação dialética entre homem e natureza. Em tal decifração, prevaleceu o sentimento de si (uma faculdade) e o sentimento da existência divina (um estado). Segundo Thibault (2004, p. 37), essa articulação entre a teoria do sentimento e a teoria da terra permitiu a Bernardin de Saint-Pierre abandonar “a encarnação em detrimento das revelações interiores”. Então, atribui-se ao olhar, aos sentidos e ao sistema de pensamento um papel preponderante, pois Deus comunica-se com os homens através da natureza. Sobre as conclusões provisórias A partir do cenário apresentado é possível indagar sobre a perspectiva histórica e a ideia de devir elaborada por Bernardin de Saint-Pierre em “Paulo e Virgínia”. Por outro lado, os sentimentos (pudor, felicidade e solidão) referem-se à nostalgia e à idealização da sociedade francesa. Bernardin de Saint-Pierre procurou idealizar, para a França e para o mundo ultramarino, uma educação dos sentidos com vistas à construção de uma nova sociedade, mais humana e menos brutal, pelo seu inverso, a educação na natureza. Para isto, em seu projeto universalista que se colocava como alternativa ao de Rousseau, valeu-se de todos os recursos de que dispunha, fundindo o pensar e o sentir, filosofia, ciência e religião, tornando sua obra complexa e difícil de interpretar. O que fica em suspenso é o limite de suas idealizações e a própria historicidade, uma vez que elas poderiam comprometer a liberdade dos sujeitos ao se impor uma forma de comportamento e desenvolvimento humano. Tal 100

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

desenlace nos fez pensar numa abordagem integrativa, tanto em torno de suas obras, que não podem ser tomadas unicamente em si mesmas, quanto em relação à articulação entre sentimentos de pudor, bem estar (felicidade) e estar só no mundo (solidão). Referências ALNATSHEH, Abdel Rahman. Paradis et utopie dans Paul et Virginie de Bernardin de Saint-Pierre: du succès ou de l’échec de l’entreprise utopique. Saarbrücken: Éditions Universitaires Européenes, 2013. BARBOSA, Sydnei. A representação da natureza no romance francês do século XIX. Tese de Livre-docência em Letras Modernas. Araraquara, Unesp, 2005. _____. Paulo e Virgínia de Bernardin de Saint-Pierre e o surgimento do romance burguês na Europa. In: BORGES FILHO, Oziris, GAETA, Maria Aparecida Junqueira. Língua, literatura e ensino. Franca: Ribeirão Gráfica e Editora, 2005, p. 9-34. BISPO, Antônio Alexandre. Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 123/3 (2010:1). Cultura e natureza em visões do Homem: Îlle de France e Brasil. “Paul et Virginie” de Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814) e “Inocência” (1872), do Visconde de Taunay (1843-1899). Academia Brasil-Europa, Encerramento do ano FrançaBrasil/Brasil-França 2009, Programa de Estudos Cultura e Natureza Pamplemousses, Ilhas Maurício, 2009 (org. A.A. Bispo). Disponível em: . Acesso em: 14 out. 2014. BOLOGNE, Jean-Claude. História do pudor. Rio de Janeiro: Elfos; Lisboa: Teorema, 1990. BRAY, Bernard. “Paul et Virginie”, un texte variable à usages didactiques divers. Revue D’histoire Littéraire de la France. Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Armand Colin; CNRS; CNL, n. 5, p. 856-878, set./out.1989. CARPEAUX, Otto Maria. Historia da literatura ocidental. São Paulo: Leya, 2011. COOK, Malcolm. Bernardin de Saint-Pierre, poète. Revue d’Histoire Littéraire de la France, v. 103, p. 169-179, 2003/1. DARNTON, Robert. Fraternidade ou os perigos da história etnográfica. FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo, 6 jul. 1997. ______. Boemia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. São 101

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

Paulo: Companhia das Letras, 1987. DAVIES, Simon. Pierre-Michel Hennin romancier. In: ASTBURY, Katerine. Bernardin de Saint-Pierre au tournant des lumières: mélanges em l’honneur de Malcolm Cook. Paris-Louvain, Peeters, 2012, p. 27-34. DELON, Michel. Le bonheur négatif selon Bernardin de Saint-Pierre. Revue d’Histoire Littéraire de la France. Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Armand Colin; CNRS; CNL, n. 5, p. 791-801, set./out. 1989. DUERR, Hans Peter. Nudez e pudor: o mito do processo civilizacional. Lisboa: Notícias Editorial, 2002. DUFLO, Colas. La finalité dans la nature. De Descartes a Kant. Paris: Presses Univeritaires de France, 1996. ELIAS, Norbert. La civilisation des moeurs. Paris: Pocket, 1973. HOBSBAWM, Eric John Ernest. A era das revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos. Uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. JAFFRÉ-COOK, Odile. Bernardin de Saint-Pierre après “Paul et Virginie”: une étude des jornaux et de la correspondance sur ses publications au début de la Révolution (1789-1792). Exeter: University of Exeter, 2009. KOBELINSKI, Michel. O inventário das curiosidades botânicas da Nouvelle France de Pierre-François-Xavier de Charlevoix (1744). História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 20, p. 13-27, 2013. LUCK, Jean Eileen. Science and knowlwdge in Bernardin de Saint-Pierre’s. Études de la nature (1784). Tese em Filosofia. Exeter: University of Exeter, 2013. LÜSEBRINK, Hans-Jürgen. Nostalgies tropicales. Bernardin de Saint-Pierre et les littératures francophones de l’Océan Indien. Études Littéraires, v. 31, n. 2, p. 41-52, 1999. _____. Encyclopédisme parisien et contre-discours non européens: l’Histoire des deux Indes et ses critiques américaines. In: BANDAU, Anja; DORIGNY, Marcel; VON MALLINCKRODT, Rebekka. Les mondes coloniaux à Paris au XVIIIe siècle: circulations et enchevêtrement des saviors. Paris: Karthala, 2010. p. 149-166.

102

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

MONTOCCHIO, Clémence. L’esclavage, les amérindiens et les femmes dans les récits de voyage et les romans de Bernardin de Saint-Pierre et de Chateaubriand (1768-1827). Montreal: Université du Québec à Montreal, 2011. (Dissertação em História). PRATT, Mary Louise. Humboldt e a reinvenção da América. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 151-165, 1991. RACAULT, Jean-Michel; MEURE, Chantale; GIGAN, Angelique. Bernardin de Saint-Pierre et l’Océan Indien. Paris: Garnier, 2011. REVUE D’HISTOIRE LITTÉRAIRE DE LA FRANCE. Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Armand Colin; CNRS;CNL, n. 5, set./out. 1989. ROBINSON, Philip. Ce que Mme Poivre nous apprend sur Bernardin de Saint-Pierre. In: ASTBURY, Katerine. Bernardin de Saint-Pierre au tournant des lumières: mélanges em l’honneur de Malcolm Cook. Paris-Louvain: Peeters, 2012, p. 17-26. ROSSARD, Janine. Une clef du romantisme: la pudeur (Rousseau, Loaisel de Tréogate, Belle de Charrière, Bernardin de Saint-Pierre, Joubert, Constant, Stendhal). Paris: A. G. Nizer, 1975. SANTOS, Joel Rufino dos. “Paulo e Virgínia”: o literário e o esotérico no Brasil atual. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. SCHAMA, Simon. Cidadãos: uma crônica da Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. _____. A history of Britain: the fate of the empire (1776-2000). Londres: Talk Miramax Books, 2003. SIMON, Jean-Jacques. Bernardin de Saint-Pierre ou le triomphe de flore. Paris: Editions A.G. Nizet, 1967. SOUZA, Simone Cristina Mendonça de. Primeiras impressões: romances publicados pela Impressão Régia do Rio de Janeiro (1808-1822). Tese (Doutorado em Teoria e História Literária). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. TERMOLE, Michel. Bernardin de Saint-Pierre épigone positif et transparent de Jean Jacques Rousseau. In: ASTBURY, Katerine. Bernardin de Saint-Pierre au tournant 103

Ensaios de História: ensino, historiografia e gênero

des lumières: mélanges em l’honneur de Malcolm Cook. Paris-Louvain:Peeters, 2012, p. 5-16. THIBAULT, Gabriel-Robert. Bernardin de Saint-Pierre ou l’education du citoyen. Lyon: Institut National de Recherche Pédagogíque, 2008. _____. Bernardin de Saint-Pierre: l’oeil et le déchiffrement du monde. Cahiers Jungiens de Psychanalyse, n. 111, p. 31-38, 2004/3. VICENT-BUFFAULT, Anne. História das lágrimas: séculos XVIII-XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

Fontes BARINE, Arvène. Bernadin de Saint-Pierre. Paris: Hachete, 1891. CHINARD, Gilbert. L’Amérique er le rêve exotique dans la littérature française au XVII et au XVIII siècle. Paris: Societé d”Édition Les Belles Lettres, 1913. FLEURY, Jean François Bonaventure. Vie de Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Sager et Bray Editeurs, 1844. GOURNIER, Jean Ruinat. Amour de philosophe: Bernardin de Saint-Pierre et Félicité Didot. Paris: Librairie Hachette, 1905. HOLLINS, Ruth. Bernardin de Saint-Pierre. Boston: A. B. Boston University, 1933. (Dissertação em Artes). LÉMONTEY, Pierre-Édouard. Étude littéraire sur la partie historique du roman de “Paul et Virginie”. Paris: Aimé Andre, 1823. LESCURE, Mathurin. Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Lecène; Oudin, 1892. MAURY, Fernand. Étude sur la vie et les oeuvres de Bernardin de Saint-Pierre. Paris: Hachette, 1892. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da educação. São Paulo: Mem Martins/ Publicações Europa-América, 1990. _____. Julia ou a nova Heloísa. Campinas: Editora da Unicamp, 1994. SAINT-PIERRE, Jacques-Henri Bernardin de. Paul et Virginie. Paris: C. Deterville, 1819. _____. Vœux d’un solitaire pour servir de suite aux études de la nature. Paris: P.F. Didot, 1790. 104

Sobre o Pensar e o Sentir na Obra “Paulo e Virgínia”

_____. La Chaumière indienne. Paris: B. Le Francq, 1791. _____. Études de la nature. Paris: P.F. Didot le Jeune, 1784. SOURIAU, Maurice. Bernardin de Saint-Pierre d’àpres ses manuscrits. Paris: Société Française d’Impremerie et Librairie, 1905. VAISSIÈRE, Pierre de. Bernardin de Saint-Pierre: les années d’obscurité et de misère (1773-1783). Paris: A. Picard et Fils, 1903. VOLTAIRE [AROUET, François-Marie]. A filosofia da história. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

105

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.