Subsídios da Arquitetura e Publicidade para repensar o fomento do Ambiente Criativo na cidade de Natal/RN (Brasil)

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SUBSÍDIOS DA ARQUITETURA E PUBLICIDADE PARA REPENSAR O FOMENTO DO AMBIENTE CRIATIVO NA CIDADE DE NATAL/RN (BRASIL) Fernando Manuel Rocha da Cruz1 Resumo: O ambiente criativo de uma cidade consiste na sua dinâmica organizacional em prol da criatividade. Heterogeneidade, flexibilidade, comunicação e participação em rede são características que favorecem o processo criativo, o qual tem por base os recursos culturais urbanos. É objetivo do artigo, repensar o fomento do ambiente criativo, a partir do exercício profissional da arquitetura e da publicidade na cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. A pesquisa tem por base a metodologia qualitativa, tendo-se para o efeito aplicado entrevistas semiestruturadas nos setores da Arquitetura e da Publicidade, na referida cidade. Concluimos que o desenvolvimento do ambiente criativo urbano passa pela valorização do trabalho em equipe, abertura a novas ideias, constituição de redes e promoção de políticas públicas. Palavras-chave: ambiente criativo, cidade criativa, Natal/RN, setores criativos. Introdução Em este artigo procuramos apresentar uma pesquisa sobre o ambiente criativo que consideramos responsável pelo desenvolvimento da criatividade em uma cidade. De seguida, partimos para a caracterização dos setores criativos na cidade de Natal, no estado no Rio Grande do Norte, onde compreendemos que a Arquitetura e a Publicidade são os principais setores criativos em número de profissionais. O estudo avança para a análise de entrevistas semiestruturadas aplicadas em ambos os setores criativos por forma a compreender como se processa a criatividade nos mesmos. Finalizamos o presente artigo, tecendo algumas considerações e propostas para o desenvolvimento do ambiente criativo na cidade de Natal. Ambiente criativo As cidades criativas foram apresentadas inicialmente como o espaço urbano onde os artistas e a cultura têm papéis primordiais e relevantes que caracterizam o “espírito” da cidade. Outra concepção apresentada que procurou definir este conceito foi 1

Professor Adjunto no Departamento de Políticas Públicas/ Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação de Estudos Urbanos e Regionais/UFRN. E-mail: [email protected]

o da identificação com as indústrias criativas existentes. Uma terceira acepção caracteriza a cidade criativa pela existência e desenvolvimento de sua classe criativa. (LANDRY, 2011, p. 10) A cidade criativa é uma cidade culturalmente dinâmica e empreendedora. Seus criativos são pessoas altamente qualificadas, capacitadas e flexíveis. As equipes são formadas por pessoas com diversas personalidades e que aceitam correr riscos e desafios. Privilegiam igualmente, a comunicação e a participação intensiva em redes, quer econômicas, quer sociais. A criatividade exige desse modo o aproveitamento intensivo de recursos culturais onde a história dos lugares e a evolução cultural da urbe assumem particular destaque. (LANDRY, 2011, p. 14-15; LANDRY, 2008, p. 4-6) Em estas cidades, o poder de atração dos jovens formados e doutorados é grande, segundo Richard Florida (2011b, p. 222-223). Os recém graduados e doutorados tendem a escolher a cidade onde querem trabalhar e isto em época de trabalho precário e de crise econômica mundial. Para estes profissionais, o interesse no êxito profissional é maior do que o de encontrar um bom primeiro emprego. Buscam assim, um mercado laboral que lhes ofereça inúmeras oportunidades de trabalho. Para este autor, a classe criativa está se dirigindo para centros criativos favorecidos economicamente. Estas regiões se caracterizam pela forte concentração da classe criativa, pelos elevados resultados econômicos que advêm de inovações, pelo dinamismo do setor de alta tecnologia e pelo crescimento da taxa populacional e da taxa de emprego. À heterogeneidade do ambiente de trabalho, acresce os indícios de abertura, tolerância e meritocracia da comunidade. (FLORIDA. 2011a, p. 218-227). As qualidades que caracterizam a classe criativa, segundo o mesmo autor, são a habilidade para a resolução de problemas complexos, a capacidade de julgamento, o elevado nível de formação acadêmica e a imensa experiência. Esta classe valoriza a criatividade, a individualidade, o respeito pelas diferenças e a meritocracia. Todas as características e manifestações da criatividade estão interligadas e são inseparáveis. Em termos financeiros, os criativos auferem remunerações superiores, uma vez que os riscos, o estresse mental e emocional e a flexibilidade dos seus membros são igualmente superiores aos demais. As novas tecnologias são ferramentas imprescindíveis, quer nos locais de trabalho, quer fora dele. Os próprios horários de trabalho tendem a ser flexíveis ou mesmo atípicos. (FLORIDA, 2011a, p. 8-14) Para Rotem (2011, p. 139), não é possível definir, a partir de que momento, alguém pertence à classe criativa, em virtude da pluralidade de níveis de criatividade. É

contudo inegável, segundo o seu entendimento, o interesse dos governantes em aumentar a classe criativa que se tem traduzido no apoio efetivo a este campo de estudo. Contudo, a noção de classe criativa enquanto classe social é criticada por Vivant (2012, p. 17-18). Para esta autora, a classe criativa reúne indivíduos de diferentes posições sociais, rendimentos e trajetórias. Acresce ainda, a ausência de consciência de pertencimento. A cidade criativa não se reduz ao mero desenvolvimento de atividades criativas ou da economia criativa. Ela se caracteriza pela dinâmica organizacional no fomento da criatividade, pelos incentivos do ambiente criativo e pelo papel da história e da tradição na criatividade. (LANDRY, 2011, p. 8). Em este ambiente, as pessoas são estimuladas a comunicar, participar e compartilhar. (LANDRY, 2011, p. 13) Um ambiente criativo pode ser um edifício, uma rua ou um espaço urbano sendo responsável pela promoção da criatividade tecnológica, inovações e recursos. (LANDRY, 2011, p. 15-22) O processo criativo é social – não meramente individual – exigindo formas de organização. Para Florida (2011a, p. 22), o ambiente que permite o desenvolvimento da criatividade é o meio social suficientemente estável que admite a continuidade, mas suficientemente diversificado e aberto para alimentar a criatividade em todas as demonstrações de insubmissão aos princípios estabelecidos. Estes ambientes provocam uma forte atração para as pessoas que querem trabalhar, viver e desenvolver sua criatividade. Locais onde suas contribuições sejam apreciadas e se constituam como desafios. Procuram ainda que estes possuam recursos para mobilizar e se caracterizem pela receptividade e aceitação de mudanças e novas idéias. (FLORIDA, 2011a, p. 35-40) Não é possível ter resultados criativos ou instituições criativas sem pessoas criativas, assim como, não é possível ter um ambiente criativo sem organizações criativas, ou seja, sem um ambiente no qual pessoas criativas, processos, idéias e produtos possam interagir. (LANDRY, 2008, p. 15) Cremos que em todas as cidades existe um ambiente ou potencial criativos, o qual à semelhança da criatividade pode ser fomentado ou desenvolvido. Daí que se proponha em este artigo repensar o fomento do ambiente criativo na cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte (RN). Setores Criativos em Natal Concordamos que o ambiente criativo não se reduz aos setores criativos. Porém, partimos do seu estudo para entender a distribuição e concentração da criatividade na

cidade de Natal. Assim, perante a inexistência de estatísticas oficiais, no Brasil, sobre economia criativa, recorremos às estatísticas disponibilizadas pelo Sistema Firjan, relativamente ao ano 2010. Desse modo, compreendemos que o maior número de profissionais, na cidade de Natal, encontra-se concentrado em Arquitetura & Engenharia (1.229), Publicidade (454) e Software, Computação & Telecom (439). Desenvolvem as suas atividades nestes três setores 54,42% dos criativos identificados. As remunerações médias mais elevadas na capital potiguar correspondem aos segmentos de Pesquisa & Desenvolvimento (R$ 11.229,92), Arquitetura & Engenharia (R$ 7.366,54) e Software, Computação & Telecom (R$ 2.532,11). Os mesmos setores são ainda responsáveis pela maior remuneração total: Arquitetura & Engenharia com R$ 9.053.477,66, Pesquisa & Desenvolvimento com R$ 2.021.385,60 e Software, Computação e Telecom com R$ 1.111.596,29. Estes três setores respondem por 79,64% da remuneração total dos setores criativos na cidade. Arquitetura & Engenharia é o setor criativo com maior taxa de profissionais quer a nível estadual, quer local (Natal), com taxas de 32,12% e 31,52%, respetivamente. Publicidade é segundo setor criativo incontestado nos níveis estadual e municipal (Natal) com taxas de 10,49% e 11,64%, respetivamente. O terceiro setor criativo com maior taxa de profissionais é Design em termos estaduais (RN) (9,97%) enquanto em Natal é o setor de Software, Computação e Telecom (11,26%). Verificamos assim, que relativamente ao setor com maior taxa de profissionais, Natal possui um valor inferior à taxa estadual, em 0,60%. Quanto ao segundo setor criativo com maior taxa de profissionais, Natal possui uma taxa superior à taxa estadual em 1,45%. Se em Natal, Software, Computação & Telecom é o terceiro setor com maior número de profissionais, este setor a nível estadual ocupa o quarto lugar, com uma taxa superior em 2,36% à do estado. Design que é o terceiro setor criativo que emprega maior taxa de profissionais a nível estadual, ocupa o quinto lugar, em Natal, com taxas inferiores a 1,28% perante a taxa estadual (cf. Tabela 1).

Tabela 1 – Percentagem de profissionais nos setores mais criativos, em 2010: RN e Natal

RN Natal







Arquitetura & Engenharia (32,12%) Arquitetura & Engenharia (31,52%)

Publicidade (10,19%) Publicidade (11,64%)

Design (9,97%) Software, Computação & Telecom (11,26%)

Fonte: Adaptado de FIRJAN (2010)

Quanto à remuneração total, os três setores mais criativos são idênticos nas escalas estadual e municipal. Quando comparamos a escala municipal de Natal com a estadual verifica-se que esta varia entre 62,97% e 88,65%: Arquitetura & Engenharia (62,97%), Pesquisa & Desenvolvimento (88,65%) e Software, Computação e Telecom (82,65%) face às remunerações totais estaduais (cf. Tabela 2). Tabela 2 – Remuneração Total nos setores mais criativos, em 2010: RN e Natal

RN Natal







Arquitetura & Engenharia (R$ 14.378.498,28) Arquitetura & Engenharia (R$ 9.053.477,66)

Pesquisa & Desenvolvimento (R$ 2.282.735,40) Pesquisa & Desenvolvimento (R$ 2.021.385,60)

Software, Computação e Telecom (R$ 1.344.951,00) Software, Computação e Telecom (R$ 1.111.596,29)

Fonte: Adaptado de FIRJAN (2010)

Concluindo, Natal segue a tendência estadual quanto ao número de profissionais nos setores criativos. Arquitetura & Engenharia e Publicidade são os dois setores que se encontram nos dois primeiros lugares a nível estadual (RN) e local (Natal). Apenas se verifica uma alteração no terceiro lugar, uma vez que Natal não segue em este ponto a tendência estadual e nacional. Verificamos ainda que os três setores criativos mais significativos ocupam taxas superiores a 50% do mercado criativo, nos dois âmbitos. Finalmente, na comparação da remuneração total dos contextos estadual e local, compreendemos que Natal nos três principais setores criativos possui taxas bastante elevadas no contexto estadual: Arquitetura & Engenharia (62,97%), Pesquisa & Desenvolvimento (88,65%) e Software, Computação e Telecom (82,65%), o que indicia que estes setores se concentram na sua maioria em Natal. Partimos agora para o estudo da arquitetura e da publicidade na cidade de Natal, onde procuramos caracterizar e identificar subsídios para o desenvolvimento do ambiente criativo. Subsídios da Arquitetura O ambiente organizacional influi na criatividade dos grupos e das empresa. Pelas entrevistas realizadas em três escritórios de arquitetura em Natal, concluimos que estes se constituem como pequenas unidades criativas, onde o arquiteto tem uma grande responsabilidade – individual – ao nível da criação.

Assim, o escritório de Rachel Condorelli2 é constituída por duas arquitetas. Quando têm projetos grandes terceirizam a parte de desenho. O escritório é constituído por uma sala com todo o equipamento necessário ao exercício da profissão. O atendimento dos clientes tanto ocorre na sua sala, como em outros espaços, os quais podem ser na casa de clientes ou em estabelecimentos comerciais como o Café da Livraria Saraiva, no shopping Midway Mall, no bairro de Lagoa Nova. O escritório da arquiteta Lorena Galvão3 é constituído igualmente por duas arquitetas (e sócias). O seu escritório de arquitetura denominado “4 Artes Arquitetura e Interiores” encontra-se dividido em várias salas bem decoradas com sala de espera, sala de reuniões e escritórios localizado em uma casa no bairro de Tirol. Apesar desta estrutura, a arquiteta refere que não gosta da formalidade, procurando que as pessoas que aí trabalham ou que a procuram se sintam à vontade e relaxadas. Por último, o escritório de arquitetura de Nelson Araújo4 é constituído por cinco arquitetos. Nelson Araújo é responsável pelo atendimento dos clientes e pela criação (estudo preliminar, estudo preliminar e anteprojeto5) – “a concepção de 95% dos projetos”. As fases do projeto executivo e de detalhamento do projeto são executados pelas quatro arquitetas do seu escritório. As últimas fases contam com o acompanhamento do arquiteto Nelson Araújo no desenvolvimento do projeto e na resolução de dúvidas. O escritório é constituído por várias salas e localiza-se em Tirol. As ideias criativas ou inovadoras têm origem no “olhar” do arquiteto, nas viagens que realiza, nas saídas cotidianas de trabalho, de lazer, mas também pelo acesso à mídia e às redes sociais (Internet). Hoje em dia o mundo é completamente globalizado, então eu viajo muito, como todo o arquiteto imagino eu… Não é por você viajar, você ir para um restaurante, você ir para uma reunião em algum lugar… tem também que olhar com um “olhar” arquitetônico. Então você aprende coisas e tira com cores, com formas, com tudo. (Rachel Condorelli, Arquiteta)

Quanto à constituição e integração de redes, é de destacar a existência do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) que trata de questões relacionadas com a 2

Rachel Condorelli é arquiteta há 20 anos e exerce a arquitetura em regime autônomo. Lorena Galvão é arquiteta há 25 anos e sócia do escritório de arquitetura “4 Artes Arquitetura e Interiores”. 4 Nelson Araújo é arquiteto há 33 anos e proprietário do escritório “Nelson Araújo Arquitetos Associados”. 5 A fase do anteprojecto conta com o apoio ao nível do desenho da equipe. 3

arquitetura, o urbanismo e o exercício da profissão. As redes sociais, como Facebook e Instagram, permitem divulgar trabalhos e materiais, bem como conhecer trabalhos de outros arquitetos. As redes de amizade permitem assim a troca de ideias sobre o exercício da profissão. A cidade de Natal está presente no proceso criativo através da presença do sertanejo, dos materiais que servem de matéria prima, na abertura do mercado e na própria carteira de clientes que o arquiteto vai formando ao longo do tempo. No entanto, são fatores negativos: a falta de adaptação de projetos copiados em outros lugares; a padronização dos projetos; o aumento da concorrência e o aparecimento de projetos de fraca qualidade; a ausência de um conjunto histórico arquitetônico relevante para a cidade. Negativos, é mesmo a questão de mercado de trabalho. […] Natal é uma cidade grande […], em termos de quantidade de pessoas, mas é uma cidade pequena em relação ao Brasil e em relação à mentalidade também. […] Tem pouco, em termos criativos. A ambientação de cada cliente que está acostumado a um determinado padrão de arquitetura que ele tem sonhado em ter p’ra ele, mas que não é adequado p’ra aqui pra cidade. […] É complicado ser arquiteto, sobretudo em inventar coisas novas, que não seja seguir padrões de revistas. (Rachel Condorelli, Arquiteta)

Ao nível das Políticas Públicas, os planos de habitação popular promovidos pelo governo federal têm favorecido o desenvolvimento da arquitetura. O próprio Plano Diretor e o Código de Obras são leis do ordenamento urbano importantes que regulam igualmente sua atividade. Há, no entanto, que promover uma Secretaria para a Gestão do Patrimônio Histórico. Falta igualmente promover a cidade e suas acessibilidades, já que a lei é, por vezes, muito limitadora em relação ao seu uso, desestimulando o mercado imobiliário. O plano diretor deveria ser também repensado por forma a melhorar a qualidade de vida na cidade. E finalmente, é necessário que o planejamento seja efetivo, não mudando em função do gestor que ocupa o cargo. eu vejo que não existe essa preocupação com o trânsito, com o deslocar das pessoas, com os ambientes que as pessoas convivem […]. Um projeto que o empreendedor está querendo fazer, mas não existe uma resposta dos orgãos […], eles se negam a contemplar. […] Existe esse travamento. […] Você faz o planejamento e você não finaliza aquilo ali. Aí chega outro e a manda largar tudo isso […] e vamos começar tudo do zero. (Lorena Galvão, Arquiteta)

o poder público poderia se preocupar mais, […] com a parte da obra. […] A lei é muito limitadora com relação ao uso e isso desestimula o uso pelo mercado. […] Você veja que a área de Areia Preta e o outro lado que você vai em direção à Via Costeira, tem prédios. E aí melhorou muito o nível da região. […] O que acontece é que na hora que tem residências, tem vida de manhã, de tarde e de noite, tem pessoas circulando, tem pessoas caminhando, tem pessoas patinando (Nelson Araújo, Arquiteto)

Subsídios da Publicidade As entrevistas levadas a efeito em agências de publicidade, permite-nos concluir que o ambiente organizacional é dinâmico encontrando-se as tarefas distribuídas, de acordo com os setores ou departamentos constituintes dessas empresas. A agência de publicidade Art&C6 está dividida pelos setores de criação, produção, mídia, atendimento e financeiro. Cada setor tem o seu líder, ao qual é delegado a responsabilidade das metas a atingir em cada setor. A autonomia dos líderes está condicionado às metas definidas pela gerência. Todos os projetos recebem contributos de todos os setores da agência. A Pandora Comunicação7 é constituída pelos setores de atendimento, criação, mídia, produção e financeiro. Todos os setores têm de comunicar entre si porque dependem uns dos outros, mas é sobretudo o setor de atendimento que comunica com os diferentes setores, uma vez que recebe as solicitações de trabalho e os repassa aos outros setores conforme o projeto a desenvolver. A Ratts Ratis8 é constituída pelos departamentos de atendimento, criação, produção, mídia e administrativo-financeiro. A hierarquia e os horários dos seus criativos tendem a ser flexíveis tendo em conta que o cerne da publicidade é a criatividade. As ideias criativas podem ter origem na rua, em uma festa, nas redes sociais, mas também em leituras, no cinema, na arte. A tecnologia surge como uma ferramenta imprescindível à criação. Desse modo, a criatividade pela criatividade não é apreciada na publicidade pois tem que estar ligada a objetivos claros. A criatividade não se constitui como um fim, mas como um meio para atingir objetivos. O perfil do cliente e

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João Daniel Vale é sócio e diretor executivo da agência de publicidade “Art&C – Comunicação integrada”. 7 Ruth Guará é responsável pelo setor de Mídia e Amanda Furtado trabalha no setor de Atendimento da agência de publicidade “Pandora Comunicação”. 8 Pedro Ratts é sócio gerente e diretor de criação da agência “Ratts Ratis – Agência de Comunicação e Propaganda”.

o valor do investimento a realizar são, por outro lado, fatores condicionantes do produto criativo. eu acho que o publicitário […] bebe de várias fontes: é do dia-a-dia, da convivência. Às vezes, você faz uma campanha de uma frase que você escutou na rua, às vezes você cria um conceito p’ra um produto de uma brincadeira que você viu numa festa. Hoje em dia, com as redes sociais, com a Internet, com o WhatsApp, com a grande circulação de informações, a fonte vem até você. Antigamente, o publicitário precisava circular mais, precisava estar mais ligado nos movimentos culturais… ele precisava ter uma cultura mais abrangente de leitura, de cinema, de arte […]. (Pedro Ratts, Ratts Ratis)

Quanto à constituição e integração de redes, é de relevar a Federação Nacional das Agências de Propaganda (FENAPRO) que se subdivide em sindicatos locais. No RN, o Sindicato das Agências de Propaganda do Rio Grande do Norte (SINAPRO) encontra-se filiado à FENAPRO. O Conselho Executivo de Normas-Padrão (CENP) é outra instituição que visa controlar a observância das recomendações e princípios éticos no mercado publicitário brasileiro. É ainda de referir a existência de grupos de mídia no Facebook e WhatsApp. Se muitos desses encontros são apenas para sedimentar laços de amizade, em alguns desses momentos também se trocam idéias sobre clientes e as novidades do IBOPE9. A cidade influi no processo criativo, uma vez que o crescimento do número de agências, em Natal, veio também aumentar a concorrência e dinamizar o mercado da publicidade. A dependência das verbas públicas é elevada e a cidade é pequena exigindo que os publicitários trabalhem com pequenos orçamentos e com a oferta de produtos bem criativos. Eu diria que o mercado empresarial de Natal […] vem num crescendo. […] A gente encontra sim, um ambiente de empresas que acreditam não só em propaganda, como na boa propaganda, essa também é uma grande diferença. […]. A propaganda cara é a propaganda mal feita, essa sim, é a propaganda cara. […] O mercado em Natal, eu considero um mercado favorável, a gente enfrenta muitos desafios, mas é como eu digo, são desafios que nossos colegas dos estados vizinhos também enfrentam. Mas é um ambiente que favoreceu o surgimento e o crescimento de muitas agências. Ainda é um mercado, também é importante que se diga, que depende muito das verbas públicas... (João Daniel Vale, Art&C)

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O IBOPE é uma empresa privada de pesquisa da América Latina.

Na publicidade, a principal dificuldade é a dimensão do mercado de Natal. A ausência de grandes indústrias e a falta de profissionalismo em algumas empresas na relação com cliente, anunciante e fornecedor são as principais características negativas da cidade. Natal ainda tem um mercado muito pequeno. […] Nós não temos grandes indústrias, nós temos poucas indústrias. Nosso mercado é essencialmente de varejo, é supermercado, material de construção, loja de carro, escola e universidade. Então, é muito restrito. Você não tem produtos sendo divulgados. Você tem um ou outro ali. […] Você tem a limitação dos produtos que são anunciados. Eu acho que esse é a grande dificuldade do mercado. (Pedro Ratts, Ratts Ratis)

Quanto às Políticas Públicas, a divulgação das atividades governamentais junto das populações e a promoção de campanhas com interesses social, econômico e cultural, assumem uma grande relevância no setor publicitário. Quanto a propostas de Políticas Públicas para o desenvolvimento da publicidade e propaganda são essencialmente duas. A primeira diz respeito à inclusão das agências de publicidade e propaganda no regime fiscal “Simples”, com uma carga de impostos menor. Uma segunda proposta consiste na regionalização das verbas federais na compra de propaganda. eu acho que uma política pública eficiente para estimular o mercado de propaganda, começaria pela divisão da regionalização da verba. Já existe um pleito em função disso, já existem gestões nas nossas entidades representativas p’ra que o governo se sensibilize […]. Na esteira dessa tentativa, existe também […] um movimento junto aos grandes anunciantes nacionais p’ra que alguma parte da verba deles seja regionalizada (Pedro Ratts, Ratts Ratis)

Conclusões A estrutura organizacional na arquitetura e na publicidade constituem-se em pequenas unidades criativas e na divisão de tarefas por setores. Estes tendem a interagir no processo criativo contribuindo em termos organizacionais para um ambiente criativo. A flexibilização é uma das características fundamentais conseguida através de reuniões periódicas com todos os setores ou equipe; com a delegação de metas às diferentes equipes; com comunicação e interdependência dos setores; e com a flexibilização de horários, hierarquia e espaços de reunião.

As ideias criativas surgem de desafios a ultrapassar: o pedido de um cliente ou a sugestão de um criativo; um edital com determinada temática; etc. A criatividade sofre contudo constrangimentos sejam eles, humanos, temporais, geográficos, econômicos ou outros. A troca de experiências, formas de pensar, lugares, pessoas, produtos, reais e virtuais facilitam a reflexão e o oferecimento de novas sínteses e ideias criativas. As novas tecnologias de informação e comunicação e a constituição de redes sociais facilitam e aceleram a troca de ideias e o aparecimento de novas. A cidade influencia a criatividade, tanto em termos positivos como negativos. Natal é uma cidade que depende econômicamente do setor público e muitas empresas do setor privado dependem de editais e concursos públicos. O mercado em Natal se encontra em expansão e a população de Natal é hoje, estimada em 853.928 habitantes (IBGE, 2014). O desenvolvimento dos setores criativos tem que enfrentar porém uma certa padronização de produtos e serviços, para além de um mercado que é considerado pequeno e onde a qualidade é preterida em relação ao preço. Quando se questiona como as políticas públicas fomentam atualmente os setores criativos são referidas aquelas que são objeto de edital. Desse modo, é proposto para o desenvolvimento dos setores criativos a criação de uma Secretaria de Preservação do Patrimônio Histórico; que as acessibilidades, espaços públicos e segurança sejam repensados; um planejamento a médio e longo prazos, em que a mudança de gestores ou de governantes não afete o desenvolvimento regular de medidas e políticas adotadas anteriormente; que as leis fiscais sejam repensadas de forma a incentivar o surgimento e desenvolvimento das pequenas e médias empresas; e, que a própria regionalização das verbas federais possa permitir tratar de forma igualitária, o que é desigual no contexto nacional. Referências bibliográficas CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. A tematização nos espaços públicos: estudo de caso nas cidades de Porto, Vila Nova de Gaia e Barcelona. Uma análise sobre a qualidade e estrutura dos espaços públicos. Tese de doutorado. Porto: FLUP. 2011. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: Estudo de caso na cidade de Natal/RN. Natal: UFRN. 2014.

FIRJAN, Sistema. Indústria Criativa: Mapeamento da Industria Criativa no Brasil. 2010. Disponível em . Acesso em: 20 mai 2013. FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa… e seu papel na transformação do trabalho, do lazer, da comunidade e do cotidiano. Porto Alegre, RS: L&PM Editores. 2011a. FLORIDA, Richard. El gran reset: nuevas formas de vivir y trabajar para impulsar la prosperidad. 1ª ed. Barcelona: Paidós Empresa. 2011b. IBGE. Cidades@. 2014. Disponível em . Acesso em 21 abr 2014. LANDRY, Charles. Prefácio. In: REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter (Orgs.). Cidades Criativas – Perspectivas. 1ª ed. São Paulo: Garimpo de Soluções & Creative Cities Productions. 2011. p. 7-15 LANDRY, Charles. The creative city: A toolkit for urban innovations. 2ª ed. London: Earthscan. 2008. ROTEM, Einat Kalisch. O espaço público na cidade criativa. In: Reis, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter (Orgs.). Cidades Criativas – Perspectivas. 1ª ed. São Paulo: Garimpo de Soluções & Creative Cities Productions. 2011. p. 138-149 VIVANT, Elsa. O que é uma cidade criativa? São Paulo: Editora SENAC São Paulo. 2012.

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