Taboão da Serra (taboao.rcontrera.com.br)

September 23, 2017 | Autor: Rodrigo Contrera | Categoria: Creative City
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quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Conhecer a cultura local
Sou jornalista mas também trabalho com teatro em São Paulo, como ator e diretor. Faço diversos cursos e oficinas na cidade de São Paulo, com grupos de diversas tendências.
Uma dessas oficinas ocorre nas quintas-feiras, na Barra Funda. O grupo chama-se Confraria da Paixão, e lida com teatro popular, teatro de bonecos, cordel e mamulengo (para quem não sabe o que é isso, continue lendo). O diretor é o Luiz Monteiro, e faço uma oficina com uns 15 colegas, atores e atrizes, assim como dramaturgos/as. A oficina vai até dezembro.
O Luiz é um defensor do teatro popular. Por teatro popular podemos entender teatro feito para o povo, com recursos geralmente parcos e muitas vezes na rua. O cordel é uma fonte muito forte desse tipo de teatro, e o cordel, como muitos sabem, tem origem nordestina, que é onde mais ocorre.
Dia desses, enquanto mexia no meu facebook, deparei-me com um convite para apresentação de teatro para crianças, no Taboão da Serra e posteriormente Embu das Artes. Conferi a programação e de repente aparece a palavra Mamulengo. O que é o mamulengo? Não sou especialista, mas uma forma de explicá-lo é dizer que é um teatro de bonecos de madeira, normalmente feito em barracas ao ar livre ou em ambientes abertos, com características típicas e populares. O mamulengo é bastante difundido na região Nordeste, principalmente, mas aqui na região Sudeste é menos conhecido. São muito poucos os mamulengueiros, 3 no estado de São Paulo, e as apresentações, muito esparsas.
Não pude assistir a apresentação daquele tipo de teatro, mas isso acendeu em mim a convicção de que, de alguma forma, esse tipo de teatro popular acontece, sim, por estas bandas. Basta saber procurar.
Numa das aulas do Luiz, de repente surgiu a questão do papel do poder público no incentivo a demonstrações artísticas populares. O Luiz foi taxativo. Segundo ele, a primeira medida de qualquer secretário da Cultura, de qualquer município deste país, deveria ser em primeiro lugar procurar e catalogar os artistas presentes no município e sua especialidade, pois segundo ele o povo faz, sim, muita arte, e esta tende a ser pouco conhecida, dando espaço, por sua vez, a demonstrações artísticas mais elitistas ou ligadas às redes de tv ou à classe média. Achei muito oportuna a colocação do Luiz.
Daqui então eu pergunto: sabemos quem são nossos artistas? Sabemos o que eles fazem? Sabemos onde se apresentam? Na maioria das vezes, sabemos disso, a resposta é não. Quem perde com isso? Nós.

Rodrigo Contrera é jornalista
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Saber se conduzir
Como conselheiro de condomínio, às vezes me deparo diante de situações que mostram muito bem, e na prática, como são as pessoas no que diz respeito à defesa de seus interesses, ao respeito das normas e à condução de questões no âmbito público.
Noite dessas, eu estava na lan house do prédio quando um morador me chamou e disse que queria conversar sobre uma multa que havia levado. Ele não entrou no mérito da multa.
Eu lhe disse que ele deveria recorrer da forma devida, ora escrevendo no caderno de ocorrências ora mandando carta à administração.
Mas ele não queria saber. Dizia que havia sido multado injustamente. Reparem: ele não disse sobre o que era a multa. E queria que eu fizesse algo a respeito.
Eu lhe disse que, como conselheiro, minhas atribuições são, dentre tantas, discutir sobre aspectos disciplinares e que batem com as normas vigentes para o condomínio, mas que não poderia fazer nada assim, desse jeito. Insisti que ele deveria seguir os procedimentos.
Mas ele não queria saber. Dizia que o conselho havia sido autoritário. Eu lhe disse que o conselho não costuma ser autoritário – muito ao contrário, nós analisamos com atenção qualquer caso polêmico e tentamos ser justos, reservando multas somente quando estritamente necessário – ou justo.
Mas ele insistia. Perguntou-me quando eram as reuniões de conselho. Eu lhe disse que elas podem ocorrer de segunda a quarta. Ele então reclamou que elas não ocorrem num dia fixo. Eu lhe disse que lamentava, mas que o horário dos conselheiros não permite garantir um dia fixo.
Ele disse que queria participar das reuniões. Eu lhe disse que tudo bem, mas que reunião de conselho não é para a defesa de posições pessoais, ainda mais em caso de multa. O conselho é soberano, foi escolhido por todos para isso, e não pode se tornar sujeito a pressões.
Ele ficou, claro, insatisfeito. Mas eu lhe disse, finalizando, que não poderia sequer pensar no caso dele sem saber exatamente a que esse caso realmente se refere. Ora, como poderia eu falar em defesa dele se eu nem conhecia direito a que essa multa se referia (talvez não estivesse presente quando seu caso foi analisado pelo conselho)?
Pausa. Claro, esse condômino em particular pode ser mais afeito a resolver as coisas no diálogo pessoal, ao invés de por meio de cartas, comunicados ou coisas mais formais desse tipo. Posso pensar nessa ressalva ao lembrar esse tipo de ocasião. Mas essa no fundo é apenas uma ressalva. No fundo, creio que o problema é outro.
Certas pessoas exibem comportamentos típicos segundo os quais tudo está bem até que elas têm suas vontades contrariadas. Quando isso acontece, dispõem-se a tudo para influenciar quem quer que seja em seu nome. Dispõem-se inclusive a romper com procedimentos e normas por mero interesse próprio.
Condôminos desse tipo algumas vezes não têm o menor escrúpulo, por exemplo, em extrapolar seu direito de morador e solicitar que a administradora mostre as cotações de empresas concorrentes para um serviço que está disputando. Esse tipo de pessoa também costuma não ter o menor receio de causar má impressão ao invadir uma reunião de conselho para falar em nome de seus interesses sem se dispor a ouvir argumentos. Quer resolver, em última instância, no grito.
Minha experiência mostra que as pessoas e os condôminos só mostram realmente quem são nesse tipo de ocasião. E que é virtualmente impossível de saber quem é quem de antemão. Tudo depende em grande medida do assunto e de quem no fundo está envolvido.
Não à toa a gente, que decide, tende a ficar cético com o que vê por aí. Mas a única solução nesses casos é insistir naquilo que todo mundo deveria conhecer: as normas, os procedimentos e a maneira certa e legítima de fazer as coisas.

Rodrigo Contrera é jornalista e conselheiro de um condomínio no Taboão da Serra
Postado por Rodrigo Contrera às 12:27 Nenhum comentário: 
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Corrupção
As últimas prisões relativas à Operação Lava Jato parecem mostrar que, no que diz respeito à corrupção que tanto mina o país como um todo desde a Conquista, está se chegando finalmente aos corruptores. O que é um ótimo sinal.
Minha opinião, contudo, no tema corrupção é que, se a grande corrupção parece de certa forma minar as normas do Estado – e realmente isso acontece –, a pequena corrupção é ainda mais danosa, por destruir os liames sociais.
Lembro-me bem de quando era norma, no país, a prática de molhar a mão de pequenas autoridades para evitar ser condenado em pequenos delitos. Claro que isso não acabou. Mas, ao que parece, em mais de quatro décadas (dos aos 80 até agora) o padrão moral predominante deixou de ser aquele. Ora porque não pega bem ora porque existe uma condenação social ou legal explícita para quem comete esse tipo de prática.
Lembram-se por exemplo de quando os times de futebol rebaixados em campeonatos nacionais ganhavam sobrevida no tapetão na base do grito? Isso também mudou.
Lembram-se de quando o "levar vantagem" era praticamente um lema nacional, inspirado numa campanha de marca de cigarro? Hoje poucos pensam assim – ao menos em público.
Mas a pequena corrupção não apenas se espraia por meio de práticas corriqueiras. Refiro-me àquela que se instala pela distração daqueles que deveriam cuidar do que é comum.
Neste caso, comentarei algo sobre política de condomínio, que é aquela sobre a qual tenho mais experiência.
Quando entrei como morador num prédio do Jabaquara, reparei em como as assembleias de condomínio eram conduzidas. Havia algo errado naquilo. Uma moradora, dona da administradora, parecia manietar todo o espetáculo. Escolhia um presidente – mas ela presidia –, secretariava a reunião do começo ao fim, e tomava a dianteira sempre que algo surgia e que parecia escapar de seu controle.
Descobri então – não por acaso, claro – que no passado havia ocorrido uma grave irregularidade, que não havia sido explicada nem ressarcida a todos. Não havia mais como fazer nada, mas isso mostrou-me claramente que o quão errado era aquilo que eu sentia.
Algumas ações (minhas, inclusive), o tempo e a Fortuna fizeram com que aquela senhora viesse pouco a pouco a perder a hegemonia e o controle da fala, o contrato com o condomínio e inclusive o apartamento. Eu acabei me elegendo como síndico, escolhi nova administradora, os conflitos – claro – não deixaram de acontecer, mas tudo passou – novamente – ao controle de quem de direito – dos proprietários e moradores.
Voltando ao tema da corrupção: o que aconteceu naquele caso do meu antigo prédio? A usurpação de um poder legítimo. Quem deixou? Todos os moradores. O preço: a corrupção.
É a esse tipo de corrupção, então, a essa pequena corrupção, que me refiro. À corrupção originada da inação de quem deveria mandar e agir. Essa pequena corrupção, somada em todas as ocorrências que grassam por aí, deve em minha opinião superar em muito aquela grande corrupção mostrada por operações como a Lava Jato. Claro que isso no fundo é suposição. Mas minha – pequena mas ao que parece consistente – experiência não me faz mentir.
Tá na hora dos cidadãos se convencerem de que podem, cada qual em seu respectivo âmbito, combater essa corrupção que – eles sabem – mina seus recursos e sua autoestima. Pois: como cobrar por decência se deixamos que os espertos tomem a dianteira – ora por desconhecimento, ora por simples comodismo?
Rodrigo Contrera é jornalista e conselheiro de condomínio no Taboão da Serra
Postado por Rodrigo Contrera às 12:27 Nenhum comentário: 
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quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Conviver não é tão difícil
Viver em condomínio pode parecer para alguns uma tarefa difícil ou chata demais para encarar. Vou elencar a seguir algumas dicas que descobri nos últimos dez anos, participando de condomínio como conselheiro e síndico, no Jabaquara e agora (como conselheiro) em Taboão da Serra, sempre com sucesso.
Antes de mais nada, viver em condomínio é CONviver, saber CONviver.
Em outras palavras: num condomínio, o síndico é, sim, a autoridade maior. Mas não é a única - nem deve ser. Síndico sem conselho forte tende a se tornar um ditador. E ninguém gosta de ditadura - até porque as ditaduras não costumam ser transparentes e podem dar margem a arbitrariedades e mesmo a desfalques - de recursos que são COMUNS.
Basta verificar nos manuais do Secovi ou de outras entidades: as atribuições do síndico são sempre muitas e muito complexas. É exigir demais que UMA pessoa domine todas as habilidades e conhecimentos necessários ao bom desempenho de suas atribuições. Nesse sentido, um condomínio bem gerido COSTUMA SER um condomínio em que o síndico e o conselho conseguem, de comum acordo, trabalhar todas as questões comuns a todos, em que as habilidades dos membros do conselho são trabalhadas de forma a funcionarem para o bem do todo.
Um bom conselho, por outro lado, é um conselho em que as decisões são tomadas sempre em conjunto e de forma prática. Leva vários meses até que um conselho consiga se entender, e em que os membros conseguem reconhecer, uns nos outros, as características e pontos fortes (e fracos) de cada um. Um bom conselho reúne-se com frequência, de preferência toda semana. Mas as reuniões não precisam ser muito longas - nem é bom que isso aconteça. As reuniões do conselho devem ser tocadas com praticidade e sempre, ao final de cada uma, deve ser tirada uma ata que todos devem conferir a posteriori - e de preferência dar um visto.
Compra de bens para o condomínio devem passar sempre pelo conselho - principalmente acima de determinado valor (o que deve ser acertado por todos). Os contratos devem ser avaliados por todos, e as empresas escolhidas a partir de uma lista de no mínimo três para cada produto. As características de cada proposta devem ser discutidas com celeridade - e as decisões tomadas, se não por unanimidade, por maioria. Ninguém pode levar no pessoal caso sua posição seja vencida.
As assembleias devem ser feitas com praticidade. Ninguém aguenta assembleias muito longas e pouco objetivas. Se não forem conduzidas com rigor mas permitindo que as pessoas opinem NOS TEMAS COMBINADOS, tendem a descambar em problemas particulares dos condôminos, e isso costuma gerar desinteresse e irritação. Uma assembleia bem conduzida é objetiva, clara e breve, sem deixar de dar espaço para que as pessoas participem. De preferência, é sempre bom que a assembleia conte com apresentações didáticas e que as decisões sejam tomadas com objetividade.
As pessoas costumam variar muito em capacidades, e sempre surge alguém que sabe mais que os outros. Isso não é ruim, mas nunca se deve deixar que alguém monopolize demais o poder no condomínio - mesmo o síndico, pois sempre que isso acontece as outras pessoas acabam sendo desestimuladas a participar, o que faz com que o condomínio tenda a ser tratado com menos transparência.
Todo dia surgem novos casos e novos desafios em qualquer condomínio. Mas nenhum desses casos é sério demais que não consiga ser trabalhado adequadamente pelo síndico ou pelo conselho de posse de suas atribuições. Sempre é possível lidar com as questões que envolvem qualquer comunidade. E, aqui comigo, sugeriria que em qualquer condomínio existam membros especializados em 1) regulamento, 2) contabilidade e 3) política. O especialista em regulamento torna-se fundamental em solucionar questões de ordem disciplinar e de convivência. O especialista contábil tende a cuidar das contas e do relacionamento com a administradora. O especialista em política trabalha a relação entre os membros do conselho e o síndico e conduz a assembleia. Mas é sempre bom que os membros revezem, a cada período de tempo, as atribuições, de forma a nenhum ser tão imprescindível que, sem ele, tudo desande.
Bom, essas são apenas algumas dicas que consigo elencar agora. Viver em condomínio é uma arte.


Rodrigo Contrera é jornalista e conselheiro de condomínio em Taboão da Serra.
http://taboao.rcontrera.com.br/

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