\"Tenho 58 anos e isso não quer dizer nada\" – Albuquerque Mendes

July 22, 2017 | Autor: M. Lambert | Categoria: Aesthetics, Arte Contemporanea, Estetica, Arte contemporáneo
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"Tenho 58 anos e isso não quer dizer nada" – Albuquerque Mendes Por Maria de Fátima Lambert

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Tenho 58 anos e isso não quer dizer nada - Albuquerque Mendes "it may not always be so; and i say..." e.e. cummings Na sequência de uma anterior mostra realizada por Albuquerque Mendes, no passado mês de Março em Trancoso, Tenho 58 anos e isso não quer dizer nada encontra-se patente até inícios de Maio na Galeria Graça Brandão de Lisboa. Algumas das obras, todavia, foram especificamente produzidas, tendo em consideração o espaço arquitectónico, quanto o conceito subjacente ao título/tema da mostra. As peças alastram pelos lugares dentro do espaço, expandindo-se ou concentrando-se, consoante os intervalos de respiração que se vêem. Entrar nesta mostra supõe que o espectador/visitante possa desenhar o seu percurso, à semelhança da ideia implícita: a jornada de uma vida que acresce dia a dia [pois se trata, no meu entendimento, de um encaminhamento projectivo e introjectivo igualmente "propriedade" dos elementos do público]. Porque nascido em Trancoso foi, inequivocamente, aí que o pintor e performer, decidiu a primeira incursão desta peça composta de unidades que se procuram. Assim, a sua razão matricial foi correspondendo à quase compulsividade de decisão, dando visibilidade à problemática existencial: o processo em aberto da sua vida, subsumido em alegorias, enunciações, tanto quanto em metáforas e transfigurações. A tipologia pictural dos auto-retratos, que o autor vem desenvolvendo desde há décadas, exercem com mestria uma cumplicidade (algo sinuosa, quiçá) com os motivos de paisagem, as naturezas-mortas, objectos tridimensionais e esculturas. A la sua maniera , o autor apropria-se de atributos que externalizam-se uma grande acuidade e evidência detalhista. A colocação das peças adequa-se às distintas fragmentações da área expositiva, propiciando autonomias sucessivas e sobreposicionais (susceptíveis de serem inter-relacionadas, pois).

Nas frases capitulares explanam-se nomes e datas fixados numa geografia comum, gerando a uniformidade de radicação; o artista translada para Trancoso a alocação estrangeira de tempo e espaço de outrem... É a pertença dos artistas ao artista, sem que de uma apropriação epidérmica se trata. Reafirme-se a sua acepção de auto-retrato (reflexivo e especular) que dirige a si mesmo e aos demais, interpelativo e ironista...sempre. Os artistas do passado nominados - são revelações intimistas da sua rigorosa pesquisa e sabedoria em domínios que exigidas na sua praxis. A convocação/homenagem que o artista faz a figuras emblemáticas da história da arte e cultura ocidentais articula-se com o exorcismo de símbolos antropológicos, procedendo do Brasil - numa transversalidade e aderência que corre em suas veias desde há décadas atrás. São também viagens físicas, quanto mentais, convertidas em paradigmas, espécie de peregrinações estéticas que direccionam, com um sentido de proporção notável a metodologia da sua criação. A acepção performática que lhe assiste desde meados dos anos 70, configura a acção definitiva na cativação pictural (estática, quase hierática, nalguns momentos), por mais inesperado que possa assistir-nos. Na instalação Perfume, a inserção de inúmeros retratos e auto-retratos, simbolicamente associadas à escada (ascensão/transcendência) num corte/secção do que poderia ser um excerto de casa, a menção à obra de Patrick Süskind emerge de forma cifrada... As Gárgulas encimam a instalação, assegurando uma significância de vigília e tremor (d’après Kierkegaard, talvez...). Veritas, conjunto de obras especificamente concebidas para a mostra de Lisboa, expõem a relacionalidade antiga entre a palavra e a imagem na obra global do artista. Homem do pensamento, da leitura e do discurso verbalizado, garante a sua coerência (e irreverência) pessoal, tranquilizando-nos no seio de mares ou céus cativados em forma de tondi...como se de uma recepção poética se tratara, logo na entrada da galeria. A partir daí, cada um de nós fica por conta própria e saiba enfrentar os seus tormentos, ânsias e prazeres individuais... Eu tenho [____a preencher por cada um____] e isso não quer dizer nada... (Onde nada é tudo). Maria de Fátima Lambert Ravenna, Abril 2011

http://www.rtp.pt/icmblogs/rtp/molduras/?Tenho-58-anos-e-isso-nao-quer-dizer-nada-%96-Albuquerque-Mendes.rtp&post=32683

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