Teologia, Poesia —e Teopoética | ensaio | John D. Caputo (2015)

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Teologia, Poesia —e Teopoética1 John D. Caputo Para mim é um prazer oferecer algumas palavras como prólogo ao livro Poesia Teológica de Luis Cruz-Villalobos. O vínculo entre teologia e poesia é muito profundo tanto histórica como conceitualmente. As Escrituras judias e cristãs pertencem ao que se conhece como "literatura do mundo", o qual significa que como toda obra literaria, esses textos descrevem em palavras as profundas estruturas da experiência humana. No caso das Escrituras isso significa a experiência de Deus, de sua intervenção interruptora e inclusive traumática em nossas vidas. A "palavra de Deus" é a palavra do outro em nós, são as palavras que surgem em resposta a algo que nos desafia, que transformou nossas vidas, que toma lugar no e sob o nome de "Deus". A "palavra de Deus" são as palavras que damos a Deus de modo tal que Deus nos possa falar. As Escrituras são portanto um logos, um dizer e falar de Deus e por isso são irrefutavelmente teo-lógicas. Ao dizer isso, obviamente, não me refiro aos estudos escolásticos, nem aos argumentos abstratos, nem ao discurso técnico da teología "acadêmica", que é um artefato da universidade. Me refiro principalmente a um logos mais elementar e a uma teologia pré-conceitual, a um discurso que se nutre desde um logos pré-lógico. Me refiro a um discurso arqueológico que está profundamente contido mas narrativas e hinos complexos, em orações e parábolas, em canções e poemas, em epístolas, pregações e mandatos, nos quais diferentes comunidades expressam, de diferentes maneiras, diferentes experiências de "Deus". As Escrituras põe em palavras o chamado de Deus, isso a que Deus nos chama, e ao que nós nomeamos quando nomeamos a Deus. Põe em palavras, em poucas palavras, a um logos mais primordial, a uma lógica, ou pré-lógica, do chamado -o que chama, o que é chamado e o que se chama- no nome (de) "Deus". Isso é o que compõe uma teologia mais primitiva e rudimentar, onde o nome de Deus não é o nome de uma entidade suprema, senão o nome de um chamado, e o povo de Deus é o povo do chamado. Assim, as Escrituras não são teológicas no sentido duro do término logos que forma parte da etimologia dessa palavra. A palavra teologia é, a final e a cabo, uma palavra "pagã" -que não se encontra em nenhum lugar Prólogo ao livro: Cruz-Villalobos, Luis (2015). Poesía Teológica / Theological Poetry. Santiago de Chile: Hebel. Online: https://vu-nl.academia.edu/LuisCruzVillalobos 1

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das Escrituras- que remete a Aristóteles, e que representa a forma mais alta de episteme (scientia), uma disciplina, un discurso racionalizado no qual tudo está organizado de forma tal que seus postulados são explicáveis. É por isso que faço distinção entre uma teologia "forte" e uma "debilitada". Ao fazer isso quero distinguir entre uma forma discursiva cujo foco está na modalidade ativa de propor ou fazer pressuposições; e um discurso que se mantém mais reservado, que toma lugar no modo receptivo de ser clamado, de ser chamado, e que portanto é uma resposta a esse chamado previo sempre surpreendente. A teologia em seu sentido forte se caracteriza pelo modo discursivo greco-filosófico clássico, por um sistema de enunciados propositivos que estão implícitos no desenvolvimento histórico do conceito grego de logos, sistema que hoje é discutido dentro do "onto-teológico". O logos da teologia forte se refere a enunciados predicativos, a dizer algo sobre Deus, a aproximar-se de Deus como um objeto de discurso constituido, como o sujeito de uma série de premissas, como possuidor de certas propriedades conceituais, que são expressáveis em pressuposições que pretendem determinar e explicar certos atributos divinos. Essas pressuposições então tecidas em fios propositivos em provas ou argumentos, que criam um corpo de conhecimento, um arranjo de afirmações verídicas referentes à natureza e à existência de Deus. A teologia forte é composta de conceitos, propostas e provas. Emergiu inicialmente na antiguidade cristã quando o movimento cristão primitivo, na busca de entenderse a si mesmo e em contato com a filosofia grega, se viu imerso em uma série de controversas "cristológicas" que se converteram eventualmente em formulações canônicas nos primeiros concílios e seus "credos". Seguramente nesse momento a teologia não estava ainda amarrada aos discursos escolásticos ou modernistas, nem à terminologia técnica, nem à formalidade da argumentação, nem aos sistemas, nem aos protocolos da universidade; era na verdade considerada sapientia sabedoria para a vida- e não scientia, e portanto nem sequer era considerada uma disciplina possível fora do meio de das comunidades e práticas cristãs. Mas inclusive nesse momento, o essencial esteve aí desde o começo, a guerra argumentativa que simultaneamente deu à luz a heresiologia (o discurso sobre a herética), o brotar de polêmicas contra os chamados dissidentes, o combate agressivo por ter o enunciado correto, a "crença" correta (orthe+doxa) imaculada por aqueles que "optam" (haeresis) por seu próprio caminho, pelos que se separam voluntariamente do ortodoxo. Onde há teologia (forte), há heresiologia. O nascimento da teología foi um parto de gêmeos. Desde seus inícios mais remotos, a teologia forte se preocupa em separar as afirmações verdadeiras e as falsas, os enunciados verdadeiros e os falsos. Eventualmente adquiriu a forma de um discurso acadêmico ou docto, primeiro, na quaestio disputata da alta idade

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média, e logo na universidade moderna onde é ao menos tão técnica discursivamente como outras humanidades ou ciências de tipo matemático. Ao dizer teologia debilitada não me refiro a algo fraco, nem ineficaz, nem anêmico, senão a uma teologia que abandona o modo declarativo e se entrega a um chamado prévio. A teologia debilitada não pretende ser uma definição exata de um conceito bem formado; não se trata de formular preposições senão de ser exposto a algo pré-proposicional. No entanto, a teologia debilitada tem rigor em si mesma, e envolve uma disciplina profunda que não tem a ver com a precisão conceitual ou matemática. Quando digo rigor me refiro -seguindo o descrito por Heidegaer- a aderir estritamente às demandas do assunto a tratar e pensar, a não aderir a um "objeto" definido por um enunciado, senão à própria coisa, a die Sache selbst, às questões que nos preocupam, mais profundamente, que não podem ser reduzidas nem contidas à pressão nem à exatidão do matemático. É falso rigor exigir que tudo seja exato, que tudo seja determinado por definições, que tudo se submeta aos requerimentos do pensamento objetivo, que tudo seja formulado em términos matemáticos. Isso seria como pedir aos pintores impressionistas que desenhassem linhas melhor definidas. Não há nada rigoroso em tratar coisas não-objetiváveis de forma objetivante. Sejamos claros: a tematização, a matematização e a objetivação tem seu lugar, mas há outros assuntos para os quais esses métodos são muito "fortes", muito toscos, muito rígidos. São uma forma muito áspera e rudimentar de abordar assuntos que são experimentados de forma primordial e preconceitual em nosso primeiro contato com o mundo que as Escrituras plasmam em palavras, e com os modos de vida e modos de estar nesse mundo que as Escrituras chamam de "o Reino de Deus". É por isso que as próprias Escrituras sistematicamente evitam o discurso da objetivação e a conceitualização. Inclusive quando se utilizam de números nela, esses não tem um significado propriamente numérico. Quando os discípulos perguntam a Jesus quantas vezes devem perdoar al próximo e Ele responde: "setenta vezes sete", Jesus não está calculando um número (Mt 18:22). Jesus não está dizendo que perdoem 490 vezes; senão que perdoem sem limites, que não há limite ao dever que temos de perdoar. As Escrituras não falam do Reino de Deus como um objeto externo de discurso, pelo contrario, fala desde a experiencia do Reino, desde dentro e não desde fora do mesmo. As Escrituras falam de forma objetiva em parábolas e paradoxos para levarnos a viver a vida que nelas somos chamados a viver. Não há melhor exemplo desse modo "debilitado" de ensinar que a forma de pregar do próprio Jesus nos Evangelhos Sinópticos. Jesus não fala de si mesmo, senão de seu Pai; e não fala de seu Pai, senão do "Reino" de seu Pai; e não fala do Reino de seu Pai senão das sementes de mostarda, de pão com fermento, de tesouros guardados, de filhinhos meus,

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de banquetes aos quais os convidados não chegam. Ele fala em parábolas e paradoxos, não em um modo lógico senão em um modo para-lógico, que é o modo mais rigorosamente apropriado para as dinâmicas do Reino, para suas voltas surpresivas e suas demandas inesperadas. Jesus é o poeta por excelência do Reino, do reinado vindouro de Deus. O rigor apropriado para esse discurso consiste em manter-se a si mesmo em um modo que é indireto, discreto e oblíquo, evocativo e provocativo, analógico e paralógico, parabólico e hiperbólico, metafórico e metonímico, um modo que é próprio desse chamado que nos desafia, desse evento que nos supera. Seu rigor não é propor senão sustentar a exposição à interrupção desse algo que não sabemos o que é, mas que nos enlaça antes que possamos sequer palparlo, que toma posse de nós antes de que possamos sequer proclamar algo sobre ele. A disciplina desse discurso é manter-se a si mesmo em contato primordial com o mundo, é sustentar-se num modo não coercivo que lhe permita ao mundo plasmarse em palavras. Sua debilidade requer um esforço supremo da moderação e da reserva, requer que seja de uma natureza mais flexível e maleável, moldada para ajustarse aos contornos do assunto em questão, que possa sustentar-se de uma maneira não dogmática, aberta, reformável, maleável. A força dessa debilidade é resistir com determinação a cada tentativa de convertê-la em uma expressão canônica, definitiva, de credo, fixa, formulada. Seu rigor deve ser de acordo ao chamado daquele que nos desafia e nos supera, chamado no qual o lógico é atenuado pelo para-lógico, no qual -e com isso chego ao ponto medular- o lógico no teológico é substituido pelo poético. E por poético não me refiro simplesmente a verso e poesia no sentido mais comum, por mais formosos que sejam. Me refiro a uma poiesis primitiva, ao discurso formativo que apoia como uma partera o nascimento dos eventos relacionados ao chamado. Me refiro a uma forma elementar que sucede a um chamado e com o chamado -seja o chamado de um sucesso pontual, e um sucesso pontual no chamado- e que se expressa em forma de palavras. Em poucas palavras, quando falo de "teologia debilitada", falo de algo que é menos "teo-logia" e mais "teo-poética", de uma teologia onde a lógica foi deslocada pela poética, sendo o poético uma constelação de recursos não-discursivos, metafóricos e metonímicos que apontam a evocar a provocação do Reino de Deus, a permitir que o chamado que se faz no nome de Deus tome forma de palavras. A poética não é um ornamento nem uma decoração com a qual se adorna a um objeto preconcebido. A poética é o nascimento mesmo de Deus, o evento natal no qual o nome (de) "Deus" se transforma em palavras, é o coração de um logos mais primordial transmutado desde o proclamar até a tomada de posse.

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O rigor da teologia debilitada é manter-se estritamente guardada na teopoética. A poesia é o rigor da teologia debilitada, sua disciplina, seu ascetismo, seu mais estrito apego à questão em estudo. Em contrapartida, a tentação estrutural e permanente da teologia forte é sucumbir aos encantos do pensamento objeto, é converter-se no prêmio desejado pelos ortodoxos, é comprimir-se em uma fórmula de crença que separe o reto do divergente. A grande tentação da teología forte é supervisionar com olhos policiais a questão de estudo da teologia, é colocar normas a través de pressupostos e provas; este tipo de teologia dá muita ênfase a persuadir e dissuadir, e portanto a suprimir a dissidência e a diferença -como se aqueles que declinam ser parte do regime do logos fossem "caprichosos", como se "elegessem" deferir (haeresis)- em contraposição a ter sido eleitos, separados e expostos a vinda daquele que em si mesmo não pode ver vir! A tarefa da teologia debilitada é sustentar a exposição da teologia ao evento primitivo pelo qual as palavras foram escritas pela primeira vez. Assim que quando Luis Cruz-Villalobos titula seu livro Poesia Teológica, quando se decide converter a matéria teológica em palavra poética, não está fazendo um trabalho de ornamentação. Senão que, toca a raiz mais profunda e a fibra mais antiga da teologia, que não é mais que a teologia sendo poesia antes que doutrina; sendo criação do mundo antes de ser credo, sendo poiseis antes de lógica endurecida, infundindo palavras de vida e morte, de sofrimento e alegria, antes de que as palavras mesmas sucumbam à rigidez da ortodoxia e seus cânones. A teologia é canção antes de ser conteúdo de uma summa ou de um concílio. É por isso que o Novo Testamento se descreve a si mesmo não como istoria -um sóbrio registro do passado, ou uma representação exata dos fatos ocorridos-, senão como euvangelion, como uma mensagem de alegria, como boas notícias proclamadas aos pobres e aos cativos, como uma proclamação do ano jubileo. Um evangelho não é um discurso predicativo, senão um discurso de promessa. O ano do jubileo é o ano cinquenta, o ano que segue a sete vezes sete, onde tudo é perdoado e podemos começar desde o zero outra vez. Cinquenta não é um número para ser contado, nem uma data para ser calculada, senão uma esperança, um clamor, um sonho, uma expectativa messiânica, um marco que sublinha o que está por vir, o símbolo de uma promessa cuja canção são as Escrituras. A figura de Jesus no Novo Testamento é a figura do arque-poeta do Reino de Deus, um contador de parábolas de sementes de mostarda e de tesouros guardados e de filhos pródigos, todas apontando a imaginar o futuro da vinda do Reino, de como será tudo quando Deus reine no lugar da avareza e da violência humana. Jesus é um poeta que poetiza o Reino, que imagina como seria viver de outra forma, em um tempo em que se quebrou o sentido do mundo tal como o conhecemos. Jesus imagina o mundo de

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maneira diferente, divina, onde a vingança é substituida pelo perdão, a violência e a opressão pela misericórdia entre nós mesmos, e a guerra é derrotada pela suave força da paz. Em teopoética, a idéia de "poesia teológica" -que é o nome deste livro- é uma redundância magnífica, um repetir o mesmo onde o tout autre, esse algo assombroso, esse algo que quebra e que inunda a vida cotidiana faz um chamado à teologia para que retome seu antigo labor de imaginar o mundo de uma forma diferente. Jonh D. Caputo Thomas J. Watson Professor of Religion Emeritus Syracuse University David R. Cook Professor Emeritus of Philosophy Villanova University

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Alguns poemas do livro "Poesia Teológica" Luis Cruz-Villalobos

SALMOS VISUAIS (HAIKUS) 1 Não me deixe cair Senhor do céu e da terra Por espirais que descem

2 Você me serve a mesa A mim que não tenho direito Nem de limpar teu prato

3 Minha palhoça e meu barco Tudo é teu Senhor dos mares De fato sou teu peixe

4 Quem senão Você É quem lê da estrutura e sentido A esta história que sou eu

5 Comprido e estreito É o caminho que Tu me deste E também aéreo

6 Nesta imensidade Néscia ilusão não conhecer-me Menino de tua mão

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7 É de madeira Nossa casa que Você constrói Carpinteiro do amor

8 Não me deixe subir Tão alto que de Ti me esqueça Sem sequer saber

9 Nos desertos Só te peço um sinal De teu amor

10 Tanta beleza Senhor Que Você deixa cair pelos abismos Dos meus olhos

11 Eu sou tua criação Parte privilegiada de tua obra Que se vê a si mesma

12 Tua cruz Senhor Hoje vazia é janela do céu Que está por descer

13 Continuamos a nossa viagem Você disfarçado de sol no horizonte E minha sombra ficando para trás.

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A PORTA DA CATEDRAL Nas portas das catedrais Juntam-se os loucos e os pobres Estiram-se no chão Nos degraus de mármore milenário Cheiram mal Vêem-se horríveis com seus trapos Espantam aos devotos dignos Que nem ousam olhar a tais sujeitos E passam de longe com piedade nos olhos Conta a lenda Que um dia Deus se disfarçou de mendigo E se recostou junto à porta principal Da catedral mais esplendorosa Contam que com o passar dos dias e das noites Desse mês invernal Deus morreu de frio e de fome Também contam alguns Que isso ocorreu Que não é simples lenda Desde então as catedrais estão vazias Deus ressuscitado foi refugiar-se em outra parte Contam que vive feliz por esses dias Em uma tenda de ciganos perto de um porto.

O DEUS-PARDAL Se Deus existisse Nada mudaria Dizia Sartre Desde sua estrábica perspectiva Mas está claro Que o deus platônico Ou o aristotélico Ou o não-deus do príncipe Gautama

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Ou o Logos estóico Ou o de Spinoza Enfim Nada poderiam mudar Como o deus deísta Relojoeiro louco Falante distante Impotente por definição Apático por essência suprema Esse Deus Nada Zero a esquerda Definitivamente Sartre estava certo Zero aporte Um Deus frio e calculista Impávido Nada Mas não me poderão negar jamais Que o Deus-pardal O Deus empobrecido O Deus apaixonado por sua obra de arte O Deus louco por amor O Deus kamikase Este e só este Deus Muda tudo Tudo deixa em desconstrução Como os dançarinos átomos.

INALANDO ACETONA Às crianças e jovens do porto

Era de noite Às portas do mercado Do malcheiroso porto E ai se foi a dormir Deus onipotente Criador do céu e da terra Curiosamente ninguém o desconheceu E deixaram-no um espaço No meio dos corpos Úmidos e sujos

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Essa noite foi especial As crianças dormiam tranqüilas Sem frio Sem fome E a acetona não teve a ver Não foi obra de sua magia Mas Deus essa noite Sobressaltou-se com pena e pudor De frio e de fome Inclusive descobriram-no inalando Aquela substância milagrosa Que o distanciou da miséria.

DEUS ATEU Em memória de A. Schopenhauer

Um dia Nublado e frio Deus se fez ateu Não creu mais Negou-se a confiar Na vida de além-mundo Na esperança eterna No amor universal Deus sem Deus Caminhava cabisbaixo Pelas ruas da urbe Parecia um mortal qualquer E começou a emagrecer Seu coração se tornou fel E deixou de falar Deixou de sorrir às crianças Ali ficou Um dia qualquer Depois de vários anos Sentado em um parque Olhando seus sapatos Ruminando solidões Com seu abrigo negro Suas mãos nos bolsos Em silêncio

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E chegou o guarda do parque Pensando que era um mendigo E o Senhor Que faz aqui O disse inquiridoramente Deus lentamente Levantando a vista O olha desde o fundo É exatamente O que me tenho perguntado Já por vários meses Responde Deus sem Deus Quase morto de vergonha.

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