Tex Willer: Um super-herói no velho oeste estadunidense?

May 25, 2017 | Autor: Ézio Sauco | Categoria: Comic Book Studies, Fumetti
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Tex Willer: um super-herói no velho oeste estadunidense? Ézio Sauco Socca1 Rede de Estudos de Narrativas Gráficas Universidade Federal do Pampa - 2014 [email protected]

Resumo: Esta comunicação pretende analisar o personagem Tex Willer com o objetivo de investigar se os seus elementos constitutivos correspondem com aqueles presentes no personagem-tipo super-herói. Criado na Itália por Gian Luigi Bonelli e Aurelio Gallepini, Tex é publicado, ininterruptamente, desde 1948, sendo ainda, traduzido para diversas línguas. Sua criação e o seu desenvolvimento estão relacionados diretamente com o período que é identificado por nós como a primeira crise do sistema dos quadrinhos italianos. Entendemos como o marco inicial dessa crise a nacionalização da produção de quadrinhos naquele país, devido exigência do Ministero della Cultura Popolare (MinCulPop), durante o governo fascista de Benito Mussolini. Com isso, histórias em quadrinhos produzidas nos Estados Unidos da América precisavam ser refeitas por quadrinistas italianos. A alteração na dinâmica de produção e recepção desses quadrinhos proporcionou que artistas italianos se apropriassem de temáticas identificadas com a cultura estadunidense, desenvolvendo-as, muitas vezes, a partir de uma nova perspectiva. Dentre essas temáticas estava aquela que trata do povoamento do oeste da América no século XIX e que é inaugurada na Itália com a publicação de “Kit Carson”, de autoria de Rino Albertarelli, em 1937. As influências dessa conjuntura permaneceram mesmo com o fim do governo fascista na Itália, agora influenciada pelos Estados Unidos, criando uma tradição de história em quadrinhos que acabavam por tematizar a colonização oeste americano. Nesse cenário surge o personagem Tex em 1948, um cowboy da segunda metade século XIX, que acaba por se tornar um fora da lei, passando depois a se tornar um Ranger e chefe da tribo dos índios Navajos. Nesta proposta então, buscar-se-á compreender as características que definem um personagem-tipo (ECO, 1970), com o intuito de explorar aqueles aspectos de um personagem-tipo super-herói que podem ou não estar presente no personagem Tex Willer. Para a análise utilizaremos o arco “Conspiração contra Custer” (NIZZI e TICCI, 2003), números 406, 407 e 408, que possibilitará uma interpretação ampla que não desconsidere os diversos componentes organizacionais da narrativa.

Introdução O único ponto de contato aparente entre super-heróis e cowboys parece à relação entre esses dois tipos de personagens com a cultura estadunidense. Contudo, seriam eles personagens ficcionais tão distintos? Afinal, quais as características de um super-herói e o que habilita um personagem a estar dentro dessa classificação?

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Aluno do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa (Campus Bagé).

Compreendendo o super-herói como um protagonista-tipo, iremos neste trabalho procurar possíveis respostas para essas questões partindo em direção a identificação dos principais elementos constituintes do super-herói para melhor entendê-los (gênese, habilidades, caracterização, missão e nêmese) e, posteriormente, explorá-los no personagem Tex Willer com o objetivo de constatar se esse personagem - um cowboy, líder indígena e ranger - pode ser considerado um super-herói. Para tanto, teceremos algumas considerações a respeito do conceito de tipo para depois voltarmo-nos para aqueles elementos do super-herói que iremos desenvolver. E em seguida passaremos para a busca dos elementos do protagonista-tipo super-herói no arco “Conspiração contra Custer” e as considerações finais.

Western à Italiana O tema da colonização do oeste estadunidense no século XIX atravessou as mais diversas artes e fronteiras. Da literatura expandiu-se para o teatro, a opera, o cinema e as histórias em quadrinhos. Nessas duas últimas, esse tema esteve presente durante todo século XX, além de ter grande importância no desenvolvimento dessas artes. Segundo Sousa (2012), o filme O Grande Roubo do Trem, do diretor Edwin Porter, foi a obra que delimitou o western como um dos primeiros gêneros cinematográficos. Nos quadrinhos o western esteve tematizado, primeiramente, nas tiras. Sanfilippo (2010), aponta Lariat Pete do autor estadunidense Daniel McCarthy, como o primeiro quadrinho a tematizar o western. Com o surgimento do formato das revistas em quadrinhos, o tema desenvolveu-se e ganhou popularidade. Mas a colonização do oeste não foi, somente, abordada por quadrinistas estadunidenses. Na Itália o western desenvolveu suas características próprias, tanto temáticas quanto formais,

ganhando notoriedade com personagens como Kit Carson, Ken Parker, Mágico Vento, Tex. O personagem Tex Willer é um exemplo famoso pela sua longevidade, sendo publicado desde 1948, entre os quadrinhos de western. No entanto, Tex não é o primeiro personagem cowboy dos quadrinhos italianos, aponta-se “Kit Carson”, de Rino Albertarelli, publicado em 1937, como a primeira história em quadrinhos a tematizar o oeste estadunidense. Matteo Sanfilippo (2010) coloca Ulceda, la figlia del gran Falco della Prateria, do autor Guido Moroni Celso, de 1935, como a primeira história em quadrinhos italiana de western. Nessa época havia uma forte vigilância e desconfiança do Ministero della Cultura Popolare (MinCulPop), do governo de Benito Mussolini, com as possíveis mensagens ideológicas que as histórias em quadrinhos oriundas dos Estados Unidos poderiam passar para os jovens. Com isso, não tardou para que elas sofressem com os resultados dessa desconfiança. No caso da Itália, o que muitos leitores não sabiam era que a maioria dos mocinhos criados nos Estados Unidos tinha roteiros e desenhos feitos por artistas do próprio país, a partir 1938, uma vez que começou a vigorar nesse ano um decreto do Ministério da Cultura Popular, do ex-ditador Benito Mussolini (1883-1945), que nacionalizou a produção de quadrinhos no país – implicava que tudo que viesse da América deveria ser refeito no país. Não demorou e os heróis do faroeste made in Itália começaram a ser inventados também. (Silva Junior,2009: p22).

Essa alteração no mercado levou muitos quadrinistas italianos a criarem personagens e desenvolverem enredos com referências na cultura estadunidense. Essa apropriação de temáticas que alteraram a produção e recepção dos quadrinhos, entendemos como a primeira crise do sistema dos quadrinhos italianos. “Na Itália, surgiu uma infinidade de personagens a partir de 1938, como Pecos Bill, Pequeno Xerife, entre outros” (Silva Junior, 2009: 22). Tex surge nesse cenário, já com a queda do governo Mussolini e o fim da segunda

grande guerra, em 30 de setembro de 1948, criado por Gian Luigi Bonelli e Aurélio Gallepini. Nos anos que se seguiram após a guerra muitos outros personagens foram aparecendo nas páginas das histórias em quadrinhos italianas, revelando um interesse contínuo no velho oeste americano.

O Tipo As questões que envolvem o personagem-tipo parecem persistir ao longo do tempo. Autores como Umberto Eco, Lukács, Carlos Reis e Cristina Lopes, entre outros, voltaram-se para as especificidades do tipo em busca de uma melhor compreensão a respeito das características desse personagem. No entanto, podemos encontrar nesses autores definições divergentes quanto à sua construção. Reis e Lopes (1988) definem o tipo como uma subcategoria da personagem, capaz de sintetizar ideias abstratas e concretas com o objetivo de representar determinadas “dominantes (profissionais, psicológicas, culturais, econômicas etc.) do universo diegético em que se desenrola a ação, em conexão estreita com o mundo real com que estabelece uma relação de índole mimética” (p. 223). O filósofo húngaro György Lukács apontou sua lupa analítica sobre o aspecto histórico do tipo. Para o autor (1988), não é o caráter individual que caracteriza o personagem-tipo simplesmente, e, sim, conter como elemento constitutivo características históricas e sociais de um período. Assim, através do personagem-tipo, seria possível exibir, concretamente, marcas substanciais do homem e do seu período. Já Umberto Eco retoma a discussão sobre o tipo para refletir a respeito de seu papel na literatura de massa. Eco (1970) entende o tipo como uma consequência da ação narrada que

se realiza adequadamente de forma individual e convincente, persistindo na memória. Nesse personagem, o leitor consegue compreender todas as razões e motivos de seus atos, como se possuísse “um inteiro tratado bio-psico-sócio-histórico sobre tal personagem, chegando mesmo, através da narração, a compreendermos aquele individuo (censitariamente inexistente) melhor do que se o tivéssemos conhecido em pessoa [...]. (Eco, 1970: 222). Nesse caminho o autor acaba por definir o personagem tipo como uma fórmula imaginária, mas com maior individualidade do que as experiências que ela sintetiza e/ou simboliza.

Para Além da Capa e do Voo Os critérios que classificam um personagem como super-herói parecem estar calcados em dois elementos somente: superpoderes e vestimenta extravagante. Esses dois elementos apontados como essenciais para a classificação de um super-herói são explicitados com recorrência por leitores quando se busca diferenciar tal personagem de outro considerado um herói. Dessa forma, só podem ser super-heróis aqueles personagens que seguirem rigorosamente esses dois critérios, a ausência de um deles impede que o personagem seja assim classificado. Como exemplo podemos citar o caso do personagem Batman, que apesar de possuir um traje especial, não possui superpoderes aparentes, não sendo considerado um super-herói nessa acepção, mas ainda assim tomado como tal. Esses critérios, que buscam caracterizar o super-herói, acabam por criar um estereótipo desse personagem, excluindo, dessa maneira, elementos fundamentais da sua constituição. Assim são excluídas as articulações dos elementos característicos do personagem que se desenvolvem na construção da narrativa, impedindo também que se análise esse personagem como um tipo, nesse caso, um protagonista-tipo super-herói. Nesse sentido então, o

super-herói é um tipo especifico de protagonista, assim como o anti-herói, herói trágico, herói-vilão. O super-herói, mais do que voar e vestir roupas extravagantes, constitui-se narrativamente por diversos tropos2*. E os elementos que podemos buscar identificar na narrativa para a partir disso definir um personagem como super-herói são gênese, habilidades, caracterização, missão e nêmese. Esses elementos, constantes na constituição desse tipo específico de protagonista, podem ser encontrados nos mais diversos gêneros e não somente nas histórias em quadrinhos.

Em busca de um Super-Herói? Colocadas as características que consideramos relevantes e essenciais para definir um protagonista-tipo super-herói (gênese, habilidades, caracterização, missão e nêmese), iremos confrontá-las com o personagem Tex Willer com o objetivo de averiguar se elas estão presentes na constituição desse personagem. Para isso, utilizaremos o arco “Conspiração Contra Custer” (Nizzi e Ticci, 2003), exemplificando com uma referência as imagens que estão dispostas em anexo.

Gênese É uma narrativa de origem, que revela como o personagem surgiu ou como se tornou um super-herói, assim como desenvolveu e/ou adquiriu habilidades sobre-humanas.

* A discussão a respeito da caracterização do protagonista-tipo super-herói faz parte de uma pesquisa da Rede de Estudos de Narrativas Gráficas (ReNaG), grupo da Universidade Federal do Pampa sob coordenação do professor Rodrigo Borges de Faveri. 2 Os Tropos são recursos narrativos que possuem uma grande função de sintetizar imagens convencionais reconhecidas. Conserva uma especificidade cultural, diferenciando-se, dessa maneira, do arquétipo, que possui função e estrutura que produzem significado universal.

No caso do personagem Tex, podemos pensar em duas origens, tendo em vista que possui dois campos de ação, que se relacionam, mas são distintos. O primeiro como homem branco e o segundo como chefe dos índios Navajos. A origem de Tex está relacionada com a morte de seu pai, Ken, assassinado após um roubo de gado no rancho onde residia com seus filhos, Tex e Sam Willer, e um amigo da família, que ensinou Tex a atirar. Após a morte do pai, Tex sai à procura dos assassinos, obtendo êxito em sua vingança. Depois seu irmão também é assassinado, novamente Tex vinga-se dos assassinados, porém, dessa vez, acaba por se tornar um procurado pela justiça. Mesmo sendo procurado, Tex possuía um senso de justiça inabalável, o que o levou, posteriormente, após resolver sua situação perante a lei, a se tornar um ranger. A segunda origem de Tex está ligada com seu casamento com Lilyth, filha de Flecha Vermelha, chefe de todas as tribos navajos. Após a morte de Flecha Vermelha e de sua esposa, Tex acaba se tornando o grande chefe dos navajos. Assim, além de conduzir os navajos, Tex volta-se para os problemas dos índios e problemas externos, aqueles que envolvem acordos políticos e situações de conflito com o homem branco. Apesar de no arco “Conspiração contra Custer”, Tex atuar em seus dois campos de ação, como homem branco e como chefe navajo, não encontramos nenhuma das suas narrativas de origem. Nele só encontramos uma referência ao fato de um homem branco ser chefe de uma tribo, entretanto, de que forma isso ocorreu não é discutido na narrativa (Ver figura 1).

Habilidades As habilidades do protagonista-tipo super-herói são capacidades sobre-humanas, especializadas, associadas e decorrentes de sua gênese, podem ser ainda resultantes de

manipulações ou experiências cientificas. No personagem Tex, podemos encontrar várias habilidades sobre-humanas como precisão (mira) incomum ao atirar, capaz de tirar um revolver da mão de um bandido, rapidez insuperável quando saca a arma, força sobre-humana que leva uma pessoa a desmaiar com apenas um soco e habilidade mais do que o normal em lutas sem armas. Das habilidades mencionadas encontramos na história analisada, a super-precisão capaz de tirar uma arma sem acertar a mão do oponente (ver imagem 2), mas não encontramos as demais habilidades sobre-humanas que o personagem possui.

Caracterização A caracterização nesse tipo de protagonista refere-se ao uso do uniforme característico, que pode ou não ocultar sua identidade, atribuir habilidades extras ou acentuá-las. Em outros casos a atuação, denominação e habilidades podem basear-se em um animal, assim como sua psicologia influenciada pelo ethos do animal caracterizado. Na história selecionada, Tex utiliza-se das suas duas caracterizações, cada uma delas relacionada à sua gênese. A primeira, com calça jeans, camisa amarela, chapéu e botas. E a segunda sua roupa indígena, utilizada quando sua ação envolve assuntos relacionados aos índios. (Ver imagem 3).

Missão A missão é associada e definida pela natureza do sistema de valores que o personagem expressa. A missão permanece em seu horizonte de realizações, dependendo, muitas vezes, da superação dos limites impostos pela sua nêmese.

Tex possui a missão de fazer justiça nas mais diversas situações e lugares que estiverem ocorrendo atos ilegais ou injustos dentro de seu sistema de valores, seja em comunidades indígenas, evitando que o homem branco invada terras ou buscando soluções de impasses políticos entre índios e o governo americano, como em grandes cidades e até em outros países. No arco “Conspiração contra Custer”, Tex acaba por possuir diversas missões, proteger os índios de um possível ataque do general Custer, proteger o general de uma tentativa de assassinato, descobrir quem está por trás da conspiração contra Custer e tentar impedir a batalha de Little BigHorn.

Nêmese O antagonista é que indica os limites da capacidade de realização dos objetivos determinados pela missão do super-herói. Caracterizado nos mesmos termos que definem o protagonista, diferenciando-se por uma missão com objetivos opostos. Assume o papel de vilão, podendo ainda caracterizar-se como anti-herói. É inseparável de seu opositor protagonista, ao ponto que sem ele a função e o sentido de ambos torna-se incompleta. Como grandes antagonistas de Tex, podemos nomear Mefisto, Tigre Negro e Yama. Eles se unem a aqueles que Tex enfrente uma única vez, como fazendeiros ambiciosos, militares sedentos por sangue, pistoleiros, assaltantes e assassinos. Em “Conspiração Contra Custer” encontraremos diversos antagonistas, mas aquele que impede que a situação se resolva é o próprio general Custer (ver imagem 4).

Conclusão Tentamos

nesse

trabalho

discutir

sobre

os

elementos

característicos

do

protagonista-tipo super-herói com o objetivo de uma melhor compreensão dessa categoria de personagem. Nesse sentido, buscamos com um esboço de análise de um arco da série do personagem Tex, mostrar que um super-herói não é caracterizado, simplesmente, em nível imagético, mas, também, que seus elementos se desenvolvem na narrativa e é através dela que podemos procurar subsídios para identificar esse tipo especifico de protagonista. Não foi possível encontrar no arco “Conspiração contra Custer” todos os elementos que caracterizam um protagonista-tipo super-herói. Esses elementos, porém, podem ser facilmente conjuminados em outras narrativas do personagem Tex Willer, que hoje já passa da edição 500. Assim, podemos afirmar que o personagem Tex Willer é um protagonista super-herói. Um super-herói à italiana no velho oeste estadunidense. Bibliografia: Eco, U. (1970). Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva. Eco, U. (2011). Sobre a literatura. Rio de Janeiro: BestBolso. Nizzi, C. (roteirista) e Ticci, G. (desenhista) (2003). Tex 406: Conspiração contra Custer. São Paulo: Mythos Editora. Nizzi, C. (roteirista) e Ticci, G. (desenhista) (2003). Tex 407: As Grandes Pradarias. São Paulo: Mythos Editora. Nizzi, C. (roteirista) e Ticci, G. (desenhista) (2003). Tex 408: A batalha de Little BigHorn. São Paulo: Mythos Editora. Reis, C. e Lopes, A. C. M (1988). Dicionário de Teoria da narrativa. São Paulo: Editora Ática.

Sanfilippo, M. (2010). Western a fumetti? Su alcune pubblicazioni statunitensi e italiane. En L’invenzione del West(ern). Furtuna di un genere nella cultura del Novecento (pp.148-158). Verona: Ombre Corte. Silva Junior, G. (2009). O mocinho do Brasil: A história de um fenômeno editorial chamado Tex. São Paulo: Editora Laços. Sousa, A.V.R. (setembro, 2012). Jonah Hex: Um cowboy americano tipicamente italiano. En Anais da III jornada de estudos de romances gráficos, Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Universidade de Brasília, Brasil.

ANEXOS

Figura 1. Tex (Nizzi e Ticci, 2003, edição 406, p. 26-27).

Figura 2. Tex (Nizzi e Ticci, 2003, edição 406, p.72-73)

Figura 3. Tex (Nizzi e Ticci, 2003, edição 406, p.34-35)

Figura 4. Tex (Nizzi e Ticci, 2003, edição 408, p.48-49)

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