TEXTO APRESENTADO NO V EPHIS, MAIO DE 2016

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TEXTO APRESENTADO NO V EPHIS, MAIO DE 2016. Historicidade e memorialismo em Baú de ossos Resumo: O objetivo desta apresentação é propor uma análise crítica da obra Baú de ossos, do médico e escritor juiz-forano Pedro da Silva Nava (1903-1984). Lançado em 1972, este livro é o primeiro de uma coletânea de mais seis volumes que compõem a sua obra memorialística, considerada a mais importante do gênero já feito no Brasil. Referência para muitos estudos de crítica literária, Baú de ossos será analisado sob o ponto de vista da teoria da história. Assim, vamos discutir como a obra de Nava elucida algumas questões centrais no debate historiográfico contemporâneo, tais como as relações entre memória e história, e a expressão da historicidade do humano (nos termos propostos por Martin Heidegger). Por fim, será apontado possíveis contribuições que o paradigma da presença (conforme teorizado por Gumbrecht) oferece para uma leitura crítica da narrativa memorialística. Introdução Muitos autores concordam que o reconhecimento do passado como um âmbito temporal afastado e distinto do presente tenha sido radicalizado com o advento da modernidade (GADAMER, 2006; KOSELLECK, 2006). Ainda assim, é possível afirmar que todos os seres humanos possuem alguma “consciência do passado” (LOWENTHAL, 1998). Os modos de “percepção e apercepção da experiência do tempo” são, entretanto, bastante variados na história (GOUREVITCH, 1978); e o que Gadamer e outros teóricos chamaram de “consciência histórica” é apenas um dos modos possíveis de elaboração do passado como experiência. No interior desse modo de compreensão da temporalidade fundamental do homem e a determinação “histórica” nesse sentido estrito, podemos afirmar que a memória e a história são duas formas distintas e privilegiadas de apropriação do passado. Mas de que forma podemos compreendê-las? Quais são os pontos de aproximação e distanciamento entre elas? E de que forma elas contribuem para uma reflexão sobre o problema maior da temporalidade do humano? Essas são as indagações que norteiam o presente trabalho (embora não exista aqui nenhuma pretensão de esgotá-las). Tal reflexão terá

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como suporte a leitura de uma das obras mais expressivas da literatura brasileira: Baú de ossos, do médico e escritor juiz-forano Pedro da Silva Nava (1903-1984) e publicada pela primeira vez em 1972. Nossa hipótese é que o livro constitui uma “porta de entrada” promissora para trabalharmos as questões sobre a historicidade do humano. Esta apresentação constitui uma primeira aproximação ao tema aqui proposto, e portanto se caracteriza muito mais pelo investimento em certas perguntas do que propriamente uma busca por respostas definitivas. Primeiro, vamos situar a nossa reflexão no âmbito da História da Historiografia. A seguir, vamos pontuar alguns aspectos da relação entre memória e história, entendidas como modos distintos (mas inter-relacionados) de compreensão do passado. Por fim, veremos como a narrativa memorialista de Nava pode ser lida à luz dos referenciais aqui propostos. História da historiografia – uma analítica da historicidade Os trabalhos de História da Historiografia são em geral concebidos como análises críticas de obras historiográficas “propriamente ditas”, isto é, que textos que apresentam uma estrutura identificada como uma narração histórica. Assim, esse campo de estudos se apresenta como uma autorreflexão do fazer história (não apenas enquanto res gestae, mas também como historia rerum gestarum), o que constitui um objetivo legítimo e mesmo essencial para o avanço do conhecimento. Entretanto, é possível ampliar o escopo do campo para analisar formações discursivas variadas, além das narrativas historiográficas stricto sensu. É o que propõe o professor Valdei Lopes Araújo, quando afirma, a partir da fundamentação teórica de Martin Heidegger, que a História da Historiografia deve se ocupar sobretudo em analisar um certo conjunto de fenômenos que podem ser agrupados pelo conceito de historicidade, definido como “a estrutura do acontecer humano, ou a temporalização de sua temporalidade”. (ARAUJO, 2013, p. 39, grifos do autor). O conceito de historicidade é bastante polissêmico. Muitas vezes, o termo aparece como a ideia de que uma ação ou discurso só podem ser entendidos “no seu tempo”, isto é, em referência ao contexto em que “se inseriam”. Caso contrário, o sentido do acontecimento é distorcido, levando a incompreensões que caracterizariam um grave anacronismo. Considerar a historicidade de um acontecimento significaria “situá-lo no seu devido contexto” para então proceder à sua interpretação mais apropriada do objeto em questão. Ainda nessa perspectiva,

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o conhecimento histórico seria o grande guardião da historicidade, pois é ele que, em última instância, garante uma compreensão verdadeira de algo “no seu devido tempo”. Por outro lado, o conceito pode ser ampliado em sua significação para se referir a uma estrutura temporal do ser do homem, isto é, o sentido de sua existência mais própria. Nesse segundo sentido, a historicidade poderia ser definida, a partir de uma concepção heideggeriana, como “a estrutura do acontecer humano, ou a temporalização de sua temporalidade” (ARAÚJO, 2013, p. 39, grifos do autor). É nesse sentido que se deve entender a oposição – típica de Ser e Tempo – entre historicidade imprópria, próxima da primeira concepção, a qual imagina que o homem vive “no tempo”; e historicidade própria, entendida como a estrutura temporal do acontecer do Dasein, ente lançado entre nascimento e morte e que nós mesmos somos a cada vez. A historicidade própria é entendida como um modo de ser do Dasein e, em vez de se limitar a uma operação de “recontextualização”, faz referência ao caráter modalizante do seu acontecer – enlaçamento entre futuro, passado e presente (HEIDEGGER, 2012). Na maioria das vezes, acusa Heidegger, nos encontramos numa “compreensão vulgar do tempo” segundo a qual imaginamos o homem como um ente simplesmente dado “no tempo”, como se este fosse uma dimensão do espaço, que faz ocultar sua constituição originária. Tal compreensão vulgar define o tempo como uma mera sucessão de “agoras” quaisquer, o que leva a outro problema de se confundir a existência/realidade com o ser-nopresente, como se este fosse a única dimensão propriamente “real” do tempo. À “compreensão vulgar do tempo” corresponderia também uma “compreensão vulgar da história”, pensada como uma mera sucessão de acontecimentos dentro de um modelo uniforme e linear do tempo. Assim, seria função da historiografia apresentar a ligação entre passado e presente, sendo este o ponto de referência para se interpretar o que se passou. Em contraposição à perspectiva “vulgar” do tempo e da história, Heidegger propõe outro horizonte de reflexão, afirmando que somente o entendimento mais sólido do modo de ser da história enquanto historicidade, permite “concluir de que maneira a história pode tornar-se objeto possível da historiografia” (HEIDEGGER, 2012, p. 307, grifos do autor). Assim, uma História da Historiografia enquanto campo disciplinar deve se ocupar com as “aberturas historiográficas da história” (Ibidem, p. 468), isto é, as ações, discursos e acontecimentos que expressam de modo privilegiado os caracteres propriamente temporais do humano, bem como o desvelamento do modo de ser da história, transformando-se então numa analítica da historicidade, que

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Tal proposta de renovação epistemológica poderia ampliar significativamente o escopo da História da Historiografia para a análise de formações discursivas variadas, uma vez que a ciência histórica não detém o monopólio da historicidade do Dasein, mas é esta quem dá origem à primeira, bem como a outras formas menos “metódicas” de narração do passado (ARAÚJO, 2013; HEIDEGGER, 2012; TONIN, 2015). A historiografia deve ser compreendida existencialmente, como uma das formas provenientes da historicidade do Dasein, e essa compreensão leva a uma multiplicação de recortes e fontes, dentre as quais a narrativa memorialista – na medida em que expressa de maneira especial a experiência da historicidade. Justifica-se, assim, nossa aposta de tomar as Memórias de Pedro Nava desde uma perspectiva “histórica”, isto é, do ponto de vista da Teoria e História da Historiografia enquanto analítica da historicidade. Mas antes de partir para a análise mais detida da obra que propomos investigar, é importante tecer algumas considerações sobre a relação entre memória e história. Memória e História – uma relação de tensão, não de oposição Conforme afirmamos acima, memória e história constituem formas específicas de acesso ao passado. Elas possuem modos de ser particulares, mas não há consenso sobre como se daria a relação entre elas. Alguns teóricos defendem que memória e história se opõem mutuamente. É o caso, por exemplo, de Pierre Nora: “Memória, história: longe de serem sinônimos, tomamos consciência que tudo opõe uma à outra” (NORA, 1993, p. 9). A memória, de acordo com Nora, “é vida”, sempre afetiva e um elo vivido no presente, carrega por grupos vivos e enraizada no concreto e no espaço. A história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, é uma operação intelectual que demanda análise e discurso crítico – portanto um certo distanciamento do vivido. Ainda de acordo com Nora, “a história começa onde termina a memória”. Não há relação de complementaridade, mas de oposição e, por vezes, de hostilidade entre elas: “No coração da história trabalha um criticismo destrutor de memória

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espontânea. A memória é sempre suspeita para a história, cuja verdadeira missão é destruí-la e a repelir. A história é deslegitimação do passado vivido” (ibidem, p. 9). Uma segunda perspectiva argumenta que entre memória e história não há nenhuma oposição radical, mas sim um diálogo produtivo – ainda que mantendo as suas diferenças na forma de acessar o passado. Fernando Catroga, por exemplo, soube bem explorar as interseções entre elas, ao afirmar que: Só a partir de uma concepção cientificista se pode aceitar esta radical separação entre a memória e a historiografia. Assim, se é verdade que a história vivida se distingue da história escrita, o certo é que outras características, apresentadas como típicas da memória (seleção, finalismo, presentismo, verossimilhança, representação) também se encontram no trabalho historiográfico. (...) Afinal, a historiografia contemporânea também opera com uma perspectiva não contínua de tempo e reconhece a impossibilidade de se aceitar o vazio entre o sujeitohistoriador e seu objeto (CATROGA, 2001, p. 40).

Nem a história se configura como um discurso puramente “científico” do que houve, nem a memória se exime da confrontação com as lembranças dos outros e com os vestígios do passado – uma característica que, como veremos, é bastante presente na narrativa de Pedro Nava. Paul Ricoeur (2007) caracterizou como “indecidível” a questão da primazia entre memória e história, mas destacando que ambas são modos legítimos de acesso ao passado: a memória como matriz da história; a história instruindo a memória. Ambas contribuindo para a elaboração da experiência do tempo, isto é, da historicidade própria, palco do diálogo possível entre elas. Veremos ao longo deste texto como o livro de Nava pode ser lido a partir desses pontos de aproximação. Mas esse diálogo não apaga as especificidades e divergências entre elas, como a questão e o lugar da verdade em cada uma. Enquanto o texto historiográfico tem a pretensão de estabelecer afirmações verdadeiras sobre o passado, utilizando para isso uma série de procedimentos que Michel de Certeau (1982) reuniu com o conceito de “operação historiográfica”, a memória, por sua vez, embora também tenha a mesma ambição veritativa como meta do seu relato, tem a sua pretensão de verdade mais suscetível à suspeição do ouvinte/leitor e do próprio autor das memórias, já que ela não põe entre parênteses “as paixões, emoções e afetos do sujeito-evocador” (CATROGA, 2001, p. 39). Enquanto na narrativa histórica são utilizados uma série de critérios de prova para a validação do seu relato (formas dos argumentos, apresentação e confrontação de fontes, comentários de outros historiadores, metodologia, notas de rodapé, etc.), na narrativa memorialista o critério fundamental é o apelo à fidelidade e boa-fé do narrador-evocador. Além disso, o testemunho é

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sempre suspeito para o historiador (apesar de ser a base do seu trabalho), pois não apenas “carece de provas como ainda a testemunha pode se enganar sem que sequer queira enganar. [...] A testemunha corre o forte risco de não passar de uma testemunha influenciada”. (PIERRON, 2010). O historiador vê nisso a necessidade de confrontar as testemunhas, de modo a se aproximar da “verdade”; o memorialista, ao contrário, é o próprio testemunho do objeto narrado – a sua própria experiência vivida. (E quem melhor que ele próprio para nos relatar a sua vida?). Essa diferença é decisiva na forma como ambas representam o passado: a história pretende explicar e compreender, utilizando uma série de procedimentos de cunho científico; diferentemente, a memória “será sempre axiológica, fundacional, sacralizadora e reatualizadora de um passado que tende a fundir, no presente, a subjetividade com a objetividade” (CATROGA, 2001, p. 40). Ricoeur vai nessa mesma direção, quando diferencia as pretensões de cada uma: a história de “representar em verdade o passado”, a memória de “representar o passado com fidelidade” (RICOEUR, 2007, p. 240-241, grifos dele). Isso colocaria um novo problema: qual o lugar da narrativa memorialística? Seria ela uma narrativa de natureza histórica ou ficcional? Contra essa dicotomia fechada, que tende a situar a escrita ficcional como “mentirosa” em contraposição à “aporia da verdade” em história, Luiz Costa Lima propõe um novo uso do conceito mais amplo de literatura. Para o autor, esse conceito abarcaria um território muito além do discurso ficcional, incluindo aquele conjunto de textos não possuem uma posição bem definida – que Lima chama de formas híbridas. “Por formas híbridas entendemos aquelas que, tendo uma primeira inscrição reconhecida, admitem, por seu tratamento específico da linguagem, uma inscrição literária. Para tanto, será preciso que se reconheça a permanência da eficácia das marcas da primeira, ao lado da presença suplementar da segunda”. (LIMA, 2006, p. 352, grifos do autor). O caso das memórias e das autobiografias – dois tipos narrativos próximos, mas que mantém suas peculiaridades1 – é o exemplo analisado por Lima para pensar essas formas híbridas. O memorialismo pode ser pensado a partir do conceito porque ela é, “de imediato, um documento histórico, uma fonte historiográfica que, configurando-se por um correlato sensível do que foi vivido, alcança uma inscrição literária suplementar” (Ibidem, p. 353). Esse                                                                                                                         1

As diferenças entre elas também foram sintetizadas por Luiz Costa Lima: “Como o termo ‘autobiografia’ se difunde a partir do final do século XVIII, observa-se a tendência de assim chamar o que antes se designava como memória(s) ou confissão(ões). As memórias, contudo, se diferenciam pelo realce da face pública da experiência de vida de alguém, seja o próprio autor, seja um terceiro; realce que, ao se tratar da própria vida daquele que narra, frequentemente contém momentos de sua face interna, i.e., de como ele se via a si próprio. As Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, sendo predominantemente memórias, não deixam de ser, ao mesmo tempo, autobiografia” (LIMA, 2006, p. 353). Devido a essa diferenciação é que preferimos utilizar o termo “memórias” e “narrativa memorialista” para a obra de Pedro Nava.

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conceito de formas híbridas permite situar melhor a narrativa de Nava, em vez de procurar enquadrá-la de forma categórica como história ou ficção.2 Baú de Ossos e a historicidade do humano Conforme afirmamos anteriormente, o problema da historicidade não se resume a conceber as ações e produções culturais do humano “no seu devido tempo”, mas antes em considera-las como expressões de uma temporalidade mais fundamental, constitutiva do próprio Dasein. Essa advertência inicial, contudo, não nos exime de contextualizar a obra aqui em questão. Como foi dito, Baú de ossos foi publicado pela primeira vez em 1972, mas o projeto de sua escritura iniciou-se em 1968, quando Nava contava quase 65 anos de idade e se aposentava da carreira de médico reumatologista (BOTELHO, 2012). Esse projeto foi levado a cabo por Nava até a sua morte, em 13 de maio de 1984, totalizando seis obras completas além de Baú de ossos, Balão cativo (1973), Chão de ferro (1976), Beira-mar (1978), Galodas-trevas (1981) e O círio perfeito (1983) – além de 36 páginas escritas do que seria o sétimo volume, Cera das almas, que permaneceu inédito até 2006. Cada uma dessas obras contempla uma parte da formação de Pedro Nava, e vão desde as reminiscências dos seus antepassados mais remotos, passando pela sua infância e juventude, e chegando até a sua maturidade. Mas vale ressaltar que não se trata de uma narrativa linear, já que são constantes as suspensões do eixo temático e cronológico principal. No momento em que a obra foi escrita e publicada, o mundo assistia a grandes transformações, que caracterizaram a famosa geração de 1968. Era o período de consolidação e recrudescimento da ditadura militar, “que tentava tapar com a censura e a mentira qualquer discurso inteligente sobre a história do país”, e que o próprio Nava elencava como um dos fatores que o motivaram a escrever suas Memórias (ARRIGUCCI JR., 2012, p. 434). O impacto desse contexto no livro se percebe pelo próprio fato do autor fazer referências ao seu presente: “À hora em que escrevo estas lembranças, há astronautas maculando a face da Lua com solas humanas. Pela segunda vez” (NAVA, 2012, p. 279). Tratava-se, portanto, de um contexto de acontecimentos e transformações muito profundos em vários aspectos da vida social, e que não deixam de estar presentes na obra de Nava. Certamente, esta seria uma importante motivação para que o autor recuperasse o                                                                                                                         2

Sobre a questão da autobiografia e do memorialismo como gênero literário, ver também GUSDORF, 1991; LEJEUNE, 1994; WEINTRAUB, 1991.

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passado como forma de dar sentido a um presente de grande turbulência. Mas isso não apenas significaria reduzir o projeto memorialístico naviano, como também limitaria as possibilidades de uma leitura historiográfica de sua obra (no sentido da historicidade própria discutido acima). A indicação de que tal leitura se mostra adequada é dada pelo próprio autor, quando, refletindo sobre o sentido de sua escrita, afirma numa entrevista que “escrever memórias é libertar-se, é fugir. Temos dois terrores, a lembrança do passado e o medo do futuro. Pelo menos um, a lembrança do passado, é anulado pela catarse de passa-la para o papel” (Apud BOTELHO, 2012, p. 7). Expressa-se aí o enlaçamento do passado e do futuro no presente, enlaçamento que aparece sob o signo do terror e que o autor quer liberar pela experiência da catarse – termo que em grego significa “purgação” – proporcionada pela escrita das memórias. A evocação do passado responde a uma inquietude e uma angústia, ansiosa de encontrar o tempo perdido e dotá-lo de significação pela narrativa (RICOEUR, 2010). Assim, podemos seguir esta pista para propor a seguinte linha de raciocínio: a sua obra visa (futuridade) expurgar as sombras do passado (o ter-sido) pela escrita (tornar-presente), que pode dar novos sentidos às experiências vividas pelo evocador. E isso porque é na própria narração das memórias que se faz possível atribuir sentidos à temporalidade do humano. Aqui, vale lembrar a famosa tese de Paul Ricoeur: “O tempo torna-se tempo humano na medida em que está articulado de modo narrativo, e a narrativa alcança sua significação plenária quando se torna uma condição da existência temporal”. (RICOEUR, 2010, v.1, p. 93). É pela composição narrativa das suas memórias que Nava procura conferir sentidos à experiência do tempo, elucidar seu passado a fim de discernir a estrutura de sua identidade no tempo. Com isso, estamos propondo que a escrita das suas lembranças (mesmo aquelas de caráter mais íntimo e pessoal) permite a Nava atribuir sentidos não apenas para a sua identidade pessoal na discrepância do tempo, mas expressa e elabora modos de compreensão da historicidade humana que transcendem o âmbito da sua intimidade individual. Ao mesmo tempo, essa elaboração narrativa da experiência do tempo pode ser apreendida por meio de uma “analítica da historicidade”, destacando as semelhanças e diferenças com relação ao modo de apreensão do passado operado pela discurso da história. Nesse sentido, é interessante refletir sobre a dimensão fortemente coletiva das Memórias de Pedro Nava. Embora o ato de lembrar seja uma faculdade estritamente pessoal, elas sempre possuem como referência o mundo e os outros (CANDAU, 2011; HALBWACHS, 1990). Com efeito, o próprio fato de Baú de ossos ter como eixo narrativo

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principal – entre muitas outras histórias que dele brotam – a rememoração dos seus antepassados (muitos dos quais Pedro Nava não chegou a conhecer), dá maior visibilidade à dimensão coletiva de suas memórias, Aliás, uma das inovações mais significativas das Memórias de Nava seria, segundo José Maria Cançado, que elas extrapolam uma certa tradição do memorialismo brasileiro em situar os acontecimentos rememorados sob a gerência de um eu autoconsciente e contínuo, e de conter uma certa autoafirmação pessoal e do grupo (família e classe social) com o qual o evocador se identifica. Ainda segundo o crítico, a obra de Nava se direciona “para o aberto e para a universalização da memória e da sua matéria” (CANÇADO, 2003, p. 47), uma característica já identificada por Antonio Candido, para quem as Memórias desencadeiam uma “estilística da universalização” (CANDIDO, 1989). Em Baú de ossos, o narrador enfatiza em vários momentos as descontinuidades e pluralidades que formam a sua identidade pessoal, e também o acontecer histórico geral. Ao reconhecer os seus familiares no seu próprio “jeito de ser”, percebe a “si mesmo como um outro”, e as memórias dos antepassados estão entranhadas no seu próprio ser. Entretanto, vale ressaltar que a dimensão coletiva da memória (e a alteridade como elemento constitutivo da identidade pessoal) não se limita aos familiares, mas também faz referências aos grupos sociais mais amplos em que Nava e seus parentes conviveram e, em vários momentos de Baú de ossos, encontramos análises preciosas de interpretação do Brasil. Assinale-se, aqui, para uma verdadeira peça de interpretação da “mineiridade” no início do segundo capítulo da obra (NAVA, 2012, p. 131-139). Tais referências são tão importantes na obra que são partes constitutivas do próprio modo de Nava narrar o passado e situar a si mesmo na dispersão do tempo. Aliás, esse modo “heterobiográfico” de figuração da identidade pessoal não deixa de conter paralelo com a forma de se imaginar a própria identidade brasileira, como aponta alguns de seus críticos (ARRIGUCCI JR., 2012; CANÇADO, 2003). Essa dimensão coletiva da memória e sua integração com a identidade pessoal, a qual vai sendo tecida ao longo da narrativa, aparece logo na abertura do livro: Eu sou um homem pobre do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se não exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome de rua Principal e ficou sendo depois a rua Direita da Cidade de Juiz de Fora. Nasci nessa rua, no número 170, em frente à mecânica, no sobrado onde reinava minha avó materna (NAVA, 2012, p. 35).

Desde o início, Nava se apresenta com referência a lugares espaciais e referências a figuras históricas, como o bandeirante Garcia Rodrigues, que dirigiu a abertura do Caminho

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Novo, e a Henrique Halfeld, um dos fundadores da cidade de Juiz de Fora e com quem sua avó materna foi casada. De saída, o narrador-evocador se coloca não como um eu isolado, mas pleno de historicidade e situado em relação aos outros. O autor compreende a si mesmo a partir de referências “externas”, como a identificação de traços característicos de seus antepassados na sua própria formação pessoal. Assim, o passado se temporaliza de forma especial, pois se enraíza na cotidianidade dos gestos, nas tendências corporais e disposições mentais constitutivas da existência humana: Os mortos... Suas casas mortas... Parece impossível sua evocação completa porque de coisas e pessoas só ficam lembranças fragmentárias. Entretanto, pode-se tentar a recomposição de um grupo familiar desaparecido usando como material esse riso de filha que repete o riso materno; essa entonação de voz que a neta recebeu da avó, a tradição que prolonga no tempo a conversa de bocas há muito abafadas por um punhado de terra (...); esse jeito de ser hereditário que vemos nos vivos repetindo o retrato meio apagado dos parentes defuntos o fascinante jogo da adivinhação dos traços destes pela manobra da exclusão” (NAVA, 2012, p. 63).

Além disso, Pedro Nava tinha claro que essa dimensão coletiva da memória se impõe não apenas pela sua constituição interna, mas também o seu papel de fortalecer os laços de união entre os indivíduos e a permanência de certas tradições. Além de coletiva no conteúdo, a memória é o fundamento da existência do grupo social – e, nesse medida, do próprio ser do sujeito-evocador: A memória dos que envelhecem (e que transmite aos filhos, aos sobrinhos, aos netos, a lembrança dos pequenos fatos que tecem a vida de cada indivíduo e do grupo com ele estabelece contatos, correlações, aproximações, antagonismos, afeições, repulsas e ódios) é o elemento básico na construção da tradição familiar. [...] E com o evocado vem o mistério das associações trazendo a rua, as casas antigas, outros jardins, outros homens, fatos pretéritos, toda a camada da vida de que o vizinho era parte inseparável e que também renasce quando ele revive – porque um e outro são condições recíprocas (NAVA, 2012, p. 39).

Essa ênfase na coletividade também se encontra no fato de Nava produzir suas Memórias numa temporalidade que vai além do seu próprio nascimento, apropriando-se de reminiscências que ele mesmo não produziu ou vivenciou diretamente, mas que são partes constitutivas de suas memórias e da sua própria identidade. Para tanto, ele se vale de uma enorme variedade de fontes: as histórias que lhe foram contadas pelos seus próceres, a consulta em documentos escritos, bem como imagens e fotografias que Nava reuniu ao longo de toda a vida, e que são elementos estruturantes de sua obra.

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A relação com os documentos é declarada em diversas passagens de Baú de ossos. Por exemplo, ao narrar sobre um amigo de seu avô paterno e padrinho de casamento de seus pais: “A esfumada lembrança que tenho dele reaviva-se graças a velhas fotografias suas” (NAVA, 2012, p. 309). E a memória de seu avô paterno – que Pedro Nava não conheceu – se fará com o uso de “retratos, cartas e as reminiscências que colhi de minha avó, de tios, tios-avós e de um seu caixeiro” (NAVA, 2012, p. 43). O uso constante de fontes escritas, orais e iconográficas no livro já indica uma segunda aproximação entre memória e história como modo de compreensão do passado. É possível ir além e afirmar que, ao longo da narrativa, ambas se instruem mutuamente, em vez de se manterem em polos dicotômicos e irreconciliáveis. Em Baú de ossos percebemos que é sim possível (e bastante profícuo) o diálogo entre ambos os modos de elaboração da experiência da experiência do passado. Em certos momentos, esse diálogo se explicita, quando Nava faz nova menção ao Caminho Novo que ligava Minas ao Rio de Janeiro, e para tanto faz referência à obra histórica de Diogo de Vasconcellos, um importante historiador de Minas Gerais (NAVA, 2012, p. 151). O uso desse recurso faz com que, por um lado, a memória se amplia e seja instruída pela historiografia e, por outro, essa história ganhe vida pela intersecção com a memória. Afinal, “história e memória são distinguíveis menos como tipos de conhecimento do que como atitudes relativas a esse conhecimento” (LOWENTHAL, 1998, p. 108). Em outra passagem, Nava nos conta a história de seu avô paterno, que foi para o Rio de Janeiro fugindo da grande seca de 1877 – que acometeu o Ceará e outras províncias do Nordeste – e abriu na antiga capital uma casa comissária. O narrador esclarece que não teve oportunidade de conhecer essa casa comissária, mas que havia visitado uma outra, cujo dono era amigo de seu avô, e a partir desta é que afirma conjecturar o que poderia ser aquela de seu avô. Mas, para auxiliá-lo, Nava também recorre a um outro tipo de fonte: Não conheço descrição viva e curiosa das casas comissárias do Rio de Janeiro como a que delas traçou meu tio afim Heitor Modesto d´Almeida, com suas reminiscências e as de seu pai, o velho Maneco Modesto. [...] O estudo de Heitor Modesto era resposta a um inquérito de Gilberto Freyre, feito quando da preparação de Ordem e progresso. [...] Tive-a em mãos e é um pouco de lembrança, um pouco pelas referências de Gilberto Freyre, que rememoro o que ali se dizia das casas comissárias (NAVA, 2012, p. 89-90).

Mas essa imbricação não poderia levar a exageros. A obra de Nava não poderia ser classificada como uma narrativa histórica em sentido estrito, e isso nem tanto pela ausência de

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elementos formais, mas sobretudo pelo modo como o autor se apropria das fontes que utiliza: elas estão ali para iluminar aspectos da própria identidade narrativa do sujeito-evocador, algo que não acontece numa obra de história, que pressupõe justamente o distanciamento entre o historiador e seu objeto. As perspectivas, motivações e objetivos com que cada discurso manuseia e seleciona as fontes são sensivelmente distintas: Atento agudamente nesses retratos no esforço de penetrar as pessoas que conheci (umas bem, outras mal) e cujos pedaços reconheço e identifico em mim. Nas minhas, nas deles, nas nossas inferioridades e superioridades. Cada um compõe o Frankenstein hereditário com pedaços dos seus mortos. Cuidando dessa gente em cujo meio nasci e de quem recebi a carga que carrego (carga de pedra, de terra, lama, luz, vento, sonho, bem e mal) tenho que dizer a verdade, só a verdade e se possível, toda a verdade (NAVA, 2012, p. 243).

Há nessa passagem outra questão que permite aprofundar o diálogo entre o discurso da memória e da história: a declaração e o lugar da verdade na escrita das Memórias. Para Philippe Lejeune, um característica que distingue a autobiografia de um texto de ficção é justamente a referencialidade que o primeiro necessariamente comporta.3 O “pacto autobiográfico” estabelecido entre autor e leitor é coextensivo a um “pacto referencial”, segundo o qual o autor-narrador-personagem não se limita apenas a apresentar-se pelo seu nome próprio, mas também sente a necessidade de dizer: “Eu juro dizer a verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade” (LEJEUNE, 1994, p. 76). Porém, como vimos anteriormente, o lugar da verdade na narrativa memorial não é o mesmo da narrativa histórica. Nesta a imaginação se faz também presente na elaboração do passado, mas está submetida à referência das fontes que ele dispõe. Sem fontes, aliás, não é possível o trabalho historiador. No discurso memorial ocorre de forma diferente. A utilização das fontes não representa obstáculo para a imaginação do narrador na reconstituição do passado – o que se apresenta, aos olhos do historiador, como mais um fator de suspeição, mas que permite ao sujeito-evocador explorar âmbitos mais profundos da existência humana, destacando as nuances e detalhes que geralmente não são tematizados pela historiografia, ocupada em descrever processos mais amplos. Dessa forma, o passado rememorado ganha em vivacidade, que se expressa pela atenção ao detalhe e ao inesperado (como as suas belas reflexões sobre o fenômeno da memória involuntária), assim como o papel maior da imaginação no trabalho de temporalização da experiência vivida.                                                                                                                         3

“Por oposición a todas las formas de la ficción, la biografia y la autobiografia son textos referenciales: de la misma manera que el discurso científico o histórico, pretenden aportar uma información sonre una “realidade” exterior al texto, y se someten, por lo tanto, a una prueba de verificación”. LEJEUNE, 1994, p. 76.

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Um exemplo: apesar de não ter convivido com seu avô paterno, Nava consegue reconstituir alguns aspectos da sua vida cotidiana, como o caminho que fazia da casa ao trabalho: “Não é difícil imaginar como ele [seu avô] faria esse caminho [da casa ao trabalho] se juntarmos à verdade o verossímil que não é senão um esqueleto de verdade encarnado pela poesia” (NAVA, 2012, p. 91). Uma forma de aproximação do passado a partir de um olhar mais microscópico e imaginativo, mas nem por isso menos legítima ou reveladora da experiência do passado. Ao propor juntar a verdade com o verossímil, Nava abre maior espaço para a imaginação na refiguração do passado. Ao mesmo tempo, porém, o seu discurso está em última instância sustentado pelo pacto estabelecido com o leitor, fundado numa relação “frágil”, já que este possui somente a credibilidade do testemunho, isto é, acreditar na fidelidade do narrador. Esse pacto de leitura se concretiza, por parte do autor, não apenas pelas declarações constantes de que está relatando “a verdade”, como também recorre à confrontação com as lembranças dos outros. Ao relatar um caso envolvendo estudantes de medicina no Rio de Janeiro, entre os quais seu pai e alguns amigos, o autor faz a seguinte ressalva: “Essa história eu a ouvi de um contemporâneo de meu Pai, Levy Coelho da Rocha, médico em Belo Horizonte. Se não estiver conforme, outro, do tempo, que a conte melhor” (NAVA, 2012, p. 248). A memória não se exime completamente dessa confrontação com os outros testemunhos, tampouco esta seria uma característica exclusiva do discurso histórico. A vivacidade que o passado adquire nas Memórias também é produzida por aquilo que alguns teóricos da história e da literatura denominam como produção de presença. Esse conceito faz referência à dimensão material das coisas do mundo, isto é, o fato de que os objetos ocupam um espaço e são tangíveis por mãos humanas ou sentidas pelo corpo – as emoções, as sensações e os afetos. “‘Presença’, no meu modo de ver, é ‘estar em contato’ – literalmente ou figurativamente – com pessoas, coisas, eventos e sentimentos que faz de você a pessoa que você é”. (RUNIA, 2006, p. 5)4. A presença faz referência a tudo aquilo que escapa ao domínio da linguagem – embora a linguagem seja também capaz de produzir efeitos de presença –, mas que são também elementos constitutivos da vida cotidiana e da forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas, com os outros e com o mundo (GUMBRECHT, 2009 e 2010). O conceito de presença permite-nos perceber melhor uma característica bastante presente na escrita naviana: o peso da corporeidade na experiência do passado. A dimensão                                                                                                                         4

Citação no original: "'Presence', in my view, is 'being in touch' - either literally or figuratively - with people, things, events, and feelings that made you into the person you are”.

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afetiva e sensual não está de modo algum submetida a uma interpretação puramente “espiritual” do passado; pode-se dizer, inclusive, que Baú de ossos constitui uma obra paradigmática de produção de presença do passado, e isso através de certas estratégias narrativas utilizadas pelo autor, como a utilização extensiva de elementos dêiticos ou ressaltando as sensações e afetos do narrador (GUMBRECHT, 2009). Um belo exemplo está na descrição da “batida”, uma espécie de rapadura típica do Ceará: Se a batida do Ceará é uma rapadura diferente, a batida de minha avó Nanoca é para mim coisa à parte e funciona no meu sistema de paladar e evocação, talqualmente a madeleine da tante Léonie. Cheiro de mato, ar de chuva, ranger de porta, farfalhar de galhos ao vento noturno, chiar de resina na lenha dos fogões, gosto d´água de moringa nova – todos tem a sua madeleine. Só que ninguém a tinha explicado como Proust – desarmando implacavelmente, peça por peça, a mecânica lancinante desse processo mental. Posso comer qualquer doce, na simplicidade do ato e de espírito imóvel. A batida, não. A batida é viagem no tempo. (...) Docemente mastigo, enquanto uma longa fila de sombras vem dos cemitérios para tomar o lugar ao sol das ruas e à sombra das salas amigas (NAVA, 2012, p. 57-58).

É interessante notar como o autor aproxima o sistema do paladar e da evocação, como se o gosto da batida fosse muito mais que um prazer momentâneo, mas uma verdadeira “viagem no tempo”. Por meio das sensações, o passado se faz presente através da memória, tal qual a famosa madeleine de Marcel Proust – um objeto qualquer que, por meio das sensações, ativa uma memória de forma involuntária, que nos apossa de forma quase inevitável, e faz com que o passado se “presentifica”, isto é, como se estivesse materialmente presente. Assim, abre-se uma dimensão do passado que toca os nossos corpos, afetos e sensações. Também por essa via, o passado refigurado nas Memórias adquire maior vivacidade. Considerações finais Este trabalho partiu do princípio que a historicidade própria do Dasein pode ser elaborada por outras vias que não seja o discurso historiográfico “canônico”. A memória, ou melhor, a narrativa memorial, apresentou-se como um suporte privilegiado para essa reflexão. Sendo ela uma forma de apropriação e elaboração da experiência do tempo diferente do que faz a história, ambas mantém entre si relações profundas que problematizam uma certa visão dicotômica entre elas.

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Nesse sentido, Baú de ossos nos pareceu uma fonte preciosa para se pensar a questão da historicidade (própria) do humano. Como sugere um dos críticos da obra: “o grande feito de Nava – enigma de sua arte – parece ser o de arrancar o passado da imobilidade da coisa morta” (ARRIGUCCI JR., 2012, p. 473). Devido à própria natureza deste trabalho, preferimos antes levantar algumas possibilidades de reflexão, do que propriamente fechar questão sobre o tema. Trata-se, portanto, de um trabalho inacabado, mas que procurou apontar alguns caminhos para uma reflexão mais detida, além de ter a modesta intenção de contribuir para a História da Historiografia e o debate sobre memória e história. Referências bibliográficas ARAUJO, V. L. DE. História da historiografia como analítica da historicidade. História da Historiografia, Ouro Preto, v. 12, n. agosto, p. 34–44, 2013. ARRIGUCCI JR., D. Móbile da memória. In: NAVA, Pedro. Baú de Ossos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 433–474. BOTELHO, A. As memórias de Pedro Nava: autorretrato e interpretação do Brasil. In: NAVA, Pedro. Baú de Ossos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 7–19. CANÇADO, J. M. Memórias videntes do Brasil: a obra de Pedro Nava. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. CANDAU, J. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011. CANDIDO, A. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. CATROGA, F. Memória, História e Historiografia. Coimbra: Quarteto Editora, 2001. CERTEAU, M. DE. A operação historiográfica. In: A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982. p. 56–108. GADAMER, H.-G. O problema da consciência história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. GOUREVITCH, A. Y. O tempo como problema da história cultural. In: RICOEUR, Paul (Org.). As culturas e o tempo: estudos reunidos pela UNESCO. Petrópolis (RJ): Vozes, 1978. p. 263–283. GUMBRECHT, H. U. A presença realizada na linguagem: com atenção especial para a presença do passado. História da Historiografia, Ouro Preto, v. 3, n. 2, p. 10–22, 2009. ______. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2010.

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