The Americas: integração continental e imperialismo no movimento pan-americano (1933-1954)

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL

Projeto de Doutorado: The Americas: integração continental e imperialismo no movimento pan-americano (1933-1954) Orientando: Micael Alvino da Silva Orientador: Prof. Dr. Robert Sean Purdy RESUMO O início dos anos 1930 inaugurou uma nova etapa nas relações entre a América Latina, em especial o Brasil, e os Estados Unidos. A ideia de integração continental que permeia as relações interamericanas desde o final do século XIX até a atualidade ganhou reforço com o conceito The Americas, criado pelo historiador Herbert Eugene Bolton, e que informa a política externa norte-americana desde a boa vizinhança, passando pela Aliança para o Progresso, até os projetos mais recentes do NAFTA e da ALCA. Para a compreensão dos fundamentos da história das relações interamericanas, um espaço privilegiado é o sistema pan-americano de diplomacia de conferências. No âmbito deste sistema, entre 1930 e 1954, ocorreram quatro Conferências Pan-Americanas e três Reuniões de Chanceleres Americanos, que serviram como fórum para os principais temas que pautaram as relações entre os Estados americanos. Esta pesquisa propõe analisar os documentos diplomáticos produzidos pelo Departamento de Estado e pelo Itamaraty em função destes fóruns, o que nos possibilitará lançar luz sobre o tema da integração regional, que possui dupla interpretação no contexto interamericano: a interpretação latino-americana da integração sub-regional, a partir da qual os países da América Latina integram-se sem os Estados Unidos; e a interpretação norte-americana da integração continental, a partir da qual todos os países americanos integram-se formando uma América sob a liderança do norte. Assim, dentre os objetivos desta pesquisa, está o de analisar o movimento político-diplomático em torno das Conferências Pan-Americanas e Reuniões de Chanceleres Americanos (1933-1954) e identificar quais os principais argumentos políticos, econômicos e culturais levados à discussão, bem como as aproximações e os distanciamentos entre Brasil e Estados Unidos.

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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA, COM SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL Nunca antes a necessidade e os benefícios da cooperação entre vizinhos em todas as formas de atividade humana foi tão evidente como hoje [...]. Você vai se esforçar para ser guiado pela política enunciada pelo presidente Roosevelt em seu discurso de posse: "A política da boa vizinhança [...]". (UNITED STATES, 1933, p. 43, tradução nossa1) Guiar-se pela política do bom vizinho. De acordo com a documentação consultada, esta foi a mensagem recebida pelos delegados dos Estados Unidos que embarcaram para a Sétima Conferência Internacional Americana em Montevidéu (1933). Naquele ano, o Presidente Roosevelt já havia declarado que, nas relações interamericanas, “a política definitiva dos Estados Unidos daqui por diante é uma política oposta à intervenção armada” (apud SHOULTZ, 2000, p. 325). Uma declaração de início animadora, já que desde a independência, o país do norte acumulava 161 intervenções em todo o mundo, dentre as quais quase a metade (48%) ocorreu na América Latina e Caribe (GRIMMETT, 2012). A política da boa vizinhança, que já havia sido anunciada pelo republicano Herbert Hoover desde a década de 1920, teve lugar efetivamente durante a administração democrata de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), e constitui um tema já há muito explorado pela historiografia brasileira. É possível encontrar de críticas ao próprio recorte, já que propõe percorrer uma das fases da política externa dos Estados Unidos acompanhando seus desdobramentos no Brasil (PRADO, 2000, p. 322), passando por interpretações diversas que superestima e simplifica o imperialismo norte-americano, até análises mais densas que, sem simplificar as influências dos Estados Unidos, encontram em uma farta documentação a reação, as negociações e até as resistências da América Latina. Alguns exemplos desta perspectiva são os trabalhos de Gerson Moura (1983, 1990, 2012), Antônio Pedro Tota (1990), Marquilanges Borges de Souza (2004) e Tânia da Costa Garcia (2004). No campo da cultura, a política externa do governo Roosevelt para a América Latina ocupou um lugar de destaque durante o período da Segunda Guerra. Conforme demonstrou Gerson Moura (1983), a cultura do Tio Sam desembarcou no Brasil com um arsenal de ideias, ícones e padrões de comportamento do American way of life. Neste sentido, tendo em vista inicialmente afastar o avanço alemão da América do Sul, em 1938 surgiu um órgão especial dentro do Departamento de Estado e em 1940 a administração Roosevelt criou o Bureau Interamericano (chefiado por Nelson Reckefeler), com dedicação exclusiva à promoção de estímulos para os encontros culturais nas Américas. São exemplos emblemáticos da aproximação cultural a presença de figuras latino-americanas nos filmes de Hollywood (dentre elas Carmem Miranda), a parceria com Walt Disney (ZAGNI, 2008), e a publicação em português da revista Seleções do Reader’s Digest (JUNQUEIRA, 2000). Existe uma vasta historiografia nos Estados Unidos que indica a convergência de interesses tanto da sociedade quanto do governo em ampliar o conhecimento a respeito da América Latina desde os anos 1920 e principalmente na década seguinte.2 Neste contexto, situa-se o surgimento do conceito The Americas, criado pelo historiador norte-americano Herbert Eugene Bolton, e que respondia aos interesses 1

Texto original: Never before have the need and benefit of neighborly cooperation in every form of human activity been so evident as they are today [...]. You will endeavor to be guided by the policy enunciated by President Roosevelt in his inaugural address: “The policy of the good neighbor […]”. 2 Para uma bibliografia inicial, ver Kaplan e Pease (1993), Joseph et al. (1998) e Magnaghi (1998). Voltaremos ao tema na seção de referencial teórico-metodológico. 2

demandados ao propor uma ampla interpretação a respeito de uma história continental comum, uma “História Universal Americana, que é a História das Américas do Polo Norte ao Polo Sul desde Colombo até hoje” (apud MAGNAGHI, 1998, p. 55, tradução nossa3; BOLTON, 1933). De acordo com Magnaghi, a concepção de Bolton está presente no discurso oficial dos Estados Unidos desde 1928, quando o então presidente eleito Hoover incluiu algumas das ideias boltonianas nos discursos proferidos em sua viagem pela América Latina. Para o autor, vários dos discípulos de Bolton participaram da formulação da política da boa vizinhança e análises mais recentes demonstram que desde então, nos Estados Unidos, o conceito The Americas informa as produções de acadêmicos, políticos e jornalistas até o presente. Exemplos de apropriações mais recentes das ideias de Bolton para a política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina podem ser buscados na Aliança para o Progresso, de Kennedy e nos projetos do Tratado Norte-Americano de Comércio (NAFTA) e da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).4 Enquanto referencial teórico para formulações de políticos, acadêmicos e intelectuais norteamericanos, é válido ressaltar que o conceito The Americas remete à noção de Western Hemisphere, criada em paralelo com o Departamento de Estado e fundamentada na proposição “que os povos deste hemisfério mantêm uma relação especial mútua que os diferencia do resto do mundo” (WHITAKER, 1954, p. 1, tradução nossa5). Para o autor, enquanto que o relacionamento especial entre os Estados americanos foi sepultado com os acontecimentos do imediato pós-guerra, principalmente com os adventos da globalização e da bipolaridade, The Americas sobreviveu e permanece importante para setores da política norte-americana, sobretudo por sua defesa de unidade americana (TRUETT, 2005). À época da política da boa vizinhança, parte do sucesso do conceito de Bolton deveu-se ao argumento de que os países americanos deveriam integrar-se regionalmente em sentido amplo: continental (por envolver todos os países americanos), político (por propor o isolamento de toda América no cenário internacional) e estratégico, já que a “relação especial” entre os americanos possibilitaria canalizar os recursos do continente a uma determinada causa (BOLTON, 1933; MAGNAGHI, 1998). Embora não tivesse sido prevista, a Segunda Guerra foi uma variável decisiva para a circulação destas ideias, muitas das quais se transformaram em práticas integracionistas futuramente. Quando tratamos da integração regional no espaço das Américas, é importante considerar as duas visões acerca do tema. Por um lado, a interpretação da integração regional continental proposta pelos Estados Unidos, remete à já mencionada ideia de Western Hemisphere e à menção genérica de Thomas Jefferson com relação a unidade do povo americano, que avançou para o campo da segurança continental quando da criação da Doutrina Monroe. A definição da agenda e a interferência nos resultados dos eventos mais importantes em nível intercontinental (inicialmente com o movimento pan-americano e depois com a OEA), apresentam-se como exemplos de integração sob hegemonia dos Estados Unidos. Mais recentemente, dois projetos inscritos nesta tendência são exemplares: a criação do NAFTA que

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Texto original: “Universal American History, that is the History of the Americas from North Pole to the South Pole from Columbus to Now”. 4 Recentemente um jornalista norte-americano se referiu ao “antigo” México, Canadá e Estados Unidos, que sob os auspícios do NAFTA formam um “novo” Novo Mundo (TRUETT, 2005, p. 213). 5 Texto original: “that the peoples of this hemisphere stand in a special relationship to one another witch sets them apart from the rest of the world”. 3

aproximou definitivamente Canadá, Estados Unidos e México, e a proposta da ALCA, rejeitada pelos países da América Latina (BOLTON, 1933; WHITAKER, 1954; MAGNAGHI, 1998; TRUETT, 2005). Por outro lado, a interpretação da integração sub-regional, remete à possibilidade de integração latino-americana sem os Estados Unidos e à proposta bolivariana de união contra uma possível reação europeia às independências hispânicas e pode ser visualizada na resistência às proposições dos Estados Unidos no âmbito do movimento pan-americano e, mais recentemente, à proposta da ALCA. No pósguerra os estudos e proposições de enfrentamentos aos problemas econômicos comuns à América Latina no âmbito da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), culminaram em iniciativas de integração precursoras do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Nesta esteira, o sub-regionalismo apresentou-se como possibilidade no contexto da globalização e do neoliberalismo presentes na América Latina no final do século XX. No século XXI, cujo melhor exemplo pode ser buscado na criação da União dos Países Sul-Americanos (UNASUL), a aproximação dos países latino-americanos, em especial os sulamericanos continua a ser vista como alternativa dentro da lógica da união dos “mais fracos” diante dos “mais fortes”, mesmo que implique em contrariar o vizinho do norte. (DONGHI, 1975; CERVO, 2001; PRADO, 2000; CAPELATO, 2000; BANDEIRA, 2003, 2005; DULCI, 2013) Destarte as diferenças, a breve descrição de ambas as proposições integracionistas demonstram ligeiramente o quanto o tema da integração é essencial nas relações entre os Estados americanos desde as independências até o presente. A necessidade de recortar esta duração bicentenária do tema nos levou ao estudo das relações interamericanas, dentre as quais destacamos o movimento pan-americano em torno de um pioneiro sistema de diplomacia de conferências,6 como um espaço privilegiado de análise. Neste sistema ocorreram as Conferências Pan-Americanas, iniciadas com a Primeira (Washington, 1889), tendo existido regularmente até a criação da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1948), sendo oficialmente concluídas com a realização da Décima Conferência Pan-Americana (Venezuela, 1954). O pan-americanismo foi um movimento criado pelos idealizadores da política externa dos Estados Unidos no final do século XIX, para traduzir suas relações com a América Latina (WHITAKER, 1954; LOCKEY, 1920; BETHEL, 2013; SALVATORE, 1998). Sua principal expressão foram as Conferências Internacionais Americanas, batizadas de Conferências Pan-Americanas e precursoras da OEA. Na Primeira Conferência, a preocupação com a manutenção do sistema levou os delegados presentes a aprovar a iniciativa norte-americana da criação do Bureau Comercial das Repúblicas Americanas. Na Quarta Conferência (1910), o Bureau foi substituído pela União Pan-Americana que tinha entre seus objetivos, o de estimular pesquisas relacionadas à história do continente americano, dar suporte a estudos sobre as Conferências (bem como organizá-las) e ajudar a manter uma Biblioteca Pan-Americana. Neste sentido, há uma considerável produção a respeito, da qual destacamos as obras Del Congresso de Panamá a la Conferencia de Caracas (1826-1954) (CANCINO, 1976); El Panamericanismo (CASTILLA, 1961); El panamericanismo y la opinión europea (FERRARA, 1930); Panamericanismo (GALLARDO NIETO, 1941); Evolución del Panamericanismo (GIL, 1933); Pan American Progress (GREEN, 1942); El

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Para Luiz Amado Cervo (2001), trata-se da única associação política de caráter intercontinental existente desde o século XIX. 4

interamericanismo en marcha. De Bolivar y Monroe al rooseveltianismo (SANSÓN-TERÁN, 1949); e PanAmericanism: its beginnings (LOCKEY, 1920).7 Como ressaltou Dulci (2013), esta bibliografia produzida em torno da União Pan-Americana caracteriza-se por ter sido elaborada em função das próprias Conferências e ter foco quase que exclusivo em documentos como as atas finais dos eventos. Os estudos mais recentes sobre o tema, no entanto, diferem-se desta perspectiva e foram diretamente influenciados pelas novas questões em torno da constituição do Mercosul e dos esforços norte-americanos para viabilizar a ALCA. Estes estudos mais recentes foram produzidos desde os Estados Unidos, México, Cuba e Mercosul.8 Especificamente sobre a participação do Brasil nas Conferências, as análises existentes são focadas principalmente até a Sexta Conferência (1928). São exemplares os casos das já citadas obras de Dulci (2013) e de Bethel (2013), além de Santos (2004); Bueno (1997); Dennilson (2006); e Smith (1991). Em um trabalho recente intitulado Pan-americanismo e projetos de integração: temas recorrentes na história das relações hemisféricas (1826-2003), Clodoaldo Bueno (2004) fez uma tentativa de avançar para além dos anos trinta. Útil para pensar a utilização do sistema Pan-Americano em favor do desenvolvimento do capitalismo norte-americano, sua reflexão deixa a desejar desde o ponto de vista histórico por fazer uma análise apressada do que aconteceu em cada Conferência e sua conclusão unicamente corroborar com referenciais teóricos das décadas de 1930 e 1940, sem levar em consideração a produção recente sobre o tema e com nenhum diálogo com a produção internacional sobre o assunto. Após analisar fontes referentes às seis primeiras conferências, Dulci (2013) concluiu que as temáticas discutidas nos eventos versaram prioritariamente sobre a questão das identidades, união aduaneira e arbitragem. Os documentos diplomáticos indicaram que o discurso oficial assumiu a identidade pan-americana, a partir da qual se reivindicava uma identidade baseada em um passado comum a todos os Estados americanos. Embora a autora não tenha mencionado, podemos identificar indícios de componentes boltonianos nas ideias sobre a divulgação de um passado comum, com ausência de grandes conflitos internacionais, laços democráticos e paz que unia a todos. A sustentação do discurso norte-americano integracionista, no entanto, ficou comprometida com a forte ingerência dos Estados Unidos nas Conferências (privilegiando interesses unilaterais); com a política intervencionista na América Central (guerra hispano-americana, 1898; Panamá, 1903; Nicarágua, 1912; Haiti, 1914; e Nicarágua, 1928); e com o discurso-resistência baseada na identidade latino-americana, sob liderança da Argentina. Na área econômica, a proposta de uma união aduaneira para as Américas, do estabelecimento de uma moeda única e da criação de um banco pan-americano sediado em Washington, por mais que tivessem aparecido em quase todas as seis primeiras Conferências, não lograram ter os resultados pretendidos pela diplomacia norte-americana. Para Dulci (2013), parte da América Latina compreendeu que uma união aduaneira não possibilitava vantagens mútuas, já que não considerava a circulação de matérias-primas latino-americanas e privilegiava os produtos industriais norte-americanos. No campo da política interamericana, a proposta de arbitragem obrigatória, defendida pela Argentina, e compulsória, defendida pelos Estados Unidos, também ocupou lugar de destaque nas seis 7

Trabalhos produzidos, respectivamente, no México, Colômbia, Cuba, Chile, Argentina, EUA, Nicarágua e EUA. Para uma análise dos estudos mais recentes sobre as Conferências, ver também: Bulcourf (1999); Dent, (1999); Ekles (1995); Healy (2002); Heredia, (2007); Marichal et al. (2002); Mcpherson (2003); Morgenfeld (2011); Smith (2005); e García (2001). 5 8

primeiras conferências. A disputa ocorreu no contexto em que os Estados Unidos trabalhavam incansavelmente para substituir a influência europeia nos litígios territoriais americanos. Assegurar a influência política nas Américas foi posto como objetivo central da diplomacia estadunidense ao lado de legitimar e justificar, quando e se necessário, suas intervenções no continente (DULCI, 2013). Se dispomos de informações sólidas acerca das seis primeiras Conferências, o mesmo não ocorre a partir da Sétima. Existem vários motivos pelos quais na historiografia brasileira, por exemplo, não é possível encontrar uma análise específica para além da Sétima Conferência. Em sua análise, Leslie Bethel (2013) aponta para um indício: o esgotamento do próprio sistema pan-americano de Conferências, já que a Sexta Conferência teria sido o ponto mais baixo na história de todo o pan-americanismo. No entanto, a nosso ver inicia-se uma nova etapa na história das relações interamericanas e o pan-americanismo volta a ocupar lugar de destaque na Sétima (Uruguai, 1933) e especialmente na Oitava Conferência PanAmericana (Peru, 1938). Esta conferência é especial em função de nela ter sido aprovado um mecanismo de consulta mútua aos Chanceleres americanos a ser posto em marcha caso a Segunda Guerra fosse deflagrada. Em nosso trabalho de mestrado, analisamos especificamente a Terceira Reunião de Consulta aos Chanceleres Americanos, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1942, e que dentre outras recomendações, propôs a vigilância aos súditos do Eixo vistos como potenciais ameaças à segurança continental (SILVA, 2013). Nossas fontes foram consultadas no acervo do Arquivo Nacional e da Fundação Getúlio Vargas, mas dada as limitações daquela pesquisa, analisamos apenas aspectos mais gerais dos três encontros dos Chanceleres americanos. Da análise das fontes, concluímos que na I Reunião de Consulta aos Ministros das Relações Exteriores Americanos (Panamá, 1939), os temas versaram sobre a declaração conjunta de neutralidade, manutenção da paz no continente e da cooperação econômica. Decidiu-se que a América agiria somente em caso de ações bélicas dentro das 300 milhas marítimas em torno do continente. Foi criado o Comitê Consultivo Econômico Financeiro e os Estados Unidos apresentou uma política de cooperação e ajuda financeira aos demais países. Menos de um ano depois, foi convocada a II Reunião de Consulta aos Chanceleres (Cuba, 1940), em função de decidir o que fazer com as colônias americanas da Holanda e França, então sob domínio nazista. Ressalta-se que estas colônias eram muito próximas do Canal do Panamá e da zona petrolífera venezuelana, motivo pelo qual os delegados americanos votaram por colocar os territórios sob administração provisória de Estados americanos neutros. No encontro, reforçou-se também que solidariamente, uma agressão externa a um país americano seria entendida como uma agressão a todos os países americanos. No entanto, a preocupação estadunidense com a proximidade do envolvimento direto na guerra e com a garantia de apoio político e econômico da América Latina por meio da solidariedade continental gerou controvérsias. Houve intensos debates na diplomacia continental, com destaque para a diplomacia argentina que manteve seu tradicional posicionamento de oposição aos temas propostos pelos Estados Unidos. Este posicionamento tinha razões externas ao continente, procurando preservar seus negócios com a Europa, e razões internas, com destaque para a busca pela liderança dos países latino-americanos. Na questão das colônias americanas de países invadidos por nazistas, por exemplo, a fórmula

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administrativa a ser adotada foi objeto de discussões e espaço de disputas, no qual o Brasil reforçou sua posição de país mediador. No contexto do ataque japonês no Pacífico que arrastou os Estados Unidos para a guerra, a diplomacia norte-americana esperava a aplicação do protocolo de entendimento e solidariedade americana, a partir do qual a agressão sofrida por um país americano seria entendida como uma agressão a toda a América. Neste clima de prova da solidariedade continental, foi convocada a III Reunião de Consulta aos Chanceleres Americanos (janeiro de 1942, Rio de Janeiro). Mas, a solidariedade continental mostrou não ser automática, já que segundo informações recebidas por Oswaldo Aranha (Ministro das Relações Exteriores do Brasil), e transmitidas imediatamente a Jefferson Caffery (Embaixador dos Estados Unidos no Brasil), Peru, Paraguai, Bolívia e Chile preferiam acompanhar a posição argentina e manteriam neutros. A resistência gerou intensa mobilização da diplomacia norte-americana no sentido de garantir o maior número de países que romperiam relações comerciais e diplomáticas com o Eixo. Antes mesmo do início da Conferência, “o subsecretário de Estado e chefe da delegação dos Estados Unidos, Sumner Welles, anunciou que Peru, Paraguai e Bolívia mudaram de opinião [...] em troca de promessas de auxílio econômico e de fornecimento de equipamento militar” (SEINTENFUS, 2003). A posição contrária da Argentina e do Chile impossibilitou uma decisão unânime na Conferência do Rio. Tornou-se necessário a mudança de caráter “obrigatório”, para o caráter de “recomendação” do rompimento de relações diplomáticas e comerciais com as potências do Eixo. Mais uma vez, os Estados Unidos não conseguiam impor sua plena vontade sobre os demais países latino-americanos, graças à oposição encabeçada pela Argentina. Concluíram-se os trabalhos, e recomendou-se uma série de ações que seriam desenvolvidas nas esferas econômica e militar (ACTA FINAL, 1942). A nosso ver, estas Reuniões de Chanceleres, embora sejam de natureza diferente das Conferências Pan-Americanas, são indispensáveis para a compreensão das relações hemisféricas. Consideramos estes encontros durante a Segunda Guerra como efetivamente os últimos momentos do sistema pan-americano de diplomacia de conferências. A Nona e a Décima Conferência Pan-Americana (Colômbia, 1948 e Venezuela, 1954, respectivamente), já podem ser inscritas na transição do sistema pan-americano de conferências para a OEA, embora não possam ser desconsideradas do contexto do pan-americanismo. Assim, o término de nossa baliza cronológica é imposta pelo contexto da criação da OEA, mais especificamente pela décima e última Conferência Pan-Americana (1954). Delimitadas as balizas cronológicas, é importante mencionar que nossa principal problemática de pesquisa gira em torno de questões que iniciam nos referenciais que informa o Departamento de Estado a respeito da integração regional. Estes referenciais constituem a visão integracionista que instruiu as pautas construídas pelos representantes norte-americanos, importando-nos compreender como esta visão contribuiu para a agenda montada no âmbito dos encontros pan-americanos. Definida a agenda, é importante compreender como ocorreram os debates, quais as vitórias, as concessões e as derrotas submetidas pela América Latina à diplomacia dos Estados Unidos. Neste sentido, consideramos que o estudo do movimento pan-americano entre 1933 e 1954, a partir das proposições do Departamento de Estado e do Itamaraty, pode contribuir para a compreensão da América Latina, em especial do Brasil, que não necessariamente seja partícipe passivo do “século americano”. Trata-se, portanto, de enfrentar o 7

problema com o estudo das fontes diplomáticas e com vistas a analisar não somente as ações imperialistas dos Estados Unidos, mas também a reação, as negociações demandadas, a conquista de espaço e até mesmo a resistência da diplomacia latino-americana nas relações interamericanas. 2 OBJETIVOS •

Analisar o movimento político-diplomático em torno das Conferências Pan-Americanas e Reuniões

de Chanceleres Americanas, ocorridas entre 1933 e 1954 e identificar quais os principais argumentos políticos, econômicos e culturais levados à discussão, bem como as aproximações e os distanciamentos entre Brasil e Estados Unidos. •

Analisar os debates e resoluções em torno da integração regional sob as perspectivas norte-

americana da integração continental e latino-americana da integração sub-regional, mensurando o quanto o conceito The Americas pode ser percebido nestes debates diplomáticos. •

Identificar e qualificar as estratégias levadas a cabo pela diplomacia brasileira, frente ao

imperialismo norte-americano e os acordos negociados para a aprovação de propostas que refletiam o interesse unilateral dos Estados Unidos. •

Compreender o papel do Departamento de Estado e do Itamaraty nas relações continentais, bem

como as posições brasileiras no que se refere aos interesses sub-regionais e à apropriação da noção de segundo poder na América, sobretudo com relação à disputa com a Argentina pela liderança dos países latino-americanos. 3 MATERIAL, MÉTODOS E FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS “O Brasil, com uma população acima dos 40 milhões, é o segundo poder na América” Herbert Eugene Bolton (1933, p. 470, tradução nossa9) Distante alguns anos do início da Segunda Guerra, a orientação do Departamento de Estado para a promoção da política da boa vizinhança (UNITED STATES, 1933), somava-se ao lugar atribuído por Bolton ao Brasil, enquanto segundo poder na América. Os anos avançaram e com o desenvolver do conflito o relacionamento político por vezes levou diplomatas brasileiros a ter convicção de representarem um país de destaque na América Latina, um aliado especial dos Estados Unidos. Na bibliografia sobre o tema, análises neste sentido podem ser encontradas em McCann (1973), Smith (1991), Svartman (1999) e Seintenfus (2003), por exemplo. Considerando que tempos de guerra o são também de ampliação do campo político (REMOND, 2003), a natureza das Conferências Pan-Americanas e Reuniões de Chanceleres Americanos nos possibilita o estudo da dimensão política da História, marcante tanto na historiografia norte-americana quanto na brasileira. Em suas origens como disciplina no século XIX, a História nos Estados Unidos foi influenciada por um grupo de intelectuais educados na Alemanha e, como consequência, por um longo período houve a predominância de temas políticos e de matiz positivista.10 A partir dos anos 1960, 9

Texto original: “Brazil, with a population of over forty millions, is the second power in America”. Neste sentido, é exemplar a análise de Rebecca Elming (2011, p. 4-5) sobre as relações (imperialistas) dos Estados Unidos com a América Latina e dialoga com interpretações desde a História Política iniciadas por volta de 1930 e ampliadas pela geração de historiadores do pós-guerra. Outro exemplo pode ser buscado em Bailyn (2005, p. 49), para quem a compreensão dos 8 10

verificou-se um processo de revisão desta tendência a partir de várias perspectivas, o que não significou o fim das análises políticas, mas a ampliação de análises a partir das dimensões econômica, cultural e social (TRILLO, 1989; ELMING, 2011). No Brasil, o surgimento da História não só foi influenciado pela historiografia francesa como contou com a presença de uma missão francesa com a finalidade de estruturar a disciplina nos anos 1930 (CAPELATO et. al., 1994). À época, um dos mais importantes debates da historiografia francesa girava em torno de se renovar as práticas do historiador, o que implicou em relegar a política a um segundo plano e proceder a análises sociais e econômicas da história. Nesta tradição, a História Política foi amplamente criticada no início do século XX, mas teve um impulso renovador a partir da década de 1970. Desde então, a dimensão passou a contar com novos objetos e novas abordagens, sobretudo a partir do conceito de cultura política em um processo interdisciplinar e de longa duração, em diálogo com as Relações Internacionais, Ciência Política, Sociologia, Linguística e Antropologia, cuja consequência foi o surgimento de estudos sobre poder, cultura, política externa, eleição, opinião pública, guerra, intelectuais, etc.11 O diálogo com a história das relações internacionais é particularmente importante para nossa análise, já que nesta área, o Brasil possui uma expressiva produção em torno principalmente dos trabalhos de Amado Luiz Cervo e Moniz Bandeira. Estes estudos têm como ponto de partida a figura do Barão do Rio Branco na construção da política externa brasileira e da visão pragmática do Itamaraty, que instruiu seus diplomatas a aceitar concessões (particularmente aquelas impostas pelos Estados Unidos) se com elas pudessem futuramente vir benefícios aos interesses nacionais. Particularmente, são obras importantes neste aspecto: Relações Internacionais dos países Americanos, de Amado Luiz Cervo e Wolfgang Döpke (1994) e História da Política Exterior do Brasil, de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno (2012), além dos estudos de Moniz Bandeira intitulados Presença dos Estados Unidos no Brasil (1993); Brasil-Estados Unidos: a rivalidade emergente (1989); Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da Tríplice Aliança ao Mercosul) (2003) e Formação do Império Americano (2005). Estas interpretações desta historiografia das Relações Internacionais valorizam, dentre outros aspectos, a extensão territorial do Brasil, o respeito e amizade do Brasil com os Estados Unidos, e a ausência de conflitos, com predominando apenas de divergências pontuais. Consideramos que em geral estas produções destacam apenas as continuidades das relações entre Brasil e Estados Unidos em um marco temporal grande. Particularmente nos distanciamos destes trabalhos por buscar justamente o contrário, ou seja, as descontinuidades em um recorte temporal menor, tendo em vista contemplar a compreensão do significado político das Conferências e Reuniões para as relações interamericanas, em especial entre o Estado brasileiro e norte-americano. Para tanto, é preciso considerar a produção historiográfica norte-americana cujos estudos das relações entre o Brasil e os Estados Unidos inserem-se na ampla área de estudos que constitui o campo das relações entre os Estados Unidos e a América Latina. Em uma reflexão sobre esta historiografia, Mark Berger (1996) identificou um padrão nestas análises: tendem a justificar a expansão norte-americana, assumindo o discurso liberal que procura a neutralidade e o contraditório, mas que em última instância mecanismos das políticas do Atlântico foi um dos temas de maior destaque da historiografia desta geração de historiadores nos Estados Unidos. 11 Existe uma ampla bibliografia que trata dos debates em torno da História Política na tradição historiográfica francesa, bem como de sua renovação enquanto dimensão analítica do historiador (JULLIARD, 1988; FERREIRA, 1992; REMOND, 2003, entre outros). 9

está a legitimar as ações do Estado.12 A consequência é construção de um discurso acadêmico hegemônico e afinado com as concepções do Departamento de Estado. Ao estudar estas concepções, Lars Shoultz (2000), concluiu que elas respondem aos interesses nacionais, prioritariamente aspectos de segurança, política interna e crescimento econômico. Shoultz indicou, ainda, a existência de uma moldura presente nas relações Estados Unidos e América Latina. Trata-se de um poderoso mind set criado por John Adams e persistente até o presente, que consiste em ressaltar a superioridade dos norte-americanos sobre os latino-americanos, protestantes sobre católicos, anglo-saxões sobre latinos.13 O mind set inaugurado por Adams proporcionou mais tarde a divisão dos latino-americanos em dois subgrupos: um composto por países mais próximos aos Estados Unidos (América Central e Caribe); e outro composto por nações sul-americanas e desenvolvidas. Esta subdivisão passou a ser quase que de interesse nacional nos anos 1930, quando incentivados por empresários e pelo governo, estudiosos de matizes diversos produziram conhecimentos diversos sobre a América do Sul. Especificamente sobre este aspecto, é bastante útil a análise de Salvatore (1998) sobre as práticas representativas (narrativas de viagem, livros, álbuns, mostra etnográfica, etc.) que foram o cerne do imperialismo informal dos Estados Unidos na América do Sul, tanto quanto a economia, o militarismo e a diplomacia. Entendemos com Salvatore (1998) que ao estudar a diplomacia, trataremos de um dentre os vários projetos (ciência, negócios, filantropias e religião) para inserir a América do Sul na órbita de conhecimento dos Estados Unidos. O imperialismo informal na América do Sul desenvolvida contrastou com o imperialismo praticado nos demais países latino-americanos e caribenhos. Os países ao sul do Panamá que não foram objeto de preocupação da política externa norte-americana até o final do século XIX representaram nos anos 1930 uma incógnita a ser desvendada, ao mesmo tempo em que uma invasão militar, uma anexação territorial ou um governo colonial direto não eram alternativas viáveis. É neste contexto que os imperativos da razão e da conquista foram trocados pelos argumentos do conhecimento, da persuasão e dos mercados. Do conhecimento adquirido e amplamente divulgado a partir da década de 1930, surgiu de uma América Latina genérica, a noção de uma América do Sul diferente, cujas principais capitais (Rio de Janeiro e Buenos Aires) apresentam exemplos ambíguos tanto de modernidade quanto de antiguidade (BOLTON, 1933; SALVATORE, 1998; MAGNAGHI, 1998; SHOULTZ, 2000). Shoultz propõe que estes sulamericanos diferem-se tanto dos demais latino-americanos, a ponto de não preocuparem-se com o imperialismo dos Estados Unidos. No entanto, a afirmação de que os próprios “sul-americanos desenvolvidos” não se preocupavam com as ações imperialistas dos Estados Unidos na América Central e no Caribe (SHOULTZ, 2000, p. 219), não encontra sustentação na documentação diplomática, como constatou Dulci (2013), ao demonstrar a preocupação das delegações Argentinas com o imperialismo do norte desde a Primeira Conferência. Sobre o tema do imperialismo é importante destacar que o termo passou por uma cultural turn na historiografia norte-americana nos anos 1990, conforme demonstrou Rebecca Elming (2011) em Discussions of US Imperialism in Latin America and Pacific Historical Writing. Para John Bellamy Foster 12

Para Trillo (1989), até mesmo latino-americanistas com Richard Morse que interpretaram a América Latina fora do padrão identificado por Berger, tendem a reforçar a tradição liberal. 13 Para Adams, pretender estabelecer a democracia na América espanhola independente era “tão absurdo quanto propor planos semelhantes para estabelecer a democracia entre os pássaros, as feras ou os peixes”. (SHOULTZ, 2000) 10

(2002), a associação do termo à essência do capitalismo foi o principal motivo pelo qual os acadêmicos evitaram seu uso, sobretudo nos anos finais da Guerra Fria. A menção direta ao imperialismo passou a ser motivo para que qualquer análise fosse (des)qualificada como ideológica e o termo foi substituído por “poder global”. No contexto da globalização do final do século XX, algumas análises davam conta de sua superação já que estaria em marcha uma nova ordem mundial pós-imperialista. Este argumento não encontrou sustentação empírica, e desde o início da década de 1990 podemos encontrar estudos que davam conta da atualidade do imperialismo (CALLINICOS, 1994).14 O imperialismo continuou a interessar os historiadores, sobretudo aqueles cujos objetos compõem as relações internacionais desde uma perspectiva de análise que privilegie a relação entre cultura e política. Estão inscritos nesta perspectiva os trabalhos de Mary Louise Pratt (1992), Olhos do Império: Relato de Viagem e Transculturação; de Amy Kaplan e Donald Pease (1998), Cultures of United States Imperialism; de Gilbert M. Joseph et al. (1998), Close Encounters of Empire: Writing the Cultural History of. U.S. – Latin American Relations; e de Ricardo Salvatore (2006), Imágenes de un Império. Estados Unidos y las Formas de Representación de América Latina. Consideramos que esta perspectiva de análise será de fundamental importância para a compreensão das perspectivas de integração continental e subregional. Neste sentido, aproximamo-nos destas análises desde o norte com a fundamental diferença de olhar desde o sul, portanto, para além da moldura indicada por Berger e Shoultz, visando compreender inclusive as estratégias postas em prática para conter o imperialismo dos Estados Unidos. Ainda no que se refere à historiografia do norte, também nos interessa o já mencionado conceito The Americas, e que atingiu seu estágio de maturidade com o texto clássico de Herbert E. Bolton, The Epic of Greater America. Defendendo amplamente a utilização da história comparada15 como metodologia de análise do que denominou “História da América do Polo Norte ao Polo Sul, desde Colombo até a hoje”, o historiador norte-americano afirmou que desde o período das independências, “havia uma enfática solidariedade hemisférica”.16 Sugere, ainda, quatro unidades básicas para a interpretação da História das Américas: o passado colonial comum, as independências das metrópoles europeias (pole to pole), a imigração europeia e a forma republicana de governo. (BOLTON, 1933, p. 472) Assim, o conceito The Americas está relacionado à produção acadêmica sobre a perspectiva de História da América nos Estados Unidos. Para compreender a importância e a trajetória historiográfica do conceito, Russel Magnaghi (1998) promoveu seu rastreamento em seu livro Herbert E. Bolton and the historiography of the Americas. Para o autor, o conceito elaborado entre 1890 e 1919, passou pelas fases de emergência (1919-1929), de amadurecimento (1930-1970), e de florescimento pós-1970. Certamente durante as décadas de 1930 e 1940, especialmente durante o período da Segunda Guerra Mundial, o conceito The Americas servia aos interesses da época e principalmente da política externa dos Estados Unidos. Para Magnaghi (1998, p. 70-73), também é possível vincular o conceito aos discursos de Hoover em sua viagem pela América Latina, ao movimento pan-americano desde a Sexta Conferência (ambos em 14

Callinicos (1994) fundamenta sua análise do imperialismo na tradição marxista. Sobre o tema nesta tradição, ver também Brewer (2001). 15 Para Magnaghi (1998, p. 87), tal qual Henri Pirenne e Marc Bloch, Bolton foi pioneiro no uso da comparação “as fild of historical interpretation”. Bolton defendia o uso da história comparada para a compreensão da História da América. 16 Tradução nossa. Texto original: “the History of the Americas from North Pole to the South Pole from Columbus to Now”, o historiador norte-americano afirmou que desde o período das independências, “there was enphact Western Hemisphere solidarity”. (BOLTON, 1933, p. 472) 11

1928), e à formulação da política da boa vizinhança para a qual contribuíram muitos dos discípulos de Bolton. No meio acadêmico, as críticas à concepção boltoniana foram inauguradas oficialmente por Arthur Whitaker (BOLTON, 1939), que apontou dois principais problemas. O primeiro no que se refere à formulação acerca da unidade das Américas, que para Bolton ocorreu imediatamente após as independências, e que para Whitaker não possui sustentação empírica. O segundo problema estaria na generalização da América Latina, concebida a partir dos conhecimentos de Bolton sobre o México e a fronteira espanhola dos Estados Unidos e seu pouco conhecimento sobre o Brasil, por exemplo. Em nossa análise, tanto Bolton (1933; 1939) quanto seu rastreador Magnaghi (1998) não atribuem importância à subdivisão da América Latina. Em suas visões, a América é formada por Estados Unidos América Latina, sendo esta sem distinções. No final dos anos 1940 inspirado, sobretudo por The Epic of Greater America, Whitaker sugeriu à Comissão de História do Instituto Pan-Americano de Geografia e História um projeto internacional capaz de envolver diferentes historiadores americanos a tratar de temas relacionados a suas histórias comuns. Somente 1962 os trabalhos foram sintetizados em três volumes: “on the pre-colonial period, by Pedro Armillas (Mexico); on the colonial period, by Zavala (Mexico); and on the national period, by Charles Griffin (United States)”. Com relação a estas publicações, as principais críticas estiveram relacionadas ao fato da atribuição de importância às Américas em detrimento da Europa. Em outras palavras, os críticos afirmavam que o estudo das relações interamericanas ficaria empobrecido se não levasse em conta no mínimo os acontecimentos europeus (BAILYN, 2005, p. 22). As ideias de Bolton não ficaram restritas somente à academia e à política externa norte-americana. No Canadá, o conceito foi bem recebido pela comunidade de historiadores. De Cuba, Edmundo O’Gorman em 1939 acusou a falta de elemento humano na proposta de Bolton, já que em sua opinião o norteamericano desconsiderava os aspectos da cultura, da religião e da vida intelectual. Da Argentina, Victória Ocampo organizou uma rodada de discussões em 1940, que tinha como pauta a pergunta Is The Americas A Continent? (MAGNAGHI, 1998, p. 90-94). As críticas mencionadas não possuem equivalente em língua portuguesa. Até mesmo o esforço de Russel Magnaghi em rastrear obras influenciadoras e influenciadas pelo conceito The Americas teve poucos resultados no caso brasileiro. Uma demonstração do que estamos a mencionar pode ser encontrada no Appendix: Chrono-Bibliography of the History of the Americas, o último capítulo de seu livro dedicado a ordenar as produções sobre a história universal da América. Nenhuma referência específica ao Brasil é mencionada entre as obras publicadas de 1553 a 1966. A partir de então, no breve período de dez anos, são mencionadas as obras de Oliveira Lima, Samuel Bailey, Darcy Ribeiro, Thomas Skidmore, Barret & Shuartz, Michel Katzman, Frederic Mauro e Ciro Flamarion. Todos estes referenciais estão citados em língua inglesa, espanhola e francesa. De 1976 à conclusão da obra (1998) não há referências. A crítica de Whitaker à Bolton, a ausência de manifestações acadêmicas brasileiras sobre o conceito The Americas ou a ausência de bibliografia sobre (e desde) o Brasil em Magnaghi não são suficientes para explicar o motivo pelo qual a historiografia brasileira não atribui maior importância à

12

formulação boltoniana. Duas outras variáveis parecem-nos importantes nesta análise: a ênfase ibérica da História da América no Brasil e o pouco diálogo entre as historiografias brasileira e norte-americana. Para além dos percalços da História da América no Brasil (PRADO, 2001; BEIRED, 2005 e 2013), consolidou-se na historiografia brasileira uma tradição em que predominam estudos latino-americanos, em especial sobre o lugar do Brasil no subcontinente. De acordo com a interpretação de Luiz Fernando Prado (2012), a História da América no Brasil não possui necessariamente a abrangência do termo já que, em geral, carrega implicitamente o complemento Ibérica. Consequentemente, registra-se o surgimento de um campo de estudos sobre as relações entre Brasil e a (em alguns casos na) América Latina. Em decorrência, relegou-se ao segundo plano os Estados Unidos como tema central de análise do historiador brasileiro, ficando apenas como tema tangencial (às vezes obrigatório) de algumas análises cujo tema principal gravite em torno de um objeto ibérico.17 Na historiografia brasileira das Américas, nota-se também o centralismo das análises em torno da nação brasileira, sobretudo com um esforço de destacar o Brasil dos demais países da América Latina. Neste sentido, a preocupação com a melhor compreensão do lugar do Brasil na América Latina levou as principais historiadoras da América no Brasil a escrever sobre o tema: Janice Theodoro (1997), América Latina: a visão espetacular, Maria Helena Capelato (2000), O gigante brasileiro na América Latina e Maria Lígia Prado (2001), O Brasil e a distante América do Sul. O ponto de convergência destes textos indica que o historiador brasileiro parece ser chamado a explicar uma versão do dilema brasileiro de Hamlet. Para o Brasil, ser ou não ser latino-americano: eis a questão.18 Evidentemente que opção ibérica da historiografia brasileira não ignorou a presença dos Estados Unidos na América. No contexto da comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, da globalização e do neoliberalismo do início do século XXI, Maria Lígia Prado produziu um texto instigador e que reserva definitivamente um lugar aos estudos das relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Em Davi e Golias: as relações entre Brasil e Estados Unidos no século XX (2000), a historiadora traçou uma possibilidade para o estudo do Brasil (e da América Latina) em sua relação com os Estados Unidos. Em uma breve revisão bibliográfica, Prado demonstrou importante conexão com a produção brasileira no campo da História das Relações Internacionais e conhecimento acerca da produção norteamericana no que se refere à incorporação dos temas relacionados a cultura e poder, além da necessidade de aprofundar estudos sobre as identidades latino-americana e pan-americana.19 A outra variável para a análise do motivo pelo qual a historiografia brasileira pode não ter dado destaque às ideias de Bolton é o incipiente diálogo existente com a historiografia norte-americana, decorrente principalmente do já mencionado enfoque Ibérico da História da América no Brasil. Maria Lígia Prado, em outra circunstância nos oferece outro exemplo ao tratar o uso da História Comparada como possibilidade analítica para estudos sobre a América Latina. No artigo Repensando a história comparada 17

Para um balanço das teses de doutorado na área de História da América defendidas no Brasil (1989- 2011), ver Prado (2012). Para um catálogo de teses e dissertações produzidas nas universidades paulistas (1942-2004), ver Beired (2005 e 2013). 18 Ao dilema anunciado soma-se a ideia de que o Brasil esteve por muito tempo de “costas” à América Latina (CARVALHO, 1998; BAGGIO, 1999; CAPELATO, 2000; PRADO, 2001; SANTOS, 2004), que para Beired (2013) já está superado. 19 Na esteira das ideias publicadas em 2000, Prado orientou a já citada pesquisa de Dulci (2013), na qual a autora menciona que um dos objetivos foi justamente a busca pela compreensão da aproximação e do distanciamento do Brasil com a América Latina (dilema brasileiro), demonstrando o lugar privilegiado de importância dado à história nacional. Desde o início, a historiadora buscou compreender melhor as construções identitárias e suas influências nos principais temas das Conferências PanAmericanas que tiveram lugar entre 1889-1928. 13

da América Latina, Prado (2005) demonstrou exclusividade à opção historiográfica europeia ao mencionar Henri Pirenne e Marc Bloch como pioneiros de estudos históricos comparados, sem mencionar Bolton, igualmente pioneiro, contemporâneo de ambos, com os quais dialogava com o diferencial de dedicar-se aos estudos históricos comparados americanos. No mesmo artigo, Serge Gruzinski também é referência na defesa da ampliação do olhar do historiador para além da nação, sem menção ao debate sobre a transnacionalização caro aos historiadores norte-americanos desde o início da década de 1990. Sobre a perspectiva transnacional, embora seja recente e pouco desenvolvida no Brasil, os historiadores norte-americanos colocaram em marcha um processo de autocrítica a debater principalmente o excesso de nacionalismo na produção acadêmica. Mais do que a historiografia romper a fronteira das relações norte-sul, a proposta seria dar atenção também a uma história dos Estados Unidos vista de fora, de modo que transnacionalizar equivaleria a desnacionalizar (THALEN, 1992; BENDER, 2003; TRILLO, 2001), o que, segundo Trillo, levaria a cabo as proposições de Bolton (1933). Neste sentido, considerando a natureza do conceito The Americas e seguindo a tendência de relativizar o peso da nação na análise histórica, identificamos a perspectiva transnacional como importante ferramenta analítica para nossa pesquisa.20 O próprio recorte temporal delimitado por nosso objeto não corresponde a continuidades da história do Brasil ou dos Estados Unidos. Acreditamos que a perspectiva transnacional permitirá avançar para além de uma análise que tenha como epicentro o Estado Nacional, a história nacional ou os discursos nacionalistas,21 considerando estes como parte dos diversos fenômenos sociais possíveis de serem estudados. Em outras palavras, trata-se de aumentar o foco nos temas do imperialismo e principalmente da integração continental em detrimento do foco nos Estados Unidos ou no Brasil. Grosso modo, nossa proposta diferencia-se tanto dos estudos exclusivamente ibéricos quanto das análises que partem do dilema brasileiro de Hamlet. 3.1 Fontes primárias Considerando os pressupostos apresentados, os acervos da Diplomacia brasileira e norteamericana apresentam-se como as principais fontes primárias para a pesquisa. Neste sentido, os principais acervos a consultar serão aqueles que agregam os documentos produzidos em torno das Conferências Pan-Americanas por diplomatas do Brasil e dos Estados Unidos e arquivados pelo Itamaraty e pelo Departamento de Estado, respectivamente. Em pesquisa preliminar, relacionamos as seguintes pastas temáticas: a) • • • • • • • 20

Pastas temáticas do Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro: Pan-americanismo; União Pan-americana; Sétima Conferência Pan-Americana, Montevidéo (1933); Oitava Conferência Pan-Americana, Lima (1938); I Reunião de Consulta aos Chanceleres Americanos, Panamá (1939); II Reunião de Consulta aos Chanceleres Americanos, Havana (1940); III Reunião de Consulta aos Chanceleres Americanos, Rio de Janeiro (1942);

De acordo com Saunier (2006), transnacional é uma perspectiva, um ângulo de análise. Ver também Mazlich (1998); Thelen (1992), Trillo (2001), Adelman & Aron (1999), Saunier (2004), Seigel (2005), Bertonha (2008) e Purdy (2012). 21 Com relação à historiografia do nacionalismo e a questão da identidade nacional na América Latina, ver Miller (2006); sobre a questão das identidades latino-americana e pan-americana, ver Dulci (2013), “Capítulo 2: A questão das identidades”. 14

• •

Nona Conferência Pan-Americana, Bogotá (1948). Décima Conferência Pan-Americana, Caracas (1954).

b) • • • • • • • • •

Pastas temáticas do National Archives, Washington: Pan American Conferences Pan American Conferences (1933-1940) Pan American Union, 1939 (Folder 1 and 2) [1928-1967] Conferences and Conventions - 7th International Conference of American States, Montevideo, 1933 Conferences: 8th International Conference of American States, Lima, Peru, December 9, 1938 Latin America Files. Conferences at Buenos Aires 1936, Panama 1939 and Rio de Janeiro 1942. General Records. Ministers of Foreign Affairs of American Republics. Meeting 2nd, Havana, 1940. Conferences: 9th International Conference of American States, Bogotá, Colombia, 1948. Conferences: 10th International Conference of American States, Caracas, Venezuela, 1954. Além destes acervos físicos, será importante a consulta a documentos que compõem dois acervos

digitais. O primeiro acervo é a Biblioteca Digital Daniel Cosío Villegas, que possui os tratados e documentos assinados nas Conferências Pan-Americanas (1889-1954), compilados em 1956 pela Dirección General del Acervo Histórico Diplomático de la Secretaria de Relaciones Exteriores (México). c) • • • •

Acervo on-line 1: Biblioteca Digital Daniel Cosío Villegas - http://goo.gl/mz46mX Conferencias Internacionales Americanas 1889 – 1936. 711 páginas. Conferencias Internacionales Americanas. Primer Suplemento 1938 - 1942. 481 páginas. Conferencias Internacionales Americanas. Segundo Suplemento 1945 - 1954. 387 páginas. Manual of Inter-American Relations. Pan American Union Washington, D.C. 336 páginas. O outro acervo online é composto pela série The Foreign Relations of the United States, uma

publicação originalmente impressa do Departamento de Estado e que resume as relações internacionais dos Estados Unidos. Particularmente nos interessa o volume “The American Republics”, editado a partir de 1932. Cada publicação possui uma seção “General”, que varia entre 400-500 páginas e outra seção referente a cada Estado americano, da qual analisaremos o caso do Brasil que possui, em média, entre 200-300 páginas. Seguindo este raciocínio, analisaremos entre 4200-5600 páginas, referente às 4 Conferências Pan-Americanas e às 3 Reuniões de Chanceleres. d) Acervo on-line 2: Foreign Relations of the United States - http://goo.gl/w5c3kT •

United States Department of State Foreign relations of the United States. Diplomatic Papers. The American republics [volumes de] (1933); (1938); (1939); (1940); (1942); (1948); (1954). Em termos de método é importante destacar que consideramos os conhecimentos da análise

diplomática e análise tipológica (BELLOTTO, 2002) ao mesmo tempo em que privilegiamos a análise política dos documentos e discursos em perspectiva histórica. Neste sentido, como estratégia inicial de análise das fontes, definimos um roteiro que inicia-se com a leitura e análise da documentação por conferência. Considerando os objetivos da pesquisa, elaboramos um conjunto de questões: Quais são os temas do contexto político (e não necessariamente da agenda) em torno da Conferência levados a debate? Quais os principais países (em especial o Brasil) envolvidos e como são representados pela 15

documentação? Qual ideia de região e integração regional pode ser visualizada? América, América Latina, América do Sul? É possível identificar possibilidades de integração regional em algum nível? Qual a visão de história podemos encontrar na documentação? É uma visão que ainda permanece atualmente? Podemos identificar as ações imperialistas diretas ou indiretas dos Estados Unidos? Podemos identificar manifestações de resistências e/ou anti-imperialismos da América Latina? Se sim, como podemos qualifica-las? Para ficar em um exemplo, quando analisamos a Sétima Conferência partimos do acervo The Foreign Relations of the United States - The American Republics (UNITED STATES, 1933), e identificamos que os principais temas em debate antes e durante o evento estavam fora da agenda e diziam respeito a questões políticas continentais: os conflitos limítrofes do Chaco e Letícia e a questão do reconhecimento do governo de Ramón Grau San Martín em Cuba. Embora para alguns países da América Latina a Conferência deveria ser adiada enquanto não se resolvessem os conflitos, a diplomacia norte-americana deu instruções claras aos seus delegados para considerar o contexto da boa vizinhança sem entrar no mérito e se possível evitar as questões políticas demandadas por alguns países da América Latina. Em suma, a documentação diplomática dos Estados Unidos indica que os temas políticos mencionados dominaram o debate em torno da Sétima Conferência com destaque para a Argentina e o México na oposição e o Brasil tentando exercer o papel de mediador. 4 PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE SUA EXECUÇÃO 2013

2014

2º Sem.

- Cumprimento de créditos obrigatórios relativos à disciplina de Pós-Graduação (CONCLUÍDO).

1º Sem.

- Incorporação de bibliografia de apoio e revisão do projeto (CONCLUÍDO).

2º Sem.

- Incorporação de bibliografia de apoio. - Leitura e análise de documentos digitalizados disponíveis em acervos on-line. - Leitura e análise de documentos digitalizados disponíveis em acervos on-line.

1º Sem. 2015 2º Sem.

2016 2017

- Leitura e análise de fontes do Arquivo Histórico do Itamaraty (Estágio de pesquisa no Rio de Janeiro). - Leitura e análise de fontes do National Archives (Estágio de pesquisa em Washington). - Análise das fontes e elaboração do relatório de qualificação.

1º Sem.

- Realização do exame de qualificação e Início da redação da tese.

2º Sem.

- Redação da tese.

1º Sem.

- Redação e defesa da tese.

5 REFERÊNCIAS 5.1 Fontes primárias ACTA FINAL. “Documentos sobre a 3a Reunião de Consulta de Ministros das Relações Exteriores Americanos contendo a ata final da Reunião; nota da Agência Nacional; discurso do representante cubano na Conferência e lista de todas as delegações que compareceram à Reunião”. Arquivo: Getúlio Vargas Classificação: GV c 1942.01.28 Data: 28/01/1942. UNITED STATES. United States Department of State. Foreign relations of the United States diplomatic papers, 1933 (in five volumes). The American republics. Volume IV. U.S. Government Printing Office, 1933. 16

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