The Art of Queening - Peão por uma rainha – Anne Neville e as ambições de uma família à coroa de Inglaterra

June 24, 2017 | Autor: Aeris Turunen | Categoria: Gender Studies, Medieval History, Medieval Studies, Wars of the Roses
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4



CARROLL, 2008:60-61
cf. DE LA FLOR e MURIEL, "El Mundo es como un tablero de ajedrez"
O interessante sobre a história do xadrez é que oferece sem dúvida uma base teórico-imaginativa para aplicar ao mundo das alianças, pactos e contractos politico-matrimoniais da Idade Média, bem como da natureza e importância do estatuto social. Veja-se MURRAY, A History of Chess (The Original 1913 edition), New York, Skyhorse Publishing, 2012
Varandas, 2007
Tradução minha
Destaque para as mais famosas traduções : a de Jean Ferron de 1347 e de Jean de Vignay, Jeu des Eches (1350) para francês e a do tipógrafo William Caxton em 1474, The Game and Playe of Chess, encomendado por Margaret de York, irmã de Edward IV, Richard III e George, duque de Clarence; o livro foi dedicado a este último. O interesse destas obras por parte da corte é tal que é o segundo livro impresso em língua inglesa, o que demonstra a importância atribuída ao xadrez na sociedade medieval, nomeadamente nos grupos da realeza e nobreza.
A terminologia "Bispo" em detrimento de alfil e a introdução do cavalo só surgiram no século XII, fruto das influências francesas e inglesas que precisavam de alterar o modo de representar a cavalaria e o clero, influenciadas pela moralidade medieval que utilizava o jogo como metáfora para representar a sociedade. (MURRAY, 2002)
A tradução de Caxton, The Game and Playe of Chess, refere este peão como "money changer", o que equivaleria ao nosso credor, fiador ou até mesmo banqueiro. Os objectos que o acompanham aferem esta ideia – "The fourth pawn is sette tofore the kyng and is formed in the forme of a man holdyng in his right hand a balaunce and the weyght in the lyft hand (…) at his gurdel a purse ful of money redy for to geve to them that requyred hit (…) And by the table that is tofore hym is signefyed the chaungers and they that lene money. And they that bye and selle by the weyght ben signefyed by the balaunces and weyghtes. And the customers, tollars, and receyvours of rentes and of money ben signefyed by the purse." A sua posição no tabuleiro - "sette tofore the kying", justifica-se mais uma vez pela ordem do cosmos medieval e pela rede de vínculos entre rei e súbditos: "hit is reson that this peple be set tofore the kyng, for as moche as they signefye the receyvours of the tresours ryal that ought alwey to be redy tofore the kyng, and to answer for hym (…) for theyr wages and souldyes." (CAXTON, 2009)
Este peão tinha personificações várias directamente relacionadas com a saúde: boticário, especieiro, físico ou cirurgião (cf. Ibid., op.cit)
"When a pawn arrives at the top of the board, its name is transformed into fers; and it appropriates provisionally the privileges of the queen" (BOLENS e TAYLOR, 1998:329). A citação, de autor anónimo da segunda metade do século XII, foi apropriada por Whaley. Não obstante a afirmação, nada indica que "fers" é outro nome para "rainha", ou se é somente o nome dado ao peão recém-promovido, em contraste com a rainha, guardiã do rei por excelência. Caxton realça esta faceta de guardiã, que assegura a sucessão e protege o rei, consolando-o e amando-o: "(…) goth to the batayle wyth the kynge (…) for the solace of hym and ostencion of love." (CAXTON, 2009)
FUENTE, 2004:13; o cavalo não e mencionado porque é uma peça de origem anglo-francesa, criada de propósito para servir esse contexto político-social próprio de a uma sociedade cuja sede de romances de cavalaria era insaciável. Só terá sido introduzida na Península Ibérica um século mais tarde, dai não estar incluída na enumeração de Cessolis.
YALOM, 2004
FUENTES, 2004:13
YALOM, 2004
CAXTON, 2009
Elizabeth Woodville serve de exemplo para este "blitzgrieg" social descrito nesta jogada de xadrez. A ascensão dos Woodville, uma família gentry pobre, foi feita no espaço de cinco décadas. Richard Woodville foi armado cavaleiro por Henry VI em 1426 e, ao contrair matrimónio com Jacquetta de Luxembourg, viúva do Duque de Bedford, transformou o status político e social, bem como financeiro da família. Graças a este casamento, Richard comprou um lugar na nobreza como Lord Rivers e casamentos vantajosos no seio das mais importantes famílias inglesas para a sua extensa progénie. O auge dos Woodville na hierarquia inglesa foi atingido por intermédio do segundo casamento de Elizabeth, filha mais velha de Richard, com Edward IV (WAGNER, 2001)
BOLENS e TAYLOR, 1998: 329-330

Nota: Alguns nomes e termos ingleses serão traduzidos ao longo do trabalho por receio de falta de equivalentes em português.
A tomada da "rainha" ou "dama" no xadrez funciona como motif da captura da mulher ou do que ela simboliza. Em muitos contos galeses, irlandeses ou famosos romances de cavalaria vemos a Soberania personificada numa mulher e disputada por dois reis rivais como prémio do jogo - em Mabinogion, "O Sonho de Rhonaby", "Peredur" e " O Sonho de Maxen Wledig"; em "O Cortejar de Étain" do Ciclo Mitológico irlandês; nos romances de cavalaria como Percival e Sir Gawain and the Green Knight (VARANDAS, 2009)
SILVA, 2007:29-30
Tal como constituía mais a regra do que a excepção a noiva receber, para além do dote, concessões várias que juntaria a um património próprio. (Cf. SILVA, 2007:29)
Sublinhado meu
BOSH, 1987:214
Tal como fizera Ricardo Coração de Leão logo que se iniciaram as hostilidades contra Filipe II de França (cf. BOSH, 1987:214)
SPRING, 1993: 9-12
SPRING,1993:13
Digo readmitidos porque creio que estes direitos são uma reapropriação de uma política hereditária e organização imagética dos antigos povos do território, adaptados a um novo contexto e sociedade.
Foi uma das razões evocadas por Edward III aquando da reivindicação do rei inglês ao trono de França, e um dos pretextos para o iniciou da Guerra dos Cem Anos.

BOHN, 1845:215
Ao contrário do que se possa pensar, a Guerra das Rosas não eclodiu tendo, a priori, um princípio de aquisição da coroa inglesa como principal causa. Foi antes uma disputa, transformada em conflito armado, entre ambições de famílias nobres, com os Percies a ressentirem-se da força política dos Nevilles no Norte de Inglaterra e da sua influência na corte nas primeiras décadas do século XV, e pela impotência régia num contexto de descentralização de poder. Sobre as causas para a origem do conflito, vejam-se os artigos de GRIFFITHS, A, 1968, "Local Rivalries and National Politics; The Percies, The Nevilles, And The Duke Of Exeter, 1452-55", em Speculum: A Jornal of Medieval Studies, Vol.43, Nº4. Disponível online em «http://www.jstor.org/stable/2855323» (acedido em 14/12/2013); POLLARD, Anthony, 1993. Disponível online em «http://www.historytoday.com/anthony-pollard/percies-nevilles-and-wars-roses» (acedido em 20/12/2013)
BURKE, 1835:9
Várias gerações dos diversos ramos da família Neville serviram reis e personalidades importantes do século XIII ao XIV como Richard II, Eduardo III e John of Gaunt nos mais variadíssimos e altos cargos religiosos e militares. A título de exemplo, Alexander Neville foi Arcebispo de York e conselheiro de Ricardo II; Ralph foi apontado para comandante por Eduardo III em diversas campanhas contra os escoceses; John foi vassalo de John of Gaunt e um soldado exemplar nos primeiros anos da Guerra dos Cem Anos.
WAGNER, 2001: 173
Duquesa de York por casamento, a filha mais nova de Ralph Neville e Joan Beaufort foi mãe de Eduardo IV, George, Duke of Clarence e Richard III.
Muitos destes títulos e cargos administrativos foram sucessivamente atribuídos a membros da família Neville ou Percy. A acumulação de funções permitiu um exercício de autoridade pessoal que só cessou após a queda em desgraça dos Percies e pela morte de Richard Neville, Earl of Warwick, em 1471. As populações do Norte não conheceram outras famílias na governação desses territórios até ao final do século XV. (cf. YOUNG, 1996:140-142).Em matéria de títulos concedidos, veja-se WAGNER, "Neville Family", Encyclopedia of the War of the Roses, 2001.
Apesar de Ralph, neto de Westmorland pelo primeiro casamento, ser, na teoria, o principal beneficiário, Joan Beaufort ajudou o seu filho mais velho, Richard, a herdar as ricas propriedades em Yorkshire, permitindo-lhe disputar com os Percies, que também tinham muitas possessões nessa área, a administração desse território. Ralph reteve pouco mais do que o título de Earl of Westmorland e metade do património dos Neville enquanto Richard, para além de adquirir terras por via materna, ainda beneficiou da união matrimonial com Alice, filha e herdeira de Salisbury, o que automaticamente lhe concedeu tal título em 1429 e o agraciou com mais terras (cf. GRIFFITHS, A.,op.cit., pp. 590-591). A linhagem dos Neville de Westmorland terminou com a morte de Ralph Neville em 1484. As terras de Westmorland ficariam na posse de Richard, Duque de Gloucester, marido de Anne Neville.
O rei não precisava apenas de dinheiro. Na ausência de exércitos permanentes, os reis encontravam apoios nas suas redes clientelares e respectivas forças militares (para campanhas além fronteiras e pôr fim a revoltas internas)
cf. KEEN, 1990:157
KEEN, 1990:193
As redes clientelares nobres raramente se desenvolviam na afirmação de exércitos privados. Contudo, sob o comando de homens formidáveis como Richard, Duque de York, e Richard Neville, Earl of Warwick, e face a monarcas ineptos e inseguros como Henry VI ou Edward IV, estas forças de vassalos eram meios poderosos para desafiar ou depor monarcas.
O conflito não tem marcos cronológicos definidos. A maioria dos historiadores defende que a Guerra das Rosas é constituída por décadas espaçadas de conflito armado e não em continuum. No entanto apontam o período entre 1455 e 1460 para o início das hostilidades, apesar de se reportarem até episódios do século XIV como a deposição de Richard II ou mesmo o início da Guerra dos Cem Anos como contribuintes válido para as causas do conflito do século XV. Sobre a Guerra das Rosas, veja-se o Prefácio de WAGNER, A., Encyclopedia of the War of the Roses, 2001; os capitulos de COOK, R., "Part One: The Background – Fifteenth Century England" e "Part Two: Lancastrians and Yorkists", in Lancastrians and Yorkists: The War of the Roses, 1984.
POLLARD, 1993; sobre o "Neville-Percy Feud" veja-se GRIFFITHS, A., op.cit.
York era casado com a irmã de Richard, Cecily, e Edmund Beaufort, segundo Duque de Somerset, era sobrinho de Joan Beaufort.
Apoiante dos Lancasters, a morte de John, Lord Neville of Raby, em 1461, ditou o fim deste ramo da família. As propriedades de Raby (Durham) foram transferidas para o irmão de Warwick, Lord Montagu.
Ricardo, Duque de York revindicou a coroa em 1461 e o seu filho Edward foi coroado Edward IV em 1461
COOK, 1984: 23-24
Estas vitórias valeram-lhe o título de Earl of Northumberland em 1464. Com os territórios de Warwick e as recompensas dadas pelo rei Edward IV nos primeiros anos de reinado, os Neville selaram o indiscutível domínio no norte.
Cf POLLAND, 1993
Richard, Duque de York, foi exilado por Margaret de Anjou. Com receio do Duque por em risco a sucessão do filho de Henry VI, Edward, a rainha conseguira afastá-lo da corte em 1456. Veja-se WAGNER,A., "Richard Plantagenet, Duke of York", op.cit.
A resistência dos Lancasters no norte foi encabeçada por Margaret de Anjou. A rainha havia conseguido o apoio da França e da Escócia (c.1461) nos inícios para a causa lancastriana mas os Neville, pela mão de Warwick e do irmão John, Lord of Montagu, viram as suas alianças serem destruídas pela sucessiva conquista de castelos e derrotas. A morte de Sir Ralph Percy às mãos de Warwick foi um golpe devastador no controlo do norte. Em pouco tempo, os restantes membros leais a Lancaster foram capturados e executados.
YOUNG, 1996:147-148
A escolha parece ter recaído primeiro sob a Escócia para reforçar as tréguas de 1461. Porém, a política externa algo agressiva (e persuasiva) de Luís XI de França resultou no início de negociações entre Warwick e o rei francês nos primeiros meses de 1464, com vista a uma aliança anglo-francesa contra o ducado da Borgonha, chefiado por Carlos, o Temerário, filho de Isabel de Portugal e Filipe III da Borgonha e, consequentemente, neto de D. João I.
"(…) he knew very well that if Warwick, and all those whom Warwick would carry with him, were to desert him, he should not be able to retain his kingdom" (cf. ABBOT, 1900:93); o cognome de Warwick, "The King-maker" aludia precisamente ao papel crucial que teve na queda de uma dinastia e na ascensão ao trono de outra.
COOK, 1984: 31
Para matérias de politica inglesa nos finais da década de 60 do século XV, veja-se 'Milan: 1469', Calendar of State Papers and Manuscripts in the Archives and Collections of Milan: 1385-1618, Allen B. Hinds (ed.), 1912. Disponível online em http://www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=92255 (consultado a 27/12/2013)
WAGNER, 2001:182; James Bohn refere, num tom de ironia, que os dois irmãos frequentavam mais as mansões do Earl of Warwick do que as do irmão e rei. Terão, muito provavelmente, convivido com Isabel e Anne: "As the young princes approached towards manhood, they appear (…) to have been more frequently the inmates of the Earl of Warwick´s house, than of their brother´s palace" (BOHN, 1845:215). Mas se tivermos em conta que Edward aprendeu a arte da Guerra com Warwick, talvez essa presença constante dos irmãos do rei pudesse ser para receberem treino militar com o antigo mestre de armas do monarca (JESSE, 1862:34-35)
Nome dado para designar o uso prematuro da Rainha logo nas primeiras jogadas.
COOK, 1984:33
BOHN, 1845:216; ABBOT, 1900:116-117
Expressão de origem francesa, significa "eu ajusto [a peça] ". É utilizada por um jogador durante o decorrer da partida quando toca numa peça mas não avança com a mesma.
ABBOT, 1900:124-125
"His Majesty left here to-day for Dengen [Dijon] (…) where he is to meet the Earl of Warwick, who comes to make him reverence. It is considered certain that they will arrange a marriage between a daughter of the earl and the Prince of Wales, King Henry's son, and by thus raising up once more the party of that king the earl will return forthwith to England. (…) His Majesty assists him with money and men, nothing being omitted to render him victorious, and he is very hopeful." – "Milan 1470" Calendar of State Papers and Manuscripts in the Archives and Collections of Milan: 1385-1618, Allen B. Hinds (ed.), 1912, pp.134-145. Disponível online em «http://www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=92256» (acedido a 29/12/2013)
ABBOT, 1900:125
Seria uma forma de assegurar a permanência dos York e Lancaster no trono. Poderia ter sido o prelúdio de uma união entre as duas casas. (cf. BOHN, 1845:233)
Na correspondência de Junho de 1470 do embaixador milanês em França, Sforza de Bettini de Florença, para Galeazzo Sforza, Duque de Milão, Warwick parecia contar com o poder de persuasão do rei francês. - "The Earl of Warwick does not want to be here when that queen first arrives, but wishes to allow his Majesty to shape matters a little with her and induce her to agree to an alliance between the prince, her son, and a daughter of Warwick, and to put aside all past injuries and enmities (…) His Majesty has spent and still spends every day in long discussions with that queen to induce her to make the alliance with Warwick and to let the prince, her son, go with the earl to the enterprise of England." No entanto, a anuência de Margaret foi dificil de conquistar – "Up to the present the queen has shown herself very hard and difficult, and although his Majesty offers her many assurances, it seems that on no account whatever will she agree", Só em Julho é que Luis XI conseguiu a aprovação da rainha nos dois assuntos: o perdão para Warwick e o noivado de Anne e Edward – " The Queen of England, wife of King Henry, has been induced to consent to do all that his Majesty desires, both as regards a reconciliation with Warwick and the marriage alliance. The said queen and Warwick are expected here in a day or two, to arrange everything finally, and then Warwick will return to England without losing time (…) She graciously forgave him and he afterwards did homage and fealty there (…)" - 'Milan: 1470', Calendar of State Papers and Manuscripts in the Archives and Collections of Milan: 1385-1618. Disponível online em «http://www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=92256 »( consultado a 2/1/2014)
Veja-se "The manner and guiding of the Earl of Warwick at Angiers" em The Chronicles of the White Rose of York, John Bohn (ed.), 1845, pp. 229-230; Sob os juramentos proferidos por Warwick , Luis XI e Margaret de Anjou, veja-se The Chronicles of the White Rose of York, James Bohn (ed.), 1845, pp. 229-234
Veja-se 'Milan: 1470', Calendar of State Papers and Manuscripts in the Archives and Collections of Milan: 1385-1618 e The Chronicles of the White Rose of York 229-234
Uma das cláusulas do tratado entre Margaret e Warwick ditava que o casamento só seria consumado depois de este assegurar o controlo efectivo do reino. Anne ficaria sob a alçada da rainha até que a demanda de Warwick fosse bem sucedida: "(…) from thence forth the said daughter of the Earl of Warwick shall be put and remain in the hands and keeping of Queen Margaret (…) that said marriage shall not be perfected till the Earl of Warwick (…) had recovered the realm of England in the most part thereof for the King Henry" - The Chronicles of the White Rose of York, James Bohn (ed.), 1845, pp. 233-234
A restauração de Henry VI trouxe poucos benefícios a Clarence. Entre os lancastrianos exilados, que reclamaram as suas terras e privilégios, e as concessões da casa real após readquirem o trono, Clarence ficaria prejudicado. A sua deserção para o lado do irmão enfraquecer, e muito, a causa de Warwick (cf. COOK, 1984:34-37).
Como foi mencionado anteriormente, a efectiva consumação do casamento entre Edward e Anne, ou apenas a celebração de um contracto matrimonial, ainda é objecto de discussão entre historiadores ingleses. Com efeito, aquando dos esponsais, Anne terá recebido o título de Princesa de Gales (cf. JESSE, 1862:63) e, na correspondência milanesa de 1470 o embaixador do Duque em França também identifica Anne como "the princess". Mas a cláusula imposta por Margaret, esse perfecting dependente da vitória absoluta de Warwick, bem como a sua aversão ao casamento ainda mantém a dúvida - The Chronicles of the White Rose of York, pp.242
YOUNG, 1996:148-149.
VINYOLES, FENOLLAR e CASTELLVÍ, Scachs d´Amour, epitáfio 58. Disponível online «http://www.scachsdamor.org/» (acedido a 21/1/2014)
JESSE, 1862:72; WAGNER, 2001:171
O direito da Duquesa de Warwick, a verdadeira herdeira do património dos Beauchamps (pela morte do pai e irmão) tinha direito a receber o dote pela morte do marido. Mas os seus privilégios foram-lhe negados (BOHN, 1845:242) e selados por um act of Parliament de 1474 (JESSE, 1862:75)
JESSE, 1862:176-178
Um outro artigo de 1474 proibiu Anne de se divorciar de Richard. Se o fizesse e não se reconciliasse com ele atempadamente (preferenciamente antes da sua morte) perderia todos os direitos sob o património Neville: "If the said Duke of Gloucester be at any time after divorced from the said Anne (…) upon such divorce, doth the uttermost to be reconciled during his wife´s life, that then after the death of his said wife, shall enjoy his property". (cf. The Chronicles of the White Rose of York, pp.244)
Por casamento, Richard herdou o castelo e domínio de Sheriff-Hutton, Pontefract Castle, dicado de Penrith (Cumberland), Barnard Castle e respectivos domínios (PRITCHETT,1886:21-33)
JESSE,1862:181
Richard receberia o título do avô paterno, Earl of Warwick. Os filhos de Isabel terão sido educados após a morte dos pais por Anne e Richard (WAGNER, 2001:178, 204)
Sob as causas da execução de Clarence, veja-se The Chronicles of the White Rose of York, pp.245-259; WAGNER, "Execution of Clarence", Encyclopedia of the War of the Roses, London, 2001, p.56; JESSE, 1862:81-84
Como foi anteriormente, apesar dos Neville de Westmorland terem tido pouco envolvimento na Guerra das Rosas, com a morte do último Earl em 1484, Edward IV concedeu as terras a Gloucester.
COOK, 1984:42
Ainda é incerto se Edward terá efectivamente sio coroado. Se tal aconteceu, o filho de Edward IV recebeu o título pelo período de dois, três meses. (COOK, 1986; WAGNER, 2001:283)
É um dos mistérios mais famosos da história inglesa. O destino dos jovens é desconhecido. Gloucester pode tê-los mandado executar na Torre quando subiu ao trono como Richard III para eliminar ameaças à sua pessoa e coroa. Edward V e Richard Plantageneta ficaram conhecidos como os "Princes in the Tower".
Quando Anne morre, em 1485, um rumor sobre o desejo de Richard III em casar com a sobrinha Elizabeth corria pela corte. Dizia-se que o rei repudiara a mulher após a morte do filho e envenenara-a para conseguir casar com a jovem. Contudo, tal casamento parece nunca ter passado da teoria para a prática (cf. WAGNER, 2001:88). Elizabeth casaria com Henry Tudor, Conde de Richmond, filho de Margaret Beaufort, descendente de Katherine Sywnford e John of Gaunt, futuro Henry VII, unindo as casas de York e Lancaster.
De entre os vários artigos, o Parlamento acusa Jacquetta de Luxemburgo, mãe de Elizabeth, de feitiçaria e Edward IV de adultério – "Appendix: To the high and mighty Prince Richard Duke of Gloucester.", The Chronicles of the White Rose of York, pp.272-279; Veja-se também EDLYNE; RAITHBY, The statutes at large, of England and of Great Britain
from Magna Carta to the union of the kingdoms of Great Britain and Ireland, vol.2, London, 1917 (2ªed.), pp.688-691. Disponível online em «http://www.archive.org/details/statutesatlarge01raitgoog »(acedido a 18/1/2014)
"And the two sonnyes of kynge Edward were put to cilence, and the duke of Glocester toke upone hym the crowne in July, wych was the furst yere of hys rayne. And he and hys qwene crownyd on one daye in the same monyth of July." - 'The Chronicle of the Grey Friars: Richard III', Chronicle of the Grey Friars of London: Camden Society old series, 1852, p.23. Disponível online em «http://www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=51585» (acedido a 18/1/2014)
WAGNER, 2001:172; COOK, 1986:47
PRINCHETT, 1886:32
PRITCHETT, 1886:21
COOK, 1986:50;
Se tal se concretizasse, cessar-se-iam as hostilidades pela unificação das duas casas: a de York representada por Richard III e a de Lancaster por D. Joana, bisneta de Filipa de Lancaster: "(…) por se unir as duas partes daquele reino, de que nascem as divisões e males sobre a sucessão." (cf. GASPAR, 1988:233)
Era igualmente o receio de que Richard III tentasse contrair matrimónio com Isabel de Castela após uma recusa por parte da princesa que levou o rei português a considerar a proposta. O Conselho de Estado português lembrou a D.João II que se a princesa "não o fizer, talvez o rei de Inglaterra se venha a casar com Isabel de Castelã e fazer sua liga com os seus dela e ficar-vos inimigo e contrário, o que seria para este Reino grande perda e pouca segurança do vosso estado" (cf. GASPAR, 1988:233-236)













Faculdade de Letras
Universidade de Lisboa


Ano lectivo 2013/2014

Seminário de Monarquia e Casa Real


The Art of Queening: Peão por uma rainha – Anne Neville e as ambições de uma família à coroa de Inglaterra






Ana D. Correia (nº43569)

Índice


Introdução pp.3-7

The Art of Queening pp.8-29

Conclusão p.30

Bibliografia pp.31-34












Introdução

"It´s a great huge game of chess that´s being played – all over the world (…). How I wish I was one of them! I wouldn´t mind being a Pawn, if only I might join – though of course I should like to be a Queen, best!"
She glanced shyly at the real Queen but her companion smiled pleasantly, and said, "(…) You can be the White Queen´s Pawn, if you like, (…); and you´re in the Second Square to begin with: when you get to the Eighth Square, you´ll be a Queen."

A obra Through the Looking Glass está estruturada como um jogo de xadrez - as personagens assumem os papéis das peças. A própria protagonista, Alice, é um peão, e as suas aventuras são simplesmente dramatizações de diferentes movimentos no jogo. Dito de outra forma, as jogadas são um reflexo das acções das personagens. Alice inicia a sua demanda como um mero peão, e termina com a "promoção" a Rainha. No xadrez moderno, quando um peão alcança a oitava fileira pode ser trocado por qualquer outra peça. Visto ser a peça mais poderosa do jogo, a escolha recai quase sempre sob a Rainha. A promoção é, por isso, apelidada de queening no vocabulário xadrezista.
O xadrez na cultura ocidental, mais do que um simulacro de guerra, constituiu, na Idade Média, uma analogia para "Sociedade": o significado do jogo e das próprias peças tornam-se instrumentos oportunos do modelo metafórico do corpus político, do jogo de amorus e da morte como derradeira niveladora. Terá tido a sua origem na Ásia, na área que corresponde hoje à Índia, por volta do século VI. As peças do então Chaturang aludiam às quatro partes do exército: bigas, cavalaria, elefantes e infantaria. A divulgação do jogo deve-se aos persas que o introduziram no Império Bizantino por volta do século VII. Com a conquista da Pérsia pelos muçulmanos no mesmo século, a divulgação do novo entretenimento, apelidado de Aššiṭranǧ em árabe clássico, vir-se-ia facilitada por todo o Califado. No século X, o Aššiṭranǧ entrara na Europa por duas vias: pelos árabes na península ibérica e pelos sarracenos na península itálica; à Inglaterra chegou por intermédio dos normandos no século XI. Por outro lado, na Irlanda e no território galês já se jogava há muito jogos assemelhados ao xadrez, respectivamente o fidchell e o gwyddbwyll, presentes em inúmeros contos, que datam de meados do século X ao XII. Sem dúvida que quem populariza a visão alegórica do xadrez é o frade dominicano Jacobus de Cessolis cujo tratado de meados do século XIV De Ludo Scachorum ou Liber De Moribus Hominum et de Officiis Nobilium Super Ludo Scaccorum – O Livro do xadrez ou O Livro dos costumes do homem e dos cargos dos nobres à semelhança do jogo de xadrez - foi alvo de tradução para inglês, francês, alemão, italiano e castelhano. Os diversos sermões em forma de metáfora usam o xadrez para retratar as relações complexas entre o Rei e os vários "membros" do seu reino; um speculum regis que tinha como propósito apresentar o xadrez como uma alegoria de uma ordem social diversa, organizada em torno de elos sociais e profissionais, com o princeps à cabeça da sociedade. Quando Caxton traduz a obra, baseando-se noutras traduções do século XIV a publica em 1474, o xadrez tornara-se num speculum corpora politica, um espelho do corpo político, aludindo à nova organização do poder delegada pelo feudalismo, onde o destino do Reino não se encontra apenas nas mãos de uma pessoa. Para além do Rei, cada peça era símbolo de um grupo social: os alfiles eram os juízes, as torres os funcionários régios e os guerreiros, e os peões os trabalhadores de várias profissões "menores"; da esquerda para a direita respectivamente: o camponês, o ferreiro, o tecelão, o credor, o médico, o estalajadeiro, o porteiro e o mensageiro. Mas qual é o papel da Dama, da Rainha, e como um simples peão pode tornar-se na peça mais importante do jogo? E se o xadrez é uma réplica da organização política e social dos reinos, como adquire tão real estatuto?
Geoffrey Chaucer, autor do século XIV, nos seus Canterbury Tales, conota "fers", (outrora o nome dado à peça comummente conhecida por "Rainha") de feminino, ao associar a peça com o lado Branco em The Book of The Duchess. Esta peça começava o jogo à direita do Rei e é difícil datar com precisão quando ocorreu a mudança de género e ranking, de masculino para feminino, conselheiro real para rainha. No caso inglês, segundo Bolens e Taylor, a referência mais antiga à fusão entre fers e rainha é do livro de John Whaley, autor de Comparison of the World with the Game of Chess.
Maria Jesús Fuentes cita como Cessolis explica quais as características da rainha e a sua função na sociedade medieval pelos seus movimentos no xadrez: "la reina tenía derecho a pasar por encima de los alfiles, es decir, de los jueces, así como de las torres símbolo de los funcionários, y por supuesto de los peones" . Marilyn Yalom afere que a rainha do xadrez moderno surgiu provavelmente para se adaptar a uma nova realidade de mulheres formidáveis como Leonor de Aquitânia, Blanche de Castela e, posteriormente, Isabel I, a Católica, e Cessolis corrobora este poder crescente da rainha, do qual o xadrez era speculum: "(…) ténia autoridade por derecho próprio, y que las otras piezas de la sociedad solo la tenian por delegación del monarca". A promoção de peão a fers já provém de Cessolis e do Libro de los juegos de Afonso X de Castela, "A peça, quando chega à oitava fileira "shall gete by his vertu the dignyte of the quene". Isto pode bem ser uma metáfora para alguns casos onde a sucessão era marcada pela mobilização social ascendente de mulheres de estatuto inferior na ausência da rainha, situação que não era desconhecida aos ingleses. Já Chaucer, em Clerk´s tale, havia utilizado esta metáfora – uma "rainha" podia tanto o ser por queening ou, quando perdida, podia ser substituída por qualquer peão que chegasse à última casa. Isto dá-nos uma noção, apesar de insípida, da mentalidade e sociedade inglesa. Ser rainha não significava ter que pertencer, a priori, a uma família da alta nobreza ou ter nascido no seio de uma das casas reinantes da Europa; não implicava ter que começar o jogo na oitava fileira. "You can be the White Queen´s Pawn" disse a Rainha a Alice – o que é importante é ter um lugar no jogo e saber disputá-lo. A partir daqui, tudo é possível e até um mero peão pode tornar-se uma rainha.
Admite-se a singularidade desta introdução…mas a incidência na história do xadrez e na importância do jogo vem de encontro ao propósito deste trabalho - compreender a centralidade que Anne Neville, filha mais nova de Richard Neville, Earl of Warwick, conhecido para a história como "The King-Maker", deteve nas aspirações de uma família ao trono inglês, num palco de batalhas, contendas, intrigas e traições constantes, sucessivas revoltas, quedas e ascensões de reis e rivalidades acérrimas entre famílias que constituiu a Guerra das Rosas. Pretende-se criar uma analogia entre a promoção de Anne de mero peão a Rainha de Inglaterra. O seu destino foi traçado pacientemente, e a progressão no tabuleiro de xadrez da sociedade inglesa do século XV foi-se paulatinamente desenvolvendo graças, em muito, à Fortuna, até que em poucas jogadas oportunamente bem executadas nas mãos de outros, e tirando proveito das situações vigentes, Anne alcançou o prémio máximo para os Neville: a coroa.















The Art of Queening: peão por uma Rainha – Anne Neville e as ambições de uma família à coroa de Inglaterra.

Anne e o património Neville: o tabuleiro
Para compreender o caminho empreendido por Anne Neville é essencial perceber, num primeiro momento, quais as razões e estratégias levadas a cabo pelo pai, Earl of Warwick, que proporcionaram o seu noivado com Edward (n.1453), Príncipe de Gales, filho varão de Edward IV e Margaret de Anjou e, mais tarde, quais os interesses de Richard, duque de Gloucester e Clarence, Duque de Clarence, em casar com a herdeira mais nova de Warwick.
Um jogo de xadrez decorre a dois níveis, como menciona a Alice de Carroll: ao nível metafórico, isto é, o jogo per se, e, dai, parte para o nível literal, ou seja, a tal dramatização no "real". Num jogo de xadrez, há sempre um tabuleiro que representa o "objecto" desejado - território, realeza, e acima de tudo a Soberania – pelo que fez dele jogo predilecto e restrito de reis e nobres. A aquisição da Soberania é crucial e afere-se em muitas culturas. Desde os primórdios dos tempos que esta consiste na personificação da terra por parte de uma divindade feminina que corporiza, ao mesmo tempo, o conceito de Soberania. Para adquirir tal poder, era necessário ao homem, ao rei, assegurar que estabelecia uma relação de intimidade, numa cerimónia ritual e, em muitos casos, contrair matrimónio, para perpetuar a harmonia do reino e o seu próprio poder sobre este e seus súbditos. Na Idade Média (e Moderna), a mulher servia o jogo de interesses político-económicos ao nível das alianças entre famílias, reinos e linhagens, quase sempre seladas por contractos de casamento. Portanto, esta noção da mulher como detentora da Soberania e, consequentemente, senhora do território, não foi erradicada por completo - as arras, os dotes e as heranças são reminiscências desse passado. Por exemplo, uma antiga tradição transmitida pelos códigos legais visigodos denominada pagamento de arras, vingou nos reinos ocidentais da Península Ibérica. Manuela Silva desenvolve este assunto referindo que este pagamento, feito pelo pai ou noivo, era para compensar a noiva do uso do corpo e assegurar a sua subsistência. Acrescenta ainda que, no caso português "o usufruto das arras era imediato e constituía a principal forma de manutenção económica das agraciadas". Os poderes destas "recém" rainhas nos seus domínios aparentavam ser plenos, podendo mesmo levar a cabo o exercício do poder civil e criminal.
Incidamos a nossa atenção no caso pretendido - a realidade inglesa do século XV e o valor "material" de Anne Neville. O feudo tornara-se hereditário até ao final do século XII. A absoluta primazia da descendência em linha masculina, legado da gens romana, ditava que o filho mais velho do falecido vassalo receberia, por herança, o feudo. Mas as terras retornavam para a posse do senhor, e o herdeiro não as podia reclamar sem antes renovar o juramento prestado pelo seu antecessor ao senhor, prometer defendemo-lo na guerra e na paz, e mediante continuação do pagamento de tributo. Nada, em si, parece mais contrário à natureza do feudo do que permitir às mulheres a sua herança. Não porque a Idade Média (no contexto anglófono) as tenha julgado incapazes de exercer poderes de comando. Segundo Bosch, "ninguém se chocava por ver uma grande dama presidir à assembleia de barões, em lugar do marido ausente". Edward III fundara inclusive the Order of the Garter, a mais antiga e prestigiada ordem de cavalaria inglesa, grupo restrito de conselheiros e extremamente elitista, cujos membros incluem, ainda hoje em dia, o soberano, o Príncipe de Gales, e alguns cavaleiros e damas; a sua filha Isabella e a rainha Philipa fizeram parte do grupo fundador, o que sugere que as mulheres não estavam de todo excluídas de participar nas discussões políticas. Mas não pegavam em armas. A vocação hereditária das raparigas era imediatamente abolida em contexto de guerra. Por outro lado, a esta opção subjaz a ideia de que, uma vez que a mulher era incapaz de servir "pela força das armas", o marido faria tal por si. Contudo, na França e na Inglaterra normanda do século XII, há muito que não se recusava à herdeira o mesmo que se concedia ao herdeiro. A regra elementar é sabida: as terras eram entregues ao filho varão em detrimento dos restantes irmãos. Todavia, na ausência de varões, reconhecia-se às filhas, e até mesmo a parentes femininos, se não existissem masculinos em grau igual, os mesmos direitos sobre os feudos que tinham sobre os outros bens. A common law inglesa dáva, portanto, preferência ao homem, mas esta primazia era limitada, pois se antepunha filho a filha, por outro lado escolhia-a como herdeira em vez de outro elemento masculino (sobrinho, tio, ou primo); a partir do século XIII, em caso de mais descendentes femininas, estas podiam repartir a totalidade das terras do pai igualitariamente. Porém, frequentemente, as herdeiras de jure não eram herdeiras de facto. Adendas subsequentes na common law ditavam que o direito à propriedade das mulheres era transmitido para os seus maridos enquanto estes vivessem e, por conseguinte, o poder da mulher era mais o de transmitir do que usufruir dele: "The daughter where there was no son was heir. She, or her husband through her, did take. She was the heir in the sense that her father´s brother was not."Assim, tendo os direitos necessários dos descendentes em linha feminina sido (re) admitidos, as linhagens feudais, pequenas ou grandes, viram abrir-se diante de si a politica dos casamentos. A mulher podia receber e herdar propriedades, aumentando o seu património; se não usufruísse dele, tinha o poder de o transmitir ao seu marido, para seu usufruto e, claro, para a sua descendência.
Richard Neville, Earl of Warwick, só teve duas descendentes: Anne e Isabel. O poder acumulado pelos Neville ao longo de dois séculos atingira o seu auge com "The King Maker". Tal reflectia-se nas inúmeras e extensas propriedades que detinha, bem como pela enorme riqueza em bens materiais, fruto de concessões régias e aquisições feitas por intermédio de conquistas a famílias rivais, nomeadamente aos Percies, durante a Guerra das Rosas. Todo este incomensurável património seria transferido para as filhas quando falecesse. Anne era herdeira directa do homem mais rico e poderoso da Inglaterra da segunda metade do século XV e, pela common law, partilharia igualitariamente, com a irmã mais velha, o património do pai. O seu valor "material" era tal que as crónicas da época referem que "the vice of avarice seems to have perverted all ranks and ages at that period, and the wealthy heiresses of Warwick attracted crowds of Nobles." Mas para compreender a centralidade de Anne Neville e a sua progressão neste tabuleiro de xadrez que representa a luta pela busca de poder, é preciso delinear em traços latos, o percurso da família, e salientar as jogadas que permitiram a sua incontestável dominação no norte sob "The King Maker" e a chegada de Anne ao trono de Inglaterra.
Os "Neuville" ou Neville (nome anglicizado), provenientes da Normandia, chegaram como primos de William I e com ele combateram na batalha de Hastings em 1066. Instalaram-se em Linconshire, tendo adquirido várias terras no condado de York até ao século XII, graças a uma política de casamentos estratégicos com herdeiras de familias abastadas. Em meados do século XIII, a família, por via feminina, começou por afirmar a sua posição no governo local e sociedade do nordeste inglês com o casamento da única herdeira Neville, Isabel, com Robert Fitz-Mildred, Lord of Raby. Isto delegou-lhes um poder, no mínimo, simbólico, ao puderem adicionar um ramo à sua árvore genealógica que os unia à antiga casa reinante saxónica, já que Fitz-Mildred era descendente do Uchtred, primeiro Earl of Northumberland, casado com uma irmã de Eduardo, O Confessor. Graças a uma série de casamentos afortunados, assim como a uma vida de serviço militar e espiritual, que os gracejou com cargos e títulos ao longo de dois séculos, os Neville foram acumulando um extenso património em terras e bens, incluindo castelos em Raby (Durham), Sheriff-Hutton e Middleham. Mas se a presença desta família nos palcos da política inglesa pode provir do século XII, somente na viragem para o século XV é que encontramos os Neville no seio da nobreza; a condecoração de Ralph Neville como Earl of Westmorland é apenas de 1397. A riqueza de Yorkshire e Durham, fruto das campanhas pela defesa da fronteira nordeste do Reino, dita a primazia do ramo "Norte" da família (os Neville de Middleham), consolidada com a atribuição deste título. As várias árvores genealógicas dos Neville tendem a iniciar com Ralph e a escolha é inteiramente justificada pois casa em segundas núpcias com Joan Beaufort tornando-se, consequentemente, genro de John of Gaunt, primeiro Duque de Lancaster e irmão de Ricardo II, unindo o destino da família à casa de Lancaster. Mais tarde, a filha mais nova de Ralph e Joan, Cecily Neville, contrairia matrimónio com Richard, Duke of York, ficando a família vinculada às duas grandes casas reinantes do século XV. A decisão de Ralph em apoiar Henry Bolingbroke, filho mais velho de John of Gaunt, na deposição de Richard II foi talvez o primeiro verdadeiro "cheque" da família Neville neste demorado jogo de xadrez. Com a subida de Henry ao trono como Henry IV (e igualmente durante o curto reinado de Henry V), o Earl of Westmorland viu a sua fortuna e influência aumentar com um súbito acumular de títulos e propriedades e igualar a dos Percies, representados pelo Earl of Northumberland. Na década de 1450, o vasto território de Yorkshire era gerido por Richard, Duque de York, casado com Cecily Neville, pelo rei, Henry VI, e pela família Percy, encabeçada por Henry Percy, segundo Earl of Northumberland e pelos Neville, na pessoa de Richard Neville, Earl of Salisbury. Se a monarquia francesa saiu da Guerra dos Cem Anos com um poder centralizado e autoritário, Inglaterra dispersou-o numa sociedade organizada regionalmente e em vários governos locais. A coroa confiava nos seus nobres para preservar a lei e ordem nas suas localidades mas os tributos que dai provinham suportavam as despesas da coroa em tempos de guerra. A necessidade de financiamento de Edward III aquando da eclosão da Guerra dos Cem Anos pressionou-o a peticionar ao Parlamento um aumento dos impostos para fins militares. Claro que os nobres com assento no Parlamento exigiram algo em troca deste empréstimo – a cessão de todos os tributos até ao final do conflito. Para arranjar financiamento extra, Edward III viu-se forçado a celebrar contractos com estes nobres, concedendo mercês e terras para garantir a cooperação dos mesmos: "The English kings, the leaders in the war, were seeking the revenues of a larger inheritance and the reputation of having won it, and the only way in which they could hope to achieve that was with the resources at their disposal - by taking their subjects into partnership with them, both in the straightforward military adventure that the war was and in government." O poder local desenvolveu-se pela falta de intervenção da coroa e tanto nobres como gentry tornaram-se grupos demasiado importantes politicamente e socialmente. O surgimento de rivalidades e subsequentes rebeliões é algo natural, principalmente entre os pertencentes a uma "supra-nobreza" ligada à casa real, com incrementos constantes que lhes permitia formar forças militares significativas, por virtude dos imensos vínculos clientelares, e pelos muitos apoiantes nesses territórios onde não era conhecida outra autoridade que não a do seu senhor; era uma presença efectiva e não ausente, tradicional e mística, que raramente interferia, ou se deslocava, ao território. Situando-nos novamente no século XV, é compreensível o desenvolvimento para conflito armado entre os Neville e os Percies, uma vez que o rei (assim como o próprio Duque de York) raramente visitava o norte. A Guerra das Rosas, nome dado ao período de conflitos civis no decorrer do século XV, foi um tempo caótico a nível politico, económico, social, e até moral, pelas incontáveis traições e intrigas entre e "intra" familias. O trono inglês jazia devastado e nobreza e gentry destruíam-se mutuamente em contínuas batalhas sangrentas, numa primeira fase pelo controlo regional e local, e numa segunda fase pela Coroa e controlo das instituições régias. O conflito colocou as casas de Lancaster e York em lados opostos do tabuleiro mas, mais do que uma disputa entre os exércitos da Rosa Vermelha e da Rosa Branca, esta guerra civil que assolou a Inglaterra foi, segundo Pollard: "both a contest between the houses of Lancaster and York and a feud between the families of Percy and Neville." Foi por alianças forjadas com os Nevilles e Percies que as casas de Lancaster e York conseguiram a força militar e politica para disputar o trono. Contudo, o jogo dos Neville esteve sempre dependente do favor régio e de uma política de casamentos vantajosos bem-sucedidos. Assim, na querela pela posse do trono (c.1455) entre o Duque de Somerset, favorito de Henry VI, e o Duque de York, Richard, Earl of Salisbury, os seus irmãos e filhos, apesar de terem laços familiares tanto com York como com Somerset, acabaram por apoiar o primeiro, enquanto os Percies aliaram-se ao último. Tudo ditava que Henry VI não os auxiliaria na contenda contra os Percies no nordeste; o rei tentou por várias vezes estabelecer a paz entre as famílias. Sedentos de poder, os Neville de Middleham, aproveitando-se da saúde frágil de Henry VI, empreenderam uma estratégia para alcançar a hegemonia politica no tabuleiro da sociedade inglesa e afastar definitivamente os Percies. Estavam preparados para arriscar tudo, incluindo trair a dinastia a quem deviam a maior parte do seu património, bem como membros de outros ramos da família. De entre os Neville que apoiaram Richard, Duque de York, foram as ambições de Richard, Earl of Warwick, filho varão de Salisbury, que permitiram o estabelecimento da casa York no trono de Inglaterra.
Richard Neville foi outro exemplo da ascensão da família pelo intermédio de alianças matrimoniais. Ficou prometido ainda muito jovem a Anne Beauchamp, a herdeira do influente e abastado Earl of Warwick, e com ela casou. Como qualquer jogo de xadrez, por virtude de um golpe de sorte, pela morte do único herdeiro masculino, Anne herdou a totalidade da fortuna do pai em 1449; Richard tornou-se Earl of Warwick "by right of his wife" e aumentou o seu património com "vast estates in the midlands, the south and Southern Wales". Como filho mais velho de Salisbury, Richard herdou as mais importantes possessões dos Neville no norte – Sheriff-Hutton, Middleham e Barnard Castle. Excelente estratega e com um passado de vitórias militares contra franceses e espanhóis como comandante da fortaleza (e respectiva frota) de Calais, Warwick apoiou Edward, filho de York, na sua disputa pelo trono inglês. Erradicou os postos de defesa dos Lancasters em Northumbria e fez um segundo e derradeiro "cheque" ao capturar Henry VI em 1465; a rainha Margaret e o filho Edward procuraram refúgio no norte. Desta forma, após uma morosa mas relativamente rápida ascensão politica, os Neville de Middleham, com Richard Neville, Earl of Warwick à cabeça da família, tornaram-se "the true princes of the north in the fifteenth century".
Os breves anos que se seguiram marcaram o auge do poder e influência de Warwick na corte inglesa. Durante alguns meses de 1460, o governo de Inglaterra esteve mesmo nas mãos do Earl Neville. Quando o pai de Edward, York, regressa da Irlanda, Warwick propõe o Acct of Acord, que permitia a permanência de Henry VI no trono (um "rei-fantoche") mas excluía os seus descendentes em favor de York. Apesar dos Lancaster terem conseguido resgatar Henry VI na batalha de St.Albans em 1461, a reputação e influência de Warwick mantiveram-se intactos. O seu apoio fora fundamental para que Edward IV tomasse o trono de Inglaterra. O filho de York estava grato pelos serviços prestados e recompensou-o com mais cargos reais e benesses diversas, incluindo territórios anteriormente pertencentes aos Percies, nas fronteiras nordeste e noroeste do reino. Warwick tornou-se o principal conselheiro do rei, auxiliando-o a celebrar tréguas com os reinos de França e Escócia e a reorganizar a corte. A autoridade do Earl parecia suplantar a do rei, mas a influência de Warwick era produto da permissão do monarca. Enquanto os interesses de ambos convergiam, a continuidade de Warwick na corte esteve assegurada.
O património Neville florescera. Na década de 1460, era de valor incalculável, e os títulos acumulados por Warwick e as extensas propriedades eram alvo da ganância de muitos membros da nobreza e gentry. Do casamento de Richard e Anne Beauchamp nasceram duas filhas: Isabel (n.1451) e Anne (c.1453). A common law inglesa permitia, como referido anteriormente, a passagem do património para descendentes femininos na ausência de filho varão, pelo que Isabel e Anne iriam repartir os bens de forma igualitária quando o pai falecesse. Cabia a Richard, ainda em vida, arranjar uma união que assegurasse a herança das filhas ou, na melhor das hipóteses, permitisse engrandecer o nome "Neville" por intermédio, novamente, de alianças matrimoniais. O Earl of Warwick viria ainda disputar outra partida, uma que envolveria a sua filha Anne na luta pela soberania de todo o Reino e a colocaria no caminho do trono inglês.

Anne e o Acordo de Angers: o peão

Não encontrei indícios de que Warwick tivesse contado inicialmente com Anne entre a sua fileira de peões. Em contrapartida, a primogénita, Isabel, esteve desde cedo destinada à casa pertencente a "White Queen´s Pawn". Naturalmente que, como qualquer bom estratega e analista em políticas de alianças e vínculos do século XV, Warwick planeara uma jogada, em primeiro lugar, com Isabel, a primogénita, mas guardara Anne para outra que lhe trouxesse mais benefícios e prestígios à família. Ao casá-la com um membro de posição elevada na corte, Richard poderia reforçar alianças e consolidar o seu poder. Muito provavelmente Warwick nunca imaginou as circunstâncias em que Anne lhe seria valiosa, muito mais do que Isabel.
Mas o casamento de Edward IV exigia primeiro a sua atenção; era de uma importância política e diplomática extrema e a escolha da noiva exigia cautela. A coroa York continuava ainda numa posição precária - o partido dos Lancaster, chefiados por Margaret de Anjou, não cessava os ataques costeiros e continuava a fomentar revoltas internas; as tréguas com a Escócia e França eram frágeis e era preciso reforçar a paz para evitar novas contendas; a turbulência interna e externa causaram um progressivo afastamento diplomático dos reinos da Península Ibérica, principalmente de Portugal, com quem Inglaterra celebrara tratados comerciais em 1373 e políticos em 1386 (casamento entre Filipa de Lancaster, filha de John of Gaunt, e D. João I). Warwick decidiu-se a favor de uma aliança com a França de Luís XI, que procurava uma aliança anglo-francesa contra a Borgonha. Se a aliança tivesse vingado, Warwick teria o caminho aberto para promover os interesses da família Neville na França. Todavia, Edward IV surpreendeu-o ao unir-se em segredo com Elizabeth Woodville, anteriormente casada com um tenente lancastriano Sir John Grey. Este matrimónio não trazia vantagens para o rei - Grey fora morto em St.Albans e as suas terras confiscadas e reintegradas no património régio; a família Woodville, para além de Elizabeth e dois filhos do casamento com Grey, era numerosa e sem bens de valor, já para não referir o facto de pertencerem à fracção inimiga. Foi o prelúdio da quebra de vínculo entre o monarca inglês e Warwick. A esposa de Edward "had little to recommend her except her physical beauty (…) and [she] was devious and intensely ambitious for her family" e o rei tinha certamente consciência do choque que seria para os nobres, principalmente Warwick. Decerto temia, até certo grau, a ira do "The King-Maker" mas "it was in [his] character that he might impulsively marry her to obtain her favour". Como era de esperar, the Earl of Warwick, assim como outros membros do Parlamento, ficaram furiosos com o rei por este ter procurado uma união sem o consentimento dos pares. Naturalmente que os planos dos grandes chefes das famílias mais importantes inglesas, apoiantes de Edward nas guerras civis e com filhas por casar, era conseguirem esta formidável união para servir os seus interesses. Outros, sem descendentes femininas, apoiavam uniões com reinos estrangeiros. As opiniões do exterior também não eram positivas, como provam cartas trocadas entre um emissário milanês em Inglaterra e o Duque Sforza. Em primeiro lugar pela ascendência da rainha, mulher "de baixa condição social" e depois pela manipulação que aparentemente exercia sob o rei inglês, promovendo a família à sua custa: "As your lordship must have heard, the king here took to wife a widow of this island of quite low birth. Since her coronation she has always exerted herself to aggrandise her relations, to wit, her father, mother, brothers and sisters." As rela ões entre Neville e Luís XI deterioraram-se após 1464 e principalmente depois do casamento da irmã de Edward IV, Margaret de York, com Carlos o Temerário, celebrando uma aliança anglo-borgonhesa para descontentamento do rei francês. Os restantes Woodville, ainda solteiros, casava no seio das famílias mais ricas e importantes de Inglaterra. A sua influência crescia e aparentavam ser senhores do tabuleiro de xadrez que Warwick desenhara para seu próprio usufruto.
A entrada de Anne como peão ao serviço do pai no palco da política de alianças matrimoniais inglesa pode reportar-se à década de 1460. Warwick não deve ter ficado indiferente à forte ironia de casamento do rei. Certamente que, se soubesse do desejo de Edward em casar com "qualquer" mulher de solo inglês, as suas filhas seriam opções válidas. Provavelmente, com a influência que detinha (ou pensava deter) sob o rei, se Warwick tivesse antevisto este acontecimento, Anne, mas sobretudo Isabel, a primogénita (que em 1464 teria completado catorze anos), teria provavelmente subido ao trono inglês. É muito provável que a estratégia de Warwick fosse sempre a de unir os Neville aos York. Só isso explicaria a petição que fez ao rei em 1468 para autorizar a união de George (n.1449), Duque de Clarence e Richard (n.1452), Duque de Gloucester, irmãos de Edward IV e parentes dos Neville (filhos de Cecily Neville), com as suas filhas. Se Edward IV morresse sem deixar descendente, George era o próximo na linha de sucessão; fosse George falecer sem herdeiro, e Richard lhe sobrevivesse, a coroa passaria para o irmão mais novo. Portanto, tanto Isabel como Anne tinham possibilidades de vir a subir ao trono. No entanto, no xadrez, as aberturas das Rainhas são desaconselhadas na fase inicial do jogo. A centralidade desta peça dita a vitória ou a derrota no tabuleiro e, como tal, a Rainha só deve ser utilizada quando o jogo se encontra mais desenvolvido, por risco de a perder demasiado cedo. Geralmente são os peões e os cavalos a iniciarem o ataque: os primeiros porque constituem a primeira fileira do set, e os segundos, apesar de estarem, a priori, "presos" atrás da fileira de peões, pela sua movimentação particular e única - puderem "saltar" por cima das casas e peças aliadas ou inimigas - estão logo disponíveis para abrir o jogo.
Warwick avaliou bem a situação em 1469. Edward IV tinha consciência que, ao autorizar tais uniões, estaria a colocar a coroa nas mãos de Warwick e proibiu os casamentos. Mas Edward não contava com a reacção de Clarence, cuja ambição por mais terras e influência na corte eram-lhe vedadas pelos Woodville. Warwick viu no ganancioso e ressentido jovem príncipe de vinte anos um aliado importante e disponível para planear a revolta contra o rei. Apesar da oposição do rei, ofereceu-lhe a mão de Isabel, de dezasseis anos, em casamento e, através dela, direito a uma grande parte do património dos Neville. Clarence não recusou e o casamento foi celebrado em Agosto de 1469, após dispensa papal, em Calais, fortaleza ainda sob o comando de Warwick. Como o jovem Gloucester de dezasseis anos decidiu apoiar o rei nesta contenda, Warwick não avançou com o seu segundo peão, Anne. A união não lhe traria bonança pois colocaria a filha nas mãos do partido inimigo. O Earl de Warwick colocou Isabel sob a protecção do "White Knight" na figura de Clarence mas viu o caminho barrado para Anne, pela resistência de Edward e pela aliança entre Gloucester e o rei. Este j´adoube de Warwick foi bem executado. Contudo, é indispensável salientar que o destino de Anne parecia estar ligado ao de Richard – o casamento dos dois já figurava nos planos de Warwick anos antes de este ter sido efectivamente celebrado, ainda que em circunstâncias diferentes. Em maio de 1470, o cisma entre Edward IV e o chefe da família Neville atingiu o auge. Warwick e Clarence, acompanhados pelas respectivas mulheres, Anne e alguns amigos leais ao Earl e ao Duque, fugiram para Calais - "Cheque" para Edward IV, Gloucester e seus aliados.
A entrada de Anne no jogo pela soberania começa em 1470. Pouco se sabe sobre a sua juventude. Nasceu e cresceu em Warwick, viu o pai tornar-se no homem mais importante do reino, partilhou a sua tenra juventude com os irmãos do rei, George e Richard, assistiu ao casamento da irmã mais velha e ao nascimento e morte do seu primeiro sobrinho durante a travessia para Calais; teria entre quinze e dezassete anos. As fontes sobre a história de Anne antes de 1470 não nos dizem mais; pelo menos no decorrer da pesquisa para este trabalho. Este peão na história da família Neville e do século XV inglês só parece assumir um papel de destaque no tabuleiro em 1470-71.
A chegada de Warwick a França trouxe bons presságios a Luís XI. O Earl procurou forjar uma aliança com Margaret de Anjou e Edward, Principe de Gales, para depor Edward IV e restaurar Henry VI e a dinastia de Lancaster. O rei francês via nesta coligação Neville-Lancaster a hipótese de uma futura aliança entre França e Inglaterra contra a Borgonha e fez tudo ao seu alcance para que Margaret e Warwick chegassem a acordo. Warwick só tinha uma exigência: a coroa pela união entre Anne e Edward: "he [Warwick] made arrangements to espouse her cause, and assist in restoring her husband to the English throne, on condition that, her son, the Prince of Wales, should marry his second daughter Anne.". Tornar Anne noutro "White Queen´s Pawn" era uma jogada de mestre: se Edward IV morresse sem herdeiros masculinos, os filhos de Isabel sucederiam no trono; se, por outro lado, o triunfo recaísse sob os Lancaster, Anne tornar-se-ia a mãe dos futuros reis.
Luís XI apoiava esta união por motivos pessoais e Warwick aconselhou-se com o soberano Valois, solicitando a sua intervenção para que o acordo entre as duas partes fosse selado. No entanto, a resposta de Margaret foi durante algum tempo negativa. A rainha dos Lancaster não confiava em Warwick e não concordava que "the heir to the English crown (…) should take for a wife the daughter of the hated family". As suas razões eram válidas, uma vez que Neville foi responsável por retirar a família do trono. Segundo algumas fontes, Margaret manteve contacto com Edward IV e parece que o rei não era contra um casamento entre o Príncipe de Gales e uma das filhas. Mas foi a acção de Luís XI que persuadiu Margaret a deixar a ambição prevalecer sob o ódio e aceitar o pedido de perdão de Warwick e a proposta de casamento; poderia ser a única forma de assegurar o trono para o príncipe. Anne começava assim a sua progressão pelo tabuleiro em direcção à oitava fileira. A união entre os dois jovens foi anunciada a 28 de Julho e a cerimónia deu-se dois dias depois.
A Europa concentrava a sua atenção na ousadia de Warwick, um homem que depusera um rei, fizera-o prisioneiro, permitiu a fuga da rainha e do príncipe, e agora procurava-os no exílio, casara a sua filha com o herdeiro, e partia para Inglaterra com o Príncipe de Gales para resgatar o rei deposto, e restaurar a dinastia. A frota chefiada por Warwick e Edward partiu de França no início de Agosto de 1470. Anne permaneceu em França com a irmã Isabel e a sogra Margaret de Anjou, aguardando pela vitória do pai e do marido. Warwick conseguiu afastar Edward durante um curto espaço de tempo e recolocar Henry VI no trono, permitindo o retorno da rainha e do príncipe. Mas a falta de apoio da nobreza e a dissidência com Clarence ditaram a sorte de Warwick. O exército Neville-Lancaster foi derrotado em 1471 em Barnet; Warwick e vários membros ligados à casa Neville pereceram. As forças do Príncipe de Gales e de Margaret de Anjou foram dizimadas em Maio. O príncipe Lancaster morreu nessa batalha e Margaret foi feita prisioneira.
No espaço de um ano e meio, a vida de Anne sofrera alterações abruptas. Fugira do seu pais de origem, casara com um príncipe herdeiro em contexto de uma aliança politica ambicionada pelo pai, e retornou a Inglaterra apenas para perder o pai e o marido. As aspirações de Anne (se as teria) em tornar-se rainha jaziam com o marido no campo de batalha. A rainha Margaret, que talvez lhe pudesse estender uma mão amiga, estava fechada na Torre de Londres. E, no entanto, é plausível que mesmo em liberdade o interesse da rainha em Anne tivesse cessado com a morte do filho. Margaret nunca estabeleceu nenhum tipo de elo com Anne, já que aquiescera ao casamento após muita resistência e só por razões politicas. Parentes, amigos ou contactos que os Neville tinham, uma família que na década passada era uma das famílias mais poderosas e influentes no reino estavam espalhados, desertados, exilados, despojados das suas fortunas ou mortos. A Condessa de Warwick, mãe de Anne, havia-se refugiado num convento após a morte do marido. Anne e a irmã herdaram cada uma a sua parte da fortuna do Earl de Warwick.
Anne podia, apesar de todas as advertências, finalmente controlar a sua movimentação no tabuleiro. Por fim detinha vontade e liberdade própria. Deixara de ser apenas um peão do pai mas sim uma peça por direito próprio. Pode-se afirmar até certo ponto que Anne chegara efectivamente à oitava fileira e estava a escassos momentos de ser promovida no tabuleiro. Mas a roda da fortuna não parou de girar e ainda não havia movido todas as suas peças. Anne podia efectivamente promover-se a bispo, cavaleiro ou torre mas optou por uma despromoção – permaneceu peão. Conscientemente ou inconscientemente? É difícil determinar se Anne tinha noção da querela que se avistava entre Clarence e Gloucester pela posse das vastas possessões e influências regionais do falecido Neville. Seguramente tinha uma ideia do que significava ser herdeira de alguém tão poderoso quanto Warwick o era, tal como do "valor material" que representava e o poder que delegaria a quem com ela se casasse. "The Pawn cannot get to be Queen, nor there can be more than one Queen" e Anne nunca poderia ascender a rainha enquanto Elizabeth Woodville estivesse no trono. Executar o queening só se tornou possível quando a filha mais nova de Warwick voltou a ser controlada pelo destino, mais concretamente, por Richard, Duque de Gloucester.

As ambições de Gloucester: Anne e queening – "O Xeque-Mate"

A morte de Warwick em Abril de 1471 e de Edward poucas semanas depois deixou Anne à mercê de Edward. Pressupõe-se que terá sido feita prisioneira com Margaret e fechada na Torre e entregue posteriormente à custódia dos Duques de Clarence. Os castelos e propriedades de Middleham e Sheriff-Hutton já haviam sido entregues em 1469 a Richard, Duque de Gloucester, irmão de Edward IV, que vinha acumulando riquezas desde que tomara o partido do irmão em 1461. O rei não se privava de conceder títulos e terras pela lealdade de Richard e o ódio de Clarence (que só recentemente voltara a cair nas graças do rei) crescia. O conflito entre os dois irmãos pela posse do património dos Neville atingiu o auge quando Gloucester pediu autorização para casar com Anne. Clarence tinha todos os motivos para não querer a união entre Richard e a cunhada. Pelo direito conjugal, Clarence, casado com a filha primogénita de Warwick, exigia a totalidade das terras do "The King-Maker". Não esqueçamos que Anne reunia o património de duas famílias: os Neville, pelo lado paterno, e os Beauchamps, pelo lado materno. O Duque de Gloucester acabou por casar com Anne Neville (c. 1472) mesmo sem a bênção de Clarence. Se tal união foi celebrada por amor é difícil dizer. Provavelmente o casal tinha razões mais materiais do que sentimentais. É certo que os dois conheciam-se dos seus tempos de juventude e até eram primos por parte de Cecily Neville. Mas Richard pretendia a mão de Anne por outras razões, certamente atraído pelas vantagens políticas e económicas que tal casamento lhe traria; Anne terá aceitado o acordo com Richard por ver nele a única forma de proteger os seus direitos de Clarence. Contudo, outros testemunhos afirmam a aversão de Anne por Gloucester mas, por pressões dos poucos amigos que lhe restavam e da irmã Isabel, aceitou a aliança matrimonial para proteger o património Neville e poder transmiti-lo aos seus descendentes. De facto, esta ideia parece ser apoiada por acts of Parliament que estabelecem a divisão de propriedade por Anne, Richard, Clarence e Isabel, e o direito de herança dos descendentes dos casais: "The King (...) granteth that George, Duke of Clarence, and Isabel, his Wife, and Richard, Duke of Gloucester, and Anne, his wife, and daughters and heirs apparent to Anne, Duchess of Warwick, shall enjoy to them, and the heirs of their said wives, all the heriditaments belonging to the said Anne (…) the said Dukes and their wives, and the heirs of the said wives, may make partition of the premises." Um outro act of Parliament de 1474 ditava a passagem do património para os maridos em caso de morte das Duquesas e usufruto do mesmo até à sua morte: "(…) the said Dukes (...) over-living his wife, shall during his life enjoy her property." O destino de Anne ficou assim entrelaçado com o de Richard a todos os níveis: económico, político e pessoal.
No entanto, ultrapassando todos os factores (positivos e/ou negativos) que podem ter estado na base deste casamento, Anne tinha agora o seu próprio "White Knight", o mesmo que o pai havia pensado na década de 1460. Dez anos depois, a aliança matrimonial fora selada, para o bem ou para o mal. Anne já fora prometida de um príncipe e estava outra vez no seio da corte ao lado de outro. Mas Gloucester superava o príncipe dos Lancaster em influência. Irmão preferido do rei, comandante militar nas batalhas de Barnet e Tewkesbury onde pereceram Warwick e Edward, senhor de territórios no norte pelo casamento com Anne, e títulos e cargos demasiados para enumerar, Richard era o braço direito de Edward IV. Rivalizava, em influência e património, com os Woodville, encabeçados pela rainha Elizabeth.
Anne e o marido instalaram-se em Middleham Castle, a fortaleza dos Neville em Yorkshire, agora na posse de Richard. Anne viveu os primeiros anos de casamento na solidão enquanto Richard participava em campanhas militares. Em 1475 nasce o único filho do casal, Edward, Príncipe de Galesm e talvez seja caso para referir a visão romanesca que "the possession of this treasure (…) awakened in her heart something like a tie to bind her to her husband". Nos anos que se seguiram ao nascimento de Edward, Anne permaneceu imóvel e invisível no tabuleiro. O único acontecimento de lhe pode ter dado alguma alegria e igual tristeza foram os nascimentos dos sobrinhos Margaret (1472) e Edward Plantageneta (1475), seguidos pela morte de Isabel em 1476 ao dar a luz o segundo filho, Richard. Em contrapartida, o "The White Knight" não dáva tréguas no jogo. Clarence foi executado em 1478 por traição ; as réstias de popularidade de Warwick e do Duque morreram com ele. O rei nomeou-o supremo comandante das forças do norte, em 1480 onde Richard se destacou nas guerras contra a Escócia em 1480-1482, ocupando Edimburgh. Edward concedeu, a ele e aos seus herdeiros, os territórios de Cumberland e Westmorland e a possibilidade de integrar partes adjacentes da Escócia que eventualmente viessem a conquistar. Com património Neville, com Anne como única representante directa, e as doações do rei a Gloucester, Richard tornou-se no "(…) most powerful northern baron in the middle ages". O apoio destes landowners do norte, muitos deles antigos vassalos dos Neville, seria determinante para Gloucester conseguir subir ao trono de Inglaterra.
O prelúdio da futura coroação de Anne deu-se com a morte de Edward IV em Março 1483. Os Woodville, temendo o poder de Gloucester, o único adulto de sexo masculino da linhagem real, bem como pela já referida influência na corte, tentaram rapidamente coroar Edward, o filho de Elizabeth e Edward IV. Richard apressou-se a tomar medidas para evitar a coroação. Não existem dados suficientes para afirmar se foi o Conselho de Londres (manipulado ou não pelo Duque) ou Edward IV (por testamento) que nomeou Gloucester para Protector até Edward ser coroado rei em Maio. Mas o set inimigo ainda não possibilitara grande mobilidade a Richard porque os Woodville ainda controlavam a regência, sob a pessoa da rainha, enquanto o filho do primeiro casamento com Gray controlava o Tesouro e um irmão de Elizabeth, a frota inglesa. Contudo, no espaço de três meses, Gloucester agira com precisão - uma série de apoiantes dos Woodville foram presos ou executados; o futuro rei e o irmão foram levados para a Torre de Londres e nada mais se sabe do seu destino. A rainha e a filha primogénita, Elizabeth de York, apreensivas pelas suas vidas, procuraram santuário em Westminster. Em Junho de 1483, o Parlamento declarou o casamento entre Edward IV e Elizabeth Woodville inválido, proclamou os filhos da união como ilegítimos, e negou o direito ao trono dos filhos de Clarence pela acusação de alta traição do pai. No mesmo documento, Richard, Duque de Gloucester, é escolhido para suceder no trono como Richard III. Corria o mês de Julho de 1483.
Anne é coroada em Westminster Hall a 6 Julho. Em Agosto, repete a cerimónia em York Minster e o filho Edward recebe o título de Príncipe de Gales.
Queening
Porém, a vida de Anne, que atingira o auge com a promoção a rainha, conquistando o título mais cobiçado de todos para adicionar à história da família Neville, foi um percurso continuamente penoso e vitima dos desígnios dos homens (o pai, o marido, o cunhado) e da Fortuna até à sua morte em 1485. O filho Edward morreu em Abril de 1484 em Middleham e foi enterrado em Sheriff-Hutton. O desgosto parece ter-se abatido sob Anne porque adoeceu gravemente e morreu no princípio de 1485. Richard III, tendo conhecimento das preparações de uma invasão liderada por Henry Tudor, tentou ainda assegurar a sucessão da sua linhagem no trono com uma aliança politica entre Portugal e Inglaterra, pelo casamento entre Richard III e a irmã do rei D. João II, Joana de Portugal.
Esta união daria a Richard meios militares e económicos para repelir Henry; para Portugal, "(…) robustecia a já centenária aliança com a Inglaterra e assegurava a posição de Portugal na Península Ibérica (…)" mas o casamento nunca passou da teoria. Richard III morreu em Agosto de 1485 na batalha de Bosworth. Henry Tudor foi coroado Henry VII e a dinastia dos York chegara ao fim.
























Conclusão

A centralidade de Anne Neville na complexa rede de alianças politico-matrimoniais do século XV não é da sua própria autoria. Esta semelhança como o xadrez justifica-se pela importância que o jogo adquiriu no século XIV e XV. De um simulacro de guerra evoluiu para uma representação da sociedade, onde dois adversários se escondem por detrás de lados opostos de um tabuleiro e lançam as suas peças ao combate. É um jogo estratégico, que requer paciência e perspicácia, mas as peças dependem igualmente da protecção do seu senhor para alcançar o objectivo pretendido pelo mesmo. A vitória num jogo de xadrez nunca depende somente de um lado. É preciso avaliar o jogo do adversário e saber tirar partido dos seus erros. Acima de tudo, é preciso perceber quando recuar e quando atacar. Anne serviu de peão, assim como muitas outras mulheres, nas ambições da própria família. A sua progressão no grande tabuleiro durante a Guerra das Rosas inglesa pode ser mais atribuída a outros e a acasos do destino. O pai, Earl of Warwick, utilizou-a para promover o nome Neville. As estratégias que empregou para unir a filha ao príncipe herdeiro dos Lancaster são de natureza, no mínimo, impressionantes, principalmente se pensarmos que tais planos para Anne não existiam a priori. Admirável é a adaptação de Warwick às situações adversas que se lhe eram apresentadas. A sua personalidade e influência nas cortes europeias (e sob vários monarcas) foram armas suficientes para assegurar um futuro brilhante para as duas filhas. Mas, por circunstâncias que escaparam ao controlo de Anne e do pai, a sua subida ao trono foi adiada. O seu valor material tornou-a novamente prisioneira do exterior e depressa Anne viu iniciar-se um novo jogo de xadrez onde o prémio era ela própria. A morte de Warwick e da irmã deixaram-na herdeira de um património imenso do qual não podia usufruir. Numa espiral de contendas e duelos, Anne viu-se nos braços de Gloucester para defender os direitos dos Neville – um património ancestral do passado, um presente na sua pessoa e um futuro para os seus filhos. Se vermos a situação do ponto de vista de Anne, não havia muito que pudesse fazer. Talvez o facto de ter-se submetido às circunstâncias do jogo lhe tenha trazido alguma felicidade. As ambições da sua família, das quais, para todos os efeitos, foi coadjuvante, levaram-na, apesar de todas as adversidades, ao trono inglês; por outro lado, promoveu a boa sorte de outros através dela. Depois de Anne, os Neville desapareceram do tabuleiro; o último descendente, filho de Isabel, seria executado por Elizabeth I. Ela foi o princípio do fim dos Neville.
Xeque-Mate.

Bibliografia seleccionada

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