THE DARK SIDE OF METAPHORS: ANÁLISE E PROPOSTA DE TRADUÇÃO DE METÁFORAS PRESENTES NO ÁLBUM THE DARK SIDE OF THE MOON DO PINK FLOYD (1973)

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES CURSO DE LETRAS – LÍNGUA ESTRANGEIRA

PAULO HENRIQUE SIMON MORAIS

THE DARK SIDE OF METAPHORS: ANÁLISE E PROPOSTA DE TRADUÇÃO DE METÁFORAS PRESENTES NO ÁLBUM THE DARK SIDE OF THE MOON DO PINK FLOYD (1973)

SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015

PAULO HENRIQUE SIMON MORAIS

THE DARK SIDE OF METAPHORS: ANÁLISE E PROPOSTA DE TRADUÇÃO DE METÁFORAS PRESENTES NO ÁLBUM THE DARK SIDE OF THE MOON DO PINK FLOYD (1973)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de graduação à Universidade Metodista de São Paulo, Escola De Comunicação, Educação e Humanidades,

Curso

de

Letras



Língua

Estrangeira (Tradutor e Intérprete em Inglês). Orientação: Prof. Dr. Adauri Brezolin e Profª. Ma. Camila Santiago

SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015

FICHA CATALOGRÁFICA

M792t

Morais, Paulo Henrique Simon The Dark Side Metaphors: análise e proposta de tradução de metáforas presentes no álbum The Dark Side of the Moon do Pink Floyd (1973) / Paulo Henrique Simon Morais. 2015. 53 p.

Monografia (graduação em Letras - Língua Estrangeira) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015. Orientação: Adauri Brezolin e Camila Santiago

1. The Dark Side of the Moon (Tradução) 2. Metáforas (Tradução) 3. Floyd, Pink I. Título

CDD 418.02

“Hear me shout: ‘Come on in, What's the news? Where you’ve been?’ 'Cause there's no wind left in my soul And I've grown old.”

Extraído da música Wot's... Uh The Deal - Pink Floyd

Resumo

O álbum The Dark Side of the Moon, da banda de rock Pink Floyd foi um sucesso divisor de águas no mundo da música e apresenta muitas metáforas e críticas à sociedade moderna no âmbito político, filosófico e humanitário. Mesmo sendo um material famoso, não há nenhuma tradução oficial para a língua portuguesa, como também não há muitos trabalhos acadêmicos sobre o tema. O objetivo deste trabalho é primeiramente analisar metáforas presentes no álbum e fazer uma proposta de tradução para os trechos em que elas se encontram. Teóricos do estudo da metáfora, como Aristóteles (1998), Sardinha (2003), Lakoff (2002) entre outros, e Arrojo (2003) para teoria no processo tradutório, foram utilizados para embasar a Análise de Dados. Foi constatado que o sentido não foi perdido na tradução para o português na maioria das metáforas trabalhadas, e observarmos que a maioria das metáforas é de uso comum. Palavras-chave: metáfora. tradução. The Dark Side of the Moon. Pink Floyd. metáfora conceptual.

Abstract The Dark Side of the Moon is the eighth album from the progressive rock band Pink Floyd and besides being a turning point in the music world, presents several metaphors and critics on the modern society considering the political, philosophical and humanitarian scope. There is no official translation of the lyrics into the Portuguese language even though it is a famous Rock and Roll album, and there are only few academic researches about the topic. This paper aims to analyze metaphors from the album and translate the chosen passages into Portuguese. The theoretical framework is based on works by Aristotles (1998), Sardinha (2003), Lakoff (2002), Arrojo (2003) besides others regarding the study of metaphors and translation theory. It has been observed that there is no meaning loss when translating the majority of the analyzed metaphors into Portuguese and most of the metaphors from the chosen songs are considered common in the language. Key-words: metaphor. translation. The Dark Side of the Moon. Pink Floyd. conceptual metaphor.

SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7

2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 10

2.1

O ESTUDO DA METÁFORA ................................................................................................. 10

2.1.1

ARISTÓTELES .................................................................................................................... 11

2.1.2

I. A. RICHARDS .................................................................................................................. 13

2.1.3

MAX BLACK ....................................................................................................................... 14

2.1.4

LAKOFF E JONHSON ......................................................................................................... 15

2.2

TEORIA DA TRADUÇÃO ...................................................................................................... 17

3

METODOLOGIA........................................................................................................ 20

4

ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................ 23

4.1

BREATHE ................................................................................................................................ 23

4.2

TIME ......................................................................................................................................... 29

4.3

BREATHE REPRISE ............................................................................................................... 36

4.4

MONEY .................................................................................................................................... 38

5

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 43

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 46 ANEXOS .................................................................................................................................. 48

7

1

INTRODUÇÃO O ofício de traduzir é uma atividade que exige do tradutor bastante atenção,

conhecimento e criatividade, além de expor o profissional a pensamentos, situações e contextos inesperados. As metáforas são fenômenos sociais e linguísticos que contribuem significativamente

para

a

diversidade

e

complexidade

da

linguagem

humana.

Consequentemente, a metáfora colabora na composição de novos desafios na interpretação e na tradução das manifestações orais ou escritas. O uso de metáforas também é bastante empregado na música moderna e contemporânea, e foi uma grande característica do movimento de rock progressivo e psicodélico das décadas de 1960 e 1970, bem como pelos anos seguintes no estilo. O álbum The Dark Side of the Moon da banda de rock progressivo Pink Floyd e as metáforas presentes em algumas de suas letras são o tema das considerações e análises deste trabalho. O objetivo deste estudo é analisar, interpretar e propor traduções para as metáforas presentes nas letras de quatro músicas do álbum: Breathe, Time, Breathe Reprise e Money. Com um olhar crítico e atencioso para os aspectos subjetivos nas entrelinhas, faremos comentários e discussões sobre seus possíveis significados e apresentaremos uma proposta de tradução para os trechos analisados. A interpretação e análise das metáforas serão baseadas nos contextos da obra e da banda, nas pesquisas sobre a linguagem e nas teorias e estudos de metáfora de importantes teóricos da área como Aristóteles (1996, 1998), Lakoff (2002), Richard (1936 apud SARDINHA, 2002) e Sardinha (2002). As interpretações, leituras e visões de mundo do próprio tradutor também são de suma importância no ato de leitura e tradução, como veremos nas teorias de Arrojo (2003) e Goldstein (2006), sobre tradução e texto poético; respectivamente, referências na fundamentação teórica do trabalho. Apresentaremos traduções do inglês para o português apenas das quatro músicas que escolhemos como corpus de estudo para este trabalho, priorizando os significados semânticos e linguísticos. Não pretendemos no presente estudo, confeccionar uma versão cantada e musicalizada que siga o ritmo, a harmonia ou a melodia das letras originais. The Dark Side of The Moon é o oitavo álbum da banda britânica de rock progressivo e psicodélico Pink Floyd. A obra foi gravada entre maio de 1972 e janeiro de 1973, embora, as letras e músicas já estivessem praticamente prontas e fossem exibidas em performances ao vivo desde 1972. Após seu lançamento em 24 de março de 1973, o álbum foi um sucesso

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absoluto na mídia europeia, americana e mundial e hoje é considerado um dos maiores álbuns de Rock de todos os tempos, tendo vendido mais de quinze milhões de cópias1. O álbum continua a ser uma obra de sucesso devido a sua grande qualidade e criatividade musical, e também pelas suas críticas atemporais referentes a aspectos e estilos de vida da sociedade moderna, além de posicionamentos e interpretações sociais, psicológicas e políticas perante o homem capitalista e o mundo em que vivemos. Na maioria das vezes, como em toda boa arte, a mensagem das músicas não é entregue facilmente ao ouvinte leitor, mas, como sugere o próprio título do álbum e deste trabalho, a banda trabalhou com os lados escuros da lua e da língua inglesa, desde suas melodias de vocais intensas acompanhadas por solos flamejantes de guitarra, até o uso de metáforas comuns da língua e outras, frutos da voz criativa dos compositores. A partir de tais considerações, propomos as seguintes perguntas de pesquisa: a. É possível manter os sentidos das metáforas na tradução? b. A maioria das metáforas é comum na língua inglesa ou é fruto da voz criativa dos autores? Supomos que, ao analisar as metáforas, a linguagem, o momento histórico e os contextos em que a banda estava inserida, é possível traduzir as metáforas de maneira satisfatória mantendo seus sentidos na língua portuguesa. Além disso, supomos que a maioria das metáforas é considerada de uso comum na língua inglesa. Justificamos a proposta de trabalhar com esse material com a não existência de traduções oficiais publicadas em português das letras do álbum. Consideramos, também, a falta de confiabilidade no acervo de traduções do mesmo material presente na internet, com fontes e colaborações comunitárias e uso de tradutores automáticos em muitos trechos. Além da escassez de traduções oficiais, observamos em nosso levantamento bibliográfico pela internet e na Biblioteca Digital USP, uma carência de trabalhos acadêmicos sobre a obra. Apenas encontramos um trabalho com o título “Análise semiótica da capa do disco The Dark Side Of The Moon”, por Ana Lee Bonente De Mari e Priscilla Nogueira Giannone (2003), que trata da questão da semiótica na capa do álbum, mas, não trabalha com as metáforas especificamente e não propõe tradução para as letras, características que o distingue do presente trabalho. Organizaremos a pesquisa com os seguintes capítulos, além da Introdução: Fundamentação teórica, Metodologia, Análise de Dados e Considerações Finais. 1

Retirado de http://www.pinkfloyd.com/history/biography.php Acesso em: 15 mai. de 2015.

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Na Fundamentação Teórica explicitaremos as teorias de metáfora e tradução utilizadas como embasamento para as futuras análises e traduções. No capítulo de Metodologia, faremos uma contextualização mais aprofundada da banda e da obra, e explicaremos os procedimentos adotados na elaboração do trabalho. A Análise de Dados apresentará tabelas com os trechos originais e as propostas de tradução, seguidos por textos de análises e interpretação. Um resumo dos resultados alcançados com a pesquisa estará no capítulo Considerações Finais. Até aqui apresentamos uma perspectiva do que planejamos desenvolver no presente trabalho. A seguir, nos aprofundaremos nas teorias utilizadas no embasamento da pesquisa.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste capítulo, apresentaremos um recorte de algumas tendências importantes e

bastante difundidas no estudo da metáfora, como as visões tradicionais de Aristóteles (1996, 1998), Richards (1936 apud SARDINHA, 2002), Max Black (1955, 1962 apud SARDINHA, 2002), a metáfora conceptual (LAKOFF, 2002) e algumas reflexões de Sardinha (2007), cujo livro é base deste trabalho. Existem outras correntes no estudo da metáfora como a metáfora sistemática (CAMERON, 2000 apud SARDINHA, 2002) e a metáfora gramatical (SARDINHA, 2002), porém não serão abordadas neste trabalho. Também apresentaremos a teoria utilizada no embasamento do processo tradutório a partir da vertente contestadora, segundo Mittmann (2003), com destaque para Arrojo (2003), além de considerações, de Goldstein (2006), sobre o texto poético.

2.1

O ESTUDO DA METÁFORA O estudo da metáfora ilumina o lado escuro da mente humana há aproximadamente

dois mil e quinhentos anos e ajuda a entender esse astro da linguagem que ainda não foi totalmente explorado. As metáforas permeiam praticamente todo tipo de linguagem e agem como grandes recursos retóricos utilizados em muitas áreas do conhecimento e atividades humanas. Não há como não perceber o recorrente emprego de metáforas no discurso de um político, quando pretende convencer, ajudar ou quando audaciosamente tenta ludibriar e manipular seus ouvintes. Quando um poeta apaixonado preserva seu coração ao materializar em palavras seus sentimentos mais ocultos, o faz por meio de metáforas, para não os deixar cair nas mãos de quem não os entende ou não os merece. Retomando o corpus principal de pesquisa deste trabalho, a obra The Dark Side Of The Moon é um exemplo de quando músicos, inspirados por sentimentos de inquietação e necessidade de mudança em sua sociedade, traduzem na letra e na magia musical suas mais poderosas ideias de libertação e rompimento em belas metáforas e melodias em um álbum de Rock and Roll. Segundo Sardinha (2002), nenhuma das visões sobre metáfora sintetiza sozinha todas as definições e riquezas de significações que as metáforas possuem, mas, cada uma nos ajuda a expandir nossa percepção e entendimento, e algumas nos fazem ver metáforas em tudo ao

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nosso redor. Sardinha define algumas teorias no estudo da metáfora como clássicas ou tradicionais, as quais entendem a metáfora como uma figura de linguagem ou apenas um artifício para embelezar o estilo do texto. A teoria contemporânea da metáfora conceptual, desenvolvida por George Lakoff e Mark L. Jackson, em 1980, entende as metáforas como fenômenos culturais e como processos existentes na mente e atuantes nos pensamentos, esta será a principal teoria que utilizaremos na análise das metáforas escolhidas para este trabalho. Apresentamos a seguir algumas teorias importantes do estudo da metáfora.

2.1.1 ARISTÓTELES As noções mais antigas sobre metáfora datam do século IV a.C. e foram elaboradas pelo grande filósofo Aristóteles, na Retórica e na Poética (SARDINHA, 2002). Segundo Aristóteles, em sua clássica Retórica (1998), a metáfora exige do ouvinte ou leitor um trabalho mental para entender os pontos em comum entre suas entidades. Por exemplo, na frase “Você é um homem ou um rato?”, o ouvinte deve relacionar a semelhança entre o rato e a covardia ou a velocidade para compreender o sentido nas entrelinhas da frase. A metáfora tem como objetivo transmitir uma ideia nova por meio de um caminho não literal. Segundo Sardinha, ao considerar o processo ou o trabalho mental, Aristóteles reconhecera o papel cognitivo da metáfora e isso foi o passo inicial para que, posteriormente, outros teóricos desenvolvessem estudos cognitivos e psicolinguísticos sobre o tema (SARDINHA, 2002). Aristóteles define a metáfora da seguinte maneira em Poética (1996): A metáfora (metaphora) é o transporte (epiphora) para uma coisa de um nome (onomatos) que designa uma outra (allotriou), sendo o transporte ou do gênero para a espécie (apo tou genos epi eidos), ou da espécie para o gênero (apo tou eidos epi to genos) ou da espécie para a espécie (apo tou eidous epi eidos), ou por analogia (è katato analogon). (ARISTÓTELES, 1996, p. 147)

Segundo essa definição aristotélica, a metáfora é o transporte de um nome através de certo “caminho” e, para isso, o filósofo classifica quatro caminhos ou quatro regras:

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2.1.1.1 O PRIMEIRO CAMINHO Os dois primeiros caminhos, do gênero para a espécie e da espécie para o gênero, contemplam uma estrutura de generalização e demonstração de classe. Um exemplo para a primeira definição aristotélica, de gênero para a espécie, pode ser o uso da palavra “homem” em vez de “mortal”, sendo “homem” uma espécie do gênero “mortal”. Nessa metáfora, ao se nomear ‘mortais’ por “homens”, emprega-se o gênero pela espécie de uma forma bastante padronizada, pois não entendemos “crocodilos”, “aves” ou “vacas” quando ouvimos dizer “mortais”, mesmo que essas espécies também façam parte do gênero (MIGUENS, 2001-2002, p. 77). 2.1.1.2 O SEGUNDO CAMINHO A segunda definição é a que se nomeia o gênero através da espécie e o exemplo de Aristóteles é “Milhares e milhares de gloriosos feitos Ulisses levou a cabo” (ARISTÓTELES, 1998: 134 apud MIGUENS, 2001-2002, p. 77) no qual ‘milhares e milhares’ está pelo gênero ‘muitos’. O primeiro e o segundo caminho percorridos no desenvolvimento da metáfora podem ser entendidos como sinédoque, forma de tomar a parte pelo todo e o todo pela parte, utilizando a ótica do estudo das figuras de linguagem. Essas classificações dizem respeito ao interior de classificações estabelecidas pela língua (MIGUENS, 2001-2002). 2.1.1.3 TERCEIRO CAMINHO O terceiro caminho, da espécie para espécie, caracteriza a semelhança entre dois nomes, por meio da relação entre três termos nos quais um é metaforizado, o outro é metaforizante e o terceiro de referência e semelhança aos dois já citados. O exemplo de Aristóteles é “cortando com o duro bronze”, no qual “bronze” significa “faca” ou “punhal” (ARISTÓTELES, 1998, p. 134). 2.1.1.4 O QUARTO CAMINHO O quarto caminho, da metáfora por analogia, se faz por meio de comparação entre entidades diferentes nos quais quatro termos estão ligados através de uma relação analógica. Aristóteles afirma: “Digo que há analogia quando o segundo termo está para o primeiro na igual relação em que está o quarto para o terceiro, neste caso, o quarto termo poderá substituir o segundo e o segundo o quarto” (ARISTÓTELES, 1998, p. 134) e deixa o exemplo “a tarde

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será denominada a velhice do dia” (ARISTÓTELES, 1998, p. 134), onde estão estabelecidas as relações entre a velhice e a vida e entre a tarde e o dia. Essas duas últimas definições de metáfora não lidam apenas com a classificação da língua, mas principalmente com a imaginação e o insight do ouvinte ou leitor, fazendo-se necessário um trabalho mental para o sucesso na compreensão da metáfora. Segundo Sardinha, as classificações de metáforas de Aristóteles foram desmembradas em figuras de linguagem seguindo a tendência de classificar o mundo em categorias, no período da Renascença. Portanto, poderíamos chamar tais classificações aristotélicas de hipérbole ou sinédoque (SARDINHA, 2002).

2.1.2 I. A. RICHARDS

I. A. Richards foi um influente crítico teórico e retórico inglês que desenvolveu seu estudo sobre metáfora no século XX, na década de 19302. Para Richards, a metáfora é composta de dois pensamentos distintos que interagem ao mesmo tempo em uma frase e “não um simples descolamento de palavras, mas um comércio de pensamentos, ou seja, uma transação entre contextos” (RICOUER, 2005, p. 129 apud FOSSILE, 2008, p. 6). Richards foi fundamental para os estudos da metáfora posteriormente, pois criou vários termos utilizados até hoje para descrevê-la, esses são: Tópico, Veículo, Base e Tensão (SARDINHA, 2002). O Tópico é a parte não metafórica de uma expressão metafórica, por exemplo, “Julieta é o Sol”, sendo “Julieta” o Tópico. O Veículo é a parte metafórica da expressão, sendo “Sol” no exemplo anterior. Como Base, entende-se a relação entre o Tópico (Julieta) e o Veículo (Sol) que a entendemos como sendo de beleza, calor, vida etc. E por último, Richards criou o conceito de Tensão que é muito importante em muitas abordagens teóricas. A Tensão é “a incompatibilidade entre o Tópico e Veículo, quando interpretados literalmente” (SARDINHA, 2002, p. 27). Dizer que Julieta é o Sol cria uma tensão, pois o primeiro é uma pessoa e o segundo um astro celeste. Para resolver essa tensão, faz-se necessária uma interpretação metafórica da frase (SARDINHA, 2002).

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Retirado de . Acesso em: 12 mar. 2015.

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2.1.3 MAX BLACK

Max Black foi um filósofo naturalizado americano que contribuiu significantemente na filosofia analítica, na filosofia da matemática e na filosofia da linguagem no século XX3. Black foi autor do famoso texto “Metaphor”, publicado em 1962 e centralizou as teses principais de uma análise semântica de metáfora (RICOUER, 2005). Segundo Sardinha (2002), Max Black foi importante nos estudos da metáfora porque desenvolveu três visões teóricas, sendo elas a teoria da substituição, a teoria da comparação e a teoria da interação (BLACK, 1955, 1962 apud SARDINHA, 2002). A partir de Aristóteles e I. A. Richards, Black criou a teoria da substituição e atesta que uma metáfora substitui um termo literal por outro figurado (SARDINHA,2002). Tomemos como exemplo a expressão metafórica “Os olhos são as janelas da alma”, proveniente da famosa frase de Leonardo Da Vinci “Os olhos são as janelas da alma e o espelho para o mundo”. Nesse caso, “janela” seria apenas uma substituição para “entrada” ou “reflexo”. Logo, podemos nos perguntar por que alguém usaria o termo figurado em vez do termo literal, e a resposta, segundo a teoria da substituição, é que essa metáfora satisfaz o desejo de ornamentar a fala ou o texto, como também cria termos novos como “rede de computadores”, que metaforiza um conjunto de computadores interligados, exemplifica Sardinha (2002). Na teoria da comparação, a metáfora é vista como uma comparação implícita e o seu sentido é compreendido por meio da busca de semelhanças entre os termos (SARDINHA, 2002). Através da ótica dessa teoria, o exemplo anterior seria uma comparação implícita de “Os olhos são como as janelas da alma em certos aspectos”. Ao buscarmos semelhanças entre “olhos” e “janelas”, encontramos características distintas que não se encaixariam na relevância da metáfora, como a de que os olhos são redondos e as janelas são geralmente retangulares e feitas de ferro ou madeira. Por isso, a comparação não deve ser feita com qualquer característica aleatória dos termos em jogo, mas sim, com as propriedades em comum entre as palavras, os olhos e as janelas providenciam visões do mundo exterior. Max Black aprofundou noções apresentadas por I. A. Richards e desenvolveu a teoria da interação, aprofundando-se nos processos mentais e cognitivos. A teoria da interação defende que o sentido da metáfora provém do processo de interação entre o tópico e o veículo, 3

Retirado de< http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Black > . Acesso em: 20 mar. 2015.

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que no nosso exemplo são “olhos” e “janelas” respectivamente, tal processo que permite a criação de similaridades entre eles (SARDINHA, 2002). Literalmente não há similaridades entre um olho e uma janela e também não podemos inferir, através de uma maneira objetivista, que a alma possui janelas como uma casa. Mas, precisamos imaginar e criar essa similaridade entre os termos a fim de entender a expressão metafórica. A criação de sentido provém da interação entre ‘olhos’ e ‘janelas’ e, nesse processo, um termo passa a receber propriedades relativas ao outro. Dessa maneira, desenvolvemos mentalmente um sistema de relações onde não havia nada em comum (SARDINHA, 2002).

2.1.4 LAKOFF E JONHSON

O linguista George Lakoff e o filósofo Mark L. Johnson, ambos americanos, desenvolveram a teoria da metáfora conceptual no final da década de 1970 e a divulgaram em seu livro Metaphors we live by, de 1980. Nessa teoria, as metáforas são impostas pela sociedade, agindo como regras comuns de pensamento, interação e entendimento de mundo, e nós somos obrigados a compreender e absorver as metáforas para assim fazermos parte da sociedade (SARDINHA, 2007). Além de inerentes à cultura e ao povo em questão, a metáfora conceptual é cognitiva e faz parte dos pensamentos e da interação de seus membros. A teoria da metáfora conceptual é fruto de estudos da linguística cognitiva. Segundo Sardinha (2007), os principais conceitos da teoria da metáfora conceptual são: a própria metáfora conceptual, a expressão metafórica, o domínio, os mapeamentos e os desdobramentos. A seguir, explicaremos cada um desses principais conceitos. A metáfora conceptual “é uma maneira convencional de conceitualizar um domínio de experiência em termos de outro, normalmente de modo inconsciente” (SARDINHA, 2007, p. 30 apud LAKOFF, 2002, p.4). No exemplo apresentado por Sardinha, um exemplo de metáfora conceptual é O AMOR É UMA VIAGEM, pois a ideia é utilizada para conceitualizar algo metaforicamente, nesse caso algo abstrato, o amor. Seguindo a proposta dessa metáfora, o amor seria uma viagem. Esse conceito escrito em caixa alta de acordo com a convenção para grafar metáforas conceptuais não é considerado ainda uma expressão metafórica, mas sim, o pensamento inserido na cultura da sociedade e na cognição dos participantes dela como um conceito, sendo assim uma metáfora conceptual.

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A metáfora conceptual é o ponto de partida para o surgimento de novas expressões metafóricas na língua. A partir de O AMOR É UMA VIAGEM, temos a expressão metafórica “nosso casamento está indo bem” (SARDINHA, 2007, p.31), além de muitas outras que seguem essa mesma metáfora conceptual inserida na mente da sociedade. Existe também o conceito de domínio, ou seja, “a área do conhecimento ou experiência humana” (SARDINHA, 2007, p.31). Há dois tipos de domínios: o domínio-fonte, pelo qual se conceitualiza algo metaforicamente, no exemplo supracitado, “viagem”; e o domínio-alvo, o elemento que se deseja conceitualizar, neste caso, “amor”. Segundo Sardinha (2007), os domínios podem ser mais específicos ou mais amplos, porém, remetem à mesma metáfora conceptual e um mesmo domínio-fonte pode ser utilizado para outros domíniosalvos, por exemplo: “viagem” pode ser o domínio-fonte de “amor” ou de “vida”. Os mapeamentos são relações geradas entre os domínios, e a partir da metáfora conceptual O AMOR É UMA VIAGEM, podemos ter os seguintes mapeamentos: marido e mulher são viajantes; o destino da viagem é a felicidade do casal; desvios e obstáculos na estrada são como as brigas e os problemas entre marido e mulher. O último conceito refere-se aos desdobramentos, ou seja, conclusões que se formam a partir da metáfora conceptual, por exemplo: se uma viagem longa é cansativa, então um casamento de muitos anos também será cansativo ou monótono; se com uma viagem pode-se conhecer outros aspectos da vida, então o amor também providencia vários conhecimentos e novas experiências. Na teoria de Lakoff e Johnson, metáfora é sinônimo de metáfora conceptual e motivam ou licenciam o surgimento de expressões metafóricas. O acesso às metáforas conceptuais é automático, pois a metáfora é uma representação mental e abstrata que está inserida na cognição de cada um através de seu meio e relações sociais. A metáfora conceptual é uma teoria que segue um caminho oposto à visão lógicopositivista do mundo, pois não há verdades absolutas, mas sim resultados e mapeamentos relevantes para cada cultura ou ideologia. E se contrapondo à visão aristotélica de que a metáfora é um ornamento e um agente embelezador da linguagem, a metáfora conceptual é cultural e está infiltrada na vida, no pensamento e no cotidiano das pessoas, presente em muitas áreas do conhecimento e das atividades humanas. Segundo Sardinha (2007), as metáforas também são convencionais por atuarem em uma sociedade específica por meio de convenção entre seus membros. Exemplificando, uma metáfora presente em nossa sociedade

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capitalista ocidental pode não ter sentido e não estar inserida na mente de uma tribo aborígene. De acordo com Lakoff e Johnson (2002), os principais tipos de metáforas conceptuais são as Estruturais, Orientacionais, Ontológicas, de Personificação e Primárias. As metáforas Estruturais são formadas por mapeamentos entre os domínios, tais metáforas estabelecem relações entre os domínios e estruturam metaforicamente um conceito abstrato a partir de outro concreto, por exemplo: AMOR É VIAGEM. As metáforas Orientacionais envolvem direções e são gerais, por exemplo: BOM É PARA CIMA (SARDINHA, 2007). As experiências com objetos físicos são bases para as metáforas Ontológicas que concretizam o abstrato como uma entidade, por exemplo: INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE. A metáfora de Personificação é uma metáfora ontológica que concretiza o abstrato em uma pessoa, por exemplo: UMA TEORIA É UMA PESSOA, pois dizemos que “a teoria explica, revela, aborda” etc. Por fim, as metáforas Primárias são básicas e relacionam aspectos físicos do corpo. Por exemplo: AFEIÇÃO É CALOR, MUDANÇA É MOVIMENTO (SARDINHA, 2007).

2.2

TEORIA DA TRADUÇÃO A principal obra utilizada como embasamento no processo tradutório deste trabalho é

o livro Oficina de Tradução: A teoria na prática, de Rosemary Arrojo, publicado em 1986. Nesta obra, o objetivo da autora é propor discussões sobre os problemas que envolvem o ato de traduzir, bem como conscientizar o tradutor das dificuldades e da importância de seu ofício. Segundo Arrojo, quando o leitor ou tradutor se depara especialmente com um texto poético, sua interpretação muda completamente, pois o poema é como uma máquina de significados na qual todos seus fragmentos devem ser empregados no processo interpretativo agregando-se significados ao texto original (ARROJO, 2003). Mas, em sua ótica, a autora considera impossível resgatar todas as intenções do texto original, dado que a interpretação dessas intenções é fruto da leitura, das experiências e das vivências pessoais de quem as estão lendo e interpretando. Por isso, conseguimos apenas atingir a nossa própria visão e interpretação das intenções marcadas pelo autor no texto original.

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Ao considerar que o texto não é criado apenas pelo autor, mas composto também pelas intenções, pelos contextos e pelas experiências de quem o lê, Arrojo adota a visão do teórico francês Roland Barthes, na qual o autor não é soberano ao texto original, mas sim apenas um instrumento na construção e existência de um texto. O texto é produto da história e experiência do autor, bem como produto da história e visões do leitor ou do tradutor (ARROJO, 2003). Arrojo também aborda a questão da fidelidade na tradução e a deixa dependente da concepção que uma pessoa ou sociedade tem de tradução, de texto e também dependente dos objetivos visados com a tradução de um texto em língua estrangeira. Nossa tradução de qualquer texto, poético ou não, será fiel não ao texto “original”, mas àquilo que consideramos ser o texto original, àquilo que consideramos constituí-lo, ou seja, à nossa interpretação do texto de partida, que será, como já sugerimos, sempre produto daquilo que somos, sentimos e pensamos. (ARROJO, 2003, p.44)

Assim, a autora explicita, mais uma vez, a importância das concepções de poesia, de texto e de teoria que o leitor/tradutor carrega em si mesmo, e considera de sumo valor os objetivos visados com a leitura e com a tradução. O ato de traduzir é uma atividade de produção de significado e o ofício do tradutor é tão complexo quanto o do escritor, não havendo fórmulas mágicas para realizar tal serviço. Segundo Arrojo, é importante que o tradutor saiba ler e interpretar o texto com um olhar crítico e bastante atento aos detalhes, como também é necessário escrever de maneira primorosa e responsável, tendo sensibilidade e criatividade semelhantes às do autor do texto original. Complementamos os conceitos propostos por Arrojo com considerações de Norma Goldstein, em seu livro Verso, Sons e Ritmos, publicado em 2006. Segundo Goldstein, o texto é um tecido que possibilita múltiplos sentidos a partir de seus entrelaçamentos de palavras. Por isso, a relação de ler, reler, interpretar e analisar é fundamental para a compreensão do sentido do poema. Ao analisar, é natural começar com o que é mais óbvio e com o que se destaca facilmente, mas, é preciso estabelecer relações com os diversos aspectos e contextos inseridos no texto, buscando assim uma interpretação melhorada tanto do conteúdo estrutural quanto do semântico (GOLDSTEIN, 2006).

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Tais visões de tradução e de interpretação de Rosemary Arrojo e Norma Goldstein são importantes para o desenvolvimento deste trabalho, pois valorizam a interpretação e leitura pessoal do tradutor ao lidar com um texto em língua estrangeira, especialmente um poema que também se faz em forma de letra de música, no caso desta proposta de análise e tradução. Neste capítulo, apresentamos teorias de metáfora e tradução utilizadas como embasamento para o presente trabalho. No próximo capítulo, Metodologia, nos aprofundaremos mais na contextualização da obra escolhida como corpus de estudo deste trabalho, assim como dos autores e banda. Também explicaremos os procedimentos adotados na elaboração do trabalho.

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METODOLOGIA

Pink Floyd foi uma banda inglesa de rock psicodélico e progressivo formada em 1965 pelos jovens estudantes de artes e arquitetura Sid Barrett, Roger Waters, Richard Wright e posteriormente David Gilmour. O primeiro álbum da banda é The Piper At the Gates of Dawn, lançado em 1967 e sucedido pelos seguintes álbuns: A Saucerful Of Secrets (1968); More (1969); Ummagumma (1969); Atom Heart Mother (1970); Meddle (1971) e Obscured By Clouds (1972) até The Dark Side of The Moon4. Após ter bastante sucesso como banda do cenário underground de Londres e percursora do rock espacial psicodélico, o Pink Floyd ansiava por mudanças musicais e líricas e também pretendia aumentar sua popularidade e conquistar a mídia nos Estados Unidos e no resto do mundo (BLAKE, 2007). The Dark Side of the Moon foi lançado em 24 de março de 1973, vindo das salas de mixagem e masterização do estúdio na famosa Abbey Road em Londres para o mercado musical, mas principalmente, para o universo da geração hippie, beatnik e contestadora dos anos de 1970. Além de criar um álbum musicalmente primoroso contando com melodias marcantes sobre temas sérios, os membros da banda buscaram inovação no próprio rock e blues psicodélico que tocavam até então, através de modernos sintetizadores, efeitos sonoros únicos, e genialidade em procedimentos de gravação. O álbum também conta com solos de guitarra únicos de David Gilmour, um já bem aceito novo membro da banda que assumiu as cordas e vocais depois que Sid Barrett saiu da banda devido a problemas psiquiátricos (BLAKE, 2007). Mark Blake, em sua biografia Nos Bastidores do Pink Floyd (2007), de tradução de Alexandre Callari, define o álbum como “A dissertação de Roger Waters sobre a condição da raça humana” (BLAKE, 2007, p. 197). As letras do álbum, escritas pelo baixista e principal compositor da banda Roger Waters, abordam temas como o nascimento, o medo, o fracasso, a ganância, a insanidade, a morte e a esperança. (BLAKE, 2007). Waters retoma a lembrança de como chegou ao tema das composições com uma visão de uma peça musical que teve “sobre as pressões, dificuldades e questões que aparecem na vida de uma pessoa e geram ansiedade” (BLAKE, 2007, p.198). Waters queria finalmente dizer diretamente o que queria nas letras e sair do padrão psicodélico e místico que predominava nos trabalhos antecessores da banda. 4

Retirado de http://www.pinkfloyd.com/history/biography.php Acesso em: 15 mai. de 2015.

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“Recordo-me de Roger dizer que ele queria escrever de forma absolutamente direta e clara”, diz Gilmour, “Dizer pela primeira vez exatamente o que queria e sair daquele padrão psicodélico e esquisito, e dos gorjeios misteriosos”. “Essa sempre foi minha luta no Pink Floyd”, diz Waters “Tentar arrastá-lo das fronteiras do espaço, chutando e berrando, sair daquela extravagância em que Syd estava, para algo que, no meu entendimento, era muito mais político e poético”. (BLAKE, 2007, p. 199)

O processo de composição do álbum se deu da mesma maneira que todos os outros trabalhos da banda, a partir de longas jam sessions (sessões de improviso) em estúdio e o material foi tocado ao público antes mesmo que o vinil fosse gravado e lançado na turnê britânica “Dark Side of the Moon: A piece for Assorted Lunatics”. O artigo definido “the” foi inserido a partir da reimpressão em 2003. Tudo começa com o som de batimentos cardíacos na primeira música Speak to Me e Breathe, retratando o nascimento, seguida por On the Run, Time, Breathe Reprise, The Great Gig On The Sky, Money, Us and Them, Any Colour You Like, Brain Damage e o Floyd fecha o álbum com a gloriosa Eclipse. (BLAKE, 2007). A proposta deste trabalho é analisar e traduzir as metáforas presentes no álbum, mas, por motivos de extensão da pesquisa, limitaremos a escolha e inserção das metáforas a quatro músicas: Breathe, Time, Breathe Reprise, e Money. As letras foram retiradas de um encarte em vinil original do The Dark Side Of The Moon impresso em 1985. As letras foram analisadas com um olhar para as metáforas e assim identificados os trechos a serem trabalhados. No capítulo Análise de Dados, apresentaremos tabelas com o trecho da letra original no lado esquerdo com as frases e termos discutidos e a nossa proposta de tradução desse trecho à direita. Segue-se então um texto contemplando a análise interpretativa das metáforas, o diálogo com as teorias de metáfora apresentadas na Fundamentação Teórica e a explicitação das escolhas no processo tradutório. Após analisar e traduzir os trechos, o capítulo Considerações Finais será iniciado para responder as perguntas de pesquisa e conceber uma visão geral de como foi traduzir tal material e suas metáforas, sabendo assim se o sentido foi mantido em língua portuguesa e também se a maioria das metáforas é de uso comum na língua inglesa ou frutos da imaginação dos autores. Por fim, apresentaremos um capítulo de Anexos, com a transcrição de todas as letras do álbum para posterior consulta do leitor comtemplando a obra como um todo.

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No presente capítulo apresentamos as etapas e os procedimentos utilizados em nossa pesquisa. No próximo capítulo apresentaremos a Análise de Dados.

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ANÁLISE DE DADOS O presente capítulo pretende analisar e interpretar as metáforas presentes nas letras de

Breathe, Time, Breathe Reprise e Money do álbum The Dark Side of the Moon do Pink Floyd. Após analisar as metáforas, faremos uma proposta de tradução para os trechos escolhidos. O excerto original e a tradução proposta estarão em tabelas, sendo que o primeiro fica no lado esquerdo e o segundo, a tradução, localizasse no lado direito da tabela.

4.1

BREATHE

O álbum The Dark Dark Side Of The Moon começa com a faixa de abertura Speak to Me, de composição creditada a Nick Mason, o baterista do Pink Floyd5. Esta faixa não contém letra, mas é uma mistura de sons e efeitos especiais, alguns trechos que serão ouvidos ao decorrer das próximas músicas do álbum. Em sequência e se sobrepondo uns aos outros, ouvimos sons de batidas de coração, tic tac de relógios, máquinas registradoras de dinheiro, risadas, som de helicóptero e gritos femininos de agonia. Cada um desses sons remete ao tema de cada música do LP, mas, podemos entender Speak to Me como o momento de um nascimento, desde quando o bebê está respirando dentro do ventre da mãe e ouvindo os sons do mundo lá fora até, finalmente, a dor agonizante do parto. A introdução do maior clássico do Pink Floyd é uma metáfora à introdução do ser humano na vida e na sociedade. Após o clímax de Speak to Me se inicia a música Breathe com um instrumental calmo e intuitivo, mas também bastante potente com um andamento não muito devagar. No quadro abaixo, mostraremos o primeiro trecho da letra cantada por David Gilmour e sua respectiva proposta de tradução, seguindo para a análise das metáforas e comentários sobre o processo tradutório nos parágrafos seguintes.

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Retirado de https://en.wikipedia.org/wiki/Speak_to_Me Acesso em 18/08/2015.

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Original

Tradução

Breathe, breathe in the air

Respire, respire no ar

Don't be afraid to care

Não tema se importar

Leave but don't leave me

Deixe mas não me deixe

Look around and choose your own ground

Olhe em volta e escolha seu lugar

A primeira frase “Breathe, breathe in the air” é um convite à vida, ao ar e à atmosfera terrestre, algo um tanto simples se considerarmos haver uma metáfora conceptual primária, RESPIRAR É VIDA. Mas, segundo o autor Roger Waters, em entrevista para o documentário Classic Albuns, a música também é um convite para as pessoas tentarem viver suas vidas de maneira autêntica e não cederem às pressões impostas pela sociedade. As metáforas conceptuais primárias, como explicadas anteriormente, são motivadas por sentidos físicos corporais. RESPIRAR É VIDA é um conceito básico e primário, por isso, entendido por qualquer povo ou sociedade no planeta, e esse convite pode ser entregue a qualquer ouvinte. Devido à compreensão universal de que respirar é bom, a tradução seguiu uma linha literal nesta frase. De vc. tirou os exemplos de metáforas conceituais? Na próxima frase “Don’t be afraid to care”, há o verbo “to care” que em português pode ser traduzido para se importar ou se preocupar, o que traz uma ligeira ambiguidade a esta frase. Mas, a partir de definição em inglês do verbo, “to care” é sentir preocupação, interesse ou atribuir importância a algo6. Por isso, traduzimos para “se importar”. A interpretação da frase “Leave but don’t leave me” é importante para o alcance de outras metáforas que se seguirão. Considerando o momento retratado na música como o nascimento de uma pessoa, seguido por um convite, temos um conselho bastante carinhoso relacionado a quem proferiu o grito feminino ouvido no clímax de Speak to Me, o grito da mãe. Ela pede para o filho sair, deixar um lugar, mas não deixá-la. Essa metáfora pode ser considerada um fruto da criatividade dos autores. Em “Look around and choose your own ground”, temos duas expressões metafóricas de uso comum em “around” e “own ground” em que analisaremos seguindo a ótica da 6

Retirado de http://www.oxforddictionaries.com/us/definition/english/care Acesso em 18/08/2015.

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metáfora conceptual. “Around” pode ser traduzido para “em volta”, ou seja, o mundo exterior em que a pessoa acabou de chegar, o mundo lá fora, os lugares, as situações, os eventos e as pessoas em seus contextos. Essa palavra está metaforizando “mundo”, e é o domínio-fonte na metáfora conceptual O MUNDO É LÁ FORA. Esse conceito é claramente observado em expressões como “O bebê veio ao mundo” ou “Ela colocou mais um filho no mundo” onde o bebê saiu do ventre da mãe para olhar em volta e contemplar o exterior. O termo ‘ground’ pode ser traduzido literalmente para terra, chão, solo etc.. Mas, este próprio chão, ou próprio solo seria um lugar próprio, um lugar escolhido, pois tanto em português quanto em inglês metaforizamos situações, fases e escolhas da vida como o lugar em que se está. Como exemplos de expressões metafóricas em ambos os idiomas, temos, “He is going to the right place” (Ele está indo para o lugar certo) ou “Ele encontrou seu lugar”. Tais ideias também trazem desdobramentos: se a pessoa escolhe o caminho certo ela chegará a um lugar bom ou ao trilhar o caminho errado se encontrará em lugares ruins no mundo. Após analisarmos as expressões e seus desdobramentos neste caso, uma possível metáfora conceptual que os gera é A VIDA É UMA ESTRADA, uma vez que uma estrada passa por vários lugares. No processo tradutório das duas últimas frases, priorizamos o sentido da metáfora e principalmente nossa interpretação diante de um texto poético, seguindo a corrente contestadora de Arrojo (2003).

Original

Tradução

Long you live and high you fly

Vida longa e voos altos

Smiles you'll give and tears you'll cry

Você vai sorrir e vai chorar

All you touch and all you see

E tudo que você toca e vê

Is all your life will ever be

É tudo o que sua vida sempre será

A primeira expressão metafórica neste trecho é “high you fly” que significa, em português, voar alto. Quando se diz, metaforicamente, que alguém está voando, é de uso comum entender que a pessoa está fazendo as coisas rapidamente, e muitas vezes, realizando várias tarefas ao mesmo tempo para conquistar um objetivo ou apenas sobreviver. Mais uma

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vez, está implícita a metáfora conceptual A VIDA É UMA ESTRADA, pois como mapeamento, podemos apontar que em uma estrada os motoristas estão em rápido movimento, como estão as pessoas em suas respectivas vidas. Logo, se você quer ter um bom desempenho e chegar ao seu destino, ou objetivo, mais rápido, é melhor correr ou até mesmo voar bem alto, esse é um possível desdobramento dessa metáfora. Em nossa proposta de tradução o sentido foi mantido em língua portuguesa, pois também utilizamos o verbo voar para dizer que algo está correndo rapidamente, mas uma tradução menos literal proporcionou uma leitura mais fluida através da substantivação das orações. Na frase “All you touch and all you see”, existe uma metáfora com os sentidos do tato e da visão, provavelmente fruto da imaginação do autor. Podemos considerar os sentidos os maiores formadores da experiência humana, pois tudo o que julgamos ser real e experimentar é o que podemos sentir de alguma maneira. Nessa expressão metafórica, podemos apontar uma metáfora central como VIVER É SENTIR, e dela reconhecemos outras expressões metafóricas como “Eu tenho que ver para crer”, “quem morre não sente mais nada” entre outras. A frase seguinte, “Is all your life will ever be”, pode ser considerada o fechamento dos dizeres da mãe ao filho recém-nascido, conselhos e pedidos para alguém que acaba de chegar no mundo e vai viver, experimentar e passar por muitas coisas. Atingimos, coincidentemente, uma tradução com ritmo e versos em rimas para essa primeira estrofe traduzida, mesmo que propor versões das músicas em língua portuguesa não seja um objetivo deste trabalho.

Original

Tradução

Run, rabbit run.

Corra, coelho corra.

Dig that hole, forget the sun,

Cave aquele buraco e esqueça o Sol

And when at last the work is done

E

Don't sit down it's time to dig another one.

trabalho

quando

finalmente

terminar

o

Não se sente, está na hora de cavar outro.

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Encontramos o significado da metáfora da primeira frase através de sua intertextualidade com a música Run Rabbit Run (Corra coelho, corra), da dupla de cantores inglesa Flanagan and Allen7. Essa música foi lançada em 1939 e foi bastante popular durante a Segunda Guerra Mundial, pois teve sua letra modificada para insultar e ameaçar os alemães, sendo cantada Run Adolf Run (Corra, Adolf Corra). Essa é uma das primeiras metáforas relacionada ao terror da guerra e uma das principais críticas e temas do álbum The Dark Side Of The Moon. Mesmo que a composição dessa letra seja creditada ao baterista Nick Mason, o baixista Roger Waters era o principal compositor e escritor das letras nesta época da carreira da banda, e quando jovem, Roger perdeu seu pai na Segunda Guerra Mundial (BLAKE, 2003). Nesse trecho da letra vemos um discurso mais imperativo e não tão carinhoso como eram os dizeres da mãe para o filho, agora há mais tensão e perigo, os lados e lugares ruins da vida também são apresentados e discutidos. O conselho é literalmente de correr e cavar um buraco para se esconder, como os coelhos fazem na natureza. Essa expressão metafórica era comum no contexto histórico britânico e recebe uma tradução praticamente literal, pois em português podemos entender o ato do coelho como uma fuga, e que o animal precisa fugir e se esconder para sobreviver dos seus males. Assim, consideramos a metáfora O MAL É UMA ENTIDADE, uma metáfora conceptual de personificação. Podemos apontar outras expressões metafóricas como “Cortar o mal pela raiz” e “Ele se aliou ao mal”. Mesmo se referindo aos inimigos de guerra, os Aliados queriam perseguir, derrotar e fazer mal aos nazistas, que eram considerados uma presa como um coelho ou um rato. Esse sentido pode ser alcançado através da pesquisa e interpretação do leitor da tradução, mas nesse caso, não foi totalmente mantido por não termos uma música ou expressão tão popular e crítica ao nazismo no Brasil. Prosseguindo com a interpretação do trecho, além de correr e se esconder, o coelho ainda não terá paz, já será tempo de fugir de novo, pois o mal está espreitando o tempo todo. Esses conselhos são de, além de experimentar e viver a vida, ficar de olhos bem abertos e atentos aos perigos da vida. Esse último sentido entrelinhas do trecho também foi traduzido literalmente e é, possivelmente, criação da imaginação dos autores.

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Retirado de https://en.wikipedia.org/wiki/Run_Rabbit_Run Acesso em 03/09/2015.

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Original

Tradução

For long you live and high you fly

Vida longa e voos altos

But only if you ride the tide

Mas apenas se você mandar ver

And balanced on the biggest wave

E se balançando sobre a maior onda

You race towards an early grave.

Você

corre

direto

para

uma

morte

prematura

A expressão “to ride the tide” é comum, utilizada por surfista e pode ser traduzida para sua equivalente em português “mandar ver”, ou seja, tirar o melhor proveito e desempenho do que se estiver fazendo, rapidamente. Ainda no contexto das expressões de surf, ao se balançar na maior das ondas, tal que pode ser compreendida como um grande trabalho ou atividade de sobrevivência, a pessoa pode encaminhar sua vida prematuramente para um túmulo, que designa a morte. A expressão “to ride/ race towards an early grave” é comum no inglês britânico e significa morrer jovem8. Tal expressão pode guardar uma ideia central, uma metáfora conceptual direcional, como A VIDA É UMA ONDA, logo a vida é feita de altos e baixos. Dizemos tanto em inglês quanto em português “que estamos para cima” ou “I’m down today” (Estou para baixo hoje). Essas expressões metafóricas, além de sociais são artifícios comuns da língua. Concluindo, a primeira letra do álbum explora a chegada de alguém no mundo, onde várias vozes diferentes aconselham e alertam dos prazeres e perigos da vida. A maioria das metáforas não são facilmente compreendidas sem se considerar os mapeamentos e desdobramentos que implicam. O entendimento dos significados foi principalmente auxiliado pela pesquisa dos respectivos contextos sociais implícitos na letra da música, contexto como a infância, a guerra e a política e estilo de vida. Tais temas são novamente explorados em outras músicas do álbum.

8

Retirado de http://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/drive-send-sb-to-an-early-grave Acesso em 03/09/2015.

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4.2

TIME A música Time começa com o som de múltiplos relógios disparando simultaneamente,

então um instrumental grave que se assemelha ao marcar dos ponteiros do relógio inunda completamente a gravação quadrifônica em cada canto disponível. Quando toda a excitação do instrumental, uma contagem regressiva, explode, David Gilmour inicia um canto bastante assertivo e toca um dos mais excitantes solos de guitarra do disco (BLAKE, 2007). Segundo o autor Roger Waters, a música expressa um contraste entre certos pensamentos pré-estabelecidos pela sociedade sobre o significado da infância e da adolescência. Em entrevista, o autor contou que sua mãe considerava a juventude apenas como uma preparação para a vida que iria começar mais tarde, visando apenas ao aperfeiçoamento acadêmico etc. Mas, para Waters, a vida começa para valer a partir da juventude e em qualquer momento você pode tomar as rédeas e começar a guiar seu próprio destino, o que para ele foi uma grande revelação, que veio como um choque na época em que escrevia as letras para o Dark Side Of The Moon. No trecho abaixo, analisaremos as expressões metafóricas, interpretaremos a letra e identificaremos as metáforas conceptuais que originaram tais expressões.

Original

Tradução

Ticking away the moments that make up a

Vendo passar os momentos que formam

dull day

um dia morto

You fritter and waste the hours in an

Você torra e desperdiça as horas de

offhand way

maneira descontrolada

Kicking around on a piece of ground in

Vagueando de um lado para outro em sua

your home town

cidade natal

Waiting for someone or something to

Esperando por algo ou alguém que lhe

show you the way.

mostre o caminho.

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Na língua inglesa, o verbo frasal to tick away é uma expressão comum na língua inglesa e refere-se ao tic-tac do relógio, sendo uma expressão metafórica com o som, para dizer que o tempo passa e assim expressar movimento. Como metáfora conceptual para tal expressão podemos apontar em nossa análise, TEMPO É MOVIMENTO, pois na sociedade capitalista ocidental, muitos conceitos e ideias do que é bom ou ruim são ditadas pelo tempo utilizado, pelas atividades e pelos movimentos realizados. Por exemplo, quando um atleta aceita o desafio de tentar bater um recorde de corrida em uma maratona, suas habilidades serão avaliadas segundo os movimentos realizados durante determinado tempo, calculando sua velocidade. Na língua portuguesa também temos a metáfora TEMPO É MOVIMENTO, por isso, utilizamos de expressões metafóricas como “o tempo passa”, “o tempo voa”, ou seja, o tempo está sempre se deslocando e se movimentando. Nessa metáfora central, temos MOVIMENTO como o domínio-fonte que conceitua o domínio-alvo TEMPO, logo, como desdobramento, podemos dizer que se o tempo passa, devemos acompanhá-lo e aproveitá-lo da melhor maneira possível. Assim, encontramos a mensagem central deste trecho da música: deve-se aproveitar o tempo, que está sempre em movimento. Em seguida, a letra se refere a um dia não produtivo, parado, entediante e sem movimento, em inglês “a dull day”, foi traduzido para “dia morto”, pois o que está morto também não apresenta movimento, é inanimado e assim não acompanha o tempo. Na segunda frase do trecho destacado, os verbos utilizados para significar o desperdício de tempo são “to fritter” e “to waste”. O primeiro verbo significa usar algo com desperdício, sem controle ou sem propósito e o verbo “to waste” pode ser traduzido como desperdiçar e gastar. Tais verbos são sinônimos e regularmente usados em contextos envolvidos com dinheiro, por isso a metáfora conceptual agindo neste trecho pode ser TEMPO É DINHEIRO. Dizemos em português que desperdiçamos e torramos o dinheiro quando não fazemos uso correto ou consciente deste conceito concreto utilizado para conceitualizar algo abstrato, que no caso é o tempo. Nesse trecho os autores utilizaram metáforas conceptuais estruturais frequentes na sociedade em que estavam inseridos, a Europa capitalista nos anos de 1970, para alegorizar sua música de título Time. No segundo parágrafo, a expressão de uso comum “to kick around” significa, em seu sentido literal, bater ou acertar algo repetidamente, mas ao interagir com outra expressão “a piece of ground”, que designa uma área ou espaço, evolui para um sentido de alguém que não

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está fazendo nada, vagueando ou perambulando. Tais expressões são de uso comum na língua inglesa e suas traduções também contam com expressões comuns do português. Na próxima frase, “Esperando por algo ou alguém que lhe mostre o caminho”, fica clara a ideia de que o jovem, de alguma maneira, não pode tomar decisões por si mesmo, e deve apenas se preparar para quando isso for possível e estiver na hora. No processo tradutório, o uso de metáforas equivalentes na língua portuguesa foi priorizado e os resultados atingidos foram por meio de interpretação crítica de um texto poético. Segundo Arrojo (2003), o leitor ou tradutor adquire uma postura diferente ao lidar com um texto poético e deve ser criativo para interpretá-lo e traduzi-lo, criatividade inerente aos autores e também ao leitor, ouvinte e tradutor.

Original

Tradução

Tired of lying in the sunshine

Cansado de se deitar na alvorada

Of staying home to watch the rain.

De ficar em casa para ver a chuva

You are young and life is long and there is

Você é jovem e a vida é longa e há tempo

time to kill today.

de sobra hoje

And then one day you find ten years have

E depois, um dia descobre que dez anos

got behind you.

lhe passaram

No one told you when to run, you missed

Ninguém lhe avisou quando correr, você

the starting gun.

perdeu o tiro de largada.

No primeiro parágrafo do trecho acima, destacamos o verbo frasal inglês, mais comum no inglês britânico, “to lie in” que significa, segundo definição de dicionário9, ficar um bom tempo na cama, sem afazeres ou responsabilidades, mais tempo do que o normal. Mas a expressão metafórica completa é “lie in the sunshine”, onde “Sunshine” significa nascer do sol ou alvorada. Nesse caso, a expressão não é de uso comum na língua inglesa, mas sim fruto da voz criativa do autor e aberta a muitas interpretações. Podemos entender esse ato como o

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Retirado de http://www.thefreedictionary.com/lie-in Acesso em 08/09/2015.

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de ficar deitado e entediado na cama durante a manhã ou também como estar sonhando acordado, imaginando e aspirando ao que está longe. Pois muitas vezes, o futuro, na mente da juventude, é distante, mas brilha com brilho forte e cintilante como uma estrela, fornecendo esperança e vida como o Sol. A metáfora proposta em português foi com a palavra “alvorada”, que é o momento em que a estrela surge, mostra todo seu brilho e preenche as vidas e as mentes de tudo e de todos. O sentido da primeira metáfora com “Sunshine” pode ser um pouco diferente da metáfora em português, mas ainda um trabalho mental é exigido do leitor para interpretar a relação entre os termos na frase em português, ou seja, produzimos uma expressão metafórica nova em português. Tal procedimento, também contribui para entendermos a metáfora como reflexo de interferências sociais, pois a partir da tradução de uma obra artística e da intertextualidade que a letra gera, temos uma manifestação metafórica nova na língua. O processo de interpretação e de tradução foi ler, reler e analisar com criatividade e consciência de que estamos lidando com um texto poético. A partir dessa liberdade, criar e produzir o novo também faz parte do ofício do tradutor. A próxima expressão metafórica destacada é “time to kill”, em que podemos identificar uma metáfora central como O TEMPO É UMA ENTIDADE, pensando em expressões como “cuidar bem do tempo”, “tempo bom” e “tempo ruim”. Essa expressão metafórica é comum do inglês e foi traduzida por outra expressão comum no português, mas de significado ligeiramente diferente por não ter a carga semântica do verbo “to kill”, “matar” em português. Felizmente, o sentido central, de perder tempo ou deixá-lo passar, foi mantido na tradução. Nas próximas expressões metafóricas do trecho na tabela acima, em “years have got behind” e em “when to run”, interpretamos uma metáfora com velocidade, corrida e competição. Mais uma vez, identificamos a metáfora TEMPO É MOVIMENTO, pois podemos entender que os anos, que são medidas de tempo, se movimentam correndo e deixam as pessoas para trás como em uma corrida. Essa é uma crítica a um mundo moderno que está sempre em movimento, em competição onde as pessoas são muitas vezes vistas como ganhadores ou perdedores em um ranking, e não como pessoas e humanos como todos são. Roger Waters, também em entrevista para o documentário Classic Albuns, diz que uma das questões fundamentais desse álbum é de se o homem é capaz de ser mais humano, questão que até os dias de hoje, após quarenta e dois anos de seu lançamento, se mostra atemporal.

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Na expressão “you missed the starting gun”, há mais uma referência a uma corrida, ao movimento do tempo e da vida, ”a starting gun” é um tiro de largada ou de partida dado para cima, para avisar os competidores de corridas ou maratonas. Tal sentido metafórico foi mantido na tradução e as expressões são comuns em ambos os idiomas.

Original

Tradução

So you run and you run to catch up with the

Então você corre e corre para atingir o sol

sun

Mas ele está afundando

But it's sinking

Dando a volta para lhe ultrapassar de novo

Racing around to come up behind you again.

O sol é relativamente o mesmo, mas você

The sun is the same in a relative way but

está mais velho

you're older,

Sem fôlego e um dia mais perto da morte

Shorter of breath and one day closer to death.

A expressão “to catch up with” é um “idiom” comum da língua inglesa, e significa literalmente alcançar e atingir algo, ou figuradamente, causar um efeito negativo a algo ou alguém. A expressão metafórica completa é “run to catch up with the sun”, traduzindo, correr para alcançar o sol pois ele está afundando no horizonte e sumindo de vista. O autor Roger Waters está metaforizando o sol como as tendências, obrigações e ritmos da sociedade moderna, agora um agente autoritário e competitivo, com fatos do futuro que chegaram sem ser percebidos e que apesar de toda esperança antes depositada nas manhãs de ócio durante a juventude, acabam virando decepções na vida adulta. Nas duas expressões metafóricas com o sol, o sentido pode ser encontrado na tradução. A metáfora com o astro e a corrida da vida não é de uso comum em ambas as línguas e sim criações do autor e por consequência, do tradutor. Quando alguém se esforça muito em uma atividade física em que não se está preparado, a pessoa perde o fôlego, o que mostra certa inferioridade, esse é um possível significado da metáfora criativa do autor em “shorter of breath”. Ao pensarmos na primeira frase do álbum, “Breathe in the air”, um convite à vida e a viver de maneira autêntica sem ceder, agora temos uma imagem de alguém que além de estar perdendo, também está sendo

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levado e manipulado pelas pressões da vida adulta. Assim, possivelmente mantendo o sentido da metáfora em inglês “one day closer to death”, o indivíduo está correndo e ficando para trás, perdendo mais um dia, e ficando cada vez mais próximo da morte, a bandeirada final da corrida da vida. Aqui temos uma possível metáfora conceptual A MORTE É O FIM DE UMA CORRIDA. Um dos mapeamentos que podemos propor é que após a morte, ninguém pode voltar e refazer os caminhos por onde passou quanto se dedicou. O fim da corrida é o domínio-fonte que metaforiza a morte. Considerando a tentativa de conceitualizar a morte, temos uma metáfora estrutural, segundo a ótica da metáfora conceptual de Johnson e Lakoff (2002).

Original

Tradução

Every year is getting shorter

Todo ano vai ficando mais curto

Never seem to find the time.

Parece nunca achar tempo

Plans that either come to naught or half a Planos que caem no fracasso ou em meia page of scribbled lines

página de rascunhos

Hanging on in quiet desperation is the Esperar em quieto desespero é como faz o English way

inglês

The time is gone, the song is over,

O tempo se foi, a música acabou

Thought I'd something more to say.

Achei que tinha algo mais a dizer.

Neste trecho, as primeiras frases foram traduzidas literalmente, pois continuam como desdobramentos das metáforas apresentadas anteriormente. A próxima expressão destacada é “come to naught”, que se refere a quando algo não produz resultado, falha ou não tem sucesso10. Essa expressão é comum no inglês e teve seu sentido mantido de maneira mais literal na tradução.

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Retirado de http://idioms.thefreedictionary.com/come+to+naught Acesso em 09/09/2015.

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Na linha seguinte, temos uma crítica embasada em uma intertextualidade explícita, promovida pelo termo “quiet desperation”. Esse termo é parte de um aforismo por Henry David Thoreau, escritor e filósofo americano que viveu em meados do século XIX. A frase completa e mais famosa é “Most men lead lives of quiet desperation and go to the grave with the song still in them.” (A maioria dos homens levam vidas de desespero quieto e vão para o túmulo com a música ainda neles). Segundo o site do Walden Woods Project, projeto que preserva a literatura e a ideologia de Thoreau, apenas a primeira parte da frase “The mass of men lead lives of quiet desperation” é realmente atribuída a Thoreau em sua autobiografia, Walden, publicada em 1854. A segunda parte teria sido uma má atribuição de autores, pois provavelmente pertence a Oliver Wendell Holmes11. Walden é um manifesto poético contra a civilização industrial que ascendia nos Estados Unidos, e ao narrar sua experiência de isolamento na natureza por dois anos, Thoreau condena a sociedade capitalista do século XIX e propõe uma visão crítica profunda acerca dos modos de vida e de conceitos como liberdade e vida12. Essa crítica a um modo de vida conformista e manipulado do homem moderno, e mais precisamente o homem inglês, permeia o álbum The Dark Side Of The Moon, com essa metáfora e intertexto, propõe-se que o homem passa a vida sem tomar suas próprias decisões, apenas seguindo a as regras da sociedade e negligenciando suas próprias vontades e humanidade. Assim fica claro um dos aspectos mais importante das ideias expressas no álbum, como observa o jornalista e apresentador Robert Sandall, no documentário Classic Albuns “A maneira em que o Dark Side Of The Moon articula o sentido da desilusão do adulto é totalmente atemporal”. Em seguida, como o fechamento de uma apresentação e análise de como se passa o tempo na vida do homem na sociedade moderna, correndo para acompanhar regras e leis a ele impostas, sem saber ou ser capaz de seguir seus próprios sonhos, vontades e humanidade inerentes, o autor diz que o tempo acabou, a música terminou e ele talvez tivesse mais do que falar. Entretanto, podemos interpretar essa última frase, que se refere a algo mais a ser dito, como o grande conteúdo entrelinhas presentes nas metáforas que foi transmitido de maneira curta, sintetizada e de certa forma, mascarada em metáforas. Como observado por Blake (2007) na biografia do Pink Floyd, Roger Waters escreveu sobre a condição da raça humana

11

Retirado de https://www.walden.org/Library/Quotations/The_Henry_D._Thoreau_Mis-Quotation_Page Acesso em 09/09/2015. 12 Retirado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Walden Acesso em 09/09/2015.

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na sociedade moderna e contava com a empatia que as pessoas sentiriam ao se verem nesses contextos, passando pelos mesmos problemas sociais, políticos e pessoais. Nada melhor para promover tal empatia do que o trabalho mental necessário para a compreensão e alcance dos significados das metáforas.

4.3

BREATHE REPRISE

Breathe Reprise surge depois da canção Time e é basicamente uma recapitulação da primeira canção do álbum, uma retomada ao instrumental calmo de Breathe, porém com letra diferente e também bastante assertiva.

A seguir, apresentamos o primeiro trecho a ser

analisado e traduzido.

Original

Tradução

Home, home again.

Em casa, em casa de novo

I like to be here when I can.

Gosto de ficar aqui quando posso

When I come home cold and tired

Quando chego em casa com frio e cansado

It's good to warm my bones beside the fire.

É bom esquentar meus ossos junto ao fogo

Far away across the field

Bem longe, do outro lado do campo

The tolling of the iron bell

O badalo do sino de ferro

Calls the faithful to their knees

Conclama os fiéis a se ajoelharem

To hear the softly spoken magic spells.

Para ouvir os feitiços mágicos suavemente proclamados

A primeira expressão metafórica que analisaremos nesse trecho apresentado acima é “to warm the bones” na qual por meio da ótica de Aristóteles (1996), podemos entender o uso da palavra “bones” como uma generalização de gênero para a espécie, como demonstrado no primeiro caminho abordado em nosso capítulo de Fundamentação Teórica. “Bones” em inglês significa “ossos”, partes e fundações de algo maior, o corpo, consequentemente, nessa expressão, o autor cita o gênero para que o ouvinte tenha o trabalho mental para entender os pontos em comum com a espécie “corpo”, e assim entender que ao esquentar os ossos, se esquenta todo o corpo. Foi possível manter o mesmo sentido da metáfora em português

37

através de uma tradução literal neste trecho, traduzindo para “esquentar meus ossos”. Por meio de pesquisa e busca de resultados na internet para a expressão em inglês, podemos constatar que a mesma é comum na língua inglesa, apontada pelo mecanismo de busca do Google em aproximadamente 43.400 resultados na web13. Após cantar sobre a volta e o conforto de se estar em casa de novo, a letra da música é levada para um âmbito religioso com o uso de termos geralmente utilizados em igrejas. Em inglês o substantivo “toll” significa uma taxa a ser paga para utilização de algo, uma cobrança, um pedágio. Tanto o substantivo “toll”, o verbo “to toll” e sua forma substantivada “tolling” com referência a um sino (“bell”) significam badalo, toque ou som proferido pelo sino de uma igreja. Os dois significados expressam uma chamada, uma cobrança, algo imposto e distribuído para a população que está em suas casas, em seus trabalhos e nas ruas passivos a uma ordem maior, a religião e a igreja14. Essa expressão pode ser considerada uma metáfora devido à essência e formação de seus significados, onde podemos relacionar o chamado do sino com uma cobrança. Essa metáfora apresenta uma transição de ideias e conceitos, como visto por Richards em sua definição de metáfora (FOSSILE, 2008). Nossa proposta de tradução para a expressão seguiu o âmbito religioso e usamos “badalo” que é tão comum em português quanto é “toll” em inglês. Podemos entender que não houve grande perda de sentido ao traduzir essa expressão, pois o leitor de língua portuguesa pode relacionar o badalo com um chamado e uma cobrança. Na última frase da letra de Breath Reprise temos uma expressão metafórica em “the softly spoken magic spell”. O contexto refere-se a uma missa que acontece distante, depois dos campos, longe do eu lírico que está alheio, ele acaba de chegar de grande tribulação e está descansando em casa. Para a missa acontecer, há um chamado do sino, o badalo que convoca e conclama os fiéis a se ajoelharem e ouvirem “feitiços” que são ditos suavemente, metaforizando rezas e pregações. Essa substituição de um termo literal “reza”, “oração” ou “pregação” como tópico para um veículo e termo metafórico como “feitiço” (“magic spell”) gera uma tensão que é apenas resolvida após uma interpretação metafórica da frase, como 13

Retirado de

https://www.google.com.br/search?q=to+warm+the+bones&ie=&oe=#q=%22to+warm+the+bones%22 Acesso em 20/10/2015. 14

Retirado de http://www.oxforddictionaries.com/pt/defini%C3%A7%C3%A3o/ingl%C3%AAs/toll?searchDictCode=all Acesso em 20/102015.

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indica Richards (FOSSILE, 2008). Tal expressão metafórica teve seu sentido mantido em nossa tradução. Procuramos manter a relação entre o âmbito religioso e utilizamos palavras comuns desta área como “badalo”, “conclamar” e “proclamar”. Tal expressão não apresentou muitos resultados que não fossem relacionados à própria letra de Breathe Reprise na internet, por isso, entendemos que foi uma manifestação da criatividade do autor Roger Waters.

4.4 MONEY Durante a campanha promocional de The Dark Side Of The Moon, a banda precisou promover um single, uma música que fosse um sucesso nas paradas musicais e que alavancasse a carreira e popularidade do Pink Floyd. Money, composta por Roger Waters e apresentada à banda através de uma simples fita demo acústica, com grande influência do blues americano. Com rítmica incomum para grandes sucessos, fórmula de compasso em 7/8, a música aborda exatamente o que foi produzida para proporcionar à banda e seus integrantes, dinheiro e sucesso (CLASSIC ALBUMS, 2003). A letra de Money é permeada de metáforas e em alguns casos a metáfora conceptual aparece explicitamente, assim como alguns desdobramentos e mapeamentos.

Original Money, get away.

Tradução Dinheiro, cai fora

Get a good job with good pay and you're Arrume

um

bom

emprego

okay.

pagamento e você está ok

Money, it's a gas.

Dinheiro é gasolina

com

bom

Grab that cash with both hands and make a Agarre essa grana com as duas mãos e faça stash.

um estoque

New car, caviar, four star daydream,

Carro novo, caviar, devaneio de quatro

Think I'll buy me a football team.

estrelas Acho que vou me comprar um time de futebol.

39

Analisaremos a expressão metafórica no trecho “Money, it’s a gas”, no qual podemos encontrar uma metáfora conceptual praticamente explícita: DINHEIRO É COMBUSTÍVEL. A partir dessa metáfora, podemos entender que o dinheiro é um combustível porque move um organismo mecânico que necessita de tal fonte de energia para funcionar e ir em frente. Como desdobramentos podemos considerar que sem o dinheiro as pessoas param e nada mais funciona. Além de possíveis desdobramentos que podemos indicar através de nossas interpretações metafóricas, também há alguns na própria letra como: “Get a good job with good pay and you're okay” (Arrume um bom emprego com bom pagamento e você está ok) e “Grab that cash with both hands and make a stash” (Agarre essa grana com as duas mãos e faça um estoque). Logo, sendo o dinheiro um combustível tão necessário à vida capitalista moderna, deve-se conseguir um salário alto para estar bem e agarrar o dinheiro com as duas mãos, estocá-lo e escondê-lo. A metáfora sobre o combustível recebeu uma tradução literal, teve seu sentido mantido e pudemos observar que possui grande ocorrência na internet, logo é uma expressão comum na língua inglesa com aproximadamente 26.500 resultados no Google15. No trecho sobre agarrar o dinheiro e fazer um estoque, originalmente a palavra stash significa um estoque de dinheiro ou suplemento essencialmente escondido16, este sentido de algo escondido não pode ser mantido na tradução com apenas uma palavra e a expressão em inglês “to make a stash” é comum com mais de 242 mil ocorrências no Google17.

Original Money, get back.

Tradução Dinheiro, recupere

I'm all right Jack keep your hands off of my Eu estou bem, cara, tire as mãos do meu stack.

monte.

Money, it's a hit.

Dinheiro é um golpe

15

Retirado de https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=DfcmVpSgFqqX8Qe0gKOgDw#q=%22money+is+gas%22 Acesso em 20/10/2015. 16 Retirado de http://www.oxforddictionaries.com/pt/defini%C3%A7%C3%A3o/ingl%C3%AAs/stash?searchDictCode=all Acesso em 20/10/2015. 17

Retirado de https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=DfcmVpSgFqqX8Qe0gKOgDw#q=%22to+make+a+stash%22 Acesso em 20/10/2015.

40

Don't give me that do goody good bullshit.

Não me venha com esse papo furado de

I'm in the high-fidelity first class traveling set santinho And I think I need a Lear jet.

Estou na primeira classe de alta fidelidade E acho que preciso de um jatinho particular

No trecho apresentado acima, destacamos o substantivo “Jack”, que exigiu pesquisa para chegarmos a uma tradução mais apurada. “Jack” em inglês é um nome próprio muito comum, por isso, virou sinônimo de “cara”, “homem”, ou seja, qualquer pessoa do sexo masculino18. A próxima metáfora conceptual que podemos apontar é DINHEIRO É UM GOLPE. Essa metáfora se faz presente através da expressão acima “Money, it's a hit”. Escolhemos por traduzir “hit” para “golpe”, apesar das muitas traduções possíveis para a palavra, devido ao contexto da frase seguinte na letra, em que o eu lírico dispensa qualquer pensamento puritano sobre o dinheiro, sendo assim uma grande crítica à sociedade capitalista. Sendo dinheiro um golpe, temos como desdobramento que ninguém pode ver um golpe como algo inocente ou necessariamente do bem. Assim, o sentido da metáfora foi mantido, mas a expressão metafórica não teve muitos resultados não relacionados com a letra em nossa pesquisa no Google, por isso, podemos considerá-la fruto da criatividade do autor. A expressão “goody good” é comum e pode ser vista como pejorativa e denota algo certo demais, “santo” ou inocente de acordo com definição dos dicionários Oxford.19 A partir disso, propomos uma tradução com uma expressão em português que tem a mesma carga de sentido e prosódia negativa, “santinho”.

Original

Tradução

Money, it's a crime.

Dinheiro é um crime

Share it fairly but don't take a slice of my pie. Divida justamente, mas não pegue minha Money, so they say

fatia do bolo

Is the root of all evil today.

Dinheiro, assim eles dizem

18 19

Retirado de http://www.thefreedictionary.com/Jack Acesso em 22/10/2015. Retirado de http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/goody-good Acesso em 22/10/2015.

41

But if you ask for a raise it's no surprise that É a raiz de todos os males hoje em dia they're

Mas se você pedir um aumento não é

giving none away.

surpresa que eles não darão nenhum.

Neste último trecho apresentado em tabela da música Money, destacamos a primeira expressão metafórica em “Money, it's a crime”, traduzida para “Dinheiro é um crime”. Como já apresentada em metáforas semelhantes com o dinheiro, podemos identificar uma perspectiva crítica em que o autor coloca o dinheiro como um vilão na sociedade moderna. Se o dinheiro é um crime, podemos entender os seguintes exemplos de mapeamentos: Quem manipula o dinheiro é um criminoso; O dinheiro deixa os que não o possuem em grande desvantagem e em estado de vítima; Se o dinheiro não existisse, haveria mais paz. O domínio alvo, nessa possível metáfora conceptual O DINHEIRO É UM CRIME, “crime” é uma palavra de sentido negativo em nossa sociedade e explicita toda a perspectiva sobre o dinheiro demonstrada nessa letra: mesmo sendo alvo de grande cobiça, o dinheiro é maléfico. De acordo com nossa pesquisa de ocorrências no Google, tal expressão metafórica não é muito ocorrente, então podemos considerá-la uma criação do autor da letra. O sentido na tradução foi mantido e seguimos uma linha mais literal nesse caso. A próxima expressão que analisaremos é “a slice of my pie”. Esta é uma expressão bastante comum em inglês, e a palavra pie (torta) é utilizada em várias expressões metafóricas como, por exemplo, “As American as apple pie” entre outras. A torta nessa expressão representa um todo que será dividido. No Brasil, costumamos usar “bolo” em lugar de “torta” em nossas expressões metafóricas como em “Eu quero minha fatia do bolo”. As duas expressões são comuns em ambas as línguas e mesmo tendo sido necessário trocar a comida em questão, o sentido foi mantido em português. A última expressão metafórica que analisaremos neste trabalho, “the root of all evil”, provém da bíblia, em Timóteo 6:10: “For the love of money is a root of all kinds of evil. Some people, eager for money, have wandered from the faith and pierced themselves with many griefs”. Como muitos outros trechos da bíblia, a expressão foi modificada, simplificada e até mesmo perdeu certos detalhes ao cair na fala diária das pessoas séculos após sua confecção. Hoje em dia, aparece com mais frequência como “money is the root of all evil”, em vez de

42

“the love for money is the root of all kinds of evil”20. Como podemos ver é uma expressão comum na língua inglesa e em português também pode ser considerada comum, logo que passagens da bíblia são amplamente discutidas e compreendidas à nossa linguagem diária. O mesmo trecho na bíblia traduzida para o português é o seguinte: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. (Timóteo 6:10)”21. Em nossa tradução, mantivemos o sentido da expressão e utilizamos a palavra “males” em referência ao versículo do apóstolo Paulo e a expressão “hoje em dia” para caracterizar melhor o sentido de atualidade e mesmo assim manter a palavra “dia” (“today” em inglês). No presente capítulo, analisamos e interpretamos as metáforas destacadas e também propusemos tradução para as letras das quatro músicas selecionadas. No próximo capítulo apresentaremos as considerações finais.

20

Retirado de http://www.gotquestions.org/love-money-root-evil.html Acesso em 22/10/2015.

21

Retirado de https://www.bibliaonline.com.br/acf/1tm/6 Acesso em 22/10/2015.

43

5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar as metáforas presentes em músicas do álbum The Dark Side Of The Moon da banda Pink Floyd e propor traduções para os trechos com metáforas analisados. Realizamos a análise, interpretação e tradução de quatro músicas do álbum: Breathe, Time, Breathe Reprise e Money. Tivemos como base para tal objetivo as seguintes perguntas de pesquisa: a. É possível manter os sentidos das metáforas na tradução? b. A maioria das metáforas são comuns na língua inglesa ou são fruto da voz criativa dos autores? Buscamos trazer luz a um dos aspectos de uma obra de arte musical contemporânea que apresenta críticas, análises e interpretações da situação do homem no mundo moderno. Tais observações dos autores foram embasadas por uma linguagem bastante subjetiva e enigmática através do uso da metáfora, fenômeno linguístico estudado pelo homem há mais de dois mil e quinhentos anos e ainda assim, um astro com aspecto infinito em suas manifestações. Nossa abordagem nas análises e traduções foi embasada principalmente pelas teorias da metáfora conceptual (LAKOFF, 2002), que propõe que a metáfora é uma manifestação social e cognitiva na linguagem do ser humano, e nos estudos de Arrojo (2003) perante a tradução e o ofício do profissional que a realiza. Após nossa análise, interpretação e tradução de cada metáfora, discutimos o processo tradutório e pudemos observar que a maioria das metáforas tiveram seus sentidos mantidos após a tradução para a língua portuguesa. Apresentamos, a seguir, uma tabela resumindo nossos resultados. Tal tabela foi confeccionada durante a produção do capítulo Análise de Dados.

METÁFORA

1



O

SENTIDO

FOI

MANTIDO NA TRADUÇÃO? SIM OU NÃO

2 – (A) METÁFORA DE USO COMUM (B)

FRUTO

IMAGINAÇÃO AUTOR 1.

Ticking away

Sim

A

2.

Dull day

Sim

B

DA DO

44 3.

Fritter away

Sim

B

4.

Breathe in the air

Sim

A

5.

Don’t be afraid

Sim

A

6.

Leave but don’t leave me

Sim

B

7.

Around

Sim

B

8.

Own ground

Sim

B

9.

And high you fly

Sim

A

10.

All you touch and all you

Sim

B

11.

Run rabbit run

Não

A

12.

It's time to dig another

Sim

B

13.

Ride the tide

Sim

A

14.

Race towards an early

Sim

A

15.

Kicking around

Sim

A

16.

A piece of ground

Sim

A

17.

Of lying in the sunshine

Não

B

18.

Time to kill

Sim

A

19.

Ten years have got behind

Sim

B

20.

Starting gun

Sim

A

21.

Catch up with the sun

Sim

B

22.

Come to naught

Sim

A

23.

Racing around to come up

Sim

B

see

one.

grave

you.

behind you again 24.

A quiet desperation

Sim

A

25.

To warm the bones

Sim

A

26.

The tolling of the iron bell

Sim

A

27.

Softly spoken magic spell

Sim

B

28.

Money, it's a gas

Sim

A

29.

Make a stash

Não

A

45 30.

Money, it’s a hit

Sim

B

31.

Money, it’s a crime

Sim

B

32.

A slice of my pie

Sim

A

33.

The root of all evil

Sim

A

Apenas três expressões metafóricas não atingiram o sentido completo ao serem traduzidas para o português. Por isso, podemos apontar que é possível manter o sentido das metáforas na tradução. Podemos considerar que a maioria das metáforas é de uso comum na língua inglesa, pois, dos trinta e três trechos com expressões metafóricas analisados, dezenove são expressões de uso comum, como em “ticking away”, “to ride the tide” e “kicking around”. Concluímos, após realizar este trabalho, que a tradução depende da postura e principalmente da pesquisa do tradutor para que se alcance resultados satisfatórios em termos de metáforas e sentidos nas entrelinhas presentes na obra original. Muitos aspectos e significados apenas foram atingidos com a pesquisa sobre contextos sociais e culturais em que os autores das letras estavam inseridos na época de composição da obra, os quais nos ajudaram a entender e mergulhar ainda mais no estudo da língua inglesa, da tradução e da experiência de se ouvir um bom álbum de Rock and Roll.

46

REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. (384-322 a.C.-b). Poética. Trad. de SOUZA, Elena. Porto Alegre: Globo, 1996. ARISTÓTELES. (384-322 a.C.-b). Retórica. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998. ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução: A teoria na prática. 4. ed. São Paulo: Ática, 2003. 85 p. BÍBLIA ONLINE (Brasil) (Org.). 1 Timóteo 6. 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2015. BLAKE, Mark. Nos bastidores do Pink Floyd. Trad. de Alexandre Callari. São Paulo: Évora, 2007. 488 p. CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. Cambridge Dictionaries Online. 2015. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2015. CLASSIC ALBUMS: Pink Floyd – The Making of 'The Dark Side of the Moon'. Direção de Matthew Longfellow. Produção de Nick de Grunwald e Martim R. Smith. Realização de Eagle Rock Entertainment Ltd. Coordenação de Jamie Rugge-price. Roteiro: Matthew Longfellow. Música: Pink Floyd. Reino Unido: Eagle Rock Entertainment Ltd, 2003. (49 min.), DVD, son., color. Legendado. Série Classic Albums. GOLDSTEIN, Norma. Verso, sons e ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. 111 p. (Princípios). GOT QUESTIONS MINISTRIES (Org.). Why is the love of money the root of all kinds of evil? 2002-2015. Disponível em: . Acesso em: 22 out. 2015. LAKOFF, G. & JOHNSON, M. (2002). Metáforas da vida Cotidiana. [Coord. de tradução

Mara S. Zanotto]. Campinas - S.P. Mercado das Letras. São Paulo. FARLEX INC. The Free Dictionary. 2015. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2015. FOSSILE, Dieysa. Um passeio pelos estudos da metáfora. 2008. Disponível em: . Acesso em: 12 mar. 2005. MACMILLAN PUBLISHERS LIMITED. Macmillan Dictionary. 2015. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2015. MARI, Ana Lee Bonente de; GIANNONE, Priscilla Nogueira. Análise semiótica da capa do disco The Dark Side Of The Moon. 2013. 36 f. TCC (Graduação) - Curso de Letras: Português e Inglês, Universidade de Sorocaba, Sorocaba, SP, 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 de maio de 2015.

47

MIGUENS, Sofia. Metáfora. 2001. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2015. MITTMANN, Solange. Notas do tradutor e processo tradutório: análise sob o ponto de vista discursivo. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2003 PINK FLOYD, The Dark Side of the Moon. Londres: The Gramophone Company, Limited, 1973. Disco sonoro. OXFORD UNIVERSITY PRESS (Inglaterra) (Org.). Oxford Dictionaries. 2015. Disponível em: . Acesso em: 18 ago. 2015. SARDINHA, Tony Berber. Metáfora. São Paulo: Parábola, 2007. 167 p. (Lingua[gem]). WIKIPEDIA. I. A. Richards. 2013. Disponível em:. Acesso em: 12 mar. 2015.

48

ANEXOS Seguem anexas todas as letras presentes no encarte original do álbum The Dark Side Of The Moon, disco publicado e distribuído no Brazil em 1985 pela FONOBRÁS – DISTRIBUIDORA

FONOGRÁFICA

BRASILEIRA

LTDA.

No

encarte

também

encontramos a seguinte frase: “All Lyrics by ROGER WATERS”, traduzindo, todas as letras por Roger Waters.

Breathe

Breathe, breathe in the air. Don't be afraid to care. Leave but don't leave me. Look around and choose your own ground.

Long you live and high you fly And smiles you'll give and tears you'll cry And all you touch and all you see Is all your life will ever be.

Run, rabbit run. Dig that hole, forget the sun, And when at last the work is done Don't sit down it's time to dig another one.

For long you live and high you fly But only if you ride the tide And balanced on the biggest wave You race towards an early grave.

49

Time

Ticking away the moments that make up a dull day You fritter and waste the hours in an offhand way. Kicking around on a piece of ground in your home town Waiting for someone or something to show you the way.

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain. You are young and life is long and there is time to kill today. And then one day you find ten years have got behind you. No one told you when to run, you missed the starting gun.

So you run and you run to catch up with the sun but it's sinking Racing around to come up behind you again. The sun is the same in a relative way but you're older, Shorter of breath and one day closer to death.

Every year is getting shorter never seem to find the time. Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines Hanging on in quiet desperation is the English way The time is gone, the song is over, Thought I'd something more to say.

Breathe Reprise

Home, home again. I like to be here when I can. When I come home cold and tired It's good to warm my bones beside the fire. Far away across the field The tolling of the iron bell Calls the faithful to their knees

50

To hear the softly spoken magic spells.

Money

Money, get away. Get a good job with good pay and you're okay. Money, it's a gas. Grab that cash with both hands and make a stash. New car, caviar, four star daydream, Think I'll buy me a football team.

Money, get back. I'm all right Jack keep your hands off of my stack. Money, it's a hit. Don't give me that do goody good bullshit. I'm in the high-fidelity first class traveling set And I think I need a Lear jet.

Money, it's a crime. Share it fairly but don't take a slice of my pie. Money, so they say Is the root of all evil today. But if you ask for a raise it's no surprise that they're giving none away.

Us and Them

Us, and them And after all we're only ordinary men. Me, and you. God only knows it's noz what we would choose to do. Forward he cried from the rear

51

and the front rank died. And the general sat and the lines on the map moved from side to side. Black and blue And who knows which is which and who is who. Up and down. But in the end it's only round and round. Haven't you heard it's a battle of words The poster bearer cried. Listen son, said the man with the gun There's room for you inside.

"I mean, they're not gunna kill ya, so if you give 'em a quick short, sharp, shock, they won't do it again. Dig it? I mean he get off lightly, 'cos I would've given him a thrashing - I only hit him once! It was only a difference of opinion, but really...I mean good manners don't cost nothing do they, eh?"

Down and out It can't be helped but there's a lot of it about. With, without. And who'll deny it's what the fighting's all about? Out of the way, it's a busy day I've got things on my mind. For the want of the price of tea and a slice The old man died.

Brain Damage

The lunatic is on the grass. The lunatic is on the grass. Remembering games and daisy chains and laughs.

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Got to keep the loonies on the path.

The lunatic is in the hall. The lunatics are in my hall. The paper holds their folded faces to the floor And every day the paper boy brings more.

And if the dam breaks open many years too soon And if there is no room upon the hill And if your head explodes with dark forebodings too I'll see you on the dark side of the moon.

The lunatic is in my head. The lunatic is in my head You raise the blade, you make the change You re-arrange me 'til I'm sane. You lock the door And throw away the key There's someone in my head but it's not me.

And if the cloud bursts, thunder in your ear You shout and no one seems to hear. And if the band you're in starts playing different tunes I'll see you on the dark side of the moon.

Eclipse

All that you touch All that you see All that you taste All you feel. All that you love

53

All that you hate All you distrust All you save. All that you give All that you deal All that you buy, beg, borrow or steal. All you create All you destroy All that you do All that you say. All that you eat And everyone you meet All that you slight And everyone you fight. All that is now All that is gone All that's to come And everything under the sun is in tune But the sun is eclipsed by the moon.

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