Thor – do mito a super-herói A reinvenção moderna do deus nórdico do trovão

May 29, 2017 | Autor: Leandro Vilar | Categoria: Norse mythology, Comic books, Mitologia Nordica, História Em Quadrinhos
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História, imagem e narrativas  No 18,  abril/2014 ‐ ISSN 1808‐9895 ‐ http://www.historiaimagem.com.br     

Thor – do mito a super-herói A reinvenção moderna do deus nórdico do trovão*

Leandro Vilar Oliveira Mestrando em História e Cultura Histórica – UFPB Escritor e poeta

Resumo: Neste artigo analisei algumas características dos mitos escandinavos os quais se referem ao deus do trovão Thor e outras importantes divindades do panteão escandinavo, como Odin, Loki e Sif. A partir da análise destes mitos parto para apresentar como tal mitologia foi adaptada e reinventada para a sociedade contemporânea no campo literário das histórias em quadrinhos nos séculos XX e XXI, onde este icônico deus se tornou a partir dos anos de 1960 um super-herói com um lado humano, e mais tarde voltou a ser visto como um deus e até mesmo um extraterrestre e um “falso deus”. Palavras-chave: Thor, Mitologia Escandinava, histórias em quadrinhos.

________________________ *Este trabalho consiste como resultado da conclusão da disciplina optativa Mitologia Escandinava: fontes, temas e métodos, ministrada pelo professor Dr. Johnni Langer em parceira do Núcleo de Estudos

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História, imagem e narrativas  No 18,  abril/2014 ‐ ISSN 1808‐9895 ‐ http://www.historiaimagem.com.br      Vikings e Escandinavos (NEVE), no Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões na Universidade Federal da Paraíba, no semestre letivo 2013.2.

Thor: deus e mito Uma das divindades mais conhecidas e cultuadas do panteão escandinavo ou nórdico, considerado o mais poderoso dos deuses neste panteão, o qual erguendo o seu poderoso martelo Mjölnir, conjurava raios, trovões e tempestades, e partia para ferrenhas batalhas contra gigantes e outras criaturas. No entanto, este ruivo e barbudo deus não foi apenas o senhor dos raios no norte da Europa, seu culto e sua importância foram bem mais amplos como nos atestaram alguns mitólogos e historiadores. Thor era filho de Odin o rei dos deuses escandinavos, os qual entre alguns de seus epítetos era chamado de Allföd (“Pai de Todos”), fato este que reforça sua ideia de patriarcalismo e soberania. Sua mãe era Jörd a deusa da terra, associada como guardiã de Midgard (“Terra Média” ou “Terra dos Homens”) local da cosmogonia escandinava onde vivia a humanidade. Thor era um dos Aesir1, a principal família dos deuses escandinavos, daí também ser conhecido como Ásathor (“Thor dos Aesir”). Contudo, na Edda em Prosa ou Edda de Snorri, ele também era conhecido pelo epíteto de Ökuthor2 (“Thor das carruagens”), um epíteto curioso, pois em muitos dos mitos dizia-se que o deus viajava a pé, mas essa representação possui um propósito a mais, como será visto adiante. O Thor dos mitos e o deus que era cultuado antigamente, não era louro e de barba feita, como ficou marcante sua representação pela Marvel Comics. Embora alguns desenhistas já retratem o deus nórdico do trovão com barba, mesmo assim, sua aparência e roupas não se assemelham ao que seria na época de seu culto na Idade Média. O verdadeiro Thor, era ruivo e barbudo. O bravo deus ruivo era casado com a bela deusa de cabelos de ouro, Sif. Thor teve um romance com uma giganta chamada Járnsaxa, com quem tivera dois filhos, Magne e Mode. Com Sif ele tivera duas filhas, Lorride e Thrud. Sif possuía um filho chamado Uller ou Ull, onde alguns dizem que era filho de Thor, outros falam que era seu enteado.

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Na mitologia escandinava havia duas famílias de deuses: os Aesir os quais eram os mais velhos e os principais do panteão, os quais habitavam Asgard. E os Vanir, uma segunda família de deuses, também importantes, os quais habitavam Vanaheim. Os Aesir eram associados ao poder, ao governo, a guerra e a força. Por sua vez os Vanir eram mais associados à fertilidade, sexualidade, prosperidade, etc. 2 Thor possuía uma carruagem que era conduzida por dois bodes negros, chamados Tanngrisnr (“dente perfurador”) e Tanngnjóst (“dente triturador”).

Thor vivia em seu palácio chamado Bilskirnir ou Thrundheim, o qual era descrito possuindo 640 cômodos, sendo maior que o próprio Valhala de Odin, como atesta o Grímnismál e a Edda em prosa. Todavia, Snorri nos contara também que Thor era o senhor do reino de Trudvangar (Þrúðvangar), embora não saibamos ao certo onde ficaria tal reino. IMAGEM I

Autor: Lorenz Frølich (1820–1908). Título: Tanngrisnir and Tanngnjóstr, 1895. Descrição: Após derrotar Hymir e seu exército, Thor descobre que um de seus bodes está com a perna machucada. Tyr os observa.

Além de seu grande palácio o deus possuía três importantes tesouros3: o seu martelo Mjölnir, o qual consistia em sua principal arma; as luvas de ferro chamadas Járngreipr, onde se dizia que elas jamais faziam o martelo escorregar de suas mãos. Por fim, o terceiro tesouro era o cinto Megingjord, uma espécie de “cinto de força”, o qual aumentava a força do deus. Mas se até aqui apresentei a família, a casa e os tesouros de Thor, partirei para falar a respeito do seu convívio com os outros deuses e sua personalidade. Embora Odin tenha tido vários filhos e filhas, pouco se sabe da relação de Thor com seus irmãos, irmãs e demais parentes.

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________________________ 3 Na Edda em prosa, Snorri narrara uma das versões sobre a criação dos três tesouros de Thor. No caso das histórias em quadrinhos, o martelo foi criado a mando de Odin para presentear seu filho. O martelo era feito do metal Uru, um dos metais mais resistentes do universo.

A maioria dos mitos onde o deus aparece, o mostra em aventuras solitariamente, ou em companhia de Loki. Em ocasiões onde os deuses estavam reunidos, Thor chegava ao final da história, geralmente para ajuda-los em algum problema, como visto na narrativa sobre a construção das muralhas de Asgard, narrada apenas na Edda em prosa (1225). Nessa história, os deuses sem quererem cumprir o acordo com o homem (na realidade era um gigante disfarçado) que se comprometera em erguer até o final do inverno as muralhas de Asgard, o qual para isso havia pedido a deusa Freya como esposa, além de pedir o sol e a lua. Os deuses ficaram em dúvida se aceitavam ou não a proposta, mas disseram que ele deveria trabalhar sozinho. O construtor retrucou, perguntando se poderia usar seu cavalo Svaldifari para puxar sua carroça com as pedras, mas antes que os deuses falassem algo, Loki concordou com a proposta. O inverno foi passando e antes de seu fim, as muralhas já estavam quase que terminadas, logo, os deuses entraram em preocupação, pois teriam que cumprir com sua palavra. Então Odin ordenou que Loki resolve-se isso, já que foi ele que firmou o acordo. O gigante Loki se transformou numa égua no cio, o que atraiu Svaldifari para dentro da floresta, fazendo o seu dono não terminar o trabalho no prazo. Irado com aquilo, o gigante se revelou e começou a atacar as muralhas que erguera, Thor chegou nessa ocasião e o matou. Loki engravidou do garanhão e pariu um potro com oito patas, que foi chamado de Sleipnir, o qual foi dado de presente a Odin, tornando-se seu corcel que era o mais veloz de todos, e podia galopar pelo céu.

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IMAGEM II

Autor: Dorothy Hardy (1891-1925). Título: Loki and Svaldifari, 1909.

De todos os deuses, Tor é o herói mais característico do tempestuoso mundo dos vikings. Barbudo, franco, indomável, cheio de vigor e energia, ele põe toda a sua confiança em seu braço forte e suas armas simples. Ele caminha a passos largos pelo reino norte dos deuses, um símbolo apropriado para o homem de ação. (DAVIDSON, 2004, p. 61). Pelos relatos contidos nas Eddas e nos poemas escaldos, Thor era descrito como sendo alto e bastante forte. Tais características condiziam bem com sua personalidade e função, pois Thor era essencialmente um guerreiro. Costumava viajar com frequência para o Leste, para Jotunheim a terra dos gigantes (jotuns). Como os gigantes eram os principais inimigos dos deuses, constantemente eles ameaçavam invadir Asgard, como também atacavam Midgard, e pelo fato de Thor ser considerado o protetor de Midgard, ele ia ao socorro da humanidade, um aspecto interessante e importante para se compreender o seu culto. Acerca da sua personalidade ele era descrito como um deus bastante temperamental. Em alguns mitos ele perdia a paciência facilmente e o único caminho que encontrava era partir para a agressão. Thor constantemente desafiava seus oponentes, e para ele a solução mais rápida era esmagar a cabeça de seus oponentes com o seu martelo. Thor além de ser bastante belicoso e temperamental, também era descrito como sendo um deus que possuía um apetite voraz. Algumas histórias descrevem a gula do deus. “O prazer de Tor em comer e beber combina com sua grande vitalidade e força

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física. Seu progresso através dos reinos de deuses e gigantes era marcado pela contínua derrota de adversários e superação de obstáculos”. (DAVIDSON, 2004, p. 62). Mas, além desse caráter guerreiro, raivoso, guloso e heroico, alguns mitos mostram o deus como ingênuo e feito de tolo. Para Davidson [1987] tais mitos que possuem um viés cômico, foram escritos provavelmente na época que a Escandinávia havia sido cristianizada isso por volta do século XI ou XII, e os seus autores narraram essas histórias como forma de debochar do deus. Na história de Útgard-Loki, o gigante com o uso da magia enganara Thor, Loki e Tjálfi, embora que no fim ele revelara toda a farsa, Lindow [2000]. No poema Hárbarðsljóð na Edda poética, a história conta um diálogo entre Thor e o barqueiro Hárbard (aqui na realidade é o deus Odin disfarçado). O deus precisava atravessar o rio, mas Hárbard se negara a fazer isso e começou a confrontá-lo com uma conversa cheia de sarcasmo e ironia, de forma que sempre procurava ofender e inferiorizar os feitos do deus. Curiosamente, embora Thor se irrite com o barqueiro, ele não o ataca nenhuma vez. Ora o poderoso deus sendo humilhado por um mortal e nada faz a respeito, ainda mais sendo temperamental? Outra história que mostra um viés irônico é o poema Thrymrskvida (Þrymskviða) na Edda poética, onde o deus ao despertar em sua casa, nota que seu martelo havia sido roubado e descobre posteriormente por Loki que o gigante Thrymr foi o responsável, e pedia que em troca de devolvê-lo, os deuses teriam que lhe dá a deusa Freya como esposa. Os deuses não querendo cumprir com tal acordo decidiram optar pelo plano de Heimdall, o qual pediu que Thor se disfarçasse como Freya, usando um vestido e um véu. Assim, o heroico e másculo deus, viajou até Jotunheim vestido de noiva para poder recuperar seu símbolo de força e de virilidade. No fim, Thor mata todos os gigantes presentes.

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IMAGEM III

Autor: Elmer Boyd Smith. Título: Ah, what a lovely maid it is! 1902. Descrição: O deus Thor sendo vestido por duas donzelas, para se parecer como a deusa Freyja, enquanto o deus Loki ri. Dois gatos observam.

Alguns mitólogos defendem que tais histórias irônicas e sarcásticas não foram escritas por cristãos para zombarem do deus nórdico, mas faziam parte da tradição literária e cultural dos escandinavos em contar essas histórias com um tom mais cômico. Se pegarmos o exemplo dos antigos gregos, alguns dos mitos foram recontados através do teatro, dando maior dramaticidade ou maior comicidade para essas histórias. Não obstante, entre os escandinavos não havia essa ideia de distanciamento entre o homem e o deus, como é mais clara nas religiões abraâmicas. Os deuses nórdicos embora fossem sagrados, não estavam tão distante do mundo. Nos poemas, há menções de encontro com os deuses e os humanos, revelando essa proximidade, além disso, os deuses nórdicos possuíam emoções e sentimentos bem “humanos” como os deuses gregos. Para

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nós pode parecer estranho, essa proximidade entre o divino e o mundano, mas para os vikings isso era algo que fazia parte de sua sociedade. Excetuando-se essas histórias irônicas e sarcásticas, o deus do trovão foi o deus nórdico mais adorado, seguido apenas pelo culto a Odin. O culto e os ritos ao deus foram algo bem difundindo na Idade Média, abrangendo desde o século VIII até pelo menos o século XI ou XII, nessa época o Cristianismo já havia se implantando em partes da Noruega, Suécia, Dinamarca e Islândia, mesmo assim, parte da população ainda mantinha a fé em Thor. Seus principais locais de culto foram à Islândia, e partes da Noruega e Suécia. Davidson [1987] conta-nos que o culto a Odin estava ligado à aristocracia, um culto associado aos reis, aos jarl (classe social que representava a elite). Algumas histórias conta que o deus auxiliava reis, príncipes e senhores em troca destes ofertarem os mortos em combate para ele ou lhe oferecerem oferendas ou sacrifícios. Contudo, Davidson [1987] e Langer [2009] apontam que o culto ao deus Thor estivesse ligado mais as classes baixas chamada de karl, e possivelmente até mesmo aos escravos (thrall). No já mencionado poema Hárbarðsljóð, Hárbard diz que Odin recebia os valorosos e nobres guerreiros, enquanto Thor era o responsável de receber as almas dos homens comuns e dos escravos. O culto a Tor teve uma vida longa na Europa ocidental. No século XI, ele ainda era venerado com entusiasmo pelos vikings de Dublin, e no fim do período pagão era visto como o principal adversário de Cristo. Na Noruega, Tor é descrito participando em um cabo-de-guerra com o campeão de Cristo, o rei Olaf Tryggvason, sobre uma fogueira, enquanto na Islândia uma entusiástica adoradora dos velhos deuses contou a um missionário cristão que Tor tinha desafiado Cristo para enfrentá-lo em combate corpo a corpo. (DAVIDSON, 1987, p. 61). Embora Odin e Tyr estivessem associados à guerra, Thor era o mais belicoso dos deuses, como foi apontando, isso o fazia na cultura viking uma espécie de modelo e símbolo: o “deus herói” ou o “deus guardião”, pois Thor defendia Asgard e Midgard. Tal fato é importante a ser analisado, pois as pessoas construíam templos para o ruivo deus a fim de invocarem sua proteção contra diferentes mazelas. Na Suécia, Noruega, Islândia e Irlanda encontraram-se templos dedicados ao deus, com estátuas ricamente adornadas até mesmo com ouro e prata, como visto nos templos de Hundsthorp e Gudbrandsdal. Estátuas em pedra, madeira, bronze, podendo ser pequenas ou em “tamanho real”; estátuas de sua carruagem puxada pelos dois bodes negros, pilares com runas inscritas, representações de martelos, etc. 8   

 

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IMAGEM IV

Autor: L3u, 2012. Descrição: Estátua de bronze do deus Thor de cerca do ano 1000. Museu Nacional da Islândia, Reykjavik.

Tais indicativos revelam que realmente o culto do deus dos trovões foi bem difundido, pois embora nem todo mundo fosse aos templos, a religião escandinava como conta Langer [2005] não era centralizada e dogmatizada, o correto era falar-se de vários ritos religiosos do que em doutrinas. Tal religião também estava associada a locais naturais como florestas, cavernas, montanhas, lagos, rios, campos, etc. Nestes locais poderiam se encontrar pilares, mesas de pedra que seriam usadas para os ritos e sacrifícios, além de também servirem de depósitos de oferendas votivas. Mas, quais eram os motivos que levavam Thor a ser adorado por muitos? O deus era encarado como uma divindade associada à proteção da humanidade, uma ligação entre a terra (Midgard) e o céu (Asgard), isso remonta a sua origem como filho de Odin e Jörd. A carroça de Thor estava associada aos trovões, tempestades e possivelmente também a chuva. Nos poemas antigos, fala-se que quando o deus viajava em sua carroça, o céu se iluminava e tremia (trovões, raios e relâmpagos), ao mesmo tempo, alguns diziam que chuva caía na ocasião. Não obstante, há hipóteses de que Thor também estivesse ligado à primavera. Dizia-se que os gigantes de gelo eram os responsáveis por causar o inverno. Quando a primavera iniciava-se, as pessoas diziam que Thor havia mais uma vez derrotado os gigantes de gelo, os fazendo recuar para a fria e nebulosa Nilfheim, sua terra.

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Pelo fato de grande parte da população nórdica ser rural, o fato de Thor está associado ao clima, revela uma questão importante para se entender o do porque de sua predileção pela maioria da população, pois o homem do campo vive diretamente dependente das mudanças climáticas, os quais interferem no plantio, cultivo, colheita e na criação de animais. Nas sagas que contam a história do rei da Noruega, Olaf Tryggvason (c. 9601000), o qual foi responsável por introduzir o cristianismo na Noruega, certa vez ele visitou um templo do deus Thor, onde um homem chamado Skeggi (talvez o sacerdote do local) pediu que o rei puxa-se a corda envolta dos chifres da estátua de dois bodes, ao fazer isso, a carruagem se movimentou. Skeggi dissera que o rei havia feito uma homenagem ao deus, mas por essa época, Olaf já era cristão e aquilo o irritou, então ele ordenou a destruição dos ídolos e do templo. Não era apenas o poder de Tor sobre o trovão que se encontrava simbolizado dentro do templo. Vemos também em muitas passagens nas sagas um grande anel de ouro ou prata pelo qual juramentos eram feitos, e que era guardado nos templos onde Tor era venerado. Há evidências independentes de que esse anel era consagrado a Tor, pois em fontes irlandesas o “anel de Tor” é um dos tesouros tirados do templo em 994. Antes disso, 876, os líderes dinamarqueses pagãos na Inglaterra fizeram uma trégua com o rei Alfred e, de acordo com a Crônica anglo-saxônica (Anglo-Saxon Chornicle), teriam feito um juramento a ele pelo anel sagrado. (DAVIDSON, 1987, p. 64). Além desse anel anelar ou braçal, as colunas ou pilares dos templos dedicados ao deus também eram artefatos ligados ao seu culto. No poema Eybrbyggja Saga nos conta de colunas extraídas de templos no continente e levados para a Islândia, onde tais pilares eram jogados ao mar ou fixados em casas ou em novos templos, pois tais pilares estariam associados ao deus Thor, como um sinal de estar sob a proteção do deus. Além disso, tais colunas eram associadas ao carvalho, árvore ligada a Thor e também a Odin, onde se faziam rituais e sacrifícios. A terra também estava associada nestes ritos e consagrações. Davidson [1987] nos fala de casos onde se levava um pouco de terra dos templos, como se aquela terra estivesse benzida ou consagrada pelo deus. Alguns colonizadores islandeses transportaram pilares de madeira, e terra de templos do deus na Noruega. Pregos e o fogo também estavam associados aos ritos feitos ao deus do trovão. No já citado Eybrbyggja Saga há menção que algumas das colunas de madeira possuíam pregos encravados. Para Davidson [1987] tal aspecto estaria ligado ao mito do

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confronto entre Thor e o gigante Hrungnir narrado por Snorri. Na história, Thor conseguira matar o gigante, mas esse conseguiu ferir o deus, lançando uma pedra afiada que se cravou na cabeça dele. Tal prego estaria associado à pederneira, pedra essa usada para acender o fogo, contudo Davidson sugerira que o fogo fosse uma representação do raio, embora que o fogo seja um símbolo de culto bastante antigo e tendo vários significados. Nos templos de Odin havia altares com chamas. Se tomarmos o exemplo da deusa romana Vesta (Héstia para os gregos), em seu templo ardia uma chama considerada um símbolo sagrado para toda a Roma, estando associada à proteção da cidade e o bem-estar do povo. A chama estaria ligada a lareira, local importante do lar, da comunhão familiar. Por fim, o último símbolo associado ao deus, sendo o mais conhecido de todos era o próprio martelo Mjölnir. Embora o malho fosse usado como arma pelo deus, mas não há indícios que apontem que os vikings ou os escandinavos anteriores a eles usassem martelos de guerra, mas sim machados, os quais primitivamente já estavam associados aos raios. Provavelmente o martelo evoluiu do machado de duas pontas, conservando essa simbologia ao fenômeno elétrico-atmosférico. Motz [1997] e Lindow [1994] nos falam que embora o martelo fosse a arma do deus, o simbolismo do machado de duas pontas com o raio ainda se mantivera, implicando que o malho foi algo bastante restrito a iconografia do deus, pois não vemos tal objeto com o mesmo sentido, desassociado da imagem de Thor. De todos os simbolismos religiosos da Escandinávia da Era Viking, certamente o martelo de Thor (mjöllnir: triturador) é o que possui a maior quantidade de referências literárias, tanto nas Eddas quanto nas sagas islandesas. Nestas fontes, podemos caracterizar o martelo de Thor em três significados principais: como instrumento ritual e mágico: o martelo consagra nascimentos, casamentos, mortes, funerais, juramentos; assegura propriedades; consagra a terra e a propriedade; propicia a ressurreição e a fertilidade da vida; símbolo fálico; marca de fronteira; usado para localizar ladrões; como arma: ele defende o mundo, os deuses e os homens contra as forças do caos; como instrumento: o martelo protege contra os elementos naturais (Bray, 2006: 5; Lindow, 1994: 489). (LANGER, 2010, p. 70). Esses simbolismos e utilidades dado ao martelo reforçam-se na questão que as pessoas usavam pingentes no formato de martelos como amuletos de sorte e de proteção. Prática essa difundida depois do ano 1000, quando o Cristianismo começou a se disseminar na Escandinávia, e o uso de crucifixos teria levado os nórdicos fiéis a Thor, a usarem com mais frequência esse pingentes que já existiam anteriormente. 12   

 

Sabe-se que diante de tempestades, de grandes dificuldades, de partida para viagens, etc., as pessoas convocavam o nome do deus rogando por proteção. IMAGEM V

Autor: Desconhecido, 1895. Descrição: Martelo de Thor de prata com filigrana ornamentação foi encontrado em um lugar desconhecido em Skåne e que pertence a coleção de propriedade do barão Claes Kurck, mas foi doado ao Museu Histórico em Estocolmo no ano de 1895. Fontes não confiáveis, dizem que o martelo foi encontrado em Kabbarp perto Staffanstorp em Skåne, na Suécia.

Outras conexões relacionam Thor com o xamanismo, os ferreiros e os cultos de guerreiros, como em Horagales, na área lapônica, cujos tambores mostravam uma figura masculina com um martelo ou suástica (Lindow, 1994: 500). Desta maneira, não há como desvincular Mjöllnir de ser tanto um objeto heroico, como mágico e protetor. (LANGER, 2010, p. 71). Quando o Cristianismo começou a se fixar por volta do século XI, o martelo de Thor foi associado à cruz latina. Mesmo com tal associação, os fiéis mais devotos ainda assim se negaram a reconhecer Jesus Cristo e Deus. Existem relatos e poemas que falam do confronto ideológico entre pagãos e cristãos, onde se contam histórias nas quais Thor teria chamado Cristo para lutar, ou teria confrontado e derrotado reis vikings que se tornaram cristãos. O culto do deus continuou ainda a ser praticado em algumas partes da Escandinávia mesmo após a introdução do Cristianismo. Em momentos de falta de conhecimento sobre a doutrina católica, as pessoas optavam pelas antigas práticas religiosas, logo o martelo em dados momentos era associado à cruz como símbolo religioso e protetor, mas não associado à ideia de crucificação e ressureição de Jesus Cristo. Diante dessa breve apresentação, fica evidente que o deus dos trovões era uma divindade bastante importante nas crenças dos antigos povos escandinavos, mostrando que seu culto e representação iam muito além da ideia de um deus que só fazia matar gigantes com seu martelo e lançar raios. Agora passamos para a segunda parte do texto onde veremos como esse deus se tornou um super-herói. 13   

 

THOR: humano, super-herói e extraterrestre A saga do deus nórdico do trovão começa na literatura das histórias em quadrinhos no começo dos anos 1960, na chamada Era de Prata5 das histórias em quadrinhos (1956-1970), nessa nova leva de heróis que tentavam resgatar o público leitor e o mercado de quadrinhos nos Estados Unidos pós-guerra. No período de 1940 até 1945 foram criados aproximadamente quatrocentos super-heróis, mas nem todos sobreviveram. O campo evoluiu, expandindo suas fronteiras e tornando-se parte da cultura de massa. [...]. Vários personagens se alistaram e foram para a II Guerra Mundial, e os quadrinhos se tornaram armas ideológicas para elevar o moral dos soldados e do povo. O maior ícone do período da guerra é o Capitão América, de Jack Kirby e Joe Simon. Na capa de sua primeira revista ele combatia o próprio Adolf Hitler. Ao contrário de outros heróis, que acabaram “recrutados” para lutar na Segunda Guerra Mundial, o Sentinela da Liberdade foi criado especialmente com esse objetivo político. (JARCEM, 2007, p. 5).

Com o fim da guerra, alguns personagens que surgiram para aquele contexto começaram a sumir, serem descartados, embora que outros passaram a combater os comunistas da URSS. Com o período pós-guerra e o início dos “anos dourados” do governo do presidente Eisenhower (1953-1961), políticos e educadores queriam construir uma América pacífica e longe da ameaça comunista, contudo alguns políticos e estudiosos começaram a contestar o papel das hqs nessa “nova sociedade”. Alegavam que conteúdos e linguajares impróprios estavam levando os jovens a se tornarem violentos, indisciplinados, rebeldes, lascivos, etc. ___________________________ 5 A Era de Ouro das histórias em quadrinhos foi de 1938-1955. A Era de Bronze começou em 1970-1985. De 1985 até o presente, vivenciamos a Era Moderna.

Assim o governo impôs uma censura6 na produção literária, levando a uma crise nos anos 50 a qual só não foi tão alarmante para todo o mercado, pois a DC Comics tentou manter em alta seus personagens como Batman, Superman, Mulher-Maravilha (Wonder Woman), Flash e Lanterna Verde (Green Lantern), e a solução para isso foi uni-los. Assim surgiu a Liga da Justiça da América (Justice League of America). No caso da concorrente da DC Comics, a Marvel Comics, uma solução encontrada por Stan Lee (Stanley Martin Lieber) e Jack Kirby (Jacob Kurtzberg) foi se basearem no sucesso da Liga da Justiça, então os dois criaram o Quarteto Fantástico (Fantastic Four). A ideia deu certo, trazendo uma alternativa a editora, e nos anos 60 uma gama de novos personagens como o Homem-Aranha (Spider-Man), Homem de Ferro (Iron Man), os X-Men surgiriam, e entre eles estava Thor. 14   

 

Stan Lee em conversa com Jack Kirby decidiram criar um novo super-herói, Lee sugeriu que esse herói deveria ser mais forte que o personagem até então mais poderoso da Marvel, o Incrível Hulk7. E para esse personagem ser tão poderoso ele teria que ser um deus. Lee não pensava em um deus grego ou romano, então lhe veio em mente os vikings. Kirby na época até comentara que havia assistido a um filme sobre cavaleiros medievais, chamado Príncipe Valente8 (Prince Valiant), então decidiram escolher um deus viking para ser o novo super-herói e o escolhido foi Thor. Em 1962, Larry Lieber (irmão de Stan) começou a escrever o roteiro da história que apresentaria o deus nórdico do trovão nos quadrinhos; Kirby foi o responsável pelos desenhos. Assim na revista Journey into Mystery #83, surgia o Poderoso Thor9 (The Mighty Thor). A revista Journey into Mystery publicada originalmente pela Atlas Comics, a qual mudou de nome para Marvel Comics, publicava histórias de terror, monstros gigantes e ficção científica. Stan Lee acreditou que tais aspectos cairiam bem para apresentar um deus e todo o seu mundo fantástico. Mas, antes de continuar com a descrição, apresentarei brevemente o enredo dessa primeira revista, a qual já nos dará duas ideias interessantes para conhecermos a reinterpretação do deus Thor. ______________________ 6 Em 1954 o governo americano em parceria das empresas de quadrinhos, a Comics Magazine Associaton of America (CMAA), criou a censura através do Comic Code Authority. Tal lei teve com principal fundamento na época, o livro Seduction of the Innocent do psiquiatra Fredric Wertham, o qual atacava as histórias em quadrinhos. Tal argumento ganhou força entre alguns senadores na época. 7 Curiosamente o Hulk (Bruce Banner) também foi criado por Stan Lee e Jack Kirby, no mesmo ano que Thor, o antecedendo em três meses. 8 Exibido em 1954 o filme Príncipe Valente contava a história de um príncipe de origem viking cristã, o qual devido a adotar a nova fé, sua família foi perseguida. O príncipe muda-se para a Inglaterra e busca asilo na corte do Rei Arthur. Originalmente o Príncipe Valente era uma história em quadrinhos. 9 A primeira vez que Thor apareceu em histórias em quadrinhos foi na revista Venus # 12-13 em 1951. A revista também era publicada pela Marvel e contava histórias da deusa Vênus (Afrodite).

A história se inicia na Noruega, onde o médico americano o Dr. Donald Blake estava de visita à terra de seus ancestrais. Enquanto ele andava pelas belas paisagens norueguesas, uma nave alienígena pousava ali próximo, e estranhos extraterrestres chamados Homens de Pedra de Saturno (Stone Men from Saturn) desceram desta. Tais alienígenas foram baseados na aparência dos Moais, as estátuas da Ilha de Páscoa, com a diferença de terem braços, pernas e serem da cor verde.

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IMAGEM VI

Autor da capa: Jack Kirby (1917-1996). Título: Journey into Mystery #83, 1962.

Blake foi avistado por alguns dos extraterrestres, então foge em direção a uma colina e entra numa caverna, tentando achar outra saída, ele acabou encontrando um velho cajado de madeira. Ele usara o cajado para mover uma rocha que obstruía um túnel, mas não conseguindo fazer isso, bateu com raiva o cajado numa rocha, e de repente esse começou a brilhar e ele se transformou em Thor. A história prossegue apresentando os poderes e habilidades do deus, o que inclui a novidade do voo, onde ao girar o martelo Mjölnir, Thor poderia lança-se ao ar, podendo assim voar. Depois disso, ele sai da caverna e parte para lutar e derrotar os invasores, salvando a Terra dessa ameaça. A partir do número 83, os seguintes números continuaram a contar histórias10 do Poderoso Thor e pouco a pouco apresentando novos personagens humanos, extraterrestres e mitológicos. ___________________________ 10 A revista Journey into Mystery mudou de nome na edição 126 (1966), quando passou a se chamar Thor. Contudo ela retomou o antigo nome na Thor #503 (1996). Em 2013, a Marvel a cancelou no número 655. “Ele [Blake] é, na realidade, um médico medíocre, franzino e deficiente físico, que tem dificuldade para declarar seu amor à sua enfermeira. Mas, além disso, fazia uma relação direta dos super-heróis dos quadrinhos com o campo da mitologia, enveredando pelas narrativas dos deuses nórdicos, repletas de mistérios e fascínios. A convivência do herói fisicamente limitado com seu alter-ego divino revelou-se uma fórmula vitoriosa, garantindo a sobrevivência do personagem quadrinhístico durante anos a fio”. (VERGUEIRO, 2011).

Apresentando a primeira aparição do deus do trovão, passamos para debater e conhecer as reinterpretações de seu mito. Como foi visto, nesse primeiro momento, 16   

 

Thor não seria um deus, mas uma essência, força, energia a qual dava poderes ao humano Donald Blake. Algo que pode ser visto quando se ler a inscrição contida no martelo a qual diz o seguinte: “Quem queira que empunhe esse martelo, se for digno possuirá o poder de Thor”11. Se Blake fosse separado de sua bengala (o cajado no qual o martelo estava transformado, virou uma bengala), ele não conseguiria se transformar em Thor. Todavia, com o progredir das histórias os fãs começaram a questionar se o Thor que aparecia seria uma espécie de poder ou magia, ou seria o deus dos mitos? Na Journey into Mystery #97 (1963), foi revelado que Donald Blake não era um humano de verdade, mas na realidade ele era uma transformação do verdadeiro deus Thor Odinson. No arco Tales of Asgard, conta que Thor havia ficado tão arrogante, prepotente e orgulhoso que pusera em ameaça Asgard, logo Odin decidiu puni-lo. Odin o fez perder a memória e lhe retirou o martelo, então o transformou em humano e o enviou para a Terra (Midgard), vivendo como um humano, o deus passou a ser humilde, honesto, compreensível, etc., até que se tornou “digno de possuir o poder de Thor”. “A aventura do herói costuma seguir o padrão da unidade nuclear acima descrita: um afastamento do mundo, uma penetração em alguma fonte de poder e um retorno que enriquece a vida”. (CAMPBEL, 1997, p. 20). Posteriormente ele recobrou a memória, mas passou a viver sua vida dupla, a verdadeira em Asgard, e Donald Blake se tornou seu disfarce na Terra, embora que em outras histórias ele tenha assumido outros nomes também12. Dessa forma, Thor continuou a defender Asgard e Midgard.

_________________________ 11 Na revista Thor # 337 (1983) um extraterrestre da raça Korbinita, chamado Bill Raio Beta (Beta Ray Bill) enquanto lutava contra Thor, conseguiu empunhar Mjölnir e ganhar os seus poderes. Posteriormente Odin reconhecendo o valor de Bill, ordenou que um martelo fosse feito para ele. 12 Outros nomes ou disfarces que ele adotou foram: Jake Olsen, Sigurd Jarlson, Sigfried, Siegmund e Eric Masterson.

No entanto, de uns dez ou quinze anos para cá, as histórias já não mostram mais esses disfarces humanos, e Thor embora tenha se tornado um super-herói, era considerado um deus. Logo, ele viajava de Asgard para Midgard, e outros mundos, através da Bifrost, a qual ao invés de ser uma ponte de arco-íris como nos mitos, tornouse um portal dimensional, onde o próprio Thor pode abri-lo usando o seu martelo. Até aqui se deu para perceber o lado humano introduzido originalmente para se tentar explicar como esse deus apareceu no mundo humano nos quadrinhos. Agora 17   

 

partamos para conhecer algumas características que transformaram seu caráter, fisionomia e mitologia. Assim como todo bom super-herói é necessário ter um uniforme, de preferência um que atraia atenção e seja marcante, como forma de distinguir o personagem em meio a tantos outros. Se nos mitos Thor era ruivo e barbudo, e deveria se vestir como os guerreiros vikings, nas histórias em quadrinhos, ele usa uma capa vermelha, um elmo com adornos de asas, uma túnica preta com círculos brancos, uma calça azul, botas amarelas, braceletes, um cinturão amarelo (o qual não é o cinturão de força como visto no mito). Nessa versão ele não usa as luvas de ferro, e deixou de ser ruivo para se tornar louro, e perdeu a barba, em detrimento de um rosto liso. Tal fato é significativo, pois a maioria dos super-heróis ainda hoje não deixa a barba crescer, embora que nas últimas histórias de Thor, seja nas hqs, filmes e jogos já o retratem com barba. Em respeito ao seu caráter, se nos mitos Thor era bravo, impetuoso e guloso, na versão dos quadrinhos o que ele mantém em comum é a força, a coragem, a honra e a determinação, pois ele deixa seu lado impetuoso, arrogante, voraz, etc., dos mitos, e passa a assumir os conceitos e representações do heroísmo contemporâneo: humildade, respeito, solidariedade, complacência, sabedoria, compromisso, dedicação, justiça e paz. Valores esses como aponta Cavalcanti [2006] são heranças da conduta moral dos cavaleiros medievais. A ideia de cavalheirismo no medievo foi resgatada nas hqs e reaproveitada. O herói é sempre um modelo, uma entidade na qual encarnam-se valores que, não raro, têm como eixo um processo civilizador, isto é, é ele quem traz a uma situação de desordem ou anarquia, a possibilidade de administração e organização/manutenção de estruturas favoráveis à vida e relativa harmonia social. (CAVALCANTI, 2006, p. 121). Os traços firmes de Kirby, aliados às narrativas instigantes de Lee, que dosavam heroísmo, cavalheirismo e uma linguagem empolada – Thor utiliza um inglês shakespereano, que infelizmente perdeu todo o seu fascínio quando de sua tradução para o português -, garantiram a permanência do Príncipe de Asgard nas bancas de revistas, iniciando uma tradição que já dura quase 50 anos. (VERGUEIRO, 2011).

Mas não foi apenas o deus do trovão que tivera sua aparência e caráter mudados, os demais deuses, deusas, criaturas e até os lugares também mudaram. Loki o qual apareceu à primeira vez no número 85 da Journey into Mystery (1962) surgiu usando um uniforme verde e amarelo, e um elmo amarelo com longos chifres, algo que remonta a representação estereotipada de que todos os vikings usariam elmos com chifres13. Tal representação é marcante nas hqs, pois Odin, Heimdall e até o gigante de fogo Surt,

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possuem longos chifres. Além dessa caracterização, Loki em muitas vezes usa um cajado, símbolo de seu poder. IMAGEM VII

Autor: Jack Kirby. Descrição: Loki Laufeyson.

IMAGEM VIII

Autor: Jack Kirby. Descrição: Odin.

No caso de Odin, alguns desenhos não o retratam sendo cego de um dos olhos, como ele era nos mitos. A deusa Sif a qual era conhecida por sua bela e dourada cabeleira, nestas histórias ela é morena. Embora se diga que Sif nascera loura, mas Loki lhe cortou os cabelos, no entanto só conseguiu que os anões fizessem cabelos negros como a noite14. Além dessa mudança de Sif deixar de ser loura para torna-se morena, seu caráter também mudou. Se nos mitos ela era uma deusa pacífica e de pouca influência, embora apareça em várias histórias como coadjuvante, nas histórias em quadrinhos ela se tornara uma guerreira, equiparada as valquírias. __________________________ 13 No caso de Loki e Surt os chifres representam uma alusão ao diabo no Cristianismo, aqui fazendo-os assumirem uma conotação negativa e malévola. 14 No mito, conta que Loki conseguiu que os anões fizessem fios de ouro, os quais foram implantados no couro cabeludo da deusa, assim retomando seus áureos cabelos de antes. Nota-se que nos quadrinhos tal história foi mudada.

Sif em algumas histórias viaja com Thor para lutar contra gigantes e outros inimigos. No quesito amoroso, se nos mitos ela era a sua esposa, nesta reinterpretação ela se tornara sua namorada ou interesse romântico, pois enquanto Thor vivia sob a identidade do médico Donald Blake, ele se apaixonou pela enfermeira Jane Foster (a qual apareceu à primeira vez em Journey into Mystery #84). Logo nas primeiras histórias que abarcam as décadas de 60 e 70, Thor vivia um triângulo amoroso, dividido 19   

 

em se amar a humana Jane Foster ou a asgardiana Sif. Dos anos 80 para cá, ele passou a se aproximar mais de Sif, embora nunca chegou a se casar ou a ter filhos.

IMAGEM IX

Autor: Ryan Stegman. Descrição: Lady Sif.

IMAGEM X

Autor: Marko Djurdjevic. Descrição: Jane Foster e Donald Blake.

Se nessa nova roupagem, Thor é um deus solteiro e vivencia dúvidas no amor, no quesito família ele conta principalmente com a presença de seu pai Odin, pois mesmo nos mitos, sua mãe mal aparece15. Logo, a deusa Frigga, esposa de Odin é quem personifica esse lado materno, como madrasta do herói. O deus Heimdall, o guardião de Asgard, é dito ser o irmão mais velho de Sif nestas histórias. No caso do deus Balder, filho de Odin, irmão de Thor, se nos mitos ele era um deus aparentemente tranquilo, aqui ele é retratado como um guerreiro sedento por aventuras, o qual viajava ao lado de seu irmão e de Sif.

______________________________ 15 No Universo Marvel, a mãe de Thor se chama Gaea, a qual consiste numa mistura da deusa grega da terra, Gaia, com a deusa nórdica da terra, Jörd. Sua primeira aparição não se deu em revistas de Thor, mas na revista Doutor Estranho, v. 1, n. 6, 1975. Nessa revista ela confronta o poderoso mago o Dr. Stephen Strange. De fato, em algumas histórias Gaea é retratada como vilã.

Ele é chamado de Balder, o Bravo, e assim como no mito ele possui invulnerabilidade. Na versão dos quadrinhos ele também possui esse dom, mas apenas enquanto se encontra em Asgard, além disso, existe uma profecia que diz que Balder irá desencadear o Ragnarök. Por fim, outra deusa que merece ser mencionad, é a deusa dos mortos, Hel ou Hela. Na mitologia ela era filha de Loki e da giganta Angrboda, nas hqs mantêm-se essa 20   

 

origem, embora pouco comentada acerca de sua mãe, a qual é apenas mencionada. Hel apareceu à primeira vez na revista Journey into Mystery #102 (1964), e assim como seu pai, usa uma extravagante roupa verde e uma máscara preta com longos chifres. Mas, o grande detalhe é que se nos mitos era dito que Hel era uma mulher feia, pois metade de sua aparência era em forma cadavérica, nestas histórias, ela possuí uma aparência normal e bela, e em alguns desenhos ela é desenhada de forma sensual. IMAGEM XI

Autor da capa: Jack Kirby. Título: The Mighty Thor, vol. 1, #150 (1968).

Segundo Santos [2010] nos anos 60 as personagens femininas começaram a ganhar personalidades mais complexas, saindo da representação de namoradas em perigos e de mulheres passivas, mas embora adquiriram um lado guerreiro e um caráter forte, a sensualidade e o fetichismo ainda perdurava naquela época e até mesmo nos dias de hoje. Acerca do lado paisagista dos Nove Reinos, falarei de Asgard, Helheim e Jotunheim. O lar dos Aesir, ou melhor, falando no contexto aqui abordado, dos Asgardianos é retratado como uma terra de edifícios futuristas. O palácio de Valhala é uma construção imponente (de fato Snorri nos contara que ele teria 540 portas), mas dependendo dos desenhistas ele assume um lado mais medieval ou futurista, mas em geral toda a Asgard dos quadrinhos não lembra em nada as construções escandinavas medievais. A própria função de Valhala como local de pós-morte para os nobres guerreiros e heróis, nestas histórias ou não existe ou é pouco comentado. Ou seja, a ideia de Valhala como “Céu” ou “Paraíso” que os nórdicos possuíam, aqui é mudada 21   

 

para a ideia de que Asgard é um planeta e os “Nove Reinos” da cosmogonia escandinava, literalmente são nove planetas.

IMAGEM XII

Autor: Jack Kirby (1917-1994). Descrição: Thor na Bifröst, a ponte arco-íris, olhando para o planeta de Asgard. Journey into Mystery # 125, 1966.

No caso de Helheim, sua representação é equiparável à ideia do Inferno cristão, embora que na mitologia fosse dito que Helheim estivesse dentro do mundo nebuloso e frio de Nilfheim ou estivesse próximo a ele, além disso, nos mitos não se fala de fogo em Helheim, mas pelo contrário, fala-se de névoa, gelo e frio. Acerca de ser o lugar de parte dos mortos como nos mitos e nas crenças, aqui há uma dúvida: em retratações do reino de Hel, podem-se ver almas vagando por aqueles caminhos infernais, porém, não se tem uma explicação clara de onde vêm aquelas almas. Sabe-se que Hel planejou com o vilão Malekith, o Maldito, o qual é o líder dos Elfos Negros (svartálfar) em se tentar apossar-se de Midgard (Terra) a fim de promover que as almas humanas fossem parar em Helheim. Hel é tão ambiciosa e maléfica quanto o seu pai, em alguns momentos ela o desobedece e age por conta própria a fim de matar Thor e Odin. Aqui nota-se que assim como Valhala perdeu seu aspecto religioso, Helheim também, mas embora a ideia dos quadrinhos não seja abordar as crenças escandinavas, mas retratá-las. Essa nova retratação mudou vários aspectos16. No caso de Jotunheim, nos quadrinhos esse lugar é uma mistura da Jotunheim mitológica com a terra de Nilfheim, pois a Jotunheim dos quadrinhos é congelada e os gigantes são gigantes de gelo. Nilfheim praticamente não é mencionada nos quadrinhos embora ela exista e seja parecida com Jotunheim.

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Mas, retomando a figura de Loki, se ele nos mitos já era uma figura emblemática, pois não é um deus devido a sua origem giganta, mas ele convive entre os Aesir, e em dados momentos lhes causa sérios problemas, mas em outros ele encontra solução para os deuses17. Loki também costuma viajar ao lado de Thor, e não aparentava ser seu inimigo, embora seu filho a Serpente do Mundo, Jormungand irá matar Thor no Ragnarök18. Mas, na literatura em quadrinhos Loki é tido como irmão adotivo de Thor, pois Odin o pegou para criação, numa viagem a Jotunheim. Loki cresceu ao lado de Thor, mas acabou se tornando ciumento e invejoso, devido à predileção dada por Odin ao louro deus. Já adulto Loki passou a tramar contra seu irmão adotivo e contra seu padrasto, ambicionando matar ambos e se tornar rei de Asgard. O papel de antagonismo de Loki é tão preponderante que ele não é apenas o principal inimigo do deus do trovão, mas foi o motivo para o surgimento dos Vingadores19 (The Avengers). Houve um dia como nenhum outro, quando os maiores heróis da Terra se viram unidos contra uma ameaça em comum... Um punhado dos mais notáveis aventureiros sobre-humanos do planeta reuniu-se por acaso quando o patife asgardiano Loki tentou colocar seu heroico irmão adotivo, Thor, em rota de colisão com o Hulk. Rick Jones, parceiro do Gigante Verde, emitiu então um pedido de socorro, respondido pelo Homem de Ferro e Vespa. Ao lado de Thor, os três heróis rastrearam o Hulk e desvendaram o plano de Loki. Naquele dia, nasceram os Vingadores – para combater inimigos que nenhum herói poderia enfrentar sozinho. (BEAZLEY; YOUNGQUIST; BRADY, 2005, p. 7). ________________________________ 16 Com o sucesso das histórias de Thor, em 1965 Stan Lee e Jack Kirby decidiram readaptar a mitologia grega, introduzindo ao Universo Marvel o herói semideus Héracles (Hércules). Héracles apareceu na revista Journey into Mystery Anual # 1, onde inicialmente foi retratado como inimigo de Thor. Hoje nos quadrinhos eles são amigos, mas mantem certa rivalidade. Um aspecto a mencionar é que nos quadrinhos Héracles é um deus e não semideus, além disso, vários aspectos da mitologia grega foram reformulados. 17 No livro Los mitos germânicos, Enrique Bernardez comenta a ideia proposta por Jan de Vries nos anos 30, onde ele defendia que Loki seria na realidade um trickster, uma deidade sagaz, traiçoeira e que podia assumir várias formas. 18 No Ragnarök como descrito na Edda em prosa e no Völuspá, Loki irá se libertar de sua prisão e liderará os gigantes na luta contra os deuses. Seu filho o lobo gigante Fenrir irá matar Odin, Jormungand irá matar Thor (embora o deus consiga matar a serpente, mas morra devido ao veneno). 19 Os Vingadores foram criados em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby. O grupo original foi formado pelo Homem de Ferro (Tony Stark), Vespa (Janet Von Dyne), Thor, Hulk (Bruce Banner) e o HomemFormiga (Hank Pym). Após a formação, o Capitão América (Steve Rogers) foi o primeiro membro recrutado. No filme de 2012 a história foi modificada e a formação do grupo também.

O papel de Loki é tão marcante no Universo Marvel, que hora ou outra ele causa problemas aos Vingadores, algo que ficou em evidência no filme de 2012. Além de causar problemas para os Vingadores, Loki também já causou problemas aos X-Men, ao Homem-Aranha, os Defensores (Defenders), etc. Assim, como nos mitos, Loki é astucioso, mentiroso, trapaceiro, ardiloso e maléfico. Contudo, já que o filme foi 23   

 

mencionado este será o prenúncio para o desfecho desse artigo, pois tratarei da visão extraterrestre de Thor. IMAGEM XIII

Autor da capa: Jack Kirby. Título: The Avengers #1, 1963. Descrição: Para confrontar Loki, os mais poderosos super-heróis da Terra se unem e formam Os Vingadores (The Avengers).

O filme Thor (2011) o qual trouxe pela primeira vez o icônico personagem da Marvel aos cinemas20 mescla vários aspectos dos quadrinhos para formar o enredo do filme. No entanto, nesse filme, alguns aspectos ficaram bem visíveis acerca da procedência do deus. Primeiramente, Thor chega a Terra banido de Asgard, tendo perdido seu martelo e poderes, algo já mencionado anteriormente aqui, mas com a diferença que ele não perdera a memória.

___________________________________ 20 Embora o filme Thor marque a primeira aparição do personagem no cinema, em 1988 no filme O Retorno do Incrível Hulk (The Incrideble Hulk Returns), Thor e Donald Blake fizeram participações especiais nesse filme para a televisão. Curiosamente neste filme, Thor e Donald Blake não eram a mesma pessoa, e foram interpretados por atores diferentes.

Entretanto, alguns dos personagens como o agente da S.H.I.E.L.D21, Phil Coulson (Clark Gregg) trata Thor (Chris Hemsworth) como sendo um extraterrestre, pois a própria retratação de Asgard da a entender que se trata de um planeta, e quando Thor explica para Jane Foster (Natalie Portman) sobre os Nove Reinos, estes de fato eram nove planetas ligados pela árvore cósmica Yggdrasil, onde tal árvore da mitologia 24   

 

aqui se torna uma metáfora para caminhos dimensionais que interligam estes planetas. O personagem do Dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgad) considera incialmente o homem que se diz ser Thor, ou sendo um louco, um mentiroso ou um alienígena. No filme Os Vingadores (2012) essa ideia de que os Asgardianos são uma raça alienígena e Thor e Loki não são deuses (aqui me refiro ao contexto da história do filme, pois eles poderiam ser tratados de tal forma na trama) voltou a ficar evidente. Em uma fala entre Loki (Tom Hiddleston) e Thor (Chris Hemsworth), Loki diz que os humanos achavam que eles eram deuses e que seriam imortais. Ele faz sarcasmo disso, embora não negue o fato de gostar de ser idolatrado. Outro momento do tipo ocorre anterior a esse acontecimento, quando Loki foi capturado na Alemanha pelo Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Capitão América (Chris Evans). Durante a viagem de volta a Nova Iorque, onde os três seguem numa aeronave da S.H.I.E.L.D pilotada pela Viúva-Negra (Scarlet Johansson) e um copiloto, trovões e raios são ouvidos, e Thor aparece sobre a aeronave, e a invade e leva Loki. O Homem de Ferro vai atrás deles, e enquanto o Capitão América vestia o paraquedas ele indagara a Viúva-Negra sobre quem eram aqueles dois vestidos com roupas estranhas. Ela diz que eles eram os “deuses das lendas”, o Capitão fica incrédulo e responde falando que só “existe um deus” e ele não “se veste de forma estranha”, então solta do veículo para encontrar os demais numa floresta. No filme Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World) continuação do primeiro, e lançado em 2013, novamente essa negação de serem deuses é retomada. Loki enquanto é questionado por Odin por seus atos em Nova Iorque, história essa contada no filme Os Vingadores, Loki sarcasticamente disse que pretendia se tornar o senhor da Terra, se tornar um deus benevolente. Odin (Anthony Hopkins) o interrompe, dizendo “Nós não somos deuses”. ________________________ 21 A agência especial da S.H.I.E.L.D foi inventada por Stan Lee e Jack Kirby em 1965. Na época foi dito que a ONU foi a responsável por criar a S.H.I.E.L.D, e a mesma recebia patrocínio e apoio da OTAN. Afinal, eram tempos de Guerra Fria (1945-1991). A sigla significava: Supreme Headquarters of International Espionage and Law-Enforcement Division. Em 1991 o sentido foi modificado para Strategic Homeland Intervention Enforcement Logistics Division.

A ideia de que Thor e os demais personagens não seriam “deuses” já era salientada há algum tempo nas revistas, e até mesmo nos desenhos mais recentes, ele já não é comumente chamado de o deus do trovão, o quando é feita essa referência, essa é feita num sentido de epíteto, de um título e não de uma condição. Embora haja alguns desenhos que ainda façam menção a essa identidade divina. 25   

 

Considerações finais: A adaptação dos mitos sobre Thor e da própria mitologia escandinava ganharam uma nova roupagem para as sociedade e culturas contemporâneas do século XX e no começo do XXI de forma que se encaixam nos valores e noções atuais: a ideia de superherói, a noção de heroísmo, a percepção sobre a mitologia, onde transparece como algo vago e mentiroso, pois se você disser que o super-herói Thor foi baseado num deus que realmente era cultuado na Idade Média, muitos não irão acreditar22, pois a representação que a mídia nos vem fornecendo desde os anos 60 se tornou tão impregnada na nossa cultura, que limita nossa percepção de enxergar novos horizontes. Sendo assim, a figura do deus Thor ainda se mantém viva na cultura atual, não da mesma forma como foi na Idade Média, na época que era cultuado e visto como um deus de fato, mas na sua representação como um super-herói de histórias em quadrinhos, como um símbolo de heroísmo da nossa cultura midiática tanto literária, como cinematográfica e virtual.

___________________ 22 A própria história da Mulher-Maravilha (Wonder Woman) tem como base a mitologia grega, pois Diana (o nome verdadeiro da heroína), ela é uma princesa amazona. E as amazonas aqui são baseadas nas amazonas mitológicas. Muitas pessoas não sabem dessa condição mitológica por trás dessa icônica personagem.

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BIBLIOGRAFIA:

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