TOMASI, C. Acontecimento em “Tubarões Voadores”

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Maria de F´atima Almeida Baia Livia Oushiro Ivanete Bel´em do Nascimento (organizadoras)

Anais do XII e XIII Encontros dos Alunos de P´os-Gradua¸c˜ao em Lingu´ıstica da USP

Anais dos XII e XIII Encontros dos Alunos de P´ os-Gradua¸c˜ ao em Lingu´ıstica da USP. S˜ ao Paulo: Paulistana, 2012, p. 110–123.

Acontecimento em “Tubar˜ oes Voadores” Carolina Tomasi∗

Resumo Com base na Semi´ otica Tensiva, este artigo focaliza uma hist´ oria em quadrinhos (“Tubar˜ oes Voadores”, de Luiz Gˆ e), que foi musicada por Arrigo Barnab´ e. Nosso objetivo ´ e examinar como se d´ a o acontecimento nessa narrativa. A an´ alise apoia-se na verifica¸c˜ ao dos enunciados verbal, visual e musical, abordando inicialmente a narrativa, marcada pela velocidade do “relˆ ampago passageiro”, raz˜ ao pela qual percorremos os sentidos de tubar˜ ao, voador e voar a fim de estabelecer o andamento desse objeto semi´ otico. Justificam-se, ent˜ ao, as preocupa¸c˜ oes com o inesperado e com a tonicidade - elementos que se interseccionam com a m´ usica de Arrigo Barnab´ e. Ao final da an´ alise, verificamos que, em “Tubar˜ oes Voadores”, h´ a uma dissens˜ ao de linguagens, em que a sobreposi¸c˜ ao dos textos dos bal˜ oes ` a m´ usica de Arrigo revela uma disputa entre os elementos verbais e musicais. Finalmente, examinamos as rela¸c˜ oes entre etica e est´ etica; enquanto as falas seriam ordenadas pelo dever, pela ´ etica, funcionando como elemento ´ de preserva¸c˜ ao do sujeito na rotina do cotidiano, a m´ usica e o plano visual seriam ambos da ordem do acontecimento e, portanto, da ordem do est´ etico. Brota do jogo de dever e querer a figura do destinador na fala dos bal˜ oes, que salienta n˜ ao haver espa¸co para o inesperado, o art´ıstico (invas˜ ao de tubar˜ oes) se predominam de forma absoluta valores do mundo utilit´ ario, pragm´ atico. ´ tica; M´ Palavras-chave: Semi´ otica Tensiva; Est´ etica; E usica; Hist´ oria em Quadrinhos.

Introdu¸ c˜ ao “Tubar˜oes voadores”,1 segunda hist´oria em quadrinhos do livro Territ´orio de bravos (1993), de Luiz Gˆe, foi elaborada pelo artista pl´astico em 1983. Em 1984, Arrigo Barnab´e lan¸ca o disco Tubar˜oes voadores, em que a hist´oria de Luiz Gˆe aparece musicada como faixa 1 do vinil. O texto da hist´oria em quadrinhos (HQ), que contava apenas com as linguagens verbal e visual, ∗

Departamento de Lingu´ıstica da Universidade de S˜ ao Paulo (DL-USP). Este trabalho faz parte da pesquisa de mestrado “A missividade: por uma gram´ atica tensiva da Semi´ otica de HQs”, financiada pelo CNPq. E-mail: [email protected]. 1 Esta HQ sob an´ alise encontra-se na ´ıntegra no livro Territ´ orio de bravos, de Luiz Gˆ e; ou dispon´ıvel em http://youtu.be/qTLlnY4WSSY.

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passou a contar com a contribui¸c˜ao do m´ usico. Na Apresenta¸c˜ao do livro Territ´orio de bravos, Luiz Gˆe (1993:10), ator da enuncia¸c˜ao,2 afirma: Nesta hist´oria, uma das inten¸c˜oes era desenhar a cidade de uma certa altura, n˜ ao a do “voo de p´ assaro”, na qual a observamos inteira, ligeiramente de cima, nem de muito alto, vis˜ao que acaba por achatar tudo num “mapa”. Mas como no voo de um tubar˜ao, numa altura em que ainda estamos dentro dela, se esgueirando por entre os pr´edios, altura em que uma cidade como S˜ ao Paulo deve ser realmente vista. A vis˜ ao que temos normalmente do ch˜ ao ´e muito, digamos, pedestre, rasteira, sem grandeza, cotidiana demais; acaba por ser banal. Morase em um lugar que tem um espa¸co u ´nico sem que nos apercebemos ´ como se disso. J´ a a verticalidade provoca essa atra¸c˜ ao do abismo. E houvesse um vazio, um v´ acuo, que necessitasse ocupa¸c˜ ao. Por isso o voo, que proporciona o car´ ater dinˆ amico da narrativa, atrav´es do ritmo de enquadramentos (destaque nosso).

A partir dos elementos do enunciado acima citado, dois pontos podem ser destacados em “Tubar˜oes voadores”: (i) no n´ıvel discursivo, temos a presen¸ca de dois espa¸cos: o rasteiro, cotidiano dos moradores da cidade de S˜ao Paulo, e o mediano (“voo dos tubar˜oes”, que n˜ao ´e alto como o dos p´assaros), ambos proporcionando uma vis˜ao do espa¸co dos habitantes da metr´opole - tubar˜oes e pessoas, portanto, passam a conviver no mesmo ater dinˆ amico, utilizado pelo ator da espa¸co; (ii) por meio do termo car´ enuncia¸c˜ao na manifesta¸c˜ao, podemos depreender a cifra tensiva que move a escolha do sujeito enunciador: a rapidez, a dinamicidade. O primeiro ponto a ser investigado, portanto, nesta an´alise ser´a a escolha dos valores tensivos feita pelo enunciador.

Voo do Tubar˜ ao: uma narrativa marcada pela velocidade do relˆ ampago passageiro Em “Tubar˜oes voadores”, no n´ıvel discursivo, assistimos a uma invas˜ao da cidade de S˜ao Paulo por tubar˜oes voadores. Sabemos que se trata da cidade de S˜ao Paulo por revela¸c˜ao do ator da enuncia¸c˜ao. Nessa HQ, v´arios atores, 2

Segundo Greimas & Court´ es (1983:35), “do ponto de vista da produ¸c˜ ao do discurso, pode-se distinguir o sujeito da enuncia¸c˜ ao, que ´ e um actante impl´ıcito logicamente pressuposto pelo enunciado, do ator da enuncia¸c˜ ao: neste u a, digamos, ‘Baudelaire’, enquanto se define pela totalidade ´ltimo caso, o ator ser´ de seus discursos”.

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bem como figuras, desfilam aos nossos olhos, mostrando-nos uma hierarquia de valores que ser˜ao analisados no decorrer deste trabalho. Trˆes figuras nos chamam a aten¸c˜ao na HQ de Luiz Gˆe: a metr´opole, os habitantes da cidade e os tubar˜oes. Tomemos, inicialmente, a figura do tubar˜ao (escolhida em primeiro lugar por j´a constar do t´ıtulo) e vejamos a defini¸c˜ao do dicion´ario: 1. Designa¸c˜ao comum aos peixes condrictes, elasmobrˆanquios e eussel´aquios, de pequeno e m´edio porte, corpo fusiforme e fendas branquiais laterais; ca¸c˜ ao [s˜ ao predadores, e grande parte das esp´ecies n˜ ao oferecem perigo ao homem; embora de discutida qualidade, sua carne ´e muito consumida]. 2. Empres´ario c´ upido, sem escr´ upulos, que s´o visa aos pr´oprios lucros. 3. Pequeno monte ou serra. 4. Pessoa que tem v´arios empregos rendosos (Houaiss 2001).

Para efeito deste trabalho, a acep¸c˜ao 1 (peixe predador) e a acep¸c˜ao 2 (empres´ario sem escr´ upulos, que s´o visa aos pr´oprios lucros) poderiam nos conduzir a um outro ponto de vista anal´ıtico, visto que poder´ıamos, por meio do conector de isotopias3 (o termo tubar˜ ao), apontar uma pluri-isotopia,4 que nos permitiria tamb´em a passagem para o tema da explora¸ca˜o humana em uma metr´opole. O adjetivo voador pode configurar a isotopia da fantasia (voo do tubar˜ao), do “tirar os p´es do ch˜ao”, da banalidade do cotidiano, que encaminharia os habitantes daquele espa¸co para fora do cotidiano, para um momento de estesia. O leitor pode verificar em “Tubar˜oes Voadores” a presen¸ca de um destinador em v´arios enunciados: (1) “Pois no cora¸c˜ao do prudente descansa a sabedoria” (frase proverbial b´ıblica, Prov. cap. 14, vers´ıculo 33); (2) “pˆanico n˜ao resolve”; (3) “esta ´e a harmonia da vida”. Parece-nos que esse destinador recusa a ultrapassagem do cotidiano, isto ´e, refuta o voo momentˆaneo, a apreens˜ao est´etica, visto que a prudˆ encia (da ordem da implica¸c˜ ao) evitaria a jun¸c˜ao de tubar˜ao e homem (ver Fig.1). O contr´ario da prudˆ encia seria da ordem da concess˜ ao, que ´e o lugar privilegiado do voo para uma escapada do cotidiano. Para Zilberberg 3

Conector de isotopia ´ e a “unidade do n´ıvel discursivo que introduz uma ou v´ arias leituras diferentes: o que corresponde, por exemplo, ` a ‘codifica¸c˜ ao ret´ orica’ que C. L´ evi-Strauss aponta em mitos que jogam ao mesmo tempo com o ‘sentido pr´ oprio’ e com o ‘sentido figurado’ ” (Greimas & Court´ es 1983:72). 4 Na pluri-isotopia, ´ e “o car´ ater polissˆ emico da unidade discursiva com papel de conector que torna poss´ıvel a superposi¸c˜ ao de isotopias diferentes” (Greimas & Court´ es 1983:72). “Entende-se por pluriisotopia a superposi¸ca es 1983:336). ˜o, num mesmo discurso, de isotopias diferentes” (Greimas & Court´

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Figura 1 Homem dentro do tubar˜ ao: conjun¸c˜ ao (apaga-se a diferen¸ca entre sujeito e objeto).

(2006:197), “passamos subitamente da ordem enfadonha da regra para a ordem tonificante do acontecimento”. Embora tubar˜oes n˜ao voem, o enunciador os faz voarem. Vejamos agora as acep¸c˜oes de voador, presente no t´ıtulo “Tubar˜oes voadores”: 1. Que voa ou pode voar; voante, volante. 2. Que se coloca ou corre com enorme rapidez; r´ apido, veloz. 3. Aquele que voa. 4. Acrobata que salta de um trap´ezio para outro mais ou menos distante (Houaiss 2001).

Dessas acep¸c˜oes, fiquemos com a 1 e 2. A acep¸c˜ao 1 nos leva ao verbete voar : 1. Sustentar-se ou mover-se no ar por meio de asas ou algum meio mecˆanico. 2. Deslocar-se velozmente pelo ar. 3. Elevar-se ou flutuar no ar; ascender, pairar. [...] 7. Correr ou deslizar com grande velocidade. 8. Ser impelido ou atra´ıdo com for¸ca. 9. Passar, decorrer rapidamente. 10. Ir para algum lugar com grande rapidez; correr. [...] 13. Desligar-se da realidade; elevar-se, vagar.

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Dessas acep¸c˜oes, fiquemos com a u ´ltima, bem como com as 2, 3, 7, 9 e 10, visto que o pr´oprio ator da enuncia¸c˜ao, como vimos na introdu¸c˜ao deste trabalho, informa-nos que o voo dos tubar˜oes figurativiza a possibilidade de sair do ch˜ao para uma altura m´edia, que nos permite ausentar-nos do cotidiano (ver acep¸c˜ao 13). A velocidade (ver acep¸c˜ao 2 das palavras voador e voar ) do voo dos tubar˜oes, a mesma da apreens˜ao est´etica, ´e como um “relˆampago passageiro” que se introduz no discurso da cotidianidade dos homens (cf. Greimas 2002:26). O enunciador vale-se aqui de um modelo espacial em que a altura m´edia, o sair do ch˜ao, do espa¸co inferior, carrega a marca euf´orica, enquanto manter-se no plano inferior, no r´es da cal¸cada da cidade, carrega a marca disf´orica. Ainda n˜ao tratamos das duas outras figuras da HQ: a cidade e seus habitantes. A primeira remete-nos ao cotidiano, `as a¸c˜oes comezinhas, banais, ao viver sem destaque, sem ˆenfase, que se op˜oe a` estesia. E os habitantes s˜ao os sujeitos desse fazer banal, mergulhados que est˜ao na continua¸c˜ ao da continua¸c˜ao, um relaxamento est´eril. Para Tatit (2001:178), toda situa¸c˜ao retratada num texto ´e passageira e portanto sua significa¸c˜ ao depende das orienta¸c˜ oes sugeridas pelo processo de denega¸c˜ ao que, afinal, apresenta os valores exclu´ıdos ou desvalorizados como horizontes para a evolu¸c˜ao tensiva e narrativa da trama.

No caso de nossa an´alise, no relaxamento do cotidiano, convocam-se os valores antes desprestigiados, isto ´e, os valores da continua¸c˜ao da continua¸c˜ao d˜ao lugar aos valores da parada da continua¸c˜ ao. O marasmo do cotidiano cede lugar a uma conten¸c˜ao quando do acontecimento da invas˜ao dos tubar˜oes voadores. A cifra tensiva do l´exico voar instaura um andamento r´apido no n´ıvel profundo. A interrup¸c˜ao inesperada, porque veloz, “dessa periodicidade (parada da continua¸c˜ao) figurativiza a parada do tempo cotidiano e, simultaneamente, a cristaliza¸c˜ao do espa¸co” (Tatit 1999:199). Por exemplo, na Figura 1, a parada da continua¸c˜ao na narrativa que orienta a leitura para a dimens˜ao do ser, cristalizando o espa¸co. A primeira apari¸c˜ao do tubar˜ao voador marca pontualmente a fratura tanto no quadrinho de Luiz Gˆe, como na vida humana nele representada. A apreens˜ao est´etica compreende um “breve lapso de tempo”; da´ı a cifra tensiva da acelera¸c˜ao,5 que inesperada e 5

Zilberberg (2006:198) afirma que o andamento do acontecimento ´ e mais r´ apido do que o homem pode experimentar.

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velozmente cristaliza um instante, um momento de distens˜ao que perdura entre sucessivos programas narrativos meticulosos e banais6 que “traduzem a tens˜ao da rotina di´aria” (Tatit 1999:200). O ataque dos tubar˜oes distende as a¸c˜oes quotidianas. O efeito est´etico produzido pela surpresa do ataque dos tubar˜oes vislumbra a possibilidade da plenitude da jun¸c˜ ao de sujeito e objeto. O 7 estranhamento do voo dos tubar˜oes (tubar˜oes n˜ao voam) configura apenas uma cria¸c˜ao discursiva que produz o efeito de sentido de pavor (exclu´ımos aqui a possibilidade de terror). O Dicion´ario Houaiss (2001) define pavor como: 1. Grande susto ou temor. 2. Como¸ c˜ ao, agita¸ c˜ ao, turba¸ c˜ ao; susto, espanto, medo, horror, terror. 3. Repuls˜ao.

A entrada dos tubar˜oes voadores no campo visual do sujeito (atores da cidade) provoca avan¸co ou recuo diante do objeto. Todavia, h´a uma ativa¸c˜ao do objeto tubar˜ao que, subjetivado, “manifesta um querer rec´ıproco de conjun¸c˜ao entre os dois actantes, como se um tendesse ao outro, encontrandose a meio caminho” (Tatit 1999:201). A ativa¸c˜ao do objeto, tubar˜oes voando no espa¸co dos homens, e a passiva¸c˜ao do sujeito (atores humanos) produzem um efeito de sentido de “emo¸c˜ao est´etica”.8 A acep¸c˜ ao 2 da paix˜ao pavor mostra-nos, pelas defini¸c˜oes “como¸c˜ao, agita¸c˜ao, turba¸c˜ao...”, as caracter´ısticas de tal emo¸c˜ao est´etica. Fiorin (1999:101–117) ressalta v´arias caracter´ısticas da experiˆencia est´etica do acontecimento que v˜ao ao encontro da an´alise deste trabalho. Na Tabela 1, a primeira coluna contempla as considera¸c˜oes te´oricas extra´ıdas do artigo “Objeto art´ıstico e experiˆencia est´etica” do autor mencionado anteriormente, enquanto a segunda coluna contempla o nosso objeto de an´alise, com base em Greimas (2002). 6

Pessoas dentro de casa, movimento dos autom´ oveis pela cidade. Todo discurso ´ e criador de mundos, uma vez que a realidade ´ e discursiva. Semioticamente, n˜ ao h´ a raz˜ ao para distinguir mundo ficcional e mundo da realidade, pois ambos s˜ ao efeitos de sentido discursivos. Um discurso, como o jornal´ıstico, por exemplo, cria efeito de realidade e de verdade. Ora, todas as verdades s˜ ao recortes do mundo produzidos pela linguagem. N˜ ao h´ a raz˜ ao para falar em mundo da realidade e mundo da fantasia. Tubar˜ oes voarem n˜ ao ´ e uma propriedade que op˜ oe dois mundos, o ficcional e o da realidade, mas um discurso que provoca “efeito” de fantasia, enquanto tubar˜ oes “nadarem” provoca o efeito de simula¸c˜ ao do mundo natural. 8 Cf. Zilberberg (2006:144–145).

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Tabela 1 Caracter´ısticas do objeto est´etico em an´ alise Excertos retirados do artigo de Fio- An´ alise de “Tubar˜ oes voadores” rin (1999:101–117). com base no estudo do artigo citado e no texto de Greimas (2002), Da imperfei¸ c˜ ao. A experiˆencia est´etica ´e um evento extra- Tubar˜oes voadores englobados pela cotidiordin´ario englobado pela cotidianidade. anidade. A experiˆencia est´etica ´e uma surrealidade Tubar˜ oes voando em S˜ ao Paulo ´e uma englobada pela realidade. surrealidade englobada pela realidade. Nessa experiˆencia est´etica, o tempo cessa No quadrinho 3, o tempo cessa (para), (para), o espa¸co fixa-se e ocorre um sin- o espa¸co fixa-se e ocorre um sincretismo ao e homem engolido (Figura cretismo entre sujeito e objeto, que est˜ ao entre tubar˜ disjuntos na temporalidade de todos os 1). No plano do conte´ udo, h´a uma zona de dias. intersec¸c˜ ao em que ´e dif´ıcil precisar onde come¸ca o corpo do homem e onde come¸ca o do tubar˜ ao: corpo de homem e corpo de tubar˜ ao confundem-se. Normalmente, tubar˜oes ficam no mar, homens na cidade; s˜ao, portanto, disjuntos na temporalidade do cotidiano. Natureza do objeto est´etico. O objeto que se deu a perceber e que ganhou subjetividade na HQ ´e de natureza natural (animal do mar) e n˜ ao cultural. O sujeito (atores-homens) afasta-se da re- O sujeito deixa a realidade da existˆencia alidade enfraquecida e ´e absorvido pelo para viver durante o tempo dessa experimundo da ilus˜ao. H´a uma fus˜ao do sujeito ˆencia est´etica uma surrealidade, uma secom o objeto, como vimos. gunda vida (Cf. Fiorin 1999:101-117). Os atores-homens da cidade passam a con- Na fratura da cotidianidade, o sujeito, iniviver com atores de outro lugar, de outro cialmente ator pertencente ao dia a dia tempo. Alteram-se a actorialidade, a espa- da metr´opole, libera-se desse cotidiano, vicialidade e a temporalidade do cotidiano. vendo um acontecimento extraordin´ario: a chegada dos tubar˜ oes voadores ` a cidade. Recep¸c˜ao do enunciat´ario. O enunciat´ ario, ao ler “Tubar˜ oes voadores”, tamb´em se depara com uma leitura que configura um acontecimento extraordin´ ario, fraturando a mesmice do cotidiano e instaurando outra realidade, que passa a ser vivida no momento da leitura dos quadrinhos (Cf. Fiorin 1999:107). Objeto est´etico modificador. Para Fiorin (1999:109), “´e preciso modificar a ordem do mundo para torn´a-la mais expressiva”.

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Trataremos a seguir do andamento do acontecimento em “Tubar˜oes voadores”.

Invas˜ ao do espa¸ co: o andamento da HQ “Tubar˜ oes voadores” Zilberberg (2006:198) define, de acordo com Le Robert Micro, a palavra acontecimento: “aquilo que acontece e tem importˆancia para o homem”. Para o Dicion´ario Houaiss (2001), acontecimento ´e 1. O que acontece; fato, ocorrˆencia. 2. O que acontece ou se realiza de modo inesperado; acaso, eventualidade. 3. Pessoa ou fato digno de nota, que produz viva sensa¸c˜ ao [...].

Pelas defini¸c˜oes, temos uma primeira pista para encontrar o andamento de “Tubar˜oes voadores”: a invas˜ao do espa¸co da cidade de S˜ao Paulo por tubar˜oes voadores ´e a primeira indica¸ca˜o “da ordem do sobrevir, da subtaneidade, ou seja, do andamento mais r´apido que o homem possa ´ de notar que n˜ao apenas esse experimentar” (Zilberberg 2006:198). E acontecimento se d´a de forma r´apida, como tamb´em os pr´oprios tubar˜oes voadores j´a possuem essa caracter´ıstica de rapidez. O adjetivo voador, como vimos na se¸c˜ao 3, conta, em uma de suas acep¸c˜oes, com as defini¸c˜oes de rapidez, r´apido, veloz. As escolhas do sujeito da enuncia¸c˜ao recaem sobre um objeto veloz que se subjetiva, invade a cidade, com andamento acelerado, provocando no enunciat´ario o mesmo impacto que causou nos sujeitos, atores da cidade. A segunda pista est´a no fato de que todo acontecimento ´e carregado de importˆancia para o sujeito; da´ı ser tˆ onico. Zilberberg (2006:198) ressalta que “o sujeito, instalado na ordem racional, programada e compartilhada do conseguir [parvenir ], senhor de suas esperas sucessivas, vˆe-se desviado de seus caminhos habituais e projetado em sua devasta¸c˜ao”. Tomando “Tubar˜oes voadores”, verificamos que, antes da invas˜ao (acontecimento), os sujeitos permaneciam mergulhados na ordem do racional. Eles tinham controle de suas esperas. O acontecimento dos tubar˜oes quebra esse equil´ıbrio, o que s´o pode dar-se de forma r´ apida e tˆ onica.

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Por um lado, o andamento e a tonicidade atuam em conjunto sobre o sujeito, mobilizando-o; por outro lado, o surgimento repentino de andamento e tonicidade causa “desmantelamento modal instantˆaneo” no sujeito, desarranjando-o. Zilberberg (2006:198) chama o acontecimento de semiose fulgurante, pois este u ´ltimo “arrebata para si todo o agir, n˜ao deixando ao sujeito nada al´em do suportar”. Passando para nosso objeto de an´alise, o evento tubar˜oes arrebata para si as a¸c˜oes, e os sujeitos da cidade, impactados pelo acontecimento, s˜ao passivados. A seguir, examinaremos a m´ usica de Arrigo Barnab´e que foi acrescida a` HQ de Luiz Gˆe.

A M´ usica de Arrigo Barnab´ e na HQ “Tubar˜ oes voadores” A m´ usica9 “Tubar˜oes voadores” de Arrigo Barnab´e foi composta, como j´a dissemos, em 1984, com base no texto verbo-visual (“Tubar˜oes voadores”) do artista pl´astico Luiz Gˆe. Trata-se de uma m´ usica dodecafˆonica, ou seja, que n˜ao tem uma tonalidade definida, e que se apropria dos doze semitons da escala, dispostos de maneira n˜ao hierarquizada. Segundo o Dicion´ario Houaiss (2001), dodecafonia ´e “um sistema musical baseado na divis˜ao da ´ diferente da oitava em doze meios-tons sem quaisquer rela¸c˜oes tonais”. E can¸ca˜o em que encontramos uma rela¸ca˜o da letra com a melodia, estudo desenvolvido por Tatit (1997, 1999) na ´area de semi´otica da can¸c˜ao. No caso de nosso objeto, n˜ao ´e poss´ıvel estabelecer rela¸c˜ ao de jun¸c˜ ao, mas rela¸c˜ ao de dissens˜ ao10 entre os textos dos bal˜oes do quadrinho com a m´ usica de Arrigo. Vejamos o porquˆe: a m´ usica dodecafoˆnica, n˜ao sendo considerada melodia, n˜ao ´e ritmada nem cantada, de forma que podemos verificar que o texto dos bal˜ oes est´ a sobreposto ` a m´ usica de Arrigo que vem no fundo; os bal˜oes dessa hist´oria em quadrinho simulam, portanto, a fala utilit´ aria do cotidiano daquele espa¸co. Todavia, ´e de notar que h´a trˆes frases que n˜ao pertencem `a fala utilit´aria, mas contˆem elementos musicais: 9

A m´ usica est´ a dispon´ıvel em: www.cliquemusic.uol.com.br/discos/ver/turar~oesvoadores. Acesso em 20 de outubro de 2009. 10 Embora ` as vezes haja tamb´ em o sentido de concorrˆ encia, optamos pela rela¸c˜ ao de disputa, dissens˜ ao, divergˆ encia.

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• As frases (1) “tubar˜oes voadores” e (2) “pˆanico n˜ao resolve nada” (Figura 1, no come¸co deste artigo; e Figura 2 a seguir) s˜ao faladas no ritmo da m´ usica e distorcidas por um modulador de voz ou, talvez, um sampler. Este u ´ltimo ´e um tipo de aparelho que imita sons, reproduzindo um som artificial, eletrˆonico. Por exemplo, pode-se imitar a voz humana, como no caso citado. • A terceira frase, a do quadrinho 20 (Figura 3), ´e mel´odica e ritmada: “afinal, esta ´e a harmonia da vida”.

Figura 2 No bal˜ ao: “Pˆ anico n˜ ao resolve nada”.

Figura 3 No bal˜ao: “Afinal, esta ´e a harmonia da vida”.

Outros aspectos constantes da descri¸c˜ao da m´ usica ´e que ela faz uso de figuras r´ıtmicas aceleradas, breves e subsequentes. Al´em disso, ´e de notar que o sujeito da enuncia¸c˜ao utiliza um recurso semelhante a um ostinato

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cl´ assico, ou seja, ´e composto de um motivo r´ıtmico repetitivo, ao qual s˜ao sobrepostas melodias dodecafˆonicas11 e contrapontos. No Dicion´ario Houaiss (2001), ostinato ´e figura mel´odica ou r´ıtmica repetida obstinadamente ao longo de toda uma composi¸c˜ ao que serve de base a formas cl´ assicas, como chacona, folia [...]; breve figura¸c˜ ao mel´ odica constantemente repetida durante uma composi¸c˜ao; ostinarsi, persistir em um prop´osito insistentemente.

Na m´ usica de Arrigo, temos um pseudo-ostinato, uma vez que a c´elula r´ıtmica constante ´e executada alternadamente por diferentes sons reproduzidos por teclado e instrumentos de percuss˜ao: tambores e pratos. Estes u usica. Tal ´ltimos refor¸cam a pulsa¸c˜ao acelerada em alguns trechos da m´ 12 pulsa¸c˜ao subjaz a` m´ usica, ou seja, ´e a sua base r´ıtmica e est´a estabelecida num andamento r´apido. Com a ajuda de um metrˆonomo, constatamos que o andamento da m´ usica ´e allegro, considerado acelerado, porque se encontra em torno de 128 pulsa¸c˜oes por minuto. Al´em disso, essa pulsa¸c˜ao est´a presente em toda a cadeia musical, observando que os ataques dos tubar˜oes na HQ s˜ao precedidos, como no filme de Spielberg, pelo motivo mel´odico inspirado na m´ usica-tema do filme Tubar˜ ao. Aqui, temos uma intertextualidade.13 ´ de notar uma quebra do andamento acelerado quando da interven¸c˜ao E da frase mel´odica “afinal essa ´e a harmonia da vida” em ritmo de valsa: o andamento desacelera-se e, nesse ponto, aproxima-se da can¸c˜ao em que h´a uma rela¸c˜ao entre melodia e letra. Na m´ usica de Arrigo at´e o quadrinho 20, as frases s˜ao faladas e n˜ao h´a rela¸c˜ao entre texto verbal e m´ usica. Basicamente, h´a uma cadeia musical que subjaz ao texto, que ´e constitu´ıdo de fala utilit´aria t˜ao somente. Todavia, no momento da valsa, instrumentos, e um momento pontual, sem ritmo, melodia e letra caminham juntos: ´ dura¸c˜ ao; instaura-se uma parada da continua¸c˜ ao na acelera¸c˜ao da m´ usica principal. A desacelera¸c˜ao introduzida por essa valsa (essa ´e a harmonia da 11

No caso da m´ usica sob an´ alise, ´ e de se observar que n˜ ao h´ a melodia cantada, mas h´ a melodias executadas pelos instrumentos musicais. 12 Pulsa¸c˜ ao musical “´ e a unidade abstrata de medida do tempo musical a partir da qual se estabelecem as rela¸c˜ oes r´ıtmicas” (Houaiss 2001). 13 No filme Tubar˜ ao, os atores-tubar˜ oes encontram-se em seu meio natural. O percurso desse sujeito figurativizado pelos tubar˜ oes ´ e natural: o ato de engolir homens seria a forma fisiol´ ogica de matar a fome. Todavia, na hist´ oria de Luiz Gˆ e, a fome ´ e da ordem da estesia. Nela, ocorre a invers˜ ao dos pap´ eis de sujeito e objeto: os tubar˜ oes voadores viram sujeitos de um percurso paralelo ao percurso dos homens da cidade.

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vida) ´e uma tentativa de reconstru¸c˜ao de um sujeito abalado pelo impacto do acontecimento est´etico acelerado dos tubar˜oes voadores voando pela cidade. Logo ap´os essa pontualidade descrita, recupera-se o andamento acelerado da m´ usica. A seguir, veremos a rela¸c˜ao de disputa entre a m´ usica e a fala utilit´aria dos bal˜oes.

Rela¸ c˜ ao de dissens˜ ao entre a m´ usica e os textos dos bal˜ oes No in´ıcio deste artigo, comentamos sobre a presen¸ca na narrativa de um destinador ´etico cujo objetivo ´e desacelerar, devolver o comedimento que foi subtra´ıdo pela estesia do acontecimento (cf. Zilberberg 2006:198). No n´ıvel discursivo, as frases utilit´arias do destinador ´etico s˜ao aquelas que est˜ao no fundo da m´ usica. Uma vez que as frases faladas por tal destinador n˜ao revelam rela¸c˜ao entre melodia e letra, elas parecem concorrer com a m´ usica de Arrigo. A fala dos bal˜oes ´e ordenada pelo eixo do dever, da ´etica; tem a fun¸c˜ao de preservar o sujeito na rotina do cotidiano, ´e implicativa, preventiva, do bem; tal fala ´etica concorre com a m´ usica dodecafˆonica e o plano visual, ambos acelerados, concessivos, da ordem do acontecimento, do art´ıstico, portanto. Tomamos como exemplo algumas dessas falas do destinador: “Qualquer movimento os atrai”, “De nada adianta fugir”, “Gritar n˜ao ´e recomend´avel”, “Por isso, feche portas e janelas, Jo˜aozinho”, “N˜ao adianta nada deixar a janela apenas entreaberta”, “As janelas devem ter grades”, “E as portas, trancas” [...] “Pois no cora¸c˜ao do prudente descansa a sabedoria”. Todas as interven¸c˜oes desse destinador revelam preocupa¸c˜ao ´etica que procura restabelecer a ordem suprimida pelo acontecimento, como se quisesse devolver ao sujeito o controle da situa¸c˜ao, repelindo a estesia. De um lado, ent˜ao, temos a m´ usica dodecafˆonica e de outro, a simula¸c˜ao da fala: ambos em disputa. A m´ usica obstinadamente procurando se conservar no fundo a` medida em que ´e dilu´ıda a fala sobreposta do destinador. Para tubar˜oes voando, a “voz da experiˆencia” no fundo recomenda que ´ como se devesse proteger o espa¸co se “feche portas e janelas, Jo˜aozinho”. E para que nenhum rev´es sobreviesse, n˜ao se podendo, desse modo, voar (a fuga do cotidiano). Todavia, embora haja trancas e cadeados nas janelas,

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Carolina Tomasi

os tubar˜oes penetram assim mesmo, e a vida entra pela janela com seus acontecimentos e sobressaltos. A sintaxe da fantasia: [embora isso, aquilo]. Finalmente, tomemos a frase utilizada pelo destinador: “No cora¸c˜ao do prudente descansa a sabedoria”, que ´e uma intertextualidade de um prov´erbio b´ıblico. Todavia, na B´ıblia a frase ´e um pouco diferente: “a sabedoria descansa no cora¸c˜ao prudente, mas tamb´em se faz sentir no meio dos insensatos”.14 Mantenedor da ordem, da banalidade do cotidiano, o destinador ´e s´abio, de modo que tubar˜oes n˜ao teriam vez no espa¸co, ou seja, qualquer voo al´em do tradicional seria de alto risco. A sabedoria, portanto, encontra morada na prudˆencia, na ´etica, na implica¸c˜ao, na previs˜ao da vida: “feche a janela”, “gritar n˜ao ´e recomend´avel”, “n˜ao adianta nada deixar a janela apenas entreaberta”, “as janelas devem ter grades”, “as trancas, cadeados”, “e os cadeados, fechos de seguran¸ca”. Mas talvez seja na concess˜ao que a fantasia e o art´ıstico encontrem seu espa¸co (“no meio dos insensatos”), podendo, nesse caso, os planos da express˜ao da m´ usica e do visual serem mais resistentes do que o plano da express˜ao da fala cotidiana. Abstract Taking as a reference the Tensive Semiotics, this paper focuses on a comic (Luiz Gˆe’s “Tubar˜ oes Voadores” - Flying Sharks), which was set to music by Arrigo Barnab´e. Our purpose is to examine how events occur in this narrative. The analysis leans on the verification of verbal, visual and musical enunciations, approaching at first the narrative, which is marked by the quickness of the “ephemeral lightning flash,” reason why we run through the senses of the terms shark, flying and to fly in order to set the timing of this semiotic object. Concerns about suddenness and tonicity, elements that intersect Arrigo Barnab´e’s music, are thus justified. At the end of the analysis, we verify that there is in “Tubar˜ oes Voadores” a dissent between languages in which an overlapping of texts in the speech bubbles and Arrigo’s music reveals a contest between verbal and musical elements. Lastly, we examine the connections between ethics and aesthetics; while speeches would be ordered by obligation, by ethics, acting as an element that preserves the subject in everyday routine, both music and visual field would lie in the realm of events and therefore in the realm of aesthetics. From the game played between obligation and desire, the figure of the addresser issues in the speech bubble. It is pointed out that there is no room for suddenness and art (invasion of sharks) when values of a utilitarian, pragmatic world prevail. Keywords: Tensive Semiotics; Aesthetics; Ethics; Music; Comics. 14

No prov´ erbio b´ıblico, a sabedoria n˜ ao descansa apenas no cora¸c˜ ao do prudente (implicativo), mas tamb´ em no cora¸c˜ ao do insensato, imprudente (concessivo). A sabedoria est´ a, portanto, tanto no cotidiano quanto no art´ıstico, no bem e no bom.

˜ es Voadores” Acontecimento em “Tubaro

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