Transição para uma economia de baixo carbono na China: novos arranjos 8inanceiros e horizontes econômicos Luciana Costa Brandão
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Curso de Relações Internacionais – FCE – UFRGS
Orientador: André Moreira Cunha Bolsa PIBIC CNPq-‐UFRGS
“Nós vamos declarar guerra contra a poluição e vamos lutar com a mesma determinação que batalhamos contra pobreza.”
Li Keqiang, Primeiro Ministro da República Popular da China, durante o 12o Congresso Nacional do Povo. Março de 2014.
Contexto • Debates internacionais sobre mudanças
climáEcas
• Tradicionalmente em acordo com o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas • Alinhada aos países em desenvolvimento em defesa de uma agenda de industrialização e crescimento econômico • Recente mudança no posicionamento chinês?
Problemas de Pesquisa • Está, de fato, ocorrendo uma mudança posicionamento chinês em relação ao seu papel no regime de mudanças climáWcas? • Este novo compartamento sinaliza uma maior disposição da China em limitar as suas emissões de CO2 e promover uma transição para um novo patamar econômico e produWvo mais alinhado aos princípios da sustentabilidade? • Quais desdobramentos isso pode ter para as relações Brasil-‐China de um modo geral e, especificamente, para as de caráter econômico?
Objetivos e Metodologia • IdenWficar ações no âmbito de políWca interna e externa que sinalizem a ocorrência da transição para uma economia de baixo carbono na China – Revisão da literatura – Análise de documentos oficiais e acordos
• IdenWficar se tal transição se confirma no plano da realidade – Definir indicadores – Comparar temporalmente os dados
“Dirigir-‐se rumo a uma nova era de civilização ecológica e construir uma China bela consAtuem parte importante do sonho chinês de grande revitalização da nação.” “A China [...] construirá de mãos dadas, com todos os países, esse nosso lar, a Terra, ecologicamente lindo.”
Xi Jinping, Presidente da República Popular da China, durante o Fórum Internacional sobre Civilização Ecológica. Guiyang, Julho de 2013.
Os Planos Quinquenais •
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11o Plano Quinquenal (2006 – 2010) CompromeWmento amplo com o controle da poluição e das emissões de GHGs Aumentar a eficiência energéWca: reduzir em 20% o consumo de energia por un. PIB Promover a produção de energia nuclear Reduzir em 10% as emissões de SO2
12o Plano Quinquenal (2011 – 2015) • Estabelecimento de metas específicas • Reduzir em 17% as emissões de CO2 por un. PIB • Aumentar a cobertura florestal em 21% • Aumentar o consumo de combusjveis não-‐fósseis para 11,4% e o de renováveis para 20% até 2020 • Aumentar a eficiência energéWca: reduzir em 16% o consumo de energia por un. PIB • Promover a produção de energia nuclear • Reduzir em 8% as emissões de SO2
Plano Nacional para Mudanças Climáticas (2014-‐2020) 2012 -‐ Segundo Relatório Nacional de Avaliação sobre as Mudanças ClimáEcas
– EsWmaWva de custos para redução das emissões em US$1.6 tri. – Possível queda de 20% na produção de grãos – Aumento do nível do mar entre 10 e 15 cm. sobre Shanghai, além dos 11,5 cm já registrados nos útlimos três anos
Setembro, 2014 -‐ Plano Nacional para Mudanças ClimáEcas – Novas obrigações sobre províncias, cidades, ministérios e agências do governo – Normas e políWcas setoriais específicas para setores intensivos em energia e mais poluidores – Importância de monitorar as emissões – Foco em coordenação intragovernamental e cooperação internacional
“Os Estados Unidos da América e a República Popular da China têm um papel fundamental a desempenhar no combate das mudanças climáAcas globais, uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta. A gravidade do desafio demanda que os dois lados trabalhem em conjunto de maneira construAva para o bem comum.”
Cláusula de abertura do Anúncio Conjunto entre China e EUA sobre Mudanças ClimáWcas. Beijing, 12 de Novembro de 2014.
Anúncio Conjunto entre China e EUA sobre Mudanças Climáticas 12 de Novembro, 2014 • China se compromete em:
– estabilizar suas emissões de CO2 até 2030 – aumentar em 20% a parcela de combusjveis não fósseis no consumo de energia primária até 2030
• Estabelecimento de centro de pesquisa conjunto • Organizar fóruns e iniciaWva sobre cidades limpas e redes inteligentes • Foco em tecnologias de CCS e HFCs • Promover o comércio de “bens verdes”
Nova Estratégia Energética (2014-‐2020) 19 de Novembro, 2014 -‐ Plano de Ação para uma Estratégia de Desenvolvimento EnergéEco Metas para 2020 Limitar o consumo primário de energia em 4.8 bilhões de TSCE Limitar o crescimento anual do consumo de energia em 3,5% Consumo de carvão deve ficar abaixo de 42 bilhões de toneladas por ano, 16% a mais que em 2013, e ser reduzido para menos de 62% na matriz energéWca • Instalar novas usinas nucleares na costa leste • Alcançar maior capacidade instalada de energia hídrica (350 GW), eólica (200 GW) e solar (100 GW) • • • •
“Meu sonho é simples: morar em um apartamento aconchegante, dirigir um carro que eu goste e ser pai de uma criança saudável”.
Gao Fei, morador de Beijing
Análise de Dados Indicadores selecionados • Total das Emissões de CO2 • Emissões CO2 per capita • Emissões CO2 por unidade do PIB • Composição da Matriz EnergéWca • Gasto de energia por unidade do PIB • Capacidade instalada de carvão • Capacidade instalada de energias não-‐fósseis • Cobertura Florestal
Emissões de CO2 Total das Emissões de CO2 (em kt) 9.019.518
Emissões de CO2 per capita
(toneladas métricas por habitante) 6,7
5.790.017
Intensidade de Carbono
(ton. métricas de CO2 por mil un. PIB em doláres) 2,3
4,4 1,9
2005
2011
2005
2011
2005
2011
Fonte: Banco Mundial; EIA
Matriz Energética Consumo Primário de Energia (composição por fonte de energia)
2% 7%
10% 6%
20% 18% Carvão
71%
Petróleo Gás Natural Não-‐Fósseis
66%
2005
2013 Fonte: China StaWsWcal Yearbook 2014
E8iciência Energética Intensidade energéEca
(consuo primáro de energia em Btus por un. PIB em dólares)
Capacidade Instalada Total (10.000 kW) 2005
28.544
2013
87.009
24.708
+122% 39.138
38.759
12.541
2005
2011
Energia Térmica
+209%
Energias Não-‐Fósseis
Fonte: EIA; China StaWsWcal Yearbook 2014
-‐ Você já viu estrelas de verdade? -‐ Não. -‐Você já viu o céu azul? -‐ Só um pouquinho de azul no céu.
Diálogo entre Chai Jing e uma criança chinesa exibido no documentário “Under the Dome” (Sob a Redoma) lançado em fevereiro de 2015.
Novos arranjos 8inanceiros? Como financiar todos os invesWmentos que são necessários à transição para uma economia de baixo carbono? 2014: Força Tarefa em Finanças Verdes – Divisão de Pesquisa do Banco Popular da China – Divisão de Consultas em Sistemas Financeiros Sustentáveis do PNUMA – 40 especialistas de diversas organizações
2015: Estabelecendo um Sistema Financeiro Verde na China – Diminuir o risco dos invesWmentos em projetos verdes – Diminuir o retorno de invesWmento em projetos poluentes – Favorecer a responsabilidade corporaWva e o mercado de produtos verdes
Sistema Financeiro Verde InsWtuições de InvesWmento Especizalidas • Bancos Verdes • Fundos de InvesWmentos Verdes • Tornar mais verdes os bancos de desenvolvimento
Apoio Fiscal e Financeiro
Infraestrutura Financeira
Infraestrutura Jurídica
• Descontos (baixa taxa de juros) em emprésWmos verdes • Títulos verdes • IPO verde (melhorar os mecanismos que a performance ambiental é reconhecida nos mercados de ações)
• Mercados de Carbono • Avaliações Verdes (RaAngs) • Índices de Ações VerdesBase de Dados Verde • Rede de InvesWdores Verdes
• Seguro Verde obrigatório para indústrias chave • Responsabilidades dos emprestadores • Transparência ambiental mandatória para empresas listadas
Considerações Finais: Horizontes Econômicos • Tanto no âmbito da políWca interna quanto externa a China apresenta um maior compromeWmento com as questões ambientais. • Desde 2011 este compromeWmento vêm se traduzindo no estabelecimento de metas e ferramentas específicas para redução da poluição, incluindo das emissões de CO2. • A transição para uma economia de baixo carbono implica uma transição energéWca para fontes de energia não-‐fósseis. • Dado o curto horizonte de tempo em que estas políWcas foram anunciadas, ainda não é possível notar uma mudança considerável nos indicadores analisados.
Considerações Finais: Horizontes Econômicos • A transição para uma economia de baixo carbono implica reformas no sistema financeiro chinês, as quais já estão sendo anunciadas pelas insWtuições do país. • No ambiente internacional, a transição aponta para uma aproximação com os EUA, especialmente por meio da atuação coordenada nos fóruns internacionais e criação de novos mecanismos conjuntos. • Essa transição pode afetar as relações comerciais e diplomáWcas entre Brasil e China, eventualmente significando para o Brasil a perda de um importante aliado dos países em desenvolvimento nas discussões ambientais • Pesquisas consecuWvas podem explorar novas dimensões da análise de dados, como séries históricas e comparaWvas, bem como engajar estas conclusões com uma análise sobre a parceria comercial e de invesWmentos entre Brasil e China.
Obrigada! 谢谢 Luciana Costa Brandão
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