Tupifilia na Amazônia e em São Paulo (1850-1930)

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Tupifilia na Amazônia e em São Paulo (1850-1930) João Paulo Rodrigues*

Resumo: No século XIX o tupi, embora apresentado como língua morta, se tornou a grande contribuição brasileira à etnolinguística, representando um ativo científico nacional nos circuitos eruditos internacionais. Todavia, no Pará e em São Paulo surgiram cientistas que, apresentando novos aspectos da sobrevivência do tupi e de seu impacto nas sociedades locais, reconfiguraram a imagem da nação e a importância destas províncias e de seus índios. Palavras-chave: tupi, lingüística, nacionalismo Abstract: Although the tupi was presented as a dead language, it became the most important Brazilian contribution to etnolinguistics in the nineteenth century, representing to the nation an asset in the international scientific community. Nevertheless, in the provinces of Pará and São Paulo some scientists presented new aspects about the survival of tupi and its impact on the local societies, which put under a new light the national image and the importance of these regions and their Indians. Keywords: Tupi, linguistics, nationalism

Professor do Departamento de Ciências Sociais e Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal de São João del Rei. Agradeço a Ivan de Andrade Vellasco e a Danilo José Zioni Ferretti pelos comentários e sugestões feitos a este texto. As falhas de qualquer espécie, todavia, são de minha exclusiva responsabilidade. *

Vol. V, n° 1, 2010, p. 145-171

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Durante 300 anos, a América portuguesa foi um território fechado à investigação científica. No quadro da vigilância que a metrópole mantinha para com a presença de estrangeiros em suas colônias, o Brasil era visto como uma terra incognita pelos europeus. Não se conhecia sua geografia, suas riquezas, sua população. Muito pouco se sabia de sua natureza e dos povos nativos. Após os breves lampejos fornecidos por Jean de Léry, Hans Staden e Michel de Montaigne na segunda metade do século XVI, o pouco que a Europa passou a vislumbrar da realidade americana chegava através dos jesuítas, em relatos incompletos e de restrita circulação. Mesmo as raras tentativas lusitanas de levantar, catalogar e entender a natureza e os povos originais da colônia acabaram por não circular pelos centros de saber erudito do tempo. O caso mais emblemático foi o de Alexandre Rodrigues Ferreira, viajante e naturalista português que percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre 1783 e 1792. Seus diários foram enviados a Lisboa e permaneceram desconhecidos por quase cem anos. A abertura do Brasil às nações amigas, em 1808, mudou radicalmente o panorama. Viajantes, comerciantes, cientistas e artistas começaram a desembarcar nos portos exóticos do Brasil com curiosidade e entusiasmo. Mas de poucos se podia dizer que ignorassem totalmente o universo que buscavam. A Europa entrava numa nova era de “descobertas”. Os mares do sul, os trópicos, os continentes meridionais, a Ásia deixaram de ser apenas territórios a serem economicamente integrados ao ocidente, para rapidamente se tornarem, de forma global, terras de oportunidades científicas. Com as viagens do capitão Cook pelo Pacífico, de Alexander Von Humboldt pela América Central e do Sul e com a criação da Sociedade Asiática de Calcutá1, no último quartel do século XVIII e primeiros anos do XIX, os cientistas europeus de vários ramos passaram da época das conjecturas para a das pesquisas de campo. Uma espécie de frenesi de viagens, quase sempre jornadas plurianuais, tomou conta dos cientistas europeus. Grandes somas passaram a ser concedidas pelas academias reais na formação de autênticas caravanas dedicadas a coletar materiais nas colônias de alémmar e em países longínquos (embora cada vez mais pertos), para que posteriormente fossem analisados em laboratórios, museus, zoológicos e universidades do Velho Mundo. Uma das facetas desta era dos 146  Revista Estudos Amazônicos

naturalistas viajantes foi também o surgimento de novas especialidades: antropologia, geologia, geografia, mitologia comparada, lingüística, além de várias áreas da zoologia e da botânica. A carreira, a fama e a competência de um naturalista caminhavam par a par com a extensão e/ou quantidade de suas viagens por terras que, agora, eram eldorados científicos. O mundo merecia ser desbravado não apenas por causa das riquezas que poderia revelar, mas pelos dados que poderia trazer para o conhecimento da natureza e do homem, numa perspectiva não confinada apenas na tradicional tipologia em vertente lineana. O momento apontava para o caráter histórico e relacional dos fenômenos. Era preciso descobrir e coletar para entender como a natureza funcionava e qual sua história. Assim sendo, os naturalistas viajantes que passaram a aportar com freqüência no Brasil do início do século XIX tinham algumas noções aproximativas do que procurar. E tais noções vinham não só deste novo ambiente geral da ciência. Havia a grande influência da imensa obra de Humboldt, primeiro desta nova estirpe de cientistas a levar à Europa relatos e coleções das maravilhas geológicas, históricas e zôo-botânicas das colônias hispânicas. Não tendo, por força de veto português, sua entrada permitida na Amazônia lusa, ainda assim, por falta de alternativa, era a suas análises da América do Sul tropical que recorriam os viajantes antes de embarcarem para o Rio de Janeiro. Contudo, até o final do século (e, em alguns casos, mais além disto), esta nova época estaria marcada, no que diz respeito à ciência feita a partir dos achados trazidos do Brasil, por um paradigma romântico, muito devedor da visão grandiosa e idealista, quase sentimental, de Humboldt. Muitos dos naturalistas escolhiam exatamente este país-continente tropical por imaginarem nele a comprovação de teorias que, ao final, tinham um viés menos rigoroso e mais humanista (no sentido de uma filosofia que tentava colocar o homem no centro do universo, conjugando a natureza com certa concepção cristã, ou bíblica, de sua história e funcionamento) do que as que advinham de estudiosos como Charles Lyell (geologia) e Charles Darwin (biologia). Até mesmo um dos “pais” da teoria da evolução das espécies, Alfred Russel Wallace, que viajou pela Amazônia, partilhou inicialmente desta visão ampla e não especializada de sua atividade Revista Estudos Amazônicos  147

científica, além de se permitir digressões impressionistas sobre a vegetação, a geografia e a fauna tropicais.2 Neste ambiente intelectual, o estudo dos povos indígenas brasileiros, levado a cabo por viajantes, naturalistas, etnólogos e filólogos, encontrou campo fértil para a coleta de material inédito, a recuperação de testemunhos antigos e para estudos digressivos. Desenvolvendo-se, ainda, num tempo de afirmação do Estado nacional no Brasil e das primeiras articulações artísticas e ideológicas românticas sobre a história do país e sua nacionalidade, tal estudo encontrou-se marcado por vários condicionantes. Resultou disto uma “tupifilia” que vazou por vários poros institucionais, culturais, científicos e políticos. Grosso modo, explica-se a ênfase no tupi pela confluência da recuperação das obras e manuscritos jesuítas sobre a língua geral do litoral com a nascente historiografia nacional que valorizava a simbologia indianista, destas com a política indigenista paternalista, tutelar e religiosa do Império, e ainda com o modelo em voga de identificar um grande povo-raça para cada grande área do globo por parte da etnologia e da lingüística.3 Entre 1810 e 1880, em termos gerais, o estudo de textos coloniais e alguns relatos e dados retirados de viagens feitas ao Planalto Central e ao baixo Amazonas, contribuíram para definir o tupi como sendo a língua de uma raça americana que conquistou partes privilegiadas do território nacional (áreas da Amazônia e do que hoje é o Sul e o Sudeste, assim como quase todo o litoral que vai do Maranhão a São Paulo); língua e raça de relativa unidade, ancestral do povo que iria dominar ainda o Paraguai, o sul do Brasil e partes do norte da Argentina – o guarani. Investigaram-se as origens americanas, africanas e européias da raça através da língua e o tupi logo se tornou um patrimônio nacional, na medida em que representava cientificamente para o país o que os incas eram para os Andes, os astecas para o México e os maias para a América Central. Nos quadros em que o guarani não entrava subordinado ao tupi, a América do Sul ficava dividida em quatro troncos raciais e lingüísticos autóctones: aimará, quéchua, guarani e tupi, cada um com sua faixa territorial mais ou menos contínua.4 Ao final do Império, já alvo de críticas acirradas de intelectuais mais afinados com perspectivas ideológicas próximas ao positivismo, ao 148  Revista Estudos Amazônicos

nacionalismo e ao racismo científico (exemplo de Sílvio Romero), o indianismo refluiu. Muito vinculado à simbologia imperial, o índio como objeto de estudo histórico, antropológico e lingüístico passou a ter a concorrência do negro, da mestiçagem e do folclore popular. Seu prestígio diminuiu. Este processo teve a lhe empurrar, ainda, e paradoxalmente, o racismo científico, que a partir da década de 1870 se tornou um paradigma de pensamento dominante. Assim, chegamos à última década do regime monárquico com um novo deslocamento: de objeto trazido pela ciência européia, entre 1810 e 1830, a misto de mito fundante, símbolo da história nacional e contribuição brasileira ao mapa das raças primitivas do mundo, entre 1840 e 1880, para, finalmente, uma mistura de todos estes significados, mas em escala regional. Língua geral e nheengatu na Amazônia Já em meados do século XIX, quando a questão da política indigenista ganhou novo relevo, como se nota através do “Regulamento acerca das missões de catequese e civilização dos índios”, de 1845 e da abertura à colonização dos vales dos rios Doce e Mucuri, em Minas Gerais e Espírito Santo, a Amazônia surgia como campo de informações e como produtora de conhecimento. Contudo, a região se inseria de forma marginal em ambos os processos. Se os autores do centro-sul e do exterior lideravam o processo pelo qual a língua geral dos tempos coloniais e suas variantes ganhavam uma roupagem mais “indígena”, embora (praticamente) desaparecida, os viajantes e as autoridades que passavam pela Amazônia, e que deixaram testemunhos sobre a questão etno-lingüística, pintavam uma imagem diferente. O tupi ou a língua geral estaria em boa forma. A língua portuguesa seria utilizada somente em alguns poucos núcleos populacionais. Além disso, em vários deles, sobretudo missões, ela era minoritária, na medida em que os indígenas lá presentes eram bilíngües, ou seja, falavam português e suas línguas nativas. Mas muitos conheciam ainda o tupi-língua geral, que passava a ser chamado de nheengatu e era visto como uma língua franca. Gaetano Osculati (1847) e Alfred Russel Wallace (1853), por exemplo, são bastante claros a este respeito.5 Revista Estudos Amazônicos  149

Na mesma época, militares, religiosos e professores da região trouxeram uma contribuição própria à discussão, que insistia na vitalidade da língua geral e passava ao largo do termo “tupi”. Ou seja, embora compartilhando de certas premissas da tupifilia (unidade idiomática, estatuto de língua franca, forte semelhança com a língua geral registrada pelos jesuítas e por cronistas coloniais), a incipiente etno-lingüística amazônica do período, feita sem sistemática ou maiores ambições de rigor científico, destoou da produção feita nos principais centros do país, que relegavam o tupi mais ao passado do que à realidade presente. Um elo que poderia ter mudado a interpretação padronizada que perpassa a obra dos grandes tupinólogos que, logo a seguir (décadas de 1860 e 70), entronizariam a “morte” do tupi, foi Gonçalves Dias. Tendo escrito ensaios de etnologia comparativa6, um dicionário de tupi7 e, como se sabe, uma importante obra indianista em que ressaltam o vocabulário e uma mitologia tupi, Dias foi ainda viajante e agente do Estado, inclusive no exterior (onde coletou documentos históricos). No Brasil, foi enviado às províncias do Pará e do Rio Negro (1858-1861)8, para investigar os problemas do ensino público, tendo visitado escolas de pequenas vilas e missões nas quais a população cabocla e indígena era predominante. Em 1854 Dias recebeu do bispo diocesano do Pará, D. José Afonso de Morais Torres (1844-1859), um manuscrito contendo 950 verbetes, que lhe serviu de base para um vocabulário sobre a língua geral em uso na bacia amazônica.9 Quatro anos mais tarde, antes de embarcar para aquela região, publicou seu dicionário sobre o tupi, no qual se nota uma posição ambígua, posto que, a depender do verbete, ressalta um discurso que transmite ora a sensação de língua morta, ora a indicação de seu uso cotidiano, seja no norte, seja incorporado à língua portuguesa falada em determinadas regiões. Já no seu último escrito, publicado postumamente, temos uma longa análise da cultura tupi inequivocamente passadista, cujo intuito maior era servir de guia para que a nação não desperdiçasse como fizera com os tupis, a oportunidade de integrar pacificamente novas tribos indígenas.10 Gonçalves Dias, portanto, considerou o tupi menos como realidade presente do que como assunto histórico. Todavia, esse aspecto não teve muito impacto na própria época de vida do poeta. 150  Revista Estudos Amazônicos

A produção local ficou circunscrita a seu ambiente de origem, não tendo sido aproveitada como potencialmente poderia ter sido. E este uso estava condicionado ao debate sobre os rumos da política imperial para os índios. No Pará, ao contrário de outras províncias, a publicação de obras sobre a língua geral mostra que o assunto tinha importância especial. Os professores do seminário episcopal de Belém, Manoel Justiniano de Seixas (um padre) e Francisco Raimundo Correia de Faria (um militar reformado),11 afirmavam, talvez pela primeira vez no século XIX, que os tratados jesuítas do período colonial tinham se tornado obsoletos. O antigo idioma brasílico, todavia, ainda estava enraizado na região, apesar de modificado. Dever-se-ia, portanto, insistir na sua difusão. Os manuais sobre língua geral publicados no Pará se inserem num movimento que, a partir da província, buscava dar novo impulso à assimilação tutelar dos índios através da Igreja Católica. Desde a Independência o Estado nacional não definira diretrizes próprias para o assunto, uma vez que deixara a cargo das províncias a política indigenista, o que não gerou uma ação coordenada do aparelho estatal e deu maior peso aos arranjos locais, ao sabor dos interesses e injunções dos agentes em contato. Tal situação foi particularmente sentida onde a presença indígena não estava na fronteira, mas em todos os interstícios da vida social e econômica, como no Mato Grosso, Rio Negro e Pará. O peso da Cabanagem também deve ser levado em consideração. Talvez tenha se formado, nesta parte do país, entre funcionários públicos, religiosos e militares, um consenso de que era necessário reciclar o modelo jesuítico. O padre Antônio Manoel Sanches de Brito, que também era inspetor geral das missões da província, estimulou em 1841, por exemplo, a delegação pura e simples de poderes plenos para os missionários.12 É também por este viés que o aparecimento das obras pedagógicas de Justiniano de Seixas e de Correia de Faria, com seus testemunhos de uma língua geral viva e necessária, deve ser entendido. Chama ainda a atenção que ambos dedicaram-nas ao bispo do Pará, D. José Torres, que era, significativamente, conselheiro do Imperador, deputado da Assembléia Geral, membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e responsável pela instituição da cátedra de língua geral no referido seminário, disciplina Revista Estudos Amazônicos  151

oferecida entre 1851 e 1863. O bispo visitou em várias ocasiões missões e paróquias dos rios Solimões, Madeira, Purus e Tapajós. Compôs, também, o vocabulário enviado e aproveitado por Gonçalves Dias. A dedicatória a membros destacados da política era parte de uma relação de apadrinhamento, mesmo que apenas simbólico; normalmente, a contrapartida de favores recebidos, notadamente o apoio editorial, a concessão de uma cátedra, ou algo do gênero. A dedicatória ligava o favorecido à causa do patrono, fornecendo-lhe, em troca, legitimidade. A causa em questão pode ser resumida por Correia de Faria, cuja posição como coronel encarregado de destacamentos militares e aldeias lhe confere maior credibilidade na defesa do método religioso: Comovido o nosso exímio Prelado [D. José Torres] da necessidade que havia, de chamar ao grêmio da Igreja essas hordas de selvagens, bárbaras, ignorantes, embrutecidas, extraviadas, e, sobretudo dignas de compaixão; espalhadas pelas nossas vastas e incultas florestas, sem conhecimento algum de Deus nem de nossas crenças; e sendo o meio mais apropriado o antigo método das Missões, julgou indispensável, principalmente para aqueles candidatos que se propuserem às Freguesias do interior, o conhecimento da Língua Geral, adotada pelos Jesuítas, e por meio da qual tudo haviam conseguido naqueles tempos.13

Tal política benevolente não foi implementada da forma como planejada. Ao mesmo tempo, o testemunho destes personagens sobre a sobrevivência do nheengatu entre uma população considerável, a qual se queria justamente integrar, não ultrapassou as fronteiras provinciais, muito embora a geração que nas décadas de 1860 a 1880 (Karl Friederich Von Martius, José Vieira Couto de Magalhães e Batista Caetano Almeida Nogueira) iria escrever extensivamente sobre o tupi fosse realçar a grande oportunidade que se abria no uso deste tupi para transformar os índios em civilizados trabalhadores e súditos do Império. 152  Revista Estudos Amazônicos

O quadro da etno-lingüística da Amazônia que iria predominar até perto do fim do século seria regido por questões mais abrangentes, relativas aos quadros de raças traçado pela antropologia internacional e à história da nação feita nos centros acadêmicos do Império. A tradição colonial de opor o gentio passivo e cristianizável aos índios bravos (tapuias) e infensos à integração também deixava sua marca. Para Couto de Magalhães, por exemplo, o tupi (que era o idioma e a raça), tinha uma origem histórica no litoral brasileiro, tendo posteriormente gerado o tupi do sul, ou guarani, e o nheengatu amazônico. Cobrindo tão vasto território, era natural que pudesse ser identificado como “uma das maiores línguas da terra, se não a maior”.14 A ciência e o ufanismo se juntavam numa mesma interpretação. Batista Caetano foi mais radical, propondo ser o abanheenga a língua dos povos tupinambás da época do Descobrimento, e o tupi um ramo do desenvolvimento deste abanheenga original, ramo que, por sua vez, já se transformara no século XIX em guarani paraguaio, nheengatu do Alto Amazonas e nheengatu do Baixo Amazonas e do Pará.15 Como para ele o grande responsável por tamanha e rápida dialetização era a influência luso-brasileira, o resultado final era muito semelhante à tendência geral do terceiro quartel do século XIX – o de restringir a grandiosidade tupi a tempos pré-cabralinos e focar, ainda assim, numa etno-lingüística tupi, uma vez que as demais línguas não recebiam o mesmo tratamento extenso dado ao abanheenga-tupi-nheengatu. Nas palavras de Batista Caetano: “é definitivo que a questão etnográfica pode ser decidida pela sentença final de uma origem única de todas as línguas”.16 Em outras palavras, se era possível traçar através do estudo dos idiomas a origem e as filiações raciais da humanidade, a etnologia dos índios brasileiros se submetia ao mesmo imperativo. Portanto, ao realçar o abanheenga num contexto fortemente carregado pela tupifilia, Batista Caetano reforçava a própria tendência geral que, nos detalhes, parecia discordar.17 Mesmo Martius – quem indicou pela primeira vez a familiaridade de várias línguas antes vistas como isoladas e, por isso, mais primitivas (que viriam a ser conhecidas como tronco Macro-Gê) – tomava o tupi Revista Estudos Amazônicos  153

como língua mais do passado do que do presente, e o identificava com uma poderosa raça extinta.18 Todos estes autores em maior ou menor medida desindianizavam o tupi, no sentido de identificar o desaparecimento dos falantes originais; desterritorializavam o tupi, ao chamar a atenção para sua situação precária na boca de tribos e mestiços não-tupis; e instrumentalizavam o tupi, transferindo ao homem branco a responsabilidade por sua difusão como instrumento de catequese e civilização. Tais posições já passam a encontrar eco na Amazônia a partir da década de 1870. O político conservador paraense Pedro Sympson afirmava em 1877 que o tupi-língua geral – que dizia ter aprendido em criança na aldeia do rio Juruá, dirigida por seu pai na década de 1840 – tinha falantes em toda a América do Sul. Tendo sido um “voluntário da pátria” durante a Guerra do Paraguai, conseguira, com surpresa, ser entendido por “muitas famílias civilizadas” nos países envolvidos no conflito. Embora o tivesse encontrado no teatro do conflito, isso não o impedia de deixar implícito que a semelhança entre os dois idiomas fazia mais pela grandeza do tupi do que pela do guarani. Apesar disso, Sympson reconhecia que a língua geral “caminhava a passos largos para a sua total degradação e destruição”, razão pela qual aquela que chamava de “língua nacional” deveria ser revalorizada, por “ser útil à catequese de milhares de selvagens”, obra que contribuía, afinal, para o “progresso nacional”.19 Um dos grandes tupinólogos deste período, comissário do governo na exploração do vale do rio Amazonas entre 1872 e 1875, no qual fez um levantamento taxonômico das palmeiras da região e escreveu relatos de suas viagens, foi João Barbosa Rodrigues. De volta a Manaus, em 1883, assumiu a direção do Museu Botânico da cidade, posto que ocupou por sete anos, embora passasse boa parte do tempo em trabalho de campo nos rios e florestas da região. Em sua obra se identifica o débito com a tradição que, naquela virada de século, já era considerável. Barbosa Rodrigues pagava tributo a Couto de Magalhães quando detectava o lugar do tupi-raça extinto, quando resgatava o tupi através da língua geral-nheengatu, tomada pelos jesuítas e disseminada entre inúmeros povos de outra procedência, e quando identificava em sua sobrevivência quase esquecida pelo mundo exterior justamente a sua força e importância. Em suas palavras: 154  Revista Estudos Amazônicos

“Foi a língua mais falada na América, a que ocupou maior área e que, apesar de todos os entraves que tem tido e dos destroços que sofreu, perdura e perdurará enquanto a nossa natureza existir, porque aos seus produtos essa língua está vinculada. Muitos estropiados, alguns adulterados, quase todos os seus termos perpetuam assim mesmo o nome dos nossos rios, dos nossos lagos, das nossas montanhas, dos nossos animais, das nossas plantas e de localidades, além dos nomes de família, de objetos vulgares e de diversos usos. Se é pouco falada, está ainda enraizada numa grande população do norte do país”.20

O aspecto sentimental dessa presença na ausência, que acaba por obscurecer a importância de outras línguas, fica claro quando, na mesma comunicação, Barbosa Rodrigues confessa, algo nostálgico, que: “Foi entre paiés [sic] e vaqueanos, colhendo plantas e flores, e ouvindo e praticando a língua, no norte, no centro, e no sul do Brasil, e não no gabinete folheando vocabulários, mal escritos, mal interpretados pelas impressões e mal corretos pelos revisores, com termos que, na maioria, perpetuam erros de escrita e de pronuncia, que adquiri o pequeno conhecimento que me leva a apresentar a esta sábia assembléia o produto da inteligência daqueles que, no seio das florestas, ainda hoje fogem da civilização, porque sabem que ela só o conduz ao vicio, á escravidão e á morte de suas faculdades mentais, quando não lhes leva também o ferro e a bala, por não quererem saciar a ambição do kariua, que, com a sua liberdade, rouba-lhe a mulher e os filhos, pelos quais tanto estremecem. A falta de inteligência, a falta de brio e de honra, a sua pouca atividade, que lhe lançam em rosto os escritores, no que o vulgo aliás acredita, não são mais do que véus que encobrem Revista Estudos Amazônicos  155

muitos crimes, e, para se justificar o procedimento bárbaro dos que se dizem civilizados”.21

Barbosa Rodrigues escreveu num momento de renovado entusiasmo pelo progresso, no qual a Amazônia adquiria papel destacado como terra de promessas econômicas e ponto de atração populacional. É o tempo do boom da borracha, da questão do Acre e da Comissão Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como “Comissão Rondon”, de onde surgiria a figura do Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon, primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Naquela virada do século XIX para o XX, Barbosa Rodrigues reforçava uma condenação ao tratamento dispensado aos povos nativos, mais branda em seus antecessores, sem, contudo, negar a necessidade de uma maior presença da civilização, o que sua carreira de cientista atesta por si só. A ideologia integracionista ainda está presente. Não causa estranheza que a matriz de sua identificação do panorama etno-lingüístico da Amazônia não tenha quase nenhum elemento novo.22 A língua que chama a atenção, por ser língua franca, ainda é o tupi, e o cientista se sente impelido a, assim como os antecessores, repetir, com variações, o modelo de seu desenvolvimento histórico. De um tronco ancestral (abanheenga) surgiram o guarani e o tupi, transformado em língua geral pelos jesuítas e, por causa disso, espalhado também para tribos tapuias. A diferença com outros esquemas reside em que as tribos falantes originais do abanheenga seriam de raças distintas. De qualquer forma, uma certa ufania se sente em sua visão do assunto, ao afirmar que “é um idioma repleto de vantagens, que bem foi denominado Língua geral, por ser a língua mais vulgar desde as Antilhas até o extremo da América do Sul, desprezado hoje, mas sempre usado na terminologia das nossas terras, montanhas, rios, animais e plantas, e com tal propriedade e exatidão que só recomendam o espírito observador e comparativo dos nossos índios”.23 A seu peso territorial e populacional, o tupi era confrontado com o espectro de seu desaparecimento. A origem desta situação não era diretamente apontada por Barbosa Rodrigues, mas podia ser facilmente inferida a partir do espírito de nostalgia e da branda denúncia, ambos 156  Revista Estudos Amazônicos

contidos nas passagens acima. Ou seja, a violência da colonização fora responsável pelo quase desaparecimento dos povos tupis e embora sua língua tivesse sobrevivido, mesmo ela estava ameaçada pelo preconceito dirigido aos índios, assim como pelo simples fato de que os novos falantes adulteravam sua pureza original. Apesar disso, Barbosa Rodrigues foi o mais dedicado estudioso do nheengatu amazônico. Não se satisfez, ao contrário de Couto de Magalhães, em apenas marcar sua diferença com o abanheenga ancestral, nem de lembrar sua sobrevivência na Amazônia – embora, neste aspecto, a semelhança de atitude seja significativa. Barbosa Rodrigues procedeu a uma minuciosa análise da fonética e da morfologia nheengatu, e seu “Vocabulário indígena comparado” contém uma introdução que é, provavelmente, o texto do século XIX mais próximo de uma gramática completa do tupi moderno – e mesmo de algum idioma indígena em uso em sua época no Brasil. Apesar do esforço algo disperso de Capistrano de Abreu, que buscou estudar os idiomas dos bacaeris do alto Xingu (norte do mato Grosso) e dos caxinauás do Acre,24 os demais viajantes-lingüistas se limitavam a destacar o papel do nheengatu. A impressão de que era uma língua bastante viva voltava a se difundir entre os que estiveram pela Amazônia, como se pode ver em obras estrangeiras sobre o idioma.25 Mas Vicente Chermont de Miranda, um político paraense, colega do famoso botânico Emílio Goeldi e organizador de expedições pela bacia amazônica, buscava uma visão menos idealista: Está agora na moda, com um sentimentalismo piegas peculiar à nossa raça, elevar às nuvens a língua tupi; todos os tupinistas, tanto antigos como modernos, extasiam-se ante a “língua suave, elegante, copiosa”, ante a sua “delicadeza, facilidade, suavidade, cópia e elegância”, chegando a aberração ao ponto de compararem-na na perfeição à grega, quando na verdade é ela de uma pobreza desoladora logo que se trata de exprimir qualquer conceito moral, qualquer predicado de alma.

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Numa situação de intensificação do contato interétnico, a questão indígena era um problema bastante palpável. Para Miranda, o nheengatu se descolava ainda mais de sua identidade indígena. Seu aprendizado ainda era importante, mas apenas na medida em que permanecia uma língua franca da Amazônia. Miranda parecia desejar sua pronta substituição pelo português, língua “já herdada dos cultos romanos, com a sua invejável riqueza e aptidão para exprimir os sentimentos os mais elevados, cogitações as mais filosóficas que à humanidade é dado conhecer”.26 O nheengatu também era descrito sob a ótica da degeneração. Acuado pela língua portuguesa e pela ausência da cultura original tupi, assim era visto por viajantes como Ermano di Stradelli, que viveu muito tempo na região e fez amizade com Barbosa Rodrigues. Para Stradelli, os índios, de maneira geral, não eram mais raças vigorosas e puras. Eram agora representados pelo tapuio mestiço. O nheengatu já se tornava uma mistura, o que poderia chamar de “crioulo”. O último reduto da língua estava sendo tomado pelo português. Antônio Brandão de Amorim, amigo e colega de viagens de Stradelli, bem como secretário de Barbosa Rodrigues no Museu Botânico de Manaus, concordava com a avaliação.27 Mas o nheengatu era um termo polivalente. Como se viu, foi surgindo na literatura de viagens e lingüística nas décadas de 1870 e 80, sem grande precisão quanto à sua aplicação histórica ou geográfica. Na virada do século já havia se tornado proeminente, embora “tupi” nunca fosse deixado de ser usado como referente ao idioma que era, afinal, parte da família reconhecida posteriormente como tupi-guarani. E para complicar ainda mais a situação, ele estava sendo estudado no mesmo período em outra região, bem distante do norte do país. Um novo centro de debates: São Paulo Em São Paulo, na esteira do café, o rápido crescimento econômico e populacional a partir de 1870 impeliu a criação de instituições e publicações que agregavam literatos e cientistas.28 Seu objetivo era estudar, entender e promover o papel de São Paulo na formação nacional. Entre 1910 e 1932, o fenômeno foi particularmente 158  Revista Estudos Amazônicos

intenso. E o problema indígena era um denominador comum aos vários autores e tendências deste regionalismo. Estes literatos-cientistas valorizaram a história local, que sustentava uma identidade calcada nas glórias coloniais dos bandeirantes. O sentido mais amplo era o de prenunciar o progresso do presente, inigualável em termos nacionais. Ao contrário do caso amazônico, onde viajantes-cientistas estrangeiros e brasileiros que viveram apenas alguns anos na região se misturavam com nascidos no Pará, os autores em questão eram paulistas por nascimento ou adoção. Havia um nativismo próprio, que contrasta com o apelo nacional do discurso étnico-lingüístico produzido na Amazônia, no qual a figura do índio ou do tapuio, bem como o tupi-nheengatu, eram importantes de serem entendidos na medida em que se tratava da política nacional de ocupação do território e de integração de novas populações ao seio da nação – o que foi epitomizado pela luta de Rondon. No caso paulista, o renascimento do tupi se deu apenas na literatura etno-lingüística. Neste sentido, parece ser mais uma vertente da tupifilia generalizada da época. Os estudos sobre os costumes, os etnônimos e as línguas dos índios eram objetos de pouco valor prático. Os literatos valorizam o tupi como modelo de bravura e coragem, prefiguração do papel dos paulistas nas bandeiras que conquistaram grande parte do território do Brasil. Mas se a tupifilia criava em parte um mito tupi, essa literatura histórica e etno-lingüística revalorizava as figuras do bandeirante e da São Paulo dos séculos XVI e XVII, epicentro da vida e protótipo da grandeza nacional. No final da década de 1890 esta perspectiva científica alcançou um novo estágio com a fundação do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e do Museu Paulista. O papel representado pelos estudos sobre a língua tupi foi bastante destacado. Em 1895, o IHGSP estimulou oficialmente o início dos estudos paulistas sobre o assunto.29 Mas não somente o Instituto desenvolveu interesse pela tupifilia. Em 1897, um evento sintomático mostrava esta apropriação especial da tradição imperial: o tricentenário da morte de José de Anchieta, organizado por Eduardo Prado. Couto de Magalhães foi convidado a proferir uma conferência. Seu discurso evidenciava a profundidade das raízes deitadas pela tupifilia, que se metamorfoseava nas respostas aos novos desafios impostos pelas vogas científicas e pelos novos contextos Revista Estudos Amazônicos  159

sociais e políticos. Em O selvagem, de 1876, o autor elevava os tupis à categoria de “americanos” por excelência. E, embora previsse seu futuro desaparecimento através da mistura de sangue com os brasileiros e com os imigrantes europeus, lidava com o que lhe parecia uma realidade que perduraria ainda por muito tempo. Daí advogar o ensino do tupi e seu uso por parte de agentes do Estado como forma de facilitar o contato e a atração das populações do centro oeste e do norte. Já na conferência de 1897 o velho etnólogo e viajante centrava sua atenção na extinção dos tupis. A língua estava quase desaparecida, ainda que – declaração provavelmente surpreendente para a audiência – “alguns de vós [a] entend[a]m”. O estudo de sua língua era uma obra de ciência, relevante para o estudo do passado do país e das raças aborígines. Mas Couto reservava outras surpresas para seus ouvintes: “no entretanto foram eles os donos e senhores do solo que nós possuímos, e uma das origens da raça que hoje domina o Brasil; são os verdadeiros brasileiros, os verdadeiros paulistas”. Vindo de quem vinha, poderia haver um evidente tom romântico na afirmação. O problema é que os tempos eram outros, e a sentença poderia ser entendida de forma literal, pois a seguir Couto de Magalhães lamentava que o bom sangue paulista estava morrendo, perdendo sua característica americana em detrimento da qualidade de “europeu-judaico”.30 O discurso se revelava então tanto como uma sobrevivência de uma mentalidade de tempos idos quanto a expressão dos novos tempos. Há também certa excentricidade. Boa parcela da intelectualidade e dos dirigentes de São Paulo, todavia, destoavam de algumas avaliações contidas no discurso. Na realidade, Couto verbalizava uma corrente minoritária que buscava no Império e no catolicismo uma legitimidade histórica para São Paulo. Esta corrente enfrentava os republicanos que viam no futuro um ideal de progresso a alcançar.31 Havia a denúncia de que, embora houvesse ainda muitos índios ocupando grandes áreas do estado, o governo não se interessava por uma política de aproximação pacífica. Ele chegava mesmo a defender que as violências dos índios eram apenas respostas legítimas de um povo acuado por portugueses, bandeirantes e brasileiros. Por fim, Couto acusava a elite brasileira de excessivo francesismo, intelectual e de costumes. Em vez de americana, era alienada. Apenas o estudo do tupi e da etnografia brasileira poderia resgatar o papel do 160  Revista Estudos Amazônicos

indígena na formação nacional e ao mesmo tempo exercer uma força regeneradora cultural sobre a elite. Que isso fosse dito num evento marcante do calendário oficial de São Paulo só agrega significado às palavras de Couto de Magalhães, além de revelar o quanto o tema era ideologicamente importante. A questão era, portanto, sobre o legado tupi dos paulistas. E a língua era um elemento destacado. Ela adquiria certos contornos já presentes na tupifilia imperial: língua morta e testemunho (através dos tratados jesuítas) do passado colonial. Mas havia uma marca nova, similar à que se imprimia na Amazônia pela mesma época. O bandeirante e seus descendentes paulistas do século XIX que ocuparam o espaço tomado aos indígenas, herdaram sua língua, que deixou, por sua vez, marcas profundas no falar mameluco e do homem branco. Quanto a este aspecto, é interessante notar o contraste com o interesse que se desenvolvia no Pará e no Amazonas pelo nheengatu. Enquanto lá ele era apresentado como tendo se modificado em relação a sua forma original e como instrumento ainda valioso de incorporação do índio à sociedade civilizada, em São Paulo o tupi era uma barreira intelectual que impedia a confrontação dos problemas ainda latentes nas fronteiras agrícolas trazidos pelo contato com várias etnias. Pode-se lembrar dos caingangues, tratados como empecilhos ao progresso, bárbaros que deveriam ser pura e simplesmente suplantados – pela força, se necessário.32 A conferência de Couto de Magalhães se insere na tensão entre a imagem do índio como problema a ser tratado pela via tutelar e filantrópica, parte da experiência de antigos políticos do Império, e a situação dos novos setores dominantes da economia e da política de São Paulo, para quem um índio totalmente idealizado e circunscrito ao passado era mais fácil de lidar do que etnias que combatiam o avanço sobre suas terras. O mapa que acompanha a edição do discurso ilustra esta escolha, tendo sido feito a quatro mãos com o geólogo e lingüista Teodoro Sampaio, monarquista como Couto, baiano de nascimento, mas paulista por opção. No mapa, quase todo o Brasil é recoberto por denominações claramente filiadas àquele grupo (“tupis do norte”, “tupis centrais”, “tupis ocidentais”, “tupis do sul”), e por tribos dos tempos coloniais (guaianás, carijós, tamoios, tupinambás, potiguares etc.). Além disso, outros dois recursos pictóricos realçam essa quase Revista Estudos Amazônicos  161

onipresença tupi. Destaca-se a palavra “Pindorama” para nomear o Brasil pré-cabralino, termo, como se sabe, inventado muito após a conquista, embora usado no mapa como se os tupis tivessem algum senso de nação e estivessem garantindo o amplo território para portugueses e brasileiros. Este mesmo Teodoro Sampaio foi figura destacada da intelectualidade paulista e sua presença como co-autor do mapa não deve ter sido fortuita. Ao defender, numa famosa polêmica baseada em dados lingüísticos sobre se os guaianás de São Paulo contatados pelos jesuítas eram tupis ou tapuias, que estes eram tapuias,33 ele acabou por se filiar ao indianismo de seus colegas antropólogos, historiadores e memorialistas. Autor de vários estudos sobre os primórdios da colonização e das tribos de São Paulo, ficou famoso com O tupi na geografia nacional, de 1914.34 Nesta obra, Sampaio identificava, como tantos outros, o tupi como uma língua perdida em sua pureza original, cujos resquícios seriam a língua geral colonial, falada por jesuítas, brasileiros brancos e mamelucos. A língua geral retirou do tupi sua rudeza natural, amalgamou seus dialetos, e foi disseminada pelos bandeirantes por todo o Brasil. É quase como se o tupi fosse obra dos paulistas e compusesse, ao nível da cultura, uma obra de unidade nacional antes da existência da nação per se. O livro teve grande popularidade. Na segunda edição, Sampaio repete várias vezes que recebera cartas de leitores, de companhias de estradas de ferro, de câmaras de vereadores de cidades do interior, entre outros, para dirimir discussões sobre a correta etimologia de nomes próprios e geográficos de origem indígena, e até para verter toponímicos portugueses para equivalentes tupis. A obra teve, pelo menos, cinco edições. O objeto do livro, contudo, é ambíguo: é testemunho da grandeza paulista, ao mesmo tempo em que o de um esplendor findo, só podendo ser reconstruído pela história e pela lingüística, cujos resquícios não passavam de um vocabulário limitado aos nomes de localidades e acidentes geográficos, sobretudo do interior do país. Além disso, o domínio limitado sobre parte de um estado da federação em pleno século XX, contrastava com a anterior conquista de Minas Gerais, das Missões jesuíticas e do centro oeste, sem contar incursões mais longínquas dos bandeirantes dos séculos passados. 162  Revista Estudos Amazônicos

É bem verdade que, para alguns, como Hermann Von Ihering, diretor do Museu Paulista, o estado tinha um fundo tão guaianá (do grupo gê) quanto tupi. Em um mapa das regiões sul e sudeste do Brasil na época da chegada dos portugueses que ele mesmo elaborou, havia uma ligeira vantagem, em termos de extensão territorial, para os tapuias (entre os quais estavam os guaianás) e os tupis, com os guaranis ocupando terras que não viriam a pertencer ao Brasil. No caso de São Paulo, seu território estava praticamente dividido em dois por guaianás e tupiniquins. Estes eram também tratados por Von Ihering como “tupis do sul” ou “guaranis”, cujo sangue corria nas veias dos caboclos, e cujo idioma legara um vocabulário ao dialeto caipira.35 Mas a abordagem dominante privilegiava o tupi e pode ser vista nos demais estudos que se popularizaram ao longo das três primeiras décadas do século XX em São Paulo, como, por exemplo, no Dicionário geográfico da província de São Paulo, de João Mendes de Almeida, que dissemina a toponímia tupi como marca identitária da geografia do estado36, ou na efêmera Sociedade de Etnografia e Civilização dos Índios (1901), que lançou uma proposta de política indigenista baseada na valorização da língua tupi, na transformação dos índios em mão-deobra e no uso de religiosos na direção de aldeamentos. As décadas de 1920 e 1930 foram particularmente profícuas no que diz respeito ao papel paulista em re-institucionalizar o tupi como símbolo, metáfora e metonímia da nação. Ao mesmo tempo, São Paulo aparecerá como o local onde o estudo científico do tupi receberá tratamento especial. Constantino Tastevin fornece um exemplo interessante. Padre francês que viveu em Tefé, no rio Amazonas, ele publicou em Viena (1910), uma gramática do tupi-nheengatu. Obra que sintetizava um aspecto que aqui não foi explorado (a circulação internacional do tupi como objeto de ciência), ela simboliza a convergência, em alguns aspectos, da etno-lingüística tupi produzida no Amazonas e a produzida em São Paulo. Sua gramática foi traduzida para o português pelo próprio autor, após apoio concedido pelo diretor do Museu Paulista, Affonso de Escragnolle Taunay. Ainda mais interessante é que o religioso consiga afirmar que a língua tupi agonizava, pelo que seu estudo se convertia num “mausoléu”, e, ao mesmo tempo, que “ela é falada às margens do Solimões, reconhecendo que o dialeto do Rio Negro e muito mais ainda o dialeto Revista Estudos Amazônicos  163

Guarani difere em muitos pontos acidentais do idioma cujas regras exponho”.37 A publicação em São Paulo de um trabalho “amazônico” sobre o tupi mostra como os eruditos paulistas buscavam desenvolver nacionalmente seus espaços regionais de produção científica, bem como vinculá-los a temas relacionados à sua própria história. E a confissão de Tastevin esclarece como essa adaptação (expressa no paradoxo do nheengatu desaparecido, mas ainda em uso) poderia influenciar a própria produção incentivada pelos organismos locais. Pode-se lembrar também do papel central do tupi na linguagem modernista, sobretudo em seus manifestos. Naquele que mais se referenciaria na etno-história, sente-se a pretensão dos autores de que um espírito tupi de resistência e de adaptação não era apenas um legado cultural, folclórico ou metafísico, mas fruto da própria mistura de raças característica da nação. “A descida dos tupis do planalto continental no rumo do Atlântico foi uma fatalidade histórica pré-cabralina, que preparou o ambiente para as entradas no sertão pelos aventureiros brancos desbravadores do oceano. A expulsão, feita pelo povo tapir, dos tapuias do litoral, significa bem, na história da América, a proclamação de direito das raças e a negação de todos os preconceitos”.38

Também é de se destacar o papel de figuras polivalentes, como Afonso Freitas, jornalista, professor de tupi no IHGSP (durante o ano de 1925), e membro da Academia Paulista de Letras. Ao lado de sua defesa apaixonada das origens lusitanas e tupis do tipo paulista, do papel integrador do bandeirante, do lugar privilegiado ocupado pelos tupis nos territórios de São Paulo e do Brasil quando do Descobrimento, Freitas inseria ainda um estudo sobre a permanência do nheengatu no português falado no estado.39 Em vista de tudo isso, não estranha que bastante tempo depois da tupifilia imperial, a Universidade de São Paulo criasse (1935) sua 164  Revista Estudos Amazônicos

cátedra de tupi-guarani, a cargo de Plínio Ayrosa, estudioso que se dedicava àquela língua e à etnologia de São Paulo desde o início do século. Embora em um contexto de contencioso paulista com a centralização varguista, e após a derrota militar de 1932, onde a identidade paulista ganhava nova importância e novos contornos, mais uma vez a tupifilia servia às idealizações culturais e ao discurso político. E “os tupis desceram”… A tupifilia foi fenômeno marcadamente imperial, em seus significados culturais e políticos. Contudo, a proeminência do tupi marcou períodos posteriores e contextos menos abrangentes. Mesmo quando os estudos começaram a revelar uma realidade étnico-lingüística extremamente mais complexa (o que, de resto, já ficava insinuado nas obras de meados do século XIX), e o tupi perdeu seu status privilegiado, abriu-se a porta para uma re-significação cultural e científica do mesmo. E, novidade em relação às décadas anteriores, tal se deu no contexto de uma nova onda de contato entre índios, colonos e agentes estatais, tanto no sul quanto no norte do país – as novas fronteiras que a década de 1880 viu serem consideravelmente alargadas. As etno-lingüísticas produzidas no espaço amazônico e no estado de São Paulo também responderam, ou expressaram, anseios e ansiedades de grupos intelectuais que mantinham laços com o Estado e que ocupavam posições proeminentes nas instituições científicas regionais e nacionais, num tempo em que a ciência brasileira devia bastante a preocupações de ordem ideológica e que se via como partícipe do progresso. Neste sentido, entende-se tanto o fato de terem sido naqueles ambientes localizados que se deu a perpetuação do interesse pelo tupi, assim como o prolongamento de uma análise que o mantinha como causa e efeito de mudanças históricas, além de representante per se da realidade indígena brasileira. As diferenças entre a produção feita no norte e no sul também podem ser compreendidas à luz destes fatores. Aquelas etno-lingüísticas não eram, por si sós, expressões de uma disciplina com um limite teórico e metodológico comparável à etnologia ou à lingüística produzidas em outras partes do mundo. Revista Estudos Amazônicos  165

Todavia, tiveram um impacto de grandes proporções na forma como se via o problema dos índios, bem como suas culturas. Talvez a atitude que unia os estudiosos de norte a sul do país possa ser caracterizada como a da procura de um tupi apto a ser integrado nas sociedades de fronteira e no seio da nação, valorizando ao mesmo tempo algumas das realidades regionais da nação mais vinculadas ao tupi. Uma passagem do manifesto “Nheengaçu da tribo verde-amarela”, de 1929, escrito por modernistas paulistas parece sintetizar bem os aspectos mais idealistas de tal atitude: “Os tupis desceram para serem absorvidos. Para se diluírem no sangue da gente nova. Para viver subjetivamente e transformar numa prodigiosa força a bondade do brasileiro e o seu grande sentimento de humanidade”. Artigo recebido em novembro de 2009 Aprovado em abril de 2010

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NOTAS A Sociedade Asiática foi fundada em 1784 por funcionários britânicos na Índia que passaram a se dedicar ao estudo de textos brâmanes, hindus e védicos. Suas análises tiveram entusiástica acolhida na Europa e foram responsáveis pela voga orientalista (pois assim eram conhecidos os que se dedicavam a estudos relativos ao subcontinente indiano) que, entre outras realizações, resultou na descoberta da família lingüística indo-européia. A este respeito ver o excelente livro de TRAUTMANN, Thomas. Aryans and British India. Berkeley/Londres/Los Angeles: University of California Press, 1997. Sobre o impacto da obra de Humboldt, ver: PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Coração, 1999, pp. 195-247; MONTESINOS, José. “Expediciones científicas a las Islas Canárias en el periodo romántico (1770-1830)”. In: http://humboldt.mpiwg-berlin.mpg.de/10Monte-Renn.pdf, acessado em 17/11/2004. Sobre a viagem de Cook, consultar: SAHLINS, Marshall. Islas de historia. 3a edição. Barcelona: Gedisa, 1997. 2 WALLACE, Alfred Russel. A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, with an account of the native tribes, and observations on the climate, geology, and natural history of the Amazon valley. 2a edição. Londres/Nova York/Melbourne: Ward, Lock & Co., 1889; Sobre a visão romântica da natureza entre os cientistas no Brasil, ver: FREITAS, Marcus Vinicius de. Charles Frederick Hartt, um naturalista no império de Pedro II. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. 3 Ver minha tese de doutorado (especialmente o capítulo 1): A pátria e a flor: língua, literatura e identidade nacional no Brasil, 1840-1930. Universidade Estadual de Campinas, 2002. 4 Sobre o tupi como símbolo científico nacional e a circulação internacional dos estudos brasileiros sobre este idioma, ver: RODRIGUES, João Paulo. “Tupifilia internacional: tupi, cientistas e viajantes no século XIX”. In: LIMA, Ivana Stolze & CARMO Laura do (org.). História social da língua nacional. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2008, pp. 327-351. 5 OSCULATI, Gaetano. “De Tabatinga a Belém”. In: ISENBURG, Teresa. Naturalistas italianos no Brasil. São Paulo: Ícone, Secretaria de Estado da Cultura, 1991, p. 144; WALLACE. A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, pp. 115 e 332-334; MARCOY, Paul. Viagem pelo rio Amazonas [1846-1847]. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto, 2001, pp. 68 e 201-204; BATES, Henry Walter. The naturalist on the river Amazons. Londres: John Murray, 1863, pp. 47 e 317. Para 1

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uma abordagem mais ampla do uso da língua geral amazônica, consultar: FREIRE, José R. Bessa. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica/EdUERJ, 2004. 6 GONÇALVES DIAS. Antônio. “Brasil e Oceania”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 30, 2a parte (1867), pp. 5-192; 257-396. 7 GONÇALVES DIAS. Dicionário da língua tupi chamada língua geral dos indígenas do Brasil. Leipzig: F. A. Bockhaus, 1858. 8 Os resultados da viagem estão em: GONÇALVES DIAS. Gonçalves Dias na Amazônia: relatórios e diário da viagem ao Rio Negro. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2002. 9 GONÇALVES DIAS. “Vocabulário da língua geral usada hoje em dia no Alto-Amazonas”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 17 (1854), pp. 553-576. 10 GONÇALVES DIAS. “Brasil e Oceania”. Para uma análise mais detalhada da posição de Gonçalves Dias, consultar minha tese de doutorado: A pátria e a flor, pp. 37-50; e TREECE, David. Exiles, allies, rebels: Brazil‟s indianist movement, indigenist politics, and the imperial nation-state. Londres/Westport: Greenwood Press, 2001, pp. 106-141. 11 SEIXAS, Manoel Justiniano de. Vocabulário da língua indígena geral para o uso do seminário Episcopal do Pará. Belém: Mattos, 1853; FARIA, Francisco Raimundo Correia de. Compêndio da língua brasílica. Belém: Santos & Filhos, 1858. 12 CUNHA, Manuela Carneiro da. “Política indigenista no século XIX”. In: História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras/FAPESP/Secretaria Municipal de Cultura, 1992, pp. 138-140. Os apelos para o trabalho missionário continuaram, como se vê, por exemplo, em: BERNARDINO DE SOUZA, Cônego Francisco. Comissão do Madeira. Pará e Amazonas, pelo encarregado dos trabalhos etnográficos. 1a parte. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1874, pp. 130-132 e 142-143. 13 FARIA. Compendio da língua brasílica, parte I. Sobre a economia política e simbólica da dedicatória; ver: DELMAS, Ana Carolina Galante. “„Páginas em homenagem‟: uma análise das dedicatórias impressas no Brasil joanino”. Dialogos, vol. 2 (2008), pp. 19-30. 14 COUTO DE MAGALHÃES, José Viera. O selvagem. Rio de Janeiro: Reforma, 1876, p. XXXVI. 15 NOGUEIRA, Batista Caetano de Almeida. “Apontamentos sobre o Abanheenga também chamado Guarani ou Tupi ou Língua Geral dos Brasis”. Ensaios de Ciência por Diversos Amadores, vol. I (1876) e vol. II (1876). 16 NOGUEIRA. “Apontamentos”. Ensaios de Ciência por Diversos Amadores, I, março de 1876, p. 36. Também Couto de Magalhães acreditava na

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indissociabilidade dos estudos etnológicos e lingüísticos. Ver: COUTO DE MAGALHÃES. O selvagem, pp. 41 e 43. 17 Até por volta de 1850 acreditava-se que o estudo da história e classificação das línguas revelava a história e parentesco das raças humanas. Na segunda metade do século XIX tornou-se hegemônica a opinião de que as línguas poderiam revelar aspectos da história dos povos, mas jamais evidenciar verdades científicas sobre as raças e suas filiações, já neste momento objeto exclusivo da etnologia e da antropologia. A este respeito, ver: TRAUTMANN, Arians and British India; e ALTER, Stephen. Darwinism and the linguistic image: language, race, and natural theology in the nineteenth century. Baltimore e Londres: The John Hopkins University Press, 1999. Para o exame de um autor (Ernest Renan) que no período insistia em manter o vínculo entre língua e raça, ver: OLENDER, Maurice. Languages of paradise: race, religion and philology in the nineteenth century. Cambridge e Londres: Harvard University Press, 1992, especialmente pp. 57-63. 18 VON MARTIUS, Karl Friederich. Glossários de diversas línguas e dialetos, que falam os índios no Império do Brasil. Erlangen: Druck Von Junge & Sohn, 1863. 19 SYMPSON, Pedro Luiz. Gramática da língua brasileira (brasílica, tupi ou nheengatu). Manaus: Valer, Governo do Estado do Amazonas, 2001, pp. 49 e 47 (respectivamente). A gramática teve duas edições no norte do país (Manaus, 1877; Belém, 1901) e três no sul (Rio de Janeiro, 1926, 1933 e 1955). 20 RODRIGUES, João Barbosa. Mbaé kaá tapyietá enoyndaua, ou A botânica e a nomenclatura indígena. Memória apresentada ao 3o Congresso Científico Latino Americano. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905, p. 38. 21 Ibidem, pp. I-II. 22 Um aspecto particularmente indicativo de como Barbosa Rodrigues é tributário de seus antecessores está na ambigüidade do uso dos termos abanheenga, nheengatu, língua geral e tupi, ora usados como referências a diferentes realidades lingüísticas, ora utilizados indistintamente. Ver: RODRIGUES. “Poranduba amazonense ou Kochiyma-uara porandub”. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 14 (1886-87); RODRIGUES. “Vocabulário indígena comparado para mostrar a adulteração da língua (complemento ao Poranduba Amazonense)”. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 15 (1887-88), pp. 1-83. 23 RODRIGUES. Mbaé kaá tapyietá enoyndaua, p. 24. 24 ABREU, João Capistrano Honório de. Obras de Capistrano de Abreu: ensaios e estudos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976, pp. 155-259; Ibidem, Rãtxá-hu-ni-ku-i. Gramática, textos e vocabulário caxinauás. Rio de Janeiro: Leuzinger, 1914.

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POMA, Cesare. Di um giornale in guarani e dello studio del tupi nel Brasile. Turim: Eredi Botta, 1897, p. 6; PARISSIER, J. B. Essai de língua geral ou tupi. Abbeville: F. Paillart. Paris: Procure Générale, 1903, pp. 3-4. 26 Ambas as citações são da coletânea póstuma de: MIRANDA, Vicente Chermont de. Estudos sobre o nheengatu. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946, p. 38. O manuscrito é datado, em parte, de 1907. 27 STRADELLI, Ermano di. Artigos publicados no Boletim da Sociedade Geográfica Italiana em 1889. In: ISENBURG, T. Naturalistas italianos no Brasil, pp. 203-232 (republicados junto a outros em La leggenda del Jurupary e outras lendas amazônicas. São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, caderno nº 4, 1964); e STRADELLI. “Vocabulários da língua geral: português-nheengatu e nheengatu-português”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 104 (1928), pp. 5-768 (textos de 1920); AMORIM, Antônio Brandão de. “Lendas em nheengatu e em português”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 100 (1926), pp. 3-475 (publicação póstuma). 28 FERREIRA, Antônio Celso. A epopéia bandeirante. São Paulo: Editora da Unesp, 2002; LUCA, Tânia de. A Revista do Brasil. São Paulo: Editora da Unesp, 1998. 29 FERREIRA. A epopéia bandeirante, pp. 44-45 e 61-65. 30 COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. Anchieta, as raças e línguas indígenas. São Paulo: Carlos Gerke, s/d, as citações são respectivamente das pp. 4, 11 e 12. 31 Agradeço a Danilo Ferretti a atenção para este detalhe dos debates políticos da elite cultural paulista finissecular. 32 Sobre o problema posto pelos caingangues, assim como o privilégio dado ao tupi em São Paulo, consultar MONTEIRO, John M. Tupis, tapuias e historiadores. Campinas: Tese de livre docência em etnologia, Universidade Estadual de Campinas, 2001. Sobre o destaque dado à questão lingüística, ver FERREIRA. A epopéia bandeirante, p. 143. 33 MONTEIRO. Tupis, tapuias e historiadores, pp. 104-12 e 180-88; FERREIRA. A epopéia bandeirante, pp. 140-42. 34 SAMPAIO, Teodoro. O tupi na geografia nacional. São Paulo: O Pensamento, 1914. 35 VON IHERING, Hermann. The anthropology of the State of S. Paulo, Brazil. São Paulo: Diário Oficial, 1906, pp. 37-39 e mapa I, nos anexos. Sobre o dialeto caipira, a obra fundamental do período é do folclorista paulista AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: O Livro, 1920. 36 ALMEIDA, João Mendes de. Dicionário geográfico da província de S. Paulo. São Paulo: Espindola, Siqueira & Cia, 1902. Mendes de Almeida havia defendido em 1882 que os guaianás não dominavam o planalto paulista quando da 25

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chegada dos portugueses (MONTEIRO. Tupis, tapuias e historiadores, p. 181). No entanto, no Dicionário geográfico dedicou-se quase exclusivamente ao tupi e seu papel toponímico. 37 TASTEVIN, Constantino. Gramática da língua tupi. Separata do tomo XIII da Revista do Museu Paulista. São Paulo: Diário Oficial, 1923, p. 18. 38 PICCHIA, Menotti del; SALGADO, Plínio; ÉLIS, Alfredo; RICARDO, Cassiano & MOTA FILHO, Cândido de. “Nheengaçu da tribo verdeamarela”. Correio Paulistano, 17 de maio de 1929. Consultar também: “Manifesto da poesia pau-brasil” (1924). In: ANDRADE, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, 1995; e SALGADO, Plínio. “A língua tupi”. Revista de Antropofagia, nº 1 (maio de 1928), p. 6, e nº 2 (junho de 1928), p. 7. 39 FREITAS, Afonso A. de. Vocabulário nheengatu, vernaculizado pelo português falado em São Paulo (língua tupi-guarani). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.

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