Turismo Sustentável: os desafios da operacionalização do conceito

September 12, 2017 | Autor: A. Revista Interd... | Categoria: Sociologia, Sustentabilidade, Sociología, Turismo, Turismo Sustentable, Impactos del turismo, Sustentabilidad
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Turismo Sustentável: os desafios da operacionalização do conceito Ermelinda Oliveira Escola Superior de Tecnologia e Gestão da Guarda (Portugal)

A emergência de um novo turismo, impulsionado pela alteração dos valores sociais, por preocupações ambientais, bem como por um novo perfil de consumo, forçou o sector do turismo a alterar os seus parâmetros de funcionamento, exigindo-se a definição de políticas de sustentabilidade. Contudo, são grandes os desafios que se colocam à operacionalização de um turismo sustentável, nomeadamente a integração harmoniosa das três dimensões da sustentabilidade: económica, social e ambiental. Por outro lado, e porque um turismo sustentável envolve a participação activa de todos os intervenientes, à disposição dos órgãos de poder local, bem como das empresas, estão um conjunto de iniciativas para a prática de um turismo sustentável. Neste contexto, após se aludir os grandes desafios que se colocam à implementação de um turismo sustentável, esta investigação, numa primeira fase, analisa as principais questões relacionadas com a operacionalização do conceito, bem como as recomendações e técnicas que têm merecido maior relevo na literatura. De seguida, e porque o turismo desempenha um papel de enorme relevância no desenvolvimento económico do Concelho da Guarda, o qual faz parte do Pólo de Desenvolvimento Turístico “Região da Serra da Estrela, a presente investigação tem como objectivo avaliar a percepção dos empresários de todas as unidades de alojamento deste Concelho em relação à importância de um modelo de turismo sustentável. Em termos metodológicos optou-se pela aplicação do método de investigação quantitativo com o software SPSS, utilizando-se como instrumento de investigação o questionário. A investigação conclui que, apesar de estarmos conscientes que o desenvolvimento sustentável do turismo vai de encontro às necessidades das regiões turísticas, o estímulo a um turismo sustentável na região parece estar ainda longe de todas as suas potencialidades. La emergencia de un nuevo turismo, impulsado por la alteración de los valores sociales, por preocupaciones ambientales, bien como por un nuevo perfil de consumo, forzó al sector turístico a alterar sus parámetros de funcionamiento, exigiéndose la definición de políticas de sostenibilidad. Sin embargo, son grandes los desafíos que se plantean a la operacionalización de un turismo sostenible, sobre todo en lo que dice respecto a la integración harmoniosa de las tres dimensiones de la sostenibilidad: económica, social y ambiental. Por otro lado, y porque un turismo sostenible implica la participación activa de todos los intervinientes, están a disposición de los órganos de poder local, y de las empresas, un conjunto de iniciativas para la práctica de un turismo sostenible. En este contexto, y tras hacer referencia a los grandes desafíos que se plantean a la implementación de un turismo sostenible, esta investigación, en una primera fase, analiza las principales cuestiones relacionadas con la operacionalización del concepto, bien como las recomendaciones y técnicas que han merecido mayor relevancia en la literatura. A continuación, y porque el turismo desempeña un papel de enorme relevancia en el desarrollo económico de la región de Guarda, el cual forma parte del Centro de Desarrollo Turístico “Región de la Serra da Estrela”, la presente investigación tiene como objetivo evaluar la percepción de los empresarios de todas las unidades de alojamiento de esta región en relación con el grado de importancia de un modelo de turismo sostenible. En términos metodológicos, se opto por la aplicación del método de investigación cuantitativo con el software SPSS, utilizándose como instrumento de investigación el cuestionario.

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La investigación concluye que, a pesar de ser conscientes de que el desarrollo del turismo sostenible responde a las necesidades turísticas, el estímulo a un turismo sostenible en la región parece estar todavía lejos de todas sus potencialidades. Palavras-chave: Turismo, Responsabilidade Social, Sustentabilidade. Palabras-clave: Turismo, Responsabilidad Social, Sostenibilidad.

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1. INTRODUÇÃO A actividade turística muito tem contribuído para o desenvolvimento das regiões e dos países. Pelas suas características intrínsecas, trata-se de uma actividade dinamizadora das actividades económicas regionais e locais. Contudo, ao tratar-se de um sector económico gerador de benefícios e também de custos, é desejável que ele se desenvolva de uma forma sustentável. A emergência de um novo turismo, impulsionado pela alteração dos valores sociais, por preocupações ambientais, bem como por um novo perfil de consumo, forçou o sector do turismo a alterar os seus parâmetros de funcionamento, exigindo-se a definição de políticas de sustentabilidade. Contudo, são grandes os desafios que se colocam à operacionalização de um turismo sustentável, nomeadamente a integração harmoniosa das três dimensões da sustentabilidade: económica, social e ambiental. Dotado de recursos culturais, paisagísticos e naturais únicos, nos Concelhos que formam o Pólo Turístico da Serra da Estrela, o turismo assume um papel crucial no desenvolvimento da região como um todo, bem como na diminuição das assimetrias regionais. Assim, face à importância estratégica deste sector e ao papel que a actividade hoteleira detém nesta região, a presente investigação tem como objectivo avaliar a percepção dos empresários das unidades de alojamento de um dos Concelhos - o Concelho da Guarda – em relação à importância de um modelo de desenvolvimento sustentável para o turismo da região.

2. TURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os antecedentes históricos do turismo sustentável têm como ponto de partida o debate sobre o desenvolvimento sustentável. Apesar dos primeiros sinais de inquietação com o desenvolvimento sustentável terem surgido no século XVIII, só na segunda metade do século XX é que a questão ganhou mais relevância. Em relação à origem do conceito, analisando factos passados, podemos concluir que o aparecimento do conceito de AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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desenvolvimento sustentável está relacionado com um má utilização dos recursos naturais, com o aparecimento de acidentes ambientais, bem como com o aparecimento de um conjunto de desequilíbrios de índole económico, ambiental e social. No século XVIII, com a Revolução Industrial os recursos naturais começaram a ser utilizados de uma forma ilimitada e desgovernada, dai resultando efeitos nefastos para as economias. Ao modelo de desenvolvimento neoliberal, vigente nessa altura, foram apontadas inúmeras críticas. Assim, nos anos cinquenta e sessenta, surgiram os primeiros movimentos sociais que discutem a insustentabilidade do modelo neoliberal. Nos países desenvolvidos apareceram vozes críticas em torno do consumo acentuado e manifestou-se a vontade de mudar o sistema económico de forma a não desperdiçar recursos e recuperar o equilíbrio com o meio ambiente. Durante a década de oitenta multiplicaram-se os estudos e informações que alertavam sobre a capacidade de carga do planeta, alertando para o consumo excessivo de recursos tentando colocar alternativas para a resolução deste problema. Em 1972 realizou-se, em Estocolmo, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Esta foi, sem dúvida, a primeira conferência mundial que teve por objectivo tentar “organizar” as relações do homem com o meio ambiente tendo sido enunciados um conjunto de princípios que denunciavam a responsabilidade do desenvolvimento pela deterioração ambiental, resultando no estabelecimento da base teórica para o conceito de desenvolvimento sustentável (Silvano, 2006). A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, em 1987, apresentou o documento intitulado “Our Common Future”, também conhecido por Relatório Brundtland, onde foi relatada uma visão crítica do modelo de desenvolvimento até então adoptado pelos países industrializados e depois copiado pelos países em vias de desenvolvimento. Segundo o referido relatório, esse modelo de desenvolvimento apostava num consumo excessivo de recursos naturais sem ter em conta a capacidade dos ecossistemas, o que deixava já à vista uma incompatibilidade entre um modelo de desenvolvimento dito sustentável e os padrões de produção e consumo existentes naquela altura. Este documento já manifesta a vontade de elaborar uma estratégia para o desenvolvimento sustentável (Clavé e Reverté, 2005) e apresentou a primeira e a mais consensual AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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definição de desenvolvimento sustentável: desenvolvimento que responde às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade de satisfazer idênticas necessidades das gerações futuras. A ideia do desenvolvimento sustentável foi reforçada em 1992, com a realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida por Cimeira da Terra. Nesta conferência são mencionados como os principais problemas, os problemas ambientais bem como a desigualdade económica verificada entre os diferentes países e regiões e aponta-se directamente para o desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento deveria incidir sobre um prisma ético que impeça que determinadas comunidades ou gerações beneficiem mais que outras, dado que o conjunto dos recursos da terra pertence ao conjunto da humanidade. Este tipo de planeamento implica uma enorme dificuldade de aplicação prática, na medida que requer uma mudança na maneira de entender a relação da humanidade com o planeta. Pretende-se redistribuir de forma equitativa os custos e os benefícios da exploração dos recursos da conservação do meio ambiente, “assim como erradicar um dos princípios fundamentais enraizados no actual sistema do pensamento económico: a crença que o crescimento contínuo é a única via para o progresso” (Clavé e Reverté, 2005: 49). Contudo, segundo o mesmo autor, para muitos científicos a autentica contradição apenas se dá na acepção de crescimento sustentável, baseado este na filosofia do crescimento continuo, enquanto que o conceito de desenvolvimento sustentável se considera mais coerente já que visa uma mudança no estilo de vida da sociedade que conduz à satisfação das necessidades racionalizando e reduzindo o consumo de recursos. Em 1993, a Comunidade Europeia publicou o programa “Em direcção a um Desenvolvimento Sustentável”, enunciando aqui as principais medidas e os principais objectivos conducentes à integração ambiental nas políticas sectoriais das economias. Mais tarde, em 2002, realizou-se em Joanesburgo a Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, tendo aqui sido reforçados os três princípios da sustentabilidade: ambiental, social e económico.

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Apesar de não consensuais, na vasta literatura sobre este tema podemos encontrar uma panóplia de definições de desenvolvimento sustentável. Contudo, em todas elas existe uma tentativa de compreender a interligação entre economia, sociedade e meio ambiente. Por outro lado, e segundo Ferreira (2004: 102), “a ideia do desenvolvimento sustentável tem na sua raiz uma noção de responsabilidade comum da humanidade e de existência de interesses recíprocos dos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento”. De uma maneira muito generalista, quando nos referimos à sustentabilidade estamos a por sobre “na mesa” um sistema de desenvolvimento que satisfaça materialmente e eticamente as necessidades da população actual sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Contudo, e segundo Clavé e Reverté. (2005: 47), “esta ideia elementar em torno da sustentabilidade não deixa de ser bastante superficial, e contrasta com um status de discussão científica em que ainda há um longo caminho a percorrer: carência de um sistema de indicadores estandardizados e de referência e, sobre tudo, a inexistência de sua sequência clara de actuações que podem levar os princípios desde a fase da declaração de boas práticas até à pática”. Segundo o mesmo autor “ a indefinição terminológica, metodológica e de acção não permite acabar de centrar cientificamente a pergunta, para além dos contrastes de interesses no desenvolvimento sustentável que os diferentes agentes sociais, regionais e os países manifestam actualmente (Clavé e Reverté, 2005: 47). Tal como aconteceu com o desenvolvimento sustentável, a introdução do turismo na filosofia do desenvolvimento sustentável também foi gradual, e a relação entre turismo, sociedade e meio ambiente permite exemplificar este processo. Por outro lado, o debate sobre a sustentabilidade do turismo foi claramente influenciado pela evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. Durante os anos cinquenta e sessenta, quando o debate ambiental era muito incipiente, a introdução do turismo de massas era visto como um factor de democratização da sociedade e falava-se do turismo como uma indústria limpa e motor de desenvolvimento. Só nos anos setenta e oitenta, e mantendo-se firme a ideia que o turismo é uma ferramenta para o desenvolvimento dos países mais pobres, à medida que cresce a preocupação ambiental é que se começa a considerar que o turismo apresenta AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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um padrão de crescimento inadequado. A partir da década noventa, devido à consolidação do pensamento verde nos vários sectores da sociedade, que teve a ver com a maior preocupação e consciencialização da procura turística com a problemática ambiental, desenvolvem-se novas formas de turismo alternativo. Assim, a indústria turística foi impulsionada para satisfazer estas novas abordagens da procura, praticando cada vez mais acções sustentáveis em relação ao turismo. Para Swarbrooke (1999), a introdução do conceito de sustentabilidade no turismo também foi feita de uma forma gradual, tendo identificada quatro etapas distintas (Quadro 1). O aparecimento, na década de oitenta, do conceito de turismo verde contribuiu de uma forma decisiva para, na década seguinte, ter-se expandido a adopção do conceito de turismo sustentável. Quadro 1. Evolução cronológica do conceito de sustentabilidade no turismo Etapas Década de sessenta

Reconhecimento dos impactos potências do turismo de massas

Década de setenta

Introdução do conceito de gestão dos visitantes

Década de oitenta

Aparecimento do conceito de turismo verde

Década de noventa

Crescente adopção do conceito de turismo sustentável

Fonte: Adaptado de Swarbrooke (1999: 8)

Quando estamos a abordar a temática do turismo sustentável não nos podemos esquecer da importância de algumas declarações internacionais sobre turismo sustentável, na medida em que essas mesmas declarações foram cruciais para a operacionalização do próprio conceito. No quadro seguinte são apresentadas, por ordem cronológica de realização, algumas das iniciativas internacionais mais importantes e que levaram a declarações sobre turismo sustentável.

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Quadro 2. Declarações Internacionais sobre Turismo Sustentável Datas

Documentos

1980

Declaração de Manila sobre o Turismo Mundial (OMT)

1982

Documentos de Acapulco sobre o Direito a Férias (OMT)r

1985

Declaração de Direitos do Turismo (OMT) Código do Turista, Sofia (OMT)

1989

Declaração de Haia sobre Turismo (OMT)

1995

Carta do Turismo Sustentável da conferencia Mundial do Turismo sustentável de Lanzarote

1996

A Agenda 21 para a indústria de viajes e turismo (OMT) A declaração de Berlim sobre diversidade biológica e turismo sustentável

1997

Declaração de Manila sobre o Impacto Social do Turismo Declaração de Calvià sobre Turismo e Desenvolvimento Sustentável no Mediterrânico.

1999

O Código de Ética Mundial para o Turismo (OMT)

2000

Código par ao desenvolvimento sustentável do desporto

2001

A Carta de Rímini da Conferência internacional sobre turismo sustentável

Fonte: Adapatado de Fullana e Ayuso (2002:35).

Atingir a sustentabilidade é hoje um princípio subjacente a todos os tipos de desenvolvimento, incluindo o turismo (Hunter e Green, 1995). Porém, Keyser (2002) argumenta que o uso de frases como “a oratória do desenvolvimento sustentável e “a operacionalização do desenvolvimento sustentável” apontam claramente a necessidade de parar de apenas falar de desenvolvimento sustentável e começar a agir para o transformar em realidade. Passar da teoria à prática, isto é, conseguir que o turismo se desenvolva de uma forma sustentada implica, como é evidente, a tomada de medidas concretas. Na vasta literatura sobre esta temática, podemos encontrar um conjunto de medidas passíveis de implementação, algumas expressas no quadro seguinte. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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Quadro 3. Medidas passíveis de implementação para a sustentabilidade turística Incluir as actividades turísticas nos processos e instrumentos de planeamento territorial Envolver a população local no processo de desenvolvimento turístico, tomando em consideração as suas opiniões, carências e anseios. Definir objectivos e estratégias de acção com vista à promoção de um turismo ambientalmente responsável Promover a utilização sustentável dos recursos e a manutenção da diversidade cultural e biológica. Melhorar a manutenção da qualidade do produto turístico, nos seus vários segmentos. Promover práticas sustentáveis entre os promotores turísticos. Desenvolver abordagens voluntárias e pró-activas para avaliar o impacto do turismo nas suas diferentes dimensões. Adopção e posterior divulgação de códigos de boas práticas. Aplicar parte dos lucros obtidos na actividade turística em programas/acções de âmbito ambiental nos locais onde a actividade é exercida. Desenvolver sistemas de informação para os turistas e população receptora, informando sobre os impactos ambientais e as medidas adoptadas para limitar os seus efeitos. Fonte: WTO (1998); Partidário (1998) e Goeldener e Ritchie (2009).

3. OS DESAFIOS DA OPERACIONALIZAÇÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL A sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade económica e a sustentabilidade sociocultural, são os três pilares fundamentais que o próprio conceito de sustentabilidade contempla. Definidos os três pilares da sustentabilidade, o principal desafio que se coloca à operacionalização do turismo sustentável é a integração harmoniosa das três dimensões, isto é, a eficácia económica, a sustentabilidade ambiental e a equidade social (Fullana e Ayuso, 2002). Em termos da componente económica da sustentabilidade, a realidade demonstra-nos que já existem melhorias introduzidas nesta componente, apesar de algumas medidas introduzidas tenham um âmbito de curto prazo e beneficiem apenas um dos actores implicados. Em relação à componente ambiental, apesar de ser uma realidade bastante AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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recente, constata-se que já se vai introduzindo a dimensão ambiental na planificação e gestão turística (Fullana e Ayuso, 2002). Contudo, ainda “não existem suficientes iniciativas que incluem os aspectos sociais e, as poucas que existem, não podem competir com as levadas a cabo no campo ambiental. Assim, “este panorama oferecenos uma sustentabilidade muito descompensada e com pouca esperança de encontrar experiências rigorosas que integrem de maneira harmónica as três dimensões da sustentabilidade”(Fullana e Ayuso; 2002: 125). Face ao exposto, o desafio mais importante em termos da operacionalização da sustentabilidade turística é então a necessidade de se encontrar mecanismos apropriados que contemplem a integração de considerações sociais, ambientais e económicas. Contudo, e segundo Fullana e Ayuso (2002) para além deste desafio, mais dois desafios se colocam à operacionalização do turismo sustentável: a necessidade de o turismo se adaptar às novas tecnologias de informação e comunicação e, por último, a necessária cooperação entre os agentes púbicos e privados (Quadro 4).

Quadro 4. Desafios da operacionalização do turismo Sustentável 1. Integração harmónica das três dimensões da sustentabilidade 2. Adaptação do turismo às novas tecnologias de informação e comunicação 3. Comunicação e a cooperação entre os agentes púbicos e privados Fonte: Adapatado de Fullana e Ayuso (2002:125).

O crescimento contínuo da actividade turística leva a que a oferta seja cada vez maior e mais diversifica em termos de destinos turísticos. Como consequência, as necessidades de informação crescem em quantidade e qualidade, dai a necessidade de adaptação do turismo às novas tecnologias de informação e comunicação. Como todos nós sabemos, os impactos do turismo são provocados por um conjunto de agentes privados e agentes públicos, sendo de todo impossível controlar cada um deles. Perante tal facto, no que concerne ao último desafio, o repto é transformar um sector tão AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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difuso e fragmentado como é o sector do turismo e obter a colaboração entre empresas turísticas, agências de viagens, organizações governamentais e não-governamentais, isto é, entre todos os intervenientes da actividade turística. Efectivamente, “o desenvolvimento de um turismo sustentável requer a criação de consórcios entre o sector público e o sector privado que prossigam objectivos ou políticas que vão mais além das questões básicas do turismo e considerem as dimensões económicas, sociais e ambientais da sustentabilidade (Fullana e Ayuso; 2002: 128).

4. TURISMO DA SERRA DA ESTRELA Em 2008, com a publicação do Decreto-Lei n.º67/2008, de 10 de Abril, procedeu-se a uma reorganização das Entidades Públicas Regionais com responsabilidades na área do turismo, passando-se de dezanove1 regiões do turismo para apenas 5 áreas regionais que reflectem as unidades territoriais utilizadas para fins estatísticos NUTS II – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Para além das cinco áreas regionais, de acordo com o artigo 4º do Decreto-Lei n.º 67/2008 (MEI, 2008: 2172), “nas áreas regionais de turismo definidas no artigo 2.º são criados os pólos de desenvolvimento turístico” (Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Alentejo Litoral e Alqueva). Assim, para além das duas direcções regionais do turismo (regiões autónomas dos Açores e da Madeira), actualmente, temos onze entidades regionais de turismo que asseguram o desenvolvimento do turismo no território continental (Quadro 5).

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As antigas dezanove regiões do turismo: Algarve, Alto Douro (Costa Verde), Alto Tâmega e Barroso, Centro, Dão Lafões; Douro Sul, Évora, Leiria-Fátima, Nordeste Transmontano, Oeste, Planície Dourada, Ribatejo, Rota da Luz, São Mamede (Norte Alentejo), Serra da Estrela, Serra do Marrão, Setúbal (Costa Azul), Templários (Floresta Central e Albufeiras) e Verde Minho. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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Quadro 5. Entidades Públicas Regionais com responsabilidade na área do turismo. Regiões Turísticas

Pólos de desenvolvimento turístico

Turismo do Porto e Norte de Portugal

Turismo do Douro

Turismo do Centro de Portugal

Turismo da Serra da Estrela

Turismo de Lisboa e Vale do Tejo

Turismo de Leiria – Fátima

Turismo do Alentejo, E.R.T

Turismo do Oeste

Turismo do Algarve

Turismo Terras do Grande Lago Alqueva – Alentejo Turismo do Alentejo Litoral

Fonte: MEI (2008).

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 67/2008, de 10 de Abril, a região de Turismo da Serra da Estrela foi extinta passando a ser um Pólo de Desenvolvimento Turístico integrado na área regional de turismo do Centro. Para além de a denominação ser diferente, a sua composição concelhia também sofreu alterações. Quadro 6. Concelhos do “Turismo da Serra da Estrela”, por Distrito. NUT II

NUT III

Beira Interior Norte

Região

Concelhos Almeida Celorico da Beira Figueira de Castelo Rodrigo Guarda Manteigas Meda Pinhel Sabugal Trancoso

Distritos

Guarda

Centro Serra da Estrela Cova da Beira

Fornos de Algodres Gouveia Seia Belmonte Covilhã Fundão

Castelo Branco

Fonte: INE (2009) Anuário Estatístico da Região Centro 2009, INE

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O actual Pólo de Desenvolvimento Turístico da Serra da Estrela passa a integrar quinze municípios: Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal, Trancoso, Belmonte, Covilhã e Fundão (Quadro 6). Comparativamente com a antiga região, saíram os Concelhos de Penamacor e Oliveira do Hospital, e entraram os Concelhos do Sabugal, Fornos de Algodres e Figueira de Castelo Rodrigo. Integrado na Região Centro (NUT II), em termos geográficos o Pólo de Desenvolvimento Turístico da Serra da Estrela é formado por quinze Concelhos pertencentes a dois Distritos distintos, ao Distrito da Guarda e ao Distrito de Castelo Branco. Em termos da área total o “Turismo da Serra da Estrela” abarca 6 305,0 Km2.. Contudo, a maior parte da sua área faz parte do Distrito da Guarda, num total de 4 930,5 Km e apenas 1 374,5 km fazem parte do Distrito de Castelo Branco (Quadro 7). Quadro 7. Densidade Populacional, Área Total e Freguesias do Turismo Serra da Estrela (2008). Concelhos Almeida Belmonte Celorico da Beira Covilhã Figueira de Castelo Rodrigo Fornos de Algodres Fundão Guarda Gouveia Manteigas Meda Pinhel Sabugal Seia Trancoso Total

Densidade Populacional Habitantes / Km2 13,5 65,1 34,7 93,8 12,9 39,8 44,1 62,0 51,0 29,9 20,0 20,3 16,1 61,6 28,6 593,4

Área Total Km2

Número de Freguesias

518,0 118,8 247,2 555,6 508,6 131,5 700,1 712,1 300,6 122,0 286,1 484,5 822,7 435,7 361,5

29 5 16 31 17 16 31 55 22 4 16 27 40 29 29

6 305,0

367

Fonte: INE (2009) Anuário Estatístico da Região Centro 2008, INE.

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Sem grande surpresa, onde existe maior densidade populacional é nos Concelhos da Guarda e da Covilhã, facto que se deve ao observado êxodo rural, justificado pela procura de emprego, aproximação dos principais serviços e melhores condições de vida. Face ao exposto, poderemos concluir que os quinze Concelhos do “Turismo da Serra da Estrela” não são homogéneos em termos da área abrangente, em relação ao número de freguesias quer à variável densidade populacional. A realidade não é diferente quando os Concelhos são analisados ao nível da oferta e da procura turística. Sendo a hotelaria considerada por muitos como a espinha dorsal da actividade turística, e pretende-se de seguida analisar a oferta e a procura turística na entidade territorial “Turismo da Serra da Estrela”. a nossa unidade de análise foram os estabelecimentos hoteleiros de interesse para o turismo, nomeadamente os hotéis, hotel-apartamento, motéis, pousadas e estalagens (excluísse da análise as residenciais, pensões e todo o tipo de unidade de alojamento relacionado com o turismo rural). Como se pode observar através do quadro 8, sãos os hotéis as unidades de alojamento mais representativas no universo em estudo, seguindo-se as pousadas e as estalagens, que existem em igual número.

Quadro 8. Distribuição das unidades alojamento, segundo a sua tipologia. Tipologia Hotel

4 **** 3 *** 2 **

Hotel-Apartamento Estalagem Pousada Motel Total

N.º de unidades de alojamento 7 14 3 2 5 5 1 37

Fonte: elaboração própria.

Analisando a região em estudo em termos da procura turística, conforme podemos observar no quadro 9 ao longo dos últimos dez anos (1999 -2008), segundo os dados do

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Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de dormidas na região “Turismo da Serra da Estrela” apresentou sempre uma tendência crescente. Quadro 9. N.º de Dormidas nos Estabelecimentos Hoteleiros no “Turismo da Serra da Estrela”, por Nut`s III, (1999 – 2008) Nº de Dormidas Beira Interior Norte Cova da Beira Serra da Estrela Total Nº de Dormidas

1999

2000

2001

2002

2003

74 281

92 252

81 228

80 944

75 853

126 642

125 704

124 153

119 769

151 951

42 203

44 257

44 634

56 214

51 174

243 126

262 213

250015

256 927

278 978

2004

2005

2006

2007

2008

Beira Interior Norte

79 835

108 600

124 573

130 951

138 405

Cova da Beira

165759

168 357

180 096

218 133

249 923

49104

42 755

46 822

48 838

53 704

294 698

319 712

351 491

397 922

442 032

Serra da Estrela Total

Fonte: : INE: Anuário Estatístico da Região Centro (2000 a 2009), INE.

Quando a análise é feita por Nut`s III, é na Cova da Beira (Concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte) onde, no período em análise, se registou sempre o maior número de dormidas. Para o ano 2008, o número de dormidas na Cova da Beira representou cerca de 57 % do número total de dormidas, na Beira Interior Norte 31 % e na Serra da Estrela cerca de12 %. Tal como já foi referido, é na Nut Cova da Beira onde existe o maior número de unidades de alojamento, o maior número de camas e o maior número de quartos.

5. TURISMO SUSTENTÁVEL NO CONCELHO DA GUARDA Sendo o “Turismo da Serra da Estrela” um Pólo de Desenvolvimento Turístico formada por quinze Concelhos heterogéneos, neste ponto do trabalho pretende-se analisar, com maior profundidade, apenas um dos seus Concelhos: o Concelho da Guarda. A metodologia adoptada no desenvolvimento da investigação exigiu a utilização de dados AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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primários. Assim, optou-se pela aplicação do método de investigação quantitativo com o software SPSS, utilizando-se como instrumento de investigação o questionário. Nesta investigação a unidade de análise são todas as unidades de alojamento existentes no Concelho, excluindo-se as unidades relacionadas com o turismo rural. A recolha de dados decorreu de Janeiro a Fevereiro de 2010. Num universo constituído por onze unidades de alojamento, o tamanho da amostra é de 10, tendo-se assim m obtido uma taxa de resposta de 91% (Quadro 10).

Quadro 10. Distribuições da amostra, segundo a sua tipologia. Tipologia Amostra Percentagem Hotel 3 30,0 Aparthotel 1 10,0 Pensão 2 20,0 Residencial 3 30,0 Motel 1 10,0 Total 10 100,0 Analisando as unidades em relação ao número de quartos e ao número de camas, constatou-se que as unidades de alojamento apresentam grandes diferenças em relação a essas mesmas variáveis. Contudo, e conforme podemos observar através do quadro seguinte, apenas os hotéis têm um número de quartos superior a cinquenta. No total, as dez unidades em estudo representam 418 quartos e 731 camas. Quanto ao número de quartos, 59,1% (247quartos) são de hotéis, seguindo-se as residenciais com 84 quartos, as pensões com 51, a motel com 24 e, por último, existem 12 quartos em Aparthotel.. No que diz respeito ao número de camas, das 731 camas, cerca de 63% são dos hotéis. Quadro 11. Número de unidades inquiridas segundo o número de quartos. Tipologia Hotel Aparthotel Motel Pensão Residencial Total

>=10

11 a 30

0

1 1 1 2 5

Número de Quartos 30 a 50 >50 3 1 1 2

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3

Total 3 1 1 2 3 10 243

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Em relação ao ano de entrada em funcionamento das unidades de alojamento da amostra, o horizonte temporal vai desde 1948 a 2008. No que concerne à taxa de ocupação/cama, segundo os inquiridos, é nos mês de Agosto e na época que existe neve na Serra da Estrela que esta variável atinge o seu valor mais alto, embora nenhuma delas apresenta uma taxa de ocupação superior a 75% (Quadro 12). Quadro 12. Taxa de ocupação/cama, em 2010. Taxa de ocupação/cama

Total

25% a 50%

51% a 75%

Pensão

0

2

2

Residencial

2

1

3

Aparthotel

1

0

1

Motel

0

1

1

Hotel

2

1

3

5

5

10

Total

Em relação aos inquiridos, apesar de todos neste momento residirem no Concelho da Guarda, quatro dos dez inquiridos são naturais de outros Concelhos. Em termos das suas habilitações académicas, 50% dos inquiridos tem curso superior, 20% tem um curso de especialização tecnológica e 30% apenas têm o 3º Ciclo do ensino básico. Dos cinco inquiridos com habilitações académicas superiores, três deles a sua formação é na área do turismo e dois na área da gestão. Foi pedido aos inquiridos para indicarem, por ordem decrescente de importância, cinco actividades económicas, que na sua opinião, apresentassem maior potencial de crescimento na região onde está localizada a sua unidade de alojamento. As actividades referidas como aquelas de apresentam maior potencial de crescimento foram as seguintes: agricultura/produção animal, restauração e similares, o termalismo, actividades desportivas e recreativas, os lacticínios e a hotelaria. Apesar de um pouco dispersas, as actividades que foram mais vezes referidas, como sendo as actividades AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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com maior potencial de crescimento e desenvolvimento, foram a restauração e similares, seguindo-se os lacticínios e a hotelaria (Quadro 13). Quadro 13. Actividades económicas com maior potencial de crescimento. Frequências Percentagem Agricultura / Produção animal 1 10,0 Restauração e similares 3 30,0 Termalismo 1 10,0 Actividades desportivas e recreativas 1 10,0 Lacticínios 2 20,0 Hotelaria 2 20,0 Total 10 100,0 De seguida, foi pedido aos inquiridos que manifestassem a sua opinião sobre o desenvolvimento do turismo na região onde se localiza a sua unidade de alojamento. Assim, quando questionados sobre o desenvolvimento do turismo da sua região, 60% dos inquiridos responderem “Insatisfatório” e 40% “Satisfatório”, não existindo qualquer resposta que indica-se o grau de “Bastante Satisfatório” ou de “Muito Satisfatório”. Perguntou-se a opinião dos inquiridos relativamente a um conjunto de vinte e duas afirmações sobre o turismo, com o objectivo de avaliar as suas percepções quanto aos impactes do turismo em Portugal, e em particular, na sua região (Quadro 14).

Quadro 14. Opinião dos inquiridos em relação a um conjunto de afirmações sobre o turismo. A Nível regional

A Nível nacional

Sim

Não

Sim

Não

8

2

10

0

8

2

9

1

9

1

10

0

9

1

9

1

O turismo tem: Contribuído para aumentar a qualificação dos recursos humanos. Contribuído para aumentar o consumo de bens e serviços produzidos na região ou país. Contribuído para aumentar quantitativa e qualitativamente as infra-estruturas e os serviços básicos. Contribuído para aumentar a oferta na área do desporto, da cultura e do lazer.

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Contribuído para melhorar da qualidade de vida dos residentes pelo rendimento gerado. Aumentado as oportunidades de emprego oferecidas à população residente. Criado novas oportunidades de negócio. Impulsionado o desenvolvimento e o crescimento de outros sectores de actividade.

8

2

9

1

9

1

9

1

10

0

10

0

8

2

10

0

6

4

8

2

8

2

9

1

3 7 3 2

7 3 7 8

6 9 5 3

4 1 5 7

Criado problemas paisagísticos.

2

8

5

5

Criado problemas urbanísticos.

3

7

6

4

Sido responsável pela destruição da biodiversidade.

2

8

4

6

Provocado a subida do preço dos bens em geral.

2

8

5

5

Sido responsável pelo aumento da quantidade de lixos.

4

6

6

4

Agravado as desigualdades sociais (porque os benefícios económicos do turismo se destinam apenas a determinadas pessoas).

5

5

4

6

Levado à perda de identidade cultural da região.

2

8

1

9

Provocado a deterioração de locais de interesse histórico e cultural.

4

6

3

7

Favorecido o planeamento e o ordenamento do território. Ajudado a preservar e a divulgar a cultura e as tradições locais. Contribuído para fixar as pessoas às regiões. Ajudado a desenvolver económica e socialmente as regiões. Contribuído para aumentar a insegurança e a criminalidade. Contribuído para diminuir a qualidade do ambiente.

Quer a nível regional, quer a nível nacional, o efeito do turismo na criação de novas oportunidades de negócio e no aumento das oportunidades de emprego, foram os efeitos que mereceram maior concordância por parte dos inquiridos. Pela negativa, segundo os inquiridos o turismo tem criado mais problemas urbanísticos a nível nacional do que a nível regional. Analisando o quadro 14, podemos concluir que, de um modo geral, os inquiridos são de opinião que o turismo de um tem mais impactes positivos do que negativos, quer a nível nacional, quer a nível regional. Assim, e segundo os empresários, o turismo tem contribuído para aumentar o consumo de bens e serviços produzidos na região ou no país, tem contribuído para aumentar quantitativa e qualitativamente as infra-estruturas e os serviços básicos, impulsionado o AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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desenvolvimento e o crescimento de outros sectores de actividade e ajudado a desenvolver económica e socialmente as regiões. De seguida, perguntou-se a opinião dos inquiridos relativamente a um conjunto de medidas tomadas na região, com o objectivo de estimular a atractividade e aumentar a competitividade turística na sua região (Quadro 15).

Quadro 15. Opinião dos inquiridos em relação a um conjunto de medidas tomadas na sua região, para aumentar a competitividade turística.

Preservar e valorizar o património cultural Preservar e valorizar o património natural Favorecer o planeamento e ordenação do território Valorizar o papel das cidades como factor de desenvolvimento sustentado do turismo Conceber novos produtos e serviços turísticos centrados na sustentabilidade Criar factores distintivos (história, cultura, gastronomia) Aumentar a qualidade dos serviços prestados Aumentar a hospitalidade por parte dos residentes Aumentar os meios de divulgação Aumentar a qualidade do ambiente Envolver os turistas nas questões ambientais Envolver a comunidade local nas questões ambientais Promover uma ampla distribuição dos benefícios do turismo pela comunidade local Desenvolver o turismo reflectindo as opiniões da comunidade local

Muito insatisfatórias

Insatisfatórias

Satisfatórias

Bastante satisfatórias

Muito satisfatórias

0

1

7

1

1

1

8

1

4

4

1

1

3

4

1

2

4

3

1

2

4

3

1

1

2

6

1

1

3

5

1

1

5 3

3 6

1 1

6

3

1

5

5

6

4

1

7

1

1

2

No conjunto das catorze medidas em análise, segundo os inquiridos nenhuma medida tem sido “Muito satisfatória”. Por outro lado, foram referidas sete medidas como AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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“Muito insatisfatórias”. Medidas no sentido de favorecer o planeamento e o ordenamento do território, as medidas que visam criar factores distintivos na região ou de conceber novos produtos e serviços turísticos centrados na sustentabilidade, são aquelas que segundo os inquiridos são mais referidas como insatisfatórias. Por outro lado, as medidas que visam desenvolver o turismo reflectindo as opiniões da comunidade local, na opinião dos inquiridos, são aquelas que são mais satisfatórias. Questionados sobre o nível do desempenho da sua unidade turística com impacto ambiental, seis das unidades consideram que têm tido um desempenho satisfatório e apenas uma delas considera o seu desempenho muito satisfatório (Quadro 16).

Quadro 16. Desempenho das unidades turísticas com impacto ambiental Unidade de Alojamento Pensão

Muito Insatisfatório

Insatisfatório

Satisfatório

Bastante Satisfatório

Muito Satisfatório

2

Residencial

3

Aparthotel

1

Motel

1

Hotel

2

1

3

1

Total

0

0

6

Pediu-se aos inquiridos que indicam-se, por ordem decrescente de importância, cinco medidas que, na sua opinião, devem ser tomadas para aumentar a competitividade turística da sua região. No total das respostas, obteve-se um conjunto de treze medidas que deviam ser promovidas na região em estudo (Quadro 17).

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Quadro 17. Opinião dos inquiridos em relação às medidas a implementar. Medidas a tomar…







Divulgar a nível nacional e internacional a Região.

6

2

1

Promover mais os produtos regionais já existentes. Criar novos produtos regionais e divulgar mais aqueles que já existem.

2

3

Mais incentivos para as empresas. Melhorar as acessibilidades e as infra-estruturas de determinados locais de interesse turístico acessibilidades á região. Diversificar em termos temporais actividades de atractivo turístico, envolvendo cidades e aldeias históricas.

1

3





1

1

2

1

2

2

1

3

1

Preservar e divulgar os locais históricos.

2

Preservar e valorizar o património natural.

2

Aumentar e diversificar a oferta turística em termos de lazer e actividades desportivas.

1

2

3

1

2

Aumentar a oferta em termos de apoio ao turista.

1

1

Promover campanhas promocionais na região.

1

Maior divulgação dos eventos culturais/religiosos da região.

1

Recursos humanos mais qualificados na área do turismo.

1

Total

10

10

10

10

10

Conforme podemos observar no quadro, “divulgar a nível nacional e internacional a região” foi a medida que mais vezes foi referida, como a primeira medida a ser necessário implementar na região. Contudo, seguindo os inquiridos é de extrema importância para a região criar novos produtos regionais e divulgar mais aqueles que já existem, diversificar em termos temporais actividades de atractivo turístico, envolvendo cidades e aldeias históricas, bem como, preservar e valorizar o património natural. No conjunto das quinze medidas, as medidas que menos vezes foram referidas pelos inquiridos, foi a necessidade de divulgar mais os eventos culturais e religiosos da região e a necessidade de se aplicarem medidas que levem a que a região seja dotada de recursos humanos mais qualificados na área do turismo. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para perceber as origens e o conceito de turismo sustentável, é necessário compreender o conceito de desenvolvimento sustentável, bem como a evolução que o próprio conceito sofreu ao longo do tempo, pois o debate sobre a sustentabilidade do turismo foi claramente influenciado pela evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. Por outro lado, o desenvolvimento sustentável no turismo não se refere unicamente a um problema de adequação da vertente ecológica a um processo social, mas a uma estratégia multi-dimensional da sociedade, que deve ter em atenção tanto a viabilidade ambiental como a económica. Face ao exposto, o desafio mais importante em termos da operacionalização da sustentabilidade turística é então a necessidade de se encontrar mecanismos apropriados que contemplem a integração de considerações sociais, ambientais e económicas. No Pólo “Turismo da Serra da Estrela”, o turismo é uma actividade económica extremamente importante, desempenhando um papel decisivo em termos do crescimento e do desenvolvimento dos quinze Concelhos que dele fazem parte. Dada a grande importância económica que o turismo assume no “Turismo da Serra da estrela”, é um imperativo que o seu desenvolvimento se faça de uma forma sustentável. Dotado de recursos culturais, paisagísticos e naturais únicos, este território tem vindo a afirmarse nacional e internacionalmente em áreas como o turismo sustentável de natureza, o turismo cultural e mais recentemente pelo turismo de saúde, ligado à água. Os empresários das unidades de alojamento da região turística “Turismo Serra da Estrela” estão conscientes que o desenvolvimento sustentável do turismo vai de encontro às necessidades das regiões turísticas, pois protege e aumenta as oportunidades de desenvolvimento dessas mesmas regiões. Contudo, o estímulo a um turismo sustentável na região parece estar ainda longe de todas as suas potencialidades.

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