Um acontecimento chamado linguagem/UN ÉVÉNEMENT APPELÉ LANGUAGE (2010) PDF

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UM ACONTECIMENTO CHAMADO LINGUAGEM Por Alex Pereira de Araújo A linguagem é tão natural a nós, falantes-ouvintes (ideal ou real), interlocutores, locutores, oradores, sujeitos, seres da língua(gem), que esquecemos que, como o coração, ela, a linguagem é indispensável para nossa vida, para nossa existência. Noam Chomsky, linguista e ativista político norte-americano, chega a dizer que a linguagem é como um órgão do corpo, com seu sistema, com suas funções. Desse órgão fazemos uso de forma performática como seres da língua(gem), mas para o linguista ge(ne)rativista o que importa é a competência linguística; é a ela que o linguista dever se dedicar. Em meio a essa discussão feita por meio de linguagem para seres de linguagem, ensaiamos a busca de uma ou mais respostas para as questões: “A linguagem é reflexo do pensamento? É instrumento de comunicação ou é um jogo que se joga para interagirmos com outro ser?” Para nós, professores e professoras, estudantes da língua(gem), num momento como esse de profundas mudanças, pensar essas questões e buscar respostas (para o outro, já que a linguagem é social) nos garante o estatuto de sujeitos de Linguagem. No sentido político e ideológico da palavra (linguagem), mas do que encarar os eventos da linguagem como ações de uma capacidade humana de construir símbolos linguísticos, é percebê-la como uma atividade construtiva, cujo locus de realização é a interação verbal. Nesse sentido, pensava Mikhail Bakhtin, pensa João Wanderley Geraldi que um EU e um TU relacionam-se para construir os próprios instrumentos (a língua) que lhes permite a intercompreensão. Todas essas questões cabem num prêmio Nobel? Por que não há uma categoria para os linguistas? Talvez porque pensamos no direito da palavra, no poder que a língua(gem) tem, seja no cultivo de uma flor, seja na produção da bomba atômica. O átomo nada mais é do que um efeito de linguagem em ação e re-ação. O diálogo é quem pode mais. No mundo Matrix, somos levados a pensar o que é de fato a realidade por meio da linguagem do cinema. A existência da linguagem, no nosso mundo, tal como no filme, possibilita construções como "verdade", "mentira", "vida eterna", Deus, oráculo, universo. A Alegoria da caverna (de Platão) nos mostra que muitas vezes somos conduzidos pelos sentidos a ver coisas que só existem no mundo virtual - possibilidades dadas pela linguagem. Algumas são miragens outras balas perdidas. Outras um código como o DNA pedindo para ser descodificado. Nesse sentido, Nietzsche, Derrida, nos convidam a destruir a língua(gem), a (des)construí-la sempre para não perder a Humanidade que há em nós, ou o Deus que habita em cada um de nós, o Deus da possibilidade de criar pela linguagem mundos, elos, pontes, relação, diálogo. A linguagem é um acontecimento divino e humano. Criamos Deus ou fomos criados por Ele? O fato é que a linguagem nos conduz a vários caminhos. Nietzsche dizia que Deus existe porque ainda acreditamos na gramática e ela, ao que nos parece, é uma criação dos gregos, dos grandes filósofos que buscavam traduzir o real em linguagem. Mais tarde se descobriu que na Índia existia uma gramática para o sânscrito cujo objetivo era ligar os sacerdotes a divindade num tempo tão remoto quanto aquele da Grécia Clássica. No século XX, o mundo das ciências assistiu ao surgimento do estruturalismo saussuriano, o qual dá a Linguística a autonomia necessária para ser uma ciência independente. Ferdinand de Saussure consegue, com uma precisão cirúrgica, estabelecer um objeto e um método próprio que pouco a pouco vai influenciando as demais Humanidades. Eis um homem que se assemelha ao Criador. Emile Benveniste, ao se referir a Saussure, escreveu: “há em todo criador uma certa exigência, escondida,

permanente, que o sustenta e o devora, que lhe guia os pensamentos, lhe designa a sua tarefa, estimula-o nas suas fraquezas e não lhe dá trégua quando tenta escapar-lhe.” Até o aparecimento de Noam Chomsky no cenário da Linguística norte-americana, as ideias de Saussure ganharam o mundo através do antropólogo Claude Lévi-Strauss e do linguista Roman Jakobson. Eles conseguiram ampliar as discussões presentes no Curso de Linguística Geral, transportando para outras ciências humanas o método desenvolvido por Saussure. O trabalho de Émile Benveniste também é relevante para a divulgação do método saussuriano que acaba por se transformar em um "megaparadigma" teórico entre as Humanidades (Antropologia, História, Sociologia, Crítica literária etc.). A genialidade de Chomsky é recuperar ideias esquecida e/ou mal-acabadas como as do pensador francês René Descartes, Platão (a teoria inatista da linguagem) e do pensador alemão Wilhelm Von Humbolt com a sua “revolução cognitiva”, no dizer de Chomsky. A teoria chomskiana da gramática gerativa (ou generativa) busca descrever a competência dos falantes para construir a GU (gramática universal), uma gramática para explicar este acontecimento que é a linguagem humana. Dessa forma, as ideias de Chomsky (re)abrem horizontes no estudo da linguagem e da mente. Do outro lado do Atlântico, na Europa, pensadores como Michel Foucault e Jean François Lyotard tentam refletir acerca dos acontecimentos da linguagem na construção do mundo chamado modernidade. Foucault é aquele que vai fazer a arqueologia na linguagem dos sistemas de pensamento e Lyotard aquele que vai identificar, de certa forma, uma crise neste sistema ou o crepúsculo desta linguagem que rege o nosso mundo. Tudo isso a partir do discurso, um dos elementos das grandes narrativas, ou melhor, do grande rio de linguagem onde circulam a ordem, o poder, o saber, o dizer, a modernidade em si mesma. O filósofo Jacques Derrida, contemporâneo de Foucault e Lyotard, como dissemos antes, é um desconstrutor das linguagens do rio chamado Metafísica Ocidental, um rio do tamanho do oceano Atlântico. Este rio começa lá na Grécia e corre pelo Ocidente a fora em vagas movidas pelo forte vento dos acontecimentos. Não há um só evento no mundo dos homens em que ela não esteja presente. Em meio a todos eles, a linguística serve como mediadora, tendo como centro ora a própria linguagem (como pensava Saussure, pensa Chomsky), ora os sujeitos envolvidos pela linguagem (como pensava Benveniste, como pensava Bakhtin). As questões continuam abertas, quem tiver língua(gem) que prossiga navegando em suas vagas para não se afogar nelas. No princípio era o VERBO, no meio do caminho tinha uma pedra... a pedra angular da Torre de Babel onde a linguagem se fragmentou em línguas para que fosse mantido o pode do Pai (Babel). O poder de quem tudo pode; tudo sabe. O poder divino da criação, seja a de um grão de areia, seja da Via Láctea, do universo.

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