Uma analise comercial das exportações pernambucanas: Desafios e oportunidades

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS


GABRIEL MASCARENHAS
JÚLIA ROSA








UMA ANÁLISE COMERCIAL DAS EXPORTAÇÕES PERNAMBUCANAS:
Desafios e oportunidades













RIO DE JANEIRO
2015



Objetivo:
Nessa analise pretendemos entender e analisar os motivos que fazem o estado de Pernambuco não ter sua importância econômica no Nordeste e no Brasil refletida em seu comércio exterior. Para isso analisaremos primeiramente a participação dos principais produtos na pauta de exportação pernambucana e as perspectivas para os próximos anos. Depois faremos uma analise dos principais polos de indústria e tecnologia do estado, com isso pretendemos descobrir as possibilidades de Pernambuco em aumentar a participação de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações do estado.

Panorama geral de Pernambuco e sua economia

Pernambuco é o segundo estado mais populoso do Nordeste, tendo também a segunda maior economia da região. A capital Recife possui a maior região metropolitana nordestina e o polo Petrolina-Juazeiro é o maior centro econômico do sertão. Pernambuco também é líder em indicadores sociais, possuindo a melhor qualidade de vida e a maior renda per-capita do Nordeste. Essas estatísticas, no entanto não garantiram ao estado uma participação no comercio exterior brasileiro compatível com sua er
Pode-se perceber que o estado tem grande potencial para ser um grande polo exportador, a tabela abaixo mostra o quão irrisória sua participação é comparada a outros estados brasileiros.



No ano 2014, o estado de Pernambuco apresentou 0,42% de participação na exportação do Brasil, ficando na 16ª posição no país e 4º no Nordeste, atrás da Bahia, Maranhão e Ceará. De 2013 para 2014, Pernambuco teve sua maior queda, de quase 50% da pauta de exportações, como pode ser analisado no gráfico abaixo.

Fonte: elaboração própria. Dados: Aliceweb2
Como pode se ver, Pernambuco mantinha uma média de crescimento das exportações, em 2013 teve um aumento significativo que acompanhou uma queda brusca em 2014. Para tentar entender os motivos para tal mudança é necessário primeiro analisar como andam os principais produtos da pauta de exportação de Pernambuco.

Principais produtos da pauta de exportação

Produtos provenientes da cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar é o principal produto da pauta de exportação de Pernambuco desde o Brasil Colônia. Em seu auge contava com 40 usinas, porém atualmente o número caiu para apenas 16 usinas ativas. Antigamente a atividade canavieira empregou mais de 350 mil pessoas no campo, atualmente são cerca de 80 mil empregos formais. A produção nacional do açúcar e álcool enfrenta uma crise, mais forte ainda na região nordestina, mais acidentada e vitima de decorrentes secas. O gráfico a seguir mostra a evolução das exportações da cana-de-açúcar no estado de Pernambuco entre 1992 e 2014.

Fonte: elaboração própria. Dados: Aliceweb2
Como podem ser analisadas, as exportações variaram bastante durante os anos, tendo uma queda expressiva a partir de 2011 até os dias de hoje. Esse cenário é contrastante com Pernambuco no século 20, quando era o líder na produção de cana no Brasil. Atualmente a cana pernambucana representa apenas 3% da produção nacional. Nos últimos 10 anos, 8 usinas fecharam por falta de competitividade. As quedas expressivas na produção de cana-de-açúcar possuem relação direta com as características topográficas e climáticas de Pernambuco, o seu relevo é muito acidentado e tem pouca ocorrência de chuvas. Dessa forma o custo com o maquinário, de manejar a terra, ou seja, formas de superar esses obstáculos fazem com que o custo de produção aumente tornando o produto final caro e a produção de cana pouco atrativa.
No intuito de mapear novos mercados e novos destinos para as exportações pernambucanas, é imperativo analisar o destino da cana-de-açúcar. O gráfico abaixo apresenta os principais países importadores da cana pernambucana.


Fonte: elaboração própria. Dados: Aliceweb2
O gráfico nos mostra que Rússia e Estados Unidos são os principais importadores da cana-de-açúcar, além da Índia e França também apresentarem um papel significativo. Países com mercados potencias, como China, Argentina e Alemanha foram analisados e significantemente não importaram sequer um grama da cana-de-açúcar pernambucana.

Plataformas de perfuração / exploração flutuante
Devido à criação do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), localizado no Complexo do Porto do Suape em 2005, o Estado de Pernambuco tem despontado na indústria naval do Brasil. O Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro permitiu que Pernambuco, antes famoso pela sua cana, construísse estaleiros, embarcações e plataformas de perfuração. Produtos como esse possuem altíssimo valor agregado, um exemplo disso é que a plataforma P-62, produzida no EAS para atuar na Bacia de Campos resultou em uma mudança drástica no quadro de exportações pernambucanas. Apesar de a Petrobras ter feito a encomenda ao Estaleiro para atuar dentro do Brasil, a P-62 foi registrado no Panamá, onde os impostos sob o produto são menores. Dessa forma, a plataforma que vale US$1,154 bilhão fez com que a pauta de exportação de Pernambuco subisse vertiginosamente. O gráfico abaixo mostra a comparação entre o total exportado por Pernambuco em US$ e o total exportado em plataformas de perfuração / exploração flutuante no mesmo período. Em 2012 o estado pernambucano teve retorno de US$404.888.350 por causa das plataformas e em 2013 US$1.154.914.316, o valor da P-62.

Fonte: elaboração própria. Dados: Aliceweb2
Utilizando-se da correlação entre os dois fatores, (total exportado por Pernambuco e total de plataformas exportads por Pernambuco) podem ser visto uma relação de Pearson aproximadamente de 0,889, ou seja, apresenta alta correlação.

Frutas
A fruticultura do Estado de Pernambuco está em expansão, principalmente no Vale do São Francisco, que apresenta região fértil fortalecida por conta da irrigação. Nos 120 mil hectares que correspondem aos perímetros irrigados da Bahia e Pernambuco são produzidos por ano mais de um milhão de toneladas de frutas, principalmente a uva e a manga. A pouca chuva e o clima seco trazem benefícios para a produção das frutas, principalmente pela ausência de pragas.



Fonte: elaboração própria. Dados: Aliceweb2


O gráfico acima mostra a evolução da exportação da manga no estado de Pernambuco, desde 1997 foram exportados US$ 403 milhões. Os seus destinos, majoritariamente, foram a União Europeia (US$ 326,7 milhões) e Estados Unidos (US$56,8 milhões). Nos últimos anos com a valorização das moedas estrangeiras em relação ao real, o preço dos produtos no mercado internacional se tornou mais competitivo, dessa forma o mercado de frutas pretende aumentar suas exportações.

Além de ser um grande exportador de manga, a região do Vale do São Francisco, com seu centro em Petrolina, é um dos principais polos de produção de uva e vinho do país. A região se caracteriza por ser o polo vinicultor mais próximo a Linha do Equador no planeta, a peculiaridade do vinho é graças ao clima seco e a irrigação das aguas do rio São Francisco. Apesar de o Rio Grande do Sul ainda deter 90% do mercado, as vinícolas pernambucanas são reconhecidas internacionalmente e possuem um enorme potencial de crescimento. Como pode ser visto pelo quadro abaixo, o estado possui a terceira maior área de cultivo de uva no país:

Estados/ Ano
2008
2009
2010
2011
2012
Rio Grande do Sul
776.027
737.363
66.214
829.589
840.251
Pernambuco
162.977
158.515
168.225
208.660
224.758
São Paulo
184.930
177.538
177.538
177.227
176.902
Santa Catarina
58.330
67.546
66.214
67.767
70.909
Paraná
101.500
102.080
101.900
105.000
70.500
Bahia
101.787
90.508
78.283
65.435
62.292
Minas Gerais
13.711
11.773
10.590
9.804
10.107




HECTARES PLANTADOS POR ESTADO

Pernambuco, no entanto possui uma alta produtividade e esta na segunda colocação em relação à produção:
TONELADAS PRODUZIDAS POR ESTADO
 Estados/ Ano
2008
2009
2010
2011
2012
Pernambuco
7,083
7,104
8,801
6,963
6,813
Bahia
4,376
3,724
3,273
2,762
2,624
Minas Gerais
911
854
853
785
762
São Paulo
10,717
9,751
9,751
9,751
9,751
Paraná
5,801
5,801
5,801
6,001
6,202
Santa Catarina
4,836
4,937
5,052
5,009
5,176
Rio Grande do Sul
49,819
50,415
50,389
50,646
51,152

Como já dito, o mercado de frutas está em expansão e as uvas surgem como um importante produto para a participação pernambucana nesse setor. Além disso, o mercado de vinhos ainda é tímido no Brasil, por aqui se consome uma media de 2 litros por ano enquanto na Europa essa media chega a 25 litros por ano, e existe grande espaço para crescimento. As oportunidades em um futuro próximo no mercado eterno já justificam por si so investimentos na produção, o mercado internacional no entanto surge como outra motivação. O mercado de vinhos é extremamente globalizado e o principal parceiro comercial do pais, a China, é o maior importador de vinhos do planeta.

PROJETOS DE INFRAESTRUTURA

Complexo Industrial Portuário do Suape
O Complexo do Porto do Suape é um dos complexos mais completos da Região Nordeste, são mais de 100 empresas instaladas e outras 35 em fase de implantação. A história do porto inicia-se em 1983 quando tem inicio as suas operações, que na época se limitava na movimentação do álcool da Petrobras. Em 1991 deixa de ser um porto industrial para ser um porto concentrador de carga de uso público. Há um processo de expansão do porto em 2001 onde novos píeres são construídos, e entre 2007 e 2010 são investidos US$ 17 bilhões na implementação de empreendimentos estruturadores. O Complexo Portuário do Suape, que abriga atualmente o Estaleiro Atlântico Sul e a Refinaria Abreu e Lima, é considerado o responsável pelo dinamismo do estado de Pernambuco. Entre os estados nordestinos, Pernambuco foi o que concentrou o maior investimento do governo federal, entre 2011 e 2014 foram investidos mais de R$ 72 bilhões. Apesar da situação econômica pernambucana não estar muito bem, o Complexo em 2013 teve o maior faturamento dos últimos 13 anos com R$89,5 milhões.


Estaleiro Atlântico Sul
Teve o projeto lançado em 2005 após uma parceria entre os grupos Camargo Correa e Queiroz Galvão, e iniciou suas operações no ano de 2008. O estaleiro fazia parte do projeto do presidente Lula de renovação e modernização da industrial naval brasileira, e o primeiro navio lançado foi o petroleiro Joao Candido, a primeira grande embarcação produzida nacionalmente em 13 anos. Nos anos de 2012 e 2013, plataformas vendidas pelo estaleiro a Petrobrás, de longe seu principal cliente, foram as principais responsáveis por impulsionar as exportações de Pernambuco já que foram registradas no Panamá, mesmo sem nunca terem saído de aguas brasileiras. A atual crise na estatal esta causando grandes problemas para o estaleiro, ambos os grupos que o controlam também estão envolvidas na operação lava-jato. A empresa Sete Brasil, contratada da Petrobras, deve entre 4 e 6 bilhões de reais ao estaleiro, e caso essa valor não seja pago a situação econômica deve-se agravar já que este esta em divida com diversos credores.
Porto Digital
O Porto Digital é um polo de Economia Criativa e desenvolvimento de softwares localizado no Recife. Criado no ano 2000 pelo governador Jarbas Vasconcelos, abriga atualmente 250 empresas e instituições de setores como Tecnologia da Informação e Economia Criativa, sendo o maior parque tecnológico do país. O mercado das empresas do Porto Digital ainda se concentra no país, principalmente na região Nordeste, enquanto a exportação representa somente 1% do faturamento (índice acima da média nacional que é de 0,06%). Nos tempos de alta do dólar, no início da década, muitas empresas tiveram altos faturamentos com o mercado externo, algo que pode se repetir no atual momento. O principal problema apontado por executivos do setor para a pouca participação global das empresas brasileiras de tecnologia é a falta de políticas especificas para o setor. Outro fator é em relação à mão de obra, ponto em que torna a competividade com a Índia (uma gigante no mercado de TI) difícil, mas projetos de qualificação são fundamentais para o crescimento das empresas e das exportações. Com esse objetivo de qualificação e internacionalização diversas parcerias com universidades e institutos estrangeiros nos últimos anos.
Polo Farmocoquímico 
O Polo Farmocoquímico de Pernambuco se localiza na cidade de Goiana, no interior do estado, e é o primeiro do tipo no Brasil, foi criado por lei em 2006 e esperasse que esteja totalmente ocupado em 2016. A principal empresa ali instalada é Hemobrás, ligada ao Ministério da Saúde, que tem como objetivo realizar pesquisa na área de desenvolvimento de remédios derivados do sangue. O principal foco da empresa é o atendimento do SUS, evidenciando um foco maior no mercado nacional pelas empresas do polo. No entanto, devido à alta tecnologia e inovação a tendência é que o polo se torne referencia internacional, e com isso o mercado internacional torna-se uma opção viável para as empresas. Aquelas que já possuem um foco no mercado externo já se distanciaram no polo e preferiam se instalar no Recife graças a proximidade do porto, como foi o caso da Novartis. A principal ajuda do polo em relação a balança comercia brasileira é diminuir nossa dependência externa sobre medicamentos.

Refinaria Abreu e Lima

A Refinaria do Nordeste ou Abreu e Lima está localizada no Complexo Industrial Portuário do Suape, no município de Ipojuca. É um projeto elaborado pela Petrobras, que desde os anos 80 analisava a construção de uma nova refinaria no Brasil no Nordeste. Tem como objetivo produzir óleo diesel, complementando a oferta do produto no mercado brasileiro visto que há a necessidade da importação. Também produzirá outros derivados como nafta, coque de petróleo, gás liquefeito de petróleo (GLP), gasóleo pesado de coque para ser utilizado como combustível marítimo ou na indústria. A refinaria visa atender as regiões Nordeste e Norte. É considera a primeira refinaria de petróleo brasileira construída apenas com tecnologia nacional. Suas atividades tiveram inicio em dezembro de 2014, porém devido a casos de corrupção ligadas a Petrobras e a Refinaria, o chamado Trem 2 teve sua construção interrompida com 80% de conclusão. Estudos apontam que a Refinaria dará um prejuízo de ao menos US$ 3,2 bilhões a Petrobras. Atualmente, a obra de Abreu e Lima é a mais cara em andamento no Brasil, o custo estimado inicial era de US$2,4 bilhões, porém deve chegar aos US$18,5 bilhões. Apesar disso tudo, não se pode deixar de afirmar que a Refinaria trará avanços econômicos para o estado de Pernambuco.


Considerações Finais
Nos últimos anos o Brasil aumentou significamente sua participação na economia mundial, o estado de Pernambuco, no entanto não foi capaz de aliar seu crescimento econômico a uma inserção no mercado internacional. Em uma época de globalização e abertura comercial, estratégias econômicas adequadas são de suma importância para que o estado aproveite seu potencial e as oportunidades do comercio internacional. Nessa pesquisa tínhamos o objetivo de verificar como a pauta de exportações pernambucana de organiza e os motivos pelo o estado não acompanhou a tendência brasileira crescimento no comercio exterior, a fim de formular possíveis politicas para superar essa situação. O que encontramos foi que as exportações pernambucanas estão muito concentradas no setor primário, com o setor de bebidas e alimentos como líder das exportações. A cana de açúcar ainda é o principal produto exportado pelo estado, mas ela possui baixa competividade em relação à produzida no Centro-Sul do país. O destino das exportações de Pernambuco também é pouco diversificado, com uma baixíssima participação de países como Índia e China que nos últimos anos se tornaram importantes parceiros comerciais do país.
Recentes investimentos na área de infraestrutura e tecnologia, no entanto trazem novas possibilidades para a melhoria no quadro comercial do estado. O complexo de Suape, o polo Farmocoquímico e o Porto Digital trazem boas perspectivas para uma maior participação de bens manufaturados e de maior valor agregado na pauta de exportações. Mas para que isso aconteça serão necessários mais investimentos na área de educação e qualificação da mão-de-obra, fatores de produção ainda escassos no estado e de suma importância para absorção de emprego nesses novos empreendimentos.










Referências Bibliográficas

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FIGUEIREDO, Adelson e DOS SANTOS, Luiz. Economia de Pernambuco: transformações recentes e perspectivas no contexto regional globalizado. Disponível em
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JORNAL DO COMMERCIO. Disponível em: >http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2014/09/13/pernambuco-desponta-na-retomada-da-industria-naval-no-pais-145461.php< Acesso em:

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BLOG DA UOL. Disponível em: >http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/01/25/exportacoes-caem-5261-em-pernambuco-em-2014-maior-retracao-pais/< Acesso em: 1 de Julho de 2015.

Evolução da exportação da manga (2000-2014)



Quadro Comparativo



Principais Destinos da Cana
(1997-2015)




Total de Exportacoes de Pernambuco (2000-2014)