Uma análise crítica do existencialismo teológico de Bultmann

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Uma análise crítica do existencialismo teológico de Bultmann

Introdução A interpretação existencialista de Bultmann surge em 1941 durante a Segunda Grande Guerra. Momento tenso e de busca de sentido. Bultmann não sofreu nenhum tipo de perseguição por parte do III Reich, mas isso não quer dizer que tenha aderido ao nazismo como seu colega Heidegger. No entanto, o cenário contribuiu fortemente para a construção de uma filosofia da existência. Bultmann, em seu artigo, Novo Testamento e mitologia, explica como se deve ser feita a interpretação do Novo Testamento no contexto do homem moderno. E para isso lança mão da filosofia existencial de Heidegger. Este artigo de 1941 será um divisor na história da teologia do século 20, pois marca o distanciamento de Bultmann da teologia liberal e da teologia dialética. Nos meios conservadores cristãos a desmitologização bultmanniana não passa de mais uma heresia, um ateísmo disfarçado de cristianismo. Nos meios liberais cristãos, a teologia de Bultmann é vista como ultraconservadora, sendo considerada por muitos teólogos uma teologia autoritarista. O objetivo deste artigo é fazer uma breve análise da interpretação existencial de Bultmann e assim sabermos, ainda que superficialmente, se sua teologia é uma interpretação legítima da mensagem cristã ou mais uma tentativa de alinhar o Evangelho às necessidades e exigências de uma época.

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1. O Problema

Para se fazer uma análise da proposta de desmitologização 1 do Novo Testamento feita por Bultmann, é preciso que apresentemos o problema levantado pelo teólogo. O problema é apresentado da seguinte forma, existe um desencontro entre a concepção do universo do homem neotestamentário e o homem contemporâneo. E desse desencontro, Bultmann inicia seu artigo com a seguinte afirmação: “A concepção do universo do Novo Testamento é mítica”2 O homem contemporâneo pós-revolução científica não pensa o universo da mesma forma que o homem do primeiro século. A questão aqui não gira apenas em torno de questões empíricas, mas, principalmente, de questões hermenêuticas. Em outras palavras, Bultmann não quer afirmar a ciência em detrimento da teologia bíblica, mas fazer o exercício hermenêutico e purificar a mensagem neotestamentária. Purificar das impurezas mitológicas nela inseridas. Dessa forma, o nosso teólogo faz uma lista de elementos míticos na mensagem neotestamentária, elementos que descaracterizariam a verdade do Evangelho, como descreve Hägglund: (…) a cosmovisão do Novo Testamento, com seu conceito de demônios e ações sobrenaturais, de milagres, da preexistência de Jesus, dos cataclismos dos últimos dias, etc., é incompatível com o conceito de realidade do homem moderno. Bultmann refere-se a esses elementos neotestamentários como sendo “mitológicos”. Como devem ser eles interpretados? Como deve o homem que recebeu uma educação moderna encará-los? Este é o problema, tal como Bultmann o formula3.

Para Bultmann esses elementos são fáceis de ser identificados, pois pertencem a apocalíptica judaica e ao mito gnóstico da redenção. O problema que Bultmann identifica é que a concepção mítica do universo é um elemento intrínseco à proclamação da mensagem neotestamentária. Em outras palavras, o conhecimento mítico e temporal acerca do universo se mistura com a mensagem atemporal do Evangelho e dessa forma, a própria concepção humana do universo se torna infalível, se torna palavra de Deus. Daí vem a impossibilidade ou incoerência do anúncio da mensagem de fé exigir da contemporaneidade a aceitação da fé 1

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Usaremos nesse artigo a palavra “desmitologização” utilizada pelos tradutores Walter O. Schlupp e Walter Altmann, sempre quando nos referirmos ao artigo “Novo Testamento e Mitologia” editado pela Sinodal. Em algumas referências aparecerá o termo “desmitificação” mais apropriado para nossa língua, pois o verbete “desmitologização” é desconhecido em nossos dicionários, no entanto respeitaremos a tradução clássica da editora Sinodal. BULTMANN, Rudolph. Crer e compreender: artigos selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p.13. HÄGGLUND, Bengt. História da teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1981, p.351.

3 junto com o entendimento mitológico do universo. Como afirmava nosso teólogo: “os escritores do Novo Testamento tinham a intenção de escrever não a arquitetura do universo, mas os fatos de sua própria existência”4. Nesse sentido, Bultmann entendia que os elementos míticos na mensagem neotestamentária eram obstáculos para sua aceitação por parte da modernidade. Dessa forma o Evangelho soava como algo estranho, incoerente e por culpa da sua não adaptação contextual. Por isso é preciso “interpretá-lo e reexprimi-lo através de categorias mentais que reflitam a autocompreensão que hoje o homem tem de si mesmo”5 Para Bultmann, a tarefa da desmitologização da proclamação cristã é de responsabilidade da teologia e para isso ela precisa encontrar uma “verdade independente da concepção mítica do universo”6 Isso não quer dizer que Bultmann propunha a eliminação total dos elementos míticos, essa era a proposta da teologia liberal, mas também a aceitação desses elementos como verdades eternas por estarem no texto sagrado não seria intelectualmente honesto, pois transformaria a experiência da fé meramente em ato humano. Bultmann propõe um meio termo, ou seja, uma alternativa entre a perspectiva liberal e a perspectiva dialética, a saber: “(…) que o mitológico [não] seja eliminado, mas antes que seja interpretado de acordo com sua finalidade original”7 E cabe ao teólogo “valer-se da história, da hermenêutica e da filosofia. As duas primeiras o ajudarão a descobrir o núcleo central da mensagem cristã; a terceira lhe permitirá exprimi-lo de maneira eficaz e inteligível para o homem moderno”8 A grande tarefa teológica da desmitologização do Novo Testamento só pode ser concebida, ou melhor, só é possível numa perspectiva existencialista. Por isso Bultmann se afastou dos liberais e dialéticos que rejeitavam os mitos, pois o mito não expressa algo objetivo, factual, mas sinaliza a autocompreensão humana diante do universo. Daí a necessidade da interpretação existencial dos mitos neotestamentários. Como observou o próprio Bultmann: (…) desmitologizar não significa recusar a escritura em sua totalidade ou a mensagem cristã, senão que eliminar de uma e de outra a visão bíblica de mundo, que é a visão de uma época passada, com demasiada frequência ainda mantida na dogmática cristã e na pregação da igreja9. 4

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ZILSE, Raphaelson Steven. Cristianismo existencial: a hermenêutica da existência cristã em Kierkegaard, Bultmann e Tillich. Disponível em: . Acesso em 20 mar. 2015. MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século vinte: os teólogos protestantes e ortodoxos. São Paulo: Paulinas, 1979 – 1980, p.119. BULTMANN, Rudolph. Op. Cit., p.14. HÄGGLUND, Bengt. Op. Cit., p.351. MONDIN, Battista. Op. Cit., p.119. BULTMANN, Rudolph. Jesus Cristo e mitologia. São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p.29.

4 Essa perspectiva existencial da interpretação de Bultmann é uma adaptação da filosofia de seu colega e grande filósofo Martin Heidegger. Ambos eram docentes em Marburgo e Bultmann alinhava-se com as ideias do autor de Ser e Tempo. Há uma identificação explícita na proposta bultmanniana de como deveria se interpretar corretamente o Novo Testamento e como Heidegger desenvolvia o seu entendimento sobre o ser, sobre o existir. Como explica Zilse: Bultmann utiliza da perspectiva de mundo (welt) que Heidegger trabalhou, isto é, não uma perspectiva cosmológica, mas existencial, estabelecendo isto como o pressuposto do ser que interpreta os escritos neotestamentários. Assim, apesar de Bultmann descartar a perspectiva liberal da teologia que fez a antropologia subjugar a teologia, ele reconheceu que teologia não pode ser desassociada da antropologia, não há como falar do Totalmente Outro [Barth] sem falar daquele à qual este se revelou, o ser humano, e é por isso que, para Bultmann, a “teologia se torna uma questão de falar da existência do homem como determinada pela fé em Deus”, ou, como visto em Kierkegaard, uma existência autêntica do ser na fé10.

2. Heidegger: o ser-para-a-morte como vida autêntica Antes de prosseguirmos com essa análise é importante apresentarmos de forma breve o existencialismo de Heidegger. É claro que a filosofia de Heidegger não pode ser exposta em sua totalidade neste trabalho, mas tentaremos traçar suas linhas gerais. A proposta de Heidegger é desenvolver uma interpretação da existência, mas essa interpretação partiria do próprio ser. Existe uma necessidade urgente em desvincular o ser dos entes, pois é justamente na não desvinculação desses que encontra-se o erro dos filósofos do passado. A pergunta pelo sentido da vida deve ser analisada a partir daquele que busca tal sentido, a saber: o homem. Heidegger não se refere ao “conhecer a si mesmo” socrático, mas o conhecer o porquê do existir. E para isso, o filósofo apresenta as três características do ser: a primeira é o ser-nomundo e essa característica exige de imediato a segunda, o ser-com-os-outros. O homem pertence ao mundo e se vê responsável por ele e tal responsabilidade envolve a relação com seu semelhante. Essas duas características fomentam o projetar humano, mas são impedidas pela terceira característica, o ser-para-a-morte. O homem que interroga pelo sentido da existência tem que encarar a realidade da morte. E é justamente esta terceira característica que consiste na essência do ser. A morte é o fim do sentido da vida. A certeza da morte coloca o homem em angústia. “A angústia é experiência reveladora do nada, põe o homem diante do nada, ao nada de sentido, ou seja, ao não-sentido de todos os projetos humanos e da própria 10 ZILSE, Raphaelson Steven. Op. Cit. p.10, 11.

5 existência”11. Em resumo, para Heidegger o sentido autêntico da existência é a coragem de viver uma existência sem sentido. Muitos estudiosos entendem que Bultmann nada fez a não ser ampliar o existencialismo heideggeriano à teologia cristã. Discordamos desse julgamento e entendemos que o teólogo de Marburgo identifica na filosofia do ser de Heidegger aquilo que Paulo chama de “viver segundo a carne” (Rm 8,13). E isso podemos comprovar no significado de “carne” (sarx) em Bultmann: Não é a corporalidade e a sensorialidade, mas é a esfera do visível, do tangível, disponível, mensurável, e como esfera do visível também a do transitório. Essa esfera se torna em poder sobre o ser humano, se ele a fizer fundamento de sua vida, vivendo “segundo ela”, isto é, deixando-se seduzir a viver a partir do visível e do disponível, em vez de a partir do invisível e do indisponível12.

O entendimento de Bultmann sobre o “viver segundo a carne” é o que caracteriza o pecado. O ser se limita e se deixa governar por aquilo que é transitório. E isso é morte. Esse entendimento leva nosso teólogo alinhar-se com Heidegger, mas esse alinhamento não significa submissão, mas “estava convencido de que o direcionamento encontrado no existencialismo está dentro das estruturas da fé como ela é apresentada no Novo Testamento”13. E aqui também concorda Tillich, quando diz que “esse existencialismo lhe tem auxiliado a demonstrar o caráter existencialista dos conceitos do Novo Testamento” 14. Bultmann não coloca o Evangelho a serviço da filosofia existencial, mas afirma que essa filosofia o expressa de maneira mais adequada ao homem moderno. Há uma certa radicalidade em Bultmann que não existe em Heidegger. O que o filósofo chama de vida autêntica o teólogo chama de vida inautêntica. O viver-para-a-morte de Heidegger torna-se o viver segundo a carne paulino. O que significa essencial em Heidegger torna-se pecaminoso em Bultmann. Daí compreende-se o uso do existencialismo como ferramenta e não como guia norteador. A filosofia de Heidegger é apenas a constatação do cenário caótico e sem esperança que existe o homem. Como bem observa Gonzalez: “Aqueles que vivem 'de acordo com a carne' estão preocupados consigo mesmos, com sua própria segurança e são vítimas da ansiedade” 15, ou na linguagem kierkegaardiana (que Heidegger faz uso), são vítimas da angústia. A angústia é o sentimento produzido pela certeza 11 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. V.6. São Paulo: Paulus, 2006, p.202. 12 BULTMANN, Rudolph. Crer e compreender: artigos selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p.26. 13 GRENZ, Stanley J; OLSON, Roger E. A teologia do século 20: Deus e o mundo numa era de transição. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.110. 14 TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. São Paulo: ASTE, 1999, p.232. 15 GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão: da Reforma Protestante ao século 20. V.3. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.450.

6 da finitude humana. O ser diante de seu destino que é o não-ser ou o nada entra num estado de angústia, num mundo não-espiritual, numa existência limitada e cercada pelo visível. A angústia é a reação humana diante do destino certo de anulação total do ser. E essa angústia existencial torna-se o próprio pecado, pois anula Deus. A possibilidade é limitada e a existência nela definida. Em outras palavras, a angústia é a não confiança em Deus, é a anulação da providência. O mundo jaz na angústia (KIERKEGAARD, 2010). E essa angústia existencial é revelada no Evangelho confirmando o que Bultmann percebia sobre a filosofia existencialista. Em Mateus 6, 25 o verbo preocupar (merimnaw - merimnao)16 expressa a angústia humana diante do mundo, diante das possibilidades e necessidades. Expressa o ser humano que não confia em Deus e se subjuga às limitações do mundo.

3. O homem na fé bultmanniano versus o ser-para-a-morte de Heidegger O que inevitavelmente fica claro é a contraproposta bíblica ao viver segundo a carne o viver segundo o espírito. E é justamente essa a vida autêntica para Bultmann, ou seja, “aquela que vive a partir do que é invisível e indisponível, renunciando portanto a toda segurança autocriada”17. O que Bultmann denomina “o ser humano na fé” é uma total revolução na compreensão existencial do ser. Enquanto o ser-para-a-morte de Heidegger tem como destino o não-ser, o ser humano na fé de Bultmann tem como destino a vida. Aqui mais uma vez podemos comprovar que Bultmann usa a filosofia como ferramenta, mas a conclusão é existencialmente bíblica. Da mesma forma, a angústia se torna alegria. A mudança é radical, não é física, mas espiritual. O homem na fé é o mesmo homem, no entanto verdadeiramente livre. O homem na fé está aberto ao “futuro de Deus” e não mais limitado ao destino niilista da realidade existencial. E este futuro de Deus é “iminente, (…), que pode sobrevir como um ladrão na noite, no momento em que menos o esperamos; (…), porque esse futuro será o juízo de todos os homens agarrados ao mundo (...)”18. Estar aberto ao futuro de Deus é estar livre do peso do passado. É estar livre do pecado. E tudo isso sobrevêm ao homem pela fé mediante a graça de Deus. E a fé é obediência, ou seja, é o não confiar em si mesmo, mas confiar em Deus. É o voltar-se radicalmente a Deus e nada mais. Esse novo homem agora não se norteia mais pelas limitações visíveis, mas se entrega totalmente ao não limitado do invisível, do 16 LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico grego-português do Novo Testamento. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p.281. 17 BULTMANN, Rudolph. Op. Cit., p.27. 18 MONDIN, Battista. Op. Cit., p.133.

7 indisponível. Disso resulta o que Bultmann designa como: desmundanização, que nada mais é que liberdade. Desmitologizar a mensagem é desmundanizar o ser. É importante indicar que a desmundanização não é um tipo de ascese, mas é um estar no mundo “como se não” estivesse (1Co 7, 29-31). O homem na fé está no mundo, mas este não tem nenhum tipo de poder sobre ele. O mundo não tem significado essencial para o homem na fé, pois tudo nele é transitório, tudo que ele pode sentir é passageiro e o que agora o guia é algo perene, indestrutível. O homem na fé não está esperando a concretização do Reino, pois ele já vive o Reino. Ele não espera seu julgamento, pois já foi julgado. Quem espera está preso, quem não espera, não espera porque já lhe alcançou Deus e sua graça libertadora. Como expressa adequadamente Gonzalez: “Nesta vida autêntica, coloca-se toda a confiança na graça de Deus, (…). Não temos mais que buscar a nossa própria segurança. Não temos mais que colocar nossa confiança no mundo da realidade 'objetiva'” 19. Até porque se assim o fizéssemos estaríamos sendo contraditórios, pois se precisamos fundamentar a nossa fé (invisível) em conceitos mundanos (visível) não estaríamos numa autêntica vida cristã. Como explica Pannenberg: “a pressuposição básica subentendida na teologia protestante alemã expressa por Barth ou Bultmann é que a base da teologia é a Palavra de Deus que autentica a si mesma e exige obediência”20. Enfim, a homem na fé é verdadeiramente uma nova criação.

19 GONZALEZ, Justo L. Op. Cit., p.451. 20 CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012, p.35.

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4. Conclusão O objetivo deste artigo, como informado na introdução, era saber se a interpretação existencial de Bultmann é um ateísmo disfarçado ou uma teologia que se fundamenta nas Escrituras. É claro que a desmitologização proposta por Bultmann pode e deve receber várias abordagens críticas, mas uma certeza nós temos, ou seja, ela não é um ateísmo disfarçado. E também não consideramos que seja válida biblicamente em sua totalidade. Entendemos que a interpretação existencial bultmanniana tem erros e acertos. O que nos faz render-lhe elogios é que seus acertos são grandiosos. A descrição do “homem na fé” é algo sublime e de uma integridade bíblica que poucos teólogos conservadores atingiram. Os erros da teologia de Bultmann foram previstos pela sua própria teologia, ou seja, quando o teólogo diz que Deus não pode ser fundamentado a partir da sabedoria humana e nem mesmo a partir de nada que seja mundano, Bultmann prevê que cometerá erros, pois esses são os deslizes humanos. Distanciamos de Bultmann quando esse diz que é mitologia a comparação de Jesus com o Logos. Quando diz que a pré existência de Jesus é mito. Eis um erro que deve ser rechaçado por todo cristão, pois atinge o âmago da mensagem cristã, do plano de salvação. Ao mesmo tempo, Bultmann é contra a retirada dos mitos da mensagem cristã proposta pelos liberais, pois entendia que eles eram nada, assim como Paulo entendia que os ídolos eram nada. Identificamos que a desmitologização tem um caráter perigoso, tanto na mão de conservadores quanto de liberais. Os primeiros têm a tendência de desconsiderá-la por completo e assim deixam de experimentar aquilo que tem autenticidade bíblica. Os segundos têm a tendência de usá-la de forma incompatível com a proposta de Bultmann, “purificando” as Escrituras daquilo que não lhes interessam. Enfim, entendemos que a proposta bultmanniana sobre a vida autêntica do cristão, ou seja, o viver segundo o espírito, expressa de maneira sublime e autêntica a mensagem cristã. Dessa forma, compartilhamos dos mesmos sentimentos do teólogo em que uma vida autêntica só pode ser vivida quando o ser deixa de estar sujeito ao mundo e passa a gozar da liberdade proporcionada pela fé e fé em Deus.

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5. Referências BULTMANN, Rudolph. Crer e compreender: artigos selecionados. São Leopoldo: Sinodal, 1987. ______. Jesus Cristo e mitologia. São Paulo: Fonte Editorial, 2008. CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012. GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão: da Reforma Protestante ao século 20. V.3. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. GRENZ, Stanley J; OLSON, Roger E. A teologia do século 20: Deus e o mundo numa era de transição. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. HÄGGLUND, Bengt. História da teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1981 LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico grego-português do Novo Testamento. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013. MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século vinte: os teólogos protestantes e ortodoxos. São Paulo: Paulinas, 1979 – 1980. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. V.6. São Paulo: Paulus, 2006. TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. São Paulo: ASTE, 1999. ZILSE, Raphaelson Steven. Cristianismo existencial: a hermenêutica da existência cristã em Kierkegaard,

Bultmann

e

Tillich.

Disponível

. Acesso em 20 mar. 2015.

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