UMA ARQUITETURA PARA A ORAÇÃO: OS CLAUSTROS DOS CONVENTOS DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM PORTUGAL (SÉCULOS XVI-XVII

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Descrição do Produto

«A REFORMA TERESIANA EM PORTUGAL» CONGRESSO INTERNACIONAL 2015

No V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus

1515-2015

Título

«A Reforma Teresiana em Portugal» - Congresso Internacional, 2015

Coordenação editorial

Joaquim Teixeira, ocd

Coordenação científica Carlos Margaça Veiga, Univ. Lisboa; Gianpaolo Romanato, Univ. Pádua; † Jeremias Carlos Vechina, ocd; Joaquim Teixeira, ocd; José Carlos Vechina, ocd; Nair Soares de Castro, Univ. Coimbra; Sandra Molina, Univ. Ribeirão Preto; Solange Araújo, Univ. Federal da Bahia; Virgolino Jorge, Univ. Évora e Vitor Serrão, Univ. Lisboa Assistência à edição

José João Loureiro

Paginação & design

Pedro Tavares, ocds e Renato Pereira, ocd

Imagem da capa

Santa Teresa de Jesus, Fundadora da Ordem dos Carmelitas Descalços



Autor desconhecido, escola portuguesa, óleo sobre tela, 2ª metade do séc. XVIII, Museu Diocesano de Santarém, foto João Nunes da Silva.

Edição

Edições Carmelo

Convento de Avessadas, Apartado 141 4630-909 Marco de Canaveses, Portugal [email protected]

Ano: 2017 Depósito Legal: ISBN: 978-972-640-156-8 © Autores e Edições Carmelo. Os artigos, imagens e norma ortográfica utilizada são da responsabilidade dos autores. Apoios

Embaixada de Espanha em Portugal

Academia Portuguesa da História

ÍNDICE Emissão Filatélica Comemorativa do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus.......................................................................................................................... 7 Comissões................................................................................................................................................... 15 Programa do Congresso....................................................................................................................... 17 José João Loureiro Cronologia da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal (1581 - 2016)....... 23 Joaquim Teixeira, ocd Introdução................................................................................................................................... 31 Evocação da Memória do Pe Jeremias Carlos Vechina ................................................ 35 Jeremias Vechina, ocd Carisma do Carmelo Teresiano ............................................................................................ 37 Paula Almeida Mendes «Espelhos» de Santa Teresa de Jesus. A escrita, a tradução e a leitura das «Vidas» teresianas em Portugal (séculos XVII-XVII) .................................................. 71 José Filipe P. M. Silva De amor e de dor: uma análise teo-fenomenológica da experiência mística de Santa Teresa e seus ensinamentos para a Cristandade contemporânea.......... 81 Joana Serrado Sequedades em Teresa de Jesus e sua discípula portuguesa, Joana de Jesus.......... 89 Luis Javier Fernández Frontela, ocd El Carmelo Descalzo Del Carisma a la institucionalización................................. 97 Carlos Margaça Veiga A Ordem dos Carmelitas Descalços: moldagem à realidade portugesa............ 127 Leonor Calvão Borges e Maria de Lourdes Calvão Borges A Comunidade do Convento dos Cardaes de Lisboa: estudo prosopográfico.......................................................................................................... 141

Artur Villares Carmelitas e Teresianas em Portugal entre a Monarquia e a República........... 157 Solange Araújo Convento de Santa Teresa de Ávila em Salvador – inserção, tipomorfologia e património............................................................................................................................... 167 Miguel Portela Uma arquitectura para a oração: os claustros dos conventos dos Carmelitas Descalços em Portugal (séculos XVI-XVII)........................................... 183 Teresa de Campos Coelho O arquitecto João Nunes Tinoco (c. 1616-1690) e a sua actividade junto dos Carmelitas Descalços.................................................................................................... 201 Maria do Céu Tereno, Marízia Pereira e António Tereno Hidráulica de Conventos Carmelitas Descalços em Évora: Convento de Nossa Senhora dos Remédios e Convento de São José da Esperaça................... 213 João Pedro Monteiro O frontal de altar carmelita no contexto da azulejaria portuguesa do séc. XVII................................................................................................................................. 231 Celso Mangucci, Cátia Relvas, Margarida Nunes, António Candeias, José Mirão e Teresa Ferreira Análise de pastas cerâmicas e vidradas dos azulejos do frontal de altar do Convento de Nossa Senhora dos Remédios de Évora............................................ 249 Lúcia Marinho Santa Teresa de Jesus na Azulejaria Portuguesa.......................................................... 263 Nair de nazaré Castro soares Cultura e Ciência: formação integral e espiritualidade, um caminho de perfeição, no século XVI......................................................................... 279 Natália Nunes O Castelo Interior de Santa Teresa de Ávila e a Conferência das Aves de Attar: o modelo do caminho espiritual na Mística Sufi e Cristã........... 309 Marízia Pereira, Maria do Céu Tereno e António Tereno Boticas dos Carmelitas Descalços em Portugal - espécies vegetais e fitogeografia......................................................................................................................... 325

Filipe Gonçalves Teixeira O Deserto do Buçaco: paisagem do sagrado a herança dos Carmelitas Descalços............................................................................... 345 Gianpaolo Romanato Missioni, istituzioni e culture. Romanizzazione e internazionalizzazione della Chiesa cattolica in età contemporanea............................................................. 363 Nuno Falcão As Chaves e a Espada: a missão nas relações diplomáticas entre o Reino do Congo e a Santa Sé (1583-1607)....................................................................... 373 Sandra Molina A Política da Coroa Portuguesa e do Império do Brasil para as Ordens Religiosas em Terras Brasileiras: primeiras considerações sobre a expulsão dos Carmelitas Descalços de Salvador (1750-1839)..................................................... 389 Maria Helena Queirós D. Fr. Luís de Santa Teresa: de modelo de religioso jacobeu às vicissitudes de um reformador rigorista em Olinda (Pernambuco) ............................................. 397 Isabel Bastos Iconografias de Santa Teresa de Ávila como Esposa Mística.................................. 411 Adalgisa Arantes Campos Representação iconográfica de Santa Teresa d`Ávila no contexto das Minas dos séculos XVIII a XIX, no Brasil................................................................. 421 Joaquim Teixeira, ocd Restauração da Província e atualidade: portas abertas para outras linhas de investigação........................................................................................................... 441

Contributos José João Loureiro As Armas da Ordem dos Carmelitas Descalços (breve apontamento).................. 447 A Mão da Santa Madre Teresa de Jesus ............................................................................ 451 Marco Sousa Santos A Província Carmelita Descalça de Portugal num Atlas de 1739......................... 459 Contactos dos Autores....................................................................................................................... 471

UMA ARQUITETURA PARA A ORAÇÃO: OS CLAUSTROS DOS CONVENTOS DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM PORTUGAL (SÉCULOS XVI-XVII) MIGUEL PORTELA Investigador Independente Resumo: As funções para que se concebe um claustro monástico são múltiplas. Ele permite, antes de mais, um fácil acesso a qualquer ponto do complexo conventual em seu redor, permitindo, também, um refúgio contra condições atmosféricas adversas assim como um ambiente de recolhimento propício ao silêncio e à descoberta de Deus pelos religiosos. Os primeiros conventos erigidos em Portugal, no contexto da propagação da Reforma Teresiana, convergem entre si não por serem construções que, à partida, seguissem um arquétipo modelar de edificação, mas antes por os seus construtores, terem orientado as obras das suas casas obedecendo aos princípios enformantes da construção ideal de um convento carmelita tal como um protótipo plasmado nos princípios e nas determinações das Constituições Teresianas de 1581. Enunciaremos, ainda, os elementos que nos permitem elencar o método seguido nas fases decisivas dos processos construtivos, por que cada casa conventual passou. Palavras-chave: reforma teresiana; Carmelitas; claustros; conventos. Summary: The functions for designing a monastic cloister are manifold. It allows, first of all, easy access to any part of the convent complex around it, allowing also a refuge from bad weather as well as a gathering environment conducive to silence and the discovery of God by the religious. The first convents erected in Portugal, in the context of the spread of the Teresian Reform converge each other not because they are buildings that, from the outset, followed an archetype model of edification, but rather by its builders, have guided the work of their homes obeying informants principles of ideal construction of a Carmelite convent such as a molded prototype the principles and determinations of the Teresian Constitutions 1581. We will state also the elements that allow us to list the method followed in the steps of the decisive construction processes for each monastic house passed. Keywords: teresian reform; Carmelites, cloisters, convents.

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1. OS CLAUSTROS: FUNÇÃO E CONCEÇÃO Ai - Claustros, claustros! - si fallar podesseis Aos seculos por vir - que testimunho, Que não dareis, das virtudes altas D’esses heroes, que um dia vos alçaram! Materiaes de pedernal, - sois mudos! J.J. Junqueira Freire1 As funções para que se concebe um claustro monástico são múltiplas. Ele permite, antes de mais, um fácil acesso a qualquer ponto do complexo conventual em seu redor, possibilitando, também, um refúgio contra condições atmosféricas adversas assim como um ambiente de recolhimento propício ao silêncio e à descoberta de Deus. Podemos entendê-lo como um lugar de idealização e de concretização convergente ao paraíso, ainda que antagónico, por vezes, entre o “momento de silêncio” e o “momento do som”: o claustro é lugar de oração, de meditação, de leitura, de procissões, de entoação de cânticos de louvor e de cerimónias fúnebres. Os claustros dos conventos da Ordem dos Carmelitas Descalços apresentam na sua quase globalidade uma área quadrangular e uma galeria interior de circulação, que permite o acesso aos mais diferentes espaços, sendo constituídos por colunas robustas, - sem grandes recursos decorativos, e que assumem função de suporte -, arcos, abóbadas, sendo o paramento interior por vezes revestido de azulejos. Fr. Belchior de Santa Ana, na sua Chronica de Carmelitas Descalços, editada em 1657, alude à prática do recolhimento contemplativo, onde numa simbiose perfeita o Carmelita se descobre com Deus: “para conservar a devoção interior guardava o santo silêncio com muito cuidado não falando nem uma só palavra depois de completas até dita a prima como manda a regra nem nos dormitórios, claustro, coro e refeitório conforme dispõem as constituições”.2 Em 1721, Fr. João do Sacramento no segundo tomo da Chronica de Carmelitas Descalços, assegurava que “jaziam sepultados nos cemitérios dos nossos claustros, os que vivamente resplandeciam como estrelados do firmamento”, indicando ser prática comum de enterro a observada nos claustros dos conventos.3 A mesma vivência espiritual carmelitana pode ainda ser alcançada na busca da plena beatitude enraizada na silenciosa oração que se observava nos claustros. Esta pode ser misticamente atingível através da palavra enquanto fonte da vida, adquirida através da força que dos claustros emana, ou seja, da vitalidade espiritual de cada momento completo pela interação da ritualidade do próprio silêncio em comunhão com a frescura da água da fonte ou do poço que se acha no pátio de cada claustro.4 No Romance Heroico, Á Preclarissima Religião Carmelitiana, mais que todas favorecidas da Senhora, redigido por Lourenço Justiniano Pacheco, e publicado em 1741, recuperamos uma passagem, que revela o supra-sumo para se alcançar a vitória celestial: “Vive feliz, vive glorioso, vive Sagrado sempre à Celestial Pastora”.5

  J.J. Junqueira FREIRE. Inspiração do Claustro. Segunda edição correcta e accrescentada com um Juizo Critico por J. M. Pereira da SILVA. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1867, p. 87. 1

 Fr. Belchior de SANTA ANA. Chronica de Carmelitas Descalços, Particular do Reyno de Portugal e Provincia de Sam Felipe. Lisboa: Oficina de Henrique Valente de Oliveira, 1657, Tomo I, Capítulo XXIX, p. 369. 2

3 

Fr. João do SACRAMENTO. Crónica dos Carmelitas Descalços Particular da Província de São Felipe do Reino de Portugal. Lisboa Ocidental: Na Officina Ferreyrenciana, 1721, Tomo II, p. 7. Veja-se o caso dos enterramentos nos Claustros do Convento dos Remédios em: António REI. “Sepulturas Armoriadas do Claustro do Convento de Nª Srª. dos Remédios - Évora”. Raízes e Memórias, Revista da Associação Portuguesa de Genealogia nº 32, 2014, pp. 67-76.

 Veja-se Anabela Pereira de Babo CARVALHO. Caracterização Acústica de Claustros Religiosos Históricos. Licenciatura em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Dissertação para o grau de mestre em Construção de Edifícios. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2005. 4

 Fr. Egidio LEOINDELICATO. Jardim Carmelitiano, Historia Chronologica, e Geografica. Notícias Sagradas, Domesticas, e Estranhas de varios sucessos da Religião Carmelitiana. Offerecido A Maria Santissima, Mãy de Deos, e dos Carmelitas. Lisboa Ocidental: Na Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, 1741, pp. 266-269. 5

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A Chronica de Carmelitas Descalços é, por excelência, um genuíno repositório de curiosidades historiográficas. Nela, Fr. Belchior de Santa Ana conta, a propósito da fundação do Colégio de S. José da Coimbra, que “Não faltaram esmolas aos reitores que lhe sucederam com que foram pondo o colégio no estado em que está hoje porque com elas fez o Padre Fr. Tomás de S. Cirilo a livraria e comprou muitos livros para ela. Levantou os pilares do claustro e cobriu-o. O Padre Fr. Ângelo de S. Domingos fez as abóbadas do claustro e o trânsito que vai sobre ele do dormitório grande para o coro; O Padre Fr. Félix de Jesus fundiu o sino grande que achou quebrado e pôs nos altares do claustro os quatro devotíssimos quadros que tem de Cristo orando no horto, da prisão de Cristo, do descimento da cruz e de Cristo crucificado”.6 Podemos assim, reconhecer neste caso concreto, que primeiramente se edificaram os pilares do claustro, tendo de seguida sido revestidos com a cobertura, e por último executadas as abóbadas e a galeria de circulação. Este método construtivo terá estado na base do processo construtivo da edificação dos claustros dos conventos dos Carmelitas Descalços, assim como nas mais diversas Ordens Religiosas. Aludimos novamente Fr. Belchior de Santa Ana, que ao narrar as obras que ocorreram no convento de Aveiro, referenciou que: “A sacristia, ante-sacristia, o lavatório e as seis celas e o oratório que ficam encima acabou o padre prior Fr. Luís de Jesus no ano de 1649 e o claustro fez com a graça e formosura avantajada à de todos os claustros da província o padre prior Fr. Manuel de Santa Maria neste ano de 1653 em que escrevo isto”.7 Concernente ao convento do Porto, menciona o dito autor que “Os pilares, os arcos e os telhados do claustro fez o padre prior Fr. Tomás de S. Cirilo… Neste estado está o convento no tempo em que escrevo isto. Falta só acabar-se o Figura 1 - Claustro do Convento dos Remédios em Lisboa claustro, estender-se a cerca e murá-la”.8 (Agradecemos penhoradamente ao investigador José João Loureiro a cedência da foto que aqui apresentamos).

De igual modo, o supracitado autor, assinala, no que respeita ao Convento dos Carmelitas em Évora, que D. José de Melo, arcebispo dessa cidade: “mandou cavar naquele lugar e aí com pouco custo achou uma boa cópia de água das melhores de Évora na qualidade que levou ao mosteiro sempre por canos à flor da terra sem repuxo algum mais que o que faz perto de casa para poder subir a água no claustro a uma fonte de altura de quase três varas por onde arrebenta por quatro esguichos que correm numa taça donde a água vai a todas as oficinas de casa e ultimamente ao tanque da horta. Começou ela a correr no claustro a 27 de Setembro de 1630”.9 Como já aludimos, a simbiose entre a água e a purificação da alma, ou seja, a mística da bemaventurança através da criação e encenação do efeito sonoro da água e do silêncio obrigatório nos claustros, assinala o limite do imaginário contemplativo entre o Homem e Deus.

6 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXXIII, p. 409.

7 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XV, p. 564.

8 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXII, p. 596.

9 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XLIV, p. 448.

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Observando a Caracterização Acústica de Claustros Religiosos Históricos, estudada e interpretada por Anabela Carvalho, a vinte claustros de diferentes edifícios religiosos portugueses, que abrangeu, também, o Convento dos Cardais em Lisboa, reconhecemos nas palavras da autora que: “as galerias dos claustros mais adequados a serem utilizados para pequenos concertos, museus, salas de exposições e para representações teatrais deverão ter comprimentos médios inferiores a 25m, a largura das galerias deverá ser menor que 3,5m e ter uma altura máxima das galerias até 5,0m. Figura 2 - Claustro do Convento de Nossa Senhora dos Remédios em Évora Isto se não houver o uso de materiais (Agradecemos penhoradamente ao investigador José João Loureiro a cedência da foto que aqui apresentamos). de correcção acústica, mantendo-se o aspecto tradicional dos claustros”.10 Estas premissas podem ser encontradas na Segunda Parte de Las Constituiciones. De las fundaciones, y diferentes destinos de los Conventos - Capitulo I - De la Fundacion de las Provincias, y de los Conventos: de sus diversos Institutos, y forma de los edificios, onde se arrola que: “En los claustros no habrá mas espácio de una extremidade à outra que el de sesenta pies, ni menos que el cinquenta y sinco. Lo ancho de cada tránsito será de nueve à diez pies, y no habrá sobre claustros”.11 Asseveramos que na prática estes princípios foram observados na edificação dos claustros conventuais da Ordem dos Carmelitas Descalços, conforme podemos corroborar, a título de exemplo, nos claustros do Convento de Nossa Senhora do Carmo em Figueiró (quadro 1). Quadro1: Medidas correspondentes aos claustros do Convento de Nossa Senhora do Carmo de Figueiró dos Vinhos.12

Claustro

Dimensões (m)

Comprimento

16,80

55,11

50,9

Dimensões (pés Castelhanos 27,83cm) 60,34

Largura

3,00

9,84

9,09

10,77

Dimensões Dimensões (pés atuais (pés Portugueses 30,48cm) antigos 33cm)

Dimensões Constituições (pés) 55 a 60 9 a 10

2. OS PRINCÍPIOS ENFORMANTES DA EDIFICAÇÃO IDEAL DOS CARMELITAS DESCALÇOS Durante o período filipino, em Portugal, a firmeza e a determinação seguidas na aplicação dos decretos do Concílio de Trento (1548-1563) fez despontar, entre os Carmelitas Descalços, o impulso para fundarem novos conventos em conformidade com os ditames da reforma espiritual observante protagonizada por Santa Teresa de Ávila e por S. João da Cruz.  Anabela Pereira de Babo CARVALHO. Op. Cit., p. IV.   Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos de la Orden de Nuestra Madre Santisima la Bienaventurada Vírgen María del Monte

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Carmelo, de la Primitiva Observancia, en esta Congregacion de Espana é Indias, confirmadas por N. M. SS. P. y S. Pio Papa VI, en el dia 14 de Marzo del año de 1786, ano duodécimo de su pontificado. Traducidas del idioma latino al castellano. Madrid: Imprensa de D. Joseph Doblado, 1788, p. 149. Veja-se o estudo sobre a Regra Primitiva desde a sua origem até à Reforma Teresiana em Rafael SÁNCHEZ DOMINGO. “De la regla primitiva de la Ordem del Carmen a las Constituiciones modernas. Entre el origen y la reforma”. Santa Teresa y el mundo teresiano del Barroco. Instituto Escurialense de Investigaciones Históricas y Artísticas. Simposium 23.º, 3 a 6 de septiembre. San Lourenzo del Escorial, 2015, pp. 417-440. 12 

Margarida Herdade LUCAS. O Convento de Nª Sª do Carmo de Figueiró dos Vinhos - No contexto da Província de S. Filipe de Portugal. Dissertação de Mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural, na área de especialização em História da Arte. Departamento de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012, anexo 12.

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Na Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos assevera-se que “En los edificios ha de manifestarse muy particularmente la pobreza, siendo humilde y llanos, así en las paredes como las maderas. Todo el menáge de la casa mostrará en lo tosco y llano que es correspondiente à unos Ermitaños: y no se permitirá en comun ni en particular cosa curiosa por mínima que sea: mas para la Iglesia, Coro, y Sacristía, podrán usar algun adorno devoto y religioso”.13 Assim, cremos, deveremos realçar a prevalência, nos projectos arquitetónicos das casas desta Ordem, dos ideais de pobreza, de austeridade e de simplicidade, sem que tais ideais signifiquem o abandono da exigência de uma estética valorizadora da beleza. Uma intencionalidade estética do belo que se conjugava de modo notório, sublinhe-se, no protótipo de convento plasmado nos princípios e nas determinações das Constituições Teresianas de 1581.14 Todavia, os primeiros conventos construídos em Portugal, no contexto da propagação dessa reforma, convergem entre si não por serem construções que, à partida, seguissem um arquétipo modelar de edificação, mas antes por os seus construtores, geralmente frades, terem orientado as obras das suas casas obedecendo sobretudo aos princípios enformantes da construção ideal de um convento carmelita tal como os enunciara, muito justamente, Santa Teresa de Ávila. Sabemos também que a Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos enuncia e pormenoriza os princípios fundamentais do modo como deveriam ser observadas as fundações dos novos conventos: “Ordenamos que no se admitan Fundaciones de Conventos, sino en lugares donde puedan tener lo suficiente para menterse, guardando clausura, y lo que hemos profesado: porque no conviene que moren los Religiosos, donde no puedan vivir religiosamente. En lo succesivo no se irán á vivir los Religiosos en los Conventos que se estén fundando de nuevo (à excepcion de dos ó tres que podrán estar allí para direccion del edificio) hasta tanto que haya edificio competente para la clausura, y habitacion para quince Religiosos por lo menos, además de los Legos y Donados. Ni aun despues que esté acabado el nuovo Convento, entrarán en él Religiosos, hasta que esté completo el dicho número, como lo piden nuestras Constituciones en los demas Conventos de la Provincia. Y lo mismo se observará en las Fundaciones de Monjas, en quanto à que tengas éstas competente clausura, y habitacion antes que entre”.15 Nesse sentido e de acordo com o Capítulo Provincial celebrado em 23 de maio de 1594 no Convento de S. Hermenegildo em Madrid, convém sublinhar que apesar da obrigatoriedade da observância da Regla Primitiva y Constituiciones ficou averbado “vn precepto acerca de las fabricas de los Monasterios, y sus Iglesias. Ivase introduciendo alguna superfluidad en la anchura, y grandeza derechamente contraria à la Descalçez, y fabrica de sus principios; porque la vanidade, con mascara de decencia, ni aun à los Descalços, remendados, y pobrissimos, perdona, y cada Prior por su capricho començava fabricas sumptuosas. Cortò en la cuna la superfluidad nuestro Padre com vun precepto; em que mandò, que ningun Prior pudiesse passar de la tassa conveniente que entonces se puso, y passò despues à constitucion; y diò facultad al Hermano Fr. Francisco de Iesus, Lego de profession, buen Arquitecto, y el primeiro de la Orden, para que visitando todas las fabricas, las reduxesse à los terminos del precepto”.16 Identicamente, referencia-se na Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos a obrigatoriedade de serem “Guardadas estas proporciones, se distribuirá lo interior del Convento segundo le pareciere al Arquitecto. No se edificará Convento alguno, ni se empezará obra considerable  Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos…Op. Cit., p. 268.  Beatriz Blasco ESQUIVIAS. “Utilidade y beleza en la arquitectura carmelitiana: las iglesias de San José y La Encarnación”. Anales de Historia del

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Arte,14, 2004, pp. 143-156. Ana Cristina Valero COLLANTES. Arte e Iconografía de los Conventos Carmelitas en la Provincia de Valladolid. Tesis doctoral. Universidad de Valladolid, Facultad de Filosofia y Letras. Departamenteo de Historia del Arte, Valladolid, 2014.

 Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos…Op. Cit., pp. 146-147.  Fr. José de Santa TERESA. Reforma de los Descalzos de Nvestra Señora del Carmen de la primitiva observancia hecha por Santa Teresa de Iesvs. En la

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antiqvissima religion fvndada por el gran profeta Elias. Madrid: Iulian de Paredes, Impressor de Libros, 1683, Tomo III, p. 4.

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de él, sin que preceda diseño del Maestro de obras de la Orden, en que esté delineada su estructura, la qual mandamos se execute pontualmente, sin mudar, quitar ò añadir cosa alguna de ella, sin expresa licencia del Padre General, ò sin que consienta el mismo Arquitecto, y precediendo la aprobacion de la Comunidad por la mayor parte de sus votos; pero arreglandose en todo à lo que va prescrito en esta Constitucion, pena de suspension de oficio à los Prelados, y à los Subditos de voz y lugar por quatro meses; à los que no tienen voz, se les aplicará outra pena proporcionada à la grevedad del delitò. En ninguna parte se empezará obra de consideracion, cuya costa pase de cien escudos de oro, sin licencia por escrito del Difinitorio provincial, y precediendo el consentimiento de la Comunidad. Tendrán siempre nuestros Conventos suficiente clausura: y acerca de sus fundaciones se observará los demas que se determina en sus proprios lugares”.17 Com base no exposto atestamos que o exercício de garante das disposições regulamentares se praticou na Ordem dos Carmelitas Descalços tanto em Espanha como em Portugal, de tal forma que vimos no 27.º Capítulo Provincial celebrado no Convento dos Remédios dos Lisboa, em 15 de abril de 1690 ser admitido um “preceito para que o Pe Prior de Cascaes lançe no chão o lanço do claustro que estava feito por exceder na largura as medidas da ley”.18 De idêntico modo, mas já em pleno século XVIII, no 40.º Capítulo Provincial celebrado em Coimbra, em 10 de maio de 1726, se confirmou a observância dos princípios da Regra Carmelitana em detrimento do endividamento dos conventos em obras supérfluas, que então se afirmava: “o determinado nos Capitulos passados, que nenhum Prelado immediato gastasse dinheiro em obras estando os conventos empenhados, por ser contra o que dispoem a ley 3ª p. cap. 13 n.º 9 pois a milhor, e mais util obra que podião fazer ás cazas hera tratar do seu dezempenho, sem que isso impedisse acodir a alguã obra preciza, ou reparo do convento, e sanchristia”.19 Salientamos também, que a exigência das premissas construtivas não se resumira apenas à edificação do complexo conventual, mas inserido no espírito de pobreza, austeridade e simplicidade, a todo o tipo de adorno que os conventos deveriam utilizar no interior dos templos. Nesse sentido, apontamos aqui, uma resolução procedida do Capítulo celebrado no Convento dos Remédios em Lisboa, a 24 de janeiro de 1690: “Por quanto se reconocido excesso en algunos conventos a cerca de la fabrica de los tronos para colocar la Ymagen que suele aver en el choro; se determino que de ahora en adelante no se hagan, ni ponga en el choro trono alguno sin que primero se remita traza especial a Nuestro Padre General y que la apruebe en la conformidad que se observa en los retablos igual. Y porque assi mismo se van introduciendo en la Religion Columnas Salomonicas en los retablos contra el estilo comum, y espiritu de la Religion (…) Suplicó todo el Difinitorio a Nuestro Padre General que su Reverencia se sirva de no admitir, ni firmar trazas en que se pusieren las tales columnas”.20 Igualmente, reconhecemos uma outra resolução emanada do Capítulo Provincial celebrado em S. Pedro de Pastrana, em 9 de maio de 1772, em que se tornou obrigatório observar os ditames das traças dos artífices da Ordem nas novas edificações conventuais: “Para Legos Artifices, que no passaràn de ocho, ò die en ninguna Provincia entre Novicios, y Professos; sino en algun caso raro de ser pretendiente de nobleza, y prendas relevantes; solo se admitiràn los examinados, y aprobados por Maestro en el Arte, como de Escultor, Tallador, Ensamblador, Dorador, Pintor, Cirujano, etc., y que conste por su testimonio, è informe del Padre Provincial, y Prior de la casa estar suficientes (…) La ley que dice: Quamvis pro interior se declarò, que lo que se prohibe en los Desiertos en Casullas, Frontales, etc. no se entiende de la Camita, ò Pabellon, com que se adorna lo interior del Sagrario. Y de los Vasos:  Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos…Op. Cit., pp. 150-151.  Livro dos Capítulos Provinciais, 1612-1772 da Província de S. Filipe e Capítulos Gerais 1772-1808 da Província de N. Senhora do Carmo da Ordem dos

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Padres Carmelitas Descalços do Reino de Portugal, (Transcrição de Frei José Carlos VECHINA). Braga, 1992, fl. 99r, pp. 194-195. 19 

Ibidem, fl. 160, p. 290.

 Carme Narváez CASES. Op. Cit., Apèndix documental, [13]. ACA, Monacals-Hisenda, lligalls grans, 171, pp. 492-493. Conforme referido, esta

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deliberação foi tomada no Capítulo celebrado no Convento dos Remédios de Lisboa, não tendo ficado registada no Livro dos Capítulos Provinciais em Portugal, conforme se registou nessa resolução: “Doy fee que en Junta ordinaria celebrada en este Nuestro Convento de los Remedios de Lisboa a 24 de Henero de 1690 se hicieran los Descretos siguientes…”. Para um estudo mais aprofundado sobre retábulos da Ordem dos Carmelitas consulte-se a obra de Francisco LAMEIRA; José João LOUREIRO; Frei José Carlos VECHINA. Retábulos da Ordem dos Carmelitas Descalços. Coleção Promontoria Monográfica. História da Arte II. Faro: Departamento de Artes e Humanidades da Universidade do Algarve, 2015.

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Qua net si argentea solo se prohibe sean de oro adornados de perlas, diamantes, ni puede ser de oro la Cruz del Copon. Tampoco cabe, que el Sagrario, Retablo, ò Relicario alguno sea todo dorado, pero se permite algun jaspeado, ò estofado com listas de oro (…). Determinó el Capitulo se repita el precepto en materia de fabricas: Y assi en nombre de nuestro Capitulo General: Mando en virtud del Espiritu Santo, santa obediência, y debajo de precepto formal à todos los Religiosos, Prelados y súbditos, à quienes por cualquier titulo pueda tocar, que guarden en la egecucion de las obras, las plantas hechas por los Trazadores senãlados, sin alterar, mudar, ni exceder en todo, ò en parte, en la materia, ò en la forma, sin expressa licencia nuestra en escrito, ò traza, ò planta suya firmada; los quales no lo daràn de palabra, aunque sea para abrir una puerta, ò ventana en lo ya hecho; pena a los Prelados de privacion de oficio por quatro meses; y à los subditos de voz, y lugar por el mismo tiempo (…). Y se aprobò, que en la ley: “Nenque opus aliquod notabile”, no se entienden las obras contenidas en las trazas aprobadas por nuestro Padre General; sino las que que se quieran añadir despues: Y tampoco puede el Prelado sin licencia de la Comunidad, y del Padre Provincial deshacer obra del mismo importe. Mando assimismo debajo del dicho precepto assi a los Trazadores, como á outro cualquier Religioso súbdito, ó Prelado, que no egecuten obra alguna contra lo determinado en nuestras leyes; ni egecuten traza alguna, aunque hecha por quien tiene patente de Trazador, si que primeiro le firme de mi nombre: Y lo mismo de las trazas de qualquer Retablo de Altar mayor, ò Capillas, ò parte de ellos, como tambien com la traza de los tronos, que se fabriquen para las Imágenes del Coro. Y se confirmo el Acta, de que en dichos Retablos no se pongan columnas Salomonicas; y contra el estilo introducido de Retablos costosos, se prohibe se hagan com muchas talla, y contra la pobreza, y solo se permiten com columnas listriadas sin vestidura de talla, y lo restante de dichos Retablos de talla pobre, y humilde. Tambien, que la frabrica no vá arreglada, la mande parar hasta darme aviso; y obliqúe à qualquer Religioso à que notifique este precepto à quien le quiera impedir el acuerdo suyo”.21 Recordamos ainda que em 1640 o tracista Fr. Andrés de San Miguel estabeleceu “la longitude del templo en cuatro veces y media la anchura y ésta igual a la altura. Sin embargo, la implantación en tejidos urbanos consolidados y preexistentes se resiste a la aplicación de tipos edeales de edificación o de planta por las limitaciones del espácio”.22 3. OS CARMELITAS DESCALÇOS E O DOMÍNIO DA PRÁXIS ARQUITETÓNICA Os tracistas constituíam um grupo de hábeis mestres do processo construtivo emanado da própria Ordem dos Carmelitas Descalços, cujo papel primordial era a salvaguarda e garante das premissas regulamentares do modo construtivo instituído, sobretudo: “realizaban edificios de solidez y funcionalidad adecuados al espíritu de sencillez, austeridad y pobreza; construían un edificio eficaz y conveniente para la vida monástica pero com categoria artística en el que la belleza, la armonía y la proporción se elevan sobre las anteriores cualidades emocionando”.23 Os tracistas em conjunto com o “pareciere al Arquitecto” que “preceda diseño del Maestro de obras de la Orden, en que esté delineada su estructura” deram corpo e forma a uma Tipologia Construtiva na Ordem dos Carmelitas Descalços. De entre vários tracistas de conventos da Ordem dos Carmelitas Descalços, emergem os nomes de Fr. Francisco de Jesus, como primeiro arquiteto da Ordem, conforme revelado no Capítulo Provincial, celebrado a 23 de maio de 1594, no Convento de  Carme Narváez CASES. El tracista fra Joseph de la Concepció i l’arquitectura Carmelitana a Catalunya. Tesi doctoral. Departament d’Art, Facultat de Filosofia i Lletres, Universitat Autònoma de Barcelona, Bellaterra, 2000, Apèndix documental, [22]. Declaraciones atenticas de los carmelitas descalzos de la Conregación de España y actas decretadas en sus capitulo generales, aprobadas, confirmadas y añadidas en el ultimo, que se celebrou en San Pedro de Pastrana en 9 de Mayo de 1772, imprès a Pamplona el 1774, pp. 6-154, pp. 511-513. 21

 Marina Álvarez ALONSO; José Miguel Barbero SÁNCHEZ; Félix García MERAYO. “Del Carmelo Descalzo y su arquitectura”, ACTA, n.º 63, 2012, 129, disponível em: ˂http://www.acta.es/recursos/revista-digital-manuales-formativos/article/11-del-carmelo-descalzo-y-su-arquitectura˃. Acesso em 08/05/2016. Manuel TOUSSAINT. “Fray Andres de San Miguel, Arquitecto de la Nueva España”. Anales del Instituto de Investigaciones Estéticas, Vol. IV, n.º 13, 1945, pp. 5-14. 22

 Marina Álvarez ALONSO; José Miguel Barbero SÁNCHEZ; Félix García MERAYO. Op. Cit., pp. 121-138.

23

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S. Hermenegildo em Madrid24; de Fr. Alberto de la Madre de Dios25; de Fr. Nicolás de la Purificación26; de Fr. Alonso de San Josef27; de Fr. Josep de la Concepció28; de Fr. Alberto da Virgem29 e de Fr. Pedro da Conceição.30

Figura 3 - Planta do tracista Fr. Pedro da Conceição para as obras de ampliação do Convento dos Carmelitas de Viana do Castelo (PT/UM-ADB/MON/CNSCVCT/_C49-001032. Plantas do Convento de Nossa Senhora do Carmo de Viana do Castelo. Fundo: Convento de Nossa Senhora do Carmo de Viana do Castelo. Direitos da imagem: © Universidade do Minho/Arquivo Distrital de Braga. (Agradecemos penhoradamente ao Doutor António Sousa, diretor do Arquivo Distrital de Braga, a autorização concedida para publicação da imagem desta planta).31

Rebeca Carreto Calvo, afirma que: “En los años del siglo XVI, Fr. Élias de San Martín, General de los carmelitas entre 1595 y 1600, encargo a uno de sus arquitectos que se desplazara a todos os conventos en construcción para evitar que se relajasen en sus normas, a la vez que debía controlar las nuevas edificaciones. Con este hecho se dio comienzo a un proceso de normalización que concluiría Fr. Francisco  Fr. José de Santa TERESA. Op. Cit., p. 4.

24

25 

Rebeca Carreto CALVO. El Arquitecto Fr. Alberto de la Madre de Dio sen Calatayud. El Convento de Carmelitas Desclazos de San José (1599-1999). VII Encuentro de Estudios Bilbilitanos, Centro de Estudos Bilbilitanos, Institución «Fernando El Católico», Calatayud, 28, 29 y 30 de abril de 2006, tomo I, 473-492. Gratiniano Nieto GALLO. “Los monumentos de Lerma”. Boletín de la Institución Fernán Gonzalez, n.º 146, ano 38, 1959, pp. 549-554. 26 

Ana Jesús Mateos GIL. “Los Inicio del Barroco en la Rioja: La Arquitectura Conventual de Calahorra y sus Repercusiones Artísticas”. El pintor Fray Juan Andrés Rizi (1600-1681): Las órdenes religiosas y el arte en La Rioja. Atas -Jornadas de Arte y Patrimonio Regional. Clahorra, 2000, pp. 149-199. 27 

Fr. Manuel de S. JERÓNIMO. Reforma de los Descalzos de Nuestra Señora del Carmen de la primitiva observancia hecha por Santa Teresa de Jesus, En la antiquissima religion fundada por el gran profeta Elias. Madrid: Por Geronimo de Estrada, 1706, Tomo V, p. 499-506. José Miguel Nuñoz JIMÉNEZ. “El Padre Fray Alonso de San José (1600-1654), arquitecto carmelita”. Boletín del Seminario de Estudios de Arte y Arqueologia, Tomo 52, 1986, pp. 429-434.

 Carme Narváez CASES. “El tracista fra Josep de la Concepció: revisió historiogràfica i noves atribucions”. LOCVS AMŒNVS, 6, 2002-2003, pp. 257270. 28

29 

Fr. João do SACRAMENTO. Op. Cit., Capítulo IX - Requere a PROVÍNCIA DE Portugal o seu deserto e alcançada a licença busca-lhe o sítio da fundação, p. 53-54 - “Tomando por seu companheiro ao Irmão Alberto da Virgem também português, natural da vila de Chaves e arquitecto de fama, partiu ele para o reino”. Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Tomo I, Capitulo X, p. 545.

 Tracista setecentista que traçou, entre outras, as plantas de ampliação dos conventos de Viana e de Évora.

30

31 

“Primeira planta que mostra o acrecentamento do refeitorio e esfreguador e cozinha e caza de peixe e emfermarias e no fim as logas do oficio homilde que he o que faltava ao Nosso Comvento de Vianna a qual fis eu a oje 9 de julho de 1725 por cauza de se perder a outra que tinha a mesma obra que eu fis no tenpo que o Nosso Padre Provincial Fr. Guilherme de Jezus Maria foi prior nesta mesma caza de Vianna e estava a porvada por Nosso Padre General e como se perdeo estas 2 plantas tem a mesma obra pois eu a fis escuza outra aprovasam (a) Fr. Pedro da Comceição”.

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de la Madre de Dios (1600-1605). Este General mandó elaborar dos trazas moderadas, una para los cenobios de grandes dimensiones y otra para los más pequeños, para que a partir de ese momento fueran aplicadas en todos los conventos de nueva planta de su religión”.32 A Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos expressa que “No siendo proporcionadas para los que están en este destierro, y son pobres por profesion, las casas suntuosas, ni curiosamente adornadas, mandamos que nuestros Conventos, y aun los Templos no sean magníficos, Y para que en todas las Provincias se edifiquen com uniformidad, mandamos rigorosamente que los anchos de nuestras Iglesias no baxe de veinte y quatro pies, ni exceda de viente y siete (tomando el pie por la tercera parte de la vara Castellana) y conforme à esta medida se guardará la proporcion del arte para lo largo, y alto. Los claustros no habrá mas espácio de una extremidade à outra que el de sesenta pies, ni menos que el cinquenta y sinco. Lo ancho de cada tránsito será de nueve à diez pies, y no habrá sobre claustros. Las celdas no tendrán mas de once pies en quadro, ni menos de diez, ni de alto mas de ocho, ò nueve; sino solo las que se hicieren para los enfermos (las que en los Conventos mayores no serán mas que ocho, y en los menores à proporcion) en las quales se podrá exceder la dicha medida, com tal que no se extiendan mas que à catorce ò quince pies en quadro. El tránsito del dormitorio tendrá de ancho cinco, ò seis pies. Las oficinas inferiores de la casa tendrán de alto once, ò doce pies: de suerte que las paredes del Convento desde el suelo del claustro hasta el techo, no excedan la altura de viente y dos pies; à no ser que por la estrechéz del sitio sea necesario levantarlas mas, para que no quede expuesto el Convento al registro de las casas de los seglares”.33 A firmeza do complexo conventual, assim como a sua coerência, homogeneizada no sentido do rigoroso autodomínio edificante, mediante a instituição da observância escrupulosa dos ditames da Ordem, constituíram premissas insubstituíveis dos Carmelitas Descalços, conforme acabámos de reconhecer. No Capítulo Provincial celebrado em Toledo, em setembro de 1600, procedeu-se à reforma dos Conventos, onde se incrementou uma Planta da Ordem tendo em vista assegurar que todas as novas edificações se edificassem de uma só forma: “Reformados yà los animos para la hermosura del edificio espiritual de la Religion, tratò de reformar tambien el material de los Conventos, de que en gran parte depende el concierto de la vida religiosa. No avia hasta entonces vniformidad en la disposicion de las fabricas, por mas que lo avia procurado introducir N. P. Fr. Elias. Cada Prior labraba el Convento en la forma que mejor le parecia, de donde se originaban grandes gastos, y mas sumptuosidad en los edificios de lo que pedia la moderacion Descalza. Para obviar estos inconvenientes juntò ele P. General los Religiosos que sabian mas del arte, y mandandoles hazer vna planta acomodada de Iglesia, Claustro, celdas, y otras oficinas necessarias, ordenò, que por ella, y no por outra se rigiessen en sus fabricas, y edificios, com atencion à que en los lugares grandes, donde el concurso avia de ser mayor, tambien lo pudiesse ser la Iglesia, y lo assento por Constituicion, que vuniformemente se guarda desde entonce. Para ponerla luego en práctica labrò, y acabo desde sus cimientos la Casa de Madrid; y aunque lo que de aquel tiempo oy permanece los juzgamos por estrecho, y desacomodado, se tuvo entõces por tan magnifico, que fue necessario atender à que avia sido Corte, y lo bolveria à ser (como yà se platicaba) en la qual avia de aver gran Comunidad, para que no tuviessen algunos por superfluo”.34 Atestamos o cuidado pela rigorosa observância concernente à prática da aplicação da Planta da Ordem, que podemos testemunhar através de uma carta pastoral de Fr. João do Espírito Santo, redigida em Salamanca, em 28 de março de 1626, onde este exortava à necessidade de todas as edificações da Ordem se harmonizarem à traça determinada: “Queriendo escusar en nuestros edificios los excesos y cosas que desdizen de nuestra descalçez y pobreza, para lo qual nuestras leyes tasan la medida y forma que en todo se ha de guardar, ya la Religion ha señalado para mejor cumplirlas traçadores  Rebeca Carreto CALVO. Op. Cit., pp. 476-477.

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33 

Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos…Op. Cit., pp. 148-150.

 Fr. José de Santa TERESA. Reforma de los Descalzos de Nuestra Señora del Carmen de la primitiva observancia hecha por Santa Teresa de Jesus, en la antiquissima religion, fundada por el grand profeta Elias. Madrid: Julian de Paredes, Impressor de Libros, 1684, Tomo IV, pp. 76-77. 34

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que dispogan las traças de las fabricas, y ha obligado com precepto a que ninguna exceda, ni varie en cosa alguna del orden y disposicion que los mesmos traçadores le dexaren, de lo qual la Religion toda ha experimentado conocidos bienes. Por tanto conforme al precepto que mis precedesores han puesto, para que en el cumplimiento de lo susodicho no aya quiebra de nuevo por el tenor de la presente mando en virtud del Espiritu Santo Santa Obediencia y debaxo de precepto a todos los prelados y preladas de Nuestra Sagrada Religion; y a quales quiera otros Religiosos o, religiosas particulares de nuestra orden a quien esto pueda tocar en cualquier manera por residir en la casa, o por officio de clavarios, o executores de las traças, o de otras suerte que aviendo venido por qualquer camino a su noticia este precepto guarden y cumplan en la disposicion y execucion de las obras lo que estuviere asentado, o, delineado en traças hechas por los dichos hermanos que para ello estan senãlados sin alterar, mudar, ni exceder en cosa alguna en todo ni en parte, en la materia ni en la forma no teniendo expressa licencia nuestra en escrito, o, orden de los mismos traçadores tambien por escrito, o por traça suya firmada; y que ellos no la pueden ni den de palavra aunque sea para abri una ventana o puerta en lo ya hecho. Item que si alguno de los dichos traçadores hechase de ver que va alguna cosa desacertada la mande parar hasta dar aviso y acudiendo a qualquier Religioso le abligue a que notifique este precepto a quien le quisiere impedir su acuerdo para que assi la obra no pase adelante hasta ser yo informado. Todo lo qual mando debaxo del dito precepto. Y apretadamente encargo a los padres Provinciales que havendo hecho escrutinio deste punto y materia de edifficios, si de sus visitas resultare algun exceso contra lo sobredicho me lo avisen para que yo ponga remedio en ello”.35 De igual modo, identificámos o mesmo preceito numa circular de Fr. Diogo da Apresentação, lavrada em Granada, em 2 de junho de 1657, em que este reafirmava a obrigatoriedade de ajustes das obras dos conventos às premissas da Ordem, do seguinte modo: “Primeiramente, he notado en algunas partes diferencia en los edificios, ya de Iglesia en su grandeza, que excede a la planta de la Religion, ya de mayor curiosidad de la que se permite, y demasia en las alturas. No por esso pretendo se derriben Iglesia, ni edificios ya acabados de fabricar, pero encargo, que todo lo que se pudiere reduzir a la fabrica comun, y planta de la Religion, se haga, y en otras cosas qye con menos gasto se pueden enmendar, y univocar, se ajuste luogo (…). Y porque entre ellas es una, ser los transitos mas anchos de los seys pies que señala la constituicion, donde huviere excesso que passe de un pie mas, se remediara com un tabique a lo largo del transito, que se estreche lo necessario, y el hueco se podrá aprovechar para archivo de papeles. Item, por averse abierto ventana a calles, y al campo, fuera de clausura, contra el estilo de la Religion, y expuesto a muchos inconvenientes, y son de ruydo, que estorvan la Oracion, e impiden otros exercicios, y juntamente se oye fuera lo que se trata dentro, se cerraran todas las ventanas que recibieren luz de calle, o de fuera de la clausura, procurando que solo entre la del Cielo, o de la parte que estuviere dentro de la cerca del Convento, y donde no se puedire dar luz en outra forma, sea levantando la ventana todo lo mas que diere lugar el edificio, com rexa, y en forma de claraboya com derramo, de suerte que no se puedan assomar por ella …En algunos Conventos he visto usar de azulejos por adorno de las paredes de la Iglesia, y de losas de precio para el pavimento. Es contra el uso comun de la Religion, y será bien que gasten en la limpieza de las paredes, y aseo de las Alvas, y Ornamentos lo que superfluamente se gasta en losas de pulimento, y azulejos, sin que se permitan mas tal excesso. Y porque se han introduzido Retablos de mucha talla, ordenamos que no se hagan en adelante sin traza de la ordem que daran los Artifices que tuvieren patente de tales, y aprovacion de nuestra parte… En la fabrica de los Claustros ay diferencia en algunas partes, donde estan con colunas de piedra, y sin repechos, y se deven poner en la forma que usa la Religion, no labrando mas com colunas, y poniendo antepechos a todos los que estan sin ellos, y se quitaran las varandas de hierro de algunos corredores”.36 As simetrias que se detetam nos conventos carmelitas portugueses, apesar de observantes dos preceitos construtivos espanhóis, divergem destes, no entanto, pela sua história construtiva concreta,  Carme Narváez CASES. Op. Cit., Apèndix documental, [3]. ACA, Monacals-Hisenda, lligalls grans, 171, pp. 464-465.  Carme Narváez CASES. Op. Cit., Apèndix documental, [7]. ACA, Monacals-Hisenda, lligalls grans, 171, pp. 476-478.

35 36

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marcada e orientada pelo acompanhamento dos próprios religiosos que, em cada triénio, transitavam entre as diversas casas em construção, assumindo-se como responsáveis efetivos dos enunciados construtivos de cada casa conventual. Neste contexto, desmitificamos a figura de Francisco de Mora, que reconhecemos como arquiteto difusor de um modelo carmelita arquitetónico, mas não introdutor desse protótipo em Portugal, uma vez que os princípios orientadores da edificação conventual desta tipologia se encontram claramente definidos nas Constituições Teresianas da Ordem e a história de cada um desses claustros não consente a sua associação ao mencionado mestre. 4. OS PRIMEIROS CONVENTOS DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM PORTUGAL: FUNDAÇÃO E CONSTRUÇÃO De entre a tipologia fundacional da Ordem dos Carmelitas Descalços, - que se resume a edifícios de noviciado, hospício, colégio, convento e deserto37 -, os conventos assumem predominância face às restantes tipologias. Significativo referenciar que a Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal procurou desde cedo e durante o domínio Filipino, edificar não só conventos, mas sobretudo incrementar um Colégio de Artes em Figueiró dos Vinhos, um Colégio de Estudos em Coimbra, um Hospício em Lisboa e um Deserto no Buçaco. Reveste-se de manifesta importância este facto, uma vez que os Carmelitas Descalços, com a Aclamação de 1 de dezembro de 1640, e com o oferecimento do Padroado da Província de Portugal à Rainha D. Luísa desejaram alcançar, em 1646, autonomia em relação a Espanha, embora tal não tenho sido autorizada, tentariam uma vez mais em 1704. Todavia, conforme afirma José João Loureiro, “A Província portuguesa, temendo a recusa do rei D. José I ao Pacto de Família estabelecido por Carlos III, a 26 de Agosto de 1761, da qual resultou a Guerra Fantástica (1761-1763) - o que «distanciou ainda mais os portugueses da nação vizinha» -, e receando o corte das comunicações com Castela, viu apoiada pelo poder régio a «separação do governo da Congregação [Descalça] de Espanha», conseguindo, em 1772, a autonomização definitiva, com a criação da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do Reino de Portugal”.38 As primeiras fundações conventuais Carmelitanas em Portugal diferem substancialmente do arranque das obras de cada Casa Conventual, isto é, a instalação de cada uma passou inicialmente por instalações provisórias e depois, diferindo de caso para caso, procedeu-se à edificação do complexo conventual. Nesse sentido, e de acordo com Margarida Herdade Lucas, iniciaram-se obras de edificação em vários conventos muito anos depois do início da fundação de cada convento, levando a interpretações, na maioria das vezes erradas, de que a sequência de fundação de cada Casa coincide com a da sua edificação.39 Os primeiros conventos masculinos da Ordem a serem firmados até 1642, ano em que a Ordem dos Carmelitas Descalços ofereceu o Padroado da Província de Portugal à Rainha D. Luísa40 -, em Portugal e por localidade foram: Lisboa (1581), Cascais (1594), Évora (1594), Alter do Chão (1595)41, Figueiró dos Vinhos (1598), Coimbra (1603), Aveiro (1613)42, Porto (1617)43, Viana  Célia Maia BORGES. “Os Ermitas e o Ideal de Santidade no Imaginário Português: O Deserto dos Carmelitas Descalços no séc. XVII”. Lusitania Sacra, n.º 23, janeiro-junho 2011, pp. 189-206. 37

 José João LOUREIRO. As Galerias dos Prelados Carmelitas Descalços e o seu Pintor. Atas do Ciclo de Conferências sobre “Convento de Nossa Senhora dos Remédios e a Ordem do Carmo em Portugal e no Brasil” associado à Exposição “Convento de Nossa Senhora dos Remédios”, Convento dos Remédios, Évora, 22, 23 e 24 de maio de 2013, pp. 2-37. 38

39 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., pp. 1-767. Galeria das Ordens Religiosas e Militares, desde a mais remota antiguidade até nossos dias, adornada com muitas estampas. Tomo I. Porto: Typographia na Rua Formosa, 1843, pp. 185-208. Margarida Herdade LUCAS. Op. Cit., pp. 49-50.

 Livro dos Capítulos Provinciais, Op. Cit, fl. 24-24r, pp. 45-46.

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41 

O caso de Alter de Chão é particular dado que esta casa conventual foi abandonada em 1605, pelo que não se procedeu à sua edificação.

42 

José Justino de Andrade e SILVA. Collecção Chronologica da Legislação Portugueza compilada e annotada [1613-1619]. Lisboa: Impresa de J. J. A. Silva, 1855, p. 134, “Em Carta Regia de 3 de Junho de 1615 - Vi uma consulta do Desembargo do Paço, sobre a licença que o Procurador Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços pertende para se continuar a fundação de um Mosteiro, que tem principiado na Villa de Aveiro - que hei por bem de lhe conceder, tendo respeito ao estado em que a obra está, e a que se não seguirá disso damno aos dous Conventos de S. Domingos e S. Francisco, que ha na mesma - porém aos Officiaes da Camara, que serviam quando a obra se começou, se perguntará que razão tiveram para o consentimento, sem licença minha, ordenando-lhes que respondam por escripto: e a sua resposta se verá no Desembargo do Paço, e se fará consulta do que parecer, que me enviareis. Ruy Dias de Menezes. Livro de Correspondência do Paço, fol. 102”.

 José Justino de Andrade e SILVA. Op. Cit., p. 245, “Em Carta Regia de 22 de Maio de 1617 - Por a particular devoção que tenho ao Habito dos Religiosos Carmelitas Descalços, hei por bem de lhes conceder licença, para que neste Reino, na Cidade do Porto, e nas Villas de Vianna e Thomar, possam fundar 43

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(1618) e Buçaco (1628)44, sendo que no caso dos conventos femininos, foram firmados, por localidade em Lisboa (1585)45 e Carnide (1642).46 Todavia, no que concerne à edificação desses mesmos conventos e no caso dos masculinos, nos quais nos iremos debruçar, a ordem altera-se de forma notória. Neste contexto, os conventos foram edificados pela seguinte sequência: Cascais (1594 - obras embargadas entre 1601 e 1616), Figueiró dos Vinhos (1601), Évora (1602), Lisboa (1606), Coimbra (1606), Aveiro (1613), Porto (1619), Viana (1621) e Buçaco (1628). Convém ainda referenciar e no que respeita à edificação da igreja de cada convento, essa mesma sequência é novamente alterada: Figueiró dos Vinhos e Évora (1607), Lisboa e Coimbra (1608), Porto (1622), Cascais (1625), Aveiro (1628), Buçaco (1629), Viana (1634).47 Importa mencionar que a escolha de alguns dos locais escolhidos para a edificação dos conventos da Ordem está intimamente ligada com as principais famílias nobiliárquicas portuguesas do século XVII, que assumiram o compromisso mútuo na fundação ou no padroado dos diferentes conventos: os Condes de Monsanto no caso de Cascais; os Senhores e Condes de Figueiró no caso de Figueiró dos Vinhos; a Casa de Bragança (D. Teotónio de Bragança) no caso de Évora; a Duquesa de Bragança (D. Catarina) no caso de Alter do Chão; e os Duques de Aveiro nos casos do convento masculino de Aveiro e do convento feminino de Carnide. Com os elementos expostos alcançámos, em relação a cada convento, que embora a data de fundação não coincida com o início das obras de edificação de cada casa conventual, torna-se ainda mais evidente quando equiparada com o começo das obras de edificação da igreja conventual. Nesse sentido, observando as datas expostas e pelo que já demostrámos analogamente aos tracistas da ordem, à planta instituída nas Constituições para observância das premissas a seguir para garante dos princípios uniformizadores e homogeneizadores, reconhecemos Francisco de Mora, como arquiteto difusor de premissas arquitetónico carmelitanas mas não como introdutor desse protótipo em Portugal. Cumpre-nos ainda ressalvar o facto de no Convento das Carmelitas Descalças de Santa Teresa de Carnide, ter havido efetivamente a intervenção do arquiteto João Rodrigues, que cremos, tenha sido o arquiteto privativo da Casa de Aveiro.48 Todavia, qualquer que tenha sido a sua ação no projeto desse Convento, e de acordo com as Constituições da Ordem dos Carmelitas Descalços, esta terá sido supervisionada e inspecionada pelos tracista da Ordem. De igual modo, a ter executado um qualquer projeto para esse convento devê-lo-á ter executado “sin alterar, mudar, ni exceder en cosa alguna en todo ni en parte, en la materia ni en la forma no teniendo expressa licencia nuestra en escrito, o, orden de los mismos traçadores tambien por escrito, o por traça suya firmada” tendo passado necessariamente pela aceitação do Padre General da Ordem.49 5. MÉTODO CONSTRUTIVO DOS PRIMEIROS CONVENTOS DOS CARMELITAS DESCALÇOS EM PORTUGAL Atendendo à data do início das obras de cada casa conventual, - Cascais, Figueiró do Vinhos, Évora, Lisboa, Coimbra, Aveiro, Porto, Viana e Buçaco -, é necessário compreender o modo como tres Mosteiros da sua Ordem; para o que vos encomendo e encarrego muito que lhes façaes dar o despacho e favor necessario.= Christovão Soares. Livro de Correspondência do Despacho do Paço, fol. 184”.

 Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., pp. 82-87; pp. 326-338; pp. 338-344; pp. 358-365; pp. 393-397; pp. 404-409; pp. 515-520; pp. 532-537; pp. 542547. Fr. João do SACRAMENTO. Op. Cit., Capítulo XVI, pp. 87-92. 44

45 

Isabel MARUJÃO. “Mará de San José (Salazar) O.C.D., fundadora do primeiro Carmelo descalço feminino em Portugal”. Revista de Estudos Ibéricos, n.º 0, 2003, pp. 241-260.

 Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXVI, pp. 131-135. Miguel PORTELA. “Santa Teresa de Carnide entre Arquitetos. Prestígio e Mecenato”. Convento Santa Teresa de Jesus de Carnide: O falar das pedras. Coord. Augusto Moutinho BORGES, Confraria de São Vicente de Paulo, Editorial Palavras Tácteis, 2016, pp. 95-103. 46

 Ver nota 39.  Ver nota 46.

47 48

49 

Miguel PORTELA. “Prestígio e Mecenato…”. Op. Cit., pp. 95-103.

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os religiosos conseguiriam conviver com a dualidade: obras versus religiosidade. Enunciaremos, seguidamente, os elementos que nos permitem elencar o método seguido nas fases decisivas dos processos construtivos, por que cada casa conventual passou, destacando o significado do papel desempenhado por alguns frades carmelitas à frente dessas obras. Assim, a fundação de cada convento passou durante a sua edificação por quatro fases diferenciadas: a primeira respeita à acomodação dos religiosos em locais cedidos, na maior partes das vezes por particulares, antes do início das obras do convento; a segunda respeita à construção das primeiras dependências conventuais e à transferência dos religiosos para as essas dependências após a sua edificação; a terceira concerne à construção do corpo da igreja e outras divisões do convento, - enquanto os religiosos habitam as dependências edificadas anteriormente -, com o auxílio dos Padroeiros e com a venda das capelas do interior das igrejas; a quarta e última alcançada com a conclusão da igreja e términus de todo o complexo conventual.

Figura 4 - Fachada do Convento dos Remédios em Lisboa (Agradecemos penhoradamente ao investigador José João Loureiro a cedência da foto que aqui publicamos).

Vejamos agora alguns exemplos correspondentes à primeira fase. Fr. Belchior de Santa Ana, relatava no que respeita ao convento de Cascais: “Porque não havia casas nele [sítio] em que os religiosos principiassem o convento escolheram umas onde chamam as courelas que ficavam pouco distantes. E acomodadas nelas a igreja, sacristia, celas e oficinas necessárias para a vida religiosa, no primeiro dia de Dezembro puseram o Santíssimo Sacramento e deram feliz princípio ao mosteiro com a invocação de Nossa Senhora da Piedade por quererem assim os condes os quais assistiram à festa”.50 O mesmo autor refere, em relação à fundação do convento de Figueiró dos Vinhos: “O convento fezse com empréstimo nos paços enquanto se acomodava a futura casa: pelo que tratou o fidalgo de fazer as obras na quinta da Eireira que tinha dado para ele”51, e no que respeita ao Colégio de S. José em Coimbra refere: “Ao qual o padre deu princípio a 18 de julho com a invocação de S. José nas casas do conde de Portalegre; à porta de Belcouce, no princípio da rua das Farigas, freguesia de S. Cristovão, com tanta falta de móveis necessários que até para dormir não tinha cada religiosos mais que uma manta”.52

No que concerne à segunda fase, Fr. Belchior de Santa Ana refere, no caso do convento de Cascais: “Cercado o sítio e acabados os dois quartos do nascente e meio dia deixaram os religiosos a Misericórdia e no domingo da septuagésima 8 de Fevereiro de 1596 passaram para o seu convento levando o Santíssimo Sacramento em procissão solene para a igreja então tão ornada que supria no asseio e composição tudo o que faltava na escassez por ficar de emprestado nos baixos do quarto do oriente ficando nos mesmo para a parte norte o coro por detraz do altar mór e a sacristia e lavatório nas costas do coro”.53 No caso de Figueiró o referido autor conta que “No ano de 1607, já feitos os dormitórios que estão para oriente e para o meio dia, o padre prior, Fr. Tomás de S. Cirilo, levou os religiosos dos paços para eles no primeiro de Novembro. E acomodou-se a igreja no que é hoje a ante-sacristia, sacristia e  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XVII, p. 327.  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXX, p. 395.

50 51

52 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXXIII, p. 405.

53 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XVII, p. 328.

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lavatório, ficando a porta, por onde entravam os seculares, onde hoje está a que dá a serventia para o claustro para a ante-sacristia; fez o coro nas duas casas que agora servem de despejos da sacristia e desta serviu então outra casa que fica vizinha. Com este aperto e pobreza passaram até o ano de 1644 no qual a 10 de Abril, no domingo segundo depois da Páscoa, passou o padre prior Fr. Luís de Jesus para a igreja nova o Santíssimo Sacramento”.54 De igual modo, no que concerne ao Colégio de Coimbra, e citando uma vez o supracitado autor, reconhecemos que “acomodou-se a igreja onde hoje é a sacristia e lavatório ficando a porta onde está o oratório que então serviu de alpendre coberto. Fez-se o coro na ante-sacristia que serve neste tempo e dele entrava-se para a igreja por uma porta que ficava à ilharga do altar mór. Preparado tudo o que era necessário para a vivenda dos religiosos passou-os o padre reitor Fr. António do Santissimo Sacramento das casas em que estava para o novo colégio a 31 de Agosto de 1608 e ali disse a primeira missa”.55 Com os relatos narrados concluímos que numa primeira fase de obras, a solução adotada para a instalação dos religiosos nos primeiros conventos era a da edificação de certas dependências que se localizavam no corpo posterior da cabeceira da igreja, sobretudo na zona da sacristia, dormitórios, e lavatório. No que concerne à terceira fase, é pertinente referir que sendo a igreja o corpo principal do Convento, assente nas premissas dimensionais da Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos, a sua edificação e ornamentação careciam de elevadas quantias monetárias. Nesse sentido, a Ordem dos Carmelitas Descalços autorizou e aprovou a contratualização do padroado afeto a cada convento a membros das mais representativas e distintas Casas nobiliárquicas portuguesas de seiscentos. Devemos realçar, ainda, a preocupação que os Carmelitas Descalços tiveram em garantir que no interior do complexo conventual houvesse espaço de silêncio para a dedicação ao recolhimento e à quietude espiritual, sendo que a construção de uma cerca era umas das suas disposições obrigatórias. Sabemos por exemplo, que foi lavrado em Figueiró dos Vinhos, em 15 de novembro de 1620, o contrato notarial da empreitada de execução da cerca do convento dessa vila, entre os Carmelitas Descalços e Manuel Fernandes, mestre pedreiro, morador na freguesia da Sé em Braga.56 De igual modo, sabemos que no Colégio de Coimbra, e no tempo do Padre Fr. Miguel de S. Jerónimo (1624-1627) se fez o muro da cerca que cai para o rio57, tendo sido acordada a sua execução entre os Carmelitas Descalços e o Colégio de S. Bento de Coimbra: “Nós frei Bassilio da Ascensão Dom Abbade do Collegio de S. Bento de Coimbra com os Padres Doutores Prior et Convento abaixo asinado estando em Capitolo, como he nosso costume pera semelhantes cousas congregados dizemos que posto que temos licença de Sua Magestade el Rey Dom Phelippe o Primeiro, que Santa Gloria aya pera comprar o Campo da Genicoca, que foy do Carlos, et oja possue o Padre Jeronimo Pirez da Veiga, por ser necessairo pera se cercar o ditto Collegio visto com os Padre Descalços do Carmo tem o seu Collegio junto ao nosso, e não se mete entre nos mais que o dito campo, de comum consentimento temos contratado entre nós, que cada hum dos ditos Collegios trabalhe por aver o ditto campo por qualquer via, que for possivel com tal condição que cada hum dos Collegios que o ouver seja obriguado de dar ao outro o que lhe for necessario pera se poderem cercar direitamente sem se fazerem recantos no dito muro. E porque do sobredito somos contentes, e consentimos que se compre o dito campo com a tal condição asinamos este contrato com tanto, que os Padre Descalços do Carmo nos passem outro semelhante asynado por todos com a mesma obriguação. (a) Frei Basilio da Ascensão, (a) Frey Gregorio das Chagas, (a) Frey Leão de Santo Thomas, (a) Frey Mauro das Chagas, (a) Fr. Theodoro da Cruz, (a) Fr. Bento da Cruz, (a) Fr. Placido da Cruz, (a) Frei Arsenio”.58 Deste caso concreto documentamos, ainda, a autorização concedida para se construir a cerca, lavrada no “Colegio de San Joseph de la ciudad y Universidad de Lerida a treinta de Junio de mil 54 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXX, p. 395.

 Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXXIII, p. 407. 56  Miguel PORTELA. “Manuel Fernandes, mestre pedreiro da cerca do Convento dos Carmelitas Descalços em Figueiró dos Vinhos”, O Figueiroense, 55

Edição compartilhada com O Ribeira de Pera, Diretor: Fernando C. Bernardo, II Série, n.º 16, 16 de novembro de 2015, p. 8. 57 

Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXXIII, p. 409.

 Arquivo da Universidade de Coimbra (A.U.C.). Colégio de S. José dos Marianos (C.S.M.). Dep. V-2.ªE-2-6-2, Caixa 1, Documento avulso.

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seiscientos i deciocho” e assinada por Fr. Joseph de Jhesus Maria General da Ordem e pelo secretário Fr. Joam de San Angello, tendo ficado arrolado: “Fray Joseph de Jesús Maria General de la Orden de los Descalços Carmelitas por quanto se no à hecho relación que nuestro Collegio de San Joseph de la Ciudad e Universidad de Coimbra tiene necesidad para su mayor comodidad y clausura de comprar y haver una heredad que alinda con las cercas del dicho Colegio laqual es del Padre Juan Pires da Veiga vezino de la dicha ciudad y es tributaria de por vidas al muy Prelado Cabildo de la See della y senos a pedido licencia para comprarla por lo que justo fuere con atención a satisfazer al dicho Cabildo conviniéndose con los señores del dicho tributo por tanto attendiendo a la utilidad y comodidad de dicho Colegio por el tener delas presentes damos licencia al padre Retor y capitulares del dicho ñso Colegio de San Joseph para que puedan effectuar y efectúen la compra de la dicha heredad”.59 No que pertence ao Padroado dos vários conventos, os Carmelitas Descalços tiveram sempre presente a necessidade de financiamento para as suas obras, uma vez que a Regra da Ordem assentava no voto de pobreza. Assim, procuraram junto das principais Casas nobiliárquicas portuguesas auxílio para fazer face a essas precisões. Todavia, a outorga desse mesmo Padroado era sempre observada e aprovada pela Ordem, conforme já aludimos anteriormente. Vejamos alguns casos concernentes a estes primeiros conventos, particularmente no de Cascais: “E o senhor D. Luís de Castro seu filho [do Conde D. António] e herdeiro por sua escritura feita a 10 de Fevereiro de 1598 obrigou-se a acabar o convento dando para as obras e para a sacristia quinhentos cruzados cada ano enquanto elas durassem. Com a condição que se lhe dissesse cada dia para sempre uma missa a Nossa Senhora da Piedade com duas comemorações, uma a S. José, outra a Santa Catarina mártir pelas almas dos condes fundadores e dos seus sucessores: e no oitavário da dedicação de S. Miguel de Setembro um ofício de nove lições com a sua missa cantada: e que na colecta, et famulos tuos, se acrescentasse, et famulos touscomites nostros, e se pusesse o escudo das suas armas sobre a porta da igreja e na capela mór e onde ele quisesse mais e que na capela mór se enterrassem os conde e no cruzeiro só pessoas ilustres”60, do de Évora, “A seis de Março de mil seiscentos e dezassete acabando o nosso padre geral, Fr. José de Jesus Maria de visitar este convento deu-lhe a relíquia da carne da nossa Madre Santa Teresa que nele se venera hoje. Depois o arcebispo D. José de Melo pela muita devoção que tinha à santíssima Virgem dos Remédios e singular afeição com que amava os nossos religiosos tratou de escolher a sepultura e tomar o padroado do convento. Avisou do seu intento ao nosso Padre Fr. Afonso dos Anjos, então vigário geral da Ordem. O qual mostrando-se agradecido à boa vontade que sua ilustrissima tinha à religião e as boas obras com que a autorizava mandou-lhe a licença do definitório celebrado em Alcalá de Henares a 21 de Maio de 1625 para se fazer a escritura do contrato do padroado como se fez a 21 de junho assistindo D. Francisco de Melo, conde de Assumar, seu sobrinho e procurador.”61; e do de Figueiró dos Vinhos, “Da parte da religião foi a a primeira condição: que diria o convento pelas almas e intenções dos senhores padroeiros uma missa rezada quotidiana e um ofício solene de defuntos de nove lições com a sua missa cantada no oitavário de todos os santos e que no mesmo dia celebrariam todos os sacerdotes pela mesma intenção. Segunda: que todos os sacerdotes, dizendo missa, meteria na oração: Et famulos tuos, estas palavras: Patronoes nostros. Terceira: que não se enterraria ninguém dentro da capela mór, cruzeiro da igreja, capítulo e de profundis. E que poderiam ter os padroeiros uma tribuna para a igreja em lugar conveniente para ouvirem os divinos ofícios; da qual teriam os religiosos a chave. Feita a escritura entregou Pero de Alcáçova ao padre a licença que passou o bispo de Coimbra D. Afonso de Castelo Branco para se fazer a fundação nesta forma, na qual manifesta bem a muita devoção que nos tinha”.62 Reconhecemos que a Ordem dos Camelitas Descalços, de modo a fazer face às despesas das obras de construção da igreja, autorizou e consentiu também a contratualização da venda das capelas  A.U.C.. C.S.M.. Dep. V-2.ªE-2-6-6, Caixa 5, Documento avulso.  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XVII, pp. 328-329. 61  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XLIV, p. 448. 62  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXX, p. 394. 59 60

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do interior de cada igreja conventual, desde que fossem observadas e cumpridas as premissas da própria Ordem. Veja-se a descrição que fez Fr. Belchior de Santa Ana no caso de Cascais: “Uma das capelas fabricou e dourou Francisco Gomes e Domingas Mendes casada com ele e a outra Francisco Manso Baião”63 e no caso do Porto: “Tem na igreja as capelas colaterais do cruzeiro Jerónimo da Mota Teixeira e Domingos Gil da Fonseca; este a de S. José, aquele a de nossa Madre Santa Teresa. E as outras capelas Manuel Tavares e Manuel Ferreira Coimbra”.64 Identificamos igual situação no Colégio de Coimbra, através da celebração do “Contracto da venda da Capella do Santo Christo que esta na igreja que comprou o Padre Antonio de Lemos pella qual deu cento e quarenta mil reis. Hera este Prior de Lavãos e não se cumprio o mais que determinava de missas para a dita capella e sua fabrica - ano de 1616 - aos 7 de julho - como consta dos autos de desistência da capella que esta juncto ao testamento do instituidor em hum libro enquadernado em pasta com pregos de latam - esta capella foy ao depois vendida a Anna dos Sanctos. Feita nesta cidade nas notas de Thome Borges”.65 Neste contexto é essencial realçar a resolução tomada pela Ordem dos Carmelitas Descalços no definitório, celebrado no Convento de São Hermenegildo em Madrid, em 10 de julho de 1693, sobre a necessidade de se submeter as capelas adquiridas por particulares à traça instituída pela Ordem: “Fray Francisco de Jesus (…) Secretário de la Ordem (…), doy fe que en el Difinitorio general que en junta extraordinaria se ha celebrado en este Nuestro Convento de San Hermenegildo de Madrid este presente mes y año, se hizo una acta del tenor seguinte. Por quanto los que compran capilla en Nuestros Conventos haviendolas de hazer a su costa, procuran introducir excesos, asi en la fabrica, como en los retablos y adornos de las dichas capillas, pareciendoles que obra en cosa suia. Por tanto para obviar este inconveniente tan contrario a nuestra Descalcez y Reforma, ordenó el Difinitorio por modo de acta, que no solamente los edificios de capillas mayores, y menores no se puedan edificar sin traza del tracista de la Orden (…); sino que tambien los retablos se haian de hazer com traza del mismo tracista, y esta no se execute hasta que la dicha traza se imbie a nuestro Padre General y la apruebe para que assi se asegure mas la uniformidad en todos los Conventos”.66 Por último, cabe ainda referenciar a quarta fase do processo construtivo, ou seja, no términus da edificação da igreja as obras prosseguiam com a construção das mais diversas dependências, como no caso do Colégio de S. José de Coimbra, no qual reconhecemos através das palavras de Fr. Belchior de Santa Ana, que “O Padre Fr. Sebastião da Conceição fez os corpos das relíquias e as estantes da livraria em que meteu cento e quinze mil reis de livros; trouxe a água para casa e fez o primeiro tanque em que corre. O Padre Fr. António da Madre de Deus fez o eirado em que está sobre o tanque e levou a água à fonte de S. José. E o padre Fr. Pedro Tomás o forno de abobedilhas e o soalho, portas e janelas de boa madeira: fez os quadros da sacristia, as grades da igreja, o púlpito e o tanque grande”.67 5. TIPOLOGIA CONSTRUTIVA DOS CARMELITAS DESCALÇOS Pelo que expusemos anteriormente cumpre agora expor uma problemática que tem levantado hesitações e incertezas: Estilo ou Arquitetura na Ordem dos Carmelitas Descalços?.68 Muito embora os Carmelitas Descalços tenham diretivas construtivas inscritas na Regla Primitiva y Constituiciones de Los Religiosos Descalzos, - acima de tudo um conjunto de proporções dimensionais conducentes à normalização e homogeneização de medidas concernentes à edificação dos edifícios conventuais -, haja obrigatoriedade de observar as indicações expressas do arquiteto, dos tracistas, dos mestres-deobras da Ordem, e de haver sido implementado “vna planta acomodada de Iglesia, Claustro, celdas,  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XVII, p. 330.  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXII, p. 600.

63 64

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A.U.C.. C.S.M.. Dep. V-2.ªE-2-6-2, Caixa 5, Documento avulso.

 Carme Narváez CASES. Op. Cit., Apèndix documental, [14]. ACA, Monacals-Hisenda, lligalls grans, 171, pp. 493-494.  Fr. Belchior de SANTA ANA. Op. Cit., Capítulo XXXIII, p. 409. 68  Leticia Verdu BERGANZA. La arquitectura carmelitan y sus principales ejemplos en Madrid (S.XVII). Tesis Doctoral. Universidad Complutense de 66 67

Madrid, Facultad de Geofrafía e Historia, Departamento de Historia del Arte II (Moderno), Madrid, 2002.

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y otras oficinas necessarias”, reconhecemos que estes elementos só por si não são suficientes para se provar a existência de um Estilo ou Arquitetura específicos da Ordem dos Carmelitas Descalços. Cremos assim, que a Ordem dos Carmelitas Descalços tem efetivamente uma Tipologia Construtiva que claramente define a genuína essência do Carmelita Descalço: o espírito contemplativo de sensibilidade, austeridade e acima de tudo de pobreza. Essa essência converge do silêncio da clausura para a entrega a Deus no espaço sagrado dos claustros e da igreja. É precisamente do interior desses espaços sagrados que o Carmelita se dá e se consagra no Amor ao próximo, buscando na serenidade do coração a oração íntima com Deus: “Deste verdadeiro amor, y assistencia de Dio sen el alma, que siente ser amada del mismo Señor, nace vna dulçura, vn gusto, vna suauidad, y vn deleyte tan grande en el coraçon, que no ay contento temporal, ni espiritual, que se le compare; y el alma llega a la oracion de quietude, por donde esta dulçura se alcança”.69 A Ordem dos Carmelitas Descalços fez da fachada das suas Igrejas Conventuais o elemento mais caraterístico que a personaliza e distingue e que lhe imprime uma personalidade própria, facilmente assimilada e incorporada nos mais variados edifícios religiosos das mais diversas Ordens Religiosas, tendo sabido adaptar-se e resistido à modernidade dos tempos, símbolo da sua verdadeira simplicidade, pobreza, Amor a Deus e ao próximo.

Figura 5 - Fachada do Convento de Santa Teresa dos Carmelitas Descalços em Salvador da Bahia (Agradecemos penhoradamente a Michael Allan Luther a cedência da foto que aqui publicamos).

 Santa Teresa de JESUS; Jerónimo Gracián de la MADRE DE DIOS. Conceptos del Amor de Dios. Brvselas: Por Roger Velpio y Huberto Antonio, 1611, svmula de lo qve en este tratado se contiene, para mayor claridad de la doctrina. 69

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