Uma Força Armada Europeia. Um projeto exequível ou uma ideia utópica?

Share Embed


Descrição do Produto

2015/ 06/ 05

Um a Fo r ça A r m a d a Eu r o p e i a . Um p r o j e t o e x e q u ív e l o u u m a i d e i a u t ó p i ca ? 1 Jorge Paulo Prazeres

2

Resum o Jean- Claude

Junker

sonhou

com

um

Exércit o Europeu para se opor à Rússia. Porque será que o queria? Talvez porque a União Europeia há m uit o que necessit a de um a est rat égia própria e de um inst rum ent o de defesa m ilit ar capaz e credível. Para que se desenhe e crie um inst rum ent o

de

defesa

m ilit ar

será

necessário at ribuir- lhe um a ut ilidade concret a, ident ificando- se claram ent e qual a am eaça. O President e da Com issão Europeia necessit a fazer face a um largo espect ro de riscos e desafios, desde o Lest e da Europa à m argem Sul do Medit errâneo. Para além do cept icism o am ericano expresso nos 3D de Albright , seria necessário ult rapassar a idiossincrasia t radicional europeia que não t em perm it ido um a visão polít ica, est rat égica e defensiva com um . Mesm o que se com eçasse a const ruir hoj e um Exércit o Europeu, os result ados só seriam credíveis a longo prazo. *** Em finais de Março de 2015, a com unicação social difundia a not ícia de que JeanClaude Junker afirm ou que desej ava um Exércit o Europeu capaz de se opor de form a credível à polít ica ext erna russa, principalm ent e no que concerne à crise decorrent e da ocupação da Crim eia e do conflit o vivido na Ucrânia. Trat a- se de um a afirm ação ousada e que arrast ará consigo um qualquer propósit o m erecedor de análise. I m põe- se ent ão a pergunt a: porque é que o President e da Com issão Europeia necessit a de Exércit o Europeu se a NATO assegura a defesa t errit orial da Europa e se os Est ados m em bros dispõem de Forças Arm adas nacionais?

1 O que faz a im agem de abert ura dest e t ex t o – opção da edição do JDRI – é u m a recent e declaração d a m inist ra da Defesa alem ã, Ursula Von der Ley en, sobre ot em a cent ral dest e t rabalho. 2 O aut or não segue o acordo ort ográfico.

Página 1 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

A prim eira respost a que pode ocorrer é que Jean- Claude Junker desej a um Exércit o Europeu para fazer frent e à Rússia porque t em a percepção de que nenhum dos inst rum ent os de defesa m ilit ar à disposição da União Europeia (UE) são suficient es dissuasores para alt erar o com port am ent o est rat égico de Moscovo ( Riley-Sm it h, 2015; Robinson & Shot t er, 2015; RT, 2015; Sparrow, 2015) . Est a percepção de incapacidade pode advir do fact o de, apesar das palavras de incent ivo do seu Secret ário Geral, Jens St olt enberg (2015) , bem

com o do

"Readiness Act Plan" ou da "Spearhead Force" da Aliança At lânt ica, a NATO est á m ais configurada com o um forum de consult as à disposição dos seus Est ados m em bros. At é ao m om ent o at é pode t er um papel int egrador de dout rina, m as não t em

conseguido

aglut inar

de

form a

consist ent e

as

diferent es

perspect ivas

est rat égicas nacionais. A crise económ ica que t em

assolado a Europa t em

cont ribuído para um

arrefecim ent o na vont ade de invest im ent o em defesa por part e dos Est ados europeus. Tam bém algum as clivagens no seio da NATO em relação à dist ribuição de esforços, num cont ext o de part ilha de esforços e responsabilidades, não t êm criado a oport unidade para que os processos de defesa m ilit ar possam ser encarados de um a form a m ais racional. A conj ugação de esforços de gest ão dos recursos exist ent es, num a prát ica t ent ada à luz de de um a abordagem int egrada ( "com prehensive approach") deu origem a um apelo reit erado para a adopção m ais efect iva de polít icas de part ilha e de int egração de m eios m ilit ares, conhecida com o "sm art defence", na NATO, ou "pooling and sharing" na União Europeia ( NATO, 2012a) . As est rut uras m ilit ares nacionais ao nível individualizado de cada Est ado m em bro da UE e da NATO, à excepção dos EUA, apenas t em dem onst rado disponibilidade para cont ribuições pouco m ais do que sim bólicas, sobret udo em m issões de gest ão de crises, sem proporcionar um a escala suficient em ent e fort e para const it uir um baluart e de defesa cont ra um a ofensiva direccionada para a Europa. Ant es da União Europeia pensar num inst rum ent o de defesa m ilit ar para se cont rapor a am eaças será convenient e ident ificar e caract erizar quais as am eaças que se apresent am à Europa. De um a form a geral, o Ocident e, aqui represent ando os Est ados Unidos da Am érica ( EUA) , a UE e a NATO, t em t ido um a abordagem sensivelm ent e com um quant o à avaliação da am eaça. Para a NATO, as principais am eaças sit uavam - se à volt a dos at aques de caráct er cibernét ico, da proliferação das arm as de dest ruição m assiva, do t errorism o, bem com o out ras am eaças em ergent es, t ais com o aquelas decorrent es das vulnerabilidades energét icas ( NATO,

2012b) .

No âm bit o da UE,

Cat herine Asht on

Página 2 de 10

( 2010b) ,

com o Alt a

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

Represent ant e da União Europeia para a Polít ica Externa e para a Polít ica de Segurança e Defesa, fazia um a list agem de am eaças, sublinhando os riscos de corrent es das acções t errorist as, da proliferação de arm as de dest ruição m assiva e incapacidade dos Est ados frágeis para cont er os focos de violência e dest ruição daí decorrent es. O crim e organizado, com o aspect o pot enciador das am eaças at rás indicadas, bem com o a im igração ilegal, o t ráfico hum ano, de drogas e de arm am ent o, associado a fact ores negat ivos inerent es à com pet ição pelos recursos nat urais e à act ividade indust rial poluent e cont ribut iva para a degradação do m eio am bient e e para as alt erações clim át icas, int egravam o conj unt o de fact ores ident ificados pela União Europeia que necessit ava de ser com bat ido. Em sessão do Conselho de Segurança da ONU, Cat herine Asht on ( 2010a) afirm ava que a Europa t eria que encont rar respost as de caráct er abrangent e e alargado para fazer face aos riscos e am eaças j á reconhecidos de form a com um , m as t am bém a out ros aspect os que afect am m ais direct am ent e os cidadãos, t ais com o aqueles relacionados com a dependência energét ica, as pandem ias, os aspect os financeiros, económ icos e com erciais pot enciadores de crise, bem com o com os aspect os de desequilíbrio na nat alidade que cada vez m ais envelhecem a Europa. At é à invasão e anexação da Crim eia, em 2014, os europeus nunca se t inham confront ado com um a am aça inequívoca à sua int egridade t errit orial. Se bem que a Ucrânia não faça part e da UE, faz part e da sua vizinhança próxim a e a inst abilidade nest a região não deixará se const it uir um a am eaça à segurança na Europa. A at it ude de Moscovo na condução da sua polít ica ext erna deu a ent ender que a Rússia se est ava a arm ar m ilit arm ent e e que est ava a encet ar um a acção de expansão sobre os Est ados Europeus que ant eriorm ent e pert enceram à esfera de influência da ex- União das Repúblicas Socialist as Soviét icas (URSS) . Cont udo, a perspect iva de Jean- Claude Junker para um Exércit o Europeu que se oponha à Rússia parece insuficient e porque as am eaças não vêm só da Rússia, m as t am bém da região Sul da sua vizinhança. Não obst ant e o diálogo que t em sido est abelecido ent re a Europa e a m argem Sul do Medit errâneo, o result ado polít ico e social das [ pouco] "prom issoras" Prim averas Árabes de 2010 dificilm ent e se pode considerar posit ivo. O caos inst alou- se na Líbia, o Egipt o é governado de form a aut orit ária, t ent ando im por um laicism o de Est ado que est á algo em cont ra- ciclo com os desenvolvim ent os polít ico- religiosos no Médio Orient e e a crise I sraelo- Palest iniana est á longe de est ar resolvida. O conflit o na Síria saiu do cont ext o local e alast rou para um cont orno regional, sendo palco de um choque de int eresses alargado, Sunit as e Xiit as com bat em ent re si e o aut o- proclam ado Est ado I slâm ico é prot agonist a num am bient e de t error e de Página 3 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

ret rocesso civilizacional a cobert o da defesa de um a put at iva aut ent icidade religiosa, fazendo chegar a sua influência desde o Medit errâneo a regiões da África sub- saariana. O I rão encont ra-se em processo de negociação quant o ao seu program a nuclear, cat ivando algum as sim pat ias no seio dos EUA, m as vincando clivagens com I srael e com a Arábia Saudit a. Enquant o ist o, o I raque at ravessa um a fase de profunda desest rut uração polít ica, social e económ ica. É nest e cenário de elevada int eracção agónica e de com plexidade polít ica que se est á const ruindo um a t eia de profunda inst abilidade na vizinhança Sul da UE. Tam bém aqui a Europa não t em conseguido ser um produt or de segurança de reconhecido valor, nem polít ico, nem diplom át ico, e m uit o m enos m ilit ar, que possa m it igar as am eaças que florescem . Para agravar o rol de problem as securit ários que afect am a UE, t am bém o flagelo das m igrações clandest inas e ilegais que at ravessam o Medit errâneo, bem com o as m ort es no m ar associadas, est ão a deixar os europeus sem um a respost a credível para cont rolar est e problem a, ao m esm o t em po que agudizam clivagens polít icas int ernas no seio dos Est ados m em bros quant o à form a de lidar com o elevado fluxo de im igrant es, frut o da inst abilidade em África e no Médio Orient e. Tendo em cont a as principais am eaças apont adas, quando Jean- Claude Junker pensa num Exércit o Europeu cert am ent e que pensará num inst rum ent o capaz de enfrent ar m ilit arm ent e qualquer est rut ura produt ora de am eaça e de dissuadir acções m at erializadoras de t al. Seria ent ão im prescindível t er ideia m uit o clara acerca do que fazer com est e inst rum ent o est rat égico no dom ínio da polít ica ext erna europeia e do seu poder m ilit ar. O poder m ilit ar da Europa pode ser descrit o com o um produt o, considerando o valor quant it at ivo e orgânico da est rut ura coerciva de que dispõe, m ult iplicado pelo result ado de um conj unt o de out ros fact ores, t ais com o o pot encial disponível de recursos disponíveis, sej am eles m at eriais, energéticos, t ecnológicos, ou hum anos qualificados. Est e pot encial assim calculado deverá ser ainda m ult iplicado por um coeficient e decorrent e da solicit ação ext erna que é feit a à Europa para se em penhar m ilit arm ent e em conflit o. O produt o sim ples at é agora calculado será ainda pot enciado por um out ro coeficient e que engloba a adequação dos m eios m ilit ares disponíveis, a int enção e vont ade polít ica e social da União Europeia em se envolver em cam panha m ilit ar, a qual t em t endido para a nulidade. Se a int enção e a vont ade forem elem ent os sem expressão, poderão arrast ar para o valor zero t odo o pot encial m ilit ar avulso que possa t er sido reunido. A t odo o acervo de capacidade deverá ser adicionada a est rut ura diplom át ica à disposição da União Europeia. Percebe- se que o fact or absorvent e que pode reduzir o pot encial m ilit ar disponível a Página 4 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

um nível prat icam ent e nulo reside na int enção, vont ade e adequação no em prego m ilit ar da est rut ura e recursos disponíveis. A est rut ura diplom át ica é sim plesm ent e adit iva, podendo fazer a diferença em caso de equilíbrio m ilit ar ent re cont endores. Se com parada a União Europeia com a Rússia, à luz da descrição de poder ant eriorm ent e apresent ada, poder-se- á concluir que, por m uit o est rut urado que o poder m ilit ar europeu possa est ar, se a int enção, vont ade e adequação dos m eios for m ínim a, o poder europeu de dissuasão m ilit ar convencional sobre a Rússia será t am bém m ínim o. Já a Rússia, por m uit as dificuldades est rut urais que possa deixar t ransparecer, aparent a um a int enção e vont ade de em pregar os m eios necessários, ao pont o de suscit ar a Jean- Claude Junker o desej o de possuir um Exércit o Europeu que defenda a Europa da agressividade russa. Quant o ao poder de dissuasão nuclear, o grau de efect ividade t am bém reside no segredo acerca da int enção e vont ade de em pregar os m eios, usando o poder da com unicação e da propaganda para difundir inform ação e cont ra- inform ação sobre o t em a e deixar o adversário na dúvida quant o à credibilidade da am eaça. Mas nem t odas as am eaças respondem de igual form a ao poder dissuasório europeu, quer sej a nuclear ou convencional. Por out ro lado, a leit ura para um a ordem m undial não é feit a de form a sim ilar fora do espaço de cult ura ocident al. Tant o a Rússia, o Médio Orient e, ou os países inseridos nas civilizações asiát icas não apresent am um a visão acerca do seu papel cont ribut ivo para o equilíbrio de poder a nível global. Act ualm ent e,

a procura de um a nova ordem

m undial apresent a cont ornos

paradoxais em relação à proliferação de diferent es riscos, desafios e am eaças ident ificados a que urge fazer face. Não obst ant e um a visão t endencialm ent e uniform e e globalizada, a percepção dos parâm et ros enform adores da ordem m undial desej ada não parece ser sim ilar em t odas as regiões do m undo, criando um problem a à Europa no dom ínio da form a de diálogo, da credibilização do seu poder e, em últ im a análise, na form a de expressar poder e de apresent ar m edias de dissuasão para a agressão. A visão e o t ipo de ret órica referent e ao conflit o na Ucrânia é significat ivam ent e dist int o ent re o Ocident e e a Rússia. Nest e caso, o Ocident e t em em pregado m edidas de dissuasão nuclear e convencionais t radicionais, associadas a out ras m edidas de caráct er económ ico e polít ico, que at é agora t êm produzido um efeit o pouco relevant e. Os acordos de Minsk, I e I I , cont inuam por cum prir e a sit uação na Ucrânia est á longe de se considerar est abilizada. As m edidas t om adas pela com unidade int ernacional, podendo est ar

a ser eficazes para evit ar acções

Página 5 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

ofensivas de larga escala e um a guerra declarada, não o est ão a ser para alt erar o com port am ent o de Put in e evit ar que vá cum prindo os seus propósit os est rat égicos. At é agora, as m edidas de dissuasão aplicadas apenas t êm desacelerado o processo de ganhos por part e da Rússia. Por um lado, parece haver um equilíbrio conducent e a um im passe prudent e no dom ínio do nuclear e do confront o convencional, bloqueando as acções ofensivas a Lest e e a Oest e, não obst ant e algum as dem onst rações de força que fazem part e do processo de com unicação e de const rução de credibilidade. Por out ro lado, não t em havido por part e do Ocident e um a capacidade de dissuasão que evit e a polít ica de negação de Moscovo e que iniba a cont inuada act ividade pat rocinadora do enfraquecim ent o do Est ado na Ucrânia, bem com o a crescent e influência russa em Est ados da União Europeia t ais com o a Grécia, Chipre ou Hungria. At é as sanções económ icas aplicadas a ent idades russas, procurando afect ar a econom ia do país, t êm esbarrado num a resiliência assinalável da Rússia, fazendo com que o esforço Ocident al, porque t am bém é disso que se t rat a, sej a espraiado no t em po, sem um a desej ável celeridade de efeit os que poderiam induzir um m aior poder dissuasório. No cont ext o da vizinhança sul da Europa, a am eaça à segurança europeia é diversa daquela apresent ada pela Rússia. A inst abilidade e insegurança produzida no Médio Orient e e ao longo da m argem Sul do Medit errâneo, para além de afect arem a segurança dos Est ados, t êm afect ado sobret udo os obj ect ivos securit ários que a Europa t em perseguido para a sua vizinhança no que concerne ao aconselham ent o e aplicação de polít icas reform ist as com vist a a est abelecer um a relação profícua ent re Desenvolvim ent o e Segurança para a região. O Est ado I slâm ico assum iu um enorm e prot agonism o na sua acção na Síria e no I raque, est endendo-se a out ras regiões de África, com o na Nigéria, at ravés do grupo Boko-Haram . Já a Al- Qaeda t inha desem penhado est e papel, t endo sido com bat ida no Médio Orient e e na região do Paquist ão/ Afeganist ão, desde 2001, por forças m ilit ares int ernacionais coligadas sob com ando am ericano, sem que at é agora t enha sido possível erradicá-la ou derrot á- la, apesar da paulat ina elim inação ou capt ura dos seus líderes e m ent ores. Apesar do poder polít ico e m ilit ar do Ocident e, e t am bém por isso, t em - se const at ado que foi criado um espaço para est e t ipo de poder com fort e im plem ent ação no seio da população civil m ais desfavorecida, quer por via da im posição forçada, quer por adesão ideológica, frut o de necessidades pessoais e colect ivas na criação de novos enquadram ent os da realidade polít ica e social.

Página 6 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

A ineficácia em secar os recursos dos grupos t errorist as e insurgent es, com o a AlQaeda ou o Est ado I slâm ico, só será com preensível se for assum ido que est es grupos m ant ém relações int ernacionais de apoio, quer sej am declaradas ou encobert as, t ornando com plexa a adopção de m edidas dissuasoras que inibam est e apoio. A relat iva im punidade com que os grupos referidos, e out ros, se dem arcam de princípios de Direit o I nt ernacional e at ent am cont ra os m ais básicos Direit os Hum anos, ignorando inst it uições de carát er global t ais com o a Organização das Nações Unidas ( ONU) , bem com o as Organizações Mundiais do Com ércio e da Saúde, ou at é out ros espaços polít icos im port ant es com o o G- 20, a União Africana ou a Liga Árabe, dem onst ra que est es grupos não poderão ser t idos em consideração à luz de parâm et ros t radicionais para a abordagem ao conceit o de dissuasão convencional. O t error difundido e a configuração subversiva da form a com o poderes congéneres dos Taliban ou do Est ado I slâm ico conduzem as suas ofensivas t êm ret irado ao Ocident e a vont ade de em pregar forças t errest res em larga escala, sendo as dinâm icas islâm icas radicais e t errorist as m ais dissuasores que as das forças ocident ais. Pot enciadas por t oda a inst abilidade e violência para lá da front eira sul da Europa as m igrações descont roladas t êm t ido com o um dos principais veículos um processo de t ráfico hum ano. Est a act ividade ilegal t em evidenciado um profundo desrespeit o pela condição hum ana, a cobert o de form as de fuga à violência, à fom e, à m ort e e a t odo o t ipo de fact ores inibidores da sat isfação das necessidades básicas para a sobrevivência de t odos aqueles que est ão suj eit os ao am bient e de guerra e profundo conflit o. A União Europeia t em em m ãos um problem a de resolução ext rem am ent e difícil. Se, por um lado, é para a Europa um im perat ivo m oral salvar da m ort e t ant as vidas que arriscam um a viagem insalubre na busca de um fut uro prom issor, a m esm a Europa t em dificuldade em vislum brar um a posição com um e concorrent e para poder proporcionar a t odos os im igrant es o fut uro procurado. Assim , a União Europeia est á perant e o dilem a ent re absorver t odos os cidadãos que m igrem para a Europa e int egrá- los de form a segura e condigna de acordo com a polít ica europeia de acesso ao t rabalho, à saúde, à educação e segurança social, ou criar um a barreira às m igrações legais e abandonar um elevado núm ero de vidas hum anas à sua sort e e à m ercê de um avilt ant e infort únio. Os t raficant es est ão im unes a qualquer t ipo de dissuasão nuclear, bem com o a qualquer t ipo de acção m ilit ar europeia dent ro do espaço de águas t errit oriais dos respect ivos países, um a vez que, à luz da m oral e do Direit o I nt ernacional, afundar Página 7 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

um a em barcação replet a de m igrant es é insust ent ável. Efect uar afundam ent os prevent ivos sobre em barcações em que não é possível ident ificar claram ent e se est ão afect as, ou não, ao t ráfico t am bém não parece ser um a solução a t er em cont a. A União Europeia cost um ava pat rocinar a acção fiscalizadora dos governos da m argem Sul do Medit errâneo a fim de que est es im pedissem os fluxos não aut orizados de im igrant es para a Europa. Com a inst abilidade observada naquela região, o invest im ent o financeiro europeu na inibição das t ravessias deixou de produzir qualquer efeit o prevent ivo e a falt a de um a polít ica com um europeia no cont rolo das m igrações ilegais, para além de não se const it uir com o fact or dissuasor

poderá a abrir

problem as int ernos no dom ínio da xenofobia, da

islam ofobia e da det erioração do proj ect o social europeu. Percebe- se que a União Europeia necessit e acordar da sua let argia securit ária em relação à est abilidade na sua vizinhança que a levou a acredit ar piam ent e no papel dicot óm ico desem penhado pelos fact ores Desenvolvim ent o e Segurança, levadas a efeit o at ravés de m et odologias de pendor civil e reform ist a. Um a nova post ura est rat égica poderia passar por dem arcação da polít ica ext erna am ericana para a Europa, garant indo um a posição de m aior aut onom ia concept ual m as, ao m esm o t em po, um a abert ura de port a à perspect iva de aum ent o de encargos fut uros com a defesa, sem que a NATO deixe de ser considerada um elem ent o fundam ent al para a segurança colect iva no t errit ório europeu. De algum a form a, ficam expost as dúvidas inst it ucionais quant o à validade do que t em sido o result ado da Polít ica Com um de Segurança e Defesa da União Europeia, com especial incidência na relação ent re a União Europeia e a Rússia e na Polít ica de Vizinhança, bem com o ao papel da NATO para a segurança na Europa. Apesar da legit im idade do President e da Com issão Europeia em sugerir a ideia de um Exércit o Europeu, perspect iva- se um conj unt o de obst áculos polít icos e t écnicos m uit o dificilm ent e ult rapassáveis no curt o e m édio prazo. A Europa não t em um a cult ura de uniform idade polít ica e est rat égica e a prova de que est a sit uação se m ant ém

reside na sua própria nat ureza de respeit o pela diversidade das

com unidades e no com port am ent o polít ico, est rat égico, económ ico e financeiro apresent ado na União Europeia em t em pos de crise. O levant am ent o de um Exércit o Europeu pressuporia unidade de com ando e unidade dout rinária, para lá da que é inerent e à NATO, bem com o um conjunt o de crit érios t écnico- m ilit ares que conferissem a t al força a necessária coesão de m odo a fazer dela um inst rum ent o de poder europeu e não um fact or de inst abilidade int erna e de increm ent o da fract ura polít ica ent re os Est ados m em bros da União Europeia.

Página 8 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

A criação de um a Academ ia Milit ar e um a Escola de Sargent os europeias poderia ser o em brião para o est abelecim ent o de laços cult urais com uns e para a const rução de m edidas de confiança no seio da Europa em m at aria de defesa m ilit ar, podendo ainda cont ribuir para que se esbat essem convicções m uit o profundas acerca dos perigos inerent es à part ilha de soberania por part e dos Est ados e à t ransferência de aut oridade m ilit ar para inst âncias com poder polít ico acim a do dos Est ados. A capacidade dissuasória provenient e da exist ência de um Exércit o Europeu será proporcional à sua credibilidade com o unidade operacional e t áct ica e à form a com o com unica para o ext erior a sua disponibilidade para o em penham ent o e para o com bat e. A credibilidade passa pela sua unidade de com ando, pela unidade dout rinária, pela coesão int erna, pela capacidade de proj ecção est rat égica de força, pela act ualização do seu equipam ent o e pelo poder cinét ico e let al do arm am ent o, bem com o pela coerência logíst ica de t odo o sist em a. A com unicação da disponibilidade m anifest a- se pelo discurso polít ico no seio da União

Europeia,

pela

agilidade

na

t om ada

de

decisão,

bem

com o

por

dem onst rações de força inequívocas da int enção e vont ade europeia em produzir segurança. Dada a com plexidade inerent e ao levant am ent o de um

Exércit o

concebido para defender m ilit arm ent e int eresses com uns, envolvendo aliados com polít icas, perspect ivas est rat égicas, cult uras e realidades económ icas díspares, t al t arefa t eria que ser faseada. Com o prim eiro obj ect ivo seria necessário est abelecer- se fort es consensos com vist a à im plem ent ação de um

cent ro de decisão m ilit ar robust o e cent ralizador,

dem ocrát ico à m edida dos princípios e valores est abelecidos inst it ucionalm ent e na União Europeia, m as im une às pressões individuais e nacionalist as dos Est ados m em bros. Se t al t rabalho se iniciasse hoj e, t odo o processo seria suj eit o a um a dist ensão no t em po, não com pat ível com a procura de soluções de curt o e m édio prazo, ou com proj ect os de defesa de âm bit o sect orial e não sist em at izado. Est a sugest ão de Jean- Claude

Junker

abriria

as

port as

à

Europa

para

um

assum ir

de

responsabilidades em m at éria de defesa e de polít ica ext erna at é hoj e nunca aceit e. Re f e r ê n c i a s : ASHTON, Cat herine ( 2010 ) “ St at em ent by High Represent at iv e Cat herine Asht on at t he UN Secur it y Council” .

( A70/ 10 ) .

New

York :

Eur opean

Union,

May

4,

2010.

I nform ação

disponív el

em :

ht t p: / / www. con silium .europa.eu/ uedocs/ cm s_ Dat a/ docs/ pressdat a/ EN/ foraff/ 1141 79.pdf [ 2 de Maio de 2015]

Página 9 de 10

JDRI • Jornal de Defesa e Relações Internacionais • www.jornaldefesa.pt

ASHTON, Cat her ine ( 20 10) "St at em ent by Cat herine Asht on, High Represent at iv e and Vice- President of t he EC, at t he occasion of Eu rope Day 20 10 on 9 t h May ". ( A 71/ 10) . Brussels: Eur opean Union . I nfor m ação

dispon ív el

em :

ht t p: / / www. con silium .europa.eu/ uedocs/ cm s_ Dat a/ docs/ pressdat a/ EN/ foraff/ 1143 20.pdf [ 13 de Abril de 2015] NATO ( 2012b) "Tack ling New Threat s wit h New Capabilit ies - NATO deliv ers: Yest erday , Today and Tom orrow ".

NATO.

July

07,

2012.

Dispon ív el

em :

ht t p: / / www. nat o.int / cps/ en/ nat oliv e/ news_87425 .ht m ?select edLocale= en [ 13 de Abril de 2015] RI LEY- SMI TH, Ben ( 20 15) “ Creat e an EU Ar m y t o Keep Back t he Russian s, Jean- Claude Jun ck er Suggest s” .

The

Telegraph.

March

8,

2 015.

I nform ação

disponív el

em :

ht t p: / / www. t elegraph.co.uk / new s/ worldnews/ eur ope/ russia/ 1145787 2/ Creat e- an- EU- ar m y - t o- k eepback - t he- Russian s- Jean- Claude- Junck er- suggest s.ht m l [ 10 de Abril de 2015] ROBI NSON, Du ncan, and SHOTTER, Jam es. ( 2 015) “ Jean- Claude Junck er Calls for Creat ion of EU Ar m y ” . Financial

Tim es.

March

8,

2015.

ht t p: / / ww w.ft .com / int l/ cm s/ s/ 0 / 11412 86a- c588- 11e4 - bd6b-

00144feab7de.ht m l# ax zz3 TsqV0AEU [ 10 de Abril de 2015] RT ( 2 015) “ European Com m ission Chief Urges ‘j oint EU Arm y ,’ Germ any Back s Decision” . RT News. March 8. ht t p: / / rt .com / news/ 23879 7- eu- j oint - ar m y - t hreat / [ 10 de Abril de 2015] SPARROW, Andrew ( 2015) “ Jean- Claude Junck er Calls for EU Arm y ” . The Guardian. March 8, 2015. I nfor m ação disponív el em : ht t p: / / w ww.t heguardian. com / w orld/ 2015/ m ar/ 0 8/ j ean- claude- j un ck er- callsfor- eu- arm y - european- com m ission- m ilt ary [ 01 de Maio de 2015] STOLTENBERG, Jens ( 20 15) “ Speech by NATO Secret ar y General Jens St olt enberg at t he Munich Securit y

Conference” .

NATO

Press

Office.

February

6,

2015.

I nform ação

dispon ív el

em :

ht t p: / / www. nat o.int / cps/ en/ nat ohq/ opinion s_11 7320.ht m ?u t m _m edium = em ail&ut m _ cam paign= NATO+ News+ + Secret ary + General+ Sit uat ion+ in + Uk raine+ is+ crit ical+ NATO+ support s+ peace+ effort s&u t m _cont ent = N ATO+ News [ 12 de Abril de 2015]

Página 10 de 10

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.