\"Uma organização rodoviária moderna e eficaz\": a criação do DAER e a formação de seu Conselho Rodoviário (1937-1938)

June 19, 2017 | Autor: E. Pacheco Freitas | Categoria: Rio Grande do Sul, DAER, Criação do DAER, Autarquias, Estradas de Rodagem, Conselho rodoviário
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Resgate Histórico

UMA ORGANIZAÇÃO RODOVIÁRIA MODERNA E EFICAZ”: A CRIAÇÃO DO DAER E A FORMAÇÃO DE SEU CONSELHO RODOVIÁRIO (1937­1938)1 Eduardo Pacheco Freitas Bolsista de mestrado CNPq pelo Programa de Pós­Graduação em História da PUCRS

INTRODUÇÃO O presente artigo tem por

abordamos três itens principais: 1) o

objetivo, com base em pesquisa

contexto rodoviário do Rio Grande do

realizada no acervo documental

O

Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) foi criado no ano de 1937, sendo implantado de fato no início de 1938, período no qual as estradas do Rio Grande do Sul se encontravam em situação de grande precariedade, prejudicando desta forma o desenvolvimento do estado. Portanto, o DAER é uma importante entidade, surgida em um contexto difícil, com a missão de modernizar o sistema rodoviário rio­grandense. Contudo, até o momento não existe nenhum trabalho acadêmico que investigue a história da autarquia, embora esta atue ininterruptamente por quase 80 anos, prestando serviços de relevância estratégica para o progresso do estado do Rio Grande do Sul. A presente pesquisa aborda ­de maneira inédita, a partir de documentos originais produzidos pelo DAER ­o momento de sua fundação e a formação do seu primeiro Conselho Rodoviário.

Sul na década de 1930; 2) o momento

existente na biblioteca do DAER ,

de criação do DAER e o seu caráter

apresentar algumas reflexões a

autônomo; 3) a organização de seu

respeito do momento de criação deste

primeiro Conselho Rodoviário.

3

departamento, no final da década

Em relação às fontes utilizadas,

de 30 do século passado. Sendo o

podemos dividi­las em dois grupos

DAER um órgão com quase oitenta

principais, que se enquadram na

anos de atividades ininterruptas, com

categoria de “arquivos do Poder

relevantes serviços prestados ao estado

Executivo” (BACELLAR, 2005, p. 27):

do Rio Grande do Sul, não deixa de surpreender a inexistência de qualquer

Relatórios Anuais:

tipo de trabalho acadêmico que procure

compilações de documentos originais,

examinar a sua história. Existem, é

datilografados, onde podemos encontrar

certo, algumas poucas dissertações e

desde textos com relatos “históricos”

artigos que investigam outros aspectos,

da entidade até as prestações de contas

sobretudo técnicos, do Departamento

sobre as atividades realizadas durante

(ver DELONGUI, 2012 e GARCIA,

o ano pelas diferentes residências6

2003), porém até o momento não foi

do Departamento, passando por

realizada nenhuma pesquisa de caráter

correspondências, telegramas, ofícios,

histórico sobre sua fundação e seus

etc. Estes são documentos voltados

anos iniciais de atividade. Buscando

para a diretoria da instituição, portanto

preencher esta lacuna historiográfica ,

com circulação restrita ao ambiente

dentro de pesquisa maior, com vistas à

interno.

4

produção de dissertação de mestrado acerca do processo de construção

76

Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

Boletins do DAER: impressos,

da Travessia Régis Bittencourt , na

muitas vezes contendo a versão

década de 1950, é que apresentamos

publicada de alguns dos textos

estapesquisa, onde, de maneira breve,

datilografados que encontramos nos

5

Relatórios Anuais, havendo também

A situação rodoviária do Estado

Anual de 1938, as causas destes

artigos com discussões técnicas a

na segunda metade da década de 30

graves problemas de trafegabilidade

respeito de concreto, rodoviais, pontes,

gerava muitas preocupações para a

durante períodos chuvosos se dava em

maquinário, etc. e até mesmo muitos

sociedade gaúcha. Sobretudo durante

função de que

anúncios. Estes boletins se tratavam de

o inverno, época mais chuvosa, ocasião

uma publicação voltada para todos os

na qual as estradas no interior do

funcionários do DAER, porém também

estado se tornavam praticamente

aberta ao público geral, já que vendia

intransitáveis, causando sérios

assinaturas anuais e procurava, como

problemas às comunidades.

as revistas acadêmicas, o intercâmbio

O jornal A FEDERAÇÃO, informava

com revistas similares de outros

em 1936 a situação da cidade de

estados brasileiros e outros países.

Santo Antônio da Patrulha: “com as últimas chuvas caídas nesta região, as diversas estradas que dão acesso à

SITUAÇÃO RODOVIÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL NA DÉCADA DE 1930

sede desta vila, ficaram em lamentável estado” (A FEDERAÇÃO, 02/07/1936, p. 2). A imprensa relatava também a

(...) o sistema de drenagem era inexistente, pois os valos e as valetas ou nunca tinham sido abertos, ou estavam atulhados. Os boeiros, em número absolutamente insuficiente para o perfeito escoamento das águas pluviais, estavam na sua quase totalidade em ruínas, ou atulhados, total ou parcialmente. (PESTANA, Clóvis. Relatório. In: Relatório Anual do DAER ­1938)

situação da cidade de Caçapava que

Por ocasião dos 60 anos do

estava “ameaçada de ficar desligada

Foi no início de 1939, após o

de qualquer centro, dado o péssimo

primeiro ano de atividades do DAER e

estado das estradas” (A FEDERAÇÃO,

de seu Conselho Rodoviário, que o

18/07/1936, p. 7). Em abril de 1937,

conselheiro Clóvis Pestana redigiu

os jornais mencionavam as “estradas

este relatório, encaminhando­o

em má conservação” como um fator

ao diretor­geral do Departamento.

a mais de emoção para uma prova

Neste documento, dizendo sentir­

automobilística entre Montevidéu e o

se “na obrigação de fazer um rápido

Rio de Janeiro que passava pelo Estado

comentário sobre a situação em

por aqueles dias. (A FEDERAÇÃO,

que o DAER encontrou o sistema

As nossas estradas eram uma

09/04/1937, p. 6). Estes são

rodoviário rio­grandense e os resultados

vergonha, só se andava de carreta

apenas alguns exemplos, dos muitos

atingidos neste primeiro ano de nossas

e carroça. Naquela época já se

registrados pela imprensa naquele

atividades”, Pestana informa que, tão

tinha ideia de que só um organismo

período, dos quais podemos encontrar

logo fora instalado o órgão, realizara

autônomo, com poderes e recursos

eco em documentos produzidos

viagens para conhecer a situação

poderia resolver um problema como

pelo DAER em seu primeiro ano de

na qual se encontravam as rodovias

esse. Baptista Pereira e eu fizemos

funcionamento.

estaduais, trazendo, após este périplo,

DAER em 1997, Clóvis Pestana7 concedeu entrevista na qual lembrou as dificuldades das estradas gaúchas nos anos 30 e rememorou o processo de fundação do Departamento:

A

nossa

luta

foi

terrível.

tudo com apoio de grande número

Segundo dados do Relatório

“a mais desoladora das impressões”.

de deputados, de políticos. Era uma

Anual de 1938, expressos em um

coisa muito lógica. O Rio Grande

mapa com o título “Situação Geral

as estradas do Estado não haviam sido

do Sul era o último Estado em

da Rede Rodoviária Estadual: Estado

projetadas para o tráfego motorizado,

rodovias.

primeiros tempos

das Rodovias em Períodos Chuvosos

seguindo traçados que usavam como

empréstimos

Nos

conseguimos

e

Em síntese, Pestana conclui que

(dezembro de 1938)” o Rio Grande do

critério “o mínimo movimento de

lutamos sempre por boas verbas. A

Sul possuía 10.500 km de rodovias.

terra possível”, de forma que curvas

repercussão foi evidente, o progresso

Deste total, apenas 2.675 km (25,5%)

tornavam as rodovias mais lentas,

veio

tinha tráfego garantido. O tráfego

inadequadas para a velocidade dos

Revista Rodoviária: 60 anos do

precário se apresentava em 1.505 km

veículos a motor. O Conselheiro relata

DAER. Edição especial, ago/1997.

de rodovias (14,3%) e em

que “as estradas foram projetadas

logo.

(PESTANA,

Clóvis.

p. 26 apud BOURSCHEID, 2007, p. 56)

6.320 km (60,2%) o tráfego

para o tráfego lento de carretas e

se tornava impossível em épocas de

carroças”, expressão retomada sessenta

chuva. De acordo com o Relatório

anos depois, conforme entrevista Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

77

Resgate Histórico

referida acima. Outra constatação

décadas de atividades e que surgiu para atender a crescente

DAER13, empossado em 30/09/1937,

econômica dos realizadores de muitas

demanda por estradas de qualidade11.

como representante da SERGS.

das estradas, que não levaram em

Os problemas rodoviários do estado

conta as regiões a serem atravessadas,

impactavam negativamente sobre

acontecendo que “zonas mais ricas

a economia, já que o “inadequado

foram preteridas pelas mais pobres”.

sistema de transporte estadual

Com este quadro, Pestana conclui que

provocara uma estagnação econômica

“o DAER herdou um sistema rodoviário

em certas regiões, particularmente na

no mais completo abandono, cheio de

zona de colonização italiana, no norte”

administrativa do DAER um aspecto

gravíssimos defeitos técnicos e sem

(CORTÉS, 2007, p. 63).

importante a respeito de sua criação,

as obras mais elementares”. Aliado a

Nas palavras do engenheiro Walter

UM DEPARTAMENTO AUTÔNOMO Assenta­se na natureza jurídico­

especialmente no fato deste ter sido

todos estes problemas verificados in

Haetinger, com o advento do DAER,

constituído como um departamento

loco pelo Conselheiro Clóvis Pestana,

surgia uma “organização rodoviária

autônomo.

havia também a “falta de material e

moderna e eficaz, capaz de realizar

de pessoal especializado em obras

a reconstrução do nosso sistema

exatamente? Podemos enquadrar o

rodoviárias”. Contudo, de acordo

rodoviário” (HAETINGER, 1938).

DAER nas ditas autarquias, a exemplo

com o relatório, diversas melhorias

A expectativa deste engenheiro,

da Caixa Econômica Federal e Instituto

puderam ser realizadas: construção de

expressa em documento onde tece

Nacional de Previdência Privada. De

centenas de boeiros para escoamento

considerações gerais a respeito da

maneira sintética, podemos caracterizar

pluvial das rodovias, abertura de 750

situação precária das estradas do Rio

as autarquias como entidades de

km de valos e valetas, com o mesmo

Grande do Sul, traduz a importância

direito público ­distintas, portanto, das

objetivo; correção de defeitos de

que o órgão adquiriu naquele

empresas estatais, que são entidades

traçado; substituição, nas estradas

contexto, não somente para aqueles

de direito privado ­e descrevê­las como

de terra, da conservação manual pela

que participaram de sua criação,

órgãos do Estado, com autonomia

conservação mecânica, através da

mas para o Estado de maneira geral.

econômica, porém sob a tutela do

utilização de plainas automotoras, que

As estradas gaúchas, em quase sua

poder público. O DAER, segundo

segundo o relatório obteve “resultados

totalidade, eram estradas de terra,

parecer jurídico de 10/01/1949,

magníficos”; na região de Porto Alegre,

que nas épocas de chuva se tornavam

assinado pelo advogado Elmo Pilla

por exemplo, foram construídos 8

intransitáveis. Portanto, a fundação

Ribeiro, tem “a manifestação mais

km de estradas “entre Itapuan e o

do DAER foi o resultado de uma luta

forte da tutela administrativa do Estado

Leprosário”8 e mais a reparação de 25

pela reformulação da relação entre o

(...) na nomeação do Diretor Geral da

km “entre Itapuan e o entrocamento

Estado e a construção/manutenção

autarquia , que é ‘de livre escolha e

das estradas Schneider e Belém Novo”.

das rodoviais, entendidas como

demissão do Governador do Estado’

fundamentais para o desenvolvimento

(art. 9º § 1º do Decreto­Lei nº 1371)”.

socioeconômico da região.

CRIAÇÃO DO DAER

O processo de criação do órgão

Mas, o que vem a ser isto

De acordo com SANDRONI (1999, p. 36), as autarquias surgem no Brasil

foi capitaneado pela Sociedade de

após 1930 “para atender ao grande

Engenharia do Rio Grande do Sul

número de serviços que deveriam ser

(SERGS), tendo como expoentes

prestados pelo Estado e descentralizar

principais os engenheiros Alexandre

os encargos em órgãos especializados

199, de 3 de agosto de 19379, pela

Martins da Rosa, então presidente

dotados de orçamento próprio e maior

Assembleia Legislativa do Estado do

da SERGS12 e deputado estadual,

flexibilidade”. Isto vem ao encontro

Rio Grande do Sul, posteriormente

responsável pelo projeto de lei de

do entendimento dos coetâneos, que

sancionada pelo Decreto­Lei nº 750,

criação do DAER; José Baptista

expressaram por diversas vezes nos

de 11 de agosto do mesmo ano, pelo

Pereira, que viria a ser o primeiro

documentos analisados a necessidade

então governador General Flores da

diretor­geral da entidade (1938­1943);

de criação de um departamento

Cunha10, é uma instituição com

e Clóvis Pestana, segundo presidente

com autonomia para solucionar os

quase oito

do DAER (1943­1945) e membro

problemas rodoviários estaduais. No

O DAER, criado pela Lei nº

78

do primeiro Conselho Rodoviário do

do Conselheiro foi a falta de visão

Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

entanto, passados alguns anos de sua

Nacional de Estradas de Rodagem

Geral do Departamento ­que será

criação,

(DNER), passou por uma reorganização

simultaneamente Presidente do

administrativa, através do Decreto Lei

Conselho ­ e quatro outros membros,

Federal nº 1.371, de 11 de fevereiro

eleitos pela Escola de Engenharia

as autarquias brasileiras passa-

de 1947. A reorganização se deu

da Universidade de Porto Alegre, pela

ram a perder suas características

devido à criação do Fundo Rodoviário

Federação das Associações Comerciais

de

autonomia

e

flexibilidade,

Nacional (Decreto Lei Federal nº

do Estado, pela Federação das

ficando cada vez mais submetidas

8.463, de 27/12/1945), que impunha

Associações Rurais e pela Sociedade de

à administração direta do Estado.

como condição para que os estados

Engenharia do Rio Grande do Sul.

Logo

da federação pudessem participar do

após

a

Segunda

Guerra

Mundial (1939­ 1945), rígidas me-

rateio deste fundo a reorganização dos

didas de padronização, controle

seus órgãos rodoviários, no sentido

e uniformização alcançaram as

de que estes funcionassem “em

Departamento fixou­ lhe as caracte-

autarquias, tornando sua adminis-

moldes aprovados pelo Departamento

rísticas

tração quase tão rígida quanto a dos

Nacional” (Decreto Lei Federal nº

recursos certos, indispensável liber-

órgãos diretamente subordinados ao

8.463, de 27/12/1945, ArT. 32, letra

dade de ação, independência de

poder público. (SANDRONI, 1999,

A). A questão principal girava em torno

formalidades burocráticas inúteis e

p. 36).

dos vencimentos, que deveriam ser,

firmou o princípio de coparticipação

no DAER, iguais aos da administração

das

centralizada para categorias iguais

administração do Departamento,

Isto levou o DAER a solicitar, entre

A

Lei

750,

principais,

classes

instituindo

o

assegurando

conservadoras

na

ou semelhantes. Segundo o parecer

mediante a instituição do Conselho

o final da década de 1940 a década de

jurídico de 20/10/1964, havia

Rodoviário, eleito pelas entidades

1960, diversos pareceres jurídicos, que

a constatação que se voltava a

mais representativas da vida técnica

definissem de maneira mais clara o seu

“estabeceler a mais rigorosa identidade

e econômica do Estado. (PEREIRA,

caráter autárquico. Assim o demonstra

do pessoal da Autarquia, com os

1939)

o documento “Considerações sobre

dos órgãos centralizados do Estado,

a preservação de sua autonomia”,

desde os concursos à classificação de

com data de 20/10/1964 e redigido

cargos”. Na questão dos concursos o

pelo Consultor Técnico do Conselho

DAER já havia garantido judicialmente

Rodoviário, pudemos localizar toda

Rodoviário:

sua independência em 1962, restando

a correspondência entre o Secretário

agora lutar pela autonomia em

das Obras Públicas, Henrique Pereira

relação aos salários de seus quadros

Netto, e as “classes conservadoras”,

funcionais, daí a produção, sob

nas palavras do diretor­geral José

encomenda, destes pareceres jurídicos

Baptista Pereira.

Com o objetivo de demonstrar, várias vezes, de forma cabal e irrefutável que o DAER é uma autarquia administrativa e financeira regulada por diploma legal próprio

a fim de defender o caráter autárquico do departamento.

emitidos dezenas de pareceres, destacando­ se entre eles os dos

às entidades, a fim de que cada

ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO RODOVIÁRIO

eminentes juristas Drs. Francisco Campos, Aloysio de Castro e Ruy

Em 21 de agosto de 1937, o secretário Pereira Netto pediu autorização ao governador para dirigir­se

de vigência indiscutível, ­e o que significa uma Autarquia ­ já foram

Em relação à formação do Conselho

uma delas pudesse providenciar a eleição do seu representante no Conselho. A autorização foi dada na mesma data, anotada de próprio

A lei de criação do DAER, em

punho por Flores da Cunha no ofício:

seu artigo 2º, estipulou que a direção

apenas um “sim”, seguido da data e

da entidade seria exercida por

de sua assinatura. Em 23 de agosto,

dois órgãos diferentes: o Conselho

Pereira Netto anota no documento:

departamento rodoviário autônomo

Rodoviário e a Diretoria. No artigo

“Providenciado. Arquive­se”. No dia

criado no país. Em 1945, com a

3º define­se a formação do Conselho,

seguinte envia para as quatro entidades

autarquização do Departamento

totalizando cinco membros: o Diretor

o seguinte ofício:

Cirne Lima.

O DAER foi o primeiro

Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

79

Resgate Histórico

Em

nome

do

Governo

do

De qualquer forma, podemos

melhorias, como é possível verificar

Estado, tenho a honra de solicitar

afirmar, através do ofício 322/5587, de

nos relatórios referentes ao exercício

a V. Excia. se digne de providenciar

28/09/1937, que convocava os quatro

de 1938. A eficiência do órgão esteve

junto à [nome da entidade] a

conselheiros eleitos para a cerimômia

diretamente ligada ao seu primeiro

fim de que a mesma eleja seu

de posse, que o engenheiro José

Conselho Rodoviário, que estudou

representante no Conselho Rodo-

Baptista Pereira ­que tomaria posse

meticulosamente ­sobretudo através do

viário do Departamento Autônomo

como diretor­geral do DAER somente em

trabalho do conselheiro Clóvis Pestana ­

de

23/02/1938, na efetiva instalação do

a situação das estradas de rodagem

conformidade com a lei nº 750,

órgão ­fora o nome indicado pela Escola

do estado, colocando em prática

de 11 do corrente, artº 3º letra b.

de Engenharia.

medidas emergenciais, buscando, se

Estradas

de

Rodagem,

de

Valho­ me do ensejo para reiterar

não resolver imediatamente todos os

a V. Excia. meus protestos de

problemas, ao menos minorá­los,com

consideração e apreço. (PEREIRA

Como representante que sois da

NETTO, ofício 278/5267, 24 de

Escola de Engenharia no Conselho

até então intransitáveis em boa parte

agosto 1937).

Rodoviário

do ano. Desta forma, entendemos

do

Departamento

garantia de trafegabilidade em estradas

Autônomo de Estradas de Rodagem

que o DAER teve ­e ainda tem ­papel

do Estado, solicito a fineza de vosso

importante para o desenvolvimento do

comparecimento a esta Secretaria,

Rio Grande do Sul, merecendo ter sua

no dia 30 do corrente, quinta­feira

história melhor estudada por parte dos

foi a Federação das Associações

próxima, às 2h30, quando darei

historiadores. Esperamos ter dado,

Comerciais, na figura de seu presidente

posse ao referido Conselho. Valho­

embora muito brevemente, pois ainda

Marcos Antônio Alves de Azambuja,

me do ensejo para apresentar­ vos

há muito o que se pesquisar e escrever,

em 25/08/1937. No ofício, foi

meus protestos de consideração e

uma pequena contribuição para a

acusado o recebimento da solicitação

apreço. (PEREIRA NETTO, ofício

historiografia do DAER, que, sem

e informado que seria convocada

322/5587, 28/09/1937)

dúvida, faz parte da história do estado.

A primeira entidade a responder

reunião da diretoria para a escolha do representante, que acabou por ocorrer em 15 de setembro, sendo escolhido o senhor Erico Mello. A Sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

NOTAS

de Engenharia, em 27 de agosto, em 1 Este trabalho conta com

ofício assinado pelo presidente Irio do Prado Lisboa e pelo 1º secretário

80

As dificuldades enfrentadas pelo

o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

José Baptista Pereira, indicou o nome

estado do Rio Grande do Sul, devido

de Clóvis Pestana. Já a Federação das

às sérias deficiências de suas estradas

Associações Rurais, através do ofício

na década de 30 do século passado,

767, respondeu em 3 de setembro

levaram à mobilização de setores

de 1937 informando que, em sessão

organizados da sociedade em prol

de mestrado CNPq pelo Programa de

do dia 1º, havia indicado o nome

da criação de um órgão dinâmico,

Pós­Graduação em História da mesma

do senhor Dario Brossard como seu

que pudesse atuar diretamente sobre

instituição (PPGH­PUCRS).

representante. O Secretário das Obras

os problemas de infra­estrutura das

Públicas respondeu cortesmente

estradas rio­grandenses. Desta maneira

a todos estes ofícios, não sendo

surgiu o DAER, com a missão de

possível, contudo, localizarmos a

reconstruir o sistema rodoviário

correspondência com a Escola de

estadual

Tecnológico (CNPq). 2 Licenciado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e bolsista

3

Agradeço imensamente aos

funcionários e estagiários da Biblioteca do DAER pelo auxílio prestado, sem o qual não seria possível esta pesquisa. 4

Devido a este “silêncio”,

nos aproximamos daquilo que

Engenharia. No entanto, na resposta do

O Departamento, com

secretário à Federação das Associações

características administrativas

a respeito da prática historiográfica,

Comerciais, há o comentário de que

modernas, descentralizado e

caracteriza como: “(...) o gesto de

este ainda aguardava a indicação por

autônomo, já em seu primeiro ano

separar, de reunir, de transformar em

parte da Universidade.

de atividade pôde realizar muitas

Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

CERTEAU, dentro de suas concepções

“documentos” certos objetos distribuídos

localizava­se a uma distância de 67 km de

de outra maneira. Esta nova distribuição

Porto Alegre. (SERRES, 2013, p. 3)

cultural é o primeiro trabalho. Na realidade,

9

O documento manuscrito

ela consiste em produzir tais documentos,

original pode ser encontrado no acervo da

pelo simples fato de recopiar, transcrever

Biblioteca do DAER.

ou fotografar estes objetos mudando ao

10 Flores da Cunha, apoiador de

mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto.

Getúlio Vargas até 1936, passa a ser

Este gesto consiste em “isolar” um corpo,

perseguido por este, primeiramente com

como se faz em física, e em “desfigurar”

uma tentativa fracassada de impeachment,

as coisas para constituí­las como peças

posteriormente com a federalização da

que preencham lacunas de um conjunto,

Brigada Militar, fato que forçou seu exílio

proposto a priori. (CERTEAU, 1982, p.

no Uruguai após renunciar em 17/10/1937

80).”

(AITA; AXT, 1998; CAGGIANI, 1996;

5

Complexo rodoviário composto

FLORES; 2011). Portanto, Flores da Cunha,

por quatro pontes entre as cidades de

tendo criado o DAER em seu governo, não

Porto Alegre e Guaíba construído em

pôde efetivamente instalá­lo.

parceria pelo DNER e DAER entre os anos

11 No entanto, o órgão somente foi

de 1955 e 1958. O grande destaque da

efetivamente instalado no ano seguinte,

obra é a ponte sobre o Guaíba, com o seu

pois “(...) aprovada a Lei, não foi ela posta

característico vão móvel. A obra surgiu da

imediatamente em execução. Coube ainda

necessidade de superação do sistema de

ao saudoso estadista, Dr. Maurício Cardoso,

barcas que fazia a travessia entre as duas

quando respondendo pela Interventoria

cidades e à época já não comportava o

Federal do Estado, dar realidade à criação

aumento considerável de tráfego ocorrido

do Departamento, instalando­o e aprovando

desde a década de 40.

o seu plano de ação, pelo Decreto 7.123,

6

As chamadas “residências” eram

subdivisões administrativas responsáveis por atuar em determinada região.

de 21 de fevereiro de 1938. (PEREIRA, 1939). datilografado “Breve Histórico das Estradas

2ª residência, Luiz L. Appel, datado de

de Rodagem no Rio Grande do Sul”,

26/02/1939, “as 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª

assinado pelo diretor­geral José Baptista

residências foram instaladas oficialmente

Pereira em 23/02/1939 e incluído no

em março [1938], com a presença de

Relatório Anual de 1938: “Em 1933, a

autoridades estaduais e, bem assim as

Sociedade de Engenharia do Rio Grande

restantes, posteriormente, em julho.”

do Sul iniciou uma campanha pela

Contudo, Appel revela algumas dificuldades

remodelação do nosso sistema rodoviário,

durante o processo de instalação das

procurando divulgar os princípios

residências tais como “deficiência de

essenciais da política rodoviária seguida

pessoal, material, ferramentas, preparo de

nos países mais adiantados e interessar por

operadores para as máquinas rodoviárias,

este problema os nossos governos e classes

etc.”

mais representativas da opinião pública do Representante eleito pela

Sociedade de Engenharia do Rio Grande do

PEREIRA, José Baptista. Breve Histórico das Estradas de Rodagem no Rio Grande do Sul. In: Relatório Anual do DAER ­1938. REGULAMENTO DO DAER. In: Relatório Anual do DAER de 1938.

13 O Conselho Rodoviário, de acordo com o Capitulo II do Regulamento

segundo presidente do DAER (1943­1945).

do DAER (1938), tinha as seguintes

O Hospital Leprosário de Itapuã

PESTANA, Clóvis. Relatório. In: Relatório Anual do DAER de 1938. 22/02/1939.

Estado”. (PEREIRA, 1939).

Sul para o primeiro Conselho Rodoviário e 8

A FEDERAÇÃO. Edições de 02/07/1936, 18/07/1936 e 09/04/1937. HAETINGER, Walter. Considerações gerais. In: Relatório Anual do DAER de 1938. 12/09/1938. NETTO, Henrique Pereira. Ofício da Secretaria das Obras Públicas. In: Encadernado Criação do DAER ­1937/1938. 28/09/1937.

12 De acordo com o texto

Segundo relatório do engenheiro­chefe da

7

REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS

atribuições principais: revisar a aprovar

fez parte de um projeto de construção

o plano rodoviário; velar pela execução

de leprosários por todo país, plano este

deste e fiscalizar todos os serviços do

elaborado em 1935, visando impedir

Departamento; autorizar admissão de

o contato dos doentes com pessoas

pessoal; aprovar aquisição de materiais;

saudáveis. O terreno para a construção

examinar a aprovar as prestações de contas

do Leprosário foi comprado pelo governo

do órgão. O cargo tinha mandato de quatro

do Estado no final da década de 30 e

anos e era exercido gratuitamente.

Revista Estradas N°20 | Novembro 2015

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