Usos da internet e migração transnacional de brasileiros na Espanha

June 7, 2017 | Autor: Daiani Barth | Categoria: Social Networking, Transnational migration, Spain, Comunicação síncrona
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Diásporas, migrações, tecnologias da comunicação e identidades transnacionais Diásporas, migraciones, tecnologías de la comunicación e identidades transnacionales Diaspora, migration, communication technologies and transnational identities Diasporas, migrations, technologies de la communication et identités transnationales

Denise Cogo Mohammed ElHajji Amparo Huertas (eds.)

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Comitê Científico / Comité científico / Scientific Committee / Comité scientifique:    

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Adela Ros – Migration and Network Society Programme // Internet Interdisciplinary Institute (IN3) Universitat Oberta de Catalunya (España) Aly Tandian – Université Gaston Berger de St. Louis (Senegal) Carmen Peñafiel Sáiz – Universidad del País Vasco (España) Jamal Eddine Naji – l'Institut Superieur de l'Information et de la Communication de Rabat (Marruecos). Director Titular de la Cátedra Orbicom Unesco en Comunicación Pública y Comunitaria João Maia – Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Brasil) José Ricardo Cavalheiros – Universidade da Beira do Interior (Portugal) Manuel José Damásio – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Portugal) Marta Rizo García – Universidad Autônoma de la Ciudad de México (México) Miquel Rodrigo Alsina – Universitat Pomepu Fabra (España) Raquel Paiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil) Rosa Cabecinhas – Universidade do Minho (Portugal)

Denise Cogo, Mohammed ElHajji & Amparo Huertas (eds.) (2012): Diásporas, migrações, tecnologias da comunicação e identidades transnacionais = Diásporas, migraciones, tecnologías de la comunicación e identidades transnacionales = Diaspora, migration, communication technologies and transnational identities = Diasporas, migrations, technologies de la communication et identités transnationales. Bellaterra : Institut de la Comunicació, Universitat Autònoma de Barcelona. ISBN 978-84-939545-7-4

Editores / Editors / Editeurs: Denise Cogo Mohammed ElHajji Amparo Huertas Contribuintes / Colaboradores / Contributors / Contributeurs: Ramon G. Sedó Yolanda Martínez Suárez

© Institut de la Comunicació (InCom-UAB) Universitat Autònoma de Barcelona Campus UAB - Edifici N, planta 1. E- 08193 Bellaterra (Cerdanyola del Vallès) Barcelona. Espanya http://incom.uab.cat ISBN: 978-84-939545-7-4

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Usos da internet e migração transnacional de brasileiros na Espanha Daiani Ludmila Barth [email protected] Mestre, Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Brasil203

Resumo: Ao considerar a perspectiva transnacional das migrações contemporâneas, o artigo aborda a formação e manutenção de redes sociais de migrantes brasileiros na Espanha, construída a partir de pesquisa de dissertação de mestrado. De orientação qualitativa, a investigação abordou usos de ferramentas de comunicação sincrônica, especialmente MSN, Skype e chat Uol, nas experiências de redes sociais de migrantes brasileiros na Espanha. Na análise, figuram como resultados o acesso e uso da internet no cotidiano dos entrevistados, a configuração de famílias transnacionais, a interação com amigos no Brasil, migrantes e não migrantes na Espanha, além de experiências de caráter organizativo e coletivo entre migrantes brasileiros. Palavras chave: migração transnacional, Espanha, redes sociais, usos de ferramentas de comunicação sincrônica. Resumen: En la consideración de la perspectiva transnacional de las migraciones contemporáneas, el artículo propone la formación y manutención de redes sociales de migrantes brasileños en España, construyda a partir de investigación de dissertación de máster. De orientación cualitativa, la investigación discute los usos de herramientas de comunicación sincrónica, en específico MSN, Skype y chat Uol, en las experiencias de redes sociales de migrantes brasileños en España. En la análisis, aparecen como resultados lo accedido y lo uso de la internet en el cotidiano de los entrevistados, la configuración de familias transnacionales, la interación con amigos en Brasil, migrantes y no migrantes en España, además de las experiencias de carácter organizativo y colectivo entre los migrantes brasileños. Palabras clave: migración transnacional, España, redes sociales, usos de herramientas de comunicación sincrónica. Abstract: This paper discusses a transnational perspective of contemporary migrations and the formation and maintenance of brazilian migrant’s social networks in Spain, constructed from dissertation research. With a qualitative perspective, the investigation discusses the uses of synchronous tools of communication, specially MSN, Skype and chat Uol, in social networks experiences of brazilian migrants in Spain. Results confirm the existence of access and the use of internet in the everyday life of the interviewees, the transnational families configuration, the 203

Website (Research Groupe): http://www.gpmidiacidadania.com

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interaction with brazilian friends, migrants and not migrants in Spain, beyond the experiences of organizational and collective character among brazilians migrants. Keywords: transnational migration, Spain, social networks, synchronous tools of communication’s uses.

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Introdução Nos últimos 10 anos, a Espanha vem se destacando como destino de migração para os brasileiros (CAVALCANTI, 2008). Todavia, observa-se, recentemente, o retorno de muitos deles, consequência, em grande parte, da recente crise financeira que se estendeu a nível mundial204. O retorno está marcado, entre outros fatores, pela possibilidade de melhores condições do viver no Brasil, no que diz respeito à sobrevivência financeira e busca por posições diferenciadas no mercado de trabalho. Ao considerar a perspectiva transnacional das migrações contemporâneas (MEZZADRA, 2005, SIQUEIRA, 2008), o artigo aborda, portanto, a formação e manutenção de redes sociais (LOZARES, 1996) de migrantes (TRUZZI, 2008; SCHERER-WARREN, 1999) brasileiros na Espanha, construída a partir de pesquisa de dissertação de mestrado205. De orientação qualitativa, alicerçada pela Teoria da Recepção, foi investigada a perspectiva de usos da internet, especialmente através de ferramentas de comunicação sincrônica MSN, Skype e chat Uol206, nas experiências de redes sociais de migrantes brasileiros na Espanha. Na análise, figuram como resultados o acesso e uso da internet no cotidiano, a configuração de famílias transnacionais, mudanças e semelhanças no trato com amigos no Brasil, migrantes e não migrantes na Espanha, contemplando, ainda, experiências de caráter organizativo e coletivo entre migrantes brasileiros no país de migração.

Reflexões sobre migrações transnacionais e redes sociais Considerado um fenômeno da contemporaneidade, o trânsito de pessoas tem sido enaltecido por alguns autores, como Maffesoli207, no âmbito da cultura e cotidiano. Para o autor, ao vivenciar a novidade, o diferente, a própria sobrevivência e o trânsito, surgem considerações fundamentais na compreensão de quem é esse sujeito “vagabundo”, errante, nômade: “(...) lembrando que o indivíduo tanto quanto a vida social não pertencem a lugar nenhum” (2001, p. 95). A migração de sujeitos, nesse sentido, é um sentimento de troca, de mediação entre culturas, de jeitos de viver, de espíritos diversos, na provocação de movimento e de fluidez. Para o autor, o sentimento de nostalgia ao local de nascimento é superado quando o sujeito vivencia o “milagre da novidade”, dando sentido ao êxodo:

204 Comparável com a crise de 1929 por alguns especialistas, o sistema financeiro americano vem sofrendo impactos repercutidos mundialmente desde o início de 2008, causados pela falta de crédito e endividamento no mercado imobiliário do país. 205 A dissertação intitula-se “Brasileiros na Espanha: Internet, migração transnacional e redes sociais” e foi defendida em março de 2009 no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, sob a orientação da Profª Dra. Denise Cogo. 206 Skype é um software disponível na internet no qual o usuário, ao salvar o programa em seu computador, pode obter a imagem de seu interlocutor bem como conversar ao mesmo tempo, através de conexões VoIP (Voz sobre IP). Microsoft Network, ou popularmente MSN, é um portal e rede de serviços onde, ao salvar o programa no computador, a pessoa pode conversar simultaneamente com outras, trocar arquivos ou utilizar webcam, bastando adicioná-las a seus contatos. O chat Uol é caracterizado como sistema multiusuário online, onde o usuário, ao realizar login, ingressa gratuitamente em salas de bate-papo divididas por faixa etária, interesses e/ou localização geográfica desejada. 207

Principalmente em sua obra “Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas” (2001).

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Assim é que a territorialização individual (identidade) ou social (instituição) tendo tomado, durante a modernidade, a importância que se sabe, dá lugar ao tempo de um jeito novo de fazer o caminho. O tempo de um êxodo maciço que, assumindo o contrapé das certezas identitárias ou das seguranças institucionais, enverede pelos caminhos aventurosos de uma nova busca iniciática de contornos indeterminados. (MAFFESOLI, 2001, p. 104) Ao mesmo tempo em que o movimento se constitui como inerente à natureza humana, choques, conflitos e discórdias também o são. Afinal, o sentido “errante”, de que fala o autor, pode trazer outra ideia: a da aproximação humana de viver em constante processo de descompasso, errando continuamente. Assim, conclui-se que o movimento de pessoas pelo mundo gera também uma constante de conflitos, de sentimentos de conotação negativa, tais como preconceito, xenofobia, atos de violência, imposição de normas, tamanha a complexidade presente no fenômeno, expressa na própria pluralidade de sentidos atribuídos aos termos que o nomeiam: imigração, emigração, imigrante, emigrante. Por isso, é importante referir que neste trabalho a opção será pelos termos “migração” e “migrante”, ao invés do uso das palavras “imigração”, “emigração”, “imigrante” ou “emigrante”, para designar os sujeitos e suas trajetórias, no entendimento de que essa escolha torna mais abrangente a dinâmica de múltiplos fluxos e trânsitos migratórios, feitos de idas e vindas, permanências e transitoriedades. Ainda, a opção pelo uso do termo “país de nascimento” no lugar de “país de origem”, na designação do Brasil para referir os sujeitos da pesquisa que nasceram neste país e migraram para a Espanha. E “país de migração”, ao invés de “país receptor”, na designação dos sujeitos da pesquisa que vivem ou viveram na Espanha.208 Siqueira (2008) sugere que o movimento humano seria motivado por questões econômicas a partir da existência de mercados de trabalho secundários nos países de destino. O sentido migratório, entretanto, é mais do que isso. Existem outras causas, a exemplo do desejo de vivência em outro país, de mudança e ampliação do conhecimento de outros processos culturais. A ideia de migração transnacional, no sentido de estar em constante trânsito, também é construída pela mesma autora, ou seja, “viver em dois lugares”, na sensação de estar sempre voltando ao país de nascimento e ao de destino. O migrante permaneceria, dessa forma, com forte ligação ao seu país de nascimento e, principalmente, mantendo relações estreitas com a cidade em que nasceu. Neste ponto, existe uma discordância com a premissa, uma vez que a cidade de nascimento nem sempre é configuradora de sentidos fortes de pertença e/ou afeto, o que depende dos sentimentos e escolhas de cada migrante. Além disso, as experiências migratórias muitas vezes não são configuradas por um local de saída e chegada determinado, tendo em vista que muitos migrantes podem chegar a viver em vários lugares diferentes. Semelhante ao que sugere Hall: Esse cordão umbilical é o que chamamos de ‘tradição’, cujo teste é o de sua fidelidade às origens, sua presença consciente diante de si mesma, sua ‘autenticidade’. É, claro, um mito – com todo o potencial

208 Esses termos foram adotados, ainda, na opção analítica advinda da experiência no Programa Acadêmico de Cooperação Internacional Brasil-Espanha (Unisinos - UAB) com financiamento da CAPES (Brasil) e MEC (España) entre 2004 e 2008, após discussões conceituais durante a preparação de ida a campo, na execução da pesquisa no Brasil, na qual a autora teve participação. O detalhamento sobre a pesquisa pode ser conferido em Cogo; Gutierrez & Huertas (2008).

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real dos nossos mitos dominantes de moldar nossos imaginários, influenciar nossas ações, conferir significado às nossas vidas e dar sentido à nossa história. (2003, p. 29) Por fim, conforme Cogo, as migrações contemporâneas assumem um papel de imprevisibilidade e turbulência “colocando em xeque a concepção sistêmica que vem demarcando sua compreensão tanto geopolítica como científica” (2007, p. 5). A partir de seu sentido transnacional, a migração não é entendida, portanto, apenas como mudança geográfica de um sujeito de certo país de origem a outro país de destino, mas como a ideia de constituição de um espaço simbólico, vivenciado no cotidiano das transformações culturais da sociedade contemporânea (MEZZADRA, 2005). Já as redes sociais constituem um conceito contemporâneo fundamental para diversas áreas de conhecimento, dentre as quais estão a Sociologia, a Matemática, a Antropologia, a Psicologia, para mencionar algumas. No entanto, é importante a lembrança de que antes da palavra “social”, existe a própria ideia de rede, utilizada por autores como Scherer-Warren. A autora especifica uma definição do termo a partir da concepção da cidadania, a exemplo da passagem abaixo: A ideia de rede como conceito propositivo utilizado por atores coletivos e movimentos sociais referese a uma estratégia de ação coletiva, a uma nova forma de organização e de ação (como rede). Subjacente a essa ideia encontra-se, pois, uma nova visão do processo de mudança social – que considera fundamental a participação cidadã – e da forma de organização dos atores sociais para conduzir esse processo. (1999, p. 24) Rizo García (2003) sugere uma classificação do mesmo conceito, tendo em vista três perspectivas de uso do termo: em trabalhos de investigação entre pesquisadores que estão separados geograficamente, mas que unem seus conhecimentos para investigar um objeto de estudo comum; o uso do conceito como forma de intervenção social, em grupos ou comunidades com interesses afins e, por último, através de pesquisas com o enfoque teórico-metodológico de “análises de redes”, principalmente, conforme destaca, na área da comunicação. A mesma autora, ao relacionar o conceito às investigações que tem como objeto de estudo as “novas tecnologias”, propõe que deve ser considerada a aliança do termo “rede (s)” com o termo “social”: Como todo concepto o fenómeno ‘de moda’, la red ha dado lugar a un sinfín de definiciones que la convierten en un término polisémico. Por ejemplo, en la actualidad el concepto de red se asocia comúnmente al uso de las nuevas tecnologías, y aunque se consideran éstas útiles para la conformación de redes, en este caso nos abocamos más a una definición del concepto de red social. (RIZO GARCÍA, 2003, p. 2) 209 Na visão de outro autor, Lozares, as redes sociais são caracterizadas como “cohesión subjetiva” e têm a função de “identificación de los miembros del grupo con los de su grupo, en particular a partir del sentimiento de que los interesses individuales están ligados a los intereses del grupo” (1996, p. 15). A partir dessa lógica, as redes sociais, na qual o autor classifica na perspectiva sistemática, são importantes na construção de um sentimento de solidariedade e de conexão entre os membros. Essa característica, por outro lado, poderia configurar a necessidade de certa visão funcional dos sujeitos 209 Tradução da autora: “Como todo conceito ou fenômeno ‘de moda’, a ideia de rede tem dado lugar a inúmeras definições que a convertem em um termo polissêmico. Por exemplo, na contemporaneidade, o conceito de rede se associa frequentemente ao uso das novas tecnologias, ainda que se considerem estas últimas úteis para a conformação de redes, neste caso nos conduzimos mais a uma definição do conceito de rede social”.

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que estão em rede, para que esta funcione no modelo de coesão. Em grupos migrantes esse sentido aprofundaria a sustentabilidade das redes sociais, trazendo à tona a ideia de que a união entre seus membros as transformariam em processos coesos, fixos e por vezes inabaláveis. A partir da concepção desta autora, utiliza-se o conceito de rede social, no qual os contatos entre interlocutores são compreendidos como sua premissa constituinte. Ainda, o entendimento aqui exposto é de que, na experiência de vivência migratória transnacional, nem sempre uma rede social tende a configurar a coesão sugerida ou pressupor um profundo sentimento de solidariedade. Ao contrário, pode ser transitória, fluente, permeável. A exemplo disso, Scherer-Warren propõe as redes sociais como “formas mais horizontalizadas de relacionamento, mais abertas ao pluralismo, à diversidade e à complementariedade” (1999, p. 33-34). Há que se considerar, ainda, a vivência migratória transnacional como campo fértil para a construção de redes sociais. As palavras de Assis; Sasaki contribuem nesse sentido: A migração de longa distância se vincula a muitos riscos: segurança pessoal, conforto, renda, possibilidade de satisfazer as relações sociais. Onde parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho já têm bons contatos com o possível destino, a confiança sobre as redes de informações interpessoais estabelecidas minimizam e diluem os riscos. (2000, p. 11)

Brasileiros no exterior e o contexto espanhol No início do século XX, o Brasil ocupava a lista dos cinco países que mais recebiam estrangeiros. Décadas depois a situação inverteu-se, uma vez que desde 1980 registra-se maior número de saídas do que chegadas de pessoas nos aeroportos brasileiros.210 Em 2008, o país apresentou queda do número de emigrantes, fato registrado outras duas vezes, nos anos de 1998 e 2001. Entretanto, em 2009, o número de brasileiros que deixaram o país voltou a subir, chegando a bater o recorde da década, com uma saída líquida de 90 mil pessoas considerando, novamente, apenas a via aérea.211 Pelos caminhos da internet o governo brasileiro publicou, em dezembro de 2007, a primeira cartilha para “Brasileiras e Brasileiros no Exterior – Informações úteis”. Esta publicação aponta que são aproximadamente quatro milhões de brasileiros vivendo no exterior (2007, p. 5), destacando como os principais destinos os Estados Unidos, Paraguai, Japão e países europeus. O próprio texto da cartilha212 sugere a situação irregular da maioria daqueles que estão efetivamente no exterior, indicando a clandestinidade que marca os movimentos migratórios na atualidade.

210 Os números foram disponibilizados pelo pesquisador Victor Klagsbrunn, coordenador do curso de pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) em matéria intitulada “Êxodo de brasileiros continua após três décadas”, publicada no site BBC Brasil. Acessado em 20 out. 2010, de . 211 Dados divulgados pelo mesmo pesquisador na matéria “Êxodo de brasileiros sobe em 2009 e bate recorde da década”, publicada no portal Terra. Acessado em 20 abr. 2011, de . 212 A cartilha para “Brasileiras e Brasileiros no Exterior – Informações úteis” fui publicada em 2007, pelo governo federal brasileiro. São 72 páginas divididas em três capítulos: “Mas o que significa viver no exterior?”, “No exterior” e

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Ainda, na tentativa de orientar os brasileiros que não têm a mesma “sorte” daqueles que buscam melhores condições de vida no exterior, e que “ao invés de oportunidades, encontram dificuldades, sofrimento, exploração e por vezes violência sob as mais diversas formas” (2010, p. 2), o governo brasileiro publicou outra cartilha de informações úteis, dessa vez, na tentativa de orientação dos migrantes que estariam retornando ao país.213 A importância do tema em âmbito governamental reflete-se, ainda, na sua inclusão, pela primeira vez, no censo brasileiro realizado em 2010214 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A recente divulgação dos dados215 demonstra a dissonância entre os números oficiais de brasileiros no exterior. De acordo com o censo 2010, são apenas 491 mil brasileiros no exterior, que vivem em 193 países, dentre eles, figuram como os mais procurados Estados Unidos, Portugal, Espanha, Japão, Itália e Inglaterra. Neste contexto, a Espanha encontra-se como uma das maiores nações receptoras de migrantes do mundo, ocupando a terceira posição nas últimas décadas atrás, somente, dos Estados Unidos e Reino Unido.216 Deve se considerar, todavia, que o número de latino-americanos está em diminuição, segundo levantamento realizado em 2010 pelo Observatório Permanente da Imigração (OPI) naquele país.217 Mesmo assim, o número de brasileiros em território espanhol cresceu consideravelmente, na última década, especificamente. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), eram 13.730 migrantes brasileiros no início da década, passando a mais de 80 mil nos últimos anos. Apesar de pouco representativo em comparação aos estrangeiros que vivem em solo espanhol, o contingente de brasileiros praticamente duplicou a cada ano.218 De qualquer forma, demonstra-se, novamente, que estes números são relativos e não dão conta do fenômeno migratório como um todo. É também neste contexto, que emerge um fator essencial na análise das experiências migratórias atuais: os meios de comunicação. Na contemporaneidade, a tecnologia tem permitido experiências “Voltando ao Brasil”, na tentativa de orientar brasileiros que objetivam viver uma experiência internacional. Acessado em 20 abr. 2011, de . 213 O Ministério das Relações Exteriores lançou, recentemente, o “Guia de Retorno ao Brasil – Informações Úteis sobre Serviços e Programas de Acolhimento.”. Acessado em 5 out. 2010, de . 214 Informação divulgada na matéria “Êxodo de brasileiros sobe em 2009 e bate recorde da década”, publicada no portal Terra. Acessado em 20 abr. 2011, de . 215Dados disponíveis desde novembro de 2011 no site do IBGE e amplamente divulgados nacionalmente. Acessado em 17 set. 2011, de . 216 Dados disponíveis a partir de pesquisa da OCDE (Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico) publicada em reportagem do jornal espanhol Gaceta. Acessado em 24 nov. 2008, de 217 Dados publicados na matéria “Cai número de latino-americanos residentes na Espanha”. Acessado em 15 jan. 2011, de . 218 Dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), da Espanha. Acessado em 30 dez. 2008, de: .

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antes impensáveis, especialmente no que diz respeito ao contato com o país de nascimento e de migração. É possível perceber um aumento de abordagens jornalísticas em jornais, rádio, televisão, internet, referindo-se a brasileiros que deixam o Brasil e vão tentar a vida, ou melhor, buscar a experiência de viver no exterior219. Importa lembrar, ainda, a constante de notícias sobre o retorno de brasileiros que viviam no exterior, nos últimos anos, bem como, o fato talvez mais intrigante no contexto migratório, que configura o tratamento e as deportações recorrentes de latino-americanos, dentre eles brasileiros, que representam a maioria dos deportados no aeroporto de Madri.220 Objeto de estudo na área da Sociologia, os processos migratórios que enfatizam brasileiros vêm interessando outras áreas, tais como a Antropologia e, recentemente, a Comunicação. Além de constituírem-se em estudos no âmbito acadêmico, instituições tais como a Igreja Católica, a partir de suas diversas ramificações estruturais (pastorais, associações comunitárias com vínculo religioso e igrejas), realizam intervenções tanto no estabelecimento de Centros de Apoio e Orientação aos migrantes como na busca reflexiva a partir de Centros de Estudos sobre o tema. Estes, apresentam dados quantitativos sobre os fluxos migratórios no país, organizam relatórios, disponibilizam textos reflexivos, além de buscarem divulgação de suas ações publicando informativos, atuando, ainda, como fontes nos meios de comunicação institucionalizados e na definição das políticas migratórias em parceria com setores governamentais e organizações de migrantes.221 Além disso, a relação entre processos midiáticos, interculturalidade e migrações contemporâneas vem sendo investigada por autores tais como Cogo (2006), a partir de uma perspectiva multimetodológica, trazendo à tona, no Brasil, perspectivas de um processo social dinâmico e sua vinculação com as mídias. Os estudos orientam-se tanto na análise da produção midiática sobre as migrações e das mídias produzidas por migrantes em âmbito transnacional, quanto da recepção, a partir de histórias de vida de imigrantes latino-americanos residentes em Porto Alegre.222

Redes sociais e uso de comunicação sincrônica No entendimento de que redes sociais potencializam contatos entre interlocutores, que se configuram de maneira transitória, fluente e permeável no cotidiano de vivência migratória transnacional, a relação dos migrantes com recursos de comunicação sincrônica auxilia na formação e manutenção de

219 É necessário destacar que durante a realização da etapa exploratória da pesquisa, ocorreu a publicação da reportagem “A diáspora brasileira” no jornal local Zero Hora. Este fato chamou a atenção pela abordagem detalhada de brasileiros e, tratando-se do Estado do Rio Grande do Sul, gaúchos, que decidiram viver no exterior. O assunto foi descrito em reportagens especiais durante cinco dias, de 16 a 20 de setembro de 2007. De 220 Ver em: ‘Estamos fartos de índios latinos’: Uma realidade oculta da imigração latino-americana. Acessado em 11 fev. 2011, de . E “Brasileiros foram os mais barrados na Espanha em 2009”. Acessado em 11 jan. 2011, de 221 No Brasil, são exemplos o Centro Ítalo-Brasileiro de Apoio ao Migrante (CIBAI-Migrações), em Porto Alegre, e o Centro Scalabriano de Estudos sobre a Migração (CSEM) em Brasília, ambos ligados à Igreja Católica. 222 Outro exemplo é a investigação desenvolvida no âmbito do Programa Acadêmico de Cooperação Internacional Brasil-Espanha. Ver em Cogo; Gutierrez; Huertas Bailén (2008).

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contatos. Importa mencionar que, neste texto, a comunicação sincrônica223 é baseada em plataformas disponibilizadas pela internet, onde os usuários mantêm interação simultânea. No uso cotidiano da internet, a pesquisa redimensionou o olhar entendendo a rede em seu uso metodológico e como uma das partes do objeto de estudo da investigação. O corpo de entrevistados foi constituído por seis migrantes brasileiros na Espanha e uma brasileira que viveu temporariamente no país e contemplou a perspectiva de migração de retorno. Apenas essa entrevista ocorreu pessoalmente, sem a utilização de recursos disponibilizados pela internet.224 As demais entrevistas foram realizadas através da seguinte dinâmica: Três entrevistados foram encontrados através do chat Uol, e entrevistados no MSN. Uma migrante foi contatada pelo site de relacionamentos Orkut e entrevistada através de e-mail. Um entrevistado foi contatado através de lista de discussão do Yahoo e entrevistado por e-mail. Outro entrevistado, encontrado no chat Uol, foi adicionado ao MSN, porém a entrevista ocorreu pelo Skype. Ao longo das entrevistas, foi possível perceber três casos distintos de migração, que também se constituíram como critérios da amostra final de migrantes entrevistados, para os quais foram organizadas as modalidades: 1) Migração com destino à Espanha: brasileiros que saíram do Brasil com destino prévio à Espanha e não residiram em outros países, estabelecendo-se em território espanhol. 2) Migração de múltiplos trânsitos: brasileiros que saíram do Brasil e viveram em mais de um país, e que, na época da entrevista, residiam na Espanha, com ou sem pretensão de lá se estabelecerem. 3) Migração de retorno: brasileiros que viveram na Espanha, mas regressaram e estabeleceram-se no Brasil. Dentre os dados analisados, cabe ressaltar a importância que a instituição família recebe quando se afina o olhar na experiência migratória. Nos estudos sobre migrações, família e transnacionalismo, realizados por Wilding, uma das questões mais relevantes diz respeito às especificidades das reconfigurações das relações familiares produzidas pela experiência da migração. De acordo com a autora: “First, family relationships are dynamic and fluid, shifting according to life-cycle events (including birth, death and migration) and perceptions of affection and emotional closeness” (WILDING, 2006, p. 129).225 Cada entrevistado tinha uma história diferente de interação pela internet no relacionamento com a família, especialmente na utilização da comunicação sincrônica online. A mãe de uma das entrevistadas aprendeu a utilizar o MSN quando a filha esteve na Espanha. Uma webcam foi adquirida para as sessões que reuniam a família aos domingos, até quando os avós estavam em casa. Na situação de outro entrevistado, na maioria das vezes, o telefone é deixado de lado, e a internet, principalmente o uso do MSN, ganha preferência para os contatos.

223 Uma definição do termo pode ser obtida através do dicionário Websters. Acessado em 15 fev. 2011, de 224 O quadro dos entrevistados está disponível no artigo “Redes Sociais e usos da internet por migrantes brasileiros na Espanha” (BARTH; COGO, 2009). 225 Tradução da autora: “Num primeiro momento, as relações entre famílias são dinâmicas e fluídas, mudando de acordo com o evento de ciclo de vida (incluído nascimento, falecimento e migração) e percepções de afetividade e intimidade.”

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O número de pessoas disponíveis para conversação online é o que diferencia o uso de cada recurso. Assim, a menor quantidade de contatos limita o qualitativo de encontrar as pessoas com quem os entrevistados mantêm contato frequente. Apesar dos dois programas terem o recurso da câmera web, com a popularização do MSN entre brasileiros e, talvez, o desconhecimento com relação aos recursos disponíveis através do Skype, o primeiro seja mais acessado do que o segundo. Um exemplo consta nesse trecho de uma das entrevistas:226 Daiani diz: e por q n usa o skype, por exemplo? DEUS deu a vida p cada um cuidar dela..... diz:

pq nao sei nem fazer uma conta p mim DEUS deu a vida p cada um cuidar dela..... diz:

kkkkkkkkkk Daiani diz: hehhehe DEUS deu a vida p cada um cuidar dela..... diz:

e nao conheco muita gente q tenha isso Ocorre também, conforme o relato dos entrevistados, uma redução qualitativa dos amigos a partir do uso desses recursos, o que se reflete na necessidade de hierarquização das amizades em função do tempo dispensado na internet. Já no cotidiano da experiência migratória na Espanha, todos os entrevistados afirmaram relacionar-se com a população local, incluindo espanhóis e outros migrantes, o que denota a relação com a coletividade para além da convivência com a nacionalidade do país de migração. A própria Espanha, na posição de um dos maiores destinos de migrantes na Europa, figura como um local onde se potencializa, cada vez mais, a convivência entre pessoas de diversas nacionalidades. Do grupo de entrevistados o que pôde ser constatado é que a maioria, ou melhor, a totalidade deles não utiliza a internet para se comunicar com a população local. As conversas tanto formais quanto informais, quando existem, ocorrem desde uma perspectiva interpessoal. Contudo, de acordo com os entrevistados, o relacionamento com a população de espanhóis dinamiza-se de um modo formal, sem intensidade afetiva. Essa questão interessa do ponto de vista da intensidade dos contatos, se for considerado que as redes sociais são formadas e mantidas a partir da recorrência e intensidade que sustentam sua existência. O fato de estar na Espanha não implica, portanto, em maior relacionamento com espanhóis, como relata uma das entrevistadas: Daiani diz: E como são os espanhóis? Você se identifica com eles? S diz: sim S diz: talves pq tenham mais dinehiro, nao procuram tanta guerra com nós q somos mais pobres, ja os outros, so quererm passar a perna no outro, sabe o q quero dizer 226

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O anonimato dos entrevistados é preservado, assim como as características de fonte e nickname utilizados.

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Daiani diz: entendo sim Daiani diz: e de que maneira mantem contato com espanhois? S diz: converso no dia a dia Daiani diz: sim, e considera como amigos ou conhecidos? S diz: conhecidos Essa característica que emergiu durante a pesquisa vai de encontro com o que Lucas (2003) compreende acerca da própria identidade cultural europeia que, segundo o autor, encontra dificuldade de aceitar a constituição de democracias multiculturais e o cosmopolitismo na contemporaneidade, apesar dos preceitos da “era da globalização”: Además, y sobre todo, porque el riesgo de incompatibilidad com la legitimidad democrática viene de la incapacidad para aceptar el pluralismo, como resultado de la aceptación tácita de que existe alguna cosa como la cultura verdadera (al menos europea), una, definida, frente al resto de culturas, que serían grados o aproximaciones. (...) De esta manera, la imagen de la identidad europea se aleja en el pasado. Europeo: el que siente nostalgia de Europa. (2003, p. 94-95).227 Na realização de um trabalho de acolhimento e assistência, valorizado e reconhecido pela maioria dos entrevistados, as associações de migrantes existentes na Espanha procuram suprir espaços que deveriam ser preenchidos pelo poder público, no auxílio aos migrantes, prestando assistência em diversos âmbitos, tais como saúde, lazer, educação (principalmente na questão dos idiomas). Ou, ainda, no apoio aos direitos humanos, em parcerias para fomentar, por exemplo, a obtenção de empregos ou de regularização jurídica. Esse é o exemplo da associação Asociación de Mujeres Emprendedoras Brasil/España228 (AME), que incentiva o empreendedorismo de mulheres brasileiras na Espanha e também a organização de brasileiros no Estado da Cataluña229, nas quais dois entrevistados mantêm vínculos. Assim como estas, outros exemplos de associações podem ser encontrados no universo online230, o que tem sido 227 Tradução da autora: “Além disso, e sobretudo, porque o risco de incompatibilidade com a legitimidade democrática vem da incapacidade de aceitar o pluralismo, como resultado da aceitação tácita de que existe alguma coisa como a cultura verdadeira (ao menos europeia), una, definida, frente às demais culturas, que seriam graus ou aproximações. (...) Dessa maneira, a imagem da identidade europeia se alicerça no passado. Europeu: aquele que sente nostalgia da Europa.” 228

Acessado em 12 fev. 2009, de

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230 Somente no site de relacionamentos Orkut, existem vários exemplos: Associação Hispano Brasileira de Apoio aos Imigrantes em Espanha, de: ; NEBE – Núcleo de Entidades BrasilEspaña, de ; e ainda a Rede de Brasileiros no Exterior, a qual mantém também uma lista de discussão no Yahoo, de Acessado em: 28 out. 2008

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relevante na dinamização de experiências de caráter coletivo e organizativo dos migrantes. O acesso à internet é recorrente e significa uma forma de anúncio para as associações ao mesmo tempo em que possibilita o contato do público a quem se destina (brasileiros na Espanha) na busca da assistência procurada. Mesmo assim, há que se considerar que, numa perspectiva de movimentos culturais, “fica evidenciada a emergência da própria migração como sentido ou posição de pertencimento étnico e/ou cultural em que se ancoram as estratégias comunicativas no contexto das mídias produzidas pelos migrantes e suas organizações” (COGO, 2007, p. 15). Além disso, tanto as organizações como os próprios entrevistados, atuam no sentido de compreender e estabelecer uma estrutura própria, onde possam dar sentido às dinâmicas sociais a que estão submetidos no país de migração.

Conclusões Dentro da abrangência de entendimentos acerca da migração transnacional, este trabalho priorizou um panorama das características dos brasileiros no exterior, localizando a Espanha como o destino migratório de boa parte deles. A constituição de redes sociais, entre os migrantes entrevistados, mostrou-se fundamental no decorrer da experiência transnacional, assim como o uso de recursos de comunicação sincrônica disponibilizados pela internet, como exposto neste trabalho. Dessa forma, configuram-se famílias transnacionais em posição destacada na incorporação e uso cotidiano da internet, especialmente através do uso do MSN, operando como mediador na manutenção dos vínculos afetivos. Os amigos e outros contatos deixados no Brasil pelos migrantes entrevistados apropriam-se, também, desses mesmos usos da internet. Entretanto, existe uma redução qualitativa de amizades com brasileiros do país de nascimento. Essa característica ainda sugere que, mesmo com o uso da internet, não existem impedimentos a uma diminuição na intensidade dedicada à manutenção desses relacionamentos. Marcantes revelam-se os aspectos relacionados à convivência dos entrevistados com espanhóis e outros migrantes, quando é destacado por eles, em grande medida, a constituição de relacionamentos que dependem menos da comunicação mediada pela internet e, ainda, as características de distanciamento e formalidade dos entrevistados com relação aos espanhóis em contrapartida à aproximação e amizade que julgam manter com migrantes de outras nacionalidades. É neste momento que se justifica, ainda, a existência e consolidação de redes sociais organizativas e coletivas de apoio a migrantes na Espanha, que auxiliam na inserção no país escolhido como destino migratório na utilização, ou não, da internet para essa finalidade. Vale registrar, por fim, uma variável que emergiu no decorrer da pesquisa, a qual reconfigura algumas das relações constatadas nos resultados obtidos. Trata-se da dinâmica migratória de brasileiros no exterior, onde a migração de retorno (FUSCO & SOUCHAUD, 2010), registrou crescimento em 2008, em contraponto ao posterior e significativo aumento de saídas de brasileiros ao exterior, no ano seguinte. Aliado a isso, casos de deportação e outros problemas continuam limitando a entrada e permanência de brasileiros no país, conforme divulga, regularmente, a imprensa brasileira.

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