Ut pictura poesis. “Lendo” textos e imagens do período colonial. Aula para a disciplina de História do Brasil I sobre práticas letradas e imagens na época colonial. UFU, 2009.

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Guilherme Amaral Luz – 2009

Ut pictura poesis “Lendo” textos e imagens do período colonial

Ut pictura poesis 



Tópica cuja formulação foi cunhada por Horácio (Ars Poetica), significa, literalmente: “tal na pintura como na poesia”, indicando haver analogias profundas entre as duas “artes”;

Antes de Horácio, Plutarco (De Gloria Atheniesium) já afirmara algo similar: poema pictura loquens, pictura poema silens, quer dizer: o poema (no caso, o texto, a História, pois era do que tratava Plutarco) é uma pintura eloqüente e a pintura um poema (texto, discurso, história) silencioso.

Ut pictura poesis Nas “letras” ibéricas entre os séculos XVI e XVIII e também no campo das artes, a tópica do ut pictura poesis teve ampla repercussão. Desse modo, talvez um caminho profícuo de interpretação dos objetos textuais daquela época seja por meio da consideração de suas alusões imagéticas e analogias visuais; bem como, por via simétrica, da consideração das histórias e dos discursos que são narrados ou proferidos “silenciosamente” nas imagens pictóricas e iconográficas.

Espaços das imagens e das letras A igreja;  As ruas, os pátios e as praças;  O palácio (a corte, as casas dos “nobres”...);  As Universidades, os Colégios, os Conventos e as Academias. 

A função política e religiosa das imagens (sécs. XVI – XVIII) Contra o anti-iconismo e a iconoclastia da Reforma, a Igreja romana reafirmava o valor ideal e a necessidade prática da demonstração visual dos fatos da própria história, visando à edificação e ao exemplo. Também reafirma a validade da cultura clássica e do Renascimento, já que, se o belo agrada, pode servir como meio de persuasão. Encoraja os modos mais espetaculares de arte, bem como acentua o caráter do rito e do culto... ... A função da imagem é prática, educativa, didática... (ARGAN, G. C. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco, SP: Cia. das Letras, 2004. p. 57)

A função política e religiosa das letras (sécs. XVI – XVIII) ... A prática da poesia e prosa nesse tempo era uma jurisprudência de “bons usos” da linguagem fundamentados nas autoridades retóricas e poéticas de um costume antigo e anônimo. A poesia incluía-se naturalmente na concepção corporativa da monarquia absolutista fundada na teologia cristã ...

... A poesia desse tempo reproduzia aquilo que cada membro do corpo místico do Império já era, prescrevendo, simultaneamente, que ele devia ser, ou seja, persuadindo-o a permanecer como o que já era. (HANSEN, J. A. “Fênix renascida & Postilhão de Apolo: uma introdução”. In: PECORA, A. (org.). Poesia seiscentista, SP: Hedra, 2002. p. 27-29)

A eficácia da palavra sobre o “dinamismo anímico” dos auditórios “barrocos” O exemplo de Antônio Vieira (M. Massimi) “Vieira, assim como os demais pregadores a ele contemporâneos, documenta um uso da palavra que, norteado pela retórica, realiza seus efeitos nos destinatários pela mobilização do dinamismo anímico destes. Esta mobilização permite potenciar a eficácia da palavra: esta propõe conteúdos não apenas tornando-os apreensíveis pelo entendimento mas também representandoos aos sentidos e afetos.”

Continuação... “Esta conotação da retórica vieiriana é ressaltada no tratado (...) de Frei Manoel de Figueiredo, religioso agostiniano português do século XVIII. Citando Antônio Viera como modelo de uso da palavra, o autor afirma que a sua voz representava ‘nos olhos o que estava pintado para os ouvidos’, levando o ‘objeto à

imaginação, e por hum modo tão sensível, e tão vivo, que o ouvinte julgaria que estava vendo o mesmo que estava ouvindo’.”

Ler – Ver – Ouvir    





Imagens para serem lidas; Leituras para serem ouvidas; Sons que geram imagens a serem vistas; Sons e imagens não isolados de rituais de ordenação política e de cerimoniais; Imagens que contam histórias e histórias que prescrevem a Imagem da Ordem Natural (divina) das hierarquias terrenas; Ut pictura poesis. As artes de fazer ver e de fazer ouvir combinam-se na arquitetura da ordem política da Monarquia Corporativa.

Ex. 01: A recuperação da Bahia em 1625 – Pintura. Fray Juan Bautista Maino

A Recuperação da Bahia em 1625 1634-5 Óleo sobre Tela, 309 x 381 cm. Museu do Prado (Madri/Espanha).

A alegoria teológico-política da “ordem cósmica” no Panegírico a Afonso Furtado (1676) “(...) O céu Nem é destemperável Nem há coisa que destemperálo possa. Parece que me dizem que se ele está temperado, de onde procedem os danos que motivam as queixas – eu o digo. Quem os causa são as controvérsias que, entre si, têm os elementos, querendo dominar-se uns aos outros. Não se contentando cada um com sua esfera, e daí nascem os danos que fazem. E devendo-se lançar a eles a culpa, empurram-na ao céu que sereno e pacífico vive e corre nos eixos de seus pólos. E, se não, atenda o político a esta moral e material alegoria.”

Céu (no meu sentimento) é o Príncipe em sua Monarquia. E o que sua figura representa por si ou por sua imagem é uma reta justiça, e seu Real ânimo Não tem Nem deve ter outro Objeto que não seja o benefício comum. Quem, pois, transforma Tão benévolas ações em tirânicos estragos, Sabeis quem, a malícia dos homens que correspondem à matéria de que são compostos, que é dos mesmos elementos, querendo Dominar a sombra do Príncipe, ou com seu poder debaixo de aparentes justificativas, uns aos outros. Talvez dando-lhe alvitres para abjudicar-lhe ou abjudicar-se o que não lhe toca e outras coisas que não são deste lugar, por cuja razão, padece Talvez o justo pelo pecador e arde o verde pelo seco”

UBERLÂNDIA, 2009.

FIM

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