Utilização de grupos na reabilitação de mulheres com câncer de mama

June 1, 2017 | Autor: Leonardo Kebbe | Categoria: Breast Cancer, Literature Review, Systematic review
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A utilização de grupos com mastectomizadas

UTILIZAÇÃO DE GRUPOS NA REABILITAÇÃO DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA THE USE OF GROUPS IN THE REHABILITATION OF WOMEN WITH BREAST CANCER Flávia Azevedo Gomes* Marislei Sanches Panobianco** Cintia Bragheto Ferreira*** Leonardo Martins Kebbe**** Maria Cristina Cortez Carneiro Meirelles*****

RRESUMO: Este artigo faz uma revisão bibliográfica sobre o tema grupo na reabilitação de mulheres com câncer de mama, buscando quais tipos de grupos têm sido oferecidos e quais os benefícios dos mesmos. Os autores realizaram uma revisão não sistematizada da literatura dos últimos 10 anos acerca do trabalho com grupo de mulheres com câncer de mama. É consenso na literatura que o uso de grupos auxilia na reabilitação psicossocial e tratamento e melhora o lidar com situações de estresse e medo. Os estudos revelam que, após as intervenções psicossociais, as mulheres apresentaram melhora na intensidade dos sintomas relacionados com o estresse, contato com amigos e familiares. Palavras-chave: Câncer de mama; grupo; mulher; reabilitação. ABSTRACT:: This article consists of a literature review on the theme: groups in the rehabilitation of ABSTRACT women with breast cancer. It aims at finding out what types of groups are usually offered and what their benefits are. A non-systematized review of the literature produced in the last ten years, about the use of group intervention in women with breast cancer, was conducted. There is a general agreement in the literature that the use of groups helps psychosocial rehabilitation and treatment, and contributes to coping with stressful situations and fear. The studies show that, after psychosocial interventions, women present improvement in the intensity of the symptoms related to stress as well as in their contact with friends and relatives. Keywords: Breast cancer; group; woman; rehabilitation.

INTRODUÇÃO

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utilização de grupos, visando apoio psicossocial a mulheres com câncer, desenvolveuse com o intuito de informar pacientes sobre diagnósticos terminais e tratar de assuntos como a qualidade de vida e as necessidades psicossociais dos pacientes no planejamento do tratamento. Atualmente, sabe-se dos efeitos psicossociais positivos da terapia de grupo em paciente com câncer, incluindo melhora no estado de espírito e ajustamento1. Segundo Mello Filho2, este campo é novo no Brasil e fora dele, pois ainda há poucas publicações e trabalhos práticos a esse respeito e, ademais, a fundamentação teórica desse tipo de grupo ainda está sendo construída. A intervenção psicossocial tem sido indicada para amenizar o sofrimento emocional que pode ocorrer após o diagnóstico e durante o período p.292 •

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subseqüente. As reações mais freqüentes incluem ansiedade, depressão, raiva e hostilidade que podem se manifestar também em mulheres submetidas a tratamento cirúrgico menos invasivo ou mutilador como nodulectomia ou mastectomia radical com reconstrução, quimioterapia ou radioterapia neo-adjuvante 3,4. A convivência em grupo composto por pessoas com problemas semelhantes proporciona uma experiência que pode desenvolver um clima de muito valor terapêutico. Isso ajuda os participantes a quebrarem barreiras criadas por sentimentos de solidão e isolamento, especialmente pela possibilidade de feedback e sugestões construtivas de outras pessoas que vivenciam os mesmos problemas5. Além de receber suporte do grupo, cada participante também expõe suas experiências às ou-

Gomes FA, Panobianco MS, Ferreira CB, Kebbe LM, Meirelles MCCC

tras pessoas, demonstrando que a convivência em grupo contribui para o crescimento de todos. Este estudo teve como objetivo identificar, na literatura, características de grupos oferecidos na assistência a mulheres com câncer de mama e seus benefícios.

METODOLOGIA

Os autores realizaram uma revisão não sistematizada da literatura dos últimos 10 anos acerca do trabalho de grupo com mulheres com câncer de mama. Procedeu-se o levantamento eletrônico através do MEDLINE e PSYCLIT, utilizando como palavras-chave: psycho-oncology, breast cancer, group.

RESULTADOS

De um total de 24 artigos, foram selecionados 10 que faziam alusão ao tema em estudo. Deles, obtivemos sete estudos clínicos controlados, dois estudos clínicos não controlados e um artigo descritivo de um grupo. Os estudos clínicos controlados procuraram comparar uma intervenção em grupo específica com os modelos padronizados de atendimento a mulheres e familiares de mulheres com câncer de mama. Esses modelos padronizados não priorizavam os aspectos psicossociais, estando mais direcionados aos aspectos físicos do câncer, como evolução da doença, metástases, dor ou febre. Para esses pacientes, as orientações necessárias para sua melhora e seu ajustamento psicossocial eram fornecidas através de material educativo 4,6,7,8,9,10,11. Os estudos clínicos não controlados objetivaram fornecer uma avaliação qualitativa sobre os resultados de experiências clínicas de intervenção em grupo de pacientes com câncer de mama12,13. Samarel et al.12 realizaram entrevistas com mulheres que haviam participado de grupos de apoio social e educacional, com e/ou sem acompanhantes, interrogando-as acerca de suas percepções sobre o efeito dos grupos na sua adaptação à doença, sobre seus relacionamentos e conhecimento e visão da doença. Os resultados mostraram que a participação nos grupos foi bem avaliada pelas mulheres, principalmente no que diz respeito a sua atitude em relação ao câncer de mama, no manejo do estresse com realização de atividade física, com-

preensão das modificações físicas secundárias ao tratamento do câncer e das novas perspectivas do tratamento da doença, embora a participação do acompanhante não tenha sido referida como determinante para a sua reabilitação. Bloch e Kissane13 realizaram grupos com mulheres com câncer de mama no estágio inicial da doença, com o pressuposto de que estes poderiam beneficiar o enfrentamento de experiências emocionais em relação à doença e ao tratamento. Os temas que surgiram nas primeiras sessões foram ansiedade acerca da morte, medo de recorrência, conviver com a incerteza, luto sobre várias perdas, modificações no corpo e auto-imagem e as exigências do tratamento, relacionamento com médicos, companheiros, familiares e amigos, além de prioridades futuras. Observaram que, para esse tipo de grupo, deve haver uma postura flexível por parte do terapeuta, o qual deve adaptar as intervenções às necessidades do grupo. O estudo descritivo de Rezende e Botega14 descreveu a experiência de um grupo de apoio psicológico a pacientes com câncer de mama e procurou compreender psicodinamicamente o comportamento do grupo, assim como o estado psicológico dos pacientes. O grupo teve a característica de ser breve, com quatro encontros gravados em áudio e registrados por um observador. A análise desse material revelou, sob a perspectiva psicodinâmica, manifestações de medo do desconhecido e da rejeição, sentimentos de desconfiança e fantasias de castração. Ao analisarmos os 10 artigos para a presente revisão, observamos que, atualmente, a utilização de grupos na reabilitação de mulheres com câncer de mama tem sido feita através de reuniões entre terapeutas e mulheres, abordando quatro temáticas: educação em saúde (quatro artigos); manejo do estresse (cinco artigos); apoio psicossocial (sete artigos); enfrentamento de situações (seis artigos). Pode ser observado na contagem dos temas mais abordados nos artigos que a soma dos mesmos ultrapassa o total de 10 artigos que foram analisados neste estudo. Esta ocorrência justifica-se pelo fato de que algumas temáticas aparecem em mais de um artigo.

Educação em Saúde Aborda momentos dos grupos dedicados a informações médicas e psicológicas específicas sobre o câncer de mama, tratamento e prognóstico. Nesta etapa o terapeuta deve contemplar os temas

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que as mulheres levam para o grupo, de forma a respondê-los de maneira adequada e eficiente, proporcionando ao grupo aprendizado com as discussões6,8,9,10.

Manejo do Estresse As mulheres que freqüentam grupos de apoio para a reabilitação do câncer de mama relatam problemas físicos e emocionais que podem leválas a situações difíceis em seu dia-a-dia. O estresse aparece de forma agressiva, interferindo nas relações sociais, em casa, no trabalho e no lazer. O manejo desse estresse, nos grupos de apoio, pode se dar através de exercícios de hipnose; exercícios de relaxamento; técnicas de respiração e atividade física6,8,9,10,14.

Apoio Psicossocial Em relação ao apoio psicossocial, o grupo deverá proporcionar às mulheres ajuda em relação aos sentimentos de isolamento e solidão e no desenvolvimento de novas maneiras de lidar com o câncer de mama, ampliando a rede de suporte social e reduzindo o impacto emocional causado pelo câncer, tratamento e complicações, aumentando, desta forma, sua auto-estima6,8,9,10,13,14,15.

Enfrentamento de Situações O termo enfrentamento, segundo Gimenez16, significa tudo que a pessoa pensa ou faz para lidar com situações estressantes. Autoras como Segal17 e Gimenez16 reconhecem a situação do câncer como um momento estressante, que causa mudanças e que tem que ser enfrentado de forma a permitir que a mulher mastectomizada possa assumir o quanto antes suas funções anteriores à cirurgia. As experiências compartilhadas no grupo18 levam as mulheres a adquirirem maior habilidade para enfrentar problemas relacionados ao câncer, estimulando-as a identificar atitudes que resultavam em sentimentos inadequados e mal adaptados. Assim estarão prevenindo problemas psicossociais futuros, o que poderá ser revertido em melhor qualidade de vida. O contato com mulheres que passaram pelos mesmos problemas possibilita a discussão e a reflexão sobre os objetivos da reabilitação favorecendo a sua realização6,7,9,10,14,15.

CONCLUSÕES

A revisão dos artigos selecionados para este estudo mostrou que a intervenção psicossocial em mulheres com câncer de mama, através de grupos, p.294 •

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ameniza o sofrimento emocional que ocorre após o diagnóstico e durante o período subseqüente. Os grupos com mulheres mastectomizadas possibilitam o lidar com os vários momentos que essa situação impõe. Os momentos que uma mulher com câncer de mama tem que passar vão desde a expectativa de estar com essa doença, o recebimento do diagnóstico, sendo este considerado o momento mais estressante de todos, até a procura por serviços que ofereçam condições de reabilitação física, social e emocional. A utilização de grupos na reabilitação de mulheres mastectomizadas auxilia o lidar com situações de estresse e medo. Compreendemos os grupos que cuidam de mulheres com câncer de mama como um meio de instrumentalizar a independência, a auto-estima, a identidade do ser cidadã e a qualidade de vida daquelas que os compõe.

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Gomes FA, Panobianco MS, Ferreira CB, Kebbe LM, Meirelles MCCC

16. Gimenez MDA. A mulher e o câncer. Campinas (SP): Editorial Psy; 1997. 17. Segal S. Mastectomia: mantendo sua qualidade de vida após o câncer de mama. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos Tempos; 1995. 18. Benioff L, Vinagradov S. Psicoterapia de grupo com pacientes de câncer e os com doença terminal. In: Kaplan HI. Compêndio de psicoterapia de grupo. 3ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1996. p.147-52.

1998; 28: 1259-68. 13. Bloch S, Kissane D. Psychotherapies in psychooncology. Brit J Psychi 2000; 177: 112-6. 14. Rezende VL, Botega NJ. Grupo de apoio psicológico a mulher com câncer de mama: principais fantasias inconscientes. Est Psic 1998; 15:39-48. 15. Leszcz M, Goodwin P. The rationale and foundations of group psychotherapy for women with metastatic breast cancer. Intern J Group Psych 1998; 48:245-73.

UTILIZACIÓN

DE

GRUPOS

EN LA

REHABILITACIÓN

DE

MUJERES

CON

CÁNCER

DE

MAMA

RESUMEN: Esto artículo realiza una revisión bibliográfica sobre el tema grupo en la rehabilitación de las mujeres mastectomizadas, buscando comprender cuales son los tipos de grupos ofrecidos y cuales son los beneficios obtenidos a partir de ellos. Los autores hicieron una revisión no sistematizada de la literatura de los últimos diez años acerca del trabajo con grupo de mujeres con cáncer de mama. Es consenso en la literatura que el uso de grupos auxilia en la rehabilitación psicosocial y tratamiento y mejora en el convivir con situaciones de estrés y miedo. Los estudios revelan que, después de las intervenciones psicosociales, las mujeres presentaron mejoría en la intensidad de los síntomas relacionados con el estrés, y con el contacto con sus amigos y familiares. Palabras clave: Cáncer de mama; grupo; mujer; rehabilitación.

Recebido em: 10.12.2001 Aprovado em: 28.07.2003

Notas *

Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da EERP/USP. Enfermeira. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da EERP/USP. *** Psicóloga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da EERP/USP. **** Professor do Curso de Terapia Ocupacional do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade de Uberaba. ***** Professor do Departamento de Fisioterapia/UNAERP. **

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