Valorizar estudos avançados é superar tendência imediatista das universidades de saber cada vez mais sobre cada vez menos

September 12, 2017 | Autor: P. Funari | Categoria: Research, Educação Superior, Ensino Superior, Advanced studies
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Publicado em Revista Estudos Avançados Unicamp Online, ISSN 2179-7552, http://www.gr.unicamp.br/ceav/revista/content/reau_valorizarestudos.php

Valorizar estudos avançados é superar tendência imediatista das universidades de saber cada vez mais sobre cada vez menos

Em 1930, Princeton reuniu Einstein e outros sábios em nome da ausência de barreiras disciplinares e da busca desinteressada do saber, sem medo da demora – e do eventual fracasso.

Por Pedro Paulo A. Funari Professor titular do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas e coordenador do Centro de Estudos Avançados (CEAv-Unicamp) A fundação do pioneiro Instituto de Estudos Avançados de Princeton, nos Estados Unidos, em 1930, marcou uma inflexão na ciência contemporânea. A Universidade moderna, derivada do Iluminismo do século XVIII, baseou-se na crescente especialização das disciplinas e no conhecimento voltado para a solução de necessidades práticas, concretas e imediatas. A Medicina devia curar, assim como a Filologia devia decifrar um idioma e a História devia escrever um passado a serviço da nação. A tendência desde então foi saber cada vez mais sobre cada vez menos. Os limites dessa perspectiva já eram evidentes quando Princeton reuniu o físico Einstein e outros sábios que ali chegaram para explorar dois outros aspectos do conhecimento: a ausência de barreiras disciplinares e a busca desinteressada do saber, sem medo da demora e mesmo do eventual fracasso.

Desde o início, o CEAv esteve em estreita colaboração com os grandes institutos já consolidados, como Princeton, Stanford e Jerusalém, assim como com outras instituições estrangeiras de referência, como o Boston College e a Academia de Ciências Sociais da China Essa centelha tardou a difundir-se nas universidades. Foi apenas nas últimas décadas que diversas delas abraçaram essa ideia, em particular, no século XXI. A difusão deu-se também pela aspiração de chegar a uma boa avaliação internacional, como universidade de classe mundial. Isso pôs em comum acordo instituições da Europa e Estados Unidos, mas, da mesma forma, de potências emergentes, com China, Índia e Brasil. A Unicamp destaca-se como a primeira universidade brasileira em produção docente e discente per capita, com a melhor nota média dos cursos de pós-graduação e com o registro do maior número de patentes. Neste contexto foi criado o Centro de Estudos Avançados, em março de 2010. O CEAv centrouse em quatro campos de estudo da mais alta relevância para o mundo e para o Brasil: os

desafios do ensino superior, do esporte, das relações entre o Brasil e a China e da contemporaneidade.

O ensino superior foi elemento central no crescimento econômico e social e na diminuição das desigualdades em todas as potências, dos Estados Unidos no início do século XX, passando pela antiga União Soviética, à Coreia das últimas décadas. O Brasil continua com grande defasagem na difusão da formação superior, atrás de vizinhos latino-americanos. O tema envolve várias disciplinas e exige reflexão ousada e de risco. Nestes anos, foram publicados oito números da revista Ensino Superior Unicamp, disponíveis também online, organizados eventos com a participação das principais universidades do mundo e do Brasil, além da publicação de um volume a sair pela Springer, em inglês.

A Copa do Mundo e a Olimpíada serão importantes para o Brasil e exigem uma reflexão acadêmica. Como resultado, veio a Campinas o maior sociólogo do esporte vivo, Eric Dunning, antigo colaborador do ícone Norbert Elias, e como resultado da sua vinda, além de um congresso sobre violência no esporte, foi publicado um volume de referência sobre o tema. Kimberly Schimmel veio ao Brasil e, além de atividades com colegas da Unicamp, produziu um volume bilíngue, português e inglês, sobre a organização de grandes eventos esportivos, que já é uma referência para esse tema da maior atualidade. Dois outros volumes resultaram da vinda de Jorge Bento, da Universidade do Porto, sobre o esporte nos dias de hoje.

A China passou de parceiro insignificante do Brasil a principal em poucos anos. O CEAv organizou pioneiro grupo de estudos Brasil/China, que realizou seminários quinzenais sobre o tema, com a participação, entre outros, do embaixador brasileiro em Pequim Clodoaldo Hugueney e de diversos estudiosos chineses. Como resultado, publicaram-se dois volumes, um em português e outro em inglês, sobre desafios e perspectivas da relação entre a China e o Brasil. Também estudiosos foram envolvidos em discussões sobre as contradições e dificuldades da contemporaneidade, com um mundo marcado por conflitos internos e externos, ameaças ambientais e derivadas de armamentos e guerras reais e potenciais. A reunião de estudiosos dos mais variados campos, da diplomacia à economia, tem permitido pensar nessas questões de maneira inovadora.

A convivência de grandes luminares com pesquisadores, mas também com alunos e com pessoas do público em geral, em atitude infensa às hierarquias e aberta ao conhecimento que advém do diálogo, também é o resultado da informalidade que estava já em Princeton em 1930 A experiência dos estudos avançados na Unicamp tem se mostrado, assim, excepcional. Desde o início, o CEAv esteve em estreita colaboração com os grandes institutos já consolidados, como Princeton, Stanford e Jerusalém, assim como com outras instituições estrangeiras de referência, como o Boston College e a Academia de Ciências Sociais da China, de modo a inserir-se nos debates mais relevantes no âmbito mundial. Em seguida, a atuação

de profissionais das mais diversas áreas do saber, em um ambiente informal e propenso ao diálogo, foi determinante para a produção acadêmica relevante. Além das revistas e volumes mencionados, foram produzidos vídeos, disponíveis no Canal CEAv no YouTube, com mais de trinta mil acessos em menos de 18 meses, em todo o Brasil e muitos outros países. O retorno dos usuários demostra, ainda, a pertinência dessa produção e sua relevância não só acadêmica, como social. A convivência de grandes luminares com pesquisadores, mas também com alunos e com pessoas do público em geral, em atitude infensa às hierarquias e aberta ao conhecimento que advém do diálogo, também é o resultado da informalidade que estava já em Princeton em 1930 e que na Unicamp também se mostrou do mais alto potencial criativo.

Para que servem os estudos avançados? Para tudo isso e muito mais. A centelha do pensamento livre, crítico e inovador, com poucas amarras administrativas, mostra todo o seu potencial. Completados três anos em março de 2013, a iniciativa visionária da Universidade demonstra como muito se pode fazer, quando há a comunhão de esforços, a abertura para o mundo e a busca pela diversidade que vivifica o solo do conhecimento. Esse passo decisivo tendo sido dado, a caminhada iniciada poderá levar a ainda novos horizontes.

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